Devo dizer que me incomodam grandemente as grandes concentrações por motivos religiosos. Ainda mais quando os participantes são jovens. Aceitarei razoavelmente se andarem nisto das Jornadas para aquilo que o Cardeal Américo das Multas Aguiar diz: para a borga e para farras. Mas custar-me-á a perceber se alguns vierem numa de beatice, todos muito pios, todos muito formatados, todos numa de virem contactar de perto com o espírito do Senhor, todos disponíveis para participar em sessões que, a mim, me parecem sinistras, coisa quase de seita espírita como uma que vi ontem na televisão em que um padre, creio que americano, dizia que estavam ali em penitência.
A juventude quer-se irreverente, polémica, questionadora, alegre. Haver jovens que acreditam que nasceram pecadores, que a vida é um calvário e que têm que sofrer penitências, parece-me preocupante, doentio.
Em vez da crendice em milagres, fenómenos paranormais ou a irracionalidade de se acharem melhores que os outros, os jovens devem, antes, ser estimulados a estudar, a investigar, a adquirir mais e melhor conhecimento científico, devem ser incentivados a duvidar, a pôr em causa, a ir mais longe.
E já nem falo na hipocrisia dos canalhas que, a coberto do manto da santidade, abusam de seres indefesos ou vivem à larga à custa de nada, ou seja, à custa do dinheiro ou dos bens que os devotos lhes dão.
Gastar 1 milhão de euros como a Câmara de Cascais vai gastar nos trapinhos que a padralhada vai vestir parece-me ofensivo, vergonhoso, inaceitável.
Gastar os milhões de que se ouve falar em palcos, em tretas de toda a espécie e feitio, para que um montão de gente ande na maior ociosidade, a cantar, a sorrir e a achar-se mais santos que os outros , parece-me absurdo, ridículo e contrário ao que supostamente apregoam.
Por isso, gostei de ver a passadeira da vergonha feita de 'notas' no palco principal da JMJ.
Sei que a fé é uma coisa pessoal e, como tal, não questionável. E eu nada tenho contra os crentes. Mas a fé verdadeira é uma coisa íntima. Não é coisa que se ostente ou transaccione. E a forma como a Igreja Católica promove a 'fé' é deformada, negacionista, irracional, doentia.
De manhã fomos passear para a beira-rio. Estava frio e soube-me muito bem caminhar rente ao Tejo, sentir a frialdade húmida, ver as aves andando descansadamente nos lodos ou esvoaçando, deslizando pelos ares no maior vagar. Ao contrário de quando está bom tempo, hoje os turistas e caminhantes tinham-se retirado. Menos pessoas. Levei a máquina fotográfica mas, porque são as pessoas que mais me atraem, hoje senti que faltavam os motivos que, geralmente, me fazem sentir aquela adrenalina de as apanhar à socapa, de as apanhar no ângulo em que não podem ser reconhecidas ou, melhor ainda, de antecipar os gestos que vão fazer no instante seguinte, aquele em que vou estar a postos para os 'apanhar'.
Mas não fez mal. Fotografei as belas árvores pintadas com as mais intensas cores outonais, fotografei as esculturas de rua, fotografei os rastos que se desenham nos lodos, fotografei as águas mansas, longe dos azuis exuberantes, que quase se confundiam com o céu também em cores quase neutras.
Depois fomos almoçar. Já era tarde. O meu marido ainda tinha que ir à empresa buscar o computador e eu, chegando a casa, ainda tinha sopa para fazer, comida para o jantar de hoje já a contar com o de amanhã, pôr a máquina a lavar, etc. De manhã, tinha-me levantado com um pouco de dor de cabeça pelo que tinha pensado que, depois da labuta concluída, haveria de deitar-me no sofá, a ler e, tentativamente, dormiria um pouco a ver se aquela moinha nas têmporas desaparecia.
