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sábado, julho 23, 2022

Uma traição ao meu gigolo preferido...?
É que nem pensar...

 

Não sou de tentar uma segunda vez. Para o bem ou para o mal, para mim história vivida é história passada. Tenha sido uma história boa com final tranquilo, tenha sido uma história agitada com final atribulado, passou, está passado. Página virada.

As coisas são as coisas e as suas circunstâncias e, se havia uma cola que unia uma pessoa a outra pessoa ou a um livro ou a um filme, tenho sérias dúvidas de que, num outro contexto, a cola se mantenha. Tinha que ter sido uma cola muito intensa que se tivesse dissolvido por um equívoco, por uma acção externa ou por um qualquer acto de deus ou force majeure para que a 'pegação' voltasse a existir em toda a sua pujança.

A excepção em que me parece que a coisa pode funcionar é na música. Muitas vezes, há versões fantásticas que ressuscitam ainda melhores.

Já nas telenovelas ou no cinema a coisa parece-me arriscada. Gosto do Pantanal porque não vi o original. Mas, no cinema, não tenho ideia de ir ver uma reprise de filme de que tenha gostado. E tenho ideia, quando vejo os trailers, que a segunda versão é sempre uma coisa aguada, deslavada.

Há cinquenta mil anos vi com devoção o sexíssimo Richard Gere a encantar -- com cuidados, ternura e uma perícia tentadora -- mulheres de todas as idades. As toilettes Armani assentavam-lhe tão perfeitamente como uma segunda pele e era tão compensador vê-lo com elas vestidas como despidas.

Hoje, vá lá eu saber porquê, o algoritmo do YouTube veio desafiar-me com um outro American Gigolo

Não faço ideia de se a história é a mesma ou se apenas o título é o mesmo. Seja como for, o trailer quase ofende a minha sensibilidade. Obviamente não o verei. Podendo parecer que nem por isso, a verdade é que sou mulher de alguma lealdades.

American gigolo 

A imitação


American gigolo

O original


Há lá comparação possível...? Nem pó!
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Desejo-vos um sábado feliz
Uma vida longa e feliz

domingo, fevereiro 03, 2019

Com o Richard Gere o Arnaud du Tilh da Rede do Mr. X fica ainda mais interessante


Há uns anos vi o filme e, claro, sendo eu devota de Richard Gere desde os tempos do saudoso Gigolo, até ao Breathless, passando pelo Oficial e Cavalheiro, gostei bastante. Tinha, além do mais, Jodie Foster como a mulher estranhamente iludida, tinha uma história muito interessante com fundo verídico e tinha paixão, drama e estranheza.

A propósito de embustes, ilusões e coisas não muito fáceis de explicar, andou Mr. X a contar, em fascículos, a história de Arnaud. Chamou-lhe a Rede e deixo o link para o epílogo. E eu, lendo-a, tive vontade de rever imagens de Sommersby, ainda com pena do exagero do desfecho. Naquela altura, a malta era de extremos e gostava deles. De cada vez que havia enforcamento era uma festa. 
Sendo eu, por princípio e em regra, muito contrária a penas exageradas que retiram partes da vida a pessoas que talvez conseguissem regenerar-se se a pena fosse mais razoável, não posso deixar de sentir alguma inquietação por uma pessoa como a que a Conceição Lino reportou na reportagem da SIC -- pessoa essa que manipulou e condicionou a vida de várias outras -- continuar a exercer a sua profissão de professora do ensino básico. Perante uma situação destas, que mereceu uma condenação (light) em tribunal, não deveria aquela criatura ser sujeita a testes psicológicos para se verificar se tem  a estabilidade emocional e a estrutura mental adequadas ao exercício da sua função? Afinal, um professor do ensino básico ajuda a estruturar a personalidade das crianças à sua guarda na escola e nem imagino que danos lhes poderá causar se tiver comportamentos desviantes, manipuladores, estranhos.
 Mas, enfim, let's look at the trailer. 

Sommersby com Richard Gere e Jodie Foster



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E queiram continuar a  descer para as adivinhas, nomeadamente para a que ainda está em aberto: a do tomate roxo (que vem à mistura com a CGD, os enfermeiros, o PCP, a Elizabeth Holmes e etc).

quinta-feira, maio 04, 2017

What's in a name?
["Se ao menos eu pudesse mudar de nome", lamenta-se William Bradley Pitt]


A primeira vez que o vi foi no Thelma and Louise. Era um rapaz com uma sensualidade transbordante, uma malícia implícita cativante, um físico absolutamente convincente. 


