Hoje não estou inspirada. De tarde, quando estava num outro comprimento de onda, por sinal até animada e já com ideias para uma outra coisa, recebi um telefonema: 'Não tenho boas notícias...'. E, pronto, uma bomba. Uma inesperada bomba. E aquilo que eu achava que estava encarrilado e a caminhar para uma boa solução voltou à estava zero.
Fiquei ali um bocado a digerir. Uma desilusão que não vem nada a calhar.
Mas depois respirei fundo. Nestas situações, respiro fundo. Penso no que se segue. É coisa minha: para estes contratempos, tenho um mantra: há mais marés que marinheiros. E tenho outros, todos igualmente banais. Mas é nas grandes banalidades que se escondem as grandes verdades.
Portanto, bola para a frente.
Claro que tinha pensado regar a parte da frente da casa, e, com isto, passou-me a vontade. Não me apeteceu, fiquei com pouca energia.
Gostava que caísse uma pinga de água. Mas nem uma. Detesto quando vejo a terra seca, só me apetece que caia não uma pinga mas uma chuvada das valentes. Mas nada, nem sinal de água. Amanhã talvez regue.
Depois fui para a cozinha e fiz uma bela bacalhauzada. Bacalhau com todos é sempre uma coisa boa, aquece a alma.
O passeio que fizemos à noite foi diferente: foi feito já bem de noite e debaixo de frio. Os dias encurtam a um ritmo desconcertante. E arrefeceu bastante. Levava calções relativamente curtos mas, por cima da tshirt, levava um casaco já um pouco quente. Soube-me bem. De início senti frio nas pernas mas, com o andamento, ficou até agradável. Cheguei a casa arrebitada, a pensar que amanhã é um novo dia. Todos os dias são um novo dia.
E todos os dias vão chegando notícias: alguém que faz anos, um menino que foi convocado e a quem o jogo correu bem, um menino que compõe um rap a gozar com os primos, uma menina que monta e edita um vídeo para o mano, outro menino que vai passar uns dias com a namorada, outro que começa um novo desporto, e depois chega uma notícia triste, alguém que morreu, alguém que nos faz pensar aquilo que tantas vezes piedosamente pensamos, que mais vale que morra do que sofra, e até nos esquecemos que ninguém devia sofrer assim nem assistir à vinda da morte de dentro do próprio corpo, e depois já é uma amiga que vai viajar e todos lhe desejamos uma boa viagem... e a vida vai andando, um dia depois do outro, e depois outro, e depois outro, todos os dias muitas coisas, coisas díspares, umas que nos fazem felizes, outras que nos entristecem, mas não param, a seguir a uma vem outra e outra e outra e outra.
E ainda bem que é assim. Só assim, porque temos termo de comparação, sabemos dar valor às coisas boas, só assim nos obrigamos a viver com vagar e apreço os momentos bons.
E pronto, vou-me, não posso ficar por aqui senão não paro de dizer lugares comuns.
Quem se dá ao trabalho de ver os meus inconcebíveis vídeos no Instagram, para além de constatar um indiscutível amadorismo e uma total ausência de propósito, já deve estar farto do chinfrim que faço ao andar, pisando caruma, folhas secas de azinheira ou de eucalipto, bolotas ressequidas e tudo o mais que por aqui se junta.
É certo que eu poderia -- e, se calhar, deveria -- aprender a editar os vídeos, retirar-lhes o ruído ambiente, cortar e colar bocados disparatados, etc. Mas, sinceramente, não ando com paciência para gastar tempo com isso. E, ao escrever isto, receio que achem falta de respeito da minha parte apresentar produtos de tão insólita falta de qualidade alegando falta de paciência para aprender e para editar. Porém acreditem: não é falta de respeito, é mesmo uma quase incapacitante falta de paciência. Pode ser que me passe... Um dia que leve mais a sério isto de fazer 'conteúdos digitais' (como agora sói dizer-se) talvez me leve a mim mesma mais a sério (e agora devia aqui inserir um emoji a piscar o olho e a deitar a língua de fora para que percebam que estou a pensar que está bem, está).
Em contrapartida, tenho passado os dias a varrer em volta da casa. Só que a casa, ainda assim, tem um perímetro que vai lá, vai, e os calores dos últimos tempos têm feito o chão encher-se de folhagem seca. Por isso, é um trabalho insano, uma never ending story, uma cena à moda do sísifo. Até não há muito, com as chuvas, era musgo por todo o lado e até nascia erva das pedras. Agora está tudo seco e é o que se vê.
Lá por baixo, na extensão grande do terreno, não há como varrer ou impedir que os meus passos façam barulho ao pisar isso, mas, em volta da casa, até por razões estéticas ou de segurança, obviamente tem que ser tudo limpo.
Em tempos, tínhamos contratado um senhor da aldeia para tratar das limpezas e das regas. Vinha duas tardes (completas) por semana. Queixava-se, dizia que não chegava, dizia que era trabalho a tempo inteiro. Mas também não queríamos que isto fosse o palácio de versalhes, não era nossa ideia ter um jardim imaculado em volta da casa. Sobretudo, o que queríamos era que, ao fim de semana, não tivéssemos que nos preocupar com isso. Mas o senhor, para nos demonstrar que duas tardes (inteiras) por semana não chegavam, pespegava-se cá ao sábado. Nós a querermos estar descansados e à vontade e ele a cirandar por aqui, a chamar-nos para nos mostrar isto, a chamar-nos para nos perguntar sobre aquilo, uma seca de que não havia memória. Mesmo quando lhe dizíamos que íamos cá ter pessoas, ele não despegava. Aliás, parece que fazia questão em estar, em ver e ser visto. Ficávamos passados. Com muita dificuldade e cuidado para não o melindrarmos, acabámos por dispensá-lo.
Mas isto não se dá conta. Precisa mesmo de manutenção. O ano passado o meu marido contratou outro senhor da aldeia. Veio recomendado pelo vizinho do início da rua. Avisou-nos que ele bebia um copito a mais mas que era trabalhador e sério.
Chegávamos cá e estava tudo na mesma, com excepção de beatas por todo o lado. E não era das puritanas que rezam, eram mesmo das que podem pegar fogo. Queixava-se que era um trabalho ingrato, que vinha limpar e varrer e apanhar ervas todos os dias e que chegava ao fim de semana e o que tinha sido cuidado na segunda-feira já estava outra vez a precisar de ser limpo. O vizinho confirmava que o via andar por cá a trabalhar, que não era tanga. No fim, pagávamos horas que nunca mais acabavam e não se via nada de jeito, só beatas. Dizia que tinha cuidado, que as apagava bem. Mas eu não podia ver beatas por todo o lado, é coisa que me me complicava com o sistema nervoso. No conceito dele, os cigarros são para se deitar para o chão e parecia não perceber que não o deveria fazer. Acabámos por agradecer e, uma vez tudo pago, nunca mais lhe dissemos para vir.
Resultado, somos nós que tratamos do assunto. O meu marido reclama, diz que é trabalho a mais.
