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terça-feira, dezembro 10, 2019

O Alvim diz que vai ser pai em 2020 e sugeriram-lhe que entre o Ano Novo em Vizela, no Golpe Baixo, a casa de meninas onde são todas anãs.
E isto já para não falar do menino Pato que gosta de pizza de fiambre.





O meu dia foi cheio de coisas. De manhã, uma coisa absolutamente invulgar. Mas, sobre isso, não posso falar. Parecendo que não, tenho os meus segredos.

De tarde, então, nem vos digo nem vos conto. Sabem aquela história da banana que era obra de arte e em que veio um senhor e a comeu? Pois, é isso mas vertido para tendência de gestão. No intervalo, uma colega disse que já não tem idade para coisas destas e eu respondi que eu, então, nem se fala. Uma coisa muito à frente que, para mim, é do mais faz de conta que se possa imaginar. Macacada em estado puro.
E lá terei que recordar o senhor que, tendo nós pedido para plantar umas certas árvores, choupos mais concretamente, nos disse que nunca tinha sabido que aquelas árvores se dessem ali e não à beira delinhas de água mas, havendo dinheiro para gastar, pois que lhe pagássemos que ele abria os buracos e as plantava. Claro que as árvores não vingaram e foi dinheiro deitado à rua. 
Mas, enfim, não vos maço com cenas destas que enfeitam o dia a dia das empresas e por onde se esvaem os ganhos de produtividade. Embora, se lhes perguntarem, não senhor, é gestão da boa. E como é tudo à força de muito dinheirinho gasto com certos consultores que vivem à custa de vender espuma a peso de ouro, no fim a malta ainda ganha prémios de gestão e coisa e tal, prémios esses sponsorizados pelos ditos consultores, pois of course.

Mas agora não posso falar nisso. Noblesse oblige. Um dia que me reforme e esteja livre de NDAs escrevo as minhas memórias e, aí, me aguardem.

Portanto, vou ao que interessa: saí deserta de me pôr ao fresco. Mas o meu anjinho da guarda anda retorcido e deve ter achado que eu ainda não tinha sofrido o suficiente e, por isso, dei por mim enclausurada numa fila de trânsito quilométrica e praticamente parada.

Liguei à família, li as gordas das notícias, enfureci-me, abri a janela, fechei a janela, embaciou-se, liguei ao ar condicionado, fiquei com calor, abri a janela, praguejei, depois apeteceu-me carpir, a seguir atendi o meu marido que estava igualmente desatinado no meio do trânsito. E, por fim, caí em mim e decidi que estava mas era bom para ouvir o Alvim.

Em boa hora.

Passado um bocado ocorreu-me, de novo, aquilo de sempre: sou tão incrivelmente primária que até a mim me faz espécie. É que já ria a bom rir, completamente esquecida que estava aborrecida por estar ali presa, como se tivesse todo o tempo do mundo para estar a curtir as vozes da radio. O que gosto do Alvim...!

A Prova Oral sem tema. Um ouvinte, cá para mim, acertou: se o programa estava sem convidado e sem tema é porque o convidado faltou à última hora. Quem foi que faltou, conta aí, ó Alvim? Mas o Alvim não se descoseu, que era mesmo sem tema. E foi bom: só telefonemas e divertimento.

E, no meio do Alvim dizer que está a pensar ir passar o réveillon ao Alentejo, alguém ligou a dizer que qual Alentejo, onde ele podia ter uma grande passagem de ano era em Vizela com as anãs. Acho que ele não percebeu bem, deve ter achado que era uma graça. E então a Xana deve ter googlado e foi parar ao Golpe Baixo, a casa de alterne com preços baixos para condizerem com as meninas que são todas anãs. O que me ri.
Até me lembrei daquela vez em que, íamos de carro, passámos pela 'Casa das Avózinhas', um lar de terceira idade, e o meu marido disse que era um bom nome para uma casa de putas (pardon my french). E, com aquela sua mente perversa que cultiva o absurdo, já imaginava um furo comercial, uma oferta diferenciada para um nicho de mercado: homens que gostam de mulheres experientes, séniores. Tenho ideia que até acrescentou: homens ou mulheres. E eu devo ter achado o máximo, uma casa de passe só com avozinhas. 
Adiante. Voltando à Prova Oral.

E depois apareceu um telefonema de uma menina de apelido Pato a dizer uma coisa ao Alvim, não me lembro o quê, talvez que gostava de ouvir a Prova Oral e, a seguir, apareceu um menino, o mano, salvo erro Miguel Pato, a dizer: 'Olá Alvim, eu quero dizer que gosto de pizza de fiambre'. E o Alvim e a Xana e eu desatámos a rir.  Mas o Alvim disse mais, disse que com crianças a ouvir o programa, tem que ter cuidado e não falar de sexo. Sugeriu que, em vez de falar explicitamente, poderia acabar as frases com um 'não sei se me estás a entender...'. Uma alusão a pairar, sexo no ar.

Quando o programa acabou, às 20, tive uma pena do caraças. Já nem me lembrava que estava enfiada dentro do carro, sem evasão possível. O que me ri, satisfeita por estar engarrafada. 

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E, não tendo aqui como partilhar aquela abençoada maluqueira, vai um vídeo antiguinho de quando o Alvim era pequenino

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Não queiram saber a razão de aqui ter os homens em Dolce & Gabbana Alta Sartoria, la sfilata uomo alla Pinacoteca porque não há explicação possível. A mesma coisa com I Knew You Were Trouble - pela Tia Simone. Razões que a razão desconhece -- mas só espero que tenham lido isto a dançar, a gingar, a sentirem a  música a saltitar por vocês adentro. Na boa, na boa, na boa.

Tirando isso, não sei bem sobre que temática deveria pronunciar-me já que as profundas exigem mais de mim do que tenho para dar e as superficiais passam tão depressa que não consigo agarrá-las. 

