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segunda-feira, fevereiro 19, 2024

Envelhecer

 

Quando vou ao google no telemóvel, aparece-me uma série de notícias. Não sei qual o critério de selecção e temo que o facto de eu carregar em algumas para as ler leve a inteligência artificial que rege o funcionamento de tudo isto a pensar que é disto que gosto.

E, no entanto, não é bem gostar, é mais cusquice. Por exemplo, apareceu-me que a Lili Caneças explicou a sua ausência de um qualquer programa pois sujeitou-se a uma cirurgia estética ao pescoço, intervenção essa mais complexa do que esperava pois obrigou a uma recuperação de um mês. Já fez várias e diz que, quando reaparecer, as pessoas verão o produto da transformação. E eu interrogo-me: o que leva uma mulher à beira de fazer 80 anos a sujeitar-se a processos destes, não isentos de riscos, certamente com dor e incómodo associados? Para quê? Para não parecer ter a idade que tem? Mas porquê? Não é bom ter quase 80 anos? 

Também a Cinha Jardim, de vez em quando, é intervencionada. E o resultado está à vista: a pele está esticada, a boca perdeu a lógica e quase apenas a reconhecemos pelo cabelo e pela voz. Ela deve achar que está melhor. Eu acho que está estranha, artificializada.

Falei de dois casos mas é frequente ouvirmos as pessoas, em especial as que andam pela televisão, a dizerem que já se sujeitaram a liftings, a injecção do próprio sangue, a esfoliações e tratamentos locais com vitaminas, que o botox é normal e recorrente e outras coisas que tais.

Há casos dramáticos em que as pessoas ficam disformes, patéticas. Para não falar de outros casos da nossa televisão, posso referir a Madonna. Uma coisa é ter o corpo ginasticado pois os seus espectáculos vivem muito da performance física mas o que ela tem feito ao rosto é quase inexplicável: para contrariar a força da gravidade, ela sobe e insufla as maçãs do rosto. Mas tantas vezes o deve fazer que os olhos já subjazem ao fundo de uns promontórios desprovidos de sentido. Depois insufla os lábios e, para retirar vestígios do código de barras, preenche-se com botox para além da conta. O resultado a mim parece-me para além de duvidoso mas, como isto é muito subjectivo, tenho que admitir que, se ela o faz, é porque gosta de se ver e que posso ser eu que não estou a captar a essência dos novos conceitos de beleza. 

Tenho lido que eliminar os vestígios da idade acaba, com alguma frequência, por tornar-se viciante e, às tantas, é isso que acontece, acabando por ficarem apagado tudo o que era distintivo da fisionomia inicial.

E isto, note-se, nem tem a ver apenas com mulheres pois parece que é prática igualmente comum entre homens.

A mim nunca me deu vontade de fazer nada. Não é apenas o medo de que a recuperação seja longa e dolorosa ou o medo de que, ao ver-me, me assustasse: é também a sensação de que eu, eu, de verdade, poderia desaparecer tornando-me uma desconhecida para mim própria.

Quando me vejo ao espelho e verifico como a erosão vai fazendo os seus estragos não me ocorre que poderia corrigi-los, ocorre-me, isso sim, que o melhor é não me deter muito espelho e, sobretudo, não me ver nem de perto nem com excesso de luz.

Os dois vídeos abaixo mostram duas mulheres muito belas. 

A Juliette Binoche 'ainda' vai pelos 59 e o vídeo que aqui partilho já tem 9 anos. Ou seja, tinha 50. Mas a idade já era tema.

Já a Carole Bouquet tem 66 e no vídeo teria uns 64. Do que aqui ouço, tem uma abordagem semelhante à minha: olhar de longe ou sem óculos ou só de vez em quando.

Somos o que somos, como somos. E tomara que, por dentro, tudo esteja tão bem e tão funcional como está por fora. E não me refiro à alma: refiro-me, mesmo, às vísceras e a toda a traquitana que temos dentro de nós. E quem não gosta que não coma (salvo seja, claro).




