Mostrar mensagens com a etiqueta Russian Orthodox Vespers. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Russian Orthodox Vespers. Mostrar todas as mensagens

segunda-feira, março 21, 2016

As musas inspiradoras


Ora bem, vamos lá para o terceiro post da noite. Quando começo, estou sempre imbuída dos mais nobres propósitos de contenção -- que vou escrever apenas meia dúzia de linhas, que não me vou deixar desviar do foco da questão, que não vos vou maçar e etc. Afinal distraio-me, ponho-me aqui como se estivesse na conversa, deixo-me levar para caminhos laterais. Vocês aí tão caladinhos e eu aqui feita tagarela, que coisa feia.

Mas, portanto, a ver se agora isto vai certinho, direitinho. Se no post abaixo já vos mostrei um pouco dos jardins e da vista da Casa da Cerca, agora vou mostrar-vos um pouco da exposição que está no edifício principal: Musas Inspiradoras.




O que significa ter inspiração? De onde vem? Como a conseguir? Como a manter?


É um tema que me interessa muito. Gosto de perceber o que inspira os criativos ou quais os mecanismos que levam a que uma pessoa ou uma coisa toquem as cordas que fazem nascer, em alguém, palavras, músicas, pinturas, cores, movimentos, sonhos.
Eu própria gosto de perceber o que, em mim, que sou nada como criadora, me leva a querer aqui falar disto ou daquilo ou, quando pinto ou fotografo, o que me leva a escolher este ou aquele motivo. Gosto de perceber mas a verdade é que nunca cheguei a nenhuma conclusão. 
Sei apenas que o que, geralmente, me interessa é o que é diferente ou insolente ou belo.
Também vos digo -- e que não pensem que estou vaidosa por isso, porque não estou -- que sei o que é ser fonte de inspiração para alguém. Contudo, mais do que musa, sinto que o mais correcto será considerar-me allumeuse, porque inacessível.
Quem se deixa inspirar por alguém, frequentemente quer ter, para si, a sua musa, quer senti-la sua, tomá-la entre os braços. Por isso, digamos que sempre fui mais de 'iluminar' à distância do que ser uma musa presente na vida de quem, por mim, escreveu palavras ou músicas. Para mim, sempre foi um peso que não quis suportar, o de ser quase a razão de ser da vida de outra pessoa. Sempre preferi ser como um pássaro que voa, livre. E quem quiser que o olhe, pinte, invente músicas. 
Que eu ou o pássaro, logo que nos apetecer, vamos voar talvez para nunca mais voltarmos. Ou talvez voltemos. Nenhum de nós o sabe. 
-- E isto é o que sempre gostei de pensar.

Mas a inspiração de um criador não é forçosamente uma outra pessoa: pode ser uma luz, uma sombra, uma música, uma paisagem, uma palavra, um sentimento, uma dúvida, uma provocação, um desejo, uma aragem na saia de uma mulher, um sorriso inconfessável no rosto de um homem, um susto exclamativo, um medo silencioso, um jardim secreto, um labirinto inventado, um gato azul, uma rosa transparente, uma casa abandonada, um sussurro, um poema dito, umas mãos que se querem tocar, uma escultura inesperada, uma luz branca tombada sobre um rio, um desafio que se sente latente, o respirar de alguém aí desse lado.


Sou ávida consumidora de literatura, de pintura, de música. De tudo me aproximo como amadora, como leiga, como criança inocente. Não quero conhecer a obra, a técnica. Apenas quero extasiar-me como alguém que vê ou ouve pela primeira vez. Sou também ávida consumidora de palavras de quem sabe transformar a inspiração em obra e aprecio sobretudo que a surpresa do que dizem me apanhe desprevenida.

A blogosfera é meio fértil: circulando por aqui deparo-me com textos perfeitos, com fotografias inesperadas, com alusão a filmes que ignorava. E conheço músicas que de outra forma não conheceria. É um meio muito rico, de onde se sai mais sabedor, mais atento.

Contudo, é óbvio que há também muita, muita coisa, que não interessa. Há que mondar. Afasto-me do que é vulgar, fútil, eco do eco do eco, mediania emproada. Mas atraem-me as frases elegantes, as ideias insólitas, as confissões emocionadas, atrai-me a húbris descarada quando tem a marca do talento, sinto-me devedora de agradecimento perante textos depurados, sentimentos expressos na sua forma essencial, sentimentos puros como gotas raras de óleos perfumados.


A exposição Musas Inspiradoras tem obras que pouco me dizem e tem outras bastante interessantes. Mas é assim mesmo e é dos contrastes que nascem as nossas opções. Mas, para além das obras expostas, há também o edifício em si que é notável. É um lugar de serenidade e contemplação. 