A mim não me custa. Gosto imenso de varrer. Aposto que para a minha cabeça é como se estivesse a meditar: não penso em mais nada. Ando completamente focada a varrer e fazer montes. O pior é que, depois, encher os sacos ou os carrinhos custa um bocado. Uso uma pá grande mas, às tantas, o meu marido pega ele naquilo e anda ele a recolher os montes, a transportá-los para a terra. E queixa-se. Diz que, antes de eu acordar, já ele andou a cortar mato ou a fazer outras tarefas e que, depois, eu não sei parar e varro este mundo e o outro e que não está para isso. Mas esta nossa dinâmica, de reclamarmos um com o outro, já tem barbas, ou seja, já não ligamos muito aos protestos um do outro.
Outra coisa que fica para mim é a rega. Gosto imenso de regar. Quem me acompanha aqui há muito tempo, recordar-se-á que já contei que, de início, investimos fortunas (salvo seja) em sistemas de rega mas que, quando cá chegávamos ao fim de semana, estava tudo roído. Os coelhos (ou outra bicharada) roíam tudo. O meu marido substituía e eles comiam. Desistimos. O meu marido decretou que o que sobrevivesse sem rega seria bem vindo, o que carecesse de cuidados, podia desaparecer à vontade. E assim foi.
Mas o que está mesmo em volta da casa, do lado da frente, tem que ser regado. Agora do lado de trás e dos lados (se bem que a casa, pela sua arquitectura, na prática não tem frente, nem lados, nem trás) nunca é regado.
E, no entanto, está tudo gigante. Só as laranjeiras, e estão à frente, é que estão raquíticas e vão acabar por morrer. Não deveriam ter sido plantadas, não se dão aqui, é impossível. Quando comprámos o terreno já cá estavam, e já eram infelizes. Trinta anos depois ainda sobrevivem... mas coitadas.
E hoje já andei a apanhar orégãos, amanhã já vou montar o estaminé do costume: lençol em cima da mesa da casa de jantar e eles espalhados em cima, a secar.
Adoro. São perfumados, frescos. Bouquets graciosos, delicados e com a graça adicional de serem comestíveis.
O campo, para mim é uma mistura de mil sensações boas: os sons, os cheiros, a luz, a paz, o vagar, o contacto directo com a terra, com o trabalho simples. Maravilha maior. Não há cá férias em resorts, em turismos de habitação cinco estrelas, o que for: aqui é que a minha alma rural se sente bem.
E, ao fim do dia, enquanto estava ao telefone com a minha filha, ia ela a caminho de casa depois de umas belas férias abroad, e eu por ali andava de um lado para o outro, uma surpresa daquelas que me deixam a sorrir, com vontade de agradecer, com vontade de trepar às árvores a ver se me aceitam como uma deles: um esquilo a andar por cima de um banco, a trepar a um muro e depois a subir pelo tronco da azinheira sob a qual eu estava. Que bênção, que alegria. Eu com receio que eles tivessem desaparecido e, afinal, ainda por aqui andam. Este é mais escurinho do que os que eu tinha visto antes. Este era mesmo castanhinho escuro. Lindo, fofo, um rabo enorme, ao alto.
Estava a falar ao telefone, não consegui fotografá-lo. Mas acreditem, ainda por aqui andam. Provavelmente, enquanto ando a varrer, estão eles lá em cima a tentar compreender que animal é este que, cá em baixo, se entretém a fazer montes de folhinhas e bolotas (e pinhas que eles deitam para o chão depois de as roer). Esse animal sou eu que, tal como eles, vim de outras paragens para usufruir do privilégio de respirar este ar tão puro, para viver nesta paz tão mágica.
Gosto agora muito de me sentar no jardim ou no campo, em especial à tardinha, a olhar para o ar, para o céu, para as árvores.
No jardim há agora um perfume novo, creio que a mistura de várias flores. É um perfume floral, isso sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, doce e íntimo. Os pássaros também gostam. Descem e vêm passear perto de mim, entretendo-se a debicar o que encontram na terra.
Se estou sob as árvores gosto de as admirar, vendo-as de baixo. Não existiam e foram-se tornando a maravilha que são. E gosto de ver as flores através da luz. Ou a luz através das flores. Parece o mesmo mas não é.
As nuvens também me cativam. São efémeras como uma aragem. Não têm a noção do tempo nem do espaço, são livres como uma partícula elementar, como uma palavra solta ao vento, como espíritos vogando por aí.
Isto é um deus, e creio que daqueles que não são particularmente santos (honi soit qui mal y pense).
Muitas vezes tenho um livro comigo mas, se o livro não tem nada que me impressione (e impressionar no sentido em que a luz impressiona a película, nela gravando imagens, sombras, movimentos), fecho-o e deixo-me estar.
Isto é um milagre. Inexplicável. Fruto da inspiração de uma inexistente divindade
Tenho saudades de fotografar com as minhas máquinas fotográficas. Foram-se estragando e, depois, para quê continuar?, já tinha milhares de fotografias. Faz sentido continuar a acumular fotografias? Não vou voltar a vê-las. O que gosto é do momento em que capto a imagem. A partir daí já não me interessam. Agora uso o telemóvel. E vou apagando pois estou sempre a precisar de mais espaço.
Isto é uma obra de arte. Fortuita. Com a vantagem de não ser um Miró
Já contei muitas vezes que, quando fazemos as nossas caminhadas nestes dias de calor, mal transpomos e entrada do nosso jardim, sentimos a frescura que nele se acolhe. A temperatura está uns graus abaixo da temperatura fora dele. São as árvores, as trepadeiras, as flores, é o carinho que retêm.
In heaven a mesma coisa. Vou andar lá em baixo e, no meio das árvores, é outra a geografia.
Em qualquer dos casos, o tempo suspende-se.
Hoje estava sentada no meio das flores, o cão deitado, os passarinhos a cantar. Pensei que poderia ficar assim saecula saeculorum. Talvez bastasse não me mexer. O mundo à minha volta a girar e eu ali, parte do tempo, imóvel como o tempo, uma partícula imaterial suspensa na infinitude do espaço.
E para que não protestem com o teor da conversa, para quem prefere temas mais concretos, aqui está um vídeo que poderia muito bem servir de inspiração a quem tem a responsabilidade de melhorar os espaços públicos.
THE MINI FOREST - Rewilding using the Miyawaki Method
Terrell Wong is about to plant 100 trees in her small Toronto backyard, a dense mini forest based on the Miyawaki Method. What at first seems like a simple act soon evolves into a complex story about dirt, lawns, fungus, wildlife, native species, and finally the human brain. An anti-lawn anthem from director David Hartman, The Mini Forest explores this innovative form of afforestation and the importance of restoring the native woodlands that once covered so much of Canada and the World.
Volta e meia trocam-me as voltas. Pensava eu que esta quinta-feira, tirando um compromisso à tarde, teria um dia tranquilo.
Estava eu ainda a digerir os alertas do Leitor a quem muito agradeço e cheia de receio pelos javalis, sapos, cobras e carraças quando constato que o nosso cãobeludo estava a lamber mais freneticamente do que antes uma qualquer coisa no quadril.
No domingo, tinha chegado da rua desencabrestado, como se tivesse que arrancar qualquer coisa ali naquele quadril. Não vi. O meu marido é que viu e pensou que ele tivesse alguma coisa ali presa no pêlo. Nessa manhã já tinha estado a puxar qualquer coisa de uma pata e tanto puxou e repuxou que acabou por tirar uma daquelas espigas maganas, ditas praganas. Pensámos que, fosse o que fosse, ele acabaria por também conseguir tirar. No domingo tivemos a maltinha toda cá em casa, uma animação, grande movimento e alta algazarra -- por isso, não deu para lhe prestar grande atenção.
