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terça-feira, setembro 09, 2025

Quem é Armando Martins?
Quem é o homem que aprecia o desvio à perfeição?

 




Eu não sabia quem era Armando Martins. 

Fiquei curiosa. E, depois de ler a sua breve biografia e depois de ter visto o vídeo, fiquei surpreendida. Muito interessante. Há pessoas com percursos ímpares. Afinal, Armando Martins é um português excelentíssimo: é o Senhor MACAM.

MACAM = Museu de Arte Contemporânea Armando Martins

Transcrevo:

Armando Martins nasce em 1949, no concelho de Penamacor, e passa a sua infância longe dos circuitos das artes.

Aos 14 anos vem estudar para Lisboa. Na adolescência realiza a sua primeira visita a um museu de arte, o Museu de Arte Antiga, experiência que não o seduz, pois seria a arte contemporânea o seu caminho e paixão.

A sensibilidade e o interesse pelo mundo da arte só começam a anunciar-se mais tarde, de forma crescente e em paralelo com o caminho que vem a traçar a nível profissional.

O colecionador que sonhou um museu

Licencia-se em Engenharia Mecânica no Instituto Superior Técnico, em 1973, ano em que inicia a sua atividade profissional.

No final da década de 70 parte para o Brasil, regressando a Lisboa em meados dos anos 80. Enceta desde então um percurso de sucesso no sector da promoção imobiliária, com a criação de várias empresas.

Nos anos 90, constitui o Grupo Fibeira SGPS,S.A., com atividades na promoção imobiliária, hotelaria e serviços, do qual é hoje o Presidente honorário. 

Foi o promotor do edifício Atrium Saldanha, em Lisboa, projeto com a assinatura do arquiteto catalão Ricardo Bofill, galardoado, entre outras distinções, com o Prémio Valmor de Arquitetura em 2001.

É também proprietário do Palácio do Correio-Mor, em Loures, e do Palácio Condes da Ribeira Grande, na Junqueira, Lisboa, onde instala o projecto MACAM.

O interesse pela Arte

O interesse pelo colecionismo e pelas artes visuais começa aos 18 anos, com a aquisição de serigrafias em parceria com um amigo. 

Por ocasião do seu 25º aniversário, decide oferecer a si próprio a primeira obra de arte original.

Essa experiência é o primeiro momento de um percurso sem retorno, dando início ao que viria a ser a Coleção Armando Martins. A partir de então, a sua actividade como colecionador vai-se intensificando.

Dotado de um espírito inquieto e empreendedor, Armando Martins continua a alimentar a sua capacidade de sonhar e de desenvolver projetos que, por vezes, o conduzem para fora da sua zona de conforto. O gosto pela arte é disso exemplo.

A Coleção e o Museu

Armando Martins não só se decide a criar uma das melhores coleções de arte a nível nacional como, paralelamente, vai alimentando o desejo de fundar um museu para partilhar a sua coleção.

Em 2007, concretiza a aquisição a título privado do Palácio dos Condes da Ribeira Grande, um edifício histórico do século XVIII. Avança com o projeto de reabilitação para criação do Museu, decidindo incluir um Hotel de 5* como motor de financiamento e de sustentação da autonomia do projecto.

Em 2018, é distinguido com o Prémio "A" para o colecionismo pela Fundación Arco, instituição dedicada à promoção, investigação e divulgação da arte contemporânea.

Três anos depois, é-lhe atribuído o Prémio de Colecionador da Associação Portuguesa de Museologia, pelo seu projeto de criação de um museu privado para tornar pública a sua coleção.

O que outrora era apenas sonho, hoje torna-se realidade. O empreendimento está concretizado, a coleção Armando Martins perfez 50 anos de história e o Museu MACAM abriu portas ao público em 22 de Março de 2025.

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 Armando Martins: O Penamacorense que deu um museu a Lisboa


Salve Armando Martins.

Obrigada.

terça-feira, julho 01, 2025

E se vivêssemos dentro de um buraco negro?

 

Sabemos tudo e mais alguma coisa a propósito de tudo. É ver os comentadores que aparecem nas televisões mal algum acontecimento salta para a ribalta. Os mesmos que sabem tudo sobre a Ucrânia e sobre a Rússia sabem também tudo sobre Israel e sobre a Palestina mas também sabem sobre Trump e sobre a legislação americana e, se necessário for, também são capazes de dissertar sobre as eleições no Benfica ou sobre a nuvem-rolo que galgou a linha do horizonte para ir a banhos. Mas pouco sabemos do que se passa dentro de nós, em especial no cérebro, e também muito pouco sobre o 'lugar' em que vivemos, como viemos aqui parar e para que freguesia vamos pregar quando o nosso corpo tão pobremente humano perecer.

Pasmo com as pessoas que põem e dispõem como se fossem viver para sempre, que tomam decisões definitivas sobre porcarias sem qualquer interesse como se estivessem a definir o futuro da humanidade.

E, igualmente, pasmo com as dúvidas que, por vezes, assolam à cabeça de cientistas.

O tema dos buracos negros é daqueles do caraças: matematicamente demonstra-se a sua existência e consegue-se saber (ou pensa-se que se consegue) as leis físicas que os regem. Mas ir lá vê-los, saber ao certo como são e sair de lá para contar... isso está quieto.

Até que alguém se lembra: espera lá... e se vivêssemos dentro de um? E se o que (pensamos que) conhecemos seja apenas o que existe dentro do buraco negro? Ou seja, e se o que (pensamos que) conhecemos não for o universo mas, apenas, uma ínfima parte dele? Ou seja, e se vivemos numa cápsula dentro do mega universo?

Claro que nada disso alteraria a nossa realidadezinha pequenina: o que amanhã vamos fazer para  jantar, o que temos que trazer do supermercado, em quem vamos votar nas autárquicas, como vamos desenrilhar-nos do enredo marado que prometem ser as presidenciais. Tudo isso existe e é inalterável estejamos nós dentro ou fora do buraco. E que raio de espaço habitamos é também uma coisa tão intangível que até se perceber alguma coisa não nos doa a nós a cabeça. Mas que teria graça percebermos alguma coisa disto, lá isso teria.

