Depois de almoço, embora me parecesse que a brincadeira da descida da temperatura já estava a deitar as unhas de fora, fui para o terraço para ver se apanhava o meu banho de sol. Mas foi sol de pouca dura. E não consegui despir-me. O mais que fiz foi arregaçar as mangas e arregaçar as calças. Mas não estava para ananases. Nem o cão quis estender-se ao meu lado, que ficasse eu a brincar ao verãozinho.
Durou pouco. Voltei para casa.
Agora tenho feito o esforço de, a seguir ao almoço ou princípio da tarde, não me recostar no meu confortável cadeirão de relax. Tenho que me manter acordada para ver se durmo bem de noite. Se adormeço nem que seja uma simples meia hora é certo e sabido que vou ter dificuldade em adormecer ou, a meia da noite, vou acordar e ficar a pensar em tudo o que tenho que fazer e resolver.
Assim, até é melhor. Com tanto que tenho que fazer até sem sido bom, tenho conseguido trabalhar de seguidinha.
Acho que vi um bocado das notícias e estava a dar aquela rentrée da Justiça, uma pastelada requentada em que as araras do costume vão para ali lavar roupa suja em público, como se não falassem uns com os outros, para tratarem dos problemas comuns, senão quando se juntam para a cerimónia. Umas abéculas que é de dar dó. Dão dó e grande preocupação. Se é nas mãos daqueles totós que a Justiça está -- uns totós que não são capazes de resolver nada nem de se organizarem e trabalharem em comum -- então estamos, na realidade, mais do que fritos.
A notícia abria com o facto de não terem convidado ninguém da Igreja. Mas depois, durante a notícia, fiquei com a ideia de que também não fizeram falta nenhuma nem ninguém deu pela falta deles. De resto, não faço ideia do que é que costumavam lá fazer. Seria para depois rezarem pelos tristes que ali tinham estado a carpir, a acusarem-se mutuamente, a atirarem as culpas de uns para os outros?
Tirando isso, fugi das tristezas e como não dei pela existência de coisas boas, zarpei da televisão. Só interrompi para ver 'A Promessa'. Há grandes desempenhos, há personagens muito bem construídos. É a primeira vez que estou a ver praticamente todos e estou muito agradavelmente surpreendida. Tenho ideia que as telenovelas portuguesas são só palhaçada, violência gratuita, chinfrim - mas esta não, é tranquila. Tem os seus dramas mas é coisa com conta, peso e medida e, sobretudo, há desempenhos bastante bem estruturados.
E é isto. Sorry, se não tenho muito mais a dizer. Até amanhã. Agasalhem-se.
American Master Chef Junior -- fico espantada, intrigada, comovida. Não percebo como é possível aquelas crianças saberem tantas técnicas, conhecerem tantos ingredientes, instantaneamente terem tantas boas ideias, terem tanta perícia, tanta força, tanta perseverança, tanta rapidez, tanta confiança, tanta generosidade. Pasmo, pasmo, pasmo. E, quando a Eva saiu, chorei. E quando vi o Grayson atrapalhado, atrapalhei-me também. E, quando ele ficou choroso, eu fiquei chorosa também. Outra coisa: depois das minhas barrigas gigantes não tinha visto coisa semelhante até ver a da Daphne. Não sei como não lhe cai a criança aos pés. Tento não perder.
Pantanal -- a vida na natureza. Os grandes espaços. As águas correndo com mansidão. As verdejantes margens do rio. O encantamento mágico. As histórias populares. A música. Os preconceitos postos a nu. A graça da forma como falam, a língua portuguesa adoçada com o tempero das terras perdidas nas lonjuras. As personagens tão cheias de evolução nas suas histórias. A valentia vulnerável dos homens-macho. A sabedoria das mulheres. A irresistível paixão entre Juma, filha de Maria Marruá, e Jove, filho de José Leôncio, o jovem desengonçado de quem a peãozada diz ser flosô, uma paixão que é tão real que fez com que os seus protagonistas, bissexuais assumidos, virassem um apaixonado par amoroso.
10 anos mais jovem, Reino Unido -- as pessoas chegam derrotadas, a vida passou por cima delas e elas chegam com o rosto amassado, os dentes estragados, a pele gasta, o cabelo velho, o corpo cansado, a vontade esgotada, o sorriso escondido, os gestos envergonhados. E, então, pegam nelas, e refazem tudo o que podem, tatuam os rebordos dos lábios, alisam a pele, florescem as sobrancelhas, cortam, pintam, amaciam e penteiam os cabelos, descobrem a roupa que melhor se adequa, disfarçam e maquilham... e, no fim, as pessoas estão mais novas, mais bonitas, mais confiantes. E sorriem, felizes da vida.
