The “afterlife” according to Einstein’s special relativity | Sabine Hossenfelder
Sabine Hossenfelder investiga as grandes questões da vida através das lentes da física, particularmente a teoria da relatividade especial de Einstein. Ela destaca a relatividade da simultaneidade, que afirma que a noção de "agora" é subjetiva e dependente do observador. Isso leva ao conceito de universo de blocos, onde passado, presente e futuro existem simultaneamente, tornando o passado tão real quanto o presente.
Hossenfelder também enfatiza que as leis fundamentais da natureza preservam a informação em vez de destruí-la. Embora as informações sobre uma pessoa falecida se dispersem, elas permanecem parte integrante do universo. Essa ideia de existência atemporal, derivada do estudo da física fundamental, oferece percepções espirituais profundas que podem ser difíceis de internalizar na nossa vida quotidiana. Como resultado, Hossenfelder encoraja as pessoas a confiar no método científico e aceitar as profundas implicações dessas descobertas, que podem remodelar a nossa compreensão da vida e da existência.
Como físico, Hossenfelder confia no conhecimento adquirido por meio do método científico e reconhece o desafio de integrar essas percepções profundas nas nossas experiências diárias. Ao contemplar esses conceitos profundos, podemos potencialmente expandir a nossa compreensão da realidade e nosso lugar dentro dela.
segunda-feira, julho 31, 2023
Onde não se fala do divórcio entre a Catarina Furtado e o João Reis
(isso fica o Expresso, esse jornal de referência)
mas sobre o que há depois da vida, segundo Einstein
(isso fica o Expresso, esse jornal de referência)
mas sobre o que há depois da vida, segundo Einstein
domingo, julho 30, 2023
Rolo de carne com batatinhas de forno, com algumas oportunidades de melhoria
Já contei a história ao adormecer, já dormem. Desta fez o enredo decorreu num barco à vela, festa de anos num barco à vela. E eu, história contada e eles adormecidos, aterrei aqui no sofá e adormeci também.
Acordei agora para contar como foi.
Logo que os fomos buscar, vi logo que havia coisa. Estavam zangados, um com o outro. Ela dizia que ficava na cama habitual e ele, o mano do meio, dizia que era ele que lá ia dormir. O mais novo disse que tanto se lhe dava. Mas os mais crescidos, picados, picados.
Cá chegados, achei que o melhor seria resolver logo isso senão o tema ia infectar o ambiente em permanência.
Ela, de qualquer forma, mal chegou, abriu a sua mala e instalou-se no quarto do costume, incluindo colocando roupa no roupeiro. Teimosinha...
Resolvi que a cama 'dela' era a nº 1 e uma das outras a cama nº 2. Escreveu uns papelinhos e tiraram à sorte. Azar, saiu-lhe mesmo a cama nº 2. Ficou numa infelicidade.
Sugeri ao irmão que tivesse um gesto: abdicasse da vitória que tinha conseguido. Hesitou mas concordou.
Sugeri então que ela agradecesse ao irmão. Contrariada lá deixou cair um obrigada quase inaudível. Sugeri que desse um beijinho. Contrariada, deu-lhe um pseudo-beijo no cabelo. Disse-lhe que não valia. Lá deu, então, um breve beijo na cara do irmão.
Mas aí operou-se um milagre: ficaram amigos. Acho que ele ficou contente por ter sido superior e por a irmã lhe ter agradecido e ela ficou contente porque conseguiu o que quis e porque o irmão lhe fez a vontade.
Portanto, o dia decorreu com eles na maior pacificação.
O mais novo, nem aí. Não se mete nas guerras dos mais velhos.
Para o jantar fiz rolo de carne. Como gosto é de improvisar, improvisei. Mas depois há sempre qualquer coisa que poderia ter ficado melhor.
Vou contar como fiz:
No talho escolhi 1 kg de carne de vaca e 1 kg de carne de porco. E pedi para ser contemplado meio chouriço de carne, sem a pele de fora. Pedi para moer em conjunto.
Acabei por não usar tudo. Talvez tenha usado 80%. Mas fiz a contar com o jantar e que sobrasse um bocado.
Numa frigideira coloquei azeite, uma cebola bem grande picada, meio alho francês grande cortado às rodelas e um bocado de salsa. Frigiu. Quando já estava tudo mole, juntei uma embalagem dupla de bacon migado. Ficou a fritar em lume brando e tapada. Depois passei para um copo misturador e com a varinha triturei grosseiramente. Tive este cuidado porque os miúdos embirram com cebola ou alho francês. Assim ficou um paté.
Num tabuleiro muito grande, o maior que tenho, coloquei um rectângulo de papel castanho, de cozinhar. Em cima coloquei pão ralado.
Entretanto, numa tigela muito grande misturei a carne com três ovos inteiros, um pouco de pão ralado, pouco, e um pouco de sal. Misturei tudo bem. Forrei um tabuleiro grande com essa carne moída. Alisei. Depois virei o tabuleiro sobre o papel com pão ralado. Ficou um rectângulo de preparado de carne. Barrei com o paté (cebola, algo francês, salsa e bacon). Ao comprido, ao meio, pus uma fiada alta e grossa de queijo ralado.
Então, com cuidado, enrolei.
Ficou um rolão grande e gordo, forrado com o dito papel. Até aí tudo bem. O pior é que me tinha esquecido do fio. Ainda pensei usar linha mas não ia dar pois o rolo era enorme demais para ir lá com linha de costura. Ficou assim, apenas enrolado no papel. E esperei que assim se mantivesse.
Antes tinha ligado o forno no máximo.
Coloquei lá o tabuleiro com o forno e baixei para os 160º.