Se até aí eu me enlevava com Richard Gere, que tinha conhecido -- eu, se bem me lembro, quase menina e moça, -- ele capaz de seduzir de uma assentada toda a população de um convento de freiras tal a sedução que dele emanava em American Gigolo, a partir daí mantive o J.D. debaixo de olho.



Não que seja dada a lourinhos, não sou, mas aquele moço tinha, à vista desarmada, uma boa 'pegada', coisa que mulher que se preze fareja à distância.

Por essa altura eu ia ao cinema muito amiúde. Adorava ir. Aquele escurinho, aquele cheiro, aquele ambiente fascinava-me. Ia muito ao Quarteto apesar de às vezes cheirar a esgoto e apesar do meu namorado da altura (em especial o que viria a ser meu marido) embirrar com o desconforto das cadeiras e com a falta de espaço já que as pernas não lhe cabiam e tinha que as dobrar à frente dele, quase até ao pescoço. E ia ao Satélite, ao Estúdio. E, claro, aos maiores: Império, Monumental, S.Jorge.


Os grandes filmes de Bergman, na época, conviviam, para mim, com o Oficial e Cavalheiro ou o Breathless (que era uma reprise do A bout de souffle) -- filmes que não podia perder para ver o Richard Gere, com aquele seu corpo gingão, aquela capacidade de bem beijar que não está ao alcance de qualquer um.


Acontece que a minha fidelidade é restrita a casos muito particulares e, portanto, depois de ter visto a arte de Brad Pitt, mantive o Richard em banho-maria e, muito santamente, passei a incluir-me entre as devotas do Brad.

O seu desempenho em Lendas de Paixão foi outro momento alto, tornando, só por isso, aquele filme um objecto de culto. 

[Aos destituídos de faro para a ironia, apresento mais um disclaimer: uso aqui a terminologia 'objecto de culto' a propósito deste filme tal como, há dias, usei 'mares do sul' para designar o mar que banha Cádiz. Sou dada a metáforas, se é que ainda não deu para perceber. E tenho dito. Adiante que o momento é de cinefilia e não de semióticas]


Entretanto Richard Gere foi ganhando patine (não perdendo o charme, mas...) e o Brad entrou naquela deriva mediática designada por Brangelina e eu, mais uma vez, fiz swing (and sorry for my french): passei a achar uma certa graça ao Clive Owen.


Enquanto isso, e num registo diferente, encantada pela voz deles, pulava a cerca* com o Jeremy Irons (como não, com aquela voz...?), com o John Malkovitch (aquela irreverência carregada de perversidade é um convite irrecusável) e, até, com o Ralph Fiennes que, parecendo que não, tem uma densidade enleante.
[Outro disclaimer: A cerca das devoções (como dizer?) cinéfilas, of course]





Mas, lá está, aqueles a quem um dia deitei o olho, debaixo de olho ficarão forever e, por isso, o Brad será sempre olhado com o carinho que se dedica aos antigos lover boys.

E, talvez por isso, foi com tristeza que li a entrevista que concedeu agora, confessando o problema de longa data que tinha com álcool, admitindo a sua responsabilidade pelo que aconteceu e que levou ao seu divórcio.


Parece que vive isolado, solitário, dedicando-se à escultura. Reapareceu na capa de uma revista com um ar que faz enternecer qualquer um, em especial aquelas que guardam um cantinho para ele no seu coração.
[Novo disclaimer: cantinho virtual, leia-se]

Magro como um cão sem dono, ar triste, diz até: 'se ao menos pudesse mudar de nome...'

E eu aí tenho que me pôr ao alto. Que é lá isso...? Nem pensar. Qual mudar de nome? No way.

Tanto mais que Brad é, afinal, William e um William não deve nunca renegar o seu nome.


E, afinal de contas, what's in a name?


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E um dia muito feliz a todos quantos por aqui passam.

Be happy.

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quarta-feira, maio 11, 2016

A mulher que gosta que lhe falem de árvores


Se lhe perguntassem no que estava a pensar quando entrou naquela casa, diria que não fazia ideia. Muito menos saberia responder à pergunta óbvia.

Simplesmente estava a entrar na casa onde alguém lhe sugerira que fosse naquele dia.