Mas isto, na volta, é conversa de quem tem os neurónios a derreter. Este calor derrete-me. Por mais que me banhe, nada arrefece as minhas células (nem as estátuas que tentam refrescar-me as entranhas).

Por isso, passo a palavra a Neil deGrasse Tyson.

Is Our Universe Inside a Black Hole?

Is our universe inside a black hole? Neil deGrasse Tyson (Astrophysicist & Hayden Planetarium director) breaks down intriguing new evidence along with other curious parallels that could point to the universe being inside a black hole. Is the edge of our universe an event horizon on a black hole in some other universe?  

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NB: As esculturas que aqui veem não existem, são totalmente inventadas por mim (com a ajuda da Sora)

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Dias felizes

domingo, dezembro 08, 2024

Esculturas feitas por robots...? E continua a ser arte...?

 

Sou amiga de longa data de uma escultora. Durante muito tempo apenas soube dela através de notícias. Mas era ela pequena e já eu percebia nela aquele toque para as artes. Lembro-me de, no liceu, nos primeiros anos, termos que fazer um desenho com guache. Eu e quase todos fizemos desenhos infantis, básicos. Ela não, fez um desenho de bailarinas. A pintura tinha movimento, tinha cor, tinha leveza e graça. As bailarinas estavam em pontas, debruçavam-se, saltavam, e tinham saias de tule, transparentes, e tudo ali dançava. Nesse dia fiquei estupefacta. Pinturas assim só conhecia de quadros nas paredes. Jamais pensaria possível que uma de nós pegasse em pincéis e tintas e, na maior das naturalidades, fizesse uma coisa assim.

Desde aí nunca mais parei de me espantar com a facilidade dela em inventar peças, em dar-lhes vida. Não se tornou pintora mas, sim, escultora.

Ainda recentemente concebeu uma peça absolutamente fora da caixa, inesperada. Apesar de muito elogiada, foi humildade que percebi na sua voz e na sua expressão quando me perguntou: 'Gostaste?'

Há algum tempo ouvi uma outra escultora dizer que há peças que requerem muita força, que pode ser um trabalho muito pesado, que já as evitava pois já não tinha a energia e a resistência que tinha antes. E, de facto, compreendo.

Uma vez enviei uma carta com sugestões à pessoa que ocupava a presidência do município em que, na altura, vivia. Uma delas é que abrisse concursos junto de artistas como escultores ou ceramistas ou graffiteiros para que inundassem a cidade de arte de rua. Achava eu que a cidade deveria transformar-se na cidade das artes, artes ao dispor de todos. Achava eu, e acho, que isso valorizaria de forma duradoura a cidade e que traria alterações estratégicas pois atrairia um turismo de qualidade que, por sua vez, garantiria audiência para outras demonstrações artísticas (festivais de música e de dança, festivais literários ou de cinema ou de fotografia). Enfim, dissertei sobre as potencialidades virtuosas que essa transformação traria à cidade.

Claro que isso tem custos. A arte custa dinheiro. Os artistas não apenas gastam dinheiro nos materiais como muitas vezes têm que contratar ajudantes, têm que arrendar espaços onde possam trabalhar e, claro, têm que viver.

Contudo, agora aparecem os robots, aparece a impressão 3D, e, a montante, o software em que se definem os modelos que estão na origem do que vai ser feito. E, nesse caso, claro que as obras aparecem feitas muito mais depressa. Desde logo, os robots trabalham 24 horas por dia, 7 dias por semana. Claro que, por detrás, há o trabalho humano de programação. Só que, uma vez construído o software que instruirá o robot, este pode fazer essa e milhões de outras iguais. Claro que aí será do interesse do artista destruir o software após a realização da peça para evitar cópias. Só que isso não é bem assim. Quem concebe os modelos matemáticos e quem programa os equipamentos não será o artista pelo que há sempre várias mãos a mexer no software. E, por segurança, haverá cópias. Portanto, o escultor pode acreditar que o software foi destruído e, na realidade, haver ainda uma ou mais cópias. E pode até o próprio artista se predispôr a fazer não um exemplar mas uma série deles.

Seja como for, como em tudo, há lados fantásticos e aspectos preocupantes.

Contudo, quero aqui deixar um apontamento: o mais recente colar, que acho lindo, é composto de peças impressas numa impressora 3D. São peças de uma cor profunda, com um toque macio, maravilhoso, e têm um movimento incrível. Tenho uma amiga, que pertence a uma família ligada às artes e à moda, que faz colares artesanais, bonitos. Quando viu este meu ficou muito impressionada pela sua invulgaridade e beleza. 

Robots sculpt marble in Italy, sparking worries about future of art form | 60 Minutes

A fleet of marble-sculpting robots is carving out the future of the art world. It’s a move some artists see as cheating, but others are embracing the change.


Desejo-vos um belo dia de domingo

segunda-feira, setembro 23, 2024

Lambível...?

 

Já aqui contei que, uma vez em Bilbau, no Guggenheim, ao subirmos umas escadas, fomos dar a uma sala em que num canto estava um monte, encostado à parede, de rebuçados amarelos clarinhos embrulhados em papel celofane. Os meus filhos que, na altura, teriam uns dez, doze anos, por aí, não sei bem, precipitaram-se a tirar um rebuçado para comerem. Fomos atrás deles e, quando vimos uma placa com o nome da obra e o do autor, ficámos para morrer. Quando lhes dissemos para reporem imediatamente a parte da obra de arte que tinham retirado, uma funcionário disse que era mesmo assim, para comer, era uma obra de arte comestível. Todos os dias a obra era refeita.

Nesse dia também vimos num canto um balde com uma esfregona e também admitimos que fosse uma obra de arte. Mas, afinal, não era. Vá lá.

A arte é uma coisa muito sui generis e o que faz sentido para uma pessoa pode ser um disparate para outra. Nada a fazer, é o que é.

Ainda não fui visitar o novo CAM mas vi, com alguma perplexidade, a entrevista a Leonor Antunes cuja obra está exposta na inauguração. E, do que vi, é daquelas obras de arte em que fico meia beige, sem saber bem o que pensar. Assim, pela televisão, não me pareceu ter graça ou beleza ou quelque chose. E, no entanto, há quem certamente pense o contrário.

