terça-feira, maio 31, 2011
Sean Riley & The Slowriders interpreta "Houses and Wives" - boa música de um grupo português
Tomara que o seu mérito seja reconhecido. Boa música, bela interpretação. São portugueses. Querem ouvir?
Siadap, Função Pública, Consumo Privado - a troika vai dizer-nos como é (enquanto Sócrates, Passos Coelho, Portas e os outros andam a comer bifanas, a beijocar crianças e velhinhas e a dançar com a mulherada aí pelo meio das ruas)
Paulo Portas em campanha |
Mas preocupante mesmo é que dentro de pouco mais de um mês têm que começar a ser produzidos resultados de acordo com o exigido pela troika e, em vez de estarem já a estudar a forma de os obter ou em vez de - como sugeriu Medina Careira - estarem a constituir grupos de trabalho mistos, os partidos continuam a portar-se miseravelmente nesta campanha eleitoral que é de uma aterradora indigência política e intelectual.
Passos Coelho em campanha |
Os partidos, aparentemente, ainda não cairam na real. Entretêm-se a divertir-nos com as suas estúpidas tiradas, com sound bites destituídos de sentido.
Sócrates em campanha |
Assim como parte da população que parece ainda não se ter dado conta do risco que estamos a correr. Parece que já ninguém se lembra. E, enquanto anda meio mundo entretido com as trocas de galhardetes dos líderes partidários, já cá temos nova delegação da troika a trabalhar. É natural, a primeira fatia da verba acordada já chegou e há que garantir que vamos conseguir pagá-la (com juros, claro).
E a função pública? Já terão percebido que o paradigma em que têm vivido está prestes a sofrer um sobressalto?
Não me levem a mal os que me lêem e são funcionários públicos. Como já referi tenho na minha família próxima funcionários públicos ou reformados da função pública (professores, médicos, militares). Por isso, que não se pense que me move qualquer coisa contra os funcionários públicos em geral. Claro que não. Mas acho que grande parte dos que conheço se habituaram de tal forma a uma forma de estar que não lhes ocorre que algo pode estar prestes a mudar e não será para melhor (para eles).
Deixem que vos conte.
Há pouco tempo fui convidada para um evento de tipo seminário. Na minha mesa, por acaso, ficou uma pessoa da Administração Pública. Durante a conversa que se estabeleceu, essa pessoa referiu, com ar desconsolado, que continuam a dar cumprimento ao Siadap (coisa que, percebi depois, é o sistema de avaliação de desempenho da Função Pública) apesar de agora não ganharem nada com isso.
Perguntei-lhe o que é que costumavam ganhar.
Falou de prémios e de pontos que vão acumulando, o que permite evoluir na carreira. Uma coisa tipo pontos FNAC ou pontos Continente.
Pela forma como falava, percebi que achava natural esse método e que era com pesar que referia que isso agora estava suspenso, que ‘sabe-se lá quando será retomado’, ‘espera-se é que depois contem com estes pontos’.
Eu sei que mandam as regras de etiqueta que nestas ocasiões nos fiquemos pelo small talk, ninguém está nestas coisas para ser maçado. Mas eu não sou dada a converseta da treta pelo que, ou estou calada, ou digo o que penso. Geralmente digo.
E disse: onde eu trabalho e onde uma parte dos meus familiares, amigos e conhecidos trabalha, somos avaliados todos os anos e umas vezes isso traduz-se num prémio, outras vezes em coisa nenhuma. A avaliação individual é ponderada pelo grau de atingimento de resultados face ao previsto, pelo que podem todos ser uns crânios que, se não se atingirem os objectivos da empresa, azarinho, não há prémio para ninguém.
Quanto a carreira isso é conceito que não existe. Existem benchmarks nacionais e internacionais, existe o mérito, existem – quando existem – oportunidades para se mudar de função. Agora carreiras…? Quando se está num sector em que se tem que garantir a competitividade dos produtos que se vendem, as coisas funcionam numa lógica de racionalidade e não há nada que se possa tomar por garantido.
As pessoas podem mudar de local de trabalho vezes sem conta, as pessoas podem ter que fazer coisas que representam o dobro da responsabilidade ou terem o dobro do trabalho, e, monetariamente, não terem qualquer compensação por isso. Têm pena? Pois têm. Quem é que não gosta de ganhar mais? Mas se as pessoas compreendem que há que travar uma luta pela sobrevivência, então dar-se-ão por felizes por continuarem a travá-la.
Claro que era muito bom, então não era? se, de tantos em tantos anos, déssemos todos um pulo na carreira (leia-se no ordenado). Mas conseguiríamos reflectir esse acréscimo de custos directamente no preço de venda dos produtos? Claro que não. Os nossos clientes querem é produto de qualidade, serviço de primeira e tudo a bom preço. E todos nós percebemos isso, lutamos por isso.
Do nosso ordenado todos os meses é retirada uma parcela para fazer face aos gastos do estado (IRS). Dos resultados da empresa é também retirada uma verba para fazer face aos gastos do Estado (IRC). Uma parcela da verba proveniente das nossas vendas é entregue também para fazer face aos gastos do Estado (IVA). [E não falo também da parte retirada aos trabalhadores mais cerca do dobro disso paga pelos empregadores para o fundo de pensões (mais de 30% da massa salarial, entre empregados e empregadores) porque isso são outras contas].
Este desenho deve ser alusivo ao Brasil mas é igualmente válido por estas bandas |
Mas o que me deixa um pouco chocada é que, em parte, é do nosso ordenado que são pagos os ordenados da função pública – função pública essa que acha normal isso das progressões automáticas da carreira e outras mordomias com que nós, nas empresas privadas, nem sonhamos.
Na mesa alguém disse, para amenizar, que na função pública os ordenados são inferiores - mas, contas feitas, chegou-se à conclusão que também não.
Depois falou-se que a nível da classe dirigente há algumas diferenças para menos na função pública mas, então, a pessoa referiu que, lá, a partir do cargo de director-geral (se não estou enganada) há direito a carro com motorista e coisas do género. Carros com motoristas. Ou seja, mais postos de trabalho improdutivos. Quem é que nas empresas tem motoristas privativos? Ninguém ou quase ninguém, casos muito raros. E, no entanto, na função pública ou nas forças armadas, isso é também considerado normal.
Mas não é! É um consumo de dinheiro de impostos completamente disparatado.