Como quase todos os belos lugares onde a arte é posta à disposição dos portugueses, eles não querem saber. Não paguei nada, não sei se por ser domingo ou se é sempre assim. O que sei é que, enquanto aqui estivemos, nós dois éramos as únicas pessoas que aqui andavam. Custa a perceber isto. No entanto, a sensação de visitar um espaço destes em silêncio e sossego não tem preço. Se pensar de forma egoísta, reconheço que prefiro assim. Mas, se me deixar de egocentrismos, tenho pena. Lugares destes deveriam ser usufruídos com assiduidade e devoção.


E depois, para além, do edifício em si, há ainda a vista que dele se tem. Magnífica. Dali se vêem os jardins, o Tejo, as pontes, Lisboa, o azul, a luz. É um lugar, só por si, inspirador.


E eu estou a escrever isto, tentando manter-me fiel à minha determinação de me conter, de não desatar a escrever mais um lençol mas, ao mesmo tempo, desejando partir para a evocação de artistas e suas musas ou de provocadores que gostam de causar espasmos de aflição nos críticos de arte que tentam encontrar explicação para o que é inexplicável. Mas vou deixar isso para outro dia.

Hoje fico-me mesmo por aqui, sugerindo aos que puderem que vão visitar a Casa da Cerca e o seu grande e belo jardim. E digo-vos, ainda, que as laranjeiras do pátio de entrada estão floridas. O perfume das suas flores é intenso, maravilhoso. E os bolinhos que se podem comer na esplanada enquanto se vê a bela paisagem também têm que se lhes diga.

E é tudo, por agora.
___

A música é daquelas que a mim me inspira: "Blessed is the Man" que é parte de: Vespers Op. 37 de Sergei Rachmaninov, numa interpretação a cargo de Mikhail Ivanovich Glinka Choir.

___

E deixem que vos recorde que, no post abaixo, falo do referido jardim e da paisagem que dele se avista e, no outro a seguir, mostro parte da vista da minha janela e enuncio as receitas do que fiz para o jantar.

____

sexta-feira, dezembro 18, 2015

Tudo começa com uma viagem




1. 
No leito da morte, Gertrude Stein ergueu a cabeça e perguntou: "Qual é a resposta?". Como ninguém falou, ela sorriu e disse: "Nesse caso, qual é a pergunta?"

2. 
Temos em mãos vários fios, e o mais provável é que um ou outro nos conduzam à verdade. Podemos perder tempo a seguir o fio errado, mas mais tarde ou mais cedo encontraremos o certo.

3.
Ulisses: Conhecei o mundo inteiro.

4.
Formular uma pergunta é resolvê-la.

5.
Deu ao Homem a linguagem, e a linguagem criou o pensamento, que é a medida do universo.

6.
"Para onde vais?", perguntou o leitor ao cavaleiro, "Aquele vale é fatal quando as fornalhas ardem, acolá fica o monturo cujos odores enlouquecem, aquela fenda é o túmulo onde os altos regressam."

7.
"O mundo é como a impressão que fica depois de uma história ser contada."

8.
Sob o luar, a sombra de um gordo precede-me na estrada que vou a descer; e se me virar e fugir, ele persegue-me: é este o homem que devo conhecer.

9.
Vladimir: Que fazemos aqui, eis a questão.

10.
Nunca perguntes o caminho a alguém que o conhece, porque assim não poderás perder-te.

11.
Os homens receiam que as mulheres se riam deles. As mulheres receiam que os homens as matem.

12.
O cão, que, com todo o seu ímpeto e ferocidade, quando vem para morder, se se deitam no chão, não faz mal; isto por piedade.

13.
Einstein: Mas, seja como for, não podemos fugir às nossas responsabilidades. Estamos a fornecer à humanidade fontes colossais de poder. Isso dá-nos o direito de impor condições. Se somos físicos, temos de nos tornar políticos do poder.

14.
E o apetite, esse lobo universal, tão duplamente secundado pela vontade e o poder, tem de forçosamente fazer uma presa universal, e por último devorar-se a si mesmo.

15.
A terra não discute, não é patética, não faz arranjos, não grita, não apressa, não persuade, não ameaça, não promete, não discrimina, não concede fracassos, nada fecha, nada recusa, nada exclui, de todos os poderes, objectos, estados, todos notifica, nenhum exclui.

16.
Não existe... a morte... Só existo... eu... eu... que morro...

17.
Acredito que estou no Inferno, logo estou lá.

18.
"O que é a verdade?", perguntou Pilatos, jocoso, sem ficar para ouvir a resposta.

....




.....


 .....


........