Original é a Cultura - pessoas que falam com tempo, outros que escutam calados e atentos, observações interessantes, temas vistos sob perspectivas diferentes, apontamentos que se escutam com curiosidade. Carlos Fiolhais, Dulce Maria Cardoso, Rui Vieira Nery sob moderação de Cristina Ovídio. Do melhor a nível de conversas em televisão. Devia passar em horário nobre.
______________________________________
Dermot Mulroney, além de ser um actor conhecido, é um violoncelista talentoso. Sentou-se para ser pintado por pintores no Paul Schulenburg Studio em Cape Cod Massachusetts, e tocou para eles num intervalo.
___________________________________
No deserto do Arizona, pode visitar-se uma das casas do famoso arquiteto Frank Lloyd Wright. Mas nos últimos meses, o local também abriga uma instalação do artista de vidro Dale Chihuly. O correspondente especial Mike Cerre analisa como o trabalho desses dois artistas se uniu na paisagem acidentada.
__________________________________________
Um retiro familiar tranquilo numa vila no Vietname
Lá está, é aquilo que se diz: a gente não vai para nova.
Parece -- e é -- um déjà lu mas é a verdade: o meu dia foi carregadinho de cabo a rabo. Quando as máquinas são postas em movimento, chegam a um ponto em que ganham embalagem e não há quem as pare. Portanto, levantei-me cedo e foi de então até agora. Em dias assim é garantido: não me sobra cabeça para tema. Se nem sei a quantas ando e, pelo meio, ainda tenho que arranjar espaço para rever um documento necessário para a faena de amanhã, muito menos sou agora capaz de inventar prosa capaz. Não sou.
Não sei de novidades e, assim de repente, acho que apenas vi um passarinho. Mas, de tal forma estou, já nem sei se foi hoje, se foi ontem. Sei que choveu. Aliás estou num dilema. Há vasos muito grandes e impossíveis de mover que têm pratos de barro por baixo. Com a chuva, não apenas a terra está ensopada como os pratos estão cheios de água. Não sei se não é água a mais. Mas não sei como resolver isto sem partir o prato. Também saí, mesmo à chuva, para ir apanhar três laranjas que estavam caídas na relva. Estão muito sumarentas, ficam pesadas. Não se dá conta delas. No outro domingo foi o meu filho que levou uma sacada, neste foi a minha filha. Penso sempre que boa ideia mesmo era pôr-me a fazer compotas e geleias. Ou farripas de casca de laranja envoltas em chocolate. Imagino o cheirinho bom que haveria de se espalhar pela casa. Frasquinhos de doce resplandecente de cor e luz. Caixinhas de guloseimas. Mas tudo tem açúcar e se, em tempos, podia comer bolos na maior descontração que tudo se evaporava sem deixar rasto, agora é o contrário, só de aspirar o rasto já eu vou aumentando de peso. Tenho que jejuar de quando em quando para me manter nos eixos, coisa a que, de resto, já me habituei. Até porque o meu jejum é relativo, não é? Um chá, uma fatiazinha de queijo com trufa, uma maçã, um quadradinho de chocolate preto. Coisa simples. Quiçá um ou outro caju e arando misturado na boca com o chocolate. Não me perco.
Mas, então, dizia eu que a gente não vai para nova. Ninguém vai para novo. Que me lembre só mesmo o Benjamin Button. E não tenho ideia que fosse coisa boa. Imagina uma pessoa a perder idade, a perder sagesse, toda se rejuvenescendo a caminho de uma luminosa jeunesse e depois a caminho da childwood e a ver a coisa a evaporar-se até voltar ao já eras. Ou melhor, ao ainda não és nada. Ninguém está contente com o que tem, essa é que é essa. Idade é sabedoria, é generosidade, paz interior, é paciência para aturar maluco, marado, sei lá. E é. Mas é também coisa chata, e esta de uma pessoa ficar toda cheia de formas só de desejar comer coisa doce é uma delas.