Agora que estou a escrever isto estou a lembrar-me que aqui há tempo fiz uma pesquisa na net e fui parar à notícia de um evento (talvez comemorando o fim de um curso, não me lembro bem), do que percebi maioritariamente frequentado por professores universitários ou investigadores, evento esse que metia almoços e beberetes, passeio de barco pelo Tejo, etc.
E, ao ver as fotografias daquele grupo de gente animada, de copo na mão, confraternizando na boa, pensei como é diferente a vida dos funcionários públicos, que têm emprego garantido, que não precisam de se preocupar com a sobrevivência da entidade para a qual trabalham, que têm orçamento para estes happennings enquanto nós, nas empresas, cortamos em tudo, em formação, em newsletters, em encontros de quadros, em jantares de natal, cortamos, cortamos, cortamos para que as nossas empresas se aguentem vivas, para que haja dinheiro para pagar aos colaboradores e a fornecedores, para que se consiga amortizar dívida, para pagar os impostos.
Infelizmente, as contas públicas desequilibraram-se de tal maneira, a dívida ao exterior agravou-se de forma tão dramática que batemos no fundo e chegámos ao ponto humilhante de terem que vir técnicos de fora para nos dizer onde cortar.
E vamos mesmo ter que mudar de vida.
É todo um minset que tem que mudar, são contas que vão ser feitas numa outra base, por quem não quer saber de carreiras, de mordomias, de direitos adquiridos. E vai ser dado um apertão nos hábitos de consumo. Agora vai funcionar a aritmética básica. E, com isso, vai ser alterado o status-quo de muita gente. E em pouquíssimo tempo - porque o documento aprovado impõe metas exigentes, porque os nossos credores não vão dar tréguas e porque isto é uma questão de sobrevivência nacional.
segunda-feira, maio 30, 2011
Marcelo Rebelo de Sousa e as sondagens (ou melhor, o Prof. Marcelo e a campanha eleitoral): ou o mau serviço que a TVI está a prestar ao País. E a razão que dou a Henrique Raposo relativamente ao artigo do Expresso neste sábado
Com o ar doutoral de sempre, Marcelo Rebelo de Sousa - que é um nome incontornável na Comunicação em Portugal e que tem inegáveis dons pedagógicos sendo, por isso, ouvido com respeito por largas camadas da população - revelou na TVI, na sua charla dominical, que antevê agora que Sócrates tem 30% de probabilidades de ganhar as eleições.
Há uma semana, dizia que essa probabilidade não passava de 10%. Ou seja, segundo o Professor Marcelo, as probabilidades de Sócrates ganhar, numa semana, triplicaram.
Com isto, Marcelo pôs o pé em matéria que lhe é estranha e, hélas, escorregou.
Marcelo move-se bem em terrenos que são os da subjectividade, os da opinião, os do aconselhamento (embora não seja um aconselhamento bacteriologicamente puro: geralmente é tendencioso ou envenenado).
Mas já revela algumas dificuldades quando o tema envolve números.
Mas se o assunto, para além de números, ainda envolve cálculos, aí é que Marcelo torce mesmo o rabo.
Ora bem. De acordo com as sondagens (e para melhor acertarmos, tomemos a média das sondagens – para que a lei dos grandes números faça a estatística ganhar maior adesão à realidade), as tendências situam os resultados sensivelmente na fronteira do empate técnico entre o PS e o PSD.
Ou seja, independentemente das percentagens que cada partido (PCP, BE, CDS, PSD, PS, etc) venha a obter, o partido com maior número de votos será um dos dois, PS ou PSD mas, encontrando-se quase empatados, a probabilidade de qualquer deles vir a ser o vencedor da noite, será de… cerca de 50%. Lapaliciano.
E isto é o que as sondagens têm vindo a revelar nas últimas semanas.
Umas adiantavam o PS por uma unha negra, outras adiantam agora o PSD de outro tanto mas, em média, as diferenças entre um e outro situam-se no intervalo da margem de erro.
Hoje temos de novo uma sondagem em que o PSD se distancia mais do PS mas, ao mesmo tempo, temos outra com uma diferença de apenas cerca de 1%.
Depende dos métodos, das amostras.
Portanto, seria bom se Marcelo fosse um pouco mais rigoroso no que diz.
Além disso, o que ele disse pode ter uma leitura perversa: se a tendência fosse para Sócrates triplicar a cada semana a probabilidade de vencer, então para a semana a probabilidade seria de 3x30% ou seja 90%, isto é, já teria a vitória no papo. Errado.
Tem razão o Henrique Raposo (que, inteligente como é, quando for mais crescido ainda há-de perceber que o mundo não é tão a preto e branco como agora ainda o vê), quando, no Expresso deste sábado, se atirou com vigor a Marcelo Rebelo de Sousa referindo que é uma pessoa que não cria valor, que não acrescenta, que não traça um rumo, nada.
Nisto concordo com Henrique Raposo: semana após semana Marcelo faz críticas, dá as tácticas, tenta fazer coaching (mas sempre procurando favorecer o partido a que pertence e é compreensível – o que já não é compreensível é que se faça de santinho, fingindo que está ali a dar conselhos pro bono nem faz sentido que a TVI lhe dê a tribuna que está a dar).
Também eu, ainda um dia eu gostaria de ver Marcelo Rebelo de Sousa a olhar mais longe, a usar a sua inegável capacidade pedagógica para ajudar a descobrir um caminho para o País, a delinear uma estratégia de desenvolvimento sustentável para Portugal.
Passos Coelho versus José Sócrates e Paulo Portas
Na sequência do meu post sobre Passos Coelho e a IGV, recebi um longo comentário do leitor Carlos ao qual me sinto no dever de responder mais circunstanciadamente do que fiz ontem à noite.
Diz o Carlos, e certamente com alguma razão que eu, até razoavelmente tolerante, deixo que a consciência se me tolde quando ataco Pedro Passos Coelho, o que contrasta com a minha benevolência para com Sócrates ou mesmo para com Portas.
No entanto, se sou tendenciosa é involuntariamente.
Já aqui várias vezes critiquei Sócrates e Paulo Portas e, de forma mais ou menos sintética, expliquei o que penso deles (aqui e aqui).
Devo dizer que, de há uns tempos para cá, voto sempre contrariada. Acho que o nível da classe política vem decaindo perigosamente e o resultado está à vista. Acabei há pouco de ouvir na SIC o Miguel Sousa Tavares dizer que ainda não sabe em quem votar e eu estou, mais ou menos, na mesma.
