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quinta-feira, outubro 31, 2013

O bando de meninos vestidos como se fossem para um baptizado e que, afinal, foram para o governo de Passos Coelho - governo esse que, de resto, não existe [palavras de António Lobo Antunes na Visão]. E o Guião para Matar Ideias, essa salganhada ignorante, uma coleção de chavões e banalidades, o fim da linha [palavras de André Macedo no DN e no Dinheiro Vivo]



Peço-vos que, a seguir, não deixem de descer até ao post seguinte onde há dois filmes muito elucidativos sobre a dívida pública. Vejam-nos por favor.

Agora, aqui, continuo com a voz lúcida de outros que contrasta com a galhofa despudorada com que Passos Coelho e os seus ministros de Estado, Paulo Portas e Maria Luís Albuquerque se apresentam na Assembleia da Repúbica.

*

Na Visão, António Lobo Antunes diz que "não existe governo nenhum", mas sim um "bando de meninos":


"Perguntam-me muitas vezes por que motivo nunca falo do governo nestas crónicas e a pergunta surpreende-me sempre.  Qual Governo? É que não existe governo nenhum. Existe um bando de meninos, a quem os pais vestiram casaco como para um baptizado ou um casamento". 

António Lobo Antunes começa assim a crónica desta semana na VISÃO que chega esta quinta-feira às bancas, inteiramente dedicada a esses "garotos".

"Existe um Aguiar Branco e um Poiares Maduro. Porque não juntar-lhes um Colares Tinto ou um Mateus Rosé? É que tenho a impressão de estar num jogo de índios e menos vinho não lhes fazia mal", escreve ainda. 


(e continua)

*

E André Macedo, director do Dinheiro Vivo, escreve aí e no Diário de Notícias um artigo a que chama Guião para Matar Ideias e que me permito transcrever na íntegra:


Paulo Portas quer ser o Giorgio Armani da reforma do Estado. Todos os anos o estilista apresenta os novos modelos e acaba com uma frase cintilante, um laço que embrulha o conjuntinho: "Proponho para esta estação una donna moderna però rinovata." Portas também deseja um Estado moderno (alguém deseja um Estado antigo?!) e renovado (alguém quer um Estado parado?!), mas não vai além disso. Não vai, aliás, a lado algum.

As "110 páginas úteis" do guião, como lhe chamou ontem, são de uma pobreza inacreditável. Não é sequer um catálogo de pronto-a-vestir político. É uma loja dos 300 onde, no meio de ideias copiadas, avulsas e superficiais, encontramos um ou outro ponto que é possível debater, mas apenas por causa do nosso desespero coletivo. O que resulta dali é tão-só uma salganhada ignorante, uma coleção de chavões e banalidades que não são mais do que a redação pueril de um candidato a uma juventude partidária que passou os olhos na biografia de Hayek , a da Wikipédia.


O célebre guião, este guião, esta coisita, não é um ponto de partida. A ser qualquer coisa é um ponto de chegada. É o fim da linha. É o epílogo que arrasa as últimas aparências que ainda restavam sobre este grupo de estagiários que o País tragicamente elegeu. É a prova documental de que o Governo não sabe o que está fazer - cumpre metas impostas externamente - e nem imagina para onde irá a partir daqui.

O texto que demorou dois anos a produzir é tão rudimentar que na verdade é apenas embaraçoso. Ontem senti vergonha alheia por Paulo Portas - o presidente do CDS acabou. Não compreendo, a não ser por vingança, raiva e desprezo profundos, como Passos Coelho foi capaz de o autorizar a apresentar esta manta de retalhos, este patchwork - Portas deve apreciar a palavra - que era suposto criar as bases para a mudança que o País terá um dia de enfrentar.


Não há quadros comparativos, não há estatísticas que permitam ver de onde viemos e para onde podemos ir, não há pensamento algum, referência alguma, não há estudo, não há trabalho. Nada. Ao pé disto o trabalho do FMI, o de janeiro, é um luxo científico. Talvez por isso, talvez porque aqui cabe mesmo tudo, Portas tenha conseguido enfiar esta frase grotesca: "(...) esta maioria tem uma matriz identificada com o chamado modelo social europeu." Tem, tem; e Portugal vai crescer 0,8% em 2014 e muito, muito mais em 2015...

Pior do que este declínio penoso do Governo é a situação em que ficamos. Ontem, em vez de sublinharem o desrespeito que este guião simboliza e revela, os partidos exibiram a habitual indignação como se aquilo fosse trabalho sério. 

Disseram: atenção, isto é a privatização da Segurança Social, da saúde e do ensino! Que horror! Algumas destas, digamos, ideias estão lá, sim, mas é o habitual bricabraque decorativo. A melhor maneira de matar uma ideia é apresentá-la assim - mal e porcamente

Ontem, quem ouviu Paulo Portas só teve uma reação: apagou a luz. Repito: isto por mim está visto.


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Nem mais.

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E eu pergunto: riem de quê estes sujeitos aqui em cima? Riem de quê?

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Relembro: descendo um pouco mais, encontrarão dois vídeos muito elucidativos sobre a dívida pública.

Paulo Portas e o Guião da Reforma para um 'Um Estado Melhor', guião que nunca mais nascia, nunca mais nascia e que, afinal, ao ser dado à luz, é coisa nenhuma (confira aqui o Documento completo). Face a isso, por comiseração, daqui lhe envio algumas dicas do que é necessário para Portugal voltar a ser um País credível. Read my lips, senhor vice Paulo Portas. ..//.. E para que os meus Leitores não fiquem aborrecidos com a aridez do tema, aqui lhes deixo uma notável interpretação de 'O mio babbino caro' por parte de uma menina holandesa de 9 anos no programa 'Holland's Got Talent', Amira Willighagen.

No post abaixo falo-vos da minha opinião sobre o conjunto vazio, do mais vazio que há, que é o célebre Guião da Reforma de Estado do Paulo Portas dado à luz ao início da noite desta quarta feira, dia 30 de Outubro do ano da graça de 2013. Na melhor das hipóteses (na melhor? qual na melhor: na pior) a cerca de 1 ano e picos de se irem embora, agora é que aparece este artista a dizer o que gostavam de fazer. Uma gestação de cerca de dois anos e meio para dar nisto: uma vacuidade absoluta.


Para ver o documento completo, de seu nome 'Um Estado Melhor', clicar aqui.


Se Paulo Portas é inteligente - coisa de que até já começo a duvidar - porque se deixa andar sistematicamente enredado nas armadilhas que o Coelho lhe estende? Dá para perceber? 

A mim o que já me começa a parecer é que, na volta, o mais espertalhaço e maquiavélico é o frio e vingativo ex-Doce. 