Quando bateu à porta ainda pensou, por breves instantes, o que responderia se lhe perguntassem o que pretendia. Mas não teve tempo de tentar encontrar a resposta.



A grande porta abriu-se automaticamente e ela entrou. Estava num pátio interior. À esquerda e à direita duas portas abertas, cada uma delas dando para um corredor que, de certa forma pareciam fazer parte de dois estreitos braços que circundavam o pátio. Em frente, uma escada de pedra. Ao fundo, por detrás da escadaria, uma parede coberta por heras e de onde, do que pareciam ser aberturas, pendiam enormes fetos.

Começou a chover ao de leve e ela olhou em volta, sem saber bem onde se dirigir. Reparou então que, num recanto, havia um telheiro sob o qual havia um largo e comprido banco de pedra. À frente um outro canteiro de fetos quase encobria aquele espaço. Sentou-se. Sentia-se abrigada, tranquila, sem qualquer sombra de inquietação ou, sequer, curiosidade. Não fazia a mínima ideia de que casa era aquela nem quem é que lá estaria. Em casa não tinha dito nada até porque de véspera ou de manhã ainda não tinha resolvido ir. No emprego, antes de sair para almoço disse que precisava de tirar a tarde de férias. Portanto, não dissera a ninguém onde vinha. Noutras circunstâncias ter-se-ia precavido, arranjado maneira de ir com companhia ou, pelo menos, avisado para o caso de, se alguma coisa corresse mal, saberem onde procurá-la. Mas não tomou quaisquer cuidados.

Foi olhando em volta. Havia uma laranjeira florida, o perfume era intenso. Por trás da casa, e não percebeu se fazia parte do terreno, havia uma árvores muito altas que não reconheceu.

Havia, no pátio, junto às paredes laterais, uns vasos de pedra muito grandes com árvores de pequeno porte floridas. Os pássaros cantavam muito alto mas não viu nenhum.

Encostou a cabeça à parede, fechou os olhos e deixou-se ficar a aspirar os aromas, a sentir a frescura do ar molhado, o canto dos pássaros. Talvez tenha adormecido.

Não sabe quanto tempo depois, ouviu um som que não reconheceu, umas pancadas, mas, logo depois, ouviu o barulho da porta a ranger, a abrir-se. Manteve-se serena, sem qualquer expectativa.

Viu que entrava um homem que igualmente se detinha, olhando em volta. Ficou um bocado no meio do pátio. A chuva tinha parado. Olhava as escadas, depois olhou o telemóvel, depois deu alguns passos em volta. Depois, devagar, começou a subir as escadas, hesitante.

Ela não fazia a mínima ideia de quem ele era mas não sentiu curiosidade.

Ouviu que o telefone lhe tocava na carteira mas não atendeu. Pouco depois, de novo. Nem sequer viu quem era. 

Algum tempo depois, ocorreu-lhe que não deveria ficar ali até tarde demais. Por coincidência, nessa altura, começou a ouvir um canto. A Norma? Tentou perceber mas os seus conhecimentos musicais não eram famosos. Então, sem pensar, levantou-se e dirigiu-se às escadas. Depois das escadas, um varandim de pedra. Olhou em volta. Não se via para fora da casa, os muros e as árvores envolviam-na. Viu, lá em baixo, o abrigo onde tinha estado sentada.

Ao fundo, uma grande porta de madeira. Experimentou empurrar. Estava fechada. Deu a volta à argola que servia de puxador. Abriu. A música mais audível. Foi entrando.

Um corredor, uma grande sala, jarrões de porcelana, grandes sofás de veludo, tapeçarias, grandes quadros, talvez retratos de família, um relógio de pé, um piano, outro corredor, outra sala, uma enorme lareira, uma mesa de jogo, cadeiras em volta, mais sofás. Cortinados de veludo e renda. Outra sala. Olhou em volta, pensou que queria ver de onde vinha a música.

Estava mais próxima. Foi andando. 

Quando chegou à sala de onde vinha a música, uma sala com as paredes forrada de papel claro, com uns curiosos panejamentos no tecto e tapetes sobre tapetes, dirigiu-se a um cadeirão para se sentar.

Quando se sentou, reparou que, em frente, num sofá, estava o homem: deitado, a cabeça sobre uma almofada, os óculos em cima do peito, de meias, os sapatos tombados no chão. Quando a viu, ele, sobressaltado, deu um salto. Embaraçado, colocou os óculos, tentou calçar-se sem olhar para os pés. Ela permaneceu sentada, sorrindo, olhando para aquela atrapalhação.

