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terça-feira, outubro 10, 2017

Até que a morte os separe


Vivendo com o mesmo homem há cinquenta mil anos, continuo sem conhecer a receita para uma coisa assim. Acho que é como aqueles bolos que saem bons sem a gente perceber bem porquê. Acasos. E, uma vez tendo acontecido o acaso e se parece ser coisa para resultar, pois então dar-se a gente por agradecida e fazer tudo para que o momento inicial de descoberta e paixão se mantenha.

O que eu posso dizer de certeza absoluta é que deve haver atracção física. Sem isso é para esquecer. Mas também companheirismo, tolerância, respeito, convicção de que qualquer outra alternativa seria pior. E deve ser uma coisa na base da boa onda, vontade de estar junto porque estar junto é estar-se bem. 

Mais ou menos isto. Poderia, é claro, juntar mais mil razões mas não vale a pena pois é variável. O que eu gosto, espero eu que não haja muitas mais a gostar. 

Olho quem passa à minha frente e tento perceber os casos em que, sem sombra de dúvida, os laços são mesmo para valer. E é tão claro....

Juntos, abraçados contra a morte.
Ao silêncio dos amantes 
Abraçados contra a morte



É a forma como andam, a afinidade até na forma como se vestem, é a forma como conversam. É, certamente, as palavras que usam para se beijarem.

Dois corpos que caminham para a fusão.


Mesmo quando cada um olha para seu lado, logo, logo os olhares vão convergir, logo os corpos se vão encostar, e logo, logo vão estar a rir, companheiros, cúmplices.


É o amor de longa duração, talvez o mais perene de todos os afectos, o que vence barreiras, ultrapassa all ages, supera diferenças e contradições, aproxima mesmo quando estão longe, guarda memória de paixões para com elas polvilhar a doçura do amor sereno.



Claro que, nisto, é preciso haver predisposição para amar. A cada momento, tem que haver essa vontade. É que a gente até pode gostar e ter tudo para dar certo mas, se existe em nós a compulsão para a destruição e/ou a impaciência para aturar o outro, nunca nada vai funcionar. Tem mesmo que se estar in the mood for love.



E depois é viver como se fosse o primeiro dia. Ou o último. E apreciar o sol a brilhar na água, os veleiros lá longe, o calorzinho bom na pele, os risos partilhados, os segredos guardados.


E amar a vida, a gloriosa e ingrata e maravilhosa e ilusória e alegre e triste e esperançosa vida.
E fazê-lo a dois.

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segunda-feira, abril 14, 2014

Que cavalo era aquele que não fazia sombra no mar?


Depois de, abaixo, ter lembrado Donostia, aquela a que sempre quero regressar, e Biarritz, a aristocrata decadente e bela, e Pablo Neruda e a sua ode ao mar, e a bela, bela voz de Ralph Fiennes, e o Carteiro de Pablo Neruda e aquele que deu a vida por um sonho, aqui, agora, é em mar que continuo a pensar e, em especial, num certo cavalo que não faz sombra no mar.


Cavalo à solta





Primeiro dia de praia. Já Abril vai a meio e ainda não tínhamos ido para a beira do mar apanhar sol, respirar o ar limpo do oceano. Fomos hoje.

Tarde boa, um sol discreto, amável, uma neblina discreta, pouca gente, uma extensão imensa.

E um belo cavalo branco com cavaleiro moreno, rabo de cavalo, andando vagarosos pela beira da água. Ao longe, o cavalo e o cavaleiro confundiam-se com a névoa que envolvia o mar branco.






Onde — ondas — mais belos cavalos
Do que estes ondas que vós sois
Onde mais bela curva do pescoço
Onde mais longas crinas sacudidas
Ou impetuoso arfar no mar imenso
Onde tão ébrio amor em vasta praia









Aqui nesta praia onde
Não há nenhum vestígio de impureza,
Aqui onde há somente
Ondas tombando ininterruptamente,
Puro espaço e lúcida unidade,
Aqui o tempo apaixonadamente
Encontra a própria liberdade.