Na segunda-feira vimos que continuava a lamber-se ali. O meu marido disse que o pelo, naquele sítio, estava seco e duro, que, na volta, era outra vez resina. Esfrega-se em todo o lado e brinca com pinhas e, às vezes, fica com resina no pêlo. Demos-lhe banho. O meu marido disse que, se não saísse com o banho, tentava-se cortar ali o pelo. Mas, quando eu estava a lavá-lo, percebi que não era nada no pêlo. Tinha era um inchaço por debaixo. Ficámos intrigados. Pensámos que teria sido picado mas que, tal como acontece connosco, o inchaço acabaria por passar.
Entretanto, com as picardias com os cães do lado, andou sempre por fora, longe da casa, e admitimos que lhe tinha passado.
Mas começou a comer menos. Nada de especial pois no verão tem sempre menos apetite.
Só que hoje parecia mais murcho, mais por casa, pouco reguila, e sem tocar na comida.
De tarde, no jardim, o meu marido chamou-me para eu ver pois, com o pêlo molhado por continuar a lamber-se ali naquele sítio, dava para perceber que havia ali um inchaço encarnado.
Fui ver e não gostei do (pouco) que vi. Com o pêlo não dava para ver quase nada. Mas aquela pele encarnada e o inchaço causaram-me suspeitas. Fotografei.
Mostrei a fotografia ao ChatGPT e descrevi o que se passava. Respondeu que poderia ser um abcesso, uma infecção, e que, dado que já estava assim há dias, deveríamos ir ao veterinário o quanto antes.
Claro que fomos. Mesmo que o ChatGPT não tivesse dito para irmos, iríamos pois estávamos a estranhar o sossego dele e não era normal aquele inchaço encarnado.
Lá fomos.
É sempre uma tourada. Temos que lhe pôr o açaime e o meu marido tem que o abraçar com toda a força para ele ficar imobilizado quando está na marquesa. Com a máquina, a médica tosquiou aquela parte. Quando vi o que estava por debaixo, fiquei mesmo incomodada. Inchado, já com pus, arroxeado, já com feridas de tanto lamber. Piedermite. Com o pêlo, não se via. Coitadinho. Como não haveria de estar incomodado...? Diz ela que deve ter sido qualquer coisa que o feriu ou picou e que de tanto lamber ali, certamente para se aliviar, a lesão infectou e espalhou a infecção.
Desinfectou e tratou, deu-lhe uma injecção de antibiótico e outra de anti-inflamatório. E colocou o colar isabelino que ele, coitado, odeia. E agora, durante 7 dias, tem que tomar antibiótico e desinfectar e tratar duas vezes por dia.
Um pesadelo. Vira-se, mostra os dentes, rosna, salta. Quando ponho o spray, que é frio (e, se calhar, lhe arde), fica possuído. Mesmo com a trela e com o colar, impõe respeito e dificulta muito o tratamento.
Mas entre idas ao veterinário, à farmácia, tratamentos e outros afazeres, pouco consegui fazer daquilo que tinha pensado. Lá consegui ler o início do 'tijolo' que João Pedro George pariu sobre a vida de Herberto Helder. Provavelmente vai satisfazer alguma da nossa cusquice mas tomara que eu não sinta que estou a violar uma privacidade que o Poeta tanto se esforçou por preservar.
Fiz um vídeo que publiquei numa story lá no Instagram. Só que me distraí e o vídeo tem mais de 1 minuto. Ora ali, só se vê o que 'cabe' em 1 minuto. Por isso, não se ouve a parte em que eu dizia que, no capítulo dos últimos momentos do biografado, achava que o biógrafo inventou para ali umas cenas -- por exemplo, que ele, antes de morrer, olhou para as molduras e pensou nisto ou naquilo, o que, obviamente, é impossível saber -- se calhar para apelar ao sentimento. E isso desagradou-me. Também, no pouco que li, encontro carradas de referências desnecessárias, o que torna a leitura, nesses pontos, enfadonha. Mas estou no princípio. Por isso, não quero já fazer apreciações sobre a qualidade da obra. Até porque, assim como assim, quando acho que tanta conversa sobre a tia, a avó, a bisavó, a casa ou a loja é desnecessária, tenho bom remédio. Sigo adiante.
Mas, com isto, não vi tomada de posse nem coisa nenhuma. E, há pouco, ao ver o Eixo do Mal, deu-me a pancada e apenas fui vendo umas por outras. Por isso, não posso pronunciar-me sobre os temas da actualidade política.
Também não faz mal. Sabe-me bem, de quando em quando, dar-me algumas tréguas. Até porque tourada e da boa, à espanhola, é a que está a passar-se entre dois dos mais malucos de que há memória: Trump e Musk. Há pouco, estava a comentar com o meu marido, interrogando-me sobre como poderá um arranca-rabo destes acabar. Ele disse: 'Fazem as pazes.'. Talvez. Parece que meio mundo anda a voar sobre um ninho de cucos.
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Mais uma vez, as duas fotografias que ali acima coloquei foram feitas apenas com recurso à minha inteligência que de artificial tem muito pouco.
A minha filha dizia que a avó se autoboicotava. E eu concordava. E, apesar de já passar mais de um ano desde que a minha mãe se foi, penso cada vez mais isso. Na aparência, era uma pessoa solar, bem disposta, sorridente, alegre, conversadora. Mas, no seu íntimo, escondia medos. Para os esconder, refugiava-se dentro daquela persona desempoeirada e feliz que exibia perante terceiros.
Mas, se, até quase ao fim, escondeu várias coisas de mim, houve uma de que eu sempre estive muito ciente, embora também a escondesse dos outros: a sua grande preocupação com a opinião alheia. Desde que me conheço, sempre a senti muito condicionada pelo que os outros pensavam ou podiam pensar. Tentou passar-me isso. Mas sem sucesso. Talvez até como reacção, não sei, a verdade é que sempre me estive nas tintas para a opinião alheia. Mas eram permanentes as recomendações de que não dissesse ou fizesse isto ou aquilo pois a minha tia, a minha avó, o meu pai, os meus sogros, os meus vizinhos ou fosse quem fosse poderiam pensar de mim. No entanto, no convívio social, não deixava transparecer nada disso.
Mas a questão de se autocondicionar foi uma constante na sua vida. Desde que me lembro, a minha mãe deixava transparecer que, por ela, faria não sei quantas coisas. Mas, segundo ela, o meu pai não alinhava. Geralmente não dizia isso ao pé dele, supostamente para não o incomodar. Mas não sei se era por isso ou se era para não correr o risco de que ele rebatesse o que ela dizia.
Quando o meu pai estava limitado e, posteriormente, acamado, nós dizíamos que ela poderia fazer uma série de coisas pois a senhora que lá ia pelo menos três vezes por dia tratar dele poderia ficar lá em casa enquanto ela fosse sair para se encontrar com amigas, para passear, para o que lhe apetecesse. A própria senhora estava sempre a oferecer-se e a incentivá-la a isso. Mas nunca quis. Ao mesmo tempo falava com pena do que as amigas faziam, mostrando ter vontade de fazer o mesmo. Contudo, creio que a razão para nada fazer era que temia que pensassem mal dela por ir distrair-se enquanto o marido ficava fechado em casa.