Lá ficou umas 2 horas. Podia ter ficado menos. Não encontrámos pilha para o termómetro de interiores que o meu filho me deu e que, segundo ele diz, é infalível. Pensávamos que tínhamos pilha para ele e afinal são diferentes.
Para acompanhamento fiz massas frescas para uns e batatinhas no forno para outros.
As batatas fiz assim:
Lavei-as bem, com pele. Cortei-as aos bocados e cozi com um pouco de sal. Quando estavam quase, tirei-as e coloquei-as no tabuleiro ao lado do rolo, cobertas com um fio de azeite e orégãos.
Fiz também salada de alface.
Balanço.
O sabor estava bem bom. Mas estava um pouco seco. Mas o pior é que o papel cedeu um bocado e, portanto, o rolo abriu-se um bocado, ficou um cilindro meio desmanchado. Por isso, se fizerem, acautelem: passar um cordel de culinária em volta do papel para o suster. E bastará talvez hora e tal. Mas convém usar o tal termómetro. Acho que se estiver a 65º lá dentro, está no ponto.
E foi isto.
Comeram e gostaram e isso é o mais importante.
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Um bom dia de domingo
Saúde. Alegria. Paz.
sábado, julho 29, 2023
Um oásis de luxo, um bom investimento... ou um exemplo do que é o mau gosto...?
Como já aqui tenho falado inúmeras vezes gosto muito de conhecer casas e sou muito sensível ao ambiente que lá se vive ou, quando estão desabitadas, ao ambiente que intuo como provável.
Se há coisa de que gostei foi de andar a ver casas quando estávamos a pensar mudar de casa.
Das vezes em que comprámos casa, o amor pela escolhida foi sempre instantâneo. Pelo contrário, pasmávamos com o mau gosto de algumas pessoas ao fazerem casas enormes, forçosamente dispendiosas, e tão feias, algumas tão estranhas.
E ainda me aflige, e quando falo em afligir refiro-me mesmo a uma aflição quase física, quando estou numa casa em que o ambiente proporcionado pela disposição das divisões ou das janelas ou a decoração é atrofiante. Casas carregadas de móveis escuros, sofás escuros, tapetes escuros, cores pesadas, quadros de mau gosto, escuros, colocados acima da linha dos olhos, perdidos no meio das paredes, tudo isso me deixa verdadeiramente atrofiada.
E, no entanto, para quem lá vive, aparentemente está tudo bem. Portanto, lá está, é tudo relativo.
Por exemplo, está a merecer destaque a casa da família Gucci, em Roma, que está à venda pela módica quantia de 15 Milhões. Vendida como uma mansão de luxo, a imagem exterior é convidativa, os jardins, as árvores, tudo parece uma maravilha.
Contudo, ao ver as fotografias do interior, mudei de opinião. Não a queria nem dada. Só o dinheiro que teria que gastar para a arranjar e para a manter... Não, nem pensar.
E, no entanto, deve haver muita gente (em especial, daquela que nada em dinheiros-novos) a disputá-la.
La demeure est aménagée dans un savant mélange du charme italien et une décoration de style anglais, qui découle des inspirations de la femme d’Aldo Gucci, Olwen Price, qui venait du Royaume-Uni. Dès lors, pas étonnant d’observer, sur la façade, des bow-windows, ou bien des éléments de décoration typiquement anglais, à l’instar de motifs tartan ou excessivement fleuris.
12 quartos, 12 casas de banho, salões, escritório, etc. São 1.200m2 de construção num parque com 7.000m2, a 10 minutos do centro de Roma. Mas....
Ora vejam e ajuízem (ou invistam, se puderem e gostarem...)
Não acham desagradável...?
sexta-feira, julho 28, 2023
Habemus pasta -- The walk of shame
Grande Bordalo II
Grande Bordalo II
Devo dizer que me incomodam grandemente as grandes concentrações por motivos religiosos. Ainda mais quando os participantes são jovens. Aceitarei razoavelmente se andarem nisto das Jornadas para aquilo que o Cardeal Américo das Multas Aguiar diz: para a borga e para farras. Mas custar-me-á a perceber se alguns vierem numa de beatice, todos muito pios, todos muito formatados, todos numa de virem contactar de perto com o espírito do Senhor, todos disponíveis para participar em sessões que, a mim, me parecem sinistras, coisa quase de seita espírita como uma que vi ontem na televisão em que um padre, creio que americano, dizia que estavam ali em penitência.
A juventude quer-se irreverente, polémica, questionadora, alegre. Haver jovens que acreditam que nasceram pecadores, que a vida é um calvário e que têm que sofrer penitências, parece-me preocupante, doentio.
Em vez da crendice em milagres, fenómenos paranormais ou a irracionalidade de se acharem melhores que os outros, os jovens devem, antes, ser estimulados a estudar, a investigar, a adquirir mais e melhor conhecimento científico, devem ser incentivados a duvidar, a pôr em causa, a ir mais longe.
E já nem falo na hipocrisia dos canalhas que, a coberto do manto da santidade, abusam de seres indefesos ou vivem à larga à custa de nada, ou seja, à custa do dinheiro ou dos bens que os devotos lhes dão.
Gastar 1 milhão de euros como a Câmara de Cascais vai gastar nos trapinhos que a padralhada vai vestir parece-me ofensivo, vergonhoso, inaceitável.
Gastar os milhões de que se ouve falar em palcos, em tretas de toda a espécie e feitio, para que um montão de gente ande na maior ociosidade, a cantar, a sorrir e a achar-se mais santos que os outros , parece-me absurdo, ridículo e contrário ao que supostamente apregoam.
Por isso, gostei de ver a passadeira da vergonha feita de 'notas' no palco principal da JMJ.