Tirando isso. Pus a mesinha onde me alojo a trabalhar mais junto à janela. Gosto mais assim. Mas acontece que, em frente, está um espelho. Volta e meia não consigo deixar de dar de caras comigo. O que vale é que sou míope. Ainda assim ajeito o cabelo se percebo algum desalinhamento. Mas cabelo desorientado é coisa conjuntural. Pior mesmo é ruga que isso, sim, é estrutural. No outro dia estava em casa da minha mãe e estava a dar uma porcaria e, enquanto atendi um telefonema, ela fez zapping. Foi parar a uma cena em que as mulheres estavam todas alteradas. Quando acabei de falar, indaguei mas que raio de coisa era aquela para as mulheres serem todas beiçudas e mamalhudas. Ela disse que era tudo assim. Parece que era um casadas à primeira vista num país qualquer. Diz a minha mãe, sabes lá, faz-se zapping e só aparece disto, bocas inchadas, bochechas e mamas redondas e insufladas. E eu espantada: mas estas são novas. Pensava que eram só as velhas que se recauchutavam daquela boa maneira. Diz a minha mãe: não, nem penses nisso, novas e velhas. No outro dia, também eu estava eu aqui a fazer zapping e dei com uma que quase que só conheci pela voz. Repuxada, repuxada, mal mexe a boca. Comentavam personagens do BB. Mudei logo porque aquilo estava a ponto de ferir a minha sensibilidade: não se percebia nada do que dizia e, quando a câmara mostrou os outros, foi o anti-climax. Gente estranha. Um mundo estranho.
Agora, enquanto escrevo e antes de ir parar às Terras Extremas, passei pela SIC, pela Arrastadeira Vermelha, e estava uma loura estranhíssima, platinada, ultra-pintada e com uma daquelas bocas que levou mais enchimento que um pneu. E toda ela deve ter sido injectada. Pintada até mais não poder. Não imagino como seja quando acorda, desmaquilhada, despenteada. E como será quando tiver mais vinte ou trinta anos em cima. Fico beige com estas coisas. Não percebo, sinto-me deslocada, incapaz de enfrentar esta realidade macaca, capaz é de ir eremitar-me.
Bem. Isto tudo para dizer que, estando eu para aqui sem cabeça de qualquer espécie, fui zanzando no desinteresse até aportar ao primeiro vídeo que o meu bff algoritmo tinha para me oferecer. Glória Pires e Marcos Frota se emocionam ao relembrarem Mulheres de Areia. Lembrei-me desse nome. Naquela altura as novelas da Globo eram coisa que não se podia perder. E a Glória Pires aparecia muito. Não era muito bonita mas era interessante e boa actriz. Fui no play sem hesitar. E fiquei sem saber como agora descrever. Apanhada de surpresa, talvez, com uma certa pena, também. Estupidez a minha. Não a via há tanto tempo que agora me espantei mas, lá está, espantei por mera desatenção minha. Envelheceu, ela... Mas como não haveria de ter envelhecido se não a via talvez há vinte ou mais anos? Envelheceu mas envelheceu bem. Está grisalha. Está com a pálpebra um pouco caída de lado. Era tão inteira, um cabelo tão bonito, e agora está uma senhora. Numa casa muito bonita, a Glória Pires é agora uma senhora distinta.
Até não há muito, quem me via não me vendo há muito tempo, exclamava: ah, está na mesma... Mas, se calhar, um dia destes, vou começar a perceber que quando falam de mim dizem que é que estou uma senhora. Caraças é que sou uma senhora. Não tenho vocação para senhora. As senhoras são baças, chatas, datadas. Eu não.
Mas isso era a Glória Pires. Mas depois o Marcos Frota. Pelo nome não estava a ver quem fosse. Havia um que era que era pornô da pesada que era Frota mas esse acho que esse não era Marcos. Quando apareceu aquele velho barbudo ali no vídeo, cabelo branco, não vi quem era. Mas depois, pela voz, tive um lampejo. Quando apareceu em novo fiquei até emocionada, quase tanto quanto ele ao recordar aquele tempo e aquele amor tão grande, tão incondicional.
Gostei de revê-los e, vistas bem as coisas, ainda bem que envelheceram: é sinal que estão vivos e isso é que interessa, olarilas. E dizer isto é um daqueles lugares comuns que não fazem falta nenhum? Ah pois é, bebé. (Agora soa-me bem dizer isto)
_________________________________
Os gordos do Botero fazem-se acompanhar pelas MonaLisa Twins com When I'm sixty-four
Havia a viúva Porcina. Era um excesso. Na maquilhagem, nas vestimentas, na linguagem, nos sentimentos. Irreflectida, de rastilho curto, sempre com o dedo no gatilho, sedutora, implacável, imoderada, dada a traições (mas traições sobretudo for the fun of it), verbo fácil, reacção a quente, aparentemente espontânea mas, na verdade, uma calculista. Regina Duarte que nos deu tantos personagens extraordinários (e agora, assim de repente, estou a lembrar-me de Malu mulher), frequentemente contidos, aparece em Porcina como uma extraordinária caricatura de tudo o que é gente extrovertida e deslumbrada.