Já calçado, ele disse: ‘Não sei quem é’.

Ela, com ar levemente irónico, disse: ‘Eu também não sei quem você é’.

Ele, então, disse em tom de desafio: ‘Mas eu talvez seja capaz de adivinhar’.

Ela sorriu: ‘Adivinhar quem eu sou...? Será…?’.

E ele, ‘Acho que sim’.

E ela ‘Não sei. Para isso, teria eu que me deixar adivinhar e não sei se quero’.

Ele sorriu. ‘Está certo’. Depois de uma pausa, disse: ‘Já pensava que não vinha’.

Ela: ‘Já cá estou quase desde a hora de almoço. Estive a dormir a sesta lá em baixo’.

Ele arqueou as sobrancelhas, admirado: ‘Desculpe…? Como…?’

Ela disse: ‘Daqui a nada já lhe mostro o que elegi como boudoir para o meu sono de beleza’.

Ele sorriu, ar intrigado: ‘Ah sim…? Está certo. A senhora manda. Olhe, permita: toma alguma coisa?’. Ela riu de novo. Ele perguntou: ‘O que foi?’

Ela riu, abanou a cabeça, ‘Nada’, mas o sorriso era malicioso. Respondeu antes: ‘Chá. Pode ser?’

Ele disse: ‘Já lhe disse: a senhora manda.’. Chegou junto a uma parede e, aproximando-se de uma grelha, puxou um fio e disse: ‘Um chá e uma imperial, se faz favor’. Ela riu-se. Da parede saíu um fio de voz. Ele perguntou-lhe então: ‘Perguntam-me que chá prefere’.

Ela respondeu: ‘Qualquer. Ou chá ou infusão, qualquer coisa. Jasmim, cidreira, lúcia-lima’.

Ele riu ‘Não é esquisita’.

Ela disse: ‘Sou, sou. Muito. Mas não com o chá’.

Ele, sorrindo, disse para o intercomunicador. ‘De flor de laranjeira’.

Ela deu uma leve gargalhada ‘Perfeito. Condiz comigo.’

Ele maliciou: ‘Isso ainda havemos de ver’. 

Quando chegou uma empregada, fardada a preceito, com avental plissado em branco, estavam eles de pé, à janela, ele a falar-lhe das árvores, ela a ouvir atentamente. Sempre tinha gostado que lhe falassem de árvores.

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Lá em cima Renée Fleming interpreta (no Palácio dos Czares em Saint Petersburg) a Casta Diva da ópera Norma de Bellini. 

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E caso vos apeteça conhecer um pouco do livro que tão descaradamente me tentou esta terça-feira queiram, por favor, descer até ao post que se segue. Um livro surpreendente que muito vivamente recomendo.


domingo, abril 13, 2014

Vou definir o meu homem ideal. Desafio-o, meu Caro/a Leitor/a, a fazer o mesmo. E depois veja as diferenças de escolhas consoante o seu sexo.


No post abaixo recusei-me a falar do cherne que por aí anda de porta em porta a ver se alguém o compra. É o compras.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

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Afterwards




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Se eu não estivesse já servida, diria que, se fosse coisa que a gente pudesse escolher e depois carregar num botão e sair o produto pretendido, para mim o homem ideal poderia ser uma composição a partir dos seguintes (e atenção que são duas e tal da manhã e eu não tenho tempo para pensar, vou dizer a primeira coisa que me venha à cabeça; se o output não me agradar ponho-o à venda e escolho outro):


  • a energia e o sorriso poderia ser o do António Fagundes (aliás, até podia ser o Fagundão todão)

  • a voz poderia ser a do Jeremy Irons

  • o corpo poderia ser o do Clive Owens ou então o do Zidane
(mas não podendo vir só o corpo, poderia vir também a cabeça)








  • a perversidade (ou, vá lá, para não parecer tão mal: a malícia) poderia ser a do Malkovich
  • o olhar e a suavidade (a até podia vir também a voz, para quando a do Jeremy estivesse cansada de tanto me dizer poesia ao ouvido) poderia ser o do Ralph Fiennes





  • a maneira de beijar poderia ser a do Richard Gere 

e não falo de outros atributos (não menos importantes) para isto não ficar comprido e chato demais.

Se eu fosse habilidosa fazia aqui uma fotomontagem e avaliaria a qualidade do resultado e se, de facto, valia a pena ficar com o produto da minha imaginação. Como não sou, paciência, fico-me pelas palavras.