Quando o meu pai morreu, tentámos que finalmente fizesse tudo o que sempre tinha querido fazer. A duras custas conseguimos que fizesse algumas coisas. Mas sempre como se estivesse contrariada, como se estivesse a fazer o sacrifício apenas para não a chatearmos mais. E arranjava desculpas para tudo e mais alguma coisa. Para vir passar o dia a minha casa, era uma luta. O meu marido aborrecia-se comigo pois achava que estava a forçar a minha mãe a fazer uma coisa que não queria. Mas eu tinha a sensação que era aquela sua postura de sempre, a de mostrar que não queria, que, por ela, não vinha, não lhe apetecia, para, por fim, quase como se não conseguisse ouvir-me mais, lá ceder.
Para passar férias connosco no Algarve foi o bom e o bonito. Não queria, não, não, não. Mas, ao mesmo tempo, eu parecia-me perceber que, no fundo, no fundo, até queria, mas que ofereceria resistência até mais não poder, até parecer que ia obrigada. Depois, estando lá, estava tudo bem, mas, até ir, era uma luta incrível. E às amigas e vizinhas, do que eu depois percebia, transmitia que, por ela, não queria mas que tanto a tínhamos pressionado que, contrariada, lá tinha feito o sacrifício.
Guardo esta mágoa de pensar que a minha mãe, por motivos lá dela, nunca conseguiu libertar-se de amarras imaginárias para fazer tudo o que lhe apetecia. Mas também admito a hipótese de que talvez nunca lhe tivesse realmente apetecido fazer aquilo com que parecia sonhar. A mente tem coisas insondáveis, não é?
As pessoas por vezes constroem barreiras dentro de si mesmas e, para lhes darem credibilidade, criam também narrativas para as justificarem e, de tanto alimentarem alguma auto-comiseração e de tanto se sentirem cercadas, acabam por acreditar que são reais.
Pela parte que me toca não sou muito disso. Geralmente, se meto uma na cabeça não descanso enquanto não a faço. Posso até admitir que vão censurar-me ou que não irão aplaudir-me, mas, muito sinceramente, nada disso me tolhe.
Há coisas que nunca fiz. Nunca andei de helicóptero, nunca fiz paraquedismo nem asa-delta, nunca montei, nunca fiz mergulho ou escalada, nunca fumei erva (e, muito menos, qualquer outra droga), nunca conduzi uma mota, nunca cantei num karaoke, etc. E sei que nunca vou fazê-lo. Não porque não tenha oportunidade mas porque não quero. Não acho piada fazer coisas que me dão medo ou que vão contra a minha natureza. Por isso não lamento o que não fiz porque se as não fiz foi porque não quis. Em contrapartida, se houver coisas que gostaria de fazer, tudo farei para as fazer. Geralmente adequo os meus desejos às minhas possibilidades. Por exemplo, não me ocorre conduzir um Ferrari descapotável e isso não apenas porque não é coisa que me seduza mas também porque não é coisa que esteja à minha mão de semear. Ou seja, não sou de ter sonhos pois sonhos são, por definição, coisas imateriais, quase intangíveis. Sou de ter vontades pois das vontades a gente pode ir atrás. E pode agarrá-las.
Mas, do que conheço da vida, uma coisa dou como muito certa: se a gente gostava de fazer uma coisa, se tem essa vontade, deve concretizá-la. Senão, vai chegar ao fim da vida carregadinha de mágoas.
O exemplo deste vídeo é até tocante.
Diana, de 87 anos, interpreta uma composição original, 'Dreams' | The Piano Series 3
Desde que frequento as agitadas paragens do Instagram deparo-me com milhares (quais milhares... certamente milhões, biliões, zetaliões) de coisas. Cada um mostra ali o melhor que sabe e pode, ou o que lhe apetece, ou sabe-se lá o quê. Mil obras de arte, mil arranjos florais, mil restauros de móveis, mil maneiras de parecer mais nova, mil maneiras de parecer bronzeada, mil maneiras de cortar o cabelo, mil exercícios e mil dietas para perder barriga, mil maneiras de fazer bolos sem ir ao forno, mil maneiras de fazer panquecas, mil livros, mil citações, mil gracinhas do cão, do gato, dos filhos, mil arco-íris, mil decorações de nails, mil, mil, mil de tudo e tudo elevado a um expoente que transforma os mil em muitos, muitos mil.
Apercebo-me, como se me pusessem uns óculos de realidade aumentada, excessivamente nítidos, quase insuportavelmente saturados, que há gostos para tudo, conceitos díspares a propósito de tudo, teorias para tudo. Não que não o intuísse, não que não o soubesse da minha vida real. Mas a amostra era curta: era apenas a realidade que eu conhecia. Agora a amostra é o mundo. Aparecem-me imagens e vídeos e palavras de todo o mundo.
E, no entanto, se, ao fim do dia, eu quiser dizer o que é que me ficou de tudo o que vi, vou ter a maior dificuldade. Talvez fiquem umas palavras límpidas ou uma pintura singela de alguém que já conhecia de outras paragens e que fui ali encontrar, talvez as imagens genuínas e as palavras espantosamente sinceras e simples da Gina, talvez uma forma engraçada de dobrar camisolas com capuz.
Mas aquilo é o mundo. Uma tremenda cacafonia em que parece que o que é mesmo relevante se esbate no meio de tanta exposição.
Fica-me, isso sim, a vontade de silêncio, de alguma reclusão, de regresso às origens, às flores, à terra molhada, ao canto dos pássaros, a vontade da amabilidade sincera, simples, autêntica, a saudade de palavras transparentes.
Debruço-me, então, e vou em busca de uma pedra, de um cogumelo, de um líquen, de uma gota de água a escorrer de uma folha, do reflexo de uma nuvem na água que fica sobre a terra.
E depois é isso. Só isso. O reino da beleza das coisas simples. E chega-me.
Hesitei ao dar o título a este post. Pensei em escrever 'o tempo da magia'. Para mim, o que se passa é mágico. Até há pouco tempo a terra estava seca. Agora, com as chuvas, todos os dias dela irrompem estes pequenos seres.
Já ontem aqui falei neles. Aliás, todos os anos, por estas alturas, falo deles. Fascinam-me. Nascem já feitos. Vêem-se a levantar a terra e as folhas secas que têm em cima. Se são grandes, nascem logo grandes. E, apesar de virem de dentro da terra molhada, vêm limpos. Os brancos, por exemplo, vêm imaculados. Dá ideia que depois sacodem os grãos de terra pois aparecem polvilhados mas depois ficam limpinhos.
E, com o auxílio da Lens do Google, já vi que tenho cá uns lindos branquinhos que são super-venenosos, nomeadamente os que aqui mostro. Vamos ter que arrancá-los pois embora o nosso cão nunca tenha mostrado interesse por cogumelos, não fico descansada enquanto eles ali estiverem.
Alguns, no dia ou dias seguintes, aparecem com bocados a menos, presumo que haja quem ande por ali a banquetear-se.
