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segunda-feira, setembro 02, 2019

Grava para sempre a alegria na fachada da tua casa
e
Caminha como o teu coração te leva






Trouxe três livros e ainda não abri o primeiro. Tenho-me ficado pelo Expresso. Não sei como, quando nada tenho para fazer é quando menos tempo me sobra. Há nisto um paradoxo que ainda não cuidei de resolver. Entre as caminhadas na praia, os almoços ligeiros na varanda, a sesta com as janelas abertas e os gritos das gaivotas por perto, depois, de novo, passeio na praia, preguiçar à sombra, ida ao mar, depois preguiçar ao sol, fotografar, regressar, nadar na piscina, banho, saída até à cidade, jantar e passeio nocturno, regresso já tarde, telefonemas à família, passa-se o dia. Tudo é feito com vagar, como se decompusesse cada fragmento de tempo nas suas ínfimas fracções e as saboreasse a todas. E neste vagaroso afã, os dias passam num instante.


Enquanto estou neste dolce far niente vou observando. Por vezes fotografo, outras vezes não posso. Por isso, não tenho como ilustrar algumas situações que ficariam com mais piada se, em vez de relatadas, pudessem ser vistas.

Paciência.

Assim, as fotografias que aqui vos mostro, feitas estas segunda-feira, nada têm a ver com o que vou escrever. As minhas fotografias são instantes captados enquanto observo mas as que aqui vos mostro são apenas aqueles em que não se reconhecem as pessoas, muito menos aquelas de que vos falarei de seguida. Ou seja, digamos que o que aqui se vê são meras abstracções. Excertos. Peças de um puzzle feito de acasos.


No outro dia, quando chegámos, vi um senhor de uns quarenta e tal anos, por aí, talvez cinquentas e picos, não sei precisar. Cabelo quase rapado dos lados e maior em cima, como agora se usa, e uma barba de uns quantos dias. O senhor era de baixa estatura. Estava de calções, tshirt justa, sem mangas, multicolorida. Via-se que cuidava do físico: ombros bem desenhados, barrigas das pernas e bíceps bem nutridos. Hoje encontrei-o ao pequeno almoço. A tshirt e os calções eram outros mas do mesmo género. Para meu espanto, logo a seguir vi outro igual, vestido quase da mesma maneira, mas em ponto grande. Não sei se deixei que a boca se abrisse, tal a perplexidade em que me vi. Segui este segundo com o olhar. Para meu espanto, foi sentar-se na mesa do outro. Iguais, um pequeno, outro grande. Quando saí, iam os dois à minha frente. Iguais. Um o dobro do outro. Pela forma afectuosa como se olhavam e se riam um para o outro, via-se que era um casal. Uma coisa delirante. Na verdade, dir-se-ia até que incestuosa. Gostava de poder fotografar para vos mostrar mas não posso. Mas creiam-me: é tal como descrevi. Um com talvez um metro e noventa e tal, um verdadeiro calmeirão musculado, e o outro talvez com um metro e sessenta, também musculado. Vestidos da mesma maneira, penteados da mesma maneira, barba igual, feições idênticas. Um perfeito nonsense.


À tarde, outra. Vínhamos no passadiço da praia atrás de dois gémeos, vestidos de igual. A diferença é que os calções de um eram às riscas verticais azuis escuras e brancas enquanto nos do outro as riscas eram encarnadas e brancas. Pólos azuis muito escuros. Chapéus de palhinha clara de aba larga e fita preta. Da mesma altura, a mesma compleição, o mesmo andar. Cada um com um saco de pano em cor crua ao ombro. Entretanto, um virou-se: asiático, talvez japonês. Já bem nos cinquentas. Óculos escuros. Estupefacta com aquilo, perguntei ao meu marido, em voz baixa: 'Mas o que é isto? Gémeos? Vestidos de igual? Mas na terra deles vestem-se de igual até serem velhos?'. O meu marido espantou-se: 'Qual gémeos? Tens com cada uma. Não vês que é um casal?'. Fiquei ainda mais parva. Perguntei: 'Japoneses?'. Diz ele: 'Sei lá se são japoneses. Um não deve ser'. Entretanto pararam, o japonês a meter uma pedra de gelo na boca de outro, de óculos escuros iguais, e esse, a seguir, a querer devolver a pedra ao outro, tentando colocá-la também na boca do japonês. De facto, um deles, francamente abichanado, não tinha traços orientais. Mas vestidos de igual? Almas gémeas, só pode. Também seria bom se pudesse fotografar porque, na realidade, só visto. Uma coisa digna dos 'apanhados'.