A partir de Junho estaremos a ser governados a partir do exterior e tomara que ao menos isso saibamos ser governados porque há sérios riscos de que nem isso consigamos acatar e que, não tarda, estejamos como na Grécia.
Não reconheço a nenhum dos actuais líderes partidários craveira moral ou intelectual que me tranquilize.
Para que fique claro o que penso deles:
A imagem de marca de Sócrates: à chuva, sem desistir, sem abrandar |
Sobre Sócrates: é um lutador, tem uma energia quase biónica, não sei onde encontra força anímica e resistência física para aguentar dia após dia, desde há tantos anos, tanta pressão, tanto contratempo, tanto ataque (devidos ou indevidos, não importa), como consegue, em cima disso, estar sempre tão bem preparado, saber números, saber rebater o que qualquer um lhe diz, e de manhã está numa reunião aqui, a seguir está em Bruxelas, depois está no norte, a seguir está no sul, e sempre a vender optimismo até ao limite do improvável (não creio que, quando omite, seja mentir por mentir - penso que o que ele quer é incentivar ao optimismo, pelo efeito de contágio, se transmitir boas notícias). Leva tareia e não esmorece, lançam campanhas de toda a ordem contra ele e não desaba. Não se percebe uma elasticidade destas num vulgar ser humano.
No entanto, isto não faz dele o primeiro ministro ideal. Em primeiro lugar porque por vezes é mais inteligente pedir ajuda do que tentar, até ao limiar do risco inadmissível, não a pedir; em segundo porque, perante o risco de derrocada iminente das finanças públicas, teria sido preferível cair na rua (se necessário fosse) do que aumentar funcionários públicos, do que ir de Pec em PEC. Deveria ter sido capaz de declarar que ou se parava de vez com a ilusão ou o país entraria em incumprimento. [No entanto, temos que reconhecer que tudo isto foi acelerado pela pressão das agêncais de rating e pela pressão da oposição que instilou nos mercados a desconfiança sobre a governabilidade do país].
É claro também que algumas coisas no passado dele me deixam muito incomodada: tirou um curso superior às 3 pancadas (tal como vários outros políticos o fizeram – mas o erro dos outros não desculpa outro o erro dele) e, dessa forma, menosprezou a necessidade de esforço para se alcançar um título académico, temos notícia de alguma chico-espertice nalguns esquemas e amiguismos – enfim, esse género de coisas não faz dele alguém de quem eu adorasse ser amiga pessoal.
Mas quando se vota, vota-se para que ocupe um cargo político, não para que seja nosso amigo pessoal.
E ele é patriota, é trabalhador, é um lutador. E isso conta.
Não incluo na lista das coisas que me incomodam o freeport porque isso ficou provado à saciedade que alguém usou o nome dele para meter umas massas ao bolso e que alguém, de outros partidos (e sabe-se quem exactamente), espalhou insinuações, falsas acusações, cartas anónimas para o denegrir. Isso ficou demonstrado e o caso está resolvido.
A imagem de marca de Paulo Portas: de chapéu, nas feiras |
Quanto a Portas nem vale a pena recuar ao seu passado, quando, no tempo do Independente, se entretinha a inventar parangonas para dar cabo de Cavaco Silva e do PSD. Ou ao tempo em que deu cabo de Manuel Monteiro, sem dó nem piedade. Ou que arranjou caldeiradas e incompatibilidades com Maria José Nogueira Pinto ou Luís Nobre Guedes, conseguindo que, um a um, se fossem afastando, acabando com quem lhe fizesse frente. Ou aos tempos da Moderna, do centro das sondagens ou, mais recentemente, às insinuações de que estará envolvido no esquema de corrrupção dos submarinos. Ou que também se dizia à boca pequena, ao tempo em que estava na Defesa, que haveria, sempre que se faziam grandes aquisições, uns frais latins (metáfora para ‘luvas’) para as hierarquias ao mais alto nível.
Mas nisto, é difícil provar-se pelo que falar para quê? Os alemães provaram que houve corrupção a portugueses no valor de vários milhões- agora a quem? Não sabemos, pelo que deixemos que a justiça siga o seu curso. De qualquer forma, a minha opinião pessoal é que a ter havido qualquer coisa, seria dinheiro para o partido e não para ele próprio. Seja como for, será grave porque terá saído dos cofres de Estado mais dinheiro do que devia para ir financiar um partido. Mas não o acusemos sem provas.
E há que reconhecer que vem amadurecendo, nota-se que está mais consistente. Provavelmente a influência da mãe tem sido benéfica. Está mais sóbrio, mais ponderado e, nunca se sabendo bem se é encenação, se é genuíno, tem tido dos melhores desempenhos nesta campanha.
Uma das primeiras grandes gaffes de Passos Coelho: a escolha do ex-BE Fernando Nobre para Nº2 do PSD, convidando-o para Presidente da Assembleia da República. Dois erros crassos. |
Chego a Passos Coelho. E, você, Carlos, tem razão. O sujeito tira-me do sério. E não, não estou a desdenhar para comprar por melhor preço. Não, nada disso, nem dado.
É que os dois anteriores têm defeitos, têm fragilidades, têm o que você quiser - mas são políticos, têm uma agenda, seguem uma linha de rumo. A gente pode discordar, mas sabe o que é que eles defendem.
Agora Passos Coelho é um caso mais sério. A questão é que não tem espessura como político, nem tem jeito, nem envergadura. É um erro de casting. Talvez estivesse melhor num musical do La Feria (se tivesse passado no casting) ou à frente de uma pastelaria. Mas como político? Um dia diz uma coisa, outro dia diz o contrário. Lança temas para os quais não se preparou, depois desdiz-se, põe grupos a estudar assuntos mas não os coordena, pelo que saem coisas contraditórias que ele não sabe dirimir, divulga um programa e, à primeira crítica, prontifica-se a mudar de rumo – em suma: é um desastre.
Tem um ar afável, parece que quer agradar mas, no entanto, há nele qualquer coisa de postiço. Aquele vídeo que circula na net, aquela cena da enxada, aquele arzinho não mostra nada de bom, resvala para o baixo nível.
Mas o grave mesmo é a parvoíce intrínseca, é dizer uma coisa no país e dizer o contrário, em inglês, quando fala para o estrangeiro, é hoje em campanha em Valença andar a falar espanhol e as coisas que diz, é o disparate do aborto, são os sucessivos disparates.
Repare como os nomes mais sonantes do PSD se afastaram dele. Apenas, por dever de ofício, se aproximaram agora na recta final da campanha e apenas muito relativamente.