A propósito, há bocado fiz iscas para o jantar. Quando ia cozinhar, resolvi ir apanhar umas folhinhas de louro e um pé de alecrim. Mas, com a mudança da hora, já era de noite. Liguei a lanterna do telemóvel e lá fui. Pois bem, digo-vos: fez-me um bocado de impressão. Ao pé de mim, ouvi correr. Não sei se era gato, coelho ou outro bicho mas nitidamente ouvi uns pezinhos a correrem ao meu lado. Depois uns barulhinhos não identificados. Voltei rapidamente enquanto pensava que para a próxima tenho que me abastecer durante o dia. Nem tão cedo me apanham em incursões nocturnas...
Mas não é só da terra que irrompem os cogumelos. Até das nesguinhas de musgo que se formam de pequenas brechas nos caminhos de pedra eles nascem. Uma coisa extraordinária (mágica, não é?)
Depois, ou porque são comidos ou porque secam, ao fim de poucos dias desaparecem. Nem fica rasto deles.
Fiz não sei quantas fotografias. Encanto-me.
E, ao fim do dia, com o sol dourado por entre as árvores, foi aquela paz que me invade e que me deixa feliz e agradecida.
E portanto, para resumir, o que posso dizer é que por aqui ando, tranquila, descansada e bem disposta, um misto de estar de férias, de ser turista e de ser uma criança à descoberta de tudo.
Enquanto as televisões dão conta de foguetório aceso lá pelos médios orientes, com algumas botas a marcharem a caminho de terreno proibido, refugio-me no meu mundinho suave, banhado a outono e a ouro, onde ninguém maltrata ninguém, onde se fala de escritas e de leituras, em que se cultiva a afabilidade e não a animosidade.
Portanto, é por aí que hoje vou.
Ando geralmente pelas margens. Tento descobrir a escrita genuína, aquela em que não se encontram bolas de efeito, em que as palavras estão junto à respiração, em que não há banalidades enfatuadas mas em que se escreve sobre verdades desabitadas, em que se visitam ruínas ocupadas pelo silêncio.
É verdade que muitos dos blogs em que a escrita escorreita fluía vão rareando. Desmotivaram-se os seus autores, desertaram talvez para redes mais socialites; ou simplesmente cansaram-se. Muito gostaria eu que o Pedro Mexia, a Ana de Amesterdão, o Vítor das Âncoras e Nefelibatas e todos os outros que na minha lista de Frescos e Bons (à direita) aparecem bem cá para baixo já que não publicam há séculos voltassem a aparecer e a aquecer a blogosfera.
De qualquer forma, vou continuando a acompanhar os fiéis e devotos que ainda se mantêm no activo. E ainda os há dos bons.
E, também eu, não perco o que dizem. São apontamentos, são registos no livro de horas dos seus autores, são desabafos, são conselhos. São boas companhias.
Portanto, fui em busca desses frutos que se anunciaram gostosos, maduros.
Juntei-lhe um livro da Martha Medeiros pois tenho lido que os seus livros de crónicas se vendem como pãezinhos quentes e eu, que gosto tanto de ler crónicas (apesar de me dizerem que em Portugal o género Crónica é mal amado e pouco procurado), quero perceber quais as razões de tal sucesso.
E o Nexus do Harari porque claro que sim, é muito cá de casa, e porque o meu marido tem lido de fio a pavio todos os livros dele e estava à espera que este cá chegasse, e um outro também para ele, A História do Mundo do Peter Frankopan de quem já leu As Rotas da Seda.
Nos idos de outras eras, antes de nos termos desiludido de vez com o Expresso, gostava de ler as suas críticas literárias. Mas também havia críticas muito balofas, muito tontas.
Por isso, agora, sem Expresso e sem gurus a opinarem sobre isto e aquilo, bebo com avidez sugestões que vou colhendo aqui e ali, nomeadamente na nossa querida blogosfera.
Vamos é agora ver como me oriento para me deitar a eles (refiro-me aos livros, claro), tanto mais que as pilhas dos não lidos vão crescendo nos lugares estratégicos, ameaçando desabar quando lá pousar o próximo.
Mas é tão bom ver chegar bichinhos novos, cheios de mundinhos por descobrir, cheios de palavrinhas boas...
Apesar de estar aguaceirento, achei que se poderia estender a roupa. O meu marido entendia que era perda tempo pois, não tardaria, a chuva viria. Arrisquei. Entre as sessões de pingaria, a aragem e o tímido sol tratariam da saúde à roupa.
E assim foi. Secou que foi uma beleza. De vez em quando era borrifada mas, logo, logo, vinha um ventinho saudável que a secava.
Não deu foi para me pôr estendida a apanhar sol pois a friagem estava de apertos. Tive que ir buscar uma camisolinha mais aconchegante.
O dia foi a modos que assim, com coisas para tratar, e tratei delas, um conjunto de mails, uns telefonemas, um certo expediente, mas, em relação a algumas matérias, sem saber se alguma coisa vai ficar tratada. Mas paciência, é o que é, há coisas que, se calhar, serão mesmo na base da tentativa e erro.
As caminhadas também foram híbridas, metade à chuva e outra metade com ela escondida a ver se aparecia. Mas bem belas, fresquinhas, revigorantes.
Mas as flores despontam por todo o lado e até uma que eu julgava que era bonita apenas pela rubra folhagem agora saiu-se com um golpe de mágica e surpreendeu-nos com uma cobertura altamente imprevista. Até tive que ir informar-me para não passar pela ignorância de desconhecer que planta misteriosa aqui tenho. É a Loropetalum chinensis Fire Dance. Quem diria?
[É a primeira fotografia, a que está à esquerda]
A magnólia também está exuberante, flores que parecem de papel, fabricadas por laboriosas mãos. Lindas, lindas.
[É esta aqui ao lado, à direita]
Não falo das camélias. Aborrecem-me. São muito bonitas mas inaceitavelmente efémeras. Não se aguentam bonitas. Atiram-se logo para o chão.
[É esta aqui abaixo, também à esquerda]
E já nem falo dos jasmins. O amarelo é luminoso mas discreto, não exala aquele perfume que inebria. O outro, o fúcsia e branco, é insolente. Parece coisa miúda mas as florzinhas ficam numa excitação perfumada. Quando passamos por ele não consegue passar despercebido, perfuma o ar que é uma indecência. É um perfume controverso. Ao princípio estranhei. Agora, não é que se tenha entranhado mas aprendi a gostar dele. O meu marido acha que o cheiro é doce e intenso demais.
[É a quarta e última fotografia]
Quando passeamos pelas ruas, em especial à noite, há, por todo o lado, um perfume bom, delicado, um cheirinho suave que se mistura com o mistério das penumbras. Talvez seja a primavera que não consegue esperar pela sua vez, que já aí está.
Tirando isso, o que posso dizer é que parece que continuo a modos que preguiçosa, parece que me falta aquela energia que me levava a fazer mil coisas por dia.
Por exemplo, tinha pensado ir tirar dos sacos os livros que vieram ontem para identificar os que ainda não tinha cá em casa, para arrumar esses nos sítios devidos, deixando os repetidos numa estante que está na cave para os meus filhos poderem ir escolher para eles ou para ficarem para, mais tarde, os meus netos. Mas não consegui ânimo para tal. Lá continuam.