Sei que a fé é uma coisa pessoal e, como tal, não questionável. E eu nada tenho contra os crentes. Mas a fé verdadeira é uma coisa íntima. Não é coisa que se ostente ou transaccione. E a forma como a Igreja Católica promove a 'fé' é deformada, negacionista, irracional, doentia.
quinta-feira, julho 27, 2023
Kevin Spacey, vítima inocente
Perdeu o emprego, perdeu os patrocínios. Deixou de ser convidado para o que quer que fosse. Foi banido da sociedade. A sua honra foi desfeita. Tornou-se um proscrito, um ser infame.
Apareciam os que lhe apontavam o dedo por ele se ter aproveitado da sua posição para os assediar. Lembro-me da ofendida mãe de um rapaz. Kevin Spacey era um porco imundo, segundo todos quantos lhe apontarem o dedo e lhe mostraram que o único caminho era sair de cena.
Sempre se declarou inocente.
Mas ninguém ouve os que caem em desgraça: ele era culpado, ele tinha que pagar por todos os crimes. Vários crimes, nos Estados Unidos e no Reino Unido.
E, no entanto, eis que agora veio o veredicto. Tal como nos Estados Unidos já tinha sido declarado inocente também agora, no Reino Unido, o foi.
A notícia sai pequena, sem destaque.
Ninguém quer saber da inocência dos inocentes.
quarta-feira, julho 26, 2023
Uma maneta que gosta de ver dançar
Continuo quase maneta. O quase advém de que mão até tenho e de que ela até mexe. O que mal mexe é o braço pois o cotovelo continua inchado, encravado e doloroso.
Não me apetece ir ao médico pois sei que teria que fazer rx e o escambau e que, portanto, teria que ficar nas urgências a penar. Tenho esperança que, com anti-inflamatório, analgésico, pomada, gelo e imobilização (ie, braço ao peito), isto vá ao sítio.
[Não tenho aqui Transact mas não creio que funcione neste caso não apenas porque, sendo o cotovelo, não sei se o rectângulo adesivo funcionaria (acho que funciona melhor em superfícies lisas como as costas) mas, sobretudo, porque isto deve ter sido alguma rotura de ligamentos ou uma inflamação aguda nos tendões e creio que o Transact é para coisas mais light, tipo contracturas ou distensões. Digo eu.]
Por isso, não apenas não consegui regar, varrer ou outras coisas básicas e essenciais no meu dia a dia, como continuo a escrever sobretudo com a canhota pois alguns inocentes movimentos de mão provocam-me incomodativas dores no cotovelo.
Portanto, com as minhas desculpas, não vou comentar os comentários (nem sequer os do Mr. Implicante que, apesar de revelar algum sentido de humor, deve ser viciado em gramática e deve padecer de um défice agudo de simpatia -- simpatia ou empatia?).
Passei o dia, pois, na maior indolência, sobretudo lendo e vendo vídeos.
Contudo, a minha natureza puxa-me para a paródia pelo que dou por mim a ver vídeos que me fazem rir e, manhoso como é o algoritmo do youtube, às tantas só me dá é disso. Então, para ver se me cultivo, ponho-me a ver tutoriais sobre maquilhagem, sempre na vã esperança de descobrir quem me ensine como, num minuto (isto é, num único minuto), se transforma uma mulher normal, madura, numa esbelta e viçosa barbie. E, às tantas, começam a aparecer-me tutoriais de toda a espécie e feitio, uns que transformam pretas em brancas, nórdicas em gueixas, outros que transformam olheirentas e papudas em frescas e fofas, outros que transformam narigudas em narizinhas. Nada de útil face às minhas expectativas.
Tem-me também aparecido muita coisa séria como as alterações climáticas mas, por estes dias, para coisas sérias já bastam as terríveis imagens dos incêndios na Grécia ou tempestades na Suíça.
Por isso, não tenho nada de jeito que possa trazer aqui à colação. Quanto muito partilho este vídeo com dois fantásticos: Leonard Cohen interpretando o maravilhoso Dance me to the end of love e o elegante e cavalheiro Robert Redford a dar corpo à coisa.
E, vendo-o, penso: como é que eu, no estado em que estou, poderia corresponder caso me aparecesse um Redford desta vida a convidar para dançar?
terça-feira, julho 25, 2023
Em dia de provável lesão desportiva, fico-me pela sinalética maluca
Pus-me a jogar vólei com os rapazes e com a minha filha. Mas a bola era dura e pesada. Estou habituada a jogar com eles (ou melhor, mais com os primos deles do que com eles) mas com uma bola de espuma. Esta era pesadíssima. Disseram-me que era bola de vólei a sério. O que sei é que ao servir, senti que aquilo era violento. Mas continuei... e aqueles têm uma força que só vista. A minha filha desistiu, disse que aquela bola não era para ela. A mim, na altura, nunca nada me custa e, como gosto, ainda continuei um pouco. Mas percebi que, se continuasse, ainda dava cabo das mãos.
Também transportei uma alcofa com duas grandes toalhas molhadas, ou seja, pesadas. Por alguma das coisas ou pelas duas, hoje levantei-me aflita de um cotovelo. Lesionei um músculo ou um tendão, não sei. O que sei é que estou quase incapaz de escrever pois, claro, é o braço direito que está incapacitado.
Claro que me sinto um bocado estúpida pois esqueço-me que não tenho quinze ou vinte ou trinta anos e que fazer jogadas com força com putos que gostam de estar sempre a puxar, com uma bola terrível, e, em cima disso, carregar uma alcofa pesada, só podia dar nisto. Estivesse eu treinada e habituada e talvez nada de mal acontecesse. Assim, agora estou aqui a tomar brufen, com gelo, cheia de dores, e a escrever apenas com o indicador da mão esquerda.