O vídeo abaixo mostra escultura feita em açúcar e em que no processo há intervenção digital e uma certa tecnicidade. Parecem-me peças interessantes. Aparentemente não são, à partida, obras eternas pois, do que ouvi, podem deteriorar-se ao fim de algum tempo. 

Mas o engraçado, e engraçado para o próprio autor, Joseph Marr, que se mostra espantado, é a reacção de muitas pessoas que, ao saberem que as esculturas são feitas com açúcar, as lambem. Diz ele, admirado, que as pessoas não sabem quem lambeu antes aquelas peças... De facto, que coisa bizarra... 

Would You Lick This Art?

Berlin-based artist Joseph Marr doesn't make sculptures from bronze, marble and clay instead he uses sugar! His sugary and edible exhibitions have gained him a lot of attention and even though he never expected this, everyone licks his artwork. 

This is how to make incredible art out of sugar...


segunda-feira, julho 22, 2024

Jago, magnífico

 

Se eu fosse muito rica, excentricamente rica, tentaria que algumas autarquias aceitassem instalar nas ruas esculturas que eu oferecesse. Penso que todas as autarquias deveriam proporcionar a todos os cidadãos o usufruto da arte, de preferência arte de rua (todas as formas de arte).

Tenho uma amiga escultora. Desde pequena que ela se destaca nas artes. Lembro-me das pinturas que ela fazia quando tinha doze, treze ou catorze ou quinze anos: figuras com movimento, vestuário com transparências. Enquanto todos os outros da mesma idade se esforçavam por fazer figuras minimamente credíveis, ela esforçava-se por fazer figuras com vida. Eu ficava espantada com o que saía das suas mãos. Seguiu artes, claro. 

O processo criativo de alguém que imagina transformar materiais e dar-lhes um sentido ou uma forma ou um movimento ou uma emoção é qualquer coisa de mágico. Claro que o mesmo se aplica a quem pinta, a quem escreve, a quem compõe. 

Gostando eu sobretudo de pintura ou escultura abstracta, fico, contudo, rendida perante quem consegue criar figuras que, podendo ser realistas, são mais que isso, são intemporais, existem para além de geografias ou eras.

A obra de Yago é assim: um assombro.

Rock star: Sculptor Jago on unveiling humankind in marble

Thirty-seven-year-old sculptor Jacopo Cardillo, better known in his native Italy as Jago, has earned a following with his contemporary approach to this classical art form, exposing on social media his process of shaping marble. When he embraced a group of teens who'd defaced one of his works, Jago won a new fan touched by his humanity: Whoopi Goldberg. Correspondent Seth Doane talked with the artist about his most ambitious project yet: creating what will be a 6-ton sculpture more than 16 feet tall.


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Quanto a Biden, pois. Não foi só o discurso que foi um acto falhado. Nem são as gaffes, os tropeços. É mais que isso. É que alguém com as responsabilidades e as exigências de cargo de Presidente dos Estados Unidos deve ter uma capacidade física e mental que dificilmente é compatível com ter 81 anos, acabando o mandato aos 86. Ser velho é respeitável, é uma coisa boa, mas a natureza é o que é. Não reconhecer isto é negar a mais elementar das evidências. É preciso saber reconhecer quando é chegada a hora de nos levantarmos da mesa. Biden não soube. E tenho pena por ele.

domingo, fevereiro 25, 2024

Turistar, arrumar livros, pendurar quadros.
[E, já agora, plantar uma floresta]

 

Informaram que já poderíamos ir buscar o quadro, que tinha ficado muito bonito com a moldura que tínhamos escolhido. Fomos de manhã. 

Aproveitámos para turistar por ali. E uma coisa é certa: quando estamos numa de fazer turismo, descobrimos coisas que antes nunca vimos. Pelo contrário, quando nos armamos em entendidos a passamos pelas ruas e jardins como cão por vinha vindimada, dando por adquirido e considerando déjà-vu tudo o que está à nossa volta, o que acontece é que passamos sem prestar atenção a nada, ceguinhos de todo. 

Foi, pois, com a disposição de um marinheiro de primeira água que me fiz aos jardins. Muita gente, todas as línguas, todas as raças. Gosto imenso de andar nestes ambientes. Há muita gente que fica com comichões quando se vê rodeada de gente estrangeira. Eu não. Mil vezes isso do que cercada de vizinhas que examinam e comentam tudo o que uma pessoa veste, faz ou diz.

Chovia e íamos preparados para a chuva mas cruzámo-nos com pessoas que iam de manga curta, à fresca, e sem mostrarem qualquer frio. 

Como sempre, muita gente a fotografar-se a si própria com os monumentos, por trás, votados à irrelevância. Parece que, nesta era, há uma grande tendência para o narcisismo. Por algum motivo as pessoas pensam que os outros têm muito interesse em acompanhar os seus passos ou que, na proximidade de esculturas interessantes, jardins bonitos ou monumentos excepcionais, o que é relevante é a pose que fazem ou o sorriso que exibem.

Acontece que, nessa altura, da central de segurança ligaram ao meu marido a informar que tinha accionado o alarme na nossa sala. As imagens não mostravam presença humana. Mas ficámos preocupados pois as câmaras não cobrem todos os ângulos de todas as divisões. Por isso, abreviámos o percurso turístico, fomos buscar o quadro e retirámo-nos para vir conferir se estava tudo bem. Felizmente, estava.

Dado que o tema 'pendurar quadros' é tema sensível cá em casa, mantive-me prudentemente reservada.

Depois de almoço, enquanto ele estava no sofá a ver séries ou futebol ou a dormir (não sei), eu atirei-me à árdua tarefa de mondar os livros que já vieram. 

O meu marido colocou os sacalhões na cave. Alguns sei, à partida, que nós também já cá os tínhamos. Esses fui logo arrumando numa das estantes que lá está, na cave. 

Aqueles que me ofereciam dúvidas, trazia-os para cima. Os de língua portuguesa vinham para a biblioteca do rés do chão. Os outros para a biblioteca do primeiro andar. Por isso subi, carregada de livros, muitas vezes, um ou dois lances de escadas. Depois, in loco, validava se já os tinha ou não. Se sim, voltavam para a cave. Os que não tinha foram arrumados na devida ordem alfabética. E isso está a trazer-me grandes problemas pois muitos não cabem. Por isso, tive que reformular, arrumar de outra maneira. Tudo isto é um desafio...