Tudo isto poderia ser visto como uma novela de mau gosto, feita de traições, cinismos, hipocrisias, ardis, faltas de moral. Mas o drama é que aquilo a que estamos a assistir é mais do que isso: é a nossa carne a ser devorada a sangue frio, é o nosso país a ser esvaziado, vendido, fragilizado. Portugal entregue a um bando de incompetentes, do mais incompetente que há. Mas daqueles incompetentes perigosos: bem falantes, a apelarem sistematicamente aos sentimentos de culpabilização tão arreigados na matriz cultural portuguesa, a serem capazes de dizerem uma coisa e o seu contrário com cara de quem é do mais coerente que há. Uns farsantes. 

Aparentemente o que querem, ou dizem que querem, é reconquistar a confiança dos mercados, é recuperar a soberania - coisas do género.

Mas, ignorantes encartadados como são, julgam que é com patacoadas escritas em letra de tamanho garrafal para encher o olho e parecer que o documento tem uma dimensão respeitável, que conseguem enganar alguém.

Uma infantilidade.

Mas, enfim, para que não digam que sou bota-abaixo, enquanto não adormeço, aqui deixo (porque até me dá dó) alguns conselhos a Paulo Portas e a todos quantos queiram mesmo recuperar a confiança dos mercados:





1. Saiam do Governo. Já.

2. Se não souberem onde está a porta de saída, então limitem-se a brincar uns com os outros às estátuas. Quietinhos. Sem fazer nada.

3. Se não forem capazes de estar sossegadinhos, então entretenham-se a fazer legos ou a brincar às cabeleireiras ou aos doutores ou ao papai e mamãe - o que quiserem desde que sejam brincadeiras adequadas à vossa idade mental.

4. E, enquanto isso, percebam uma coisa: o que qualquer investidor precisa para ter confiança é de ser capaz de fazer planos, é de saber quais as regras, impostos, etc, para os próximos anos. O que qualquer investidor teme é pôr o seu dinheiro num país em que mudam as regras a meio do jogo, onde o governo é formado por um inqualificável rebotalho político, em que tomam medidas sem avaliarem as consequências, em que tudo o que fazem é para atentar contra a economia, em que não têm noção nenhuma de coisa nenhuma.  


Ora, como já demonstraram à saciedade que a única coisa que sabem fazer é desestabilizar tudo, fazendo porcaria por onde passam, por favor, deixem-se estar quietos. Até que o Cavaco ou a população corra convosco, não toquem em mais nada.


Se os sacrossantos mercados perceberem que, apesar de Portugal estar entregue a gente sem noção nenhuma do que está a fazer, os ministros estão apenas a legislar sobre cães e gatos e o chefe dos ministros não tem cabeça para agir sozinho, talvez resolvam acreditar que, no dia em que vocês, suas abéculas, levem uma corrida em osso, Portugal será capaz de se reerguer e, portanto, talvez ponham cá o dinheiro a juros decentes ou talvez cá voltem a investir.

Por isso, senhor irrevogável vice Portas, conceda-se um favor: não faça mais nada, não volte a aparecer em público a fazer tristes figuras. Reserve-se, antes, para, em privado, convencer os seus colegas a limitarem-se a respirar. Quietinhos, bonitinhos. Se for preciso, até lhes vou aí levar uma chupeta. Todos quietinhos a chucharem na chucha, entretidinhos, caladinhos. Se necessário for, podem ficar deitadinhos no chão, enroscadinhos uns nos outros (isto se tiverem frio, claro). Por mim, está tudo bem.

*

E agora vou dormir que isto me dá sono. 




*

Mas, antes de ir dormir, permitam que aqui vos deixe um presente para ver se compenso a aridez dos temas com que vos tenho andado a maçar.

Vejam, por favor, Amira Willighagen, uma menina holandesa de 9 anos a interpretar 'O mio babbino caro' a famosa ária de Giacomo Puccini. Isto passou-se numa sessão de Holland's Got Talent e é digno de ser visto.




Espantoso!

*

A mulher fotografada lá mais acima é, escusava de dizer, Brigitte Bardot, a célebre BB.

*
Relembro: se quiserem conhecer mais em pormenor a minha opinião sobre o conjunto vazio que é a palha com que Paulo Portas pretende enganar o freguês, é, por favor, descer até ao post seguinte. O Nítido Nulo (obrigada jar!) na sua mais triste evidência.

*

E, por hoje, nada mais. Resta-me, portanto, desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.

quarta-feira, outubro 30, 2013

Paulo Portas e o seu Guião da Reforma do Estado: a história de uma relação de dois anos e meio em que, finalmente, coube ao vice-primeiro ministro dar à luz. E o nado, afinal, não passa de um conjunto vazio. Ou melhor, um conjunto de medidas gerais, sem datas, sem responsáveis, sem objectivos quantificados, sem coisa nenhuma. Dá ideia que são as bases gerais, muito gerais, para um futuro programa de governo. Mas para que governo? Para o próximo? O do PS? Conclusão: está tudo doido. Uns gaiatos. Uns incompetentes. Uma palermice pegada tudo isto.


Ora bem. E depois de ter dito isto, o que mais posso dizer daquela tristeza a que assisti?


Como dissertar sobre um conjunto vazio? 

Claro que poderia invocar aqui as minhas memórias sobre estas matérias mas, meus Caros, um conjunto vazio não tem elementos. E está, basicamente, tudo dito.

Aquilo de que Paulo Portas falou ao apresentar o famoso Guião da Reforma do Estado são vulgaridades, intenções, evidências, coisas que já deviam ter feito, comprovantes de que ainda não fizeram nada, de que não sabem por que ponta pegar, ideias avulsas, desconexas, fiapos de conversa fiada. Zero. Bola. Nada.



Claro que poderia falar das palermices mais concretas que ele referiu como, por exemplo, a que vão formar uma comissão para baixar o IRS (depois de o terem feito disparar agora, pelos vistos, mesmo que o queiram baixar - coisa que não corresponde à verdade, mas enfim - já não o sabem fazer, têm que formar uma comissão, mais uma comissão) ou a de vender as escolas aos professores (coisa que, dita no meio daquele amontoado de banalidades, soa a piada, talvez piada do dia das bruxas).

Podia falar, claro que podia. Mas para quê se nada daquilo é para levar a sério?

Aquilo foi uma macacada que o macaco do coelho estendeu ao Portas para ele se andar a espalhar ao comprido, em público, ao longo de um ano inteiro de falsos sinais de parto.


Por isso, meus Caros, desculpem o meu linguajar, mas o que se me oferece dizer é que o Portas e o Passos bem podem limpar o c.. ao guião. 