Em contrapartida, consegui mover-me para a história que ando há séculos a escrever e que já dei por finda mas que tem que ser lida, relida, rerrelida. Mas a verdade é que estou naquela fase em que, para fazer qualquer coisa, tenho que pedir licença a uma mão para poder mexer a outra. Mal me reconheço, confesso.
E não falei ainda dos passarinhos que andam numa animação, esvoaçam e cantam que é uma alegria. E o meu marido ontem disse que tinha passado ali uma andorinha. Fiquei muito contente e a desejar que ocupem um dos ninhos para poder vê-las muitas vezes.
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Quanto ao debate, o que me apraz dizer é que o Carlos Daniel provou ser um dos melhores moderadores da nossa televisão. Esteve sempre bem, muitos furos acima de qualquer dos outros. E, quando me refiro aos outros, não estou apenas a falar dos outros moderadores nos anteriores debates. Refiro-me também aos moderados. Lamento dizê-lo.
Dia chuvoso e sem grande atractivo. Mais um dia em casa da minha mãe, mais um dia confrontada com armários e roupeiros cheios que nem ovos, coisas boas, mal empregadas para serem deitadas fora, e nós sem as querermos para nós, porque não temos falta, porque não temos onde pô-las, porque não nos serve ou não são o nosso género.
Tudo muito, muito, tudo infindável.
Valeu-me a minha filha que fez um bom rastreio e que consegue ter um desapego que eu não tenho.
Começo a pensar que, se a minha mãe guardou durante toda a vida, é porque era importante para ela e, se era importante para ela, dá-me pena deitar fora.
Mas tem razão, ela (e do meu marido nem falo pois, por ele, não aproveitava nem um só copo) pois poderia ter importância para ela mas teve-as guardadas longe da vista, durante décadas. A nós pouco nos diz e, a guardarmos tudo aquilo, seria também para ter encafuado, sem qualquer préstimo. E vamos ter as nossas casas atafulhadas de coisas que vão estar escondidas e que são inúteis?
É verdade, reconheço.
Portanto, enchemos vários sacos com coisas que considerámos lixo.
E voltei a deixar a cama com uma pilha imensa de roupa que a senhora -- que lá ia a casa e que lá irá até esta monda estar feita -- fará o favor de ver se quer alguma coisa para ela e, o que não quiser, tratará de lhe dar destino. Contou que uma rapariga brasileira que veio para Portugal quase só com a roupa que trazia no corpo delirou com a leva anterior, que lhe assenta tudo bom, que está feliz da vida. Fico contente.
A minha filha levou algumas coisas, eu trouxe coisas que acho que têm valor e não podem ir para o lixo e que ela não quer e o meu filho ainda menos.
Ela também já levou alguns livros e eu trouxe também uns quantos. O meu filho diz que fica com o Eça. Mas espero que ele fique com mais alguns pois há muitos, muitos. Eu depois verei se há alguns que não tenha ou que minimamente me interessem. Depois... nem quero pensar.
E de copos nem sei que dizer. Várias prateleiras cheias de copos. Ora, ninguém quer mais copos, e eu não tenho mesmo onde pô-los. É de loucos, não sei como é possível ter tantos copos. E eu, que ali vivi e que toda a vida frequentei aquela casa, nunca tinha reparado em tal. A gente, à força de tanto ver as coisas, parece que deixa de vê-las. Penso que vamos ter que embalá-los e serão mais alguns caixotes que ficarão na garagem. Como já aqui o referi, só espero que os meus netos, quando estiverem a 'montar' as suas casas, queiram ficar com todo o material que cá estará à sua espera.
Entretanto, quando estava lá, ligou-me uma amiga. Gostei imenso de falar com ela. Conhece a minha mãe desde os nossos dez anos. Contou-me que tem uma grande admiração por ela desde essa altura pois, nesse tempo, entre o nosso grupo de amigas e amigos, era a única mãe que trabalhava. Todas as mães estavam em casa. Lembra-se de estar em minha casa e gostar imenso de falar com ela e de, outras vezes, passarmos pela escola em que ela dava aulas e vê-la, com a sua bata branca. E isso, para ela, era o máximo. Achei graça ela dizer isto. Nunca tinha visto isso segundo essa perspectiva. Para mim era natural a minha mãe trabalhar, tal como era natural que todas as outras mães estivessem em casa. Depois, voltou a estar frequentemente com a minha mãe pois era médica no Centro de Saúde onde a minha mãe ia e, portanto, conversavam sempre e, através dela, ia sabendo sempre notícias de mim. Tal como eu ia sabendo notícias dela. Mas, diz ela, que, do que conhecia a minha mãe, não estranhou a decisão de não nos contar a doença que tinha, não se deixar aprisionar pelos exames e tratamentos que, vendo bem as coisas, não iam servir para salvá-la e iam estragar-lhe a qualidade dos últimos meses de vida. Assim, teve uma morte muito rápida. Quando eu disse que ainda me custa acreditar e que me custa perceber como é que ela esteve tão bem, sem que ninguém percebesse nada, até cerca de mês e meio antes de cair a pique, disse ela: 'Mas ainda bem, não é? Ainda bem que esteve bem quase até ao fim, não é?'. Pois, nessa perspectiva, sim. Esta minha amiga nunca foi médica dela mas conversavam muito e diz que também nunca lhe percebeu nenhum mal estar ou que sofresse daquilo que viria a morrer. Mas reforçou várias vezes: 'Ainda bem que foi assim'.
Hoje, lá em casa, vi as flores que plantou, ela própria, no canteiro do meio, perto do portão, pouco antes de ir para a residência. Estão floridas, alegres. São a prova viva da força dela.
Queixava-se de mil pequenos sintomas, coisas que atribuía sempre aos comprimidos que tomava, achava que mais valia não tomá-los pois vivia melhor sem os seus efeitos secundários. Pelos vistos também não os tomava todos. E, se calhar, dada a conjunção de maleitas e dada a sua idade, mais valia gozar a vida como se tivesse vinte anos, sem medicamentos e, quando tivesse que ser, isto é, quando chegasse a sua vez, chegava. E chegou. Para o mês que vem faria noventa e um anos.
E toda a gente fala dela como uma pessoa jovial, independente, bem disposta e muito sociável. Uma vez, ao princípio de estar na residência, eu estava a falar-lhe de uma senhora que tomava as refeições na mesma mesa, uma senhora muito interessante, escritora. Como havia lá mais duas, uma delas, uma das quais sua amiga, a minha mãe perguntou a qual me referiu eu: 'Qual, a velhota?'. Fiquei como sempre ficava quando ela se referia às pessoas da idade dela ou mesmo mais novas como 'velhotas'. Mas, de certa forma, percebia. É que, se as outras pareciam ter a idade que tinham, a minha mãe não parecia nada uma velhinha. Nada. Uma vez, ela tinha que ir aos Correios. Disse-me que não ia em dada altura do mês porque estava 'cheio de velhos que iam receber a pensão'. Só que ela parecia bem mais nova mas, na realidade, já era nonagenária. Mas não se sentia. Nunca se sentiu velha. Quando se queixava que os medicamentos para o coração lhe provocavam a sensação de cabeça vazia e tinha receio de ter tonturas, eu e os médicos dizíamos que, se calhar, por segurança, podia usar uma bengala. Nem pensar. Nunca usou. Para ela usar bengala devia ser sinónimo de ser velha. E, de facto, ágil e desembaraçada como era, uma bengala não tinha nada a ver com ela.