Parei porque já estava cansada e com medo que tanto step em doses maciças e carregada de livros me afecte as articulações já que se dão mal com carregos e com movimentos repetitivos. E foram umas horas disto. 

Mas tive vários momentos de felicidade pois encontrei muitos livros que julgava perdidos. 

Estupidamente nunca me tinha ocorrido que poderiam ter ficado em casa dos meus pais. 

Por exemplo, na altura, andava na faculdade, tinha ficado francamente impressionada com A Bastarda da Violette Leduc. E tinha-lhe perdido o rasto. Hoje apareceu. E vários outros. Por exemplo, vários dos Livros do Brasil. Ou um outro que, na altura, também me impressionou, o Papillon. Ou os do Gorki. Por algum motivo, quando me casei, levei uns e não levei outros e, depois, acabei por me esquecer de ir buscá-los.    

Mas, dos que vieram de casa dos meus pais, há muitos que não tinha e que, por mim, para mim, não os teria comprado. Por exemplo, várias biografias de personagens históricas ou livros sobre saúde (cérebro, microbiota, etc). Alguns, por sinal, fui eu que os ofereci à minha mãe. O meu pai também lia mas mais livros mais técnicos ou sobre geografia ou ciências. Depois há várias obras completas: Ferreira de Castro, que foram para a minha filha, Eça, que o meu filho diz que ficará com eles, Camilo Castelo Branco que ficaram para mim pois tinha alguns mas não todos. Os do Aquilino não sei se ainda lá estão ou se a minha filha também os levou. Os do Júlio Dinis ainda não vieram. E sei lá que mais.

Claro que a estante dos repetidos já está a transbordar.

A ver se este domingo consigo dar destino aos que ainda estão em sacos na cave.

Mas, dizia eu, andei nisto, para cima e para baixo e, claro, de bico caladinho em relação aos quadros.

Até que, como por milagre, o meu marido apareceu ao pé de mim a dizer para irmos ver onde pôr os quadros. E falo no plural pois o que veio foi para o lugar de outro que, por sua vez, desinstalou outro. E assim sucessivamente. Também para pendurar o que o meu tio pintou tive que arredar outro que, por sua vez, foi para outro sítio e assim sucessivamente, e patati-patatá. Portanto, uma enfiada deles. É que nem sempre um pode usar o mesmo prego que o antecessor pois ou está acima ou está abaixo.

Mas a verdade é que a coisa fluiu sem dramas e já está tudo posto e lindinho. Milagre, milagre.

E é isto.

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Vi há pouco um daqueles vídeos que me encantam. Plantar uma floresta, salvar uma floresta do declínio quando a principal e quase única espécie é atacada, andar pelos campos, fazer arte com paus, troncos, pedras, sentir a terra com as mãos, ver a natureza a reinventar-se, se. Tudo maravilhoso.       

Rewilding A Forest | Maria "Vildhjärta" Westerberg | Something Beautiful for the World

Synopsis: Maria was a romantic, animal-loving, dreamy child who, growing up, had a hard time conforming to the demands associated with the trajectory towards "a normal life". As a young adult she became depressed, and was encouraged by her therapist to go for walks in the forest. The myriad of funny-looking twigs and sticks she found along the way immediately put her on a path to recovery. Now, 25 years later, she's a celebrated "twig poet" whose art is shown in galleries throughout Sweden. When a climate related crisis strikes the forest where she lives and works, she's forced into a new type of creativity in order to save the place that once upon a time saved her. 

Filmed in: Värmland, Sweden

Featuring: Maria "Vildhjärta" Westerberg & Johannes Söderqvist (https://vildhjarta.net/) and Martin Jentzen (https://www.jentzen.se/)


Desejo-vos um belo dia de domingo

Saúde. Alegria. Paz.

domingo, janeiro 28, 2024

Falamos junto à luz


Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, em ‘Dia do Mar’


De tarde, chamados pela luz suave e dourada, pelo prenúncio de primavera que nos trouxe temperaturas muito aprazíveis, e, sobretudo, pelo menos pela parte que me toca, pela necessidade de oxigénio, fomos para a beira do rio.

O prazer de andar e conversar num dos lugares bons da cidade, a diversidade de gentes com que nos cruzamos, o sol sobre o rio, a boa companhia, tudo isso é remédio certo para lavar a alma.

Em tempos fotografava pessoas. Adorava. Sentia-me sempre uma observadora clandestina e, ao mesmo tempo, transparente. Já conseguia antecipar os movimentos das pessoas, as suas expressões. Estava de tocaia e, quando a ocasião se proporcionava, disparava. E, aparentemente, ninguém dava por nada.

Tenho muitas centenas ou, melhor, provavelmente, milhares de fotografias de pessoas. Mas depois temia sempre publicá-las pois receava que estivesse a pisar o risco da privacidade. É certo que há mesmo a modalidade de fotografia de rua e muito do que era a sociedade em tempos mal documentados se conhece através do trabalho de fotógrafos de rua. Mas, por via das dúvidas, encolhi-me. E, se não posso mostrar, para quê estar a fazer?

Portanto, agora tento evitar a presença de pessoas. Contudo, por vezes, é impossível deixá-las de fora. Mas, como sempre costumo dizer quando aparecem pessoas nas minhas fotografias, se alguém se reconhecer aqui e não quiser cá estar, bastará que mo diga.

Fomos lanchar ao CCB, depois fui lá tratar de um assunto e, de seguida, fomos passear para a beira do rio. 

O que abaixo partilho é parte da arte de rua que por aqui se pode ver. Escultura de homenagem ao pessoal clínico em tempos covid, a escultura Central Tejo, os big e engenhosos trabalhos da Joana Vasconcelos (se é arte ou gigantes trabalhos que incorporam design e montagem isso não sei), o mural em que vários artistas homenageiam o 25 de Abril, os belos murais de azulejos com poemas de Sophia, o próprio edifício do MAAT que é escultural.