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E talvez até já porque, ao contrário do que possa parecer, até tenho aqui um tema a trabalhar dentro de mim. A ver se consigo dá-lo à luz.

terça-feira, setembro 05, 2017

The one
[Pr'a menina e pr'o menino]


Não sei se é bom. Tenho ideia de que já o tive mas não sei se ainda é a mesma fragância (a qual não recordo) ou se há variantes ou, até, se estou a fazer confusão. O que sei é que a publicidade Dolce & Gabanna é outro caso de coerência: há um estilo, uma alegria, as pessoas sempre em festa, uma joie de vivre sempre patente (e, aqui, eu devia usar uma expressão em italiano mas não sei nenhuma e não quero inventar) que se mantêm ao longo das campanhas, transversalizando o conceito D&G ao longo dos diversos produtos da marca.

Mais: ver estes produtos publicitários é sempre uma forma rápida de ir buscar alegria. E é inevitável a vontade de partilhar esta disposição. Quiçá, quem assim se pefume, consiga trazer consigo a chave mágica para abrir mil sorrisos à sua passagem

Inteligentemente, os produtores da campanha foram buscar dois intérpretes da Guerra dos Tronos. Como desconheço tal coisa, desconhecia-os também a eles. Também não faço ideia se é verdade ou fofoca aquilo da Menina Emilia andar de chamego com o Menino Kit. Mas acredito que o facto de eles serem reconhecíveis por meio mundo consiga, de imediato, uma elevada taxa de identificação o que, como é sabido, é meio caminho andado para uma marcar se impor.


The One com Emilia Clarke




The One com Kit Harington



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quarta-feira, agosto 23, 2017

Uma bola de pedra tatuada. Ou rendilhada, para condizer com os bailarinos.
Dance me to the end of love





Tenho algumas coisas para dizer mas como também tenho que fazer umas aprovações e enviar uns mails, ainda não sinto as mãos soltas para viajarem livremente sobre o teclado. É o que vos tenho dito: parece que apenas me sinto disponível para escrever quando todos os meus afazeres estão despachados. Deve ser aquilo de primeiro as obrigações e só depois as devoções. Parecendo que não, a matriz cultural de uma pessoa tem alguma importância.

Também tenho que me ir pôr mais à fresca que, há bocado, pensando nós que já estávamos aqui no nosso refúgio longe do mundo, ouvimos um barulho lá fora. O meu marido, com um big pau na pão, foi fazer uma ronda. O cão da casa lá do fundo, do outro lado da rua, só a ladrar. Fiquei dentro da casa, com o telemóvel na mão e procurei o número da GNR. Depois regressou, não viu nada. Passado um bocado, tocam à campainha no portão. Intrigados com aquilo. Visitas à noite num lugar destes, no meio do nada? Fui vestir-me. O meu marido foi ver ao portão. Era o vizinho do início da rua que vinha a pé, também com um grande pau na mão, da fazenda que tem lá em baixo. Passando pela nossa casa, resolveu vir saber se o canalizador que nos arranjou cá tinha vindo. Pois não. Disse que vinha de tarde para arranjar uma torneira em casa e ver o que é necessário para pôr uma torneira para mangueira na rua, lá do outro lado, para as bandas da capela. Com isto dos fogos, todos os cuidados são poucos. Mas não apareceu.

Portanto, agora, tenho que me ir desenfarpelar que isto aqui tem outra coisa: se se abrem as portadas para entrar o fresco, a luz atrai as melgas. Portanto, está calor. Também tenho que ir ligar a coluna refrescante. O meu marido está a ver futebol, nem dá pelo calor. 

Mas, antes disso, ainda quero dizer outra coisa. Portanto, até já.

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sexta-feira, julho 14, 2017

Beleza e rêverie


Palavras, palavrinhas de que servis minhas meninas? Se eu convosco posso fazer o que quiser e pôr-vos a sonhar, a espernear, de pé, deitadas, a falar verdade, a falar mentira, a desenhar abraços ou a portarem-se como ingratas espadas, então, minhas lindas, de que servis vós?

Palavreio, palavrosa, palavroada, palavrainha, minhas coitadas meninas, para que vos hei-de eu querer? Se outros convosco vos melopeiam, vos tartamudeiam, se vos atiram ao charco, se vos amassam, lambuzam, torpedeiam, violentam, agridem, de que, minhas insignificantes menininhas, de que servis vós? Dizei-me. Falai.

Poemas, passeios descritos, argúcias dissimuladas, agressões, preversões, ilusões, para tudo, tudo, vós servis, vós, vós mesmas, suas vendidas. Para que vos hei-de, então, querer, suas malucas?

Páginas cheias de símbolos vazios de significado, páginas repletas de símbolos prenhes de significado, frases, parágrafos, tudo, tudo, tudo vago, tudo lábil, tudo levável pelo vento, tudo lavável pela chuva, embranquecido pelo sol, tudo despido de sentido, tudo carregado de sentido. Para que voais em torno de mim? Para que quereis que eu vos tome em minhas mãos? Para quê? 

Deixai-me. Deixai-me apenas ver em que param as modas. Deixai-me ficar a ver palácios, jóias, lábios pintados, olhares sedutores, balanceamentos elegantes, dourados, coloridos, olhares rendidos, apaixonados, ruas ao sol, brilhos em candelabros, passos atapetados, reflexos, inverdades. Não me tenteis. Deixai-me estar aqui apenas a querer ter aqueles colares, aqueles artísticos brincos, deixai-me pensar que quem ali vai tentando e abusando de tanta beleza sou eu. 

Quero sorrir sem ter que descrever o sorriso, quero maliciar sem ter que confessar a razão das minhas safadezas, quero desfilar o meu olhar sem ter que levar pela mão palavras que se põem feitas tontas a pôr em causa o que eu penso. Se penso que isto é beleza, logo me desafiam, que não, beleza é outra coisa. Se eu me ponho a imaginar-me vestida assim, sorrindo com uma boca feliz, logo as petulantes se empertigam nos meus dedos, que não, que não, que tenha eu juízo, que eu não, que eu não.

Desavergonhadas palavras. Falsas. Belicosas. Tentadoras. Insinuantes. Deixai-me. Não vos quero perto de mim.