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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira

Saúde. Alegria. Paz.

sábado, fevereiro 04, 2023

A bichectomia e outras faces do minimalismo estético

 

Depois da moda dos implantes para ficar com o rabo alçado, dos implantes para ficar com tetas de vaca leiteira, dos implantes nas bochechas para ficar com maçãs mais redondas e saudáveis que as saloias, dos implantes ou injecções nos lábios para ficar com uma carnuda boca de pato... eis que a moda deu meia volta e arranjou maneira de não faltar trabalho às clínicas de intervenção estética.

Como se sabe isto não chega de imediato às bases. Pode acontecer que a última camada ainda ande a fazer economias e pesquisas para ver onde insuflar a bom preço e a prestações e já ande a camada de topo, aquela para quem o dinheiro não é tema, a retirar tudo o que pode. Maminhas e rabinho andróginos, cara ossuda, lábios finos.

Quem as viu todas carnudas e generosas e agora todas minimalistas... 

A última aprendi-a agora: a bichectomia, isto é, retirar as bolas de Bichat. Nem sabia que as tínhamos. Pois, as bolas de carne que, com o peso da gravidade, descaem deixando a malta com ar de quem está a deslassar. Carne ou gordura? Respondo: nem carne nem bolas. Mais concretamente: pequenas bolsas de gorduras localizadas na região da bochecha, as glândulas de Bichat.

Supostamente, retirando as ditas coisinhas de nome bichano é como se houvesse um lifting instantâneo. 

Agora olha-se e estranha-se mas, um dia destes, é um novo standard. Quando nos olharmos ao espelho até vamos pôr as bicholas para dentro dos dentes para ver se ficamos mais nos conformes, com este moderno ar levemente esfomeado.

Contudo, nada de decisões precipitadas. Transcrevo

A decisão merece consideração. "Primeiro, porque é irreversível: se retirarmos as bolas de Bichat, elas voltarão ao sítio'", adverte o doutor Bergeret-Galley. E depois porque a operação é desconfortável e dolorosa; sem esquecer os riscos que isso acarreta. “Além de pequenos sangramentos, pode haver especialmente paresia. De facto, há um pequeno ramo do nervo facial que fica logo à frente da bola de Bichat, e pode-se sentir um entorpecimento nesse nível durante um certo tempo. Por fim, o médico salienta que o resultado nunca será perfeitamente simétrico e que pode acentuar a diferença de espessura das duas bochechas."

Ele há coisas. 

domingo, outubro 30, 2022

Madonna -- chorar ou rir?

 


Em certas matérias, não sou muito destas coisas de tipo 'desta água não beberei'. Sei lá se bererei, se não beberei.

Por exemplo, nunca me passou pela cabeça fazer-me operar para me tirarem uns anos de cima, para me injectarem para ficar sem rugas ou sinais de peso da gravidade, para me aumentarem os seios, para me levantarem e insuflarem as nádegas, para me deixarem sem um grama de gordura na barriga. Se puder evitar anestesias, evito, e se puder evitar que me cortem, injectem ou me mexam debaixo da pele evito.

E só o medo de, depois, ao porem-me um espelho à frente da cara ou à frente do corpo e eu me achar disforme, desconhecida, assustadora... Bolas, medo... Nem pensar... Ou seja, até ver, não é daquelas que me ocorra arriscar.

No entanto, não posso jurar a pés juntos que tal nunca me ocorrerá. É improvável mas, creio, não impossível. Sei lá se um dia não me dá uma qualquer travadinha e não acho que está na altura de deixar de parecer velha, muito distante da jovem que sinto em mim... Sei lá se não me dá uma pancada e não acordo com vontade de parecer uma gatinha de vinte anos... Miau, miau. Ou igual à Kardashian...?

De vez em quando vejo mulheres que acho espantosamente bem 'mantidas', todas jovens e jeitosas e, depois, venho a saber que já se fizeram ajeitar várias vezes. E, portanto, mesmo que mantenha os cinco alqueires bem medidos, sei lá se um dia destes não me parecerá que faz sentido desde que tenha a garantia de coisa bem feita, subtil, indolor e pouco arriscada.