E vem isto a propósito de quê?

Eu conto. A marca de lingerie Bluebella pediu a um grupo de mulheres que dissesse o que para si era a mulher perfeita.

Depois foi pedido o mesmo a um grupo de homens.

Pois bem: enquanto as mulheres acham que a mulher perfeita é alta, magra, esguia, cabelos fortes e quase lisos, os homens idealizam uma mulher com curvas, ancas largas, seios fartos, cabelo desordenado e até, imagine-se, um pouco de barriga. Os homens não se sentem atraídos pela suposta perfeição.

Boas notícias, portanto.




Depois a experiência foi a inversa: o homem ideal para ela e para ele. Os resultados provam que os homens acham que o homem ideal tem uns bíceps brutais, uma carinha perfeita, enquanto as mulheres preferem alguma imperfeição no rosto, no cabelo, nada de músculos à bruta.

Bate certo.




No entanto, a mim nenhum destes me conquistaria. Têm músculo a mais e patine a menos. Provavelmente as mulheres inquiridas seriam pouco mais do que adolescentes, ainda não tinham o gosto apurado.

E por aqui me fico - e cada um agora que se compare com a imagem ideal.

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A voz lá de cima é, claro, a de Jeremy Irons lendo Afterwards de Thomas Hardy:

When the Present has latched its postern behind my tremulous stay,
And the May month flaps its glad green leaves like wings,
Delicate-filmed as new-spun silk, will the neighbours say,
'He was a man who used to notice such things'?

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NB: Não queira descer até ao post seguinte. Depois destes homens decentes e apetecíveis, para quê ver um cherne malcheiroso?

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Desejo-lhe, meu Caro Leitor, um belo domingo!

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terça-feira, maio 15, 2012

A paz interrompida de Ana


Música, por favor

Maria Bethânia - Casinha Branca


Aos poucos, a transformação que se vinha operando na vila começou a ser notada. O progresso crescia, novas lojas abriam, o dono da residencial expandiu o edifício, o número de restaurantes duplicou, as pastelarias aumentaram e vinham já pessoas de fora para passear, ver as bordadeiras e comprar os doces regionais

O presidente do município organizou uma série de conferências, tendo convidado Ana para explicar qual tinha sido o seu papel, dado que era unanimemente reconhecido como determinante.




Ana, com simplicidade, explicou que se limitou a aplicar um dos princípios empíricos da economia e que consiste em que o que é necessário é pôr a máquina em movimento, restituindo a confiança aos consumidores e investidores. Uma vez isso acontecendo, as coisas correm por si. O dinheiro em circulação até pode ser o mesmo mas muda de mãos, gerando sustentabilidade. Explicou ainda que se o dinheiro em circulação for o mesmo mas mudar de mãos já não é mau, pois mau mesmo é haver retracção, uma vez que isso conduz à paralisia da actividade, à saída de cena dos agentes mais fracos, ao desemprego e, logo, ao empobrecimento. Mas que bom mesmo é entrar dinheiro de fora pois havendo mais dinheiro em circulação, isso significará crescimento. Explicou que foi isso que aconteceu na vila pois, ao passar a haver produtos inovadores e amplamente divulgados, começaram a acontecer vendas superiores a clientes de fora, o que acrescido da vinda de pessoas em turismo - mesmo que apenas para gastar em restaurantes - significava mais dinheiro livre entre as pessoas da vila, que o aplicavam em poupanças, em consumo ou em investimento.

Alguns ainda se interrogavam como é que uma bordadeira falava assim mas a maioria já se tinha habituado a conviver com a estranheza da situação.

E Ana sorria, agradecida por ver o fruto da sua iniciativa. Ana sorria porque sentia que as pessoas se queriam unir, queriam progredir, apostavam na juventude, apostavam na troca de experiências e saber entre novos e velhos.

A melhoria de rendimento escolar e a empregabilidade dos estudantes da vila começou a aumentar e essa era a maior alegria e a maior recompensa que Ana poderia desejar.



Ana andava feliz.

Na sua casa, no rés-do-chão forrado a estantes, com sofás, mesas, com as paredes decoradas com fotografias, pinturas, havia sempre jovens a ler, mulheres das oficinas que vinham praticar informática com os jovens, havia gente que tirava dúvidas aos miúdos, lia-se poesia, ouvia-se música. Era um local de tertúlia, de aprendizagem, de partilha.