É que não se pode ser primeiro-ministro assim. A questão aqui nem é de simpatia ou antipatia, ou de falta de isenção.
A questão é apenas que PPC não tem perfil, não tem preparação, não tem condições, não cumpre os requisitos mínimos para ocupar um cargo de responsabilidade política. Talvez apenas presidente da Junta de Massamá e mesmo aí seria bem capaz de armar confusão.
E é isto, escrito com toda a minha tolerância.
Voa menino, vai com as gaivotas do Tejo
Todos os que andamos junto ao Tejo, todos os que amamos a maresia, os mares, os céus, todos os que observamos a liberdade das gaivotas quando abrem as suas grandes asas e majestosamente atravessam os ares, cruzando ou mergulhando no rio, todos nós sentimos, por vezes, a vontade de as imitar.
Que vontade de voar.
Que vontade também de mergulhar nas águas frescas do rio, que vontade de ser parte integrante desta beleza.
Há alguns meses fotografei um grupo de jovens que em Cacilhas, junto à fragata D.Fernando e Glória, mergulhava num estreito braço de rio, de cima uma velha ponte. Receei. Não sei se é fundo ali, não sei se é seguro, é tão escuro, é tão estreito. Tive vontade de os ir aconselhar. Mas eles estavam tão felizes. E estavam tão perto da fragata na qual se encontram marinheiros que admiti que, se fosse perigoso, já teriam sido proibidos.
Depois disso voltei a vê-los. Logo que vem o tempo quente, lá estão eles. Brincalhões, ruidosos. Grandes mergulhos. Parece que vão voar. E voam antes de mergulharem.
Mas esta sexta feira tive uma triste notícia. Um rapazinho, aparentando 14 anos, voou e mergulhou para não mais voltar à vida. Eram quatro meninos e um não voltou à superfície. Fiquei tão triste, tão aflita por dentro. A morte de uma criança é sempre uma coisa tão infinitamente triste. Seria um dos que ria e saltava como se fosse voar e que eu fotografei?
Tomara, menino, que andes agora a voar sobre o Tejo, tomara, menino, que agora possas sentir o ar fresco dos espaços infinitos. Voa por todos nós, menino.
Uma das fotografias que fiz no fatídico local há uns meses atrás |
Fronteiras para um Próximo Futuro na Gulbenkian - 9ºs Encontros de Fotografia de Bamako
Até 28 de Agosto o Programa Próximo Futuro da Fundação Gulbenkian apresenta a Mostra de Fotografia Africana e Afro-Americana - os Encontros de Bamako, exposição colectiva de fotografia e vídeo, de seu nome Fronteira. Absolutamente a não perder.
sexta-feira, maio 27, 2011
Pedro Passos Coelho e o aborto - ou quando a estupidez ultrapassa os limites da razoabilidade
Conheço uma mulher que hoje é professora do ensino secundário que, enquanto fazia a licenciatura à noite, trabalhava de dia como secretária. Vivia, na altura, em casa de uma irmã ligeiramente mais velha.
Era muito trabalhadora, muito prestável e, pela própria formação académica, destacava-se das colegas.
Toda a gente gostava muito dela.
Lá, conheceu um rapaz, que estava nas mesmas circunstâncias de trabalhador-estudante e, decorrido algum tempo, começaram a namorar. Eram um casal bonito, simpático, ambos muito prestáveis, muito eficientes.
Um dia aconteceu uma coisa inesperada. Sem mais nem menos, caiu no chão do escritório, esperneou, espumou, etc, e, percebendo o que estava a acontecer mas sem que ninguém soubesse de antecedentes, chamaram a emergência médica. Era, obviamente, um ataque epiléptico.
A seguir fez exames que confirmaram o diagnóstico e teve que começar a fazer tratamento preventivo.
Eis senão quando, algum tempo depois, soube que estava grávida.
Havendo probabilidades que o tratamento tivesse afectado o feto, a viver em casa da irmã, a estudar, a gravidez foi, pois, uma notícia indesejada.
Na altura ainda não havia os meios de diagnóstico que existem hoje, nem sequer ecografias. Depois de muita indecisão, muito sofrimento (ainda mais, sendo católica praticante), resolveu interromper a gravidez. Como é óbvio, toda a gente a apoiou.
Lembro-me bem dela nesse dia ao fim da tarde. Branca, olheirenta, cheia de frio, a tremer de frio ou de angústia, infeliz, lágrimas a quererem romper-lhe dos olhos. Contou como foi, o andar ao cimo de umas escadas, a marquesa num quarto inóspito, a parteira muito insensível, a sensação de que aquilo não devia estar a ser feito naquelas condições, e depois o pagamento, o vazio. Lembro-me de mim, muito novinha, muito cheia de pena, sem saber como consolá-la.
Durante muito tempo não conseguiu falar do assunto, foi um bocado dela que foi arrancado e nada preenchia esse buraco.
Mais tarde casaram, um casamento muito bonito, felizes, felizes. Algum tempo depois, no entanto, uma enorme desgraça abateu-se sobre eles mas isso não faz parte da história de hoje.
Uns anos mais tarde (mas ainda antes do referendo), um colega meu passou por uma situação também nefasta.
A mulher contraiu rubéola durante a gravidez e foi comprovado que o feto estava afectado de forma irreversível. Foi medicamente aconselhada a abortar e, havendo este motivo, foi aconselhada a fazê-lo no hospital. Contudo, para cumprir com todas as regulamentações, teve que fazer uma série de exames, esperar por resultados, ir a outras consultas, etc. O tempo ia passando, a barriga ia crescendo e o processo andando. A angústia dela e do marido eram indescritíveis. Só queriam que o pesadelo acabasse.
Salvo erro já ia no 5º mês, uma barriga bem redondadinha, quando finalmente foi admitida no hospital para abortar. Contudo, o processo acabou por ser duplamente insuportável. Induziram-lhe o parto. Ou seja, passou pelo período das contracções, dores, expulsão pela via normal, e agora não sei exactamente o que se passou mas lembro-me de ele ter dito que tinham cortado o feto dentro da barriga.
O processo foi de tal forma traumatizante que ela acabou por ficar com uma forte depressão, durante algum tempo teve pesadelos e ele ficou também bastante afectado.
Além disso, teve que tratar do enterro do feto e passado algum tempo recebeu um aviso de que tinha que registar, dar nome. Era uma menina. E eles não conseguiam escolher nome, registar um feto a quem tinha acontecido o que aconteceu. Mas foram obrigados a fazê-lo. (Ao escrever isto não sei precisar se a sequência foi esta ou o contrário)
Ele só dizia que mais valia que o tivessem feito clandestinamente.
