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quinta-feira, maio 14, 2020

Lentidões, chuvas, azuis, um quarto com vista, um sonho dentro do sonho






Na volta, a chuva desfaz as ondas espaciais e o que aqui chega já vem deslassado, uma rede desmanchada. Mal consigo fazer alguma coisa no blog. Esta lentidão também me deslassa a vontade e o pensamento. Chove que deus a dá. Todo o santo dia. Escuro chuvoso, frio. A net, que é móvel, está empanada, sem mexer.

Há bocado, depois de um dia de trabalho e estando a janta despachada, sentei-me no sofá a ver se via as notícias, o meu marido ao meu lado. Ao fim de cinco minutos estava perdida de sono. Encostei a cabeça e foi tiro e queda. Passados uns minutos, ouvi os meninos e a minha filha a rirem. Admirados, como é que consigo dormir assim, sentada, a cabeça para trás. Elucido: quando me sinto cansada, basta encostar a cabeça, adormeço instantaneamente. Dormi uns dez ou quinze minutos e foi pena que fossem tão poucos. Mas soube-me bem.

Agora aqui, passa da meia noite e nada aqui mexe. O blogger está mudado e, até para escrever um post, me vejo à nora sem descobrir onde foi parar o lugar disso. Tenho que arranjar um turn around. Temo que um dia também desapareça esse subterfúgio e que fique sem ter como continuar a escrever. Coisas esquisitas que acontecem. Em cima disso, volta e meia fica tudo branco, a bolinha pensadora a andar è roda. Impaciento-me com isto tudo. 


Chove com força. Sei que houve para aí cena armada em volta do Centeno mas nada disso me assiste. Apanhei as parangonas mas com desinteresse. Cá em casa ninguém liga a nada disso. Frioleiras, vizinhices, futileiras, cagadinhas em três actos. Não sei de que se trata mas entre o Centeno, com o seu ar de bom algarvio, com mil provas mais do que dadas, e a Mortágua com ar de dominatrix, a Drago, histérica a cansativa, ou outras que tais dou o meu voto ao Centeno. E isto sem saber de razões. A competência a e honorabilidade de um homem (ou de uma mulher) está muito acima do mediatismo, do imediatismo, do populismo, das cegadas que animam os media e pagam avenças a comentadeiros a metro mas pouco esclarecem. Nisto do BES ou Novo Banco quem fez porcaria, e porcaria da grossa, quem agiu levianamente (e, cá para mim, até ilegítima e a ver se não criminosaente) foi aquela maltosa dos PàFs com o beneplácito dessa alforreca que dá pelo nome de Carlos Costa. Tirando isso pouco mais tenho a dizer. Que Rios, Louçãs e demais acólitos se catem.


Tenho ainda a dizer outra coisa: não há pingo de pachorra para o ar e tom do rodrigo Guedes de Carvalho. Deu em pastor evangélico do reino de são covid. Sermões por tudo e por nada. Mal se percebe que vai começar com o sermão, fugimos a sete pés. Não sei o que lhe deu mas é insuportável. Beato, sentimentalista, padrecas, catequista, mestre escola do tempo da outra senhora. Nem sei. Não consigo aturar mais do que um minuto.

De resto, tenho a dizer que, a nível profissional, se prepara o regresso mas tudo na base do devagar-devagarinho, da prudência. Não consigo imaginar bem como vai ser a nossa vida. Nem quero pensar bem nisso.

Nesta vida protegida, consolo-me a ver como os meninos andam felizes, rosadinhos, bem dispostos. Vejo-os nas aulas, vejo-os brincalhões, queridos. E recebo fotografias de desenhos do bebé e encho-me de saudades dos que não estão aqui comigo. Essa é que é essa.


O meu marido foi ao supermercado à hora de almoço. Não trouxe metade do que pedi e, do que trouxe, trouxe em dose dupla. Pedi uma pá de porco, por exemplo. Trouxe duas, ambas gigantes. Para quê? Para andarmos a comer coisas repetidas? Não faz sentido. Fiz logo uma para o jantar. Assei no forno com batatas normais e doces, também assadinhas. Ficou um tabuleirozão quase a deitar por fora. Quando apareceu na mesa, cheiroso e dourado, despertou a gula. Mas acharam um exagero de muito. Pensei o de sempre, na minha inocência: a ver se dá para o almocinho de amanhã. Mas comeram de dar gosto. Sobrou mas não que dê para todos. Só depois me lembrei que eu devia era ter jantado chá. Por isso, amanhã ao almoço não digo que chá mas talvez kefir com fruta fresca e frutos secos. Se bem que os frutos secos também me insuflem. Se, ao menos, eu pudesse fazer big caminhadas sempre ia derretendo. Mas, com esta chuva, nem isso. Como é possível que este ano chova tanto...? A nossa terra vai ficar limpinha, despoluída, lavadinha. Está coberta de um musgo dourado, macio e bonito. As árvores e os muros têm líquenes. Os pássaros cantam de dar gosto. Só não é bom o frio e que fique tudo tão escuro. Faz-me muita falta o sol, a luz, o calor.