Na praia, de tarde, ficámos cá mais em cima, ao lado de duas espanholas. Conversaram o tempo todo mas falavam baixo. Era uma música de fundo boa de ouvir. Apenas quando uma chegou a espreguiçadeira dela para a sombra, para mais perto da minha, ouvi que estava a pensar seguir para a Tailândia ou para o Vietname. A outra falava em Machu Picchu. Andariam pelos quarenta e tal. Percebi que falavam de viagens, de irem encontrar outras pessoas, falavam das melhores alturas do ano para visitarem alguns países.

Olhei-as tentando perceber o que faz com que umas pessoas tenham em si, sempre activo, o motor das viagens enquanto outras têm, sempre presentes, os laços da família. À vista desarmada não vi nelas nada de substancialmente diferente de mim. Deve ser uma coisa genética, oculta.
Nós, quando os nossos filhos viviam connosco e os meus pais eram independentes e saudáveis, viajávamos bastante. Como já disse muitas vezes, depois, em especial com o AVC do meu pai e o estado sempre periclitante dele, com a idade de ambos que me faz recear afastar-me, e com a vontade de estar sempre disponível para o que os meus filhos precisarem, já não me sinto bem a planear afastar-me muito de casa. Sei que é absurdo -- até porque o meu pai já teve o AVC já nem sei há quanto tempo, talvez há uma dúzia de anos, e os meus filhos têm mais quem os possa apoiar em caso de necessidade -- mas, nada a fazer, é mais forte que eu. Agora já é o mais crescido a desafiar-me a ir passear com ele para fora e isso, tenho que confessar, anda a puxar pelas fibras adormecidas do meu motor de viajeira. Anda, anda.

Tirando isso, nada. Não tenho planos para esta segunda-feira. O plano é não ter planos. Talvez leve um livro para a praia na parte da tarde. Na parte da manhã não consigo, o sol é forte, não dá.

Vou vendo os mails do trabalho já que me põem em conhecimento de quase tudo mas fico na minha, caladinha, como se aquilo se passasse noutro planeta. Claro que já fiz uns telefonemas para alguns dos que trabalham directamente comigo mas coisa ligeira, tudo na boazinha, apoiozinho remoto na base do levezinho. A outros, que me convocam para isto, aquilo e o outro, limito-me a responder que estou de férias. Pimbas. E com que prazer sinto que me estou a livrar de belas estopadas. Apenas a um, em que o estupor escrevia uma coisa que me fez chegar a mostrada ao nariz, atirei um petardo. Estúpido como é, em vez de ficar caladinho a esfregar o lugar onde apanhou com ele, resolveu ripostar. E eu nem pestanejei: atirei-lhe um outro, fulminante, que o deve ter deixado de cabeça às voltas. Ainda por cima, como fiz reply all e ele tinha posto o administrador, chefe dele, em conhecimento, o outro testemunhou a tareia que o parvalhão levou. Há coisas que nem a brisa do mar faz com que eu as suporte.


E é isto. E, portanto, assim sendo, termino com duas frases que li na excelente entrevista feita à Lourdes Castro, para o Expresso, pelo João Pacheco (que também a fotografou no seu pedaço de terra, entre árvores e pedras, na Madeira) e que são o seu lema de vida:
Grava para sempre a alegria na fachada da tua casa [do original, em francês: 'Cloue à jamais la joie au front de ta demeure']
e
Caminha como o teu coração te leva
Bem poderiam ser também o meu lema de vida. E nestes dias de sol, mar, azul, luz e sereno vagar não me ocorre nada melhor para vos desejar também: que a alegria habite a vossa casa e que o coração guie os vossos passos.

segunda-feira, setembro 24, 2012

Carlos Nogueira, Paula Rego e Lourdes Castro no CAM, as prisioneiras de Camila de Sousa nos Jardins, Tarefas Infinitas no Museu: é a Gulbenkian neste doce início de Outono. E Passos Coelho sai do Conselho de Estado de rabo (e de TSU) entre as pernas. E as novas medidas de austeridade que se adivinham para tapar os buracos do Gaspar-não-Acerta-Uma. E o Miguel Macedo que parece que disse que ele e os colegas do Governo são umas cigarras e que os Portugueses são as formigas que andam a trabalhar para tapar os buracos que eles fazem. E as propostas interessantes da CGTP e das Confederações Patronais. E Marcelo Rebelo de Sousa na TVI que já me cansa com tanta manipulação. E, para não acabar mal, um poema de Maria do Rosário Pedreira da sua Poesia ReunidaCasas


Chegou o Outono. Anunciou-se com algum fragor mas logo se adoçou. Ontem cheguei tarde a casa, por volta da uma da manhã. Li e publiquei os comentários mas estava com muito sono, não consegui responder nem escrever nenhum texto. Durante a noite ouvi que chovia e gostei, assim é que é, um Outono que, logo às primeiras, mostra ao que vem. Mas ao longo do dia o sol foi-se descobrindo e esteve um dia suave, uma dia bom para passear em jardins, para visitar museus. Foi o que fiz.