Muitos outros personagens igualmente espalhafatosos as novelas e o cinema nos têm dado e nem estou certa de que a viúva Porcina seja a melhor escolhida para aqui figurar.
Mas eu, nisto, prefiro o imediatismo pois as minhas imagens podem nem fazer grande sentido ou podem ser boas para um psicanalista dissecar (e, nos testes de personalidade, é frequente mostrarem-nos umas manchas e pedirem-nos, que, sem grandes pensamentos, digamos o que estamos a er ali) mas, na verdade, o facto é que não tenho grande paciência (e tempo!) para me pôr para aqui a puxar pela cabeça até encontrar o 'boneco' perfeito.
Portanto, seja a viúva Porcina. Não vem ao caso a história do Roque Santeiro e toda a tragicomédia que se vivia em Asa Branca. A única coisa em que penso, neste momento é mesmo nos excessos da histriónica Porcina.
E evoco Porcina ao pensar em Marcelo. Se eu fosse uma crente bem comportada, acrescentaria, Deus me perdoe: Deus me perdoe mas é, justamente, na excessiva viúva que penso quando vejo o quadro de Natal com o Marcelo como pastor, quando o ouço a opinar sobre tudo e sobre nada, quando o ouço com remoques despropositados a propósito do que Antonio Costa disse noutro contexto ou inventando frescuras a propósito da eleição de Centeno para presidente do Eurogrupo, quando o ouço a desvalorizar o trabalho e os sucessos do Governo, quando o ouço a sugerir que se reconstrua tudo o que ardeu num abrir e fechar de olhos como se não houvesse projectos a fazer e a aprovar, orçamentos a fazer e a aprovar, prazos de entrega de materiais e de mobilização de gente da construção civil, como se tudo se resumisse a beijinhos, selfies e fazer casinhas com pecinhas Lego. Marcelo está a ser vítima da sua hiperactividade (ou défice de atenção ou síndroma de burnout ou narcisismo ou deslumbramento por ter conseguido chegar onde sempre desejou estar -- ou qualquer outra coisa do género). Normal é que não é. Porta-se como um vulgar frequentador das redes sociais em que, mal ouve qualquer coisa, e pode ser uma frase fora de contexto ou qualquer banalidade do dia a dia, e aí está ele a exigir que se mate e se esfole, criticando sem cuidar de ponderar se foi bem aquilo que se passou ou se é benéfico para a vida política do país ter-se um presidente que parece um boneco com uma mola. Ao mínimo estímulo, aí está ele a saltar. Sempre com microfones e câmaras atrás, ampliando o que, já de si, é excessivo, Marcelo está a correr sérios riscos de perder a quota de popularidade que almejou no início do mandato.
Num primeiro momento, os mais carentes, os solitários, os que perderam alguém ou a casa ou o emprego, os que se sentem relegados para plano secundário seja do que for e toda o tipo de pessoa que precisa de um qualquer estímulo suplementar para se sentirem compensados, poderá sentir o conforto de um abraço ou de receber a visita e uma palavra amiga de alguém importante, alguém que bem conhecem da televisão e que se faz acompanhar de batedores, polícias, repórteres.. Pode essa pessoa, na prática, pouco mais fazer do que isso mas quem não gostará de ter para relatar a amigos, vizinhos e familiares distantes que o Presidente Marcelo lá esteve em casa, destapou a panela que estaa ao lume, perguntou pela acina, deu conselhos sobre o melhor chá e, com sorte, terá tudo isso sido filmado.
Mas num segundo, terceiro ou quarto momento logo perceberao que o Marcelo hoje é incêndios, amanhã é a água na barragem, depois a vacina, depois uma boca ao Governo, a seguir a Raríssimas, depois os sem-abrigos, depois o Infarmed, se necessário for recebe o sindicato dos enfermeiros, dos professores, dos médicos. E que, portanto, aquela causa não é a causa, é apenas uma de mil 'causas'. E perceberão também que enquanto ele anda a fazer quilómetros de carro ou a bater perna por aí, o Governo, não embadeirando em arco, vai, qual formiga, fazendo o seu trabalho, percorrendo o caminho das pedras, arranjando estradas, construindo casas, obtendo subsídios, trabalhando para relançar a economia.