Tenho muito trabalho. O meu marido e a minha filha dizem que não faz sentido eu trabalhar tanto. Talvez. O meu filho também acha que não deveríamos trabalhar tanto, há tanto tempo. E, por vezes, sinto-me exausta, sem tempo para mim. Repito-me, não é? Passo a vida a dizer o mesmo. Mas a minha vida agora é isto e pouco mais tenho para dizer. Acho que mal me apanhe mais à solta e com bom tempo vou ter muita dificuldade em não mandar o corona à fava.


Isto está tudo desconexo. Uma mantinha de retalhos. Mas não dá para  mais. Duas e tal da manhã. A net mais do que a pedal, quase não consigo mexer nisto. O editor do blogger todo desaparafusado. Uma lástima.

Vou mas é preparar-me para ter um sonho bom, a dream within a dream do Edgar Allan Poe. Rodeei-me do azul do Klein e, por causa das coisas, do Room with a view do menino Yiruma. Bem acompanhada estive. 


E  um bom dia.

terça-feira, março 17, 2020

De um lado, Fátima Campos Ferreira e os ventiladores, Jorge Buescu e as previsões e Marcelo e a self-quarentena.
Do outro, Pedro Simas e a inteligência (e o garbo), Patrícia Gaspar e a lucidez, Marta Temido e Graça Freitas e a sabedoria e firmeza, António Costa e a liderança e Rodrigo Guedes de Carvalho e o jornalismo como serviço público.
Tudo isto em tempos de COVID-19, essa besta invisível de mil patas.





Nem consigo descrever o meu dia de teletrabalho. Não sei em que mundo é que eu vivia quando imaginei que estando em teletrabalho in heaven, ia conseguir ter tempo para limpar a casa, para dar umas voltas pelo arvoredo, quiçá estar ao computador enquanto, estendida na espreguiçadeira, apanhava uns retemperadores banhos de sol. Não sei mesmo. 

Trabalhei de manhã à noite, quase sem tempo para pôr o almoço ao lume, quase sem tempo para confraternizar com o meu roommate. E limpar a casa, claro, nem pó. Estes dias têm estado a ser muito difíceis. As empresas não estavam preparadas para isto e de uma semana para a outra pô-las a funcionar com cada um em sua casa e, na frente de batalha, as baixas a começarem a acontecer, dia após dia, e a gente a querer que as tropas se mantenham no terreno, não é fácil. E, pelo meio, articular tudo, assegurar a comunicação entre todos. E a toda a hora a receber mails de outras empresas a informar que vão deixar de prestar os serviços, e as coisas que estavam encomendadas a nunca mais chegarem e a gente a pensar que, um dia que as coisas cheguem, pode não estar ninguém nos locais para as receber. 

E todo o dia, de manhã cedo à noite, mails, telefonemas, videoconferências.


E os meus filhos em casa com os miúdos e a preocupação que tenho por eles e eu aqui longe deles, que pena, que saudades. E os meus pais, que tripla preocupação. E a minha mãe que não era capaz de me encaminhar uma receita e toda ela, enervada, a suspirar, com vontade de não tentar mais com medo de a apagar. E eu aqui com medo de lá ir não vá contagiá-los, eu que até sexta-feira andei em elevadores, em salas de reunião sem janelas e com alcatifas, em restaurantes, em toda a espécie de locais públicos frequentados por gente das mais variadas proveniências. 

Mal vi televisão mas vi a excelente entrevista de António Costa: firme, transparente, lúcido, directo, consciente. Portugal deve confiar na sua mão forte na condução desta tragédia.

E o Rodrigo Guedes de Carvalho: perfeito.