A menos que me tragam ternuras e flores e abraços nas mãos ou escândalos presos nos dentes, não vos aproximeis de mim. Longe. Longe de mim. Dai-me descanso.

Agora vou ver os filmes. Depois logo vejo se vos dou nova oportunidade.


Dolce & Gabbana


Alta joalharia





Miss Sicily da Dolce & Gabbana: um baton irresistível




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Que bom poder não usar palavras

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sábado, janeiro 28, 2017

Para mim, pode ser tudo.
Bem, passo bem sem aquele da pizza.



Nem faço ideia quanto custa cada modelito destes. Mas, partindo do princípio que guardado está o bocado para quem o há-de comer, ou seja, que um dia destes vai sair-me o euromilhões, eu diria que gosto de tudo. Uns para moi-même, outro para a minha filha, outro para a minha nora, outro para a minha prima que eu acho parecida com a Julia Roberts, outro para a filha dela que é alta e esbelta e faz ballet, outra para a minha outra prima, elegantésima, senhor doutora da ponta dos cabelos às unhas dos pés, outro para a filha dela que fisicamente parece minha filha e que, ao que consta, é danada para a princadeira como eu era na idade dela (agora não, agora estou muito mais ajuizada), outro para a minha princesinha mais linda quando crescer. E, pensando melhor, não apenas um modelido para cada uma mas uns dois ou três -- e, para mim, meia dúzia.


E a alegria das maquilhagens delas, e a jovialidade radiosa daqueles desfiles, aquela música e aquela forma de dançar tão italianas.

É tudo bom nesta marca. É uma marca feminina.

Gosto do padrão da roupa, do corte, do cair dos tecidos, gosto da maquilhagem, dos penteados.



Nos perfumes é que não sou grande fã. Usei o Light Blue quando apareceu e era novidade. Gostava. Depois banalizou-se, deixei de querer usar.


Dolce & Gabbana Primavera Verano 2017 Milán



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Bom dia alegria!

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quinta-feira, setembro 08, 2016

Para uma rentrée com muito style
- As melhores campanhas para a estação que se avizinha


Depois da arte e da mente, a arte de bem convencer a mente: publicidade. 


Mas não uma publicidade qualquer: da melhor que há.

Bem...

Pausa_________. Um minuto de reflexão_________.

Quem sou eu para saber se é da melhor que há?

Lily-Rose, filha de Johnny Depp e Vanessa Paradis,
aos 17 aninhos o novo rosto do Chanel Nº5
É que se há tema pelo qual eu não deveria aventurar-me é o da publicidade. Não sei porquê, sou péssima observadora de publicidade. Nos sites, fecho todas as janelas publicitárias sem sequer ver de que se trata. Na televisão, se está na publicidade, passo à frente, na rua não reparo nos cartazes, da caixa de correio (real) deito para o lixo toda a papelada. Por isso, não sou permeável a campanhas propagandísticas sejam de que natureza forem. Não retenho patavina. Podem gastar milhões que eu sou totalmente impermeável.
No entanto, não sou, de todo, indiferente ao lado estético de algumas campanhas, nomeadamente aos aspectos fotográficos, seja em fotografia estática, seja em vídeo. 
Nesse sentido, com vossa licença, partilho convosco vídeos que considero que contêm uma componente artística apreciável. Claro que havendo disponibilidade financeira, acredito que os produtos também não sejam maus de todo. Mas, enfim, isso agora é de somenos porque o que aqui me traz é mesmo o lado estético das campanhas.

Começo pela minha marca de eleição. Chanel.

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Chanel - Coco Crush


Jóias

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Chanel com Willow Smith (filha de Will smith)
Fotógrafo: Karl Lagerfeld


Óculos

   
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Stella McCartney com a modelo Amber Valetta


 This Film May Contain Gluten!


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 POP by Stella McCartney 


(Atenção à jovem Lourdes Leon, filha de Madonna, na imagem a segunda a contar da direita)


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 Calvin Klein 

#mycalvins 


   
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 Gucci

   
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 Alberta Ferretti com Kate Moss



   
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Dolce & Gabbana


Sempre em grande estilo, sempre uma festa e tanto


 

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E queiram agora, se para aí estiverem virados, bien-sûre, descer até à arte da ambiguidade

Um neurocientista, prémio Nobel, explica algumas coisas nisto da arte. 
Muito interessante, vos digo eu.

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quarta-feira, abril 20, 2016

Isabel dos Santos, BPI, Santoro, CaixaBank, Ulrich, parcialidade, falsidade, bruá-á, bruá-á.
E, perante um certo nervoso miudinho que se sente nos corredores da pedinte finança portuguesa, qual a indústria que floresce?
A indústria dos comentadores, pois claro. Magotes.
Mas eu já não tenho paciência, juro.
Por isso, se me permitem, vou ao baile. Bailemos.


De repente, escasseando o capital onde antes ele circulava em abundância, há como que um impacientar, um mal disfarçado nervosismo entre todos quantos aí se movimentam.

Uma coisa é um ciclo expansionista, liquidez à espera de lugar para ser parqueada, e outra é o contra-ciclo, o petróleo a desvalorizar, os fundos sob suspeita, o país sob resgate, credores a bater o pé, um regime há muito sob suspeita, um cerco que parece querer apertar-se.

Os animais, mesmo os mansos, quando se sentem feridos ou ameaçados tornam-se perigosos, traiçoeiros.

A bela Isabel dos Santos, sorriso doce e covinhas no rosto, promete dar luta e, atrás dela, estão os amigos de seu pai. Em Portugal, por todos os lados onde ela andou a deixar o seu dinheiro, teme-se: e se ela...? e se isto dá mesmo para o torto?



Assim estamos. Depois de termos caído, cegamente, nos braços do capital angolano, agora estamos receosos, já ensaiando mesuras, prontos a baixar a nossa dúctil coluna, vergando-nos, se necessário for, aos pés dos senhores do poder. 

Um dia talvez também estejamos assim perante o capital chinês. Tantas empresas importantes nas mãos de capital chinês, angolano. Ou brasileiro. Ou de fundos. Tanto dinheiro que tem entrado, na verdade sem que dele se conheça a verdadeira proveniência, tanto dinheiro que comprou os destinos de tanta gente em Portugal.