Marcelo, a continuar neste absurdo frenesim em que, a todo o momento, deixa transparecer que tem medo de perder palco sendo cada vez mais deveras injusto e inconveniente no que diz, vai perceber que está a um passo de ser ridicularizado, de passar a ser visto como uma caricatura daquilo que tanto ambicionou.
E daí até aparecer alguém a sugerir que ajudemos o Marcelo a acbar o mandato com dignidade vai um pequeno passo.
E queiram descer um pouco caso queiram saber qual a minha recomendação de leitura sobre 2017, o ano esquizóide
_____________________________
PS: Numa tentativa de forçar a minha natureza mudei, outra vez, o aspecto do blog a ver se se lê melhor nos tablets e telemóveis. Mas, bolas, não consigo deixá-lo todo branquelas e vá de juntar cores. Agora, quando vi o aspecto, pareceu-me uma autência Porcina em forma de blog. E muda-me o tamanho e as cores de alguns parágrafos, num despropósito total. Mas, a esta hora, já não dá para me pôr com mais experimentalismos. Sorry, outra vez.
O semblante de Jorge Bergoglio ao receber aquela tropa fandanga não engana. Homem-humano como é, deveria era estar com vontade de dar uma valente rabecada naquele que é uma das grandes ameaças para os Estados Unidos (e para o mundo), o estupor que brinca às guerras, que despede a eito quem não lhe faz todas as vontades, o atrasado mental que teme refugiados e tem raiva a imigrantes em geral, que troça de quem se preocupa com o ambiente, que quer lá ele saber dos mais pobres que não conseguem pagar os cuidados de saúde, que vai ao Museu do Holocausto em Israel e escreve que é amazing estar lá com os amigos.
A inconcebível mensagem de Trump no Museu do Holocausto.
'So amazing' - imagine-se o despropósito
(A letra e a assinatura dizem bem o que Donald Trump é)
Na fotografia lá de cima e nesta aqui abaixo (esta já com um dos muitos comentários jocosos que já percorrem a net), Trump faz aquele sorriso próprio dos narcisistas que não percebem o contexto e apenas se preocupam em ficar bem na fotografia. A Melania e a Ivanka parecem fantasiadas de viúvas beatas e todo o quadro é hilariante. No meio deles, Francisco, aparece trombudo, notoriamente enfadado com tamanha cara-de-pauzice por parte de gente tão estúpida e frívola.
Não podendo dar-lhe um sopapo a sério, Francisco usou luva branca para uma bofetada psicológica: ofereceu a Trump uma medalha com a forma de oliveira como o símbolo da Paz (e o Pato Donald respondeu 'We can use peace') e ofereceu-lhe a sua encíclica alertando para a poluição, a favor do ambiente e da ciência (e a loura-burra, de seu nome Trump, respondeu: 'Well, I’ll be reading them').
Uma palhaçada. Ao que o mundo chegou para um animal daqueles ainda ser presidente dos Estados Unidos. Custa a acreditar. Mas, caraças, é mesmo verdade.
E claro está a paródia a tão desconcertante quadro não se tem feito esperar.
____________
Vontade de se disfarçar de Padre Mariano e desatar a chispar com a Perpétua e com as outras falsas beatas não deve ter faltado a Jorge Bergoglio.
Agora já estou no campo. Cheguei cansada a casa, à cidade, quilómetros de autoestrada depois de dois dias de reunião, grande parte em inglês, com almoços, jantares, cocktails e coffee breacks sempre com conversas de trabalho. E na noite de quinta para sexta dormi mal. Não consegui ler, a luz era fraca. Ora, acostumada que estou a ir para a cama já a dormir, ali arranjei uma espertina que não vos digo nada. Quando cheguei, perdida de canseira, o meu marido achou que o melhor era jantarmos fora e assim fizemos e, de seguida, ala moço que se faz tarde, heaven com eles.
Pelo caminho vinha a tentar não adormecer, mas só a muito custo não me deixei tombar; depois estive a ver a telenovela da SIC, a D. Constância toda derretida com o neto escurinho ao qual mandou dar o nome de um filho que perdeu em pequeno. Bonita esta telenovela brasileira que se chama Lado a Lado.