[Será que é de ter estado dois dias e meio no Porto que só me ocorre linguagem vernácula para falar das aberrações que este governo sucessivamente deita cá para fora? 

Ó senhores... isto parece que é um mal que está a dar em toda a gente. Até a Maria do Rosário Pedreira, sempre tão certinha, escreveu sobre isso: que sobre esta maltosa só consegue referir-se a eles como gajos e dizer palavrões.]


Assim sendo, para ver se fujo aos palavrões, vou antes dar alguns exemplos do que é o conceito Conjunto Vazio para melhor ilustrar o que é o Guião da Reforma de Estado dada à luz pelo Paulinho da Banha da Cobra.




  • Imagine-se um conjunto formado por palermas e um outro conjunto formado por sapatos. O que é que há de comum entre os dois conjuntos? Nada. Ou seja a intersecção dos dois é um conjunto vazio.

  • Ou imagine-se um conjunto formado por cães com pulgas e outro por gente inteligente. O que há de comum entre os dois conjuntos? Nada. A intersecção é outro conjunto vazio.

Podia continuar mas acho que já deu para perceber. Um saco vazio é um saco vazio e ponto.



Conclusão: ora batatas. Estamos nós a aguentar um governo destes...! Só porcarias sem nexo, um desfiar de medidas de gestão corrente. É que nem uma porcaria de um plano sabem fazer.

Se bem que, nesta altura do campeonato, aí o Prof Marcelo tem razão, isto já não é um plano: isto é um testamento.


Caraças!

Ao fim de dois anos e meio aparece aquela criatura (já agora: devia cortar o cabelo, está com umas patilhas que parece um campino) a dizer nada. Nada.

É que nem o memorando da troika foram capazes de implementar. Do que lá constava não fizeram praticamente nada. Nem isso foram capazes de fazer. Ao longo dos dois anos e meio que levam disto, a única coisa que souberam fazer foi roubar as pessoas, retirar-lhes direitos, vender o país a retalho. E nem agora, para fazer de conta, foram capazes de ir ler o memorando e tentar reproduzir algumas coisas.

Não têm competência para nada. Nada.

Este governo está morto. De que é que o Cavaco está à espera para o enterrar, senhores?!?


*

Este texto continua. Caso queiram constatar a vacuidade da coisa, lendo o documento 'Um Estado melhor' na íntegra, e caso queiram saber quais os meus conselhos a Paulo Portas para melhorar a governação e para ver se conseguem convencer os mercados, por favor cliquem aqui


Além do mais, vou já avisando, esse é um post com brinde. E não é presentinho envenenado alusivo ao Dia das Bruxas. Não senhor, é um presentão a sério.


quinta-feira, maio 09, 2013

Faz bem Paulo Portas em andar, feito um vulgar vendilhão, a tentar vender aos estrangeiros as nossas grandes empresas públicas? É disso que Portugal precisa? Dou a minha opinião: não! Uma vez mais, Portugal está a ser atacado, como se tivesse um cão raivoso agarrado ao seu pescoço. E sobre o Estado Providência? Temos Estado a mais? O que está a ser feito pelo Governo de Passos Coelho é liberal e bom? Uma vez mais, permitam-me que responda: nem é liberal nem é bom, é estúpido e errado. [Francis Bacon acompanha o texto com as suas imagens que nos falam de decomposição e horror e, como acompanhamento musical, The Sounds of Silence]


Este período é fértil em temas que me mobilizam. Ando para continuar a minha história da Isabel, a mulher ciumenta, e a do Dr. Sotto Aguiar, um executivo com muita pinta e uma vida familiar muito chata, e não consigo. Ainda hoje vinha danadinha para pegar no bonitão e, afinal, as notícias são sempre tão preocupantes que me apetece denunciar a má gestão pública e desmontar a deficiente interpretação de alguns factores de análise.

Portanto, hoje já não devo ter fôlego para alguma diversão depois desta minha empreitada de serviço público aqui (presunção e água benta cada um toma a que quer, certo?), e depois do meu veraneio pelo Ginjal (se é que lá vou conseguir ir...).

Agora vamos a coisas sérias (e espero que não muito maçadoras para vocês).

*

Música, por favor

(Para haver aqui alguma coisa que se aproveite)





1. Volto a Paulo Portas e só espero que não me chamem alentejana: primeiro porque seria aborrecido para os alentejanos e, depois, porque não falei ontem, como devia, porque aquela cena da histeria pela ida aos mercados me tirou do sério.

E volto a Paulo Portas não por qualquer paranóia em relação a ele, que não tenho (porque até acho que ele, bem encarreirado e bem acompanhado, talvez até pudesse ter salvação... - assim, entregue a si próprio e pessimamente acompanhado, perde-se irremediavelmente), mas porque ultimamente o tenho visto em 'números' graves, em 'cenas' que são más para o País e que não abonam nada a favor da sua boa conduta política, profissional e, até, patriótica.

Sobre as fantochadas encenadas com o inqualificável primeiro ministro (que só não digo que faz coisas verdadeiramente under dog porque gosto muito de cães), já falei no fim de semana e na segunda feira.




Hoje vou falar de outra coisa. Vi-o ontem na televisão, penso que acompanhando o Cavaco na visita do Presidente da Turquia e de uma delegação de empresários, falando  do bom que é investir em Portugal. Até aqui tudo bem e é o papel dele. O pior veio a seguir. De que investimentos falou Paulo Portas? Pois bem: em vez de querer cativar investimento para novas actividades, não: começou a vender as empresas nacionais. Qual vendilhão, pôs-se a enumerar: vendia tudo, correios, transportes, tudo. Ao ouvi-lo saí da sala, não consegui ver mais. Não é possível termos um ministro a fazer coisas destas.

Vender as nossas empresas é vender anéis, quando não vender os dedos. Entra dinheiro, apenas isso. Mas é dinheiro que se vai evaporar como manteiga em focinho de cão. Vendendo as nossas empresas a empresas estrangeiras (e, por cúmulo da aberração, vender a empresas estatais estrangeiras!), é poder de decisão que sai do País (e eu sei, e - read my lips! - eu sei mesmo, que isso acontece e que isso é mau para o País), são serviços que fecham, quando não núcleos de actividade que 'vão à vida' (vide a Cimpor, por exemplo).




O que importa agora, mas importa muito, é cativar investimento fresco, investimento externo para desenvolver novas actividades, para criar valor no país, para criar postos de trabalho. Claro que, na prática, o que estou a dizer é investimento fresco para 'gerar' novos contribuintes (pelo lado do IRS, IRC, IVA e TSU) e reduzir beneficiários de massa social (menos subsídio de desemprego, menos subsídios de inserção social). E isto é vital para um País, vital. E, para nós, neste momento, é absolutamente indispensável.