Não foi apenas coisa dos anos de governação de Passos Coelho. Há quanto tempo Portugal se pôs a jeito? Há muito, sobretudo desde o tempo de Cavaco primeiro-ministro. A economia posta em seco, no estaleiro, a definhar, a troco de mãos cheias de moedas para fazer rotundas, pavilhões multi-usos, formação de faz de conta, parvoíces nas quais os portugueses são exímios quando os videirinhos tomam as rédeas.

Não foi só com ele, mas, de facto, muito se passou nestes tristes anos de Passos Coelho. Com que pressa se despachou a Cimpor para logo de seguida ser desmantelada? Com que pressa se despachou tudo, de qualquer maneira? Chamam-lhes conquistas, os senhores de Bruxelas que temem que este Governo ponha em marcha retrocessos num caminho que acham tão louvável. 
Conquistas? Os trabalhadores com menos direitos, milhares de pessoas num desemprego de onde dificilmente sairão? Conquistas, isto? Deserções, sim, rendições, também.
As verdadeiras reformas não foram feitas e não será fácil fazê-las com os cães de fila de Bruxelas à perna. Um país permanentemente adiado, uma economia desamparada, sem energia para se levantar -- isso é que é.

No meio disto, tal como perante as infindáveis sessões das Comissões de Inquérito a que abaixo já me referi, as televisões rejubilam e refloresce a indústria dos comentadores a granel. Poderia a coisa refinar-se, pescarem apenas os muito bons. mas não, vai tudo a eito. Os comentadores em Portugal viraram commodity
Expulsam um treinador num jogo qualquer: de imediato saltam dezenas de comentadores para os balcões das televisões. 
Os deputados no Brasil votam o impeachment em nome da mãe, do filho, do clube, do gato e do piriquito: boa. Mais cinquenta comentadores repartidos pelos vários canais. 
O Banif foi parar ao Santander sem se perceber como? Jackpot. Comissão de inquérito em directo e em diferido e comentadores em permanência. 

Os Panama Papers envolvem o Júdice e o Rendeiro? Ui. Ponham no ar os dois ao lado um do outro, de sobretudo, afamados a bastados, e que mais trinta macaquinhos e quarenta papagaios venham opinar sobre o caso. 

Ai, a Isabel dos Santos roeu a corda? Melhor ainda. Até salivam. Caem das árvores mais umas dezenas deles, cri cri cri, cri cri cri.

E não tarda o Pedro Santos Guerreiro fará um vídeo, e o José Gomes Ferreira, o João Vieira Pereira e o Ricardo Costa naqueles seus números de travesti, despirão o fato de jornalistas (que já pouco ou nada são) para se apresentarem, doutorais, a parlar de alto sobre os sucedidos.

Face a este lindo panorama, dizer o quê? 

Nada. Não me apetece dizer nada. Zero. Farta desta indigência. Vou mas é dançar. Venham também.



Apetece-me, isso sim, recordar umas noites de há mil anos atrás, uns bailes à noite no recreio da escola, cordas cruzadas com papelinhos coloridos e recortados a enfeitarem, a fazerem como que um grande telheiro rendilhado, o recinto enfeitado com luzes às cores, a minha mãe muito elegante, alta, com vistosos vestidos floridos e rodados, o seu cabelo muito louro, saltos altos, o meu pai desportivo, elegante, sempre pouco exuberante, as amigas da minha mãe todas muito bonitas e alegres. Juntavam mesas, juntavam-se em volta das mesas, conversavam, riam. Por vezes havia petiscos. Bifanas. Caracóis. Camarões. O que eu adorava aquilo, aqueles cheiros, o apetite que me dava toda aquela energia. Comiam, conversavam, a música muito alto.

E os filhos todos. Eu e muitos outros meninos e meninas. Eu também com vestidinhos bonitos, sandálias, talvez tranças ou, então, cabelo apanhado em cima, um laço a condizer com o vestido.

Debaixo do verdadeiro telheiro do pátio estava o palco. Cantavam, tocavam. Tenho ideia que havia sempre concertina. Eu gostava tanto. Os meus pais iam dançar, os amigos também. 

E eu e os meus amigos também. Ou isso ou brincarmos às escondidas. Ou corrermos. Mas eu gostava de dançar. Por vezes, o meu pai pegava-me ao colo e dançava comigo e eu ficava toda contente. Ou pegava-me ao colo e eu dançava entalada entre ele e a minha mãe. Ou os meus tios solteiros e amigos da farra. Que orgulho quando se punham a dançar comigo.

Por vezes, os meus avós também iam, o meu avô contrariado, e, por isso, pouco depois de volta a casa, ele dizia que tinha que se levantar cedo. A minha avó viúva também ia. Sempre fez questão de mostrar que o seu coração continuava preso ao meu avô mas eu via nela uma mulher bonita, jovem, com vontade de viver. Mas nunca cedeu. Não dançava. Mas conversava, ria, dizia graças. Se algum homem, por brincadeira, fazia menção de a tirar para dançar, ria-se como se o gesto fosse um gracejo, e não aceitava. Ficava na conversa com outras mulheres, tenho ideia que com outras viúvas.

Eu gostava de ver os homens, geralmente os jovens e solteiros, atravessarem o pátio e, sorridentes, sentindo-se uns valentes pela ousadia, irem pedir para dançar as jovens que se juntavam em mesas, tímidas, ansiosas, sorrindo cúmplices, talvez com medo de que ninguém as quisesse e que ficassem abandonadas o resto da noite. 

Íamos muito tarde para casa, os meus pais e os amigos conversando animadamente, a minha mãe de braço dado com o meu pai, eu e os meus amigos felizes por nos irmos deitar tão tarde.

Foi há tanto tempo. Talvez na província ainda haja destes bailes no verão, talvez a alegria ainda seja a mesma. Nas cidades acho que já não há, assim, com famílias, com crianças. Mas tenho que procurar pois, se os houver, quero ir. Apetece-me dançar para espantar tanto mal.