A sua pequena casa com um pinheiro e uma pequena horta, as suas pequenas divisões muito claras, cheias de luz, muito simples, a alegria que ali reinava, enchiam-na de orgulho. 

Mas não há paz que sempre dure.

*

Música, de novo, por favor

Nat & Natalie Cole - Unforgettable



Um dia, quando Ana se levantou e, como sempre fazia, abriu as janelas do piso de cima, apercebeu-se de algumas vizinhas espreitando a rua, por detrás das cortinas. Estranhou e, então, espreitou ela também.

Ia-lhe dando uma coisa. O primeiro impulso foi fechar a janela e esconder-se. Com o coração descompassado, sentou-se. Ficou assim sentada, como se tivesse levado uma pancada na cabeça, por largos instantes, sem saber o que fazer.

Aos poucos foi vindo a si. ‘Estupor!’, ‘raios o partam!’, ‘estou feita!’, ‘o que é que eu faço agora à minha vida?’, ‘mas como e que o estúpido me descobriu, senhores!?’, ia ela dizendo num desespero, num lamento ,enquanto girava pela casa, sem saber o que fazer.

Voltou a espreitar mas agora com muito cuidado, não fosse o estupor vê-la. Devia estar metido dentro do carro porque não se via. Mas o carro, o carrão, estava mesmo encostado à porta, seria impossível sair sem ser vista.

Então foi tomar banho e, aos poucos, foi serenando. As feras encaram-se de frente e assim o faria.

Arranjou-se com cuidado como há algum tempo não o fazia, cuidou dos pormenores, perfumou-se, e foi à luta.

Ele devia estar atento pois, mal sentiu a porta a abrir-se, saltou do carro e colocou-se em frente dela com um ramo de rosas na mão. Sorria a medo mas o ar de galã tímido era o mesmo de sempre.

Ana reparou que as rosas estavam quase murchas, estava mesmo a ver-se que devia ter comprado as flores na véspera e deixado ficar no carro. Mas fez de conta que não tinha notado.

Ana aguentou firme : 'O que é isto?! Não deixei bem claro na carta que enviei há tempos atrás?!’

Ele não disse nada, Ana sabia que devia estar um pouco nervoso. Continuou a barafustar, ar de zangada: 'E vires para aqui neste espalhafato, pores-te aqui assim à minha porta com esse carro... e não percebes que as pessoas te conhecem? E olha essa figura de flores na mão...! Estás habituado a dar espectáculo, não é? Não perdes uma oportunidade... Ridículo.'

Ele nada, nem uma palavra. Com a habitual falta de perspicácia masculina, ainda não tinha percebido no que aquilo ia dar.

Ana continuou, mas quem a conhecesse pressentiria que, na escolha das palavras, estava já um indício e cedência: ‘Posso saber o porquê deste acto de desobediência civil?!

Ele arriscou: ‘Admiti que o castigo para a desobediência valesse o risco… Admiti mal...?’ e, olhando-a nos olhos, pressentiu que a coisa estava a ficar bem encaminhada. E, então, sorriu, sorria, com o sorriso de quem pede indulgência intuindo, à partida, que já a tem.

Ana, ainda simulando ar de má: ‘E as flores são para ficares aí, nessa figura triste, plantado no meio da rua com elas na mão, para as vizinhas todas te poderem tirar uma fotografia com o telemóvel, ou serão para eu as ir colocar numa jarra?’ mas já se ria, e ele conhecia bem esse sorriso.




Riu-se também: ‘Não te quero dar trabalho. Diz-me onde está a jarra que eu trato disso’ e entrou dentro de casa, atrás dela.

Mal a porta se fechou, agarrou-a pela cintura e dobrou-a, um verdadeiro beijo à Hollywood. Depois ela deu-lhe uma palmada no peito, como se estivesse zangada: “Mas isso faz-se? És mesmo um estupor!”.

A seguir, levou-o pela mão a ver a casa. E, pela primeira vez, chegou atrasada à oficina.




Cinema, por favor: it's Hollywood time

Richard Gere e Julia Roberts, o beijo do reencontro - Pretty Woman
*

Recordo, de novo, que, se quiserem ler a história de Ana desde o início, poderão procurar nas etiquetas aí ao lado, em baixo, 'Ana muda de vida'.