São dois casos reais distintos mas ambos traumatizantes.
Poderia referir outros que, cada um à sua maneira, seria igualmente traumatizante.
Ninguém consciente interrompe uma gravidez de ânimo leve. É sempre um processo doloroso, interiormente doloroso, fisicamente dilacerante.
Não há maior benção para uma mulher do que ter um filho. Qualquer mulher, quando está grávida, o que mais deseja(ria) é ter o filho e que venha bem. Nenhuma mulher vai decidir abortar apenas porque a lei o permite. Se resolver interromper a gravidez é porque motivos imensos, incontornáveis, assim o obrigam. E decido-lo-á com infinita tristeza.
Não há maior benção para uma mulher do que ter um filho. Qualquer mulher, quando está grávida, o que mais deseja(ria) é ter o filho e que venha bem. Nenhuma mulher vai decidir abortar apenas porque a lei o permite. Se resolver interromper a gravidez é porque motivos imensos, incontornáveis, assim o obrigam. E decido-lo-á com infinita tristeza.
Da série dedicada ao Aborto: Paula Rego |
Pode acontecer que em meios depauperados, de pobreza absoluta, ou em meios de droga ou de extrema carência, as mulheres percam a noção dos valores da vida e não lhes custe abortar. Mas são casos em que a intervenção deve ser no sentido de ajudar essas mulheres e não de as proibir do que quer que seja.
Agora, em condições mais ou menos normais, nenhuma mulher interrompe a gravidez por desporto. Se o decide fazer, é certamente por desespero, por infortúnio.
Levá-la a fazê-lo clandestinamente, à margem da lei, sem condições médicas, é um crime. Levar uma mulher traumatizada, infeliz, vazia, a enfrentar a justiça por ter feito um aborto clandestino, sentando-se no banco dos réus, é um crime.
Mulher de paula Rego |
Eu nunca abortei e, se por algum motivo, alguma vez tivesse tido uma gravidez indesejada ou problemática, não sei se teria tido coragem para o fazer porque amo crianças, amo a vida, sou fanática pelo mistério e milagre que é a maternidade. Mas só quem está a viver as circunstâncias é que pode ajuizar das suas próprias razões pois, tal como eu amo a vida, também todas as mulheres que o fizeram a amam.
Demi Moore grávida fotografada por Annie Leibovtz |
E é justamente pelo que eu sinto, pelo que eu sei, pelo que conheço, que afirmo aqui com toda a minha convicção que só alguém muito estúpido, mas mesmo muito estúpido, é que pode, numa campanha eleitoral, numa altura em que o país atravessa uma crise financeira e económica tão grave, vir levianamente relançar o tema da IGV, falar em voltar a fazer um referendo, como se isto pudesse ser tratado como um tema banal, como mais uma arma de arremesso na campanha.
Mas ainda pior: a minha impressão é que isto foi coisa do momento, resultou da pergunta que lhe fizeram, não de convicção interior dele (se é que ele tem alguma verdadeira convicção). A ideia com que fiquei é que, sendo uma cabeça de vento, uma maria vai com as outras, foi o que lhe veio à cabeça quando lhe fizeram a pergunta numa entoação que o levou a inflectir nesta direcção.
Ora este é um tema sério, sensível e, sobre ele, a sociedade portuguesa já reflectiu, já se manifestou de forma inequívoca. O que decorreu do referendo, a despenalização dentro de determinadas circunstâncias, tem estado a ser executado sem sobressalto.
O que dizem os médicos é que o número de IGV's é inferior ao previsto, vai decrescendo de ano para ano e é inferior à média praticada em países congéneres. Claro que há casos, em número não significativo, em que ainda não se conseguiu educar as mulheres para a necessidade da contracepção: são casos marginais, associados a vidas in the border line. Mas estes casos não resultam da lei, resultam da desestruturação da vida destas muheres. Fá-lo-iam em qualquer circunstância. Há ainda um esforço de educação e sensibilização a fazer nesta área mas é um work in progress. Como em tudo na vida, há sempre aspectos a melhorar.
Por isso, acho imperdoável e miserável que, num momento em que Portugal enfrente uma crise política, social, económica e financeira grave, Passos Coelho tenha falado com ligeireza eleitoralista de um tema tão íntimo, tão sério. Seja qual o motivo que o levou a lançar para a rua, numa altura destas, o tema do aborto, revolta-me. É demais. É estupidez a mais.
quinta-feira, maio 26, 2011
Passos Coelho não suporta Pacheco Pereira ... e compreende-se
Passos Coelho é iletrado politicamente, iletrado filosoficamente - ou melhor, para resumir: é iletrado intelectualmente.
M'ESPANTO ÀS VEZES , OUTRAS M'AVERGONHO ... What?! |
Por isso, como é óbvio, Passos Coelho não compreende pessoas como Pacheco Pereira. Não percebe o que ele diz, não percebe o que ele quer. Não o percebe. Ponto.
E, não percebendo, fica irritado. E, ficando irritado, quer é vê-lo pelas costas.
E, querendo vê-lo pelas costas, não descansa enquanto não o desacreditar publicamente. As acusações ou insinuações poderão ser de deslealdade partidária, de excesso de protagonismo pessoal, ou de outra coisa qualquer. A tentação para isolar Pacheco Pereira dentro do PSD, para o afastar, serão grandes.
Passos Coelho, como todos os sujeitos fraquinhos, teme quem lhe é superior.
É este o problema dos medíocres com poder: só se sentem bem rodeados de quem lhes seja inferior.
PPC ainda não chegou 'ao pote' e já começa a dar mostras do que fará se lá chegar. Se essa pouca sorte nos acontecer vê-lo-emos rodeado de Relvas, Moedas, Marco António e outros 'intelectuais' do género.
E nem me admirará se algum deles for o seu adviser para a cultura. Pessoas assim nem sabem que não sabem. São um perigo.
'Ou deitas abaixo o Governo, ou deitamos-te nós a ti abaixo' |
Assustador.
Let's get uptaded ladies: it's butterfly time! Ao som da Kate Perry, assistamos ao desfile da Victoria's Secret Fashion Show 2010 2011
Hoje estou em dia de repetições. Abaixo a Leibovitz de que tanto gosto e agora a lingerie sensual e festiva da Victoria's Secret.
As mais requisitadas top models ao serviço do sonho: cores, brilhos, mariposas, alegria, joie de vivre.
Enjoy, ladies and gentlemen.
A grande Annie Leibovitz fotografa Marion Cotillard, Lady Dior in red
Não é a primeira vez que aqui trago La Leibovitz, one of the Great Ladies of Photography.
Hoje temos 'behind the scenes' com a Cotillard, a mulher de vermelho para a Dior.
Enjoy.
Um dia chegámos lá, era uma casa no meio do mato
Um dia chegámos lá, era uma casa no meio de mato. Cheirava a casa fechada, estava escura, as mobílias eram escuras, enchiam a casa de forma a torná-la mais escura ainda.
Mas tinha uma vista para a serra, tinha uma aldeia ao longe, ouviam-se os sinos.
E as crianças subiram aos quartos e um disse aqui é o meu e o outro subiu mais um lance e disse aqui é o meu.
E por alguma razão sentimos que ali era a nossa casa.
E por alguma razão sentimos que ali era a nossa casa.
Depois foi um longo calvário administrativo, anos. Mas nunca nos ocorreu desistir.
E pacientemente fomos desbastando o mato que, todos os anos, crescia ingovernável. Ao longo de anos desbastámos arbustos, alguns foram transformados em árvores. E plantámos árvores.
Todos nos diziam, nós próprios ainda dizemos, que é impossível plantar ali o que quer que seja. Cavamos e só aparecem pedras.
Todos nos diziam, nós próprios ainda dizemos, que é impossível plantar ali o que quer que seja. Cavamos e só aparecem pedras.
Pedras, pedras. E carregámos pedras de um lado para o outro, algumas pusemo-las ao alto, parecem animais.
Uma parte do terreno está rebaixada. Explicam-nos. Isto era uma pedreira. Daqui saía a pedra para as calçadas de Lisboa. E existe uma gruta. Nunca lá entrámos, de fora vemos que é uma gruta muito funda, não sabemos onde vai dar. Receamos que desabe sobre nós, se lá entrarmos. Temos assim um mistério. Talvez sejam corredores infindáveis, talvez vá até ao centro da Terra.
Como o terreno é assim, não é possível abrir covas muito fundas, e, então, compramos árvores ainda pequeninas, um palmo não mais. Nos livros vemos que levarão vários anos a fazerem-se grandes. As crianças, que ainda não conhecem que a vida é longa, perguntam. Mas para que vão plantar árvores que só vão ser grandes quando vocês forem velhos. E eu respondo com uma frase que uma vez li, de D. Elton Truebold, ‘o homem começa a descobrir o sentido da vida quando planta árvores á sombra das quais sabe que nunca se sentará’. As crianças aceitam o argumento.
Mas as árvores cresceram, e nós (que ainda não somos velhos...) agora sentamo-nos à sombra dessas árvores e as crianças que, entretanto cresceram, também se sentam à sua sombra. E novas crianças nasceram e todos nos sentamos à sua sombra.
Às vezes vejo fotografias de como era no início. Não havia árvores, não tínhamos uma sombra, não havia caminhos. As crianças andavam de bicicleta na estrada pública que quase não tinha carros. Ainda tínhamos connosco a nossa amiguinha querida, tão alegre, tão meiga, que nos abandonou há um ano e de que eu ainda não consigo falar, nem sequer escrever, sem que o coração me estremeça e as lágrimas teimem em sair. Um dia falarei dela, agora ainda não.
E tínhamos também connosco familiares que tanto gostavam de lá estar.
Mas é assim mesmo a vida. Não estão esses, estão muitos outros que entraram entretanto na nossa vida.
E todos os anos por esta altura a natureza rebenta com todo o seu vigor e eu ando fascinada de flor em flor, fotografando-as mil vezes. E depois vem o verão e as cigarras ficam loucas, e sabe bem estar à sombra da grande figueira - com aquele doce aroma a ‘under a fig tree’ - que faz sombra atrás da casa, e os figos ficam grandes e levam os ramos até ao chão. E depois vem o Outono e fica aquela temperatura doce de que tanto gosto e a vinha virgem fica ao rubro e as folhas caem e eu ando a varrer porque gosto muito de varrer e a seguir vem o Inverno e as árvores ficam despidas e eu gosto delas também assim, e chove muito e os muros e a terra ficam cobertos de verde, de musgos, e acendemos a lareira.
E agora temos caminhos, recantos e muros onde eu escrevo poemas e faço desenhos, onde se colocam azulejos com desenhos, com poemas, e há pinhas e há bolotas, há nêsperas e laranjas, há uvas, há flores e há crianças grandes e crianças pequenas. E à hora de almoço ouvimos os sinos da aldeia e da vila mais próximas, e ouvimos os pássaros que ali fizeram também a sua casa. E sabemos que há coelhos nas tocas. Ali é também a casa deles.
E nós, sempre que podemos, é para lá que rumamos porque não há sítio no mundo onde nos sintamos mais felizes do que ali, in heaven.
quarta-feira, maio 25, 2011
Christine Lagarde pour le FMI - bonne chance pour vous! (et, aussi, pour nous)
Christine Lagarde que, no pico da crise mundial, afirmou que o problema residia no excesso de testosterona no topo das instituições financeiras internacionais, correspondendo aos vários apelos europeus que se vinham a fazer sentir, anunciou-se hoje como candidata a directora geral do FMI.
É uma excelente notícia.
Christine, que reúne, pois, o apoio de grande parte das instituições e governos europeus, é uma pessoa extremamente popular e não apenas em em França: a sua competência é unanimemente reconhecida.
Anunciou que porá ao dispor do FMI o facto de ser experiente, competente e mulher. E o facto de salientar o facto de ser mulher como uma vantagem explícita é um bom augúrio. Quando uma mulher se acha indiferenciada quanto ao género quando desempenha uma função, já fico de pé atrás.
Christine Lagarde, a rainha da alta finança, uma entre iguais - ou melhor, primus inter pares |
Como ontem referi, no desempenho de muitas funções há vantagens notórias em ser-se mulher (porque constroem redes mais sólidas e duradouras, porque são mais multi-tasking, porque mais facilmente desenvolvem empatias o que é fundamental nos relacionamentos [nomeadamente nos profissionais], etc).
Christine Lagarde, é, além do mais, uma mulher do seu tempo. Muito segura e profissional, sem descurar a elegância, nas suas impecáveis toilettes, ela é bem a francesa bcbg, bon chic bon genre, chique, sofisticada.
A mim, se há coisa que me desagrada é ver aquelas mulheres muito neutras, sem uma joiazinha, sequer uns brinquinhos, tailleur cinzento de calça casaco, corte direito, camisa impessoal, modos de executiva assexuada, sempre disponíveis para andar de viagem, para chegar a casa às quinhentas, para jantar fora em serviço, como se não tivessem família ou vida própria. São umas chatas.
Vamos ver se vinga a sua candidatura, mas tomara que sim. Era o pior que, nesta altura, poderia acontecer a esta Europa mal parida, mal desenvolvida, com graves problemas de crescimento, com graves assimetrias, com uma população estagnada, com os nacionalismos a borbulharem um pouco por todo o lado, é que, à frente do FMI, ficasse algum macho man neo-liberal, linha dura, deixá-los falir, deixá-los aprender, há que concentrar a ajuda nos pontos do globo.
Vamos, portanto, torcer por Christine, the silver lady (parece mais velha do que, na realidade é, está nos 55 anos, mas aquele cabelo branco fica-lhe a matar).
Livros e écharpes - ninguém é perfeito, meus amigos...
Livros e écharpes à mão de semear |
Por isso, por essa associação de ideiais, apeteceu-me pegar nelas e juntar-lhes alguns livros em processo de leitura ou consulta (... wishful thinking... acabo sempre para não ter tempo para os ler a todos, pelo menos como queria, como devia).
Se me permitem:
- 'O acidente' de Isael Kadaré
- 'Um promontório em Moledo' de António Sousa Homem
- 'Nenhuma palavra e nenhuma lembrança' de Manuel António Pina, Prémio Camões 2011
- 'Algo parecido com isto, da mesma substância' também de Manuel António Pina
- 'Relâmpago - Revista de Poesia', Nº 27, recheadinha como um ovo, um apetite
- 'O quarto azul - e outros poemas' de Rui Caeiro com ilustrações de Bárbara Assis Pacheco
- 'Plast&Cine' - Pintura de memórias . Emília Nadal, por Ana Maria Gastão, Yvette Centeno et al
Como objecto o Plast&cine é muito bonito, tem uma capa agradável ao toque, tem aquelas cores late spring da minha écharpe, e, para além dos textos, tem fotografias, ilustrações, imagem de pinturas. Ainda só o folheei mas estou desejando de o ter nas mãos, com tempo. É das Edições Cão Menor com tiragem de apenas 500 exemplares. Precious.
Quanto ao livro de Rui Caeiro, uma edição da Letra Livre com apenas 300 exemplares (lucky me), estou encantada e, a propósito de ler com tempo, não resisto a deixar-vos aqui um pequeno poema:
Agradeço ao amor os poemas que há
no céu e o fazem parecer azul
próprio para olhar recordar
demorada e esquecidamente
E, já agora, por azul e por vícios, aqui está uma fotografia que fiz há bocado, quando cheguei a casa, já quase caía o dia.
Num imenso azul, a elegante ponte Vasco da Gama é apenas uma sugestão, e o navio encarnado não passa de um simples enfeite passageiro |
'Women rule, women save, women waste, women decide' - então, se querem ganhar, talvez não seja má ideia prestarem atenção à opinião das mulheres
Na senda dos posts anteriores, nomeadamente das recomendações de Tom Peters (e de muitos outros!), volto às linhas de força das suas conferências, em que explica que as mulheres deverão ser o target market de qualquer empresa ou organização.
Os estudiosos deveriam analisar se isto se aplica à política, ou melhor, se em politica, as mulheres são também as principais decisoras.
Não sou feminista. Apesar de trabalhar num meio essencialmente masculino, não me interessam os argumentos feministas. Em geral, não acho que as mulheres sejam melhores nem piores que os homens, nem me parece que homens e mulheres devam ser olhados como iguais porque não são. Há diferenças que devem ser valorizadas. O que deve haver é igualdade de direitos, em sentido genérico.
Ao longo da minha vida profissional tenho chefiado homens e mulheres (só fui chefiada por homens) e tenho colegas homens e mulheres (maioritariamente homens, ou melhor, até há pouco tempo, exclusivamente homens) e identifico claramente diferenças significativas entre uns e outros - e essas diferenças devem ser reconhecidas e aproveitadas no bom sentido.
E, em minha opinião, é pena, muita pena que haja tão poucas mulheres em lugares de gestão de topo quer nas empresas, quer nas organizações em geral, nomeadamente nas políticas.
Mas passo a palavra a Tom Peters (e, tal como referi no post abaixo) volto a colorir e aumentar a letra tal como ele costuma fazer:
* As mulheres governam. As mulheres poupam. As mulheres gastam. As mulheres decidem.
* Mulheres > 2 x (China + Índia)
(Ou seja, no conjunto, as mulheres representam um mercado crescente, maior que a China e a Índia juntas, maior que o dobro, na realidade.)
=> Esqueçam a China, a Índia, a Internet: a economia é conduzida pelas Mulheres!
Segundo Tom Peters conta:
Foi feito um teste muito simples. Seleccionou-se um homem médio (*) e uma mulher média e foi-lhes feito o mesmo pedido: que partissem da mesma entrada de um grande centro comercial e que comprassem um par de calças GAP. Não lhes foi fixado um budget nem limite de tempo.
(*) Médio a nível estatístico
Ambos atingiram o objectivo.
Mas de formas totalmente distintas:
> O homem começou por se informar onde era a loja GAP, dirigiu-se lá e regressou ao ponto acordado. Levou 6 minutos e gastou o valor das calças, $33.
> A mulher percorreu calmamente todo o centro comercial, gastou 3 horas e 26 minutos e gastou $876.
E nada de conclusões precipitadas - e agora sou eu a falar : que os homens não façam um sorrisinho sarcástico porque, daqui, não se pode concluir que as mulheres são fraquinhas da cabeça, fúteis, etc.
Há de facto uma outra forma de ver as coisas: as mulheres são mais curiosas, mais aventureiras, descobrem oportunidades, adquirem conhecimentos de forma mais espontânea, comparam antes de comprar, e, reconheçamos: estimulam o consumo que é um dos grandes motores da economia.
Volto a dar a palavra a Tom Peters:
E nada como valores objectivos.
Segundo um estudo desenvolvido há já alguns anos, as mulheres são decisoras nas seguintes percentagens por área:
- Mobiliário – 94%
- Férias – 92%
- Casas – 91%
- Electrodomésticos – 51% (embora em 66% quando se trata de computadores para casa)
- Carros – 68% (mas influenciam em 90%)
- Assuntos de saúde – 80%
- Contas bancárias – 89%
Eu de novo: Muitos mais poderia referir mas escuso de continuar, não é?