Quando pousei as mãos no teclado hesitei entre escrever sobre Lídia; mas o tema é-me tão doloroso que hoje vou fazer uma pausa, tenho que ganhar algum distanciamento para que consiga, de novo, meter as mãos nas minhas emoções mais profundas e transformá-las em palavras. Além disso, quero dizer uma ou outra coisa sobre o Conselho de Estado e sobre o recuo do Governo naquela tontice da TSU.

Por isso, hoje isto vai ser uma salada.


1. De novo a Gulbenkian.

1.1. Almoço no Centro de Arte Moderna. Exposições temporárias. Carlos Nogueira, o lugar das coisas. 



Todo o mundo é composto de mudança, segundo Carlos Nogueira


Devo confessar que é daquelas obras que me deixa indiferente: é um misto de instalação e talvez escultura, não sei bem definir. O meu menino mais crescido olhou para esta que aqui acima se vê e é como se não visse nada, olha à volta à procura de qualquer coisa e pergunta, onde é que está aquilo que sobe com ar ou onde é que está o avião?, referindo-se a peças que já viu neste local. 



Flor branca, quase um bouquet de noiva - parte da obra 'Todo o mundo é composto de mudança'


Explico-lhe que agora já não está cá isso, que agora é isto, estes papelinhos e estas flores de papel. Puxa-me pela mão, como se nem me ouvisse, aquilo não lhe desperta atenção e a mim também não.


1.2. Mas a Colecção Permanente tem obras maravilhosas e, agora, um espaço inteirinho com a Paula Rego e eu, aí, fico encantada. É um espaço habitado por mulheres reais, mulheres que se encostam cansadas, que se vestem como se fossem anjos ou fossem para uma festa mas deixando revelar através das feições do povo, pelo cabelo pouco cuidado, que o corpo encerra um cansaço e uma vivência que não são os das mulheres de sociedade.



Excerto de pintura de Paula Rêgo, exposta no CAM


1.3. Seguimos depois para os Jardins, os belos jardins da Gulbenkian cujos recantos conheço desde sempre. Neles namorei, neles tentei estudar, neles brincaram os meus filhos desde bebés, aí brincaram e passearam até que agora já levam os seus próprios filhos. A beleza, a frescura, a intimidade dos recantos, a largueza, os lagos, o som da água que corre, são ainda e sempre os mesmos. Na nossa vida, as coisas importantes são intemporais e os momentos que aqui tenho vivido são sempre muito bons, independentes do tempo que passa.


1.4. Agora nos Jardins há grandes fotografias. Passeamos e ao lado dos caminhos, em recantos arborizados, vemos mulheres olhando para nós, sobre camas. É a exposição 3x4, São mulheres que estão em estabelecimentos prisionais de Maputo, fotografadas por Camila de Sousa.



Fotografia de Camila de Sousa - Uma das mulheres fotografadas em estabelecimentos prisionais feminhinos


Imagens de grande beleza. Não são prisioneiras, ex-delinquentes, perigosas criminosas. Não, são mulheres sensuais, doces, alegres umas, desencantadas outras, mas todas cheias de vida. E estão ali, naquelas camas, perfeitamente integradas nas zonas de sombra dos jardins.


1.5. A seguir fomos ver uma exposição que tem um nome lindo: Tarefas Infinitas, quando a arte e o livro se ilimitam. Toda a exposição é muito cuidada, muito bela. Quem ame livros e os ame também enquanto objectos, gostará de deslizar como um gato silencioso neste espaço escuro no qual os livros brilham como santos em altares.



Tudo existe para chegar a um livro 

1.6. E depois, claro, há as brincadeiras, os lanches à beira do lago, as corridas, e a visão dos peixes de grandes bocas rosadas que vêm à superfície para comer, e há os patos às vezes agressivos e que roubam o pão da boca dos peixes e há uma tartaruga que nunca consegue comer sem que um pato quase a levante no ar, e há os pombos, e outra vez os patos calmos, deitados ao sol. E há os meus meninos que adoram tudo isto.