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As imagens são das campanhas publicitárias Dolce & Gabanna.

Ali em cima, era o Duo HuuBér, Bér Donkers & Huib Hölzken, alegremente interpretando uma Musette.

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E, caso ainda não tenham visto a cena do Detector das Mentiras que muito vivamente recomendo para as sessões públicas do Big Brother das Comissões de Inquérito Parlamentares, aceitem o meu convite e continuem, por favor, a descer.

sexta-feira, fevereiro 26, 2016

O corpo nem sequer é percebido pelo ritmo que o leva





Quando vier o calor despirei a pele do inverno, vestirei vestidos floridos, colocarei umas gotas de perfume feito de bergamota, jasmim, pétalas de rosa, flor de laranjeira e violetas, apanharei o cabelo, talvez use um travessão colorido, talvez vá já à procura de um que tenha flores também, usarei brincos ruidosamente coloridos, sapatos altos de cor a condizer com o vestido, procurarei as flores que se escondem em lugares secretos da cidade, irei talvez para a beira de um lago, procurarei o lugar onde melhor possa ouvir o canto dos pássaros, talvez me sente na relva, encostada a uma árvore, talvez até leve um livro, um livro é uma boa companhia, entregar-me-ei à sua leitura, mas não muito, que um livro, para mim, é para ser saboreado com deleite, as palavras rolando sobre a língua devagar antes de se transformarem em oxigénio ou sangue, de vez em quando terei que olhar para a folhagem que dança levada pela suave aragem, de vez em quando terei que aspirar a tepidez terna das boas lembranças, e depois talvez tenha que voltar o rosto para o sol, os olhos fechados, e, de certeza, esquecerei as nuvens -- e se me apetece despir-me de nuvens, não pensar nelas, não ter nada a ver com elas, pas de nuages, s'il vous plaît.

Claro que não farei uma selfie. Mas talvez o meu amor me queira fotografar e me peça para levantar um pouco a saia e eu, discretamente. far-lhe-ei a vontade.


Quando vier o calor, escolherei um lenço de seda com riscas e flores, dobrá-lo-ei e com ele farei uma fita que me prenda o cabelo, escolherei um gloss bem colorido para que os meus lábios fiquem a condizer com a rosa mais rubra do jardim, talvez passe uma sombra ligeira nos olhos, talvez em azul leve, para que qualquer coisa no meu olhar retenha a pureza do céu, talvez escolha pulseiras, uma de cada cor, para que os meus braços pareçam ter flores frescas, como se tivessem sido colhidas ainda com a inocência da alvorada, talvez escolha uma carteira da cor dos sapatos para que me sinta em harmonia com o que me cobre, e talvez lá dentro coloque uma bolsa com lápis de várias cores para contornar os olhos conforme os vestidos, as cores do céu ou das folhagens das árvores ou das plumagens das aves ou dos reflexos do sol na água, e batons de vários tons para que o meu sorriso transporte a cor das pétalas das flores que se abeirem de mim.

E ouvirei muitas músicas. Mas não me lembrarei do nome de nenhuma. Mas não faz mal porque, em cada dia, ouvirei uma palavra ao acaso que me transportará até aos acordes que depois me transportarão a mim até onde as searas ondulam com a brisa, até onde as árvores se douram sob o sol da tarde, até onde a luz se espraia sobre a pele das mulheres macias feitas de pedra. 

Quando vier o calor e os dias forem grandes, o meu tempo será maior -- lá dentro haverá espaço para os risos, os livros, as músicas, para passear abraçada, para não pensar no frio, para me sentir longe do cinzento desolado, para me sentir longe das nuvens carregadas de desalentos, da tristeza dos dias sôfregos como hoje.

E, claro, não farei uma selfie. Mas talvez o meu amor me olhe com amor e eu me veja nos olhos dele e me sinta radiosa, bonita.

O corpo nem sequer é percebido
pelo ritmo que o leva.
Transitam curvas em estado de pureza,
dando este nome à vida: castidade.

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Em itálico um excerto de 'Mulher andando nua pela casa' de Carlos Drummond de Andrade in 'O amor natural'

Lá em cima Lucia Popp (como Susanna) e Gundula Janowitz (como Contessa Almaviva) interpretam "Sull' aria" de "Le Nozze di Figaro" de Mozart

O vídeo e as fotografias pertencem à campanha de verão Italia is Love da Dolce & Gabanna

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E, se estiverem para aí virados, queiram por favor deslizar até ao post abaixo onde há imagens de beijos, poemas de amor e beijos, casais apaixonados dançando e beijando-se, tudo ao som da bela canção que me deu a ideia do post. 

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quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Dolce Rosa Excelsa



Não sou muito dada a fragrâncias Dolce & Gabanna. Parece que a minha pele não os assimila bem. Ao princípio agradam-me mas, com o decorrer do dia, acabam por ficar adocicadas e, a mim, os perfumes doces tendem a incomodar-me, parece que se tornam demasiado óbvios. Os perfumes, para mim, têm que ser florais com um toque de frescura que não sei se vem de alguma componente cítrica. Um toque de pinheiro também cai bem. Sobretudo têm que ser leves para que se mantenhas florais, frescos e discretos ao longo do dia.

Mas o novo, Dolce Rosa Excelsa, é todo ele rosas, uma combinação de rosas maduras com botões de rosa e, do li, usando pela primeira vez a exótica rosa-canina (African Dog Rose) e a ultra feminina Turkish Rose Absolute. E, portanto, estou curiosa. Gosto do perfume das rosas embora receie que só rosas também fique excessivo. Mas, enfim, o aroma da dog-rose talvez lhe traga algum toque de inesperado. 


Nos perfumes florais de uma só nota, prefiro o de violetas, gosto imenso do perfume das violetas.

Mas se trago aqui o assunto não é pelo perfume, que nem sequer conheço, mas pelo vídeo promocional. Estes fulanos das grandes marcas jogam forte nos meios promocionais e os filmes são sempre marcantes.