E poderia dissertar sobre o absurdo que é continuar a negligenciar esta realidade. Algum desses cavalheiros que por aí andam a dizer disparates, de comício em comício, a acusarem-se mutuamente, alienados da realidade que é o acordo com a troika, alguma vez pensou no que a principal fatia do eleitorado (as mulheres) pensa dessa forma de fazer política? Aposto que não.
E porque se deixam as mulheres governar por quem não reúne condições para tal?
E porque deixamos que as mulheres estejam relegadas para secundaríssimo plano? As únicas mulheres que aparecem nos nossos governos são em minoritário número e apenas em pastas ligadas à área social ou cultural.
O que se passa, especialmente cá em Portugal, é uma certa indolência feminina, nomeadamente a nível político.
E porque deixamos que as mulheres estejam relegadas para secundaríssimo plano? As únicas mulheres que aparecem nos nossos governos são em minoritário número e apenas em pastas ligadas à área social ou cultural.
O que se passa, especialmente cá em Portugal, é uma certa indolência feminina, nomeadamente a nível político.
Percebe-se: não há pachorra para andar em comícios trauliteiros, a aturar esta gentinha que tomou conta dos partidos, a ser lambuzada pelas ruas, a ter que subir a palcos para gritar banalidades. Ou a ter que aturar demagogias, jornalistas impertinentes, a não ter fins de semana, jantares em casa com a família, sossego.
Mas acho que um dia destes vamos ter que deixar de estar aqui a escrever ou a ler blogues e vamos ter que ir à luta.
Minhas amigas leitoras, um dia destes vamos ter que nos chegar à frente, ok? |
terça-feira, maio 24, 2011
Não me interessa nada que as sondagens de hoje apontem para empate. O que se está a passar nesta campanha é baixa política. É alienação. É estupidez. Permitam-me que hoje partilhe convosco alguns conceitos de gestão, pode ser que se apliquem à política
Ontem referi aqui uma conferência a que assisti com Tom Peters, especialista internacional em gestão, autor de best sellers (In Search of Excellence é um deles), reputado consultor e conferencista.
Uma dúzia de ideias chaves, interpretadas com profissionalismo, uma mise-en scène animada e ilustrada com exemplos apelativos, convincentes, e saímos de lá a dar por bem empregue o tempo e o dinheiro que a conferência custou (e que não é pouco).
O que ele diz destina-se a empresas e organizações em geral.
Mas hoje lembrei-me de ver em que medida algumas daquelas ideias podem ser úteis na política.
Aqui vos deixo (com letras grandes e a cores, à semelhança dos powers-points de Tom Peters) as seguintes ideias que, definitivamente, não estão a ser seguidas nem nesta campanha, nem na política portuguesa em geral - em que, sistematicamente, assistimos a ataques pessoais, em que os adversários políticos se relacionam como inimigos, em que mais parece estarem ao serviço dos partidos ou das corporações a que pertencem do que ao serviço dos outros:
Don’t let the enemy rule your life
An organization is people serving people. As organizações existem para servir. Ponto. Os líderes vivem para servir. Ponto.
K = R = P
Kindness = Repeat Business = Profit
e, já agora, uma observação:
O problema raramente, ou nunca, é o problema. A resposta ao problema acaba invariavelmente por se tornar o verdadeiro problema.
PHI, um partido ganhador - Receita para ganhar eleições
No post abaixo estive a falar de coisas aborrecidas, apostas perdedoras. Agora apetece-me dar a volta à situação.
Aqui há tempos fui a uma conferência do Tom Peters. A mensagem dele é simples. Quem quiser estar no mercado tem que visar um target: as mulheres.
Tom Peters |
Ele explicava: 1. As mulheres são em maior número que os homens; 2. Num casal, as mulheres é que decidem 3. As mulheres são colectoras (leia-se compradoras), etc, etc
(Se quisermos ainda requintar na pontaria ao target: 'mulheres a partir da meia-idade' pois a população sénior é cada vez mais o segmento dominante - e, antes da falência da segurança social, com maior poder de compra....)
Ora, assim sendo, um partido, para ser ganhador, deverá apresentar uma gama de produtos que as mulheres apreciem.
E portanto, na sequência do post de ontem e em complemento aos nomes já apontados aqui deixo mais umas quantas sugestões. Não sei se isto dos partidos é como na selecção de futebol em que os jogadores têm que ser portugueses. Mas também não será grave: naturalizamos os que forem estrangeiros.
Se os que aqui refiro tomarem conhecimento do desafio e alinharem, tanto melhor. Senão, aceitamos sósias.
Claro que terão que se sujeitar a provas de casting e a uns testezitos psicotécnicos ou, melhor, a um assessementzito mas se calhar nem teremos que ser muito exigentes (não é preciso muito para se ser melhor que os que hoje para aí andam na política nacional).
Robert Niro, um homem muito especial, bem em todos os registos, com uma inegável virilidade, uma presença fortíssima |
Ah o que eu gosto deste Malkovich... perverso, polémico, sexy, doido, inteligente, provocador |
Alguém ainda duvida que é Special...? Tem um killer instinct que o leva a facturar, facturar (embora eu lhe sugerisse que diminuísse ou suprimisse a aliança, it´s too big) |
Francisco José Viegas quase que poderia ser admitido no PHI... mas tinha que perder alguns quilitos e teria que sair já do PSD, aquilo não e sítio recomendável, ainda se estraga |
Concluindo: apelando ao meu espírito empreendedor, estou mesmo capaz de formar o PHI, Partido dos Homens Interessantes.
Estou até capaz de propor à SIC ou à TVI que me acompanhe neste processo.
Já estou a imaginar longas filas de homens e eu, a Ana Cristina Leonardo, a F. e a Magnólia a fazermos de júri. Ora dancem lá, ora cantem, ora andem, ora ponham um joelho em terra, ora digam um poema ... e nós a fazermos trejeitos de desdém ou a rirmos que nem umas perdidas. E até poderíamos depois fazermos umas eliminatórias para escolhermos o líder do partido.
Garantido: nas eleições seguintes, a vitória era do PHI.
Alô, alô! Alguém das televisões a ler-me? Não é uma boa ideia?
(Caro Luís, você que me parece ser um marketeer out of the box, o que me diz?)
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