Mas, então, estando nós no início do almoço (e isto já depois das duas da tarde), eis que recebo uma sms da minha filha a dizer que o mais velho gostava que fossemos assistir aos seus jogos de futebol. Com o programa de festas que tínhamos pela frente, não era nada que desse jeito. O meu marido abanou a cabeça, encolheu-se todo. Que não dava tempo, que não dava jeito. Tinha um trabalho para fazer e não lhe dava jeito interrompê-lo para ir ver o jogo, às seis e tal da tarde.
Mas há uma coisa: eu não consigo dizer que não, não consigo desiludir os meninos. Se ele gostava que fossemos e se a minha filha também gostava que fossemos, então iríamos. O outro menino tinha também um jogo, mais cedo, noutro lugar, e aí era o pai a ir com ele. Mas, se acabasse a horas, iriam lá ter.
Fomos. Chovia a potes. Mau tempo, frio, vento, chuva. Ainda pensámos que não haveria jogo. A minha filha até nos ligou, estávamos nós a meio caminho, que, se ainda estivéssemos perto de casa, se calhar não valia a pena irmos, que com o tempo daquela maneira era pouco provável que houvesse jogo. Mas houve. Um gelo. O meu menino lindo encharcado, enregelado, ali debaixo de chuva. Só visto.
Mas um valentão. Jogou muito bem. Tem muito jeito. Está um rapazinho. Vibrei imenso. Enregelada também eu, embora encasacada, mas feliz da vida. O meu marido também gostou de ver o neto a jogar bem. Três jogos, hora e meia a jogar à bola, coitado, ao vento e ao frio, debaixo de água.
Chegámos a casa às oito e tal, ele ainda com trabalho para fazer e eu com coisas para arrumar e tratar. E vínhamos com um frio entranhado no corpo. Diz ele: 'Arranjas-me com cada uma...'. Como se tivesse sido por mim e não pelo neto e pela filha. Mas, se calhar, se não tivesse sido eu a dizer que tínhamos que ir, ele, com o que tinha planeado de trabalho, diria que não. Ou talvez não. No fundo, apesar de não parecer tão 'agarrado' como eu, também não gosta de desiludir as crianças pequenas (nem as grandes).
Sempre assim fomos. Mesmo quando os nossos filhos eram pequenos, mesmo que tivéssemos muito que fazer, nada nos fazia desviar um milímetro quando o que estava em causa era estarmos junto deles. Muita ginástica para conseguirmos conciliar as obrigações com as devoções, muitas corridas para chegarmos a horas, muito stress por vermos o tempo a passar, o trânsito parado sabendo nós que eles estavam à nossa espera.
Lembro-de uma vez em que uma viagem a Itália coincidiu com os anos do meu filho, teria ele uns cinco anos. Fiz de tudo para mudar mas foi impossível. Íamos três e íamos ter reuniões com pessoas de duas outras empresas; e conciliar agendas foi uma complicação, acabando por convergir, desgraçadamente, naqueles dias. Fui com o coração partido. os meus pais vieram para ajudar o meu marido que, naquela altura, tinha trabalhos fora de Lisboa ou reuniões com pessoas que vinham de fora e que queriam optimizar o seu tempo cá, puxando os horários. E havia a festinha de anos com os meninos da escola. Todos disseram que eu fosse descansada, que o menino era pequeno, que nem ia perceber, que eles tratariam de tudo. Mas eu não consegui aceitar o que tinha feito e, ao segundo dia à noite, tomei uma decisão. Arrumei a mala e no dia seguinte de manhã, ao pequeno almoço, apresentei-me junto dos meus colegas dizendo que ia regressar a Lisboa. Ficaram perplexos, sem palavra. Mas eu disse que nem valia a pena dizerem nada. Quase sentia a voz estrangulada na garganta tanto me doía ter estado ausente no dia de anos do meu filho Não me lembro de como fiz para mudar o voo de regresso. Naqueles tempos, sem telemóveis nem internet, não sei como se resolviam coisas destas. Mas eu tê-las-ia resolvido mesmo que estivesse no meio do deserto. Lembro-me de andar meio assustada naquele aeroporto de Milão que é enorme, pejado de gente, eu com pouco tempo, com medo de não dar com a porta de embarