Bem. Se há dias em que tenho pena de não poder ser mais explícita hoje é seguramente um deles. Estive num sítio que faz favor. Não foi em lazer. Foi trabalho. Trabalho puro e duro. Mais duro do que puro. Barra pesada, para dizer a verdade. Se eu aqui contasse não iam acreditar. Cenas do caneco. Mais concretamente: coisas de gargalhada e coisas tétricas, em igual dose.
Viagem de regresso ainda longazita. Voltei a um dos meus good old habits: aproveitar a viagem para os telefonemas familiares. Quando cheguei e vi as horas, receei que o meu marido me chamasse a atenção para isto de que ando, ando, e qualquer dia estou outra vez a trabalhar muito para além do razoável, quiçá fazendo com que o meu coração se vire outra vez do avesso. Felizmente, estava no jardim a pintar o muro e acho que nem reparou nas horas.
Vestiu uns calções de praia com que sempre gostei imenso de vê-lo, uns brancos, com umas riscas de tamanho irregular em azul claro e verde claro, que fazem um quadriculado também irregular. Já não têm cordão e por isso já não os usa na praia. Hoje estava com eles com um cinto por cima, todo fashion. Tinha uma tshirt branca justa que usa por baixo das camisolas quando faz caminhadas. No fim de semana tinha começado a pintura do muro e tinha este mesmo outfit. Os netos quando o viram da rua, estava ele de costas, disseram que não podia ser ele, que o avô não estava em tão boa forma. Não costumam vê-lo assim. Quando confirmaram que era ele, até o elogiaram. Não mostrou ficar sensibilizado com o elogio mas sei que ficou. Ao vê-lo assim até pensei fotografá-lo -- de costas, bem entendido -- para fazer a vontade à Lucy. Mas pensei que, se me punha com coisas, ainda ele se distraía do muro e se aborrecia por eu estar a chegar a casa tão fora de horas. Portanto, fiz-me de despercebida e estive foi a gabar a excelência da pintura.
Só tenho coisas que me ralem.
Mas, dizia eu, estive num lugar em que vi e ouvi de tudo e em que tive saudades daqueles meus colegas de tempos épicos em que entrávamos em qualquer lugar, nós, um grupo de quatro ou cinco, e toda a gente sabia que éramos um grupo unido e forte. E, mal saíamos dali, não apenas tomávamos todas as decisões que eram necessárias como nos divertíamos à brava. Agora é tudo gente que se leva muito a sério, ninguém se diverte, ninguém ri com o lado caricatural das coisas.
Os problemas de hoje são, por vezes, o oposto do que eram antes e as pessoas que têm a incumbência de os resolver são também o oposto do que eram. O mundo mudou muito. Está cada vez mais chato.
Por isso, foi com imenso agrado que constatei, uma vez mais, que o algoritmo do YouTube tem bué de inteligência artificial. Descobre o meu estado de espírito e, se é assim-assim, aplica-me o devido antídoto.
Já me fartei de rir. Era mesmo disto que eu estava a precisar, caraças. Não conhecia a Miss Miranda e esta, sim, esta é cá das minhas.