Ainda não há muito tempo era a mãe e o tio deles que aqui andavam a brincar


2. Sigo, então, agora para o tema político. Quase oito horas de duração de Conselho de Estado. Ainda durava o dito e já no Expresso da Meia-Noite se mostrava a primeira página do Expresso na qual se dizia que a TSU tinha caído. Ou seja, muito antes de ter acabado, já se sabia quais seriam as conclusões. Normal, dizem. Normal...? Que o Conselho de Estado seja pouco mais do que uma coisa de faz de conta é normal...? Está bem, estamos entendidos.



Para ver se alguém conseguia perceber o aborto da TSU,
foi Vítor Gaspar, o subordinado de Passos Coelho, chamado ao Conselho de Estado.
Felizmente foi debalde ou melhor, foi de baldinho na mão e veio de lá com ele enfiado na cabeça


E que tenho eu a dizer a todas estas movimentações? Pouca coisa.


2.1. Em primeiro lugar, acho que bem fez Mário Soares que, sabendo que estava, ab initio, tudo cozinhado, disse o que tinha a dizer e foi para casa jantar sossegado.


2.2. Em segundo lugar, acho que foi a mais absoluta desacreditação feita a um Governo. Ficou logo a saber-se que gente do Cavaco e do Banco de Portugal e mais gente do Conselho Económico e Social andaram a estudar as contas e algumas alternativas à TSU ou seja, ficámos a saber que, face à mais absoluta incompetência do Governo de Passos Coelho, Cavaco pegou nas rédeas. 


2.3. Não só a imprensa nacional como a internacional anunciam, alto e bom som, que Passos Coelho meteu o rabo entre as pernas e saíu a ganir baixinho. 

No entanto, Luis Filipe Menezes, com a presciência e o sentido de estado que se lhe conhece, saíu de lá a dar com a língua nos dentes, concluindo que aquilo a que Passos Coelho foi sujeito foi, afinal, para que o Governo saísse fortalecido. Gentinha assim que brinca com as palavras, dizendo com a maior cara de pau o contrário do que é mais do que óbvio já não devia ter lugar no cenário político actual. 

Porque o que é absolutamente óbvio é que Passos Coelho é agora uma múmia política (o que é a versão passista da múmia paralítica), alguém que foi humilhado na rua por quase todos os cidadãos deste País, que foi humilhado na televisão pelo seu leal parceiro de coligação e de Governo, que foi humilhado pelo Conselho de Estado e, em particular, pelo Presidente da República, que é humilhado todos os dias nos meios de comunicação social e internacional.

Ainda este fim de semana The Economist fazia notícia com a situação portuguesa perguntando “O ponto de viragem: Quanta austeridade é demasiada austeridade?”, afirmando que o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, “parece ter levado as reformas além do limite (...)"


2.4. E, no entanto, apesar do recuo relativamente à medida mais estúpida que alguém poderia inventar, o que aí vem não é menos gravoso. Roubo de uma parte de um subsídio, mais IRS e o mais que se verá.

Mas se o roubo dos 7% aos trabalhadores era quase todo para dar aos patrões e não ao Estado, alguém me explica porque carga de água é que, o não ir este esbulho adiante, implica que seja substituído por um qualquer outro?

Portanto, se nos vão agora ao bolso de uma outra forma qualquer, já não é para dar uma esmolinha para os patrões (esmolinha que os próprios patrões, como é claro, não quiseram aceitar). Então é para quê?



Miguel Macedo, uma das várias cigarras do Governo de Passos Coelho

Só se for para tapar mais buracos daqueles que o Gaspar-não-Acerta-Uma mais o bando de cigarras que faz parte deste Governo, como o Miguel Macedo e outros inteligentes, cavam, cavam, cavam. E nós, pobres formigas, que andemos aqui a trabalhar para o boneco, ou melhor, para que o escasso fruto do nosso trabalho nos seja roubado. E os pobres reformados, que pensavam que tinham a sua pensão de reforma assegurada, que a vejam agora cortada. Porque os grandes especuladores financeiros continuam a bom recato, imunes à crise.



De cabeça perdida, de mãos na cabeça, sem cabeça para nada - escolham vocês, Caros Leitores, a legenda para o triste espectáculo a que assistimos
por parte do Governo de passos Coelho e Paulo Portas


2. 5. Sem quaisquer condições para continuarem a governar, apupados por onde andem, com os resultados a comprovarem que estas políticas são erradas, perigosas e irreversivelmente empobrecedoras, que são políticas que estão a destruir o País, Coelho, o Gaspar, o Relvas, o Borges, o Portas e demais ministros, vivem dias de desnorte, agarrados ao poder, pensando já numa estratégia de sobrevivência nas autárquicas; mostram-se sem estratégia, sem uma ideia válida para o País. Vão viver sitiados até que este malfadado Governo caia, sem deixar saudades.