Mas, se um dia me der para isso, não posso ter presentes os casos que se encontram no extremo oposto: pessoas que se ajeitam tanto, se puxam e repuxam tanto, se insuflam tanto, se modificam de tal forma que se tornam uma caricatura de si próprias -- porque, se vou com essas imagens em mente, é certo e sabido que, de imediato, arrepiarei caminho.


Madonna é um desses casos. De dia para dia aparece com a pele mais lisa, os lábios mais intumescidos, toda ela esticada e repuxada, as mamas cada vez maiores, mais redondas, as sobrancelhas subidas, as maçãs do rosto salientes. E depois, nos vídeos, aparece com cinturinha de vespa. Mas, quando é apanhada à má fila, as imagens mostram-na com pneus, quase normal. Por isso, já nem se percebe se ela própria se tornou uma ficção ou se são os vídeos que estão ficcionados.


Agora um vídeo seu tornou-se viral: de cabelos encarniçados, como agora anda, dedos gordos e unhas improváveis, aparece a inalar um frasco com o que parece ser um medicamento e que ouço referir por poppers e depois parece que fica eufórica, meio passada. Uma coisa estranha. E tem um dente à frente com uma capa escura. Frequentemente com raízes pretas, agora com um dente que parece podre, comportamentos incomuns... eu não sei o que se passa com esta mulher, não sei mesmo. 

Está a envelhecer mal, está estranha. Tem 64 anos mas olha-se para ela e não se consegue concluir se é nova, se é velha ou se é simplesmente estranha. Mas bonita, acho eu, não está.


Não sei se Madonna é feliz ou se anda perdida e, por isso, olho para ela e não sinto vontade de rir. 

Mas a interlocutora dela no vídeo, uma tal Terri Joe, desata-se a rir. E ri de uma forma também muito peculiar. E tão peculiar que me parece oportuno partilhar um vídeo que a minha filha me enviou. Com cada um... 

Pessoas com risos estranhos


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Um belo dia de domingo
Saúde. Boa disposição. Paz.

quinta-feira, agosto 18, 2022

7 sinais de genuína inteligência que não se conseguem fingir

[E a forma bizarra como Madonna se apresenta nos seus 64 aninhos]



Já fiquei mais descansada. Em alguns dos mais banalizados testes de QI aparecem aquelas figuras de triângulos dentro de quadrados, em que a disposição dos triângulos brancos e pretos vai evoluindo e é preciso descobrir qual a sequência que se segue. Outras vezes são sequências numéricas ou outras. Não sei porquê o meu cérebro rejeita tudo isso de forma tão liminar que se recusa a olhar e a pensar. Sou tentada a responder ao calhas. É que poderia esforçar-me e falhar em toda a linha. Mas não, é pior que isso, é rejeição absoluta. Por algum motivo, acho aquilo tão absurdo para provar o que quer que seja que a pachorra se me evapora instantaneamente ainda antes de começar. E, por esta séria lacuna, sempre pensei que a minha inteligência tinha certamente uma falha fatal.

Agora, ao ver o vídeo que abaixo partilho, não concluo que não tem mas concluo que a falha não se deve, forçosamente, à incapacidade em resolver aqueles irritantes testes.

Felizmente nunca tive que fazer um teste daqueles para arranjar emprego senão não tinha passado da porta de entrada. 

Fiquei também confortada ao ver confirmada uma opinião que tenho sempre que ouço alguém, muito satisfeito consigo próprio, tantas vezes referindo-se a uma decisão questionável que, em tempos, tomou, dizer qualquer coisa como isto: 'A prova que na altura tomei a decisão correcta é que, se fosse hoje, tomá-la-ia outra vez, exactamente igual '. É que até pode ser mas, caraças, o que é que aquilo prova a não ser que quem o diz é uma pessoa algo limitada? Que raio de raciocínio é aquele? As circunstâncias mudam, nós mudamos, os outros mudam. Então porque é que é axiomaticamente acertado tomar exactamente a mesma decisão tempos depois? 