Entretanto, agora, enquanto tento escrever, tenho isto na TVI, 4 brilhantes comentadores a falarem da Casa dos Segredos. A Fanny, tatuada e veterana, disserta sobre a estratégia do jogo dos outros, outro, bicha assumida e de quem agora não me lembro do nome, um com colete e lacinho ao pescoço, parece ser o intelectual do serviço mas na versão 'bicha intelectual da moda e dos big brothers', outra é a Carla Pinto, bonita e simpática, e a moderadora é aquela que também esteve no Big Brother e se casou com o Marco do pontapé, uma Marta que antes era morena e agora está loura.
Falam de coisas que não percebo, intrigas insignificantes, de um Odim, que me parece que é um de cabeça rapada que ali está com uma crista esquisita, de uma Daniela e de uma tal Agnes mas tudo o que ouço dizer parece desprovido de sentido. No meio do comentário, passam uns bocados da vida dentro da gaiola e as conversas são também de anedota.
Antes tinha espreitado a net e vi que o Carrilho e a Bárbara andam outra vez na capa das revistas a acusar-se mutuamente de violência, directamente ou por interpostas pessoas, um vómito.
E eu penso que a vida em Portugal está a tender para a ópera bufa. Nem é miserável, é apenas ridícula, rábula barata.
E eu perdida de sono. Não sei de nada sobre o que falar pois tenho a cabeça vazia. Nem consigo ir à procura de nada pois não faço outra coisa senão bocejar enquanto tento não me deixar cair a dormir.
Ontem ao jantar, mesa quadrada para 12 pessoas à larga, uma de várias mesas da sala, perguntava-se a um colega inglês se conhecia escritores portugueses. Nem fui eu que puxei essa conversa, apanhei a conversa neste ponto. Nenhum. Não fazia ideia. Saramago?, perguntou um dos convivas. Nunca tinha ouvido falar, Sorry. Outra insistiu: ... Prémio Nobel? Zero. Camões, Pessoa? Nada.
Perguntei: E inglês? Não percebeu. Esclareci: E algum escritor inglês, conheces...? Atirou-se para trás na cadeira. Se eu estava a gozar com ele, e riu desconfiado. Insisti: Nomes. E ele insistiu também, Kidding me...? E eu, Names, please. Os outros calados. Pensei, conhecendo-o bon vivant, todo dado a ténis, golfe, futebol, viagens, que literatura era coisa que não lhe assistia. E ele sorrindo, como que a querer virar o jogo: De que época? Esperto, a ver se me apanhava. Qualquer. Nomes. E então, picado, desatou a dizer. Vários e dos bons. E sorriu olhando para mim e para os outros, querendo colher os louros. Os outros sorriram, ele tinha ganho um ponto e merecia a recompensa de um sorriso.
Lembrei-me, então, das minhas personagens femininas. Imitei-as: E um poema? E ele muito admirado: Um poema? Os outros calados, sorrindo, a ver onde ia parar a conversa. Confirmei: Sim. um poema. Um. Vá.
What? Queres que eu diga um poema?. Respondi, Sim. Um. Mas, entretanto, pensei, Se a mim alguém agora à mesa me pedisse para dizer um poema provavelmente não me lembrava de nenhum ou, mesmo que me lembrasse, não me estava a ver a recitar numa mesa cheia de colegas. Mas deixei-me de rebuços e insisti, Vá. Um poema, estamos à espera.
Então, como se é isso que queres, prepara-te porque vai ter, chegou a cadeira para trás, afastou o corpo mas com o braço esticado em diagonal e com a mão apoiada na mesa, pose de bardo, começou a dizer Dylan Thomas.
Pensei, que não era possível, que aquilo não estava a acontecer. O alto e bronzeado inglês, todo dado a paródias e boa vida, ali estava declamando um inesperado poema.
Poderão vocês, meus Caros Leitores, achar que estou a divagar mas juro, é verdade.
A mesa em silêncio, estupefacta, e ele
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
Dylan Thomas reads "Do Not Go Gentle Into That Good Night"
A vida passa a vida a surpreender-me e cá estou eu pronta para ser surpreendida.
____
Tirando este pequeno episódio não me ocorre mais nada.
Por isso mostro-vos apenas interiores que vão bem com o Outono e maquilhagens que vão bem com o que se veste, Vi-os na Harpar's Bazaar. Não tem nada a ver com o que tinha estado a escrever mas também, a bem dizer, não tinha escrito sobre nada em particular.
E agora só sei que tenho que me ir deitar. São quase duas e meia e eu dou por mim de olhos fechados.