Portanto, isto tem que ser abreviado. Limito-me a sinaléticas tão disparatadas que merecem ser divulgadas.
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Um dia bom
Saúde. Boa sorte. Paz.
segunda-feira, julho 24, 2023
Uma péssima notícia para quem trabalha maioritariamente em teletrabalho
Tendo os meus três últimos anos de trabalho assalariado coincidido com os tempos covid, antes de me reformar estive bastante em teletrabalho. E gostei, sobretudo pelas horas de trânsito que poupei e, não menos importante, pelo tempo que poupei com gente que me entrava pelo gabinete adentro com conversas da treta, obrigando-me a ter que compensar trabalhando até às tantas.
Mas teve implicações negativas. Fiquei a ver muito pior. Não tinha vista cansada e agora tenho. Não precisava de óculos para ver ao perto e agora preciso. Continuo a não usá-los porque não atino com eles mas noto que qualquer dia vai ter que ser.
E também noto que a minha pele não está a ir para extraordinária. Mas isso não sei se é consequência do teletrabalho ou, simplesmente, de ainda estar viva e, logo, como todos os seres que estão vivos, mais velha.
Seja como for, vi imagens de um estudo conduzido pela empresa Furniture At Work em conjunto com investigadores da Universidade de Leeds que me deixaram um pouco desconfortável. Projectaram o que serão os efeitos no corpo de uma mulher que esteja sempre em teletrabalho. E é terrível. Vê-se e não quer ver-se. E, no entanto, percebe-se que é muito provável.
Peso excessivo, costas curvadas, ancas alargadas, olhos encarnados e inchados, braços e dedos encurvados. E o texto não o refere mas é bem visível a flacidez e a macilência da pele da pobre coitada.
domingo, julho 23, 2023
Nada de especial
Nos últimos tempos tenho tido uma experiência tão inesperada, tão bizarra e tão repleta de nuances que, inevitavelmente, sobre ela ou sobre algumas das suas vertentes irei um dia escrever. Claro que terei que deixar destilar, terei depois que aplicar alguma dose de abstração, depois aplicar uma demão de qualquer disfarce. Não posso correr o risco de verter a vida de algumas pessoas para uma prosa em que, de pessoas de carne e osso, se vejam metamorfoseadas em personagens.
Nesta experiência, sem dúvida radical, tenho apreciado a personalidade de alguns dos intervenientes, a história de vida de outros e, de modo geral, tenho tido algumas surpresas. Pensava que conhecia razoavelmente algumas pessoas e verifico que me faltavam muitos ângulos de visão. Conhecer uma pessoa sob diferentes perspectivas não é forçosamente uma boa coisa pois, por vezes, ao desaparecer o mistério ou a nebulosa que permitia algumas suposições, fica uma realidade demasiada crua.
Nestes dias em que tenho estado de férias, muito ocupada a ir daqui para ali, a banhos aqui e ali (ou melhor, mais ali que aqui pois as águas a sul andam estupidamente geladas), com os meninos sempre naquela hiperactividade que lhes é tão própria (apenas interrompida quando foram levar a sua primeira massagem e saíram de lá tão zen, flutuando, quase sem conseguirem falar), pouca atenção tenho conseguido dedicar a essa tal experiência. Apenas de raspão vou espreitando a imensa actividade, quase vinte e quatro sobre vinte e quatro, que ali reina mas, de cada vez que consigo abeirar-me logo me espanto.
E interrogo-me frequentemente: será que eles e elas se espantam também comigo? Por vezes, parecer-lhes-ei uma alien? Serei uma alien? Por vezes vejo-os tão entusiasmados com coisas que a mim me passam totalmente ao lado...
Enfim. Divagações.
E não me alongo. Este domingo o dia começa cedo pelo que tenho que ver se vou para a cama a horas normais.
sábado, julho 22, 2023
Resiliência
Não sei há quanto tempo existe a palavra resiliência enquanto termo usado fora do âmbito científico. Tenho ideia que até certa altura usávamos outras palavras mas a verdade é que agora percebo a justeza da palavra quando queremos assinalar a resistência perante as adversidades conjugada com a capacidade de seguir em frente. No Priberam leio que Resiliência é, na Física, a Propriedade de um corpo de recuperar a sua forma original após sofrer choque ou deformação.
Tenho ideia que é da nossa natureza adaptarmo-nos às circunstâncias, superando as dificuldades ou aprendendo a viver com elas.
Seja perante a doença, o desgosto, o medo, dificuldades logística de toda a espécie, a solidão, obstáculos que aparecem em catadupa, desastres naturais, as pessoas, em geral, arranjam forças que julgariam não possuir. Prevalece, habitualmente, o instinto de sobrevivência e a racionalidade. Qualquer coisa como se, nos casos limites, se não os podes vencer, junta-te a eles
Como sempre, Steve McCurry ilustra-o principescamente.
The world breaks everyone, and afterward, some are strong at the broken places
-Ernest Hemingway
Be like the bird that, passing on her flight awhile on boughs too slight, feels them give way beneath her, and yet sings, knowing that she hath wings.
-Victor Hugo
The bamboo that bends is stronger than the oak that resists.
-Japanese proverb
As citações foram retiradas do último post do blog de Steve McCurry, justamente intitulado Portraits of Resilience. Uma maravilha, somo sempre.
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Um bom sábado
Saúde. Resiliência. Paz.
sexta-feira, julho 21, 2023
Uma questão de equilíbrio
Dia preenchido e bom mas com uma componente triste.