E, de resto, hoje no meu Ginjal e Lisboa as minhas palavras voam em volta de um belíssimo poema de  Manuel António Pina. A música é maravilhosa, Donizetti claro. Se estiverem para isso, eu gostaria de vos receber lá.

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E tenham, meus Caros, uma terça feira cheia de beijos (reais, imaginados, consentidos, roubados... como queiram). E divirtam-se à grande, está bem?

terça-feira, janeiro 10, 2012

Uma imprevista história de amor, um apaixonado tango numa imprevista noite de Janeiro


O dia não foi fácil. Reuniões, muita exposição, sempre a ter que sorrir, sempre a ter que mostrar confiança, simpatia. Agora que conseguiu despachar a exigente agenda diária já é tarde. Podia estar cansado mas hoje, por acaso, não está.


Vem com uma irrequietude na alma e no corpo. Não lhe apeteceu ir jantar a casa. Parou na estação de serviço, comeu uma sopa, dois crepes, uma imperial, bem bom. Sentia-se incapaz de se ir enfiar no sofá, anestesiado, a saltar de canal para canal. Comentadores desportivos, comentadores políticos, telenovelas e sempre aquele ar provinciano, nada lhe interessava, nada o sossegaria.

Portanto, em vez de se dirigir a casa, seguiu outro caminho, conduziu até à zona antiga da cidade. Estacionou, guardou os óculos, e saíu do carro sem saber ao que ia, talvez apenas andar pela rua. Voltou atrás, foi buscar a pasta, esta zona não é segura e os documentos são demasiado importantes. Início de Janeiro, temperatura amena, uma vontade de primaverar, um certo ar precoce de flores a renascerem, um aroma de volúpia, qualquer coisa de invisível, de indefinido.

As luzes estão quase apagadas, a autarquia está a poupar na electricidade, pensaria que o ambiente está quase lúgubre não fosse esta pulsão pela descoberta de qualquer coisa, nem sabe o quê. Anda e parece que há uma leveza que o transporta. Sente perfume no ar, talvez alguma planta nos arbustos destas moradias antigas, talvez alguma mulher aqui tenha passado há pouco. Aspira, vai andando e, ao andar, vai aspirando, que cheiro tão bom. Pensa: se fosse há uns anos, talvez achasse normal procurar uma prostituta, que o corpo lhe está a pedir confronto. Ri-se sozinho. Uma mulher, coisa boa.

E segue. Adiante estão dois homens, cada um com seu cão, conversam, os cães brincam, estão praticamente às escuras. Olha-os com uma certa inveja; são hábitos de um quotidiano que lhe é estranho. Mais à frente passa por um carro que estaciona e de onde sai uma mulher. Repara que a mulher está amedrontada com a sua presença, olha em volta, atrasa-se para lhe dar tempo a passar, talvez receie que ele seja um ladrão, um traficante com a sua pastinha, um violador. Muda de passeio para que a mulher perca o medo e, ao fazê-lo, pensa: se fosse acompanhado, ninguém tinha medo, assim, cão sem dono, as mulheres têm medo de mim. A mulher era bonita, transportava uma mala com rodas, tinha um fato que parecia uma farda, talvez fosse hospedeira. Tem vontade de dar meia volta e ir atrás dela, sentir se o seu rasto é perfumado. Ainda hesita mas logo se detém: estás maluco ou quê?

E continua. A seguir ao pequeno jardim, há uma pequena rua, uns quantos prédios velhos, baixos, de dois ou três andares, alguns devolutos, andares vazios, zona a evitar, dizem que por ali param os sem-abrigo, drogados, não sabe. Avança um pouco na rua escura. Tomara não saia daqui algum que ainda me venha roubar, pensa. Mas segue, cauteloso. Por ali chega-se mais depressa ao rio, irá dar uma volta pelo cais.

E então, ao passar por um desses prédios antigos, ouve uma música suave, talvez uma valsa, uma música que parece vir de cima, sai talvez de uma janela. Afasta-se, espreita. As janelas do 1º andar têm as portadas abertas, uma luz amarela, quente, e uma música. Fica ali parado, envolvido, qualquer coisa de electrizante o paralisa. Quem será que ali, àquela hora, ouve aquela música?

A música pára, depois começa outra, agora parece salsa, é mais alegre. Ele ouve, olha a janela iluminada, parece ouvir uns passos, escuta com atenção, a música está baixa mas os passos agora ouvem-se distintamente, acompanham o ritmo. Sente-se arrepiado, uma emoção a crescer dentro dele, a música a invadir-lhe o corpo.