A última fotografia não foi feita hoje nem é em Lisboa. É em Setúbal, no belo PUA, e é uma homenagem a José Afonso. A minha filha estava lá à frente mas, com o corrector, retirei-a. Não ficou perfeito mas como a escultura é algo 'incerta' a modos que disfarça.

Em dias como estes, é bom sair de casa, andar a passear, a laurear, a flanar, a desopilar, a vadiar, a turistar, a espairecer, a espanejar, a dar ar à pluma. Mas, para quem não possa fazê-lo, aqui fica um cheirinho.


























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E vi este vídeo de que gostei e que gostaria de partilhar. Já não é Green Renaissance mas Reflections of Life e são sempre tão tranquilos, transmitem serenidade, a vida a ser vivida com vagar, o contacto com a natureza, o prazer de existir de forma simples.

BELONGING - Finding Connection

Quando somos incompreendidos e sem apoio, é fácil sentir-nos sozinhos, como se não nos encaixássemos no mundo que nos rodeia. Mas algo lindo começa a acontecer quando entendemos que nossa singularidade não é uma falha, mas um motivo de comemoração.

À medida que aprendemos a valorizar e a partilhar os nossos dons individuais, reconhecendo a beleza das nossas diferenças, encontramos uma ligação renovada com o mundo - semelhante à harmonia encontrada na natureza, onde cada elemento contribui para a beleza geral da paisagem.

Inspirando-nos no mundo natural, entendemos que abraçar as nossas diferenças é um presente que podemos oferecer ao mundo, tornando-o um lugar mais bonito para todos que nos rodeiam.

A resposta reside em colmatar lacunas, cultivar a empatia e revelar a vibrante tapeçaria da nossa experiência humana partilhada através do reconhecimento e da celebração da diversidade.

Filmado em Singapura

Com Kathleen Yap


Desejo-vos um bom domingo
Saúde. Serenidade. Paz.

sexta-feira, outubro 06, 2023

Tostas saborosas em família e um belo, belíssimo, Animaris Rex
Never gonna be alone

 


O dia foi dos bons. Um dia feriado é dia de férias e é bom ter o pessoal todo cá em casa. Almoçaram, descansaram, foram jogar padel, foram dar um mergulho. Depois, de volta a casa, todos os homens fecharam-se na sala de televisão para verem o futebol sem interrupções do sector feminino ou do cão. Mesmo os benfiquistas se solidarizaram com os sportinguistas e permaneceram na sala.

Portanto, o lanche foi dividido entre o que levei para os que estavam fechados e para as meninas que aproveitaram o sol e o ar livre.

Tinha trazido dois pães de forma de Rio Maior que fatiei, um de chia e mais qualquer coisa e um pão rústico, tudo fatiado no supermercado. Não aproveitei as fatias que se partiram ou enrolaram umas nas outras. 

As duas grelhas do forno já não são suficientes para as tostas. Enquanto o pão está no forno, vou tostando mais fatias na torradeira.

Fiz de três tipos. Como todos gostam muito, partilho convosco pois podem querer aproveitar a ideia.

1 - Levo umas fatias ao forno. Quando já estão a alourar, tiro-as e pincelo-as com um pouco de azeite com alecrim. Vão de novo para o forno. Depois de lourinhas, retiro-as. Tiro o alecrim pois já lá deixou o sabor (e não vão eles embirrar com as folhitas secas; se fosse para mim, deixava ficar). Ponho uma fatia de queijo em cada tosta (no caso, era Terra Nostra). Vai ao forno outra vez, para amolecer. Quando está praticamente derretido, tiro do forno, ponho uma fatia finíssima de presunto em cima. Antes de servir, passo por cima, muito ao de leve, uma brisa invisível de azeite e uns quantos subtis orégãos.

Dios pratos, dos grandes, destas.

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2 - Já contei mas, para ficar aqui, repito. Num copo misturador ponho dois tomates de rama, grandes e bem maduros. Ponho um pouco de sal e um pouco de orégãos. Com a varinha mágica, moo muito bem. Depois de moído, junto um fio de azeite enquanto continuo a bater com a varinha, o que faz engrossar. Esta emulsão é muito boa e saudável.

Tiro mais um tabuleiro de tostas do forno e, com uma colher, ponho uma boa quantidade desta emulsão em cada tosta. Por cima de cada, ponho uma fatia de salmão fumado. Em algumas ponho, ainda, um apontamento de queijo mozarella de búfala. Noutras, polvilho um pequeno nada de alface ou de cenoura ralada. Por cima, o mesmo sopro invisível de azeite e uns salpicos de orégãos.

2 pratos destas

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3 - Os restantes 2 pratos são parecidos mas apenas com a emulsão de tomate, umas fatias bem generosas de mozarella de búfala. Em algumas salpico, por graça, com uns discretos toppings de salmão fumado.

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Desaparece tudo, num ápice.

Uns acompanham com bongos, outros com iogurtes líquidos magros, outros com minis.

A seguir, uvas.

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Um pormenor relativo ao almoço. A pedido de várias famílias, tudo o que é doce ou engordativo deve ser banido. Portanto, para sobremesa, fiz assim: para uma taça grande de vidro, cortei aos bocadinhos dióspiros bem maduros, pêssegos maduros e doces, maçãs, muitas uvas inteiras e sem grainha. Depois deitei lá para dentro um iogurte magro de frutos vermelhos e seis embalagens de gelatina sem açúcar acrescentado, de pêssego e manga. Envolvi tudo e coloquei no frigorífico até ser servido. Ficou muito agradável. Gostaram. As crianças assim comem bastante fruta, sem protestarem

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E, para terminar, um momento maravilhoso. A perícia de Theo Jansen é surpreendente pois alia a inteligência da técnica à leveza da poesia.

Animaris Rex

Since the beginning of this summer I have been trying to connect several running units (Ordissen) in succession. Animaris Rex is a herd of beach animals whose specimens hold each other as defense against storms. As individuals they would simply blow over, but as a group the chance of surviving a storm would be greater. It is 18 meters long (5 meters longer than the largest Tyrannosaurus Rex found.)

Theo Jansen


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Lá em cima, obra de Oliver Marinkoski

Jacob Collier - Never Gonna Be Alone (feat. Lizzy McAlpine & John Mayer)

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Desejo-vos uma feliz sexta-feira
Saúde. Harmonia. Paz.

segunda-feira, setembro 18, 2023

Histórias de uma Colecção

 

Acordei de madrugada com a chuva e depois custei a readormecer. Mas, apesar de alguma dificuldade, lá consegui.

Quando acordei de manhã já não chovia. 

Começámos o dia ao ar livre. A caminhada foi boa. Cheirinho a terra molhada, chão fofo pela caruma amolecida. O cão doido com os cheiros, a parar de centímetro a centímetro.

Depois de anos esforçados, agora temos sempre a vontade de ficar a borregar em casa, sossegados.

Mas a minha filha perguntou no outro dia se não estamos a ficar mongas e essa pergunta deixou-me a pensar. Contei ao meu marido. Ficou arreliado. Não gosta de ser confrontado com umas certas verdades. O meu filho também está sempre a perguntar quando é que saímos, também acha que não devemos enclausurar-nos.

E, portanto, de certa forma sensibilizados com as censuras e apelos deles, resolvemos dar-lhes ouvidos e deixar de ficar aqui a ronronar no conforto e quentinho do ninho. 

Tendo a minha filha alertado para que esta segunda feira já seria o último dia da exposição Histórias de uma Colecção na Fundação Gulbenkian, resolvemos inverter a ordem dos factores a alguns compromissos familiares para não deixarmos a visita para a última. E, portanto, este domingo lá fomos. 

Soube-me que nem ginjas. E almoçámos por lá e comprei uns livros que são um mimo. Estou mesmo contente com os meus livros. A ver se amanhã mostro. E até comprei, imagine-se, dois ímanes para a parede lateral do frigorífico. 

E a exposição é extraordinária. Adorei, adorei, adorei. Muito boa.

E ao fim do dia voltámos a fazer outra caminhada. Uma energia mesmo boa. 

Deixo aqui algumas fotografias da exposição. Mas, acreditem, ao vivo é outra coisa e a amostra que aqui deixo não é seguramente a melhor. 

Se conseguirem, aproveitem. Vale mesmo a pena.


Para nos acompanhar na visita, Maria João Pires interpreta Clair de Lune, Debussy




















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Desejo-vos uma bela semana a começar já nesta segunda feira

Saúde. Ânimo. Paz.

quinta-feira, março 30, 2023

A Mona Lisa...? Uma aldrabice.
[Do Rodin salva-se o Thinker mas é por causa dumas coisas do TikTok]

 

Dia longo e, graças a ainda não nos termos visto livres dos efeitos pós-covid, um bocado cansativo.

Para já a noite foi muito em branco. A minha mãe tinha encostado a porta do quarto e o dog, que tem que ter sempre o que guardar, começou por deitar-se, no corredor, à porta do quarto dela. E até aí tudo bem. O pior é que, a partir de certo ponto, deu-lhe para ganir. Aliás, mais parecia que estava a chorar. Uma coisa impressionante. Pensei que, com aquela choradeira, não estava a deixar a minha mãe dormir.

A chatice é que, de noite, quando tentamos impedi-lo de fazer o que quer, não reage lá muito bem. 

O meu marido dormia a sono solto e eu equacionava ir eu tentar tirá-lo dali ou acordar o meu marido. Não queria acordá-lo mas não sabia como é que conseguiria tirar o urso felpudo dali. É teimoso como uma mula e, fixado como estava em estar de sentinela ao quarto da minha mãe, era certo e sabido que seria debalde.

Então, vendo que o tempo passava e ele não se calava, acordei mesmo o meu marido. Vestiu-se e lá foi. Só que, como por milagre, o guardador de rebanhos calou-se. E o meu marido, passado um bocado, apareceu e disse que ele se tinha calado e que não o tinha visto. Pensou que tivesse ido para junto da janela do primeiro andar, onde gosta de dormir.

Só a partir dessa altura consegui dormir.

De manhã, quando lhe perguntei sobre o safado que tinha feito aquela linda choradeira à sua porta, a minha mãe disse que não ouviu, que dormiu profundamente. Mas que, já de madrugada, ouviu empurrar a porta à força. Assustou-se. E ainda mais se assustou quando sentiu alguém a saltar-lhe para cima da cama. Claro que percebeu logo que era ele. A excelência, tendo conseguido o que queria, aconchegou-se e dormiu. Só que aí foi ela que espertou, não conseguindo dormir mais.

De tarde, eu e o meu marido fomos com os dois meninos, um dos quais está quase a fazer anos, comprar-lhe o presente de anos.

Basicamente agora o presente principal que querem (os rapazes) é chuteiras ou ténis de modelos ou marcas que eles lá sabem. Portanto, para ser ao gosto deles e para os provarem, temos que ir com eles. Não dá para arriscar.

O mais velho, recém chegado do passeio de Paris (onde parece que fez das dele) foi connosco, como conselheiro.

Eu ou o meu marido escusamos de opinar pois eles têm ideias muito bem definidas. 

Gostamos também de oferecer sempre roupa pois precisam sempre. Como a minha filha me tinha dito que ele precisava de tshirts e de um casaco aberto à frente, enquanto eles dois desataram a escolher por eles, eu fui escolher tshirts. Quando as viram, tshirts normais, discretas, com uns desenhos engraçados, disseram que nem pensar, que 'sem ofensa, Tá, já não estás bem ao corrente do que se usa...'. O mais velho disse que 'basicamente, Tá, se ele usasse isso seria vítima de bullying'. Fiquei a olhar para as tshirts a tentar descortinar a razão de tão dramáticas consequências. O mais novo elucidou-me: 'Basicamente, Tá, eu seria alvo de chacota'. Fiquei na mesma. Mas, pronto, ok.

Quanto aos casacos com fecho, não quiseram saber dos requisitos da mãe. Sweatshirts com capuz e mais nada. Casacos com fecho já não estão com nada. E lá escolheram. O mais velho escolheu tudo. Para já que o irmão precisava de umas calças beige. Depois tshirts lisas ou só com algum dizer, simples. Sweatshirts lisas, claras, simples. E um boné como deve ser. O irmão vestia e pedia para eu chamar o irmão, para o irmão se pronunciar. E o irmão opinava. Com bom gosto e ultra despachado. Gostei de ver.