Em minha opinião, os sinais de inteligência de uma pessoa são vários e eu, já aqui o confessei tantas vezes, tenho grande admiração por pessoas inteligentes. A meus olhos, uma pessoa inteligente cintila. 

Em contrapartida, a burrice encanita-me cá de uma maneira... 

Mesmo aqui na blogosfera, não consigo deixar de rosnar entredentes quando vejo coisas que tresandam a burrice. Eu a ler coisas que quem escreveu acha, certamente, o máximo e eu, cá para mim, 'Ca ganda burra. Chiça penico...!'.

Tem razão o Mestre com quem tenho trocado umas ideias ao alertar para os perigos que a inteligência por vezes acarreta. E, concordo, é bem verdade que alguns seres inegavelmente inteligentes foram (ou são) uns estupores encartados. Mas, por outro lado,  se conseguirmos despir-lhes a identidade, o que fica da sua inteligência ilumina a nossa existência.

Claro que, se com a inteligência, vier a bondade, a tolerância, a afectuosidade, a graça e todas essas características que deveriam ser intrínsecas a todos os seres humanos, melhor, mil vezes melhor. Senão, a gente tem cuidado, guarda distância e fica só com o produto que nasce do estafermo, seja palavras, pintura, música -- o que for.

Agora que escrevo isto penso num colega que tive. Sempre que tinha algum trabalho complicado em mãos, algum relatório mais cabeludo para concluir, algum projecto mais crítico para lançar, era de fugirmos dele. Intratável. Rude, cafajeste. Outras vezes, na reuniões, saía-se com coisas que deixavam toda a gente gelada, incomodada. Era de uma franqueza desabrida. Creio que lhe faltava inteligência emocional. Mal o stress passava, era de uma pessoa se deliciar com as piadas, com a ironia oportuna e implacável. Tinha ainda uma particularidade: tinha uma colecção infinita de música. LPs e CDs, milhares. De cada obra tinha todas as derivações que conseguia descobrir: maestros, intérpretes, gravações em estúdio e ao vivo. Para gerir a colecção tinha uma base de dados que mantinha actualizada e que permitia pesquisar por cada um dos parâmetros que, para ele, fazia a diferença. Tinha quse tnto orgulho n bse de ddos quanto na colecção. Agora que os suportes físicos estão a cair em desuso não sei como estará a completar o seu tesouro. Sendo uma pessoa com competências reconhecidas na sua área de trabalho, tinha depois esse seu lado de melómano que o fazia virar outro quando disso falava. Eu gostava imenso de conversar com ele. Tinha sempre uma perspectiva diferente e interessante das coisas e eu aprendia sempre com ele. 

Contudo, sempre que eu falava dele, quase toda a gente se torcia e fazia um esgar de desagrado: 'Esse traste' ou 'Um mal-educado' ou 'Um tipo perigoso'. 
Aqueles ataques de franqueza desassombrada de que por vezes parecia possuído causaram problemas a muito boa gente. Diziam que desferia golpes baixos quando menos se esperava. Nunca me pareceu que o fizesse premeditadamente ou para ajustar contas com alguém. Sempre me pareceu que era simplesmente desligado das conveniências sociais ou de preocupações em relação aos outros.

Outras vezes, quando se queriam referir a ele, diziam-me: 'O seu amigo' pois, de facto, acho que eu era a única pessoa que o suportava. E, ainda por cima, gostava dele. Desculpava-lhe os maus humores.


Mas isto para dizer que, vendo que o Psych2Go me caiu no goto, o menino algoritmo do youtube saiu-se com mais um vídeo daqueles em que se dizem coisas com piada e bem pensadas (textos de Max Gustavo) com uns bonequinhos fofos (feitos por Rose Lam), ditos por uma menina que tem uma vozinha soft e que fala das coisas num tom convincente e empático (Amanda Silvera de seu nome). 

Desta vez, o tema é a inteligência e sinais impossíveis de forjar e que evidenciam que ela está presente.