E porque é importante atrair investimento estrangeiro? Podia ser nacional, talvez pensem. Mas digo investimento estrangeiro não apenas porque são recursos que entram no País mas, sobretudo, porque os investidores nacionais estão exangues. Tirando os grande merceeiros, quase não há mais grandes empresários endinheirados em Portugal.

Mas, meus Caros Leitores, dinheiro no mundo é o que não falta. E há bons investidores, investidores com liquidez e que buscam entrar no mercado europeu ou arranjar portas para África (de novo: read my lips, sei do que falo). E é isso que interessa atrair. Atrair investimento para novos projectos, projectos localizados cá - atrair dinheiro,  invocando a existência de mão de obra qualificada, mão de obra com conhecimento de línguas, e bom clima e um bom sistema viário, bons portos, alojamento agradável, um bom sistema de ensino, bons hospitais, e etc, etc, etc. Claro que deveriam poder também invocar um sistema fiscal justo, adequado, estável.




Ora, o que esta cambada de incompetentes está a fazer é tudo ao contrário: não apenas afugentam os jovens, a mão de obra mais qualificada e mais motivada, como deixam de manter as estradas, querem espatifar com o sistema de ensino e com o sistema de saúde e, sobretudo, não sabem captar investimento estrangeiro para novas actividades. E, no campo fiscal, não só o transformaram num pesadelo como, pior ainda, num pesadelo em constante mutação (e, caraças!, sempre para pior) - ora é sabido que as decisões de investimento assentam na previsibilidade. Para investir fazem-se planos a médio/ longo prazo. Ora, na actual conjuntura, com o país entregue a um absoluto desgoverno, quem é que consegue fazer qualquer plano usando factores variáveis internos? Ninguém. Todas as previsões do Governo falham e todo o dia são conhecidas novas medidas, mas medidas avulsas, imprecisas, medidas que caem dias depois. Um caos.

Portanto, que Paulo Portas, em vez de se concentrar no que é deveras importante para Portugal, ande a inaugurar mini ginásios na Índia ou a ver se vende a pataco as nossas empresas acho, pois, muito grave, acho uma tristeza, uma grande, grande tristeza.


2. Um outro assunto. Li hoje um texto muito interessante, escrito por alguém cujos textos (e poemas!) leio assiduamente pela oportunidade, lucidez, inteligência e cultura. O texto chama-se Caminhos de Ajustamento e aborda uma análise que merece reflexão: será possível uma sociedade liberal sem a intervenção social do Estado?

A minha opinião, tal como a de JCM, autor do texto contido no blogue Kyrie Eleison, é a de que não é possível. Ou melhor, não é desejável.




No entanto, aquilo a que assistimos em Portugal não é apenas o primado de uma visão liberal. Aquilo a que assistimos é uma visão ignorante, estúpida. Pensam que são liberais, modernos, mas, para nossa desgraça, o que são é muito incompetentes, muito pouco inteligentes.

Durante vários anos contactei muito de perto com alemães e holandeses. Na altura, eu ficava admirada com o nível fiscal elevado que tinham nos seus países. Na altura, há uns anos, Portugal não tinha um nível fiscal muito elevado. Na Holanda ou na Alemanha, na altura, era mais elevado. E, no entanto, eles não se queixavam. Na altura, o ensino lá era absolutamente gratuito. Os miúdos não pagavam nem sequer os livros ou o material escolar. Havia creches gratuitas, escolas para todas as idades, tudo gratuito. Na altura, em Portugal não havia creches gratuitas, as escolas primárias públicas funcionavam em meio horário, obrigando grande parte das mulheres trabalhadoras a terem os filhos em escolas particulares. E os livros e todo o material, que não era nada barato, era (e ainda é) pago. E lá, contavam-me eles, havia também uma assistência fantástica à maternidade (e, na altura, eu reportava-me ao meu caso, em que tinha tido apenas 3 meses de licença enquanto lá, salvo erro, era variável entre 6 meses e um ano). E havia mais um conjunto de factores com que agora não vou estar aqui a maçar-vos mas que eles valorizavam com entusiasmo.

Ou seja, uma sociedade desenvolvida não tem que desprezar o lado social da intervenção do Estado. Muito pelo contrário. E é que, também muito pelo contrário, um bom sistema público de apoio não apenas propicia condições dignas à população, como garante igualdade de acessos a toda a gente - e isso é a base de todos os sistemas democráticos, desenvolvidos, sustentados.

Quando se diz que em Portugal há um peso excessivo do Estado não se está a dizer toda a verdade.




É um facto que há uma parte significativa da população que vive do Estado (tal como há uma camada crescente que vive do ar): são os desempregados, os pensionistas, e são, claro, os funcionários da administração pública. 

Mas tudo isto não seria dramático se as contribuições e impostos estivessem a entrar na proporção do dinheiro que sai para fazer face aos pagamentos.

Se houver poucos desempregados, se estiverem a entrar novos contribuintes ao ritmo a que entram no regime de reforma novos pensionistas, se os serviços prestados pelo Estado forem adequados às necessidades e não menos eficientes que equivalentes privados, todo o sistema estaria a funcionar balanceadmente, sem desequilíbrios.




O que está mal em Portugal (tal como está mal nos países em que tem imperado a receita estúpida, burra, da austeridade como único critério de gestão da coisa pública) é que se desequilibrou a equação.

Gente burra é um problema. Onde metem as patas dão cabo de tudo.

É o que tem acontecido: ao diminuírem o rendimento líquido de parte significativa da população, retiraram liquidez da economia. Sem liquidez e sem confiança (que são os grandes motores da economia), o sistema económico entrou em desequilíbrio. Isso levou ao encerramento de grande número de pequenas actividades intermédias (que, no conjunto, empregam muita gente): pequenas lojas, restaurantes, etc. Com isso, começou a ruir, em cadeia, toda a economia de retalho.




Quando isto acontece, não apenas são pessoas que deixam de consumir (retiram os filhos dos colégios, deixam de ir ao cabeleireiro, deixam de ir ao cinema, etc, acarretando novos encerramentos) como deixam de contribuir com o anterior nível de impostos e contribuições. Ou seja a equação começa a tornar-se inequação. Mas, ao entrarem no desemprego, acresce que as pessoas passam de contribuintes a beneficiárias. Ou seja, mais agravam a inequação pois há uma actuação nos dois lados da equação e, em ambos os casos, mexendo no sentido errado. 