Arménio Carlos, um homem que se vem afirmando pela energia e determinação
e que me surpreendeu com as medidas que agora propôs


2.6. Medidas que me pareceram sensatas para cobrir o buraco que o Gaspar e o Passos andam de cabeça perdida a ver se conseguem tapar, são as da CGTP. Que o Governo, os partidos  e a opinião pública as ouçam com atenção e sem preconceitos, é o que se espera.

Entretanto, as confederações patronais também não querem que se taxe mais o trabalho, estando contra o corte dos subsídios, e vão propor medidas alternativas, como impostos acrescidos sobre o tabaco ou a energia. Muito bem.


2.7. Há uma certa tendência para se dizer que o mal deste Governo é a má comunicação: que não explica as medidas, que não sabe divulgá-las. Acho que dizer isso é atirar poeira para os olhos. O Governo comunica mal porque faz tudo mal feito.



Passos Coelho boceja, Gaspar está sempre noutra e Paulo Portas assobia para o lado:
- estas são 3 das cigarras responsáveis pelo desnorte com que Portugal está a ser (des)governado 


E esse é o pior dos males, ou seja, justamente, o mal é que as políticas são todas erradas. Podem ser boas para quem pretenda comprar o País a preço de uva mijona. Podem ser boas também para quem esteja a exercer funções de vendedor do País.

De resto, as políticas seguidas são estúpidas, erradas, malvadas. E não há boa comunicação que resista a uma política tão desgraçadamente má.


2.7. Quanto às sondagens que dão o PSD+CDS pelas ruas da amargura e o PS mal descolando, também não admira. Ou melhor, ainda me admira que haja alguém à superfície da terra que apoie o PSD e o CDS com as actuais lideranças e com as políticas que vêm pondo em prática mas, tirando isso, o que lamento é que o PS tenha uma liderança titubeante. É certo que António José Seguro agora parece vir arrebitando mas ainda assim é aquele estilo muito 'situação' numa altura em que os eleitores estão saturados das velhas politicas e pretendem ver algo de novo, uma nova atitude, um murro na mesa, palavras não estudadas, discursos menos redondos, discursos que pouco dizem, que não empolgam; as pessoas estão sedentas de uma política que avance de peito feito em defesa das pessoas, em defesa do progresso, do desenvolvimento, da felicidade.


3. Apenas uma nota final para Marcelo Rebelo de Sousa: pode estar de saia justa pois pertence e é ex-dirigente do PSD e, noblesse oblige, pode não lhe dar grande jeito desancar forte e feio em Passos Coelho. Talvez seja isso. Ou então viciou-se em manipular, em distorcer, em camuflar, em influenciar, em dizer meias-verdades. A verdade é que já me cansa. Com ar doutoral, vai fingindo que é isento e vai enganando os telespectadores. É nefasto o exercício de manipulação que leva a cabo aos domingos à noite na TVI tentando fazer crer que não há alternativa.

E há alternativa, há sempre alternativa, claro que há sempre alternativa.



Marcelo Rebelo de Sousa frente a Judite de Sousa:
Um domingo destes hei-de dar-me ao trabalho de enumerar as incorrecções,
meias-verdades e manipulações que leva a cabo na TVI


Marcelo Rebelo de Sousa, apesar da sua inteligência e vivacidade, é a imagem do mundo da velha política, da política dos ardis, das palavras viciadas, dos jogos de poder. Devia ter menos palco, menos tempo, porque, também aqui, há alternativas.


4. E, apesar disto já ir mais do que longo, não quero acabar mal. Permitam-me, pois, que acabe com arte, com poesia.



Casas feitas de letras ou casas construídas sobre letras - é o mundo de Lourdes Castro no CAM



Por isso, para acabar, escolho as letras, escolho as palavras, escolho um poema de Maria do Rosário Pedreira do seu último livro, Poesia Reunida:


Esgotamos os desacordos
em livros pequenos: lermos
juntos substitui a cama e as
conversas. talvez esse amor

estivesse escrito e, por isso,
ao virar a página, haja
sempre uma mão do outro lado,
quente, apertada na nossa.


**

Hoje actualizei o meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Caso ainda tenham paciência para continuar na minha companhia, muito gostaria de vos ver também por lá. Ao som de castanholas e de Boccherini, as minhas palavras voam reconhecidas e amantíssimas em volta de um outro poema de amor de Maria do Rosário Pedreira.

**

E só me resta desejar-vos, meus Caros leitores, uma boa semana, a começar já nesta segunda feira. Felicidades!