Essa tendência para traíres, para mentires -- e para seres perfeitamente franca. Para te esconderes -- ou para te mostrares muito. Esse cuidado de te preservares tanto -- para acabares a contar a tua história, a tua verdade, com todos os pormenores a um desconhecido. Essa vontade de fugires, de saíres a correr quando alguém mostra que começa a conhecer-te, embora não te reveles, e essa vertigem de ficares. Essa indomável sede de alguém -- e de não estares com ninguém. De envolveres as carícias em palavras. Essa vontade de mudares sem renunciar a nada. Essa fome de impossíveis. Como pensar no meio desta confusão contraditória? É verdade e mentira, está bem e está mal, e não há saída.
Nada a fazer. Toma um copo de água.
Se encontrares alguém que és capaz de suportar (e já é muito), e se esse alguém for também capaz de te suportar a ti (e é já quase suspeita tanta coincidência), e se em certos momentos não apenas o suportas como o quererias mais chegado ao pé de ti, e se acontecer sentires a falta dele quando se demora muito, e se ao vê-lo te voltar a alegria, então não receies submeter-te a essa desolação da proximidade que é a vida a dois: é possível que consigas aguentá-la.
Algumas, num genuflexório e atrás de uma rede escura, confessam-se. Outras, talvez mais sábias, tomam banho e lavam-se. Umas e outras ficam limpas e vazias de culpa. Um duche, um banho de imersão, um momento de cavaqueira de peito descoberto. Velhas receitas, boas para tranquilizar.
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A canção é dos UHF - "Puseste o Diabo em mim", uma música que não me tem saído da cabeça e que aparece no último CD deles, que recomendo
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E queiram, por favor, descer até ao post seguinte para mais umas receitas de amor, desta feita destinadas às mais sofredoras e que não tiveram grande sorte com a companhia que lhes calhou na rifa. Lá explico de onde vem isto.
E caso não apreciem o género e prefiram saltar logo para as investigações em torno da laranja-podre do PSD-profundo envolvendo aquela rapaziada de Gaia e arredores, podem clicar aqui e saltar já para lá.