Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Vilas. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Manuel Vilas. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, julho 18, 2019

Em tudo havia beleza
[Mas eu agora mal consigo ter tempo para ela]





Só para dizer que estou esperançada de que a partir da próxima semana e até ir de férias o meu ritmo possa abrandar. Mas até chegar ao fim da semana vai ser obra.

E se há trabalhos que faço de gosto há outros para os quais parto em esforço -- e os que invadem todo o meu espaço e me deixam sem tempo para mim são deste último tipo. Gosto de gerir o meu tempo. Fico impaciente e cansada quando não consigo dispor nem de uma escassa fracção de tempo, quando não consigo nem uns minutos em que não tenha que estar com atenção. Satura-me ter que estar no activo desde madrugada até tarde na noite, para recomeçar no dia seguinte logo ao romper do dia e, uma vez mais, non stop até que o dia acabe,

Quando digo que admiro as pessoas que exercem cargos públicos -- até pelo facto de terem que estar disponíveis todos os dias, de sol a sol quando não de madrugada à noite -- falo genuinamente. Não ganham tanto quanto isso e sacrificam completamente a sua vida pessoal e familiar.
Sei que muitos dos que me lêem (a Isabel, por exemplo) não concordam nada com isso, acham que é tudo gente oportunista e que, por muito que eles se esforcem, nunca lhes devemos nenhum agradecimento. Eu não penso assim. Claro que há, entre eles, gente corrupta, incompetentes e caciques. Esses, bem entendido, não merecem qualquer admiração ou apoio, merecem repúdio ou cadeia. Mas os que generosamente dão muito de si a bem dos outros, a esses eu acho que somos devedores de gratidão.
Mas isto para dizer que ultimamente não me chega o tempo para mim e me sobra o trabalho e isso, no balanço dos dias, pesa-me, deixa-me com a sensação de tempo mal aproveitado e, sobretudo, com vontade de férias.

Penso em falar de algumas coisas, falar de livros, evadir-me, inventar gente, dar vida a quem existe apenas aqui, contar história, criar romance, pôr-me dentro da pele de mulheres imaginadas e desatar a ultrapassar obstáculos,  a apaixonar-me por homens ficcionados ou armar ciladas de sedução a outros apenas antevistos, pôr toda a gente a viver loucuras, desafiar uns e outros, rir, chorar, ficar a pensar no que irão eles fazer a seguir -- e não tenho disponibilidade para isso. E fico a atrasar enredo, a atrasar conversa, a atrasar palavrinhas sobre livros ou sobre outras coisas; e, com o tempo, vou esquecendo o que tinha para dizer porque as ideias vão sendo devoradas pela pressão dos dias.

No entanto, não posso esquecer-me que está quase a fazer um ano que, estando eu em idêntico vórtice, fui surpreendida com um convite tão do além e tão irrecusável que fiquei numa saia de tal forma justa que, tendo resolvido dizer que não, assumi sérios riscos e passei por momentos muito difíceis. Mas de tal forma avancei de peito feito para o não que parece ter sido remédio santo. Contudo, dentro de mim parece que ficou a bailar o receio de que volte a acontecer. Ainda no outro dia um colega me dizia que tinha recebido um convite que era daqueles a que não se pode dizer que não. E, então, vai passar parte da vida num distante continente, viagens de muitas horas que fará de quinze em quinze dias para ver a família. Está apreensivo, sabe que corre risco de ser trucidado pelos lítigios que vai ter pela frente, está aborrecido porque vai ficar longe das duas filhas adolescentes. Mas não lhe passou pela cabeça dizer que não pois, segundo ele, quando se recebe um convite destes, não se pode dizer que não. Eu, sem pensar, teria dito: não. São maneiras de ser. Ou estadios do nosso percurso.

Mas é assim mesmo, é a vida. Uma sucessão de desafios, de descrenças, de entusiasmos, de cansaços, de alegrias. E de sei lá que mais. Tanta coisa.

Hoje, no trânsito, li quais os livros que o Prof. Marcelo tem para o verão. E à hora de almoço fui numa corrida a uma livraria e, pimbas, voltei a pecar. Não todos mas o qb. Comprar livros sabendo que o tempo não me chega para meia dúzia de linhas, quanto mais para meia dúzia de livros é vício, é doença, é pecado. Mas é também prazer e a minha alma de pecadora fecha os olhos quando a tentação aperta e, então, eu avanço às cegas, disposta a ceder.

Foram o 'Leonardo da Vinci' de Walter Isaacson, a 'Educação do Delfim, cartas de Calouste Gulbenkian a seu neto', 'Em tudo havia beleza' de Manuel Vilas. E depois, estando já no trilho do pecado, foram mais dois. Não resisti: 'Nem um dia sem uma linha' de Mário de Carvalho e 'Trajectos filosóficos'  de José Gil. E tenho ideia que outro mas acho que o meu marido já rapinou daqui um, levando-o para ler na cama. 

Estou a pensar se devo levar um para estes dois dias mas a verdade é que, na viagem, vou sempre na conversa  e, lá chegada, não tenho um minuto e, quando chegar à noite ao quarto, já irei capaz de cair para o lado e, ainda assim, tentarei vir ao blog escrever umas tretas de nada. Mas tenho isto, outra mania, levar sempre um livro. Melhor, dois. Para o caso de poder ler; e dois pois posso não estar com disposição para um, tenho que ter alternativa. Maluqueiras. Mas estou com uma tremenda vontade de ler 'Em tudo havia beleza'. Acho um título muito bonito. E é tão verdade: em tudo há beleza. Não há?

É também poeta, ele. Fui ao Youtube e apeteceu-me ouvir um poema dele.

Escolho este Mujeres lido por um actor e não por ele pois os que são lidos pelo próprio têm mau som. Estive a ouvir e se há passagens que me incomodaram, outras fizeram-me ter vontade de ouvir devagar.

Mujeres, Manuel Vilas


------------------------------------------

As pinturas são de Franz Marc

--------------------------------------------------

E agora vou pregar para outra freguesia pois não tarda tenho que me pôr a caminho.

Um dia feliz a todos quantos por aqui me aturam.