Depois de, no post a seguir a este, ter deixado um desinteressado conselho ao Primeiro-Ministro (que vai à Assembleia da República e, durante o debate mensal, vai ver se descasca o pepino da exclusividade e do trabalhinho comercial para a Tecnoforma, ao que consta trabalhinho pago em géneros, isto é, dinheirinhos supostamente recebidos por fora, como eu no outro dia já aqui referi, fringe benefits, limpinhos de impostos, despesas de representação, almocinhos e jantarinhos, comprinhas de toda a espécie pagas com cartão de crédito e assim), e aos dois senhores da Tecnoforma (que vão dar uma conferência de imprensa a ver se safam o Pedro-Abre-Portas do ensarilhanço em que está metido), agora aqui venho só lançar uns piropos a uns cavalheiros.
Nada de assédio, nada de coisa repetida ou continuada (embora não seja a primeira vez), nada de coisa que moleste, apenas um piropinho inofensivo. Piropinho é que nem chopinho, é coisa gostosa, não tem mal, não.
Vou falar de um homem muito gostosão, peito largo, sorriso bom, voz de abraço quente, de pegada forte: António Fagundes. O Fagundão. Um homem que, à medida que o tempo passa, vai ganhando mais charme. Aquele cabelo, aquele rosto vivido, aquela forma como ri, como olha, estão cada vez platinados, uma patine que é muito sedutora.
Quando lhe perguntam sobre ele ter esta fama de gato gostoso (palavras minhas, claro) ele diz que disso não sabe, que ele não é seu tipo de homem. Pergunta a jornalista: então qual é seu tipo de homem? Diz ele, Alain Delon, Brad Pitt. Por isso, diz ele, olha-se no espelho e não vê aquele homem charmoso de que falam. Mas a forma como fala, aquele grão de voz e aquele riso que enleia e adoça as sílabas já chega para a gente ver que ele é um homão, daqueles a que nenhuma mulher de bom gosto ousa resistir.
E, repare-se, a entrevista decorria na rádio, na TSF, eu não o via enquanto ele falava, seduzindo feio. Mas a química e a física atravessam o espaço, coisa por demais sabida.
Mas a coisa já se propagou, já há outro.
E, assim sendo, depois do pai, vou falar também do filho, Bruno Fagundes. Nunca tinha ouvido falar. Ouvi agora que estão cá, representando uma peça de teatro, Vermelho. E ouvi a jornalista dizer que chamam Refresco ao Bruninho. O pai não percebeu o sentido. Refresco? Ela explicou: coisa nova, ainda está fresquinho, mata a sede. O pai atalhou: percebi. Mas ela queria festa, percebo-a, e perguntou ao rapaz se se acha o herdeiro da fama de charmoso do pai. Saíu-se bem o menino, que não, que quer ser conhecido por ser bom profissional, que está trabalhando para isso, para ser um profissional tão bom, tão respeitado e amado quanto seu pai. Simpático, humilde. E divertido, contou história, riu. Por exemplo contou que encontrou uma brasileira em Óbidos, onde foram passear, e que ela ficou olhando para ele, Estou conhecendo você... E olhava. Depois questionou, Você é guia? E riram pai e filho, divertidos. Ora o menino é recente mas já estreou numa novela da Globo.
Depois de ter acabado o post abaixo, aquele com o guarda criativo e o ministro dos passos malucos que bem poderiam inspirar Passos Coelho, vim logo procurar uma fotografia do Fagundinho, estava curiosa. A jornalista perguntou se era o mais novo de quatro filhos e ele confirmou. Perguntou a jornalista pela genética de Bruno mas ambos saltaram, que não, que é coisa de educação, de vivência conjunta. Gostei. Não iam diminuir os outros irmãos, meninos todos amados.
E agora já vi a fotografia. Sim senhor. É mesmo um belo filho de seu pai, menino lindo, um charminho, um refresquinho, sim senhor.
__
Fagundes, pai e filho em Vermelho. Uma relação tensa em palco, uma doçura na vida real.
___
Já agora, em complemento, para os agnósticos, aqui deixo a prova de que o Fagundão é digno mesmo de muita devoção.
António Fagundes, o galã - um beijo é um beijo é um beijo
::::
Descobri agora a gravação da entrevista de António Fagundes com o Daniel Oliveira no Alta-Definição, há poucos dias. Como não vi (raramente consigo ver), estive agora a ver e aqui a deixo para quem o queira conhecer melhor.
....