Muito do prestígio da marca joga-se no marketing e na qualidade dos suportes que são escolhidos: desde logo a embalagem mas também os cartazes que serão espalhados pelas ruas, usados em anúncios em revistas, e, cada vez mais, os vídeos que são passados nas televisões, cinemas e, crescentemente, na internet.

Com este novo perfume, uma vez mais a Dolce & Gabanna subiu a fasquia: Giuseppe Tornatore realizou o vídeo que contou com a participação de Sofia Loren e com a música de Ennio Morricone. Um prazer para os olhos. Quanto ao olfacto, logo vos conto (porque hei-de ir experimentá-lo).

Se me permitem, reparem também nos belos vestidos floridos. Gosto muito de vestidos assim. Comprei em Paris, há vários anos, um vestido preto com umas belas rosas encarnadas com as suas folhas verdes. É traçado em cima, ficando com um decote em bico solto e com uma saia rodada. Ainda no outro dia o provei para ver se ainda dá para o vestir. Resolvi que o usarei apenas ao fim de semana já que me está um bocado justo e me realça demais as formas (que estão agora bem mais generosas do que quando o comprei).

Também tenho outro, que não visto há uns anos, que é branco com rosas encarnadas e algumas em rosa forte com os elegantes caules em verde. Este é abotoado de alto abaixo mas também cortado na cintura e de saia rodada. Usava-o com os botões de baixo desabotoados e punha um cinto largo, encarnado, na cintura. Gostava muito de me ver com ele. Usava-o geralmente com sapatos de salto bem alto, igualmente encarnados. Este agora já não deve abotoar -- ou melhor, já não abotoa de certeza.

Mas fico contente que a moda dos vestidos floridos esteja de volta. Love, love, love it.

Dolce & Gabanna - Dolce Rosa Excelsea, o filme



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira.

Enjoy.

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segunda-feira, julho 13, 2015

Depois de um dia feliz in heaven: moda para quem pode, maquilhagem com muita pinta e onde é que se deve aplicar o perfume - temas em contra-corrente (... isto enquanto assisto, pela televisão, à humilhação da Grécia)


Estive o domingo inteiro in heaven, um dia bom, bom, bom, dia de casa cheia, dia de algazarra, brincadeira, mesa grande, sol e alegria.

A menina mais linda, sempre graciosa,
mesmo quando anda a apanhar pinhas
Não é o homem do saco mas o meu filho
a recolher pinhas e ramos secos para levar
para casa dele
(seguido pelos sobrinhos e pela filha)


O ex-bebé, sempre um intrépido aventureiro,
aqui no meio do matagal
(que está mesmo a precisar que para lá vamos apará-lo)
O bebé já está um grandão,
esperto que só visto, falador, despachado
(aqui a abrir a porta para ir para a rua,
enquanto o primo mais velho monta uma mula saltitona)

Os três rapazes a afiar paus no chão para os transformar em instrumentos de caça
(ideia do meu filho, claro), sob a supervisão da minha filha.


Para rematar o dia, lembrámo-nos de, na vinda, parar nos bombeiros da terra para ver se havia caracóis. Mas não, tinham-se acabado. Recomendaram-nos uma tasca junto a uma bomba de gasolina. Escusado será dizer que estava lá uma dúzia de pessoas postas em sossego quando entrou a turbamulta. Não vale a pena ter ilusões: é gente ruidosa mesmo. Bastam as crianças (que parece que andam sempre esfaimadas, logo a porem-se a encontrar lugar, cada uma a trepar para sua cadeira, prontas para a amesendação) para que a desestabilização comece. Mas houve que juntar várias vezes, um reboliço total ali armado. Entretanto, os comensais viram que havia não apenas caracóis mas toda a espécie de petiscos: choco frito, queixada, molhinhos. E vá de vir tudo para a mesa e mais torradas e mais bebidas e vá de vir mais e mais. 'Tenho que me alimentar, não é, Tá?', perguntava o mais crescido que estava ao meu lado. Os outros nem isso diziam, focados que estavam nos caracóis, no choco frito, na carninha e demais petiscos. Remataram com gelados. As pessoas que nos cercavam, e entretanto chegaram mais, em vez de conversarem uns com os outros ou verem a televisão que estava ligada, não tiravam os olhos daquele grupo ruidoso e animado, uma gente que comia como se não houvesse amanhã.

No meio daquilo, o meu filho disse, 'Vá, mãe, hoje podes. Atira-te ao osso'. Disse que não, que ideia, mas eles insistiram e eu, que sou doida por roer ossos, acabei mesmo por pegar numa queixada e comer a carninha escondida nos recantos. A minha filha, toda divertida, tirou-me uma fotografia e, sabendo como embirro com o exibicionismo do facebook, gozou: 'Vai já para o Face. Esta é a minha mãe a quem devo muito e tal e coisa, um texto todo muito sensível'. E enviou a fotografia para a minha mãe dizendo qualquer coisa como 'Olha as figuras da tua menina'. E cada um gozou para seu lado. O meu marido disse: 'Põe no blog: Não queriam tanto ver como é que eu sou? Olhem, cá estou, a lambona que aqui vêem'. Não quero saber, soube-me mesmo bem. A seguir, foi o meu filho, meio às escondidas. Quem sai aos seus, não degenera. Também se pela por roer ossos - e lá ficou mais uma queixada toda limpa. 

Resumindo: a bem dizer, estou a milhas de tudo o que se passa pelo mundo. Agora, a sopa já feita, algumas coisas já arrumadas, um breve cochilo no sofá, estive aqui a dar uma volta pelos jornais e a ouvir um bocado de televisão.

A humilhação da Grécia continua e só ouço falar em hipóteses escabrosas. Tudo doido. Cambada. Mais valia que a Grécia pedisse para sair do euro, sair pelo seu próprio pé, ou seja, pedisse um tempo e apoio para mandar catar toda a cambada de anormais que desgoverna esta Europa armada em aristocrata cagona.



Enfim. Como fazer a transição de um dia da maior animação in heaven para as altas esferas europeias em que parece que pensam com os pés, é duro demais, se me permitem vou antes, mostrar coisas que não têm nada a ver. Sou assim, uma alienada.