(Para facilitar: supondo que entravam 100 nos cofres de estado e que era preciso efectuar 100 de pagamentos. Estaria tudo bem, à justa, mas bem. Suponhamos agora que, com medidas burras, em vez de 100, passam a entrar menos impostos e contribuições, que entra apenas 70. Já tinha desequilibrado isto tudo pois os 70 já não davam para pagar os 100. Só que, com as medidas estúpidas, as pessoas passam de contribuintes a beneficiárias, ou sejam, passam a receber subsídio de desemprego, e, em vez de ter que pagar os 100 anteriores, passa a ser necessário pagar 130. Ou seja, desgraçam a vida das pessoas e qual o resultado? De receitas passam a ter 70 para fazer face a 130 de pagamentos. Ou seja, não dá! Deram cabo de tudo!)




E quando constatam isto, o que é que estas alimárias concluem? Ou seja, como é gente sem cabeça, o que é estes governantes fazem? Aqui d'el rei, o país não suporta tanta despesa social! E então, vai daí, reduzem o número de funcionários públicos, reduzem as reformas, deixam de pagar subsídio de desemprego a mais pessoas ... ou seja, agravam o problema. Ou seja, continuam retirar liquidez da economia... e mais actividades a fecharem. E vai daí, continuam, continuam.

Antes disso já tinham, é claro, suspendido todos os investimentos públicos. Acabaram com a construção ou reparação de estradas, acabaram com o TGV, com a nova ponte, com o Parque Escolar, com o programa Pólis e com tudo o que fazia girar a economia. Eram investimentos públicos, é certo, mas, ao serem investimentos que chegavam a todo o território, eram empregos que existiam um pouco por todo o lado, empresas que faziam projectos, que produziam materiais, operários, engenheiros, e depois era preciso haver restauração local para acorrer a esses trabalhadores, era preciso haver transportes para levar pessoas e materiais, etc. Era gente que descontava, eram impostos que entravam, eram contribuições para a Segurança Social. Ora, por obra e graça desta gente, tudo isso acabou.

Claro que não estou a dizer que o que havia era um mundo perfeito. Não era. E não era porquê?

Porque, no decurso  de todos estes anos de UE, Portugal foi levado (e aceitou! Com Cavaco à cabeça!) a encerrar grande parte da sua actividade produtiva ou extractiva. 

O País não estava bem pois importava mais do que exportava. E era aí que se deveria incidir. Sócrates tentou-o: tentou construir e exportar navios, computadores, casas pré-fabricadas. Nem tudo lhe correu bem mas conseguiu algumas coisas e isso é melhor que nada. E, sobretudo, tentou.

Estes sujeitos agora é que não fazem nada do que é importante e, pelo contrário, agindo com as patas (é que nem é com os pés...), fazem tudo ao contrário, dão cabo de tudo.




Mas o pior ainda está para vir. Não quero ser a versão feminina do Medina Carreira mas ouçam o que eu vos digo: o pior está para vir.

É que não são só os desmandos que esta gente anda a levar a cabo nisto que acabei de, sumariamente, descrever: é também a demografia.

A gestão de um País tem que assentar na sua demografia. Ora isso por cá é chinês. Ninguém sabe, ninguém quer saber. Uma correcta gestão nacional tem que fomentar, através de políticas públicas, uma demografia saudável.

Ouvi no outro dia que o número de alunos do ensino básico é agora cerca de 51% do que era há uns anos. Ora estes 51% de miúdos, serão 51% de adultos a curto prazo. Dramático. E, desses, a continuarmos na mesma onda, grande parte estará desempregada. E será a pequena parcela empregada que irá sustentar todo o sistema social da população. O que significa isso? Impossibilidade matemática. Logo: miséria. 




Vamos voltar ao que era antes do 25 de Abril. Não conheci, como adulta, essa realidade - mas ouvi falar. Velhos sem rendimentos, dependentes da esmola dos filhos. Mas pior. Nessa altura, a demografia estava em crescendo. Havia velhos pobres mas havia uma geração adulta em ascensão, com rendimentos. Daqui por uns anos haverá poucos adultos, muitos dos quais desempregados ou que emigrarão fazendo os seus descontos noutros países. Ou seja, não haverá quem sustente o estado social, sequer quem garanta o alimento à população mais velha.

*

O texto saíu-me imenso e ao tentar aligeirá-lo, inserindo algumas imagens, mais uma vez me ocorreu Francis Bacon, o pintor que se auto-retratou como se estivesse em decomposição, que retratou outros corpos como se estivessem tomados pelo horror, pela abjecção. Não são imagens bonitas de se ver. Mas não me ocorreu nada mais apropriado.

Em contrapartida, apeteceu-me ter aqui Simon and Garfunkel e o seu inesquecível The Sounds of Silence (Hello darkness, my old friend,..., And in the naked light, I saw ten thousand people, maybe more, people talking without speaking, people hearing without listening...).

Os sons do silêncio parecem-me apropriados ao momento mas a sonoridade da canção traz-nos algum amparo.

*

Caso encontrem gralhas, por favor relevem, está bem? Não consigo ainda ir rever isto, tenho sono... Mas, se encontrarem algum há sem h ou outra calinada do género, avisem-me sem qualquer espécie de prurido, está bem? 

*

Muito gostaria ainda de vos convidar a visitarem-me também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje não encontrei por lá a paz que tão bem me faz. Pela mão de André Tomé as minhas palavras não se aquietaram. Mas, ainda assim, gostava de vos ter por lá. A música, essa sim, é uma animação: a música do Mali pelo fantástico Ali Farka Touré.


*

Resta-me desejar-vos uma bela quinta feira. Ânimo, energia, alegria é o que precisamos.

quarta-feira, abril 20, 2011

Medina Carreira em entrevista a Ricardo Costa no Expresso - a verdade dos números ou quando a política não deve subestimar as análises técnicas rigorosas. Ou quando os que hoje mais clamam pelo Estado Social são os que mais fundo cavam a sua sepultura

Na gestão de um país, tal como na gestão de qualquer organização, há aspectos que são técnicos, não políticos.

Para os gerir requer-se competência técnica e não política.

Nestes domínios, a questão política deve aparecer apenas quando, para um problema, há várias soluções possíveis e é preciso escolher uma de entre várias.

Por exemplo, se é preciso acorrer a uma área imprevista e é necessário dispor de 100 milhões de euros que não existem, entrará a componente política decidindo se, apesar disso, vão acudir ou se vão explicar que não é possível, e, em caso afirmativo, onde preferencialmente se deverão ir buscar esses 100 milhões. Claro que mesmo nesse caso, o decisor político deverá estar secundado por um técnico pois, por exemplo, se decidir ir buscá-lo aos bancos, o técnico financeiro poderá alertar para a não existência de linhas de crédito disponíveis, ou, se decidir ir buscá-los a um novo imposto, o técnico jurídico poderá alertar para a inconstitucionalidade dessa opção.

São apenas exemplos mas ilustram o que se passa no dia a dia.