Mas a perdição na loja dos ténis foi a secção das tshirts dos clubes, perdição sobretudo do mais velho, e a das chuteiras, perdição de ambos. Depois de escolhidos os ténis, dirigiram-se para lá. Qualquer deles já as tem, boas, mas, com o pé a crescer-lhes a ritmo acelerado, estão sempre a precisar de novas. 

Imagino que a vossa literacia sobre chuteiras seja equivalente à minha. Mas deixem que vos conte que é todo um mundo novo. 

Há um ou dois anos eu acharia aquilo uma bimbalhice. Agora já sei que é mesmo assim. E eles adoram. Dizem que umas são as do Ronaldo, outras as do Messi, outras as de não sei quem. Parecem umas sapatinhas de plástico ultra coloridas, com uns espigõezinhos que parecem uns saltinhos fofinhos. Mas consta que os jogadores de futebol acham o máximo. Os meus netos põem-mas na mão para eu lhes sentir a leveza, quase não pesam, e parece que são resistentes e confortáveis. E carérrimas.

Se bem percebi, saíram de lá já a saber quais as que o menino dos anos vai 'cravar' ao pai.

Depois, já atrasados para o treino do mais novo (um grande guarda-redes que já joga a sério), íamos no carro quando o mais velho se saiu com uma, certamente no seguimento da conversa anterior sobre as suas aventuras em Paris, 'Agora a Mona Lisa...? Uma aldrabice.'. Apanhados de surpresa, reagimos, o meu marido referindo o sorriso enigmático da dita, eu rindo e referindo também a intemporalidade da obra. Ele continuou: 'Filas enormes, depois temos que ficar a dez metros e, afinal, aquilo é uma coisinha de nada, com dois centímetros, e não passa daquilo'. Protestámos. Corrigiu, dois centímetros não, mas não mais que isto - e mostrou com as mãos a fraca dimensão da coisa. Continuou: 'Quadros maiores, melhores', como se não percebesse a fama da Mona Lisa quando comparada com coisa melhor. E concluiu: 'O Louvre, uma seca'.

Perguntei pelo Orsay. Disse que outra seca. Rebatemos. O mais novo veio em defesa do irmão: 'Tá tens que perceber, basicamente esses museus são uma seca para putos como nós'. Não me dei por vencida. Falei nos impressionistas, pinturas tão lindas. 

E falei no Rodin. 

Aí lembrou-se. 'Ah, Rodin, sim, o Thinker'. Tendo chegado de uma 'visita de estudo' a Paris, estranhei: 'O Thinker?'. O meu marido disse: 'Le Penseur'. Ele comentou que sabia mas preferia dizer em inglês, o Thinker, e era por causa dumas cenas do Tik Tok. Mas fiquei com a impressão que eram coisas de que ele, basicamente, não podia ou não queria ali falar.

Fomos a casa para deixar o mais velho e para o mais novo se trocar. Dali levámo-lo ao treino. E viemos para casa. De caminho apanhámos uma pizza. Ainda fomos fazer uma breve caminhada. Quando chegámos a casa já era de noite. E, adivinhem, basicamente perdidos de sono.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Boa disposição. Paz.

domingo, março 05, 2023

Assinalar o 3º aniversário Covid em grande estilo
[Digo assinalar porque me parece que festejar não é lá muito bem o caso...]

 


E, portanto, na semana em que se assinalam os três anos de Covid em Portugal, para marcar a data em grande estilo, quando já começava a convencer-me que a minha genética para sempre me levaria por entre os pingos da chuva, fui caçada pelo corona.

Nada de extraordinário. Tinha dormido com ele, tinha convivido de perto com ele durante dois dias... como não...?

A dúvida é como é que o meu marido o apanhou... No supermercado? 

Mas não interessa. O que interessa é como é que, depois de três anos de informação e alertas, fomos atingidos connosco na maior descontração.

Na segunda-feira o meu marido falou que andava com pingo. Nada de mal.  Nem ele nem eu ligámos. 

De tarde estava com dores de garganta. Estávamos a passar perto de uma farmácia pelo que ele parou e foi comprar um spray. Tranquilo. Continuámos na levezinha.

Na terça-feira disse que achava que estava a constipar-se. Espirrava, tossia, doía-lhe a garganta e... tudo ainda na boazinha. À tarde achou que era melhor comprar uns comprimidos para estes sintomas gripais. Começou a tomar.

Para mim era uma carraspana das antigas. Para ele também.

À noite pediu-me para eu ir buscar o termómetro porque se sentia febril mas estava cansado para o ir buscar. Achei aquilo estranhíssimo. Nem protestei, fui logo buscar. E aí já comecei a desconfiar. Cansado? Tão cansado que me pedia para eu ir buscar o termómetro...? Quando constatámos que estava com febre alta e quando o vi com os olhos muito encarnados fui logo buscar um teste. Óbvio. Imediato. 

Positivo.

Por isso, na quarta-feira fui à farmácia comprar-lhe medicamentos conforme contei aqui.

Mas, portanto, teste positivo na terça à noite. Já dormimos separados. 

Os seus sintomas acentuaram-se: cansado, cansado. E tosse. E febril. Mas, sobretudo, cansado. 

Quando ia levar-lhe a comida ou ia buscar roupa para mim, volta e meia esquecia-me da máscara. Ele corria comigo, aborrecido com a minha falta de cuidado.

Na quarta-feira mantinha-me bem. Na quinta também. Mas à noite estava com um frio um pouco suspeito. Mas as temperaturas têm estado baixas, as casas frias. Portanto, nada de mais. Não tinha quaisquer sintomas. Continuei a alimentar a esperança de que, pelo tipo de sangue, por não me faltar apanhar sol (dizem que a vitamina D é importante), por qualquer outra coisa e, também, por ter sido vacinada com a dose de reforço e a da gripe em meados de novembro, talvez escapasse.

