As televisões têm estado encharcadas de papagaios e começámos a perceber que os inteligentes da equipa de comunicação do PSD pariram um aborto mas, sem perceberem que o nado-morto infelizmente não tinha pernas para andar, puseram os ministros e os caceteiros com ele ao colo.
(Imagem mais triste. Não vou aprofundá-la muito mais.)
Mas, ainda assim, deu para perceber que a ideia peregrina é atirar o enrolo criado pelo Montenegro para cima do PS.
Como o PSD é assim -- um saco de gatos que, quando toca a reunir e a defender os lugares a que se alaparam, unem-se a sério e papagueiam a cartilha que lhes distribuem -- nem querem saber da triste figura que andam a fazer e repetem as parvoíces que os da comunicação engendraram.
Mas eu, que estou de fora, daqui lhes envio a verdade-verdadinha que a malta do lado de cá, os votantes, apreenderam:
1 - O PS deixou passar o programa de Governo
2 - O PS safou a macacada em que o PSD se envolveu ao não conseguir, sequer, eleger o Presidente da Assembleia da República
3 - O PS deixou passar o OE 2025
4 - O PS não deixou passar a Moção de Censura que o Chega apresentou, salvando o Governo
5 - O PS não deixou passar a Moção de Censura que o PCP apresentou, salvando o Governo
6 - O PS avisou profilaticamente que não deixaria passar uma Moção de Confiança, avisando que era sensato que o Governo não fosse por aí
7 - Tendo o PSD provocadoramente -- ou numa tentativa patética de evitar uma Comissão de Inquérito -- apresentado uma Moção de Confiança, o PS veio publicamente sugerir ao Governo que retirasse a Moção
Portanto -- branco é galinha o pôs -- o PS não pode ser, de forma alguma, responsabilizado pela crise que Montenegro está a provocar. Clarinho como água.
Se Montenegro e demais tropa fandanga insistirem nessa narrativa patranheira estarão apenas a demonstrar ao País aquilo que já todos sabemos: para além de tudo, padecem de uma grande desonestidade intelectual.
E a desonestidade intelectual em cima de todas as notícias que têm vindo a lume -- e não desmentidas -- que dão conta de esquemas e mais esquemas (sendo que o escrutínio de alguns eventualmente poderá vir a passar para a alçada do MP), é coisa que costuma indispor severamente os eleitores.
Recomendo a leitura do inequívoco texto O caso Montenegro (7): A empresa "avatar", de Vital Moreira, cuja leitura integral recomendo e onde se lê, por exemplo:
- não tendo nenhuma autonomia em relação ao seu fundador, a Spinumviva não era mais do que uma metamorfose na apresentação externa daquele, um "avatar" do advogado Luís Montenegro, para continuar a sua atividade profissional e beneficiar do seus proventos.
- a Spinumviva é uma ficção de sociedade comercial, sendo verdadeiramente uma longa manus ou um alter ego de Montenegro.
- Esta extraordinária declaração de Luís Montenegro, de que «não fez nem mais nem menos do que faz qualquer português» é uma confissão implícita. Na verdade, como escrevi no início deste "caso", aquilo que muitos profissionais liberais fazem - que é criar empresas pessoais/familiares para prestarem os seus serviços em nome delas, serem pagos através delas e beneficiarem de redução de impostos e da imputação de despesas pessoais - podia ser feito pelo advogado Luís Montenegro, mas não podia ser continuado pelo PM, sob pena de violação da exclusividade a que está obrigado e de conflito de interesses, entre o interesse público que lhe cabe de prosseguir e os interesses económicos dos clientes que lhe pagam as generosas avenças. Ao contrário do que defende Montenegro, o PM não pode fazer o que "qualquer português" pode fazer, quanto mais não seja por uma questão de ética política, que neste caso foi manifestamente posta na gaveta.
Aqui chegados, eu poderia elencar todas as irresponsabilidades, incompetências e descaramentos em que o Governo Montenegro tem sido pródigo. Poderia até dizer que se cair, não se perde nada. Mas não é isso que agora está em causa.
O que está agora em cima da mesa é que, fruto das trapalhadas do Montenegro (repito: do Montenegro, exclusivamente do Montenegro) e da impossibilidade de as defender, este está a atirar o País para uma crise que, muito provavelmente, nos vai atirar para novas eleições.
Ora, face ao desespero em que vejo as hostes do PSD, o que sugiro é o seguinte:
Hipótese A
a) O Montenegro, se é homenzinho (reparem que não falo em homem, não peço tanto, falo apenas em homenzinho), deve apresentar uma Moção de Confiança interna (isto é, no PSD), de votação anónima
b) Mais do que certamente, essa moção será chumbada. A malta do PSD por vezes parece que não tem os alqueires bem medidos (muito sinceramente, com todo o respeito, (sic), deixem que diga que, ao quererem atirar as culpas da cagada em que o Montenegro se deixou afogar para cima do PS, parecem completamente parvos), mas não são burros de todo. Por isso, devem estar furibundos, sentindo-se fornicados de todo com o caldinho do Montenegro e só por pudor não correm com ele a pontapé.
c) Com o tapete tirado pelo PSD, Montenegro terá forçosamente que se demitir.
d) Com o Montenegro de volta a Espinho, Marcelo poderá perguntar ao PSD se quer apresentar algum nome para Primeiro-Ministro. Havendo um, talvez a legislatura consiga arrastar-se por mais algum tempo
Hipótese B
Em alternativa, Marcelo, se resolver lembrar-se que ainda está em funções, pode chamar o Montenegro e dizer-lhe que já chega, que antes que se descubram mais cegadas, é melhor que desampare a loja, que vá enrolar clientes para Espinho. E pode chamar o que ainda se mantiver de pé do PSD e perguntar-lhes se há lá alguém que se aproveite para Primeiro Ministro.
Claro que os timings são curtos, que não somos como os ingleses que num dia votam e no dia seguinte os vencedores já estão a tomar posse, tudo na base de atar e pôr ao fumeiro. Mas, ainda assim, em querendo, alguma corda aos sapatos talvez se pudesse dar
Errata: Lá em cima, na alínea b da Hipótese 1, enganei-me a escrever uma palavra. Como sou uma pessoa bem comportada, aqui está como deve ser: caguada. Assim já não estou a dizer nomes feios.