1. Onde é que uma mulher deve aplicar aquelas gotas sagradas de perfume para que dure o dia inteiro?


Apenas in between como Marilyn Monroe, devota do Chanel Nº5


Não, senhor. O esquema abaixo, explicita quais os lugares que melhor recebem e guardam a essência.






2. Dolce&Gabbana Make up: Alta Moda Fall/Winter 2015

 



3. Não é de agora mas não é coisa que passe de moda -- Alta Moda: Dolce and Gabbana's Haute Couture in Capri 


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E agora vou pensar se escrevo alguma coisa sobre aquilo a que estou a assistir sobre a Grécia ou se me deixe disso.

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domingo, março 08, 2015

Mulheres


Dia da Mulher ou dia da pré-primavera, ou dia não sei bem de quê. Aliás sei, sei bem o que se comemora neste domingo, 8 de Março. Mas como, para mim, homem ou mulher é a mesma coisa a nível de direitos ou deveres, não gosto de dar ao dia grande atenção. Sei bem que as mulheres ainda são vítimas de muita injustiça mas tenho para mim que as mulheres não devem sequer admitir que isso seja matéria sujeita a discussão, nem devem dar-se ao trabalho de se defender ou justificar ou de pretender mostrar como são valiosas, preciosas, tão boas ou melhores que os homens.

Também me aborrecem os blogues tipicamente femininos em que as mulheres falam das agruras que passam para tratar o cabelo, ou da moda das unhas pintalgadas ou das dietas milagrosas, ou de pensamentos inteligentes sobre os quais dissertam, ou de como são engraçadas e modernas ou que, querendo mostrar-se emancipadas, usam três palavrões a cada duas palavras.

De facto, acho uma pena que as mulheres se menorizem, queiram tornar-se engraçadas perante os homens com conversetas palermas ou que esgotem a sua inspiração falando delas próprias. Percorrem-se esses blogues onde pontuam pipocas, pipoquinhas e arrumadinhas, mirones e palmiers, vozes à solta ou cocós nas fraldas, uvas e mini-saias, princesas e fadas e tudo parece um déjà vu, um jogo de espelhos onde raramente se antevê um genuíno olhar sobre o mundo. Que alguns desses blogues acabem tendo milhares de visitas é para mim um mistério pois não entendo qual a graça de muitas mulheres se porem a olhar para elas próprias ou umas para as outras, num exercício de futilidade e narcisismo.

Para mim, ser mulher difere de ser homem na anatomia, no milagre que é ter a possibilidade de transportar dentro do seu corpo um ser vivo que se forma do nada até ao tudo, ou seja, na maternidade em si, e no que advém de o seu cérebro conseguir estabelecer mais ligações simultâneas entre neurónios do que o homem. Tirando isso, e tirando alguns outros pormenores que marcam uma efectiva diferença, referir ou reforçar diferenças ou semelhanças para mim não é tema. Por isso, não me interessa muito escrever ou falar 'como mulher'. Gosto de falar de política, gosto de falar de livros ou de arte em geral, não fujo de temas eróticos. Talvez por isso os meus melhores amigos sejam homens. Apenas não consigo falar de futebol e aí, de facto, quando desatam todos a falar de jogadores, de jogadas, de pontuações e outros assuntos exóticos, não me resta outra solução que não seja aguardar pacientemente que se fartem da conversa.

Para terminar - a vida seria mais fácil para todos se as mulheres se sentissem, de facto, com os mesmos direitos e deveres que os homens: na política, nas empresas, na sociedade em geral mais mulheres talvez fizessem a diferença. Há, contudo, um longo caminho cultural a percorrer.

E mais não sei dizer e acho que até já disse demais. 

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A alma e o rosto - mulheres

Rostos de mulheres do século XX em imagens de grandes fotógrafos



 

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Quando comecei a escrever este post, tinha outra ideia em mente mas depois desviei-me. Contudo, não vou acabar sem vos deixar uma coisa que é muito bem capaz de ficar aqui deslocada mas quero lá eu saber. O desfile outono-inverno Dolce & Gabanna 2016 foi fantástico, as mulheres e as vestimentas lindíssimas e, surpreendentemente, vieram com crianças. O interesse da moda começa a deslocar-se das ninfetas anorécticas, meninas bonecas, para as mulheres feitas, mães de família. E isso, podendo parecer que não, talvez possa fazer alguma diferença.

Dolce&Gabbana Winter 2016 Womens Fashion Show - The Mother, the heart of the family.




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terça-feira, dezembro 30, 2014

"Aí está outra coisa: a idade. Tanto como o nome, ainda menos que o nome, também a idade não deveria ter grande importância. Mas tem. Oh, se tem!", disse David Mourão-Ferreira. E pergunta uma Leitora: "As grandes coisas "materiais" têm importância com a idade?"


O post abaixo é dedicado ao humor e mete uma mulher audaciosa e um cavalo marinho - e mais não digo.

A seguir, se não se importam.

Aqui, agora a conversa é outra. A Leitora Rosa Pinto perguntou se as grandes coisas 'materiais' são importantes com a idade.

Mas - uma vez mais o sugiro - vamos com música: Anna Prohaska interpretando Song to the moon de Dvořák, com Eric Schneider no piano. Um som quase divino.








A pergunta, da forma como é feita, é relativamente abrangente e permite-me, à laia de introdução, falar sobre a importância da idade em sentido lato.

Para começar, direi que, seja qual for a perspectiva, a idade importa mas, em minha opinião, não necessariamente no mau sentido. 

É claro que à medida que a idade avança, o corpo vai perdendo resistência e a flexibilidade, a pele vai perdendo a luminosidade, o cabelo vai perdendo a vitalidade. 




Mas em tudo isso pode ser vista beleza, a beleza de um corpo que se vai transformando, assimilando o tempo que passa.