7 Genuine Signs of Intelligence You Can't Fake

Are you truly intelligent? Intelligence is a coveted thing, and we’re encouraged to “fake it til we make it” with things. But some things in life can’t be faked and real intelligence is one of them.

Here is a short list of the subtle signs of genuine intelligence. See if you can identify these traits in yourself. 

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A propósito de inteligência ou se calhar não tendo nada a ver, já que estamos na silly season, apetece-me agora mostrar a forma estranha como a Madonna está a ganhar idade (e digo assim e não a envelhecer pois a palavra envelhecer parece-me engelhada, mal amanhada). Fez 64 anos e, de facto, não tem rugas nem flacidez no rosto. Mas está inchada, desfigurada e, agora, tem tanta tralha na boca que nem sei o que me parece. E que ande a festejar os seus verdes anos dando beijos de língua a quem se senta ao seu lado só me faz sentir afortunada por nunca me ter acontecido tal golpe de pouca sorte.

Madonna Shows Off Her Custom Birthday Grillz and Reveals What Almost Killed Her Career



Madonna TONGUE KISSES Friends During Italian Birthday Celebration



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Pinturas de Jean-Paul Riopelle na companhia de Sheku Kanneh-Mason, Isata Kanneh-Mason que interpretam Song without Words, Op. 109 de  Mendelssohn

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Desejo-vos uma boa quinta-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.

sexta-feira, maio 06, 2022

Estou quase contente com a minha aparência

 

Dias muito aloucados, cheios de muito trabalho e preocupações. Como se não bastasse, acordei com uma dorzinha na perna. Tento lembrar-me do que possa ter sido. Muitas idas e vindas com o regador grande? Idas e vindas do supermercado, os sacos pesados demais? Muitas horas de reuniões? Tenho sorte em não ter que fazer quilómetros a pé. Ou estar dias seguidos encolhida debaixo da terra. Tenho sorte.

Ao fim da tarde, fomos até à praia e trouxemos de lá sushi. Não deu para andar muito, estava meio coxa. Só que a minha coxidão melhora à medida que ando. Ainda assim não abusei, estava a melhorar mas não a ficar boa. Mas bem o sei: quando os músculos dão de si, melhor mesmo é não abusar. Mas sei: pior mesmo é estar sentada, horas sentada. Só que não dá para evitar. Só se passar a fazer reuniões de pé.

Já tomei um comprimido a ver se amanhã me aguento toda a manhã a resolver, sentada, os grandes problemas da humanidade.

A seguir ao almoço, fui num bocado espreitar o calor da rua. A pequena fera cabeluda veio comigo. Somos unha com carne. Enquanto eu estou a trabalhar, ele deita-se ao pé de mim. Quando há sossego, ele gosta de dormir. Se vou à rua, ele vem. Se regresso, ele corre para me acompanhar. Tem receio que o deixe na rua. Já o enganei vezes de mais, por isso já não se fia. Compreendo-o.

Agora na casa grande aqui do lado, há dois cães. Um deles é um pastor-alemão gigante, com um vozeirão daqueles. O ursinho peludo, que é todo territorial, fica possuído. Ladra, corre ao longo do muro, põe-se de pé. Do lado de lá, o outro faz o mesmo. Não se vêem mas pressentem-se. O meu felpudinho já anda nas patas de trás. Põe-se de pé e anda em duas patas. Também, várias vezes por dia, põe-se de pé, abraça-me, dá-me beijinhos. Juraria que sorri. Retribuo com carinho e mimo todo esse afecto.

Há dois dias, também fomos os dois até ao jardim. Ele deitou-se na relva. Eu deitei-me ao lado dele. Ele pôs-me uma patinha por cima do meu pescoço. Fiquei a descansar, deitada, ele abraçado a mim, eu abraçada a ele. Quando me soergui, estava um pintor encavalitado no muro do outro lado, do lado dos outros vizinhos. Fiquei atrapalhada e acho que ele também disfarçou.

Gostava de saber se o esquilinho ainda anda in heaven. Gostava que aqui também os houvesse. Um lugar que os animais escolhem para viver é um lugar abençoado. 