Deste vez resolvemos encontrar uma solução para não estarmos dependentes dele e ele de nós. A experiência é de curta duração. Pesquisámos, fomos ver, e, para dizer a verdade, a única solução que nos agradou minimamente estava esgotadíssima. Esta foi a segunda escolha. Grande parte das outras vive, quase de certeza, no mais puro amadorismo (e, antecipo, no gostoso mundo paralelo em que não há facturas, não há ivas, não há irs, nadinha, ou seja, o glorioso muito da economia paralela). Alguém que tem um bocado de terreno, arranja umas coisas, alguém que tome conta e está feito, um hotel para cães.
Até fomos dar com uma espécie de Zoo privado, uma coisa que me pareceu inimaginável, desolada, para não dizer sinistra, com camelos, lamas, póneis, cabras, gansos e tudo o que se possa imaginar. E, num bocado, umas quantas jaulas que funcionam como 'hotel para pets'.
Outro, com umas instalações fantásticas, quase parecia uma aeronave asséptica e, na zona de 'hotel', umas jaulas, sobrepostas, ínfimas. Tudo limpo, imaculado. E os animais ali enjaulados.
Este, que escolhemos, está associado a uma clínica veterinária e, do mal o menos, pareceu-nos razoável.
E sabemos que temos que fazer este teste pois não podemos fazer com o ano passado em que o trouxemos para o Algarve e que foi cansativo e stressante para ele e para nós. Mas dói-me a alma deixá-lo, sendo ele tão apegado a nós e nós a ele. Aliás, quando estávamos em casa a preparar as coisas (levámos a cama dele, onde ele já não dorme há um ano pois anda pela casa e escolhe onde quer dormir, ultimamente junto a um cortinado e a uma janela no andar de cima, e levámos os dois brinquedos preferidos dele) já ele devia estar a desconfiar que não vinha dali boa coisa. Deitou-se no corredor, de barriga para baixo, o queixo encostado ao chão, ar infeliz, impotente.
Quando o deixámos lá, tive vontade de me abraçar a ele, arrependida da maldade. Mas disfarcei, disse-lhe só: 'Os donos já vêm, está bem?'. Mas só me apetecia arrepiar caminho. E chorar. Custa-me imenso fazer mal a um ser indefeso. A única coisa que me faz aceitar melhor é que penso que, às tantas, aceita bem, habitua-se, e, de resto, é coisa ultra breve. E, se correr bem, habituar-nos-emos a isso e poderemos ter mais liberdade.
É tudo uma questão de encontrarmos o ponto de equilíbrio.
Tirando isso, está tudo bem.
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Uma terra pode ser visitada com foco nas suas belezas naturais. Ou na arte sacra. Ou na gastronomia. Ou na arquitectura. Ou no comércio. Ou... Ou na arte de rua, nomeadamente nos graffitis. A fotografia lá de cima mostra uma porta pintada, numa rua, numa cidade. Acho-a uma beleza.
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E, porque de um correcto balanceamento e de tentar encontrar o ponto de equilíbrio, aqui partilho um vídeo Chanel
The J12 Series. Chapter 2: A Balancing Act – CHANEL Watches
quinta-feira, julho 20, 2023
Tshirts para todos os gostos mas que... enfim... são um bocado ao lado
Em dia de casa quase cheia e ainda com alguns outros afazeres em mãos, não vou pronunciar-me sobre temas escaldantes, não vou juntar-me aos amantes da silly season nem vou pôr-me a divagar sobre lirismos ou outras matérias.
Com vossa licença, vou antes mostrar tshirts avistadas por aí em que, quem as vê, vai reportando a um site que vai compilando coisas um bocado do além.
Escolhi algumas. Pode ser que se inspirem e arranjem algumas destas para vocês.
quarta-feira, julho 19, 2023
Os incumprimentos do Ministério Público -- a palavra ao meu marido
Há muito tempo que, na minha opinião, o funcionamento da Justiça é um dos problemas da nossa democracia. A morosidade dos processos, os circos mediáticos montados pelo Ministério Público, a morosidade dos processos, o corporativismo demonstrado no tratamento de situações dúbias dos pares pelos órgãos da magistratura, a intransigência da Ordem dos Advogados sobre alterações que me parecem baseadas no senso comum, etc., são aspetos que prejudicam o bom funcionamento da Justiça e, logo, a boa saúde da nossa democracia.
No meio de tudo isto, a forma como o Ministério Público actua, transformando as investigações em eventos mediáticos, acriticamente suportados pelos órgãos de comunicação social, gerindo as agendas dos processos para poder ter sempre qualquer coisa na manga para lançar para o opinião pública quando dá jeito, é um enorme contributo para dar cabo da democracia e fazer chegar ao poder os extremismos de direita que utilizam com habilidade o maná oferecido pelos Snrs. Procuradores.
Estou de acordo com as afirmações do Rui Rio na SIC sobre o MP, elogio a oportunidade das declarações do Paulo Raimundo quando refere que Portugal "não é um lamaçal" bem como as afirmações do Augusto Santos Silva sobre a necessidade de ouvirmos explicações da PGR.
Quanto à PGR ainda não percebi se é refém dos Procuradores, se vive noutro planeta ou se entende que não tem que dar explicações sobre a forma como funcionam os Serviços que dirige.
Quando a vejo na televisão fico sempre com a ideia que é um erro de casting.
Supostamente, a pseudo desculpa que por aí se ouve para a actuação do MP é a necessidade de ser autónomo para efetuar as investigações com isenção. Uma coisa é autonomia, uma outra, completamente diferente, é impunidade.
No caso do MP, a impunidade tem sido uma constante. Quanto à autonomia/independência não parece.
Por exemplo, como é possível que ao fim de tantos anos e processos onde não foi respeitado o segredo de justiça, não tenham sido acusadas, sei lá, duas ou três pessoas, apenas para poderem manter a face.
Parece-me que ao fim destes anos todos, e não me esqueço da anterior PGR que, na minha opinião, muito contribuiu para o atual funcionamento do MP, o mínimo que a atual PGR podia fazer, depois do estado a que as coisas chegarem, é demitir-se.
