Mostrar mensagens com a etiqueta Gordon von Steiner. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Gordon von Steiner. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, agosto 06, 2021

Depois das cenas mais duras do que puras que vivi durante o dia, só mesmo a Miranda para me fazer rir agora à noite

 


Bem. Se há dias em que tenho pena de não poder ser mais explícita hoje é seguramente um deles. Estive num sítio que faz favor. Não foi em lazer. Foi trabalho. Trabalho puro e duro. Mais duro do que puro. Barra pesada, para dizer a verdade. Se eu aqui contasse não iam acreditar. Cenas do caneco. Mais concretamente: coisas de gargalhada e coisas tétricas, em igual dose. 

Vim de lá às sete e tal. 

Viagem de regresso ainda longazita. Voltei a um dos meus good old habits: aproveitar a viagem para os telefonemas familiares. Quando cheguei e vi as horas, receei que o meu marido me chamasse a atenção para isto de que ando, ando, e qualquer dia estou outra vez a trabalhar muito para além do razoável, quiçá fazendo com que o meu coração se vire outra vez do avesso. Felizmente, estava no jardim a pintar o muro e acho que nem reparou nas horas. 

Vestiu uns calções de praia com que sempre gostei imenso de vê-lo, uns brancos, com umas riscas de tamanho irregular em azul claro e verde claro, que fazem um quadriculado também irregular. Já não têm cordão e por isso já não os usa na praia. Hoje estava com eles com um cinto por cima, todo fashion. Tinha uma tshirt branca justa que usa por baixo das camisolas quando faz caminhadas. No fim de semana tinha começado a pintura do muro e tinha este mesmo outfit. Os netos quando o viram da rua, estava ele de costas, disseram que não podia ser ele, que o avô não estava em tão boa forma. Não costumam vê-lo assim. Quando confirmaram que era ele, até o elogiaram. Não mostrou ficar sensibilizado com o elogio mas sei que ficou. Ao vê-lo assim até pensei fotografá-lo -- de costas, bem entendido -- para fazer a vontade à Lucy. Mas pensei que, se me punha com coisas, ainda ele se distraía do muro e se aborrecia por eu estar a chegar a casa tão fora de horas. Portanto, fiz-me de despercebida e estive foi a gabar a excelência da pintura.

Gostava que ele pintasse também o portão da horta mas não posso pedir muitas coisas ao mesmo tempo senão arrelia-se. Tem que ser coisa a coisa. Mas isso, em mim, é contranatura pois, ao ir vendo as coisas a serem arranjadas, vou tendo novas ideias. Mas se lhe digo: 'Olha lá, e se, aqui em baixo, puser uma carreira de vasinhos?'. Ele passa-se. 'Mais vasinhos é sinónimo de comprar mais vasos, mais flores, andar a pôr terra, andar a regar. Por isso, pára.' Digo assim, como se esta conversa não tivesse acontecido mas aconteceu. E ele mandou-me mesmo calar. Calar e parar. Calo-me mas fico a magicar. Será que ali ficariam bem os tais vasinhos azuis com florzinhas azulinhas? Ou aquelas lindas, etéreas, que no verão ficam cor de rosa, aquelas que estão no jardim dos franceses ali à frente, e que ainda não encontrei em lado nenhum? 

Só tenho coisas que me ralem.

Mas, dizia eu, estive num lugar em que vi e ouvi de tudo e em que tive saudades daqueles meus colegas de tempos épicos em que entrávamos em qualquer lugar, nós, um grupo de quatro ou cinco, e toda a gente sabia que éramos um grupo unido e forte. E, mal saíamos dali, não apenas tomávamos todas as decisões que eram necessárias como nos divertíamos à brava. Agora é tudo gente que se leva muito a sério, ninguém se diverte, ninguém ri com o lado caricatural das coisas.

Os problemas de hoje são, por vezes, o oposto do que eram antes e as pessoas que têm a incumbência de os resolver são também o oposto do que eram. O mundo mudou muito. Está cada vez mais chato.

Por isso, foi com imenso agrado que constatei, uma vez mais, que o algoritmo do YouTube tem bué de inteligência artificial. Descobre o meu estado de espírito e, se é assim-assim, aplica-me o devido antídoto. 