Enfim.
Por vezes penso que pode parecer estranho eu, tão cedo, estar a querer dar destino às coisas da minha mãe. Não sei explicar. Como fui várias vezes a casa dela não estando ela lá (quando foi para a residência, como já contei, nas duas ou três primeiras semanas, enquanto ainda estava bem, queria mais casacos, mais sapatos, calças de fato de treino, etc). Por isso, entrar em casa sem ela lá estar não me faz impressão. E acho que, resolvendo já isto, me custa menos do que estar muito tempo sem lá ir e depois ir a uma casa abandonada, triste. Não sei explicar. Cada um vive e gere as suas emoções da forma que lhe é mais natural. Eu parece que fico mais tranquila se souber que as coisas que lhe eram mais queridas estão connosco, em nossas casas. Parece que assim, arrumando e organizando e vendo as suas coisas (como, por exemplo, as cartas, as fotografias, etc), estou a honrar melhor a sua memória, não deixo as suas coisas por lá, tristes e sem razão de ser.
Hoje descobrimos uma coisa que nos fez rir. Num dos roupeiros, numa bolsinha de crochet feita por ela para supostamente trazer, à tiracolo, com o telemóvel ou com a carteira, meia escondida no meio de uns casacos compridos, descobrimos cadernetas antigas da CGD, envelopes de cheques, uns antigos, outros actuais e, no meio, completamente ocultado, um molho de fotografias. Eram fotografias minhas com aquele namorado de quem já tantas vezes aqui falei. Nem me lembrava que as tinha. Ou seja, deu-lhes sumiço, escondendo-as completamente. Provavelmente foi para que nunca se corresse o risco de o meu marido ou os miúdos darem com elas. Mas que mal fazia? Não sei. Só sei que ela nunca engraçou com ele. Não quis que, de alguma forma, ele fosse tema. Fartámo-nos de rir.
Assim, parece que, às tantas, vamos encarando com mais naturalidade o que aconteceu e que tanto nos abalou e que tanta tristeza nos trouxe.
Afinal é o que se diz, a vida continua.
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Chegámos a casa ainda a tempo de vermos o Montenegro com a Inês Sousa Real, uma coisa sem história, pelo menos pela parte que me toca. Nada que se lhe diga. E vimos o infeliz Raimundo que, coitado, não consegue dar uma para a caixa a debater com a Mortágua. Também nada a dizer a não ser que o Raimundo arranjou dois tópicos: o PCP está ao lado do que é positivo e que só vale a pena o que é grosso. Quem viu e ouviu poderá confirmá-lo. Ora não explica o que é isso das coisas serem positivas e, quanto àquilo de só valer o que é grosso, nem vou querer saber até porque a língua portuguesa é traiçoeira. Tirando isso, é uma mão cheia de nada e que, quando quer dizer qualquer coisa, não é capaz. E quando se esforça, como no caso da Ucrânia e da Rússia, é uma infelicidade, vem com a conversa das 'forças da paz' sem que ninguém consiga perceber o que é isso das forças da paz. Uma conversa de pombinha, ainda por cima titubeante.
Antes que pensem que pirei, digo já eu que talvez sim. Por isso, vou já dando a razão a quem se mostrar apreensivo com os meus últimos posts.
Contudo, que não se retirem conclusões precipitadas. Não virei gata assanhada nem vovó matando cachorro a grito. Apenas pratiquei em mim mesma uma espécie de lobotomia. Imaginem que se consegue fazer um furinho, rearrumar os neurónios que estão ensarilhados, injectar um cheirinho de oxigénio, de preferência em versão perfumada, quiçá floral, e que, uma vez tapado o buraquinho, a pessoa está mais leve, menos assustada, menos triste. E, nesse estado, consegue fazer posts como os três últimos. É isso.
Mas agora apeteceu-me mostrar que ainda consigo tentar fazer posts menos azougados. E, assim sendo, permitam que aqui traga, uma vez mais, alguém que me deixa sempre comovida, estupefacta, rendida.
O vídeo abaixo mostra uma pessoa extraordinária, a todos os títulos extraordinária. Lucy, a menina cega e autista.
Blind girl, Lucy, with neurodiversity stuns crowd with Chopin piano performance!
‘She’s a miracle!’ Viewers break down in tears over ‘beautiful’ Chopin performance by blind girl, 13, at Leed's train station.
Viewers were left in tears after watching a blind 13-year-old girl flawlessly perform Chopin on the piano at a train station in Birmingham.
Budding pianist Lucy took to the keys on an episode of Channel 4's The Piano, a talent show hosted by Claudia Winkleman and judged by pop star Mika and concert pianist Lang Lang.
The show involves pianists performing at Birmingham New Street and London St Pancras stations in front of crowds while the judges watch in a secret room, before selecting one pianist at the end of each episode to perform on stage.
The Amber Trust - Lucy's story
This film is about teaching a blind child with severe autism and exceptional musical potential.
It features Lucy, who is 10 years old, blind, with autism and severe learning difficulties but exceptional musical potential, with her teacher Daniel, and Adam Ockelford, founder of The Amber Trust.
Lucy’s story is a part of ‘Amber Sound Touch’, The Amber Trust’s online resource for teaching music to blind and partially sighted children and young people, including those with additional disabilities.
The Amber Trust was founded in 1995 to provide blind and partially sighted children, including those with additional disabilities, the best possible chance to meet their musical needs and aspirations and fulfil their potential. Amber aims to enhance the lives of as many of the 25,000 visually impaired children in the UK as possible through music, and to promote high quality music provision.
Pelos conhecidos motivos sobre os quais já não falo (ainda hoje o meu filho me disse que os meus posts andam um bocado depressivos e a minha filha me perguntou se eu não deveria procurar apoio psicológico...), volta e meia durmo mal. Custa-me a adormecer ou, então, acordo de madrugada e só volto a adormecer já o dia clareou.
Por isso, nessas noites, peço a todos os santinhos que ninguém se lembre de me acordar logo cedo para tentar repor algumas energias.
Pois, pois. É a tal Lei de Murphy. Lei mais tinhosa não há. Quando dá para correr mal, são umas atrás de outras. Uma inclemência danada.
Só para verem como é, eu conto.
Na outra noite, estava eu a ver a manhã a chegar, toca o alarme. Uma sirene que nos ensurdece.
(O meu marido segue o conselho do técnico de segurança que cá veio instalar o equipamento: de noite deixa o alarme parcial.)
Depois do susto inicial, o meu marido levantou-se e foi ver o que se passava. Avisei-o para não ir despido para, na central, não o verem naquele estado. Não quis saber. De qualquer forma, acho que na central só veem o que as câmaras captam no momento em que o alarme é accionado e não depois. Enfim, tomara...
(Por exemplo, no outro dia, no campo, o meu marido andava não sei bem por onde. Saí de casa para ir caminhar lá por baixo e accionei o alarme. Passado um bocado, ele, que não sabia que eu não estava em casa, ao entrar, fez aquilo disparar. Eu, a andar lá no meio das árvores, recebo uma chamada da central a perguntar-me se eu estava em casa, se sabia que tinha sido detectada uma intrusão e que as imagens mostravam um senhor alto, magro e calvo. Nem sei como não soltei uma gargalhada.)