E vi os Prós e Contras. Uns nervos. Aquela Fátima Campos Ferreira esteve do princípio ao fim obcecada com os ventiladores. Qualquer coisa que qualquer dos convidados dissesse ela rematava com uma pergunta ou uma observação sobre os ventiladores. Que isso é um nó górdio é. Mas antes de nos preocuparmos que não há ventiladores para todos os que precisam, temos é que nos preocupar em que não haja muita gente a precisar. Para programas destes, sobre matérias complexas, tem que haver moderadores que percebam o que os outros dizem.


Outro que parece que levou uma paulada na tola é o tal de Buescu. Não sei para que números é que ele está a olhar que o levam a extrapolar que a meio de Abril já iremos com 12 milhões de infectados em Portugal. Juro: não percebo. A ser assim, em Itália, a esta hora, uma vez que já levam um bom avanço temporal em relação a nós, já iriam com setenta e tal milhões de infectados -- e vão com vinte e oito mil. É muito infectado, claro, mas, caraças, nada que se compare com as maluqueira do Buescu. Portanto, please, percebam que em todas as profissões há profissionais que etc. e tal e este é um desses. Não é por se ser matemático que se pode levar a sério. Isto do covid é uma desgraça que se abateu sobre o mundo mas, no que se refere a nós, não é nada da catástrofe que aquele senhor para aí anda a espalhar. Começou por desvalorixar para agora andar a empolar. Não é para levar a sério.


Bem, bem esteve Pedro Simas. Por tudo o que disse e por outra coisa: é um giraço. Não sei se ainda se diz mas eu digo: um pão. Um borracho. Façam o favor de o levar à televisão mais vezes e de avisar antes para eu não o perder. Um consolo. Gente inteligente e bem apessoada daquela boa maneira são um suplemento de alma para a gente resistir ao covid.

Outra que esteve muito bem foi a Patrícia Gaspar. Serena, forte, confiante, sabedora. A forma como acabou o programa deu-me vontade de a abraçar, de lhe oferecer flores, de lhe agradecer. Grande mulher.


Saindo do Prós e Contras, outro que também já mostrou que não se pode levar a sério é o Marcelo. Depois de andar a desobedecer a todas as recomendações da DGS e, publicamente, a incentivar ao desacato, parece que caíu na real. Mas não apenas caíu na real como parece ter ficado acagaçado perante a perspectiva de poder ter infectado meio Portugal, parece ter caído num estado de estupor catatónico. Isolou-se. Mas isolou-se mais do que a conta pois parece que desertou. Não estava doente, não tinha indicações para deixar de exercer a sua função. Apareceu a falar aos portugueses como se não atinasse com o computador, quase às cabeçadas ao monitor. Um som e uma imagem inexplicáveis. Parecia que estava a falar do meio da selva, sem condições. Caraças. Alguma coisa impede que alguém contacte com ele e lhe coloque uma câmara e um microfone à frente? Passou dos banhos de multidão com beijinhos e selfies para o isolamento monástico, esquecendo-se que é Presidente da República, esquecendo-se do momento assustador que atravessamos. Parece que sem a muleta dos beijinhos e o andarilho das selfies ficou com medo de andar.


A quem eu tiro o chapéu é a Marta Temido e a Graça Freitas. Mulheres trabalhadoras, inteligentes, bem preparadas, dedicadas, fortes. Temos que lhes agradecer por todo o esforço, por toda a entrega, por toda a lucidez, por toda a angústia e stress a que certamente estão sujeitas ao longo de tantos dias consecutivos. Não sei como aguentam, devem andar arrasadas, mal dormidas, sujeitas a todo o tipo de pressões. Confio nelas e agradeço-lhes. Nelas e na Patrícia Gaspar. E no António Costa.

Vamos sair desta. Vamos mesmo. Temos é que nos aguentar. Com muita disciplina, com isolamento, com sensatez, sem pânico. Mantendo-nos em funções se o pudermos (mesmo que remotamente), garantindo que o mundo volte ao normal logo que possível. E pode ser que surja rapidamente o tratamento e que nos reinventemos em melhor. Acredito nisto. Acredito mesmo. Ainda que agora esteja muito preocupada pois não consigo avaliar a dimensão do que nos espera.


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Não tento explicar o que me ocorre pelo que não sei porque é que me apeteceu ter aqui pinturas de Lucien Freud ao som do Cálice pela Maria Bethania.

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Desejo-vos uma boa terça-feira e, vá lá, descubram lá uma receita de coisa para sairmos desta: 
seja vacina, seja tratamento, seja bolo, seja mezinha, seja reza, seja o que for. 
Ou uma mistura disso tudo.

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