Sem pensar dirige-se à porta do prédio. É uma porta de madeira com um pequeno vidro, uma porta antiga, está apenas encostada. A medo, empurra-a, o prédio cheira a prédio antigo, as escadas são de madeira, e ele sobe, segue a música, está à porta do 1º andar de onde se soltam os acordes da salsa, uns passos, parece que apenas de uma única pessoa. Encosta-se mais, para ouvir melhor. Há luz por debaixo da porta. Treme. É receio, é apetência pelo risco, é um tremor que o empurra.

A música acaba. Uns passos soam. Tenta perceber os movimentos. E, então, movido pela curiosidade, pela vontade de qualquer coisa, encosta a mão à porta. Devagar. E devagar a porta vai-se abrindo, estava apenas encostada.

Fica com a respiração suspensa. Repara no chão que é de soalho, repara no tecto, o pé direito muito alto, uma luz coada, amarela, quente, suave, uma porta que divide esta sala de outra divisão em madeira e vidro, o ambiente é acolhedor, quase surreal atendendo ao sítio que é. E um cheiro a madeira, a cera, a flores, um cheiro a mulher.

E então, da porta de madeira e vidro, sai uma mulher, cabelo apanhado, corpo voluptuoso, ancas fartas, pernas torneadas - e ondula ao andar. Dirige-se ao leitor de cd’s, escolhe uma música, deixa-a começar. Ele está imóvel, não a quer assustar. Treme, o coração bate descompassado. A música começa, ela baixa o volume. Um tango. Deslizando, sensual, ela dirige-se ao centro da sala, vai dançar sozinha.

Sem se deter a pensar, ele despe o casaco e avança também, dirige-se também ao centro da sala. Curiosamente ela não parece estranhar, parece que vai acontecer uma coreografia previamente ensaiada. Como se fosse uma professora à espera do aluno, assertiva, ela diz-lhe que não fale, que não pense e ele pensa: mas eu não ia falar... e, à frente de um corpo destes, quem é consegue pensar...? Não consegue articular palavra, sente o sorriso preso no rosto. A confiança da vida diária sumiu-se. Agora é apenas um homem que apenas pressente que estás prestes a ser submerso. E entrega-se, pensando com a pouca malícia que lhe resta, tão sobressaltado está: seja feita a vossa vontade, minha senhora.

Nesse mesmo instante ele sente que é dela o cheiro, que é dela o cheiro que adivinhou na rua. Apetece-lhe chegar-se, cheirá-la. Chega-se a ela, enlaça-a, e ela faz o mesmo e então começam a dançar um imprevisto tango. E o calor que vem dos seus corpos, a luz coada, a música num sussurro, o cheiro dos seus corpos, a tensão dos músculos em entrega total, é tal que, aos poucos, a proximidade é irreprimível, ela luta, ele procura-a, ela afasta-se, ele afasta-se para logo a recuperar, rodopiam, ela ao colo dele, e, no final, sorriem, quase envergonhados, e a emoção é tão intensa que pensam ambos, sem o confessarem, que uma certeza assim acontece uma vez na vida.




Créditos

1. A ideia deste texto surgiu-me há pouco, a partir  do comentário e da informação do meu Caro Leitor Patrício Branco, no post anterior, a quem muito agradeço.

2. A última frase é uma fala de Clint Eastwood, como Robert, em As Pontes de Madison County, quando sai de casa e se despede de Meryl Streep, como Francesca.


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E, por hoje, é isto. Não me apeteceu falar do défice que parece que vai ser superior, da austeridade que parece que vai ter que aumentar - temas demasiadamente previsíveis.

Hoje apeteceu-me dançar (e quase me apetece escrever dansar, com s, como Sophia o fazia). Hoje apeteceu-se ser une danseuse, une danseuse com palavras voando à minha volta.

*

Aproveitem bem cada pequeno instante, gozem a vida, ouçam música, dancem a sério ou em pensamento.

E tenham uma boa terça-feira!

 

domingo, novembro 27, 2011

Inside Job em Wall Street (e não só) e o dia em que Richard Gere levou a pretty woman Julia Roberts ao restaurante


Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara.








A citação é de José Saramago e os clips referem-se aos trailers do documentário Inside Job e do filme Wall Street (Money never sleeps) e à cena do restaurante do filme Pretty Woman.

Bom domingo!