Gosto cada vez mais de animais. Gosto da natureza. Venero a natureza. 

E, no entanto, passo grande parte da minha vida fechada entre quatro paredes a resolver problemas e a enfrentar gente que só me traz complicações, mal me deixando respirar.

Há bocado estive a ver as notícias do dia e a ver vídeos. O meu marido queria ouvir qualquer coisa na televisão e disse para eu baixar o som ou me deixar disto, diz que eu devia ver menos coisas sobre a bárbara e inqualificável infâmia que a Rússia não se cansa de levar a cabo na Ucrânia. Muitas vezes durmo mal por causa disto, tenho pesadelos, acordo.

Então fiz-lhe a vontade e pus-me a ver o último episódio das Avós da Razão. São sempre engraçadas. Divertem-se a conversar e a relembrar o passado. E são todas pr'à frentex. Não há ali saudosismos, arrependimentos tal como não há baias nem medos. Entre risotas, não apenas batem bolas como, na maior das alegrias, chutam à baliza. Três mulheres que se alimentam da amizade, do riso e do futuro que têm pela frente.

Ao ouvi-las lembrei-me de no outro dia a minha mãe nos ter perguntado se uma conhecida, uma que até há alguns anos era do mais jetset, com vários editoriais e reportagens em família, ainda era viva. Há algum tempo que não ouvimos dela. A minha filha disse que sim e contou que a tinha ido ir ver ao hospital. Ao chegar, pensou que estava a dormir e disse à acompanhante que voltaria mais tarde. E que, para grande surpresa, da cama, ela exclamou: 'Não 'tou nada a dormir! 'Tou acordada, atão não vê...? Sente-se aqui, querida.' Diz a minha filha que estava tão esticada, tão repuxada, que nem se percebia onde estava a boca, onde acabava o nariz e começavam as bochechas e em que paravam os olhos. Diz que parecia que estava a dormir. Afinal estava era tão repuxada que não se lhe dava por sinais de vida. 

Foi como noutra vez, já aqui o contei, um amigo ao mostrar-me a reportagem fotográfica de um evento a que tinha ido e ambos, na fofoca, comentando este e aquele. Até que ele disse: 'Olhe, a sua amiga'. E eu, a olhar para um grupo em que estavam dois casais a conversar e sem conhecer as mulheres. Os homens eu conhecia, e bem, mas não as mulheres. 'A minha amiga...?', eu, sem ver qualquer amiga. E ele: 'Olhe bem. Atão não 'tá a conhecer?'. E eu, vista apurada: 'Não...'. Até que ele disse o nome dela. E eu: 'Nãããooooo...'. Por mais que olhasse não me parecia nada ela. E ele: 'Atão não vê...? Repuxou-se outra vez. Ela e a mãe estão quase iguais.'. Nem uma ruga, nem uma pelezinha mais flácida. Tudo em cima. Irreconhecíveis face ao que eram antes. Viciadas em plásticas.

Mas é lá com elas, claro.

O que me espanta é que não têm medo de anestesias nem do desconforto pós-operatório. Há quem faça preenchimentos e choques vitamínicos na pele e raspagens na pele e sei lá que mais. Mas há quem vá mesmo à faca e opte por retirar vários anos de cima. O pior é que, no acto, perde-se a expressão. 

Mas, se calhar, é preconceito meu. Se calhar, se houvesse uma maneira fácil, indolor, caseira e eficaz de eliminar rugas ou de eliminar os vestígios da idade, se calhar eu até tentava. Mas tinha que ser coisa pouca, ao de leve, que não me descaracterizasse. Uma coisa como fazer depilação em casa. 

Mas, enfim, passemos ao que interessa: a conversa aqui das minina. Não há tabus, não há nada disso: só espontaneidade e graça.

VALE TUDO PARA SE SENTIR JOVEM | Avós 182


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Fotografias de Cho Gi-Seok na companhia de Sarah Vaughan que interpreta Tenderly

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Desejo-vos uma happy friday
Alegria. Saúde. Paz.