No entanto, há aspectos há em que a primeira avaliação tem que ser técnica, objectiva.

Medina Carreira de há muito vinha alertando para a situação ... e nós não o quisemos ouvir

Olha-se para os gráficos que ilustram a entrevista de Ricardo Costa a Medina Carreira no Expresso e qualquer técnico vê, inequivocamente, o desastre que ali está. Nem é preciso nenhuma análise complexa.

A leitura visual do descalabro

O acentuado crescimento da despesa que se pode ver no gráfico apenas seria suportável num contexto de brutal crescimento económico, de brutal crescimento demográfico: nessas circunstâncias haveria um salto na entrada de receitas quer por via de impostos sobre uma actividade económica fulgurante, quer por via de um salto acentuado de novos contribuintes.

Ora nada disto se verifica: a demografia portuguesa está a cada vez mais decrépita (as pessoas vivem, felizmente, cada vez até mais tarde; e nascem cada vez menos crianças) e a economia definha, dia após dia.

Como Medina Carreira refere, e muito bem, são 6 milhões de pessoas a viverem, directa ou indirectamente, à custa dos impostos e contribuições dos que ainda conseguem descontar.

Ou seja, estamos perante realidades matemáticas contraditórias. O break even point há muito que ficou para trás mas, ao invés, de estarmos a caminhar no sentido da sustentabilidade, estamos a andar para trás, a caminho do ponto de implosão daquilo a que chamamos estado social. Por um lado, cada vez maiores necessidades, e, por outro, cada vez menos disponibilidades – isto é: uma impossibilidade aritmética.

E isto é uma constatação objectiva.

Não vale a pena agitar bandeiras a favor do estado social, ou ‘fascismo nunca mais’, ou ’25 de Abril sempre’, ou ‘o povo unido jamais será vencido’, ou 'FMI fora de Portuga'l, porque o problema é aritmético, não é ideológico.

Só depois desta compreensão é que deverá entrar a política: ou seja, tendo-se visto qual o perigoso trilho que se está a percorrer, haverá que enfrentar de frente a questão e explicar que, não havendo para todos, imperioso será reequacionar a questão e equacionar alternativas – ou abranger menos beneficiários ou abranger os mesmos mas com menos retribuição ou um misto de ambas.

Claro que a política de longo prazo e a macroeconomia deverão andar a par e passo nas grandes decisões.

Ter 60% de beneficiários contra 40% de contribuintes é manifestamente uma inequação de um desequilíbrio insustentável. Logo, a primeira medida de fundo deverá ser uma redistribuição de fundo: progressivamente será indispensável desviar uma percentagem significativa de beneficiários para a economia real. Daí que seja indispensável reduzir o peso do estado e injectar recursos (incluindo os humanos) na economia.

Depois rever as fórmulas de cálculo das pensões e subsídios (instituir um plafond? não pagar 14 meses por ano? rever a relação entre o que se descontou e o que se prevê usufruir? – são hipóteses que devem ser objecto de cálculos de tipo actuarial e de simulações matemáticas antes de se avançar para a discussão política). Rever todo o esquema de diuturnidades, anuidades, progressões na carreira - é outra área a rever. Tem que se travar a subida da despesa para além daquilo que a receita consegue comportar.

A questão da pesada dependência das importações, que leva ao desequilíbrio da balança de transacções externas, a questão do sobre-endividamento das famílias e das empresas (convém lembrar que a política fiscal em vigor favorece a alavancagem financeira, conforme já referi em posts anteriores) – são outras questões que devem ser igualmente analisadas, mas sempre, em primeira mão, sob uma perspectiva desapaixonada, técnica, objectiva.

Uma outra área que neste momento está a introduzir uma nova parcela de preocupação é a dos juros da dívida. Mais juros representam mais despesa e juros cuja percentagem seja superior à do crescimento económico mais inflação são incomportáveis. Ora é o que se está a passar: os juros hoje são já o triplo ou mais do que é possível pagar.

[Não vale a pena voltar a referir com detalhe que o excesso de voluntarismo, o 'orgulho besta', a cegueira obstinada de Sócrates - não sendo capaz de perceber o abismo intransponível para que caminhavam as finanças nacionais, não sendo capaz de perceber que só com ajuda externa lá iríamos, a dilação na decisão de a pedir - agravou ainda mais a frágil situação financeira do País]

E convirá explicar tudo de uma forma muito clara, com exemplos reais, apresentados de uma forma muito simples para que as pessoas todas percebam o que se passa.

Conversas de Jerónimos, de Louçãs, de Relvas, de Dragos e quejandos que, de forma populista, se aproveitam do desconhecimento dos problemas por parte do grande público e que manipulam as pessoas tirando partido dos seus medos, das suas preocupações, são lastimáveis e deverão merecer o repúdio de toda a gente.

Face ao estado em que nos encontramos, sentados no degrau da igreja a puxar pela aba do casaco de quem passa, a pedir uma esmolinha, acho que é mais do que chegado o tempo do pragmatismo, do rigor, da competência.

Políticos sem curriculum (como Alexandre Soares dos Santos no outro dia referiu na entrevista a Fátima Campos Ferreira) são perfeitamente escusados nos tempos que correm.

Nota: O post já vai longo. Não vou, por isso, falar da cobardia do PCP e do BE ao esquivarem-se a conversarem com a troika negociadora. Lastimável.

segunda-feira, janeiro 31, 2011

Jovens alemães problemáticos enviados para Portugal


Criança feliz brinca no jardim

Tenho estado a evitar escrever sobre isto porque não conheço os factos com a profundidade que o assunto mereceria. Talvez que o que eu penso que é uma coisa brutal seja afinal uma coisa normal, benéfica. Mas o assunto tem andado a incomodar-me. Vou escrever com reservas - esperando estar totalmente enganada.

Pelo que ouvi e li nos media, desde há alguns anos as autoridades alemãs enviam para Portugal, para famílias de acolhimento ou para associações, jovens problemáticos. Ouvi falar em já cerca de 300 jovens. Li também que o presidente do Instituto da Segurança Social, Edmundo Martinho, diz que nenhuma dessas associações tem existência legal. Aparentemente são constituidas por pessoas que se associam porque vêem nesta actividade uma forma de ganhar dinheiro, cerca de 3.800 euros por mês por cada jovem.

Além disso, não se trata, ao que parece, de associações ou famílias com preparação para lidar com a delinquência juvenil ou com problemas psicológicos ou neurológicos; nem usam o dinheiro que recebem para garantir que os jovens tenham os cuidados médicos ou apoio psicológico de que necessitam. Algumas dessas pessoas estarão, aliás, também sinalizadas como consumidoras de drogas.

Como se isso não bastasse, as notícias dão conta da grande inadaptação desses miúdos à realidade portuguesa e ao meio específico em que se viram inseridos. Alguns acabam por se entregar, eles também, à droga ou à delinquência; e, pior que tudo, é tanto o seu sofrimento que, pelo menos dois, já terão tentado o suicídio.

Avó ajudando o seu neto a andar num carrinho

Quando o assunto se refere a crianças ou a jovens o meu coração imediatamente entra em red alert. O meu sentimento pessoal vai sempre no sentido da necessidade absoluta de se protegerem aqueles que não pediram para existir e que ainda não têm os recursos íntrinsecos para serem psicologica e socialmente independentes.

Pensar que uma criança não tem pais - ou, na falta deles, outra família - que a cuide, a proteja, a ame, a eduque, a apoie no seu desenvolvimento, enche-me de profunda tristeza.

Mas, enfim, a vida por vezes é assim, desencontra-se de algumas pessoas. E é aí que deve entrar o Estado.

Quando falha o núcleo próximo, as instituições estatais devem zelar por que qualquer criança tenha quem a ampare (no sentido inglês de care, take care). Podem ser instituições sérias, de reputação imaculada (e não como foi, até tempos atrás, a Casa Pia, autêntica agência de lenocínio infantil masculino), poderão ser instituições de tratamento médico se for esse o caso, podem ser até famílias de acolhimento. Pode ser qualquer solução tecnicamente reconhecida como a mais adequada às circunstâncias concretas.

Agora o que o Estado não pode fazer, em meu entender, é 'despachar' as crianças para longe, ver-se livre delas. Não sei se o que a Alemanha faz, é feito também noutros países. Eu nunca ouvi. A palavra deportação é a que me ocorre. Mas nem quero fazer essa associação de ideias.

Agora o que não consigo imaginar é que possa fazer bem a qualquer jovem, problemático ainda por cima, enviá-lo para um país estrangeiro, onde a língua e a cultura são tão diferentes, desenraizá-lo de uma forma tão brutal, deixá-lo à mercê de quem vê nisto apenas uma forma fácil e pouco escrupulosa de ganhar dinheiro (a fazer fé no que a comunicação social tem relatado).

É esta a Alemanha da alta produtividade, do crescimento económico exemplar, que tem nas mãos o futuro da zona euro... e que assim trata, como resíduo tóxico, os seus jovens problemáticos e desprotegidos?

Aperta-se-me o coração por pensar que isto pode acontecer num país desenvolvido; aperta-se-me o coração pensar que se um dia, por cá, uma família nossa tem a infelicidade de se desestruturar e de ter uma criança desenquadrada, o Estado pode pegar nela e despachá-la para um qualquer outro país longínquo, à mercê de gente que não a vai amar nem proteger...

Não pode ser. Não pode ser. Não pode ser. Não pode ser. Não pode ser!


Mãe levando o seu filho ao colo

Uma sociedade não poderá ser considerada desenvolvida se não garantir que todos os filhos possam ter um colo que os acolha, uma voz que os acalme, uma mão que os acaricie.

Mesmo que o colo, a voz, a mão não sejam as de sua mãe.

sábado, agosto 28, 2010

'Decisões Inadiáveis', Daniel Bessa no Expresso - ou a urgência de uma reflexão despartidarizada sobre o Esdado Social

“A evolução recente da despesa corrente primária da Administração Central, crescendo a 6% ao ano apesar do propósito enunciado pelo Governo de a fazer diminuir, não pode deixar de motivar alguma reflexão.

No essencial, a conclusão a que temos que chegar é que o Governo não controla, nem pode controlar uma parte importante da despesa (rendimentos atribuídos por razões de política social e despesa do âmbito do Serviço Nacional de Saúde). […]

Com a economia enredada num crescimento muito baixo, há mais uma conclusão inevitável: criou-se, em Portugal, um conjunto de direitos que transcendem, hoje, a capacidade de actuação do próprio Governo e que acarretam um custo que a economia portuguesa não pode suportar.

Aproximam-se dias de verdade. Ou o sistema político (e não apenas o Governo) consegue libertar a economia desta avalancha de custos (que alguns insistem em continuar a ignorar, sob o dogma da intocabilidade do chamado Estado Social) ou a economia portuguesa definhará cada vez mais. Aumentar os impostos, podendo parecer que resolve o problema, não fará mais que agravá-lo.”

Texto escrito pelo insuspeito Daniel Bessa no Expresso de hoje.

Recordo-me que a seguir ao 25 de Abril todas as mulheres que nunca tinham trabalhado acorriam em massa a forjar que tinham trabalhado como empregadas domésticas ou outras profissões do género, garantindo com isso, o recebimento de pensões de reforma. E os ordenados de várias profissões da função pública dispararam e as regalias de toda a espécie para os próprios e agregados familiares eram um maná que parecia cair do céu. De repente o Estado assumia compromissos enormes e a longo prazo.

A julgar pelo que os omnipresentes e insuportáveis Bettencourt Picanço, Ana Avoila, Mário Nogueira e quejandos, grande parte dos profissionais da Administração Pública passaram a ter como principal móbil profissional a discussão da ‘carreira’, dos ‘estatutos’ e outros conceitos do género que se resumem a assegurar automatismos no aumento de ordenados, subsídios e outras formas de rendimentos ou regalias.


E quem não conhece ou ouviu falar de casos de pessoas que recebem subsídios de desemprego ou de inserção, enquanto têm outras actividades remuneradas ‘por fora’, e que não aceitam trabalho ‘legal’ porque “não compensa”?

Tentei fazer um rácio mas não encontrei os valores para tal. Gostava de saber qual a proporção da população que trabalha em empresas e paga impostos (e aqui abranjo os impostos de tipo IRS ou os descontos para a Segurança Social) face à população que vive de rendimentos que provêm desses descontos (funcionários públicos, reformados, desempregados, etc). Penso que esse rácio, por si só, demonstraria que estamos perante um cenário de insustentabilidade.

Claro que os funcionários públicos são indispensáveis (e quem dera que, regra geral, os serviços que prestam fossem melhores), claro que os pensionistas e os desempregados, os doentes e todos os que necessitam têm que ter rendimentos, claro que tudo isso.

Mas os argumentos têm que ser esgrimidos perante factos, perante números. E, sem colocar em causa o Estado Social, é imperioso que se repense o esquema de automatismos e de regalias absurdas que existem na Administração Pública e que tudo seja repensada numa base de objectividade e de pragmatismo sob risco de o Estado Social implodir mesmo.
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terça-feira, agosto 17, 2010

Filantrocapitalismos - populismos, simplismos e outros ismos


(Rui Nabeiro, em Campo Maior - fotografia disponível na net)
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O texto seguinte foi inspirado na leitura, que me foi sugerida, do seguinte artigo de João Rodrigues do Jornal Ionline do dia 16 de Agosto:
http://www.ionline.pt/conteudo/73929-filantrocapitalismos
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Há em toda a gente, especialmente nos que se sentem, de alguma forma, abençoados, a vontade de deixar algo que perpetue a sua memória para além dos tempos.

Toda a gente mais facilmente justificará a sua existência se sentir que ela teve um propósito e que esse propósito foi fazer algo em prole da comunidade ou da humanidade (consoante a ambição).

Isto acontece em todo o lado, a todos os níveis, em todos os graus.

Não há vila que não tenha um pequeno busto em honra de quem ajudou a Misericórdia local, não há cidade sem ruas com nomes de pequenos filantropos locais. Desde o industrial de uma cidade de província que financia a construção ou apenas o arranjo de uma ala de um hospital deixando lá uma placa com o seu nome, ao Dr. Vieira de Carvalho antigo presidente da edilidade maiata, que dá nome à praça principal e que mandou erigir uma edifício em torre que se visse dos municípios circundantes dizendo que, com isso, iria desenvolver a cidade, passando por Joe Berardo e mais as suas colecções e fundações, até ao honorável Rui Nabeiro que tudo tem feito por Campo Maior, em todos, de forma mais ou menos altruísta, mais ou menos respeitável, existe a vontade de ser recordado pelas gerações vindouras e de deixar o seu nome ligado a causas nobres.

Os exemplos são inúmeros, cá como em toda a parte do mundo. A Oprah Foundation, a Melissa and Bill Gates Foundation ou a Warren Buffett Foundation são inegavelmente, e àparte intuitos mais ou menos egoístas ou narcísicos, nobres ideias e valiosos contributos à comunidade.

A doação de António Champalimaud a uma Fundação que promova a investigação e o desenvolvimento em sectores de ponta ou a Fundação Francisco Manuel dos Santos, liderada por António Barreto que visa a investigação histórica e sociológica portuguesa, são outros notáveis exemplos - e isto apenas para referir dois casos recentes e sobejamente conhecidos.

Trata-se, no fundo, da redistribuição da riqueza acumulada por pessoas ou empresas.

É da natureza humana e é meritório.

Construir escolas, promover vacinação e outro apoio médico gratuito junto de populações carenciadas, patrocinar investigação, são iniciativas que ninguém pode senão louvar.

(Não me refiro aqui a um outro fenómeno, muito banalizado nos EUA, que é a filantropia como ocupação social. Nos EUA, universo de todos os extremos (em que, de cada coisa, existem todos os tipos de gradações - desde o pouco até ao excesso, quase caricatural) existe, especialmente na classe mais conservadora (e mais desfavorável ao Estado Social – vide o que se passou com a votação da reforma da Saúde), a ocupação, geralmnete por parte das ‘esposas’ dos empresários ricos, de organizar festinhas de angariação de fundos para tudo e mais alguma coisa. Mas isso é apenas mais uma demonstração do que é o mix cultural americano. É um epifenómeno que deve ser visto enquanto tal)


Outra questão, bem diferente e que deve ser equacionada como um assunto distinto é a que se prende com o que levou à acumulação de riqueza por parte dos patronos das fundações.

E aqui é perigoso generalizar. Basta ver os casos referidos para se perceber que acumular riqueza não é sinónimo automático de espoliar os desfavorecidos e, portanto, não é criticável de per se.

Casos há, e talvez sejam a larga maioria, em que, quem acumula riqueza para além do normal, o faz porque teve uma ideia inovadora que transformou num negócio super rentável (Bill Gates), ou porque construiu um modelo de negócio sustentável (Rui Nabeiro) ou, ainda, porque tem méritos profissionais que o torna altamente remunerado (Oprah, Luís Figo, etc) e milhares de outros exemplos em que nada há de reprovável.

Ser empreendedor e ter sucesso nos negócios é meritório e desejável. Assim se constrói a economia de um País.

Aplicar bem o capital é uma virtude e esse é o bom capitalismo.

Onde eu já não consigo ver tanta virtude é no capitalismo em que se joga o capital pelo capital, os investidores que não colocam as mãos no negócio, apenas transaccionam capital. O lucro especulativo tout court.

Penso que nem será justo incluir nesta categoria, de forma simplista, um capitalista puro como Warren Buffett pois, pelo que sei, é um corredor de fundo, aposta numa área e aí investe durante anos, não entra e sai, ao sabor das flutuações bolsistas.

Da mesma forma, me custa incluir no grupo dos ‘maus’ capitalistas um exemplo ultimamente muito referido, o Miguel Paes do Amaral pois, do que conheço, investe, desenvolve e, quando lhe parece oportuno, vende, é certo, mas o facto é que, enquanto investe, desenvolve e isso não é coisa pouca. O que tem feito no mercado editorial não é negligenciável e prepara-se para avançar para mercados de outra dimensão como o africano ou o brasileiro. Faz lucros, é certo, mas desenvolve o mercado livreiro e cria mais-valias no país.

Ou seja, mau mesmo - porque não acrescentam valor, senão para os directamente beneficiários - são os que destroem uma empresa ou a super valorizam artificialmente, que arrasam uma economia, que desvalorizam fundos de pensões, que anulam postos de trabalho apenas por especulação, na insana busca de lucros bolsistas imediatos.

Uma economia que assenta económica e financeiramente em actividades como estas é uma economia volátil, como se viu. Proporciona súbitas riquezas, acumulações ilógicas de capital, a concentração condenável de muito dinheiro numa minoria, estimula o espertismo, o egoísmo, o desprezo pelos mais fracos pois, para quem gira nesta órbita, o que interessa é a obtenção de mais-valias imediatas e nada mais. É, como se tem provado à saciedade, uma economia assente em coisa nenhuma: a quem por aqui gravita não interessa a agricultura, a indústria, a educação, nada. Nem são estes, regra geral, os filantropos.

Um outro assunto, distinto dos dois anteriores (a filantropia e as várias formas de capitalismo) é o da visão social de quem governa um País, questão política fracturante. Os Estados Unidos (especialmente nos períodos republicanos, como a recente era Bush) e os países do Norte da Europa são dois modelos antagónicos. Ambos encaixariam no que simplificadamente se podereia chamar de economia capitalista e, no entanto, é toda uma concepção de Estado que é diferente.

A este tema voltarei noutro dia que este post já vai longo.

Mas, como síntese, direi que uma análise que, generalizadamente, mistura capitalismo, filantropismo, os ricos e os pobres, medicina privada e medicina pública pode soar bem mas é uma misturada pouco rigorosa, é a típica análise populista da esquerda prêt-a-porter.