Bom, mas ontem lá foi ele ver o que se passava. Entretanto, recebi uma mensagem a dizer que o alarme tinha sido activado no sótão. Descansámos. Chamámos sótão na parametrização do sistema mas não é no sótão, é no 'espaço multi-usos' do piso de cima. E agora é aí que o cãobeludo tem resolvido dormir. Acho que, para ele, é um bom posto de comando. No verão, dorme encostado ao vidro da janela grande. No inverno, geralmente deita-se num assento que há entre dois pilares. Provavelmente, em vez de sair de fininho como habitualmente deve fazer, deve ter dado um salto em frente do sensor. E agora já não uiva. Nas primeiras vezes que o alarme disparou, punha-se de cabeça ao alto a uivar como se fosse um lobo, uma coisa muito louca.
Voltámos para a cama.
Passado um bocado, como viu que já não conseguia dormir, o meu marido levantou-se, tomou o pequeno-almoço e foi passear o urso.
Eu fiquei a tentar adormecer. E consegui. Mas foi por poucos minutos.
Passado um bocado, um grande estrondo, não no piso de cima nem muito longe do quarto. Não consegui identificar mas foi um barulhão. E, acto contínuo, a sirene do alarme.
Fiquei transida. Sozinha em casa... Liguei ao meu marido, aflita de todo. Disse-me que estava longe de casa mas que vinha já, que eu fosse de imediato para a rua.
Entretanto, chegou a mensagem a dizer que tinha sido no corredor dos quartos. Ainda mais assustada fiquei. A sirene tocava, tocava.
Enfiei um top de alças e umas calças e, descalça, cheia de medo fui para o jardim. Abri o portão para o caso de ter que fugir mas fiquei do lado de dentro. Ao sair, espreitei o dito corredor. Nada no chão. Não vi nada, ou seja, não era nada que tivesse caído. Ainda mais preocupada fiquei.
Da central ligaram ao meu marido e disseram que não se tinha visto nada.
Devia ser para aí umas oito da manhã, um frio e uma humidade do caraças e eu ali, meia descascada, com os pés molhados, a gelar.
Quando o meu marido chegou, o dog fez uma festa por me ver ali. Saltou ao alto, rodopiou no ar, via-se que pensava que era uma recepção surpresa que eu tinha preparado para ele.
Sujou-me o top todo, claro Vinha com as patas enlameadas e foi como essas mesmas patas que me cumprimentou.
O meu marido puxou por ele e avançou para dentro de casa: o verdadeiro binómio cinotécnico em acção.
Estranhamente, o cão estava tranquilo, como se nada de anormal se passasse. Eu atrás, donzela assustada. com receio que dessem de caras com um perigoso fantasma.
Tinha-se despencado lá de cima, deve ter embatido no microondas, depois na bancada e, finalmente, no chão. Pode pensar-se que um galo não é tão barulhento assim. Mas este é. Este é de madeira maciça, um peso invulgar, um verdadeiro galo capão.
O curioso é que a cozinha não fica no alinhamento do corredor dos quartos. Nem pouco mais ou menos. Deve ter sido o impacto que causou tal trepidação que fez accionar o alarme. Imaginem.
Menos mal.
Portanto, desvendado o mistério, ainda pensei que podia voltar para a cama. Mas já não valia a pena. Estava acordada demais. Fui para a banheira e tomei um banho bem quentinho para me aquecer as entranhas pois ainda devo ter estado uns vinte minutos ali a enregelar no jardim.
E sobre o resto do dia logo conto numa outra vez.
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E a vossa atenção, por favor, para um pianista compositor com ano e meio, Gavriil Scherbenko
O que aconteceu deixa-me doente. Ouvi na televisão que felizmente a Justiça está a funcionar já que o Juiz de Instrução praticamente deitou por terra a macacada que o Ministério Público tinha feito. Não concordo. Tudo estaria bem se as coisas fossem rápidas e se os danos não tivessem sido tão dramáticos, danos para as vítimas da infâmia e danos para todo o País.
Quanto tempo vai passar primeiro que aquelas cinco almas mais as outras que foram salpicadas pela porcaria que o Ministério Público fez se vejam totalmente livres de chatices? E quem lhes vai pagar os advogados? E a interrupção nas suas vidas? Os prejuízos de toda a ordem, nomeadamente os reputacionais e os morais?
E tudo porque quiseram agilizar projectos estratégicos para o país. Não há corrupção nem prevaricação. Nada. Apenas preocupação para que os projectos andem para a frente.
Os portugueses, há cerca de ano e meio, deram a maioria absoluta ao PS.
E o Ministério Público, que parece que tem uma agenda política própria, parece ter resolvido fazer a vontade ao Chega e a uns quantos jornalistas-comentadeiros (e, como se tem visto, também ao Presidente da República), arranjando maneira de lançar o opróbio sobre António Costa que, face à infâmia lançada pelo vil comunicado, não teve outro caminho senão o da demissão.
Estamos onde estamos e ainda não vi a Lucília Gago demitir-se, não vi Marcelo vir a terreiro para correr com ela, não vi que os Procuradores que fizeram a porcaria que fizeram tivessem sido suspensos.
Nem vi que se tivesse apurado quem passou as escutas ou os resultados das buscas para a comunicação social e se tivesse movido um processo contra esses criminosos.
Nem vi Marcelo vir também a terreiro explicar ao País o que António Costa disse no sábado: que governar um país é, dentro da legalidade, mover todos os esforços, pressionar quem tiver que ser pressionado, articular os intervenientes para que os projectos e os serviços funcionem bem e rapidamente, atrair e reter investimento, criar postos de trabalho interessantes, dinamizar a economia e o país.
Também não vi Marcelo vir a terreiro explicar que há linhas vermelhas em democracia que jamais devem ser pisadas... e que o foram. Nem o vi vir dizer à Comunicação Social que não é suposto que se porte como oposição, ainda por cima uma oposição populista pois isso mina a confiança nas instituições democráticas.
E o não ter vindo fazer isso, abre espaço a que campeiem as acusações vãs, as confusões, o descrédito nos políticos, nos governantes. Abre espaço a que ninguém com uma vida estabelecida se arrisque a ir para a política ou aceite lugares de responsabilidade governativa.
Faria bem, Marcelo, se fizesse uma comunicação ao País em que mostrasse que é o Presidente de todos os portugueses e que quer, acima de tudo, o bem do País, o seu funcionamento normal, inteligente, coerente, democrático.
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Votarei PS nas próximas eleições, seja qual for o líder. Não morro de amores por nenhum dos que já se chegaram à frente. Mas, seja qual for, estou como António Costa: são muito mais competentes do que qualquer dos líderes da oposição. E como penso, acima de tudo, no progresso, no desenvolvimento, na democracia saudável, na modernidade, no sentido de Estado, e porque quero um País bom para os meus filhos e netos, não tenho qualquer dúvida em votar como votarei.
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Tirando isso, estou um pouco cansada. Por razões que não vêm ao caso, os meus dias não têm sido especialmente fáceis. E o que ainda me tem deitado mais por terra é ver a estupidez do que aconteceu. Tudo evitável. Tudo absurdo demais. Caraças.