Há, no resultado das eleições, um dado que muito me preocupa: a alienação, estupidez e a falta de personalidade de parte tão significativa de população portuguesa. Refiro-me aos que votaram no André Ventura, e foram muitos, sem que ele tenha qualquer programa, ideia concreta ou boa fé. André Ventura é um mero troca-tintas, diz uma coisa e o seu contrário, sem fundamentar, sem se preocupar em sustentar o que diz, é uma criatura que a única coisa que tem para oferecer é a sua ostensiva má-fé, o gosto pelo insulto, pela maledicência gratuita, pela mentira, pelo comportamento rasteiro. Nada mais é do que isto. E, no entanto, parte significativa da população portuguesa votou nele. Porque o fazem não sei a não ser que, muito provavelmente, seja gente estúpida, que não pense, aquela gente que tem em comum com ele a maledicência e o facilidade em ofender os outros.
Mas há uma outra parte da população portuguesa que igualmente me preocupa: a que é constituída por quem não faz outra coisa senão dar-lhe palco. O animal diz uma asneira e parte das pessoas salta a criticá-lo, a repetir o que ele diz. O animal está sempre na televisão. O animal lançou uma estúpida atoarda contra os lábios pintados da Marisa e meio mundo veio colocá-lo sob os holofotes, ou auto-pintando lábios de encarnado ou lançando movimentos em volta dessa parvoíce. Em publicidade é isto que funciona: falem mal de mim mas falem de mim. E é publicidade ao Ventura que fazem os que repetem o que diz, os que o criticam e falam, falam, falam do que ele diz. E ele sempre, sempre na televisão, nos jornais, nas redes sociais.
Ora, com populistas como André Ventura só há uma coisa a fazer: votá-lo ao desprezo. Ao desprezo. Se ele se meter com o batom ou com o raio que o parta a resposta só pode ser uma: zero. Não comentar, não lhe dar troco, não lhe dar trela, não lhe dar palco. Ignorá-lo.
Portanto, há muita gente que deve pôr a mão na sua consciência ao ver percentagem de votos que o parvalhão teve. Porque não tenhamos dúvidas: André Ventura é um parvalhão. Só será uma ameaça se lhe derem palco.
Uma outra palavra: sendo eu tradicionalmente votante PS -- não por ser militante mas por ser, em geral, o partido que melhor representa aquilo em que acredito -- tenho a dizer que tenho pena que, uma vez mais, não haja mais pessoas a verem que João Ferreira é uma pessoa de grande valor, um homem digno e inteligente e um homem de bem. Nem nas legislativas nem nas presidenciais alguma vez votei ou no PCP ou em candidatos do PCP. Não obstante, é com isenção e objectividade que aqui digo que gostaria que João Ferreira renovasse o PCP, talvez dando-lhe um banho de modernidade, e ajudasse a redesenhar a esquerda em Portugal.
Se por vezes o BE tem coisas que se aproveitem, em regra foge-lhes o pé para o populismo. Quando a imaturidade política tem apetência por palco e quando a essa mistura se junta a cagança de uma superioridade moral, temos um partido que faz da deslealdade e da conflitualidade o seu modo de estar. Pode haver quem se reveja no estilo, quem se arvore em exemplo que os outros devem seguir, quem se ache acima dos outros e com direito a exercer punição contra os não seguidores. Contudo, é população que tende a diminuir pois aturar o pedantismo ideológico de Mortáguas e Catarinas cansa. E a Marisa é aquela bloquista simpática que não aquece nem arrefece. Tirando isso nada há no Bloco. Há o cardeal que anda a pregar pelos bastidores mas também é missa que cada vez menos gente ninguém segue. A esquerda séria, humanista, democrata não se revê nisto. Ou seja, à esquerda do PS o que há é o BE, em declínio, e o PCP, estagnado, a caminho da extinção, ou seja um conjunto a tender para coisa nenhuma deixando espaço livre para que os populistas invadam esse espaço. Há, pois, um espaço que está cada vez mais livre e que deveria ser ocupado por uma esquerda moderna, criativa, mais ágil e mais inovadora. E João Ferreira tem cabeça e pedalada para liderar essa mudança da esquerda-esquerda em Portugal.

Quanto a Marcelo, digno e justo vencedor, fico contente que tenha ganho. Não há, de entre os candidatos, quem melhor pudesse desempenhar o cargo que ele. Não tenho nada a ver com o PSD e muitas vezes o tenho criticado, em especial quando coloca a sua necessidade de afecto ou de atenção acima da lealdade institucional. Mas penso que é culto, inteligente, digno, humanista e com boas maneiras, em regra não nos envergonhando quando nos representa no exterior ou junto de estrangeiros. E tem sabido interpretar bem a Constituição e tem conseguido pôr o interesse nacional acima das suas próprias tendências partidárias. Se assim continuar, não me arrependerei de ter votado nele. Desejo-lhe boa sorte, saúde e força para fazer um segundo mandato tão bom ou melhor que o primeiro. As circunstâncias são do pior que há mas ele sabe de história, de política e do sentir do povo o suficiente para saber conduzir a sua acção. Pelo menos, é com isso que estou a contar.
E, por ora, é isto. Dos outros candidatos pouco tenho a dizer.
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Quanto ao perfume com que me perfumei: Agua de Loewe. Explico porquê: Top notes are Bergamot, Yuzu, Tangerine and Palisander Rosewood; middle notes are Tea, Spicy Notes and White Pepper; base notes are Cedar, White Musk, Sandalwood and Amber.
De resto, sobre o que estava à vista. Jeans justos, em cinzento. Blusinha em azul-alfazema claro. Blusão de cabedal castanho escuro forrado, por dentro, a sede beige-escuro. Skechers. Brincos: umas pequenas pérolas.
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Saúde