Claro que há também, de vez em quando, o desconforto das articulações que perdem a lubrificação ideal, dores que surgem e custam a passar. Mas, para isso, há tratamentos e, aos poucos, o corpo também se vai habituando a conviver com essa nova realidade. E há a flacidez que não se cura com comprimidos mas que apenas significará decadência se a mente se sentir decadente.

E no amor?

No amor a idade traz maior exigência mas, por outro lado, maior tolerância. 




À medida que se vai conhecendo mais e melhor a vida, vai-se sendo capaz de relevar o que é insignificante e passageiro e vai-se percebendo que não se deve esperar por algo que, de tão perfeito, pode não existir, ou que não se deve contrariar a natureza e que, se o corpo pede uma coisa, deve-se satisfazê-lo sob risco de a oportunidade passar. Da mesma forma, há uma urgência que advém do contador que vai avançando e que impede que se continue a tolerar o que é intolerável.

E no sexo?

No sexo a idade traz um tempo, uma disponibilidade que antes havia em menor quantidade e qualidade e traz um maior conhecimento dos corpos, do próprio e do outro, e uma maior capacidade de entrega e partilha.

E nas grandes coisas materiais, como explicitamente a Leitora refere? 
Por exemplo (digo eu), conhecer grandes hotéis, frequentar os mais caros e luxuosos restaurantes, fazer grandes viagens e consumir sem limites, adquirir roupas de marca custem o que custarem, ter casas requintadamente decoradas com peças assustadoramente valiosas?
Penso que, à medida que a idade avança, tudo isso vai perdendo relevância. Claro que há aqueles para quem a vida apenas faz sentido em função do que conseguem possuir ou experiências exóticas e dispendiosas que conseguem averbar no curriculum - mas com esses eu não me identifico, pelo que por eles não falarei. 




De facto, a mim, isso pouco me diz e cada vez menos. Cada vez aspiro mais à simplicidade, ao valor intrínseco do que é genuíno - ou porque seja puramente natural ou porque resulte do trabalho amoroso de alguém. 

Fiz estas fotografias in heaven durante este fim de semana. O sentimento de deslumbramento que tenho
perante a perfeição de uma pequena flor que desponta no junquilho, 
ou perante os bocados do tronco do meu grande pinheiro que tombou num dia de vendaval e cuja memória preservo, contemplando a beleza da rugosidade que os cobre, 
ou perante a sumptuosidade efémera da flor do aloe vera 
ou, ainda, perante as cores suaves da rocha, entre o azul e o dourado, que se tornam ainda mais belas quando entrevistas numa tarde fria junto aos braços de um pinheiro que dança ao sabor de um vento vagaroso 
é um sentimento imenso, que me empolga, que me fascina. 

Fico perante as cores da rocha num estado de encantamento muito puro e inocente que não se compara ao prazer mundano de frequentar um bom hotel, toco a macieza da sua superfície humedecida e é-me bem mais agradável do que sentir uma cara caxemira, debruço-me e quase venero a perfeição quase intangível da pequena flor como não veneraria uma dispendiosa peça de joalharia.


D & G - 2015


Mas, dito isto, tenho que reconhecer que também não me é indiferente um confortável quarto de hotel com uma bela vista, uma obra de arte que me provoque ou um livro bem encadernado e ilustrado, uma peça de vestuário principescamente costurada - essas grandes coisas materiais.


D & G - 2015


Mas isso é uma coisa e outra é gastar fortunas ou decidir o que gosto ou não gosto em função de modas, de marcas, de prestígios exibicionistas.
[Por exemplo, alguns dos quadros que tenho aqui na sala onde agora estou, e dos que mais gosto, adquiri-os por poucos euros num pintor que vendia a sua arte na rua, mais concretamente na Plaza Mayor em Madrid.]
Importante é a alegria, o gosto pela vida, os afectos, os sorrisos, a beleza das palavras, o apelo de toda a arte, o desafio infinito do conhecimento, o conforto maternal que vem da natureza - e essa importância vai crescendo à medida que a idade nos vai dando a faculdade de melhor abrir o coração e a mente. E as mãos.

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A propósito de tudo isto e da beleza da idade e da importância das grandes coisas imateriais, deixem que vos mostre o vídeo com o novo anúncio Dolce & Gabbana (Verão 2015) - a sensualidade mediterrânica, o convívio entre os dois sexos, entre as várias idades (as mulheres de idade são maravilhosas), as influências de Espanha e Itália misturadas e em festa, tudo é magnífico.





E viva a vida, em qualquer idade!

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E, se é para glorificar coisas que verdadeiramente importam nesta vida, como a beleza e a partilha, e rir e mandar os preconceitos às urtigas, pois então que entre o Freedom Ballet: esta é uma das formas de honrar a beleza imaterial do movimento e da liberdade dos corpos

6&7





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E se é para deixar que as palavras nos levem no seu voo imaterial, que se chegue a nós o Pedro Lamares e diga "Metade" (Oswaldo Montenegro)

E que a minha loucura seja perdoada
porque metade de mim é amor
e a outra metade também





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E se é para ajoelharmos perante a beleza imaterial de seres que, de tão belos e intemporais, quase poderiam ser delicados anjos, pois que dancem para nós as medusas Água-viva-juba-de-leão, Cyanea capillata, a Urtiga preta do Mar, Chrysaora achlyos, a Medusa da Lua, Aurelia aurita e a Provocação do Mar, Chrysaora fuscescens. 


No fundo do mar há brancos pavores,
Onde as plantas são animais
E os animais são flores


(in O fundo do mar de Sophia)




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Nunca quando eu era menina e jovem mulher pude deleitar-me tanto com a infinita vastidão da beleza que está agora ao meu alcance e com a qual antes mal conseguiria sequer sonhar. Menina deslumbrada perante a imensa beleza que me cerca sou eu agora.

Elegantes medusas, sublimes cantos, poemas, danças, sorrisos, palavras que chegam vindas não se sabe de onde, essas sim são as verdadeiras coisas que materialmente importam - e isso sei-o agora, agora que a idade vem deixando as suas marcas de beleza no meu corpo.

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Relembro: a divertida história da mulher que queria porque queria um cavalo marinho é já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça-feira.

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