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  • O vídeo é de Lucy Reichenbach que diz 'Cavalo à Solta' de Ary dos Santos
  • Os poemas escritos, respectivamente Ondas e Liberdade, são de Sophia.
  • O título do post evoca o título do livro de António Lobo Antunes: Que Cavalos São Aqueles Que Fazem Sombra No Mar? 
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Sigam, por favor, para mergulharem no mar. É já abaixo e mergulharão em boa companhia.

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domingo, junho 03, 2012

A Bruxa, o Burguês e o Bombista, 3 retratos à la minuta de Ary dos Santos; os Políticos que só querem é mama porque não passam de lactantes, segundo Natália Correia; o Manifesto anti-Cavaco dito por Mário Viegas e, para terminar em beleza, o fantástico Happy Birthay segundo Jirí Kilián


Depois de saber que a dívida está maior do que estava,  que a economia está cada vez menos competitiva, que o desemprego está maior do que alguma vez se supôs e que a tendência continua a ser de subir (e que eles próprios que o provocam não conseguem explicar o que se passa e de 3 em 3 meses corrigem, em alta, as estimativas) Passos Coelho, rapaz cuja inteligência é sobejamente conhecida, conclui que o remédio para esta hecatombe é intensificar e acelerar ainda mais o que tem andado a fazer. 

Face a isto, hesitei entre entrar em hibernação profunda ou partir para a baderna. Como não sou de sonos muito prolongados, optei pela segunda e, nesse sentido, pensei chegar aqui e escrever um manifesto anti-Passos, anti-Relvas, anti-Álvaro, anti-Gaspar, anti-Borges (o ministro fantasma que por aí anda a tratar dos big negócios).

Mas depois resolvi deixar-me disso, é déjà-vu. Já toda a gente diz mal deles, já não se encontra quem os defenda, desde o Prof. Marcelo ao Pacheco Pereira, desde o Marques Mendes à Manuela Ferreira Leite,  ninguenzinho. Impossível alguma originalidade.

Pensei, pensei e decidi, então, armar-me em menina prendada e deixar-me ficar pela poesia: afinal, gosto de ouvir piano, falo francês.

E, assim, com vossa licença e com toda a finesse, convido-vos a virem comigo até ao salão. 


José Carlos Ary dos Santos - A Bruxa


Já não sei se é país se é orfanato
pois nem vela, nem reza, nem sabá
impede que em berreiro e desacato
ande tudo à procura do papá.

Ó pobre povo que em desvalidas ânsias
por ter progenitor tanto te enervas!
E já que pai nem putativo alcanças
dão-te por sina seres filho das ervas.


José Carlos Ary dos Santos - O Burguês


Nesta lusa farronca sem vintém,
neste muda que muda sem mudança,
venha o que venha, há-de lixar-se quem
do salsifré tiver a governança.

Em conclusão: onde o maior partido
é o do ócio que causa inveja à lesma,
ganhe quem ganhe, só muda de vestido
o génio de deixar tudo na mesma.


José Carlos Ary dos Santos - O Bombista


Malvadas línguas que dão fel à fama
dizem que nestes lúdicos quadrantes,
os políticos querem é ter mama.
Como não hão-de querer se são lactantes?

Onde os meninos de tudo são senhores
forçoso é que da asneira haja fartura.
E se alguns deles são uns estupores,
é só traquinice. É só candura.

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Manifesto anti-Cavaco por Mário Viegas
(parafraseando o Manifesto anti-Dantas de Almada Negreiros)

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Tempo agora de coisas sérias. A seguir à poesia... o que mais? Bailado, claro... bailado a sério, claro.

Happy Birthday - Nederlands Dans Theater numa coreografia de Jiri Kylian


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A poesia escrita é de Natália Correia, excertos de poemas publicados em 'O Bisnau'

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Bom, que mais vos posso dizer...? 

Olhem, Caríssimos Leitores, façam como eu: divirtam-se. Tenham um grande domingo!