1. Donald Sutherland, Gertrude Stein: A biography of her work
2. Sir Arthur Conan Doyle, O cão dos Baskervilles
3. Shakespeare, Troilo e Créssida, acto 2, cena 3
4. Karl Marx, Zur Judenfrage
5. Percy Bysse Shelley, Prometeu Libertado
6. W.H. Auden, Cinco Canções, V
7. Valmiki, Yoga Vasistha, 2, 3, II
8. James Reeves, "Coisas Vindouras"
9. Samuel Beckett, À Espera de Godot, acto 2
10. Rabino Nachman de Breslau, Contos
11. Margaret Atwood
12. Fernando de Rojas, A Celestina, canto 4
13. Friedrich Dürrenmatt, Os Físicos, acto 2
14. Shakespeare, Troilo e Créssida, acto I, cena 3
15. Walt Whitman, Folhas de Erva
16. André Malraux, A Estrada Real
17. Arthur Rimbaud, Noite do Inferno
18. Francis Bacon, "Da Verdade"
....

  • Todas as citações do início do post, de 1 a 18, cujos autores se encontram acima, abrem alguns dos capítulos de 'Uma História da Curiosidade' de Alberto Manguel que tenho estado a folhear, surpreendida e agradada, e que mal posso esperar para degustar pausadamente, deleitadamente.
(O título do post é o início do capítulo I, cujo título é 'O que é a curiosidade?')
  • As imagens referem-se à Divina Comédia de Dante Alighieri

  • A música é "Blessed is the Man" que pertence a Vespers Op. 37 de Sergei Rachmaninov (Russian Orthodox Vespers Service) numa interpretação a cargo de Mikhail Ivanovich Glinka Choir.
  • A animação é de Blanca Li  - "Le Jardin des Délices"
  • 14 and Shakespeare the Numbers Man: a Matemática e a Poesia, pelo professor Professor Roger Bowley
  • A dança é Silhouette, uma coreografia da mesma Blanca Li sobre música de Tao Gutierrez
...

 E, por hoje, pouco mais.

Não vou falar da actualidade já que não me interessa, nem um bocadinho, se o Mourinho foi despedido. 

Vendo-o, sempre enjoado, tantas vezes pensei que não percebia aquela pose. Se não gostava, pois que não comesse. Portanto, se tudo lhe estava a correr mal e se ele já não estava com pachorra para maçadas, pois que fosse para casa. Ora se, ainda por cima, vai para casa com uns milhões valentes na mão, pois melhor para todos.

Também não vou comentar o caso do Banif pois era mais que esperado. 

Quando a bulha rebentou entre herdeiras, deu para perceber que, o que viria a seguir, não seria bom de se ver. Mas os depositantes não terão problemas pelo que não há razão para alarme social.

Também não vou comentar aquilo da Manuela Ferreira Leite dizer que não é a altura certa para se reflectir sobre o Banco de Portugal.

Lá está ela. Parece tão atinadinha mas, quando a coisa toca aos ex-colegas e amigos do BdP (nomeadamente, às matrafonas adormecidas Carlos Costa e Aníbal Cavaco), logo ela sai em sua defesa. Bolas para ela. 

Também não quero saber se o filho da prima da mulher do Rajoy, que lhe deu um murro na cara, é maluco, desequilibrado ou aventureiro. 

Gostava era que o Rajoy fosse corrido do mapa eleitoral. Era bom que estes trastes todos levassem uma corrida em osso. 

Muito menos vou falar do Passos Coelho, esse brincalhão, a dizer que acalmou os correlegionários do PPE.

Às tantas, se não fosse ele, os outros vinham por aí, de lanças na mão, a ver se libertavam o país do jugo marxista-leninista, não? Não se enxerga, aquele láparo mitómano. Porque será que não vai para casa fazer farófias para fora, que talvez fosse útil a alguém?

E, obviamente, não vou falar do dó que até mete o papel de décima-sétima categoria a que o vice-Portas está votado, nada lhe restando senão por aí andar, pelos cantos, a remorder a propósito do que o António Costa diz.

É que já ninguém quer saber dele para nada e ele, pateticamente, ainda não percebeu. Tornou-se irrelevante. Nada do que ele diz interessa a quem quer que seja. O jantar já acabou e ele ainda não percebeu que já deveria ter-se levantado da mesa há que tempos. 
...

Portanto, meus Caros, não levem a mal, mas hoje prefiro ficar-me pela história da curiosidade e vou ler um pouco do belo livro que tenho aqui ao meu lado (bem, belo, belo... Tenho que dizer que não acho muita graça ao design encardido da capa mas, enfim, relevo face à qualidade do interior)

...

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.
..