Recordo: não deixem, por favor, de descer até ao post já a seguir. Fartei-me de rir e tem de brinde um conselho muito sincero para o láparo e seus amigos tecnofórmicos - para ver se esta sexta feira nos reserva momentos memoráveis.
:::::
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.
Este é o terceiro post da noite (e desculpem-me estas minhas introduções mas é que, como já aqui expliquei, uma certa pessoa sempre muito apressada e distraída, se eu não o agarro logo pelos colarinhos, pira-se antes de percorrer todo o caminho das pedras; por isso, mal entra num post que não é o primeiro, não vai ter desculpa se disser que não reparou que abaixo havia mais).
A seguir falo de Manuela Ferreira Leite, essa mulher que se tem revelado um verdadeiro carro de combate, e das interessantes revelações que fez na TVI. A não perder.
Mais abaixo ainda tenho mais uma divertida cena da Porta dos Fundos - coisa de mulheres, é certo, mas que interessará também aos homens pois quem, senão os homens, para se divertirem à custa das mulheres.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.
___
Depois da Manuela e depois do meu marido se ter ido deitar, pus-me a ver a telenovela nova da SIC, uma bem engraçada de que não me lembrava o nome.
Fui ao youtube e vi que se chama Lado a Lado com a cada vez mais bonita Patricia Pillar que aqui faz uma fantástica Baronesa Constância que é uma mulher elitista, pedante, inconveniente e que usa uns vestidos e uns chapéus de uma pessoa morrer de inveja. Para ilustrar, escolhi a fotografia acima na qual aparece com a toilette usada no casamento da filha. Uma perdição de toilette.
Vi o trailer no youtube e achei-lhe piada, coloco-o aqui. Recebeu um Emmy em 2013 esta telenovela. Há que séculos que eu não via uma e estou a gostar. Reencontro caras que não via há muito e reencontro o prazer das boas novelas da Globo.
Mas, ao abrir o Youtube, apareceram, entre as sugestões habituais, a de um bailado da Companhia Hubbard Street Dance Chicago, companhia que bastante aprecio. Fui procurar outras coreografias, aquela não me dizia grande coisa. E fui parar a um que aqui vou colocar, "Extremely Close", uma coreografia de Alejandro Cerrudo.
Mas, então, a partir desta expressão, extremamente perto (ou próximo) - que é uma das características de uma vida a dois - ocorreu-me procurar excertos de filmes em que se vejam alguns episódios da vida a dois: fantasias, hesitações, desconfianças, seduções, traições, ciúmes, perdões.
São algumas destas cenas da vida conjugal que hoje coloco aqui, a começar com excertos de um dos filmes de que francamente gostei de ver, Closer.
Aqui baixo, uma cena de sedução e atracção entre Anna (Julia Roberts) e Dan (Jude Law) - e que românticos eles são, que envolvente é o momento. Uma inspiração.
**
Do mesmo filme, Larry (o abrasador Clive Owen) e Alice (Natalie Portman), num momento de sedução e desejo sem freio. Um desafio.
**
E, depois das cenas acima com os casais trocados, a cena entre marido e mulher, Larry e Anna: a cena que todos os casais gostariam de ser capazes de evitar ou ultrapassar. Uma atrapalhação. Um momento para esquecer se fosse na vida real. Assim, no cinema, uma cena marcante.
**
Mas há também as fantasias, tão ou mais marcantes na vida de uma mulher do que um caso concreto.
Alice e o marido, Dr. William Harford - de facto Nicole Kidman e Tom Cruise (então ainda casados antes do seu casamento cair de borco depois deste filme) - juntos numa inesquecível cena de descrição de uma fantasia. Um devaneio. Um suplemento de ânimo ou uma semente de insegurança.
**
E esta matéria daria pano para muitas mangas mas a verdade é que estou cheia de sono e amanhã é dia de aquartelamento parcial aqui ao jantar com dormida incluida e, portanto, não posso partir para um dia com reuniões e mil coisas para fazer e ainda uma noite repleta, logo a cair de sono. Por isso, abstenho-me de filosofar e parto já para o bailado: Extremely Close.
_____
Fico-me por aqui porque já não dá mesmo mais, tenho que ir dormir. Não vou rever e peço que relevem as letras trocadas, a menos ou a mais, as vírgulas a mais ou a menos.
Relembro: Abaixo encontrarão a Manuel Ferreira Leite e, logo a seguir, a Porta dos Fundos.
____
Desejo-vos, meus Caros Leirores, uma bela sexta-feira.