Relativamente aos Partidos, concordo com o que têm dito e bom seria se tivessem "tomates", e julgo que é trabalho que deve ter o consenso dos partidos democráticos que têm assento no Parlamento, para alterar a legislação que permite ao MP funcionar com funciona, e já agora, promoverem as reformas necessárias na Justiça, mantendo-a naturalmente independente, mas não impune.
Não posso deixar de referir que o que aconteceu agora ao PSD aconteceu a várias individualidades durante anos
(apenas dois de entre inúmeros exemplos: Azeredo Lopes, Miguel Macedo, aqui referidos por, depois de terem sido sujeitos a humilhação pública e de terem visto a sua vida estragada, se concluiu nada haver contra eles: mas muitos, muitos casos, haveria a referir, todos escandalosos e uma vergonha para a Justiça)
Independentemente de serem culpados ou inocentes não podem ser condenados na praça pública apenas porque dá jeito ao MP e à comunicação social e, nesses casos anteriores, a posição dos deputados do PSD e de outros partidos. foi muito diferente da atual. Foi pena porque poderiam ter evitado termos chegado a esta situação.
Para terminar, o Sr. Presidente não tem nada a dizer sobre a atuação do MP? Será que atuação do ex-assessor é mais importante?
terça-feira, julho 18, 2023
Cuecas de reserva e cebolas no saco de mão, entre outros apetrechos extraordinários, só para se perceber a pinta de Miriam Margolyes, capa da Vogue Britânica.
Mas quando ela se senta a ler, por exemplo uma troca de cartas entre Henry Miller e Anaïs Nin, a gente faz silêncio para não perder pitada
Mas quando ela se senta a ler, por exemplo uma troca de cartas entre Henry Miller e Anaïs Nin, a gente faz silêncio para não perder pitada
Aos poucos, os conceitos de beleza vão-se abrindo à normalidade. É que o normal, nas pessoas, não é a perfeição. Mulheres extremamente belas, extremamente elegantes, eternamente jovens, é daquelas coisas que, já toda a gente sabe, só se consegue com muita artificialidade e sacrifício à mistura.
A Vogue, que desde sempre, promoveu a elegância, o requinte, a perfeição, a harmonia inequívoca, aos poucos vai abrindo as portas ao mundo. Há algum tempo não passava pela cabeça de ninguém ver um vídeo Vogue com uma mulher de 82 anos, gorda, lésbica, desbocada.
E, no entanto, hoje, ao abrir o youtube, cá estava Miriam Margolyes.
Não apenas foi capa da Vogue Britânica como agora nos mostra o que tem dentro da sua carteira. Tudo um pouco inusitado mas, talvez por isso, bem divertido. Na sessão fotográfica mostrou-se como não passava pela cabeça de ninguém e, no vídeo da bolsa, saca de lá de tudo um pouco, desde umas cuecas de tipo gola alta, uma cebola crua para dar umas dentadas de vez em quando, e outras bizarrias.
E que não se pense que Miriam é apenas uma gorda excêntrica, sem papas na língua. Pode ser tudo isso mas é também uma maravilhosa diseur. Ou melhor, diseuse. A sua dicção, os seus compassos de silêncio, o ambiente que a voz traz às palavras que lê, tudo a torna especial.
Lá mais abaixo um vídeo delicioso em que ela e Clarke Peters lêem uma troca de cartas entre Henry Miller e Anaïs Nin. Cartas de amor são cartas de amor, é certo. Mas quando ao amor se junta o desejo e quando ao amor e desejo se junta o descaramento e quando a tudo isso se junta o gosto pelas palavras aí a mistura fica maravilhosamente explosiva. E a malícia que transpira não apenas das palavras mas também das expressões de ambos tornam o vídeo um momento de rara suculência.
Longa vida a Miriam Margolyes e a todos os que têm prazer na vida.
segunda-feira, julho 17, 2023
Coisas da vida
É o caminho inexorável da vida.
Estava doente. Foi encontrada morta em casa.
Mas a sua voz, os duetos com o bad boy Serge Gainsbourg, sobreviver-lhe-ão.
No grupo dos meus antigos colegas de liceu está a fotografia de grande parte de nós, o que éramos na altura e o que somos agora, quase um pouco como a fotografia de Jane, antes e depois. A muitos eu não reconheceria se não visse a fotografia da altura e, muitos, só mesmo com o nome, pois a minha memória tinha apagado alguns rostos.
Quando vejo estas fotografias emociono-me sempre. Fazem-me lembrar aqueles filmes sobre pessoas de verdade em que, no fim, aparecem as fotografias reais das pessoas, dizendo que idade têm agora e o que fazem ou onde vivem.
Fez-me também muita impressão saber que alguns dessa altura já morreram. Fico sempre um bocado sem acção quando o sei. Tenho vontade de saber de que foi que morreram, como se isso adiantasse alguma coisa. Contenho-me, não pergunto. Mas fico com essa dúvida a roer-me, como se não pudesse aceitar o facto sem conhecer as razões da morte.
Uma das que morreu foi uma que, creio, namorou o meu marido. Ele nunca se confessou, não sei porquê. Aliás, recusa-se, ainda hoje, a falar dos namoros ou affairs que teve. Desta sei pois ela contava-me, falava-me dele. Lembro-me de estar a falar comigo e depois despedir-se à pressa porque tinha combinado ir com ele à Feira do Livro. Lembro-me de a ver com um saco com compras, coisas de comida, porque ia fazer jantar, ele ia jantar lá a casa. Vivia sozinha num apartamento. Lembro-me do que ela, enlevada, me dizia dele, que era assim, assado e cozido. E eu, dizendo-me ela que ele era um gato, uma brasa, um borracho e mais não sei o quê, logo conclui que devia ser aquele que eu achava o máximo. E era mesmo.