Mas m sexta acordei com algumas dores meio atípicas: nos pulsos, nas costas, nas pernas, na cabeça. Mas desapareciam assim como apareciam. Fiquei a tentar perceber o que se passava. Levantei-me, sem vontade de me levantar, e sentia-me esquisita. Cansada, cansada. Percebi que estava doente. Fui fazer o teste... e, claro, branco é, galinha o põe. Positiva.

Passei o dia deitada. Tive febre, dores de garganta, dores um pouco por todo o lado. cansada, sem energia, sono.

A noite passada dormi que me fartei. Foi o meu marido que me foi acordar pois devia estar preocupado. Acho que nem sonhei nem mudei de posição. 

Este sábado não tive febre mas continuo cansada, congestionada, dorida, sem qualquer apetite (o que não é mau). 

Temos monitorizado o oxigénio, o que é importante. Temos feito repouso e bebido líquidos.

O meu marido está melhor, já se mexe, já não se sente tão apanhado.

Ontem pensei que não ia conseguir escrever aqui nada. Estava KO de todo. Mas, ao ver o De Ornelas a fugir com o colectivo e eclesiástico rabo à seringa arranjei energia para o zurzir, a ele e aos que o rodeiam e apoiam. 

E agora que aqui estou, meio azamboada, a ver a Semifinal do Festival da Canção, cheia de peças de roupa, congestionada como se estivesse com uma gripe das antigas, com dores nas costas, com os olhos a modos que a arder, sem comer nada desde a saladinha do almoço, pensei o mesmo: hoje não vai dar.

Mas isto já se sabe: a força do vício é tramada. Neste caso o vício de escrever.

E, portanto, por hoje nada mais que isto. Sei que abuso da vossa paciência pois ninguém merece ter que gramar com o boletim clínico de outro. Mas não tenho energia para falar da ridícula moda de alguns intérpretes que se apresentaram com naperons na tola ou véus colados à cara ou de alguns outros, masculinos, vestidos de matrafonas como se o Festival fosse um franchising do Carnaval de Torres Vedras.

E não quero que me achem maledicente pois até gostei de algumas canções. Por exemplo, gostei da 7, da 8 e da 10. Mas não consigo dissertar sobre isso. Passaram à Final e isso é que importa.

Só mais uma palavra. Estando já medicados, ficámos na dúvida se deveríamos ligar para a Saúde 24, sobretudo para uma estatística mais actualizada. Ligámos. E fiquei muito agradavelmente surpreendida pela atenção, pelo cuidado. E há pouco ligaram para fazer o acompanhamento. E com mais recomendações. Serviço público de qualidade.

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Esculturas de Su Blackwell feitas com livros em segunda mão 

na companhia dos bem dispostos Voodoo Marmalade com Tormento,  10ª canção da semifinal.

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Um bom dia de domingo 

Saúde. Boa disposição. Paz.

sexta-feira, março 03, 2023

A beleza e a serenidade que se respira no Palazzo Doria Pamphilj, um palácio italiano do Sec XVI, e a tranquila modernidade de Isabella Ducrot



 

As belas cores italianas feitas de sol, de terra, de mar, de sinais do tempo nas coisas estão ali muito  presentes. Há uma harmonia antiga que nos cativa.

Muitas pessoas associam as coisas antigas a mausoléus, a móveis 'de estilo', escuros, sofás de pele escura ou veludos soturnos, tapetes em tons bordeaux escuros, pinturas sombrias com molduras de madeira escura, casas mal iluminadas em que o sol, se entrar, não tem onde se reflectir. 

Há ainda quem preencha todo o espaço com móveis, sofás e traquitanas de toda a espécie não deixando espaço de circulação. Ou quem, em contrapartida, deixe espaços vazios, não como um espaço de luz e respiração mas como prova acabada de abandono ou de falta de inspiração.

Em qualquer dos casos, os espaços serão inóspitos, pouco acolhedores, pouco felizes.

Claro que, falando assim, tenho que pensar nas pessoas que têm casas pequenas porque não conseguem pagar maiores e que, portanto, não têm como pensar em decoração quando as primeiras necessidades são as que falam mais alto. Ou nas que mobilaram a casa de uma maneira e agora não têm meios para a renovar. Ou, ainda mais, claro, as pessoas que não têm casa.

Mas sempre haverá quem passe por situações que não lhes permita fazer aquilo que tanto gostaria de fazer. 

E, aliás, estou em crer que mesmo para pessoas que gostavam mas não têm como viver em casas organizadas e decoradas de outra maneira, ver casas bonitas pode ser um bálsamo, uma escape, uma porta para o sonho, um pretexto para imaginar outros voos.

O que Isabella Ducrot (nascida em 1931 em Nápoles e agora a viver e trabalhar em Roma) aqui nos mostra é, a meus olhos, extraordinário. Há conforto, há luz, há modernidade, há antiguidade, há uma sã convivência entre tudo, talvez favorecida pela luz clara e serena que a envolve.

E a maneira como ela trabalha, o despojamento, a leveza e harmonia das formas e das cores, o prazer das texturas, do toque, a dimensão arrojada, tudo nela é surpreendente e, ao mesmo tempo, reconfortante (digamos assim). 

E já nem falo nos seus 92 anos. Noventa e dois. Senhores, como é bela e jovem e serena esta mulher.

De novo, lamento que o vídeo não tenha legendas em português. Mas o italiano de Isabella é pausado e aberto, percebe-se bem e é muito saboroso. E, para quem não perceba, lá estão a legendas em inglês.

Touring A 16th-Century Italian Palace: Isabella Ducrot’s Private Art Collection | Visitors’ Book

The World of Interiors presents Visitors’ Book with Isabella Ducrot at Palazzo Doria Pamphilj in Rome, Italy. Step inside Isabella’s beautiful 16th-century apartment situated above the prestigious Doria-Pamphilj gallery, as we explore her private art collection.

Together with her late husband, Vittorio Ducrot, Isabella has collected an array of art that reflects their intimate travels — from Giaquinto’s Madonna to a number of Indian miniature paintings. “Our collection of Indian miniatures is the fruit of our travels to India, where we went every year for sixty years.” Watch the full episode of Visitors’ Book as we explore Isabella Ducrot’s slice of the Palazzo Doria Pamphilj in Rome. 


Um dia bom
Saúde. Serenidade. Paz.