Já me fartei de rir. Era mesmo disto que eu estava a precisar, caraças. Não conhecia a Miss Miranda e esta, sim, esta é cá das minhas.


Estou fã dela. Com este vídeo aqui abaixo até me fez lembrar daquela vez em que, num hotel, me inscrevi, como sempre faço, para uma massagem. Tudo normal até ao dia em que, em vez de uma massagista, se me apresenta um massagista. Tipo indiano ou nepalês. Não sou de ficar a dar risadinhas ou a trocar palavras. Aparento comedimento. Mas, por dentro, numa atrapalhação. Fiquei sem saber se havia de fugir, se deveria aguentar-me ali, estoicamente. Optei pelo estoicismo. 

Nos outros hotéis ou institutos ou whatever, as massagistas saem, dizem para nos despirmos e taparmos com uma toalha e, só ao fim do tempo suficiente, voltam a entrar. Ali, contudo, não. O massagista mandou que eu me despisse. Pensei: Mas vou fazer striptease à frente dele? Está maluco. Perguntei-lhe: Aqui?. E ele que sim. Corajosa, virei-me de costas para ele. Depois pensei: Mas agora vou-me virar de frente e caminhar de frente para ele? É o vais. Hesitei. À distância de vários anos, lembro-me que pensei que deveria era voltar a vestir-me e dizer que massagens só com mulheres ou com gays. Como ele não tinha ar de gay, nada a fazer. Mas depois pensei 'que se lixe, não há-de ser nada'. Quando me virei, estava ele a segurar a toalha ao alto, ele por detrás da toalha. Respirei de alívio e, se estivesse descontraída, provavelmente teria soltado uma gargalhada. Deitei-me e ele baixou a toalha. O que se passou quando eu não estava de olho nele, não sei. Mas, do que vi, foi discreto. Mas que eu estava atrapalhada, lá isso estava.

[Fui agora à procura e encontrei o post. É praticamente como acima o descrevi. Já não me lembrava do delicioso pormenor do soutien. Delicioso. A ver se esta porcaria do corona se evapora para lá voltar a ver se ele ainda lá está]

Aqui a cena não é com um 'terapeuta', é com um médico.


__________________________________

enquanto Billie Eilish interpreta Lost Cause

________________________________________

Já adormeci dez vezes e nem consegui ver quase nada do House. Agora nem Netflix tenho conseguido ver. Por isso, só espero que não haja bandos de gralhas

___________________________________________

Uma feliz (thanks god it's ) friday

quarta-feira, maio 06, 2015

Amigas até que a vida nos separe


Abaixo falo do Dom Quixote e, tocando neste assunto, sinto que há uma respiração que vem de um mundo em que as palavras respiravam como gente.

Mas para isso, desçam, por favor, até ao post seguinte. Aqui, agora, a conversa é tão outra que até deve fazer impressão a muito boa gente. Mas a vida por aqui é assim mesmo: parece que a coisa vai encarreirada num sentido e logo a ela guina para o lado contrário. Fazer o quê?


Nota: As 'Amigas até que a vida as separe' de que vou falar não são o Paulo Portas e o Passos Coelho, essas duas comadres desavindas. Não. Não me meto em brigas de rua entre vizinhas.


Estas são outras. E, assim sendo, vamos lá.






As meninas cresceram juntas, histórias partilhadas, segredos, o corpo a desenvolver-se e elas a olharem-se ao espelho, a olharem-se ao espelho umas nas outras, e a trocarem roupas, a pentearem-se umas às outras, tranças, ganchinhos com florzinhas, a enfeitarem-se com brinquinhos coloridos, a experimentarem sombras dos olhos, batons, saltos altos da mãe.

E depois veio o primeiro sangue, o sobressalto, a entrada num novo tempo, a idade adulta que despontava, e a ansiedade das que nunca mais menstruavam, mulherzinhas mais tardias, e o orgulho das mais precoces, a explicarem às outras, e a falarem das dores no ventre e a dizerem que sentiam as maminhas inchadas, os pequenos seios que despontavam, os mamilos como pequenos carocinhos, e os soutiens de rendinhas, presentes das avós, e as meninas riam, cúmplices. Segredos que os rapazes não podiam saber, coisas só delas.

Vieram depois os amores, os ciúmes inocentes, os primeiros beijos que logo eram contados entre elas, e a curiosidade, a novidade absoluta, E ele, como foi? Conta... E fecharam os olhos? E a língua? Conta, conta... E as meninas contavam, rubores, vergonhas, nervosismos, mãos suadas de pudor, o pequeno coração num desalinho, tanto amor para viver.

E uma menina dizia, Os lábios dele são quentes, parece que ardem, e ele afasta devagar o meu cabelo e beija-me no pescoço, na nuca, e, quando afasta o meu cabelo, eu arrepio-me, e ele, depois de me beijar, os lábios tão quentes, volta a cobrir o meu pescoço com o meu cabelo, e depois beija-me o rosto e os lábios são tão quentes e eu sinto que os lábios dele se aproximam dos meus lábios e eu fico com o coração a bater tanto, tanto, nem queiram saber. E as outras: Sim? E depois? E tu? Conta. - e eu contava e elas ouviam com atenção, ouviam sobre os lábios quentes daquele que o meu coração amava, ouviam sobre o meu coração que batia tanto quando sentia os lábios dele, e que batia também descompassadamente quando eu lhes contava a elas aqueles meus apaixonados amores.

E os amores mudavam - porque nestas idades os amores são intensos e efémeros, e os desgostos definitivos e passageiros, e consolavam-se umas às outras e incentivavam-se umas às outras, e limpavam lágrimas e riam e suspiravam e depois trocavam livros lidos às escondidas, descobertas clandestinas, o corpo dos rapazes, o que já sabiam, o que suspeitavam, e aprendiam, e, tantos os segredos que já tinham que esconder umas das outras, mas depois tinham que contar, mais confidentes de umas que de outras, pequenas intrigas ou ciúmes mortais, mas tudo inocente, tudo ainda tão no início. 

E depois as meninas já eram grandes e os segredos maiores e os beijos de que falavam já eram mais carnais e as descobertas mais secretas e gostosas, e a intimidade mais protegida mas logo desvendada, até que um dia a primeira trouxe um grande segredo e logo as outras numa revoada de dúvidas e medos e excitação, Conta? Doeu? Foi bom? Deitou sangue? E ele? E tu? Gostaste? Conta - amigas para sempre, sem segredos, as meninas já mulheres, o corpo já feito, as vontades mais definidas, os sonhos mais elaborados e sempre a amizade forte, os momentos de cumplicidade mais marcantes, memórias que se desenhavam, e sabiam que logo, logo, iria cada uma seguir a sua vida e já sentiam saudades e faziam promessas de cartas, telefonemas, nunca se iriam separar, nunca, nunca e já riam a pensar nas confidências que se seguiriam, e abraçavam-se, amigas para sempre.

E depois veio o dia da primeira delas se casar e todas lá, os sorrisos, os segredos, as alegrias, a preparação do grande momento, a liga de renda, as meias de seda com liga de renda, o soutien de renda, as cuequinhas pequeninas de renda, uma transparência quase provocante, e a cumplicidade de sempre, Agora sou eu e a seguir és tu, e nunca nos separaremos, vão ver, sempre juntas, e, olha, ajuda-me aqui, achas que está bem assim? Sim, estás tão bonita, e olha, já sabes, quero que sejas muito feliz - mas já a perceberem que nunca mais iria ser como dantes, que a separação estava já ali a começar.

Mas fingiram que não, e sorriram todas e cantaram e dançaram e bateram palmas e abraçaram-se e fizeram de conta que acreditavam que iriam estar próximas para o resto da vida. E, em segredo, esconderam as lágrimas.








___


As imagens e o filme Hotel Madrid de Gordon von Steiner fazem parte da campanha de publicidade de noivas de primavera de Vera Wang 2016


____


Permitam que relembre que descendo até ao post seguinte falo da razão que me levou a comprar - pela segunda vez - o Dom Quixote de la Mancha e poderão ouvir o seu primeiro capítulo. 

____


Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quarta-feira 
- se possível rodeados de afecto e, se o não tiverem perto de vós, procurem-no, encontrem-no em quem passa, sorriam para quem se cruzar convosco, para as crianças, para os velhos, telefonem aos vossos amigos, qualquer coisa.

...