Não me incomodava nada saber que ele tinha um caso com ela até porque eu também namorava com outro. Tinha, com muita clareza, a certeza de que o nosso tempo, o meu e o dele, haveria de chegar. E chegou.
Quando comecei a namorar com ele, falei-lhe nela. Mostrei-me admirada. Via-o sempre rodeado de raparigas, lembro-me de o ver de braço ao peito e umas sentadas ao colo dele e outras a escreverem-lhe dedicatórias no gesso, e, no entanto, pelos vistos, tinha namorado com aquela minha colega de liceu que eu achava muito simpática mas pouco bonita e que, ainda por cima, tinha as mãos sempre frias. Ele não ligou nada a isso, limitou-se a dizer que ela tinha um corpo fantástico. Nunca eu lhe tinha reparado no corpo.
Fez-me muita impressão quando soube que morreu. Lembrei-me logo das mãos frias.
No outro dia, vi uma fotografia em que estava um grupo dos mais boémios. Eram giraços, cabelos meio compridos, ar de bon vivants, volta e meia faltavam às aulas, fumavam, iam jogar snooker, eram uns bad boys. Agora são uns homens grisalhos, outros sem cabelo. Mantêm-se bonitos mas eu, se os visse, jamais pensaria que eram eles. E fiquei a saber que um que era dos mais terríveis, um que, numa das fotografias, aparece com um cigarro ao canto da boca, sorriso malicioso, sentado com as pernas completamente abertas, uma rosa numa das mãos, já morreu. Fiquei bloqueada. Parece que não pode ser. Não bate certo.
Agora soube que um desse grupo, um dos mal comportados, para mim o pior dos piores, um por quem a minha melhor amiga da altura incompreensivelmente se apaixonou perdidamente e com quem se casou, num casamento que foi sol de pouca dura, também morreu. Fiquei a lembrar-me dele todo gingão, todo gozão, todo convencido e mal comportado. Tinha a vida toda nas suas mãos. E afinal já morreu.
Outro, já aqui o referi, lembrei-me dele numa história que escrevi, tornei-o personagem, e sem saber porquê, escrevi que ele tinha morrido. E, afinal, morreu mesmo. Fiquei muito incomodada e o meu marido também.
Claro que a larga maioria está viva, bolas, mas, na minha cabeça, seria natural que, sendo meus colegas, gente da minha idade, ainda estivessem todos vivos.
Enfim. É o que é. É a vida. Uns morrem, outros envelhecem.
Mas o curioso é que a 'malta' mantém o espírito folgazão e até adolescente de então.
Quando entrei para a faculdade senti muito a falta dos meus amigos divertidos, descontraídos, tudo gente que gostava de passear, ir à praia, ir ao cinema, dançar. Na faculdade era tudo gente ensimesmada. Custou até que conseguisse descortinar outros que gostassem de alinhar numa vida agradável. Curiosamente, uma dessas que me salvou daquele cinzentismo tinha sido minha colega de liceu, embora de outra turma. Mas trazia aquela leveza e gosto pelo bom humor que me são fundamentais. E continua assim, tal e qual, brincalhona.
Mas, pronto, já chega de conversa. Hoje estou completamente pedrada de sono e, pelos vistos, isso está a dar-me para o sentimento.
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From the archives: The iconic Jane Birkin
domingo, julho 16, 2023
Sobre notícias, jornalistas, esquilos, pinhas -- e jardins como almas
Continuo a eremitar e não me peçam para me deixar disto. Estou bem demais.
Vi, de raspão, algumas notícias mas, logo à primeira que vi, a Ana Lourenço, ao dar a notícia, fez um esgar de desprezo pelo que dizia, como se não acreditasse no que dizia. Quando a Informação chega a este ponto, eu não aguento a agonia e fujo a sete pés.
Noutro canal, tinham noticiado qualquer coisa pois estavam a dar entrada aos comentadores. Os pseudo jornalistas torpedeiam ou deturpam as notícias que dão e, de seguida, como se fossemos incapazes de processar o que eles ajavardadamente noticiaram, aparece uma chusma de gente que vem mastigar para que os espectadores comam a comida já mastigada por aquela gente.
Claro que não são todos os comentadores que são uns zés-ninguéns, uns palermas encartados ou uns chico-espertos. No meio da avalancha, um ou outro são credíveis. O problema é o que é preciso gramar muita porcaria para chegar aos que interessam. E eu não tenho essa paciência.
Estivemos, isso sim, a ver e ouvir na RTP 2, os concertos Ao Largo. Tirando isso, nada.
Em contrapartida, de tarde, nova aparição. Descia o muro, na maior, até que se deteve sobre um murinho. Não se pôs sobre a azinheira mas sob, mas isso, em minha opinião, não desmerece o sagrado da aparição.
Não percebi o que estava a comer mas, sendo ali, presumo que fosse uma bolota. Aliás, vendo a fotografia, concluo que devia mesmo ser uma bolota pois parece que estava a tirar-lhe o chapelinho. Coisa mais fofa.
O que tinha à mão era o telemóvel. Aproximei-me, fotografei-o.
Olhou para mim e rapidamente abalou azinheira acima e já não consegui vê-lo mais.
Voltei a pôr bocadinhos de amêndoa na pedra que está aqui junto à porta da sala. Fiquei de tocaia. Nada.
Fui caminhar. Depois de uma ou duas voltas fui espreitar a pedra. As amêndoas tinham desaparecido. Mais esperto que eu.
E já vos contei: há pinhas roídas por todo o lado. Ficam como as espinhas de peixe que eu como, roídas até ao tutano.
Presumo que graças a eles e aos pinhões que devem sobrar das pinhas que roem, agora rebentam pinheiros por todo o lado. Não se dá conta.
Não sei o que pensarão, vocês que me lêem, talvez pensem que exagero, mas eu, perante estas aparições sinto-me verdadeiramente abençoada. Não se admirem, pois, se me acharem cada vez mais beatificada.
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Não tenho alma de jardineira, falta-me a persistência e a minúcia. O ambiente de floresta, ver como crescem as árvores, ver os musgos e os líquenes, os cogumelos, as florzinhas selvagens, tudo isso atrai-me muito mais. E os cheiros, a aragem fresca e perfumada, os caminhos, os rumores, tudo me enche de alegria.
Talvez por isso, me apeteça hoje partilhar o vídeo seguinte que tem a vantagem de ter legendagem em português.
The Constant Gardener
Os humanos são óptimos a fugir da verdade, mas no jardim ninguém não pode esconder-se. Vida e morte, vitalidade e decadência – tudo acontece diante dos nossos olhos.
O jardim é um espaço definido não pela sua fisicalidade, mas pelas emoções que evoca e pelas ligações que provoca. E o acto de jardinagem pode mudar para melhor a maneira como nos relacionamos com o mundo ao nosso redor, dando-nos perspectiva e ensinando-nos lições sobre a vida.
Escolhemos plantar sementes de medo ou amor? Nós fertilizamos a raiva ou a harmonia? Regamos as conexões que temos ou deixamos que morram de sede?
As nossas almas são jardins. Os nossos corações são flores. Eles precisam de ser regados, cuidados, fertilizados e amados.
Jardinagem feliz!
Filmado em Riebeek West, África do Sul.
Com Corné Pretorius.
sábado, julho 15, 2023
A felicidade e as pequenas alegrias
Nunca fui de sonhos irrealizáveis ou de desejos transcendentes. Balizo as minhas aspirações ao quadro daquilo que é alcançável.
Nem alimento grandes expectativas sobre as coisas.
Quando namorava nunca divaguei a imaginar o dia do casamento. Pelo contrário, sempre o quis simples. Nunca imaginei grandes coisas a nível do que seria o meu viver a dois. O que vier, se for bom, é bom. Não tem que ser óptimo. Dificilmente fico descontente ou defraudada porque nunca me ponho a fazer planos sobre o que poderia ser.
Que me lembre nunca tive desgostos de amor nem nunca me senti traída. Se fui, não dei por isso e também nunca me interessei por aprofundar o tema.
No trabalho nunca me pus a imaginar vir a ocupar este ou aquele cargo. Ao contrário de vários colegas que viviam em campanha e que passavam por períodos de fossa por acharem que não reconheciam o seu valor. Comigo isso nunca aconteceu. Nunca desejei ser o que não era. E quando vinham dar-me parabéns por ir fazer coisas novas nunca me senti orgulhosa ou vaidosa pois para mim eram, isso sim, novos desafios e trabalhos redobrados.
Nas férias, nunca ambicionei ir a destinos longínquos ou onde quer que seja que obrigue a grandes planos, a grandes despesas. Jamais me passaria pela cabeça pedir dinheiro emprestado e ficar a pagar juros e andar, durante o ano, a fazer tangentes para ir duas semanas para o cu de Judas. Por isso, nunca me senti com pena de não conhecer ou não ter ido visitar isto ou aquilo. Onde der para ir, vou.
A nível do que agora pretendo fazer, escrever e publicar livros, não me ponho a sonhar, a pensar que vou publicar trinta e que vou vender um milhão de livros nem que vou ser traduzida em quarenta países. Se publicar dois ou três e vender uns quantos já está bem. E se tudo correr bem, melhor. Mas porque sou focada e decidida, humildemente darei os passos que tiver que dar. E dá-los-ei por mim, batendo a uma porta, batendo a outra, preparada para ouvir muitos nãos.
De resto curto e agradeço as pequenas alegrias. Se calhar, por isso, me sinto geralmente feliz. É que não preciso de muito para me sentir bem.
Por exemplo, para mim isto é bom:
- Estar a ler e a sentir a aragem do ventinho suave e ameno
- Estar na sala a ver, lá fora, um esquilo a brincar
- Nadar, nadar, estar dentro de água
- Comer queijo, por exemplo o de cabra, fresco ou curado, ao mesmo tempo que como fruta
- Escrever
- Cozinhar, apurar o tempero, estar na rua e sentir o cheirinho que sai pelas chaminés
- Comer fruta de manhã e kefir com muesli e, depois, beber um café perfumado, espumoso e quente
- Apanhar orégãos
- Varrer
- Caminhar e conversar e caminhar
- Abraçar o cão
- Escolher livros, arrumar livros
- Olhar uma bela pintura ou uma bela escultura ou uma bela dança ou ouvir uma bela música
- Passear de carro, se possível com a janela aberta
- Dormir quando tenho sono e acordar naturalmente
- Mil outras coisas mais
- Estar com os meus
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A felicidade e alegrias, segundo Rubem Alves
CHANEL Connects - S3, Ep1 - Yinka Ilori & Kelsey Lu, Immersive Joy
Neste episódio, conheça Yinka Ilori, um artista visionário que combina a sua herança anglo-nigeriana com designs vibrantes e ousados que celebram a unidade e a acessibilidade. Unindo forças com a música Kelsey Lu, conhecida pelos seus sons eletroclássicos etéreos, os nossos convidados compartilham como a alegria alimenta os seus empreendimentos artísticos e exploram a influência da natureza em suas práticas criativas. Deixe esta discussão transportá-lo para um mundo de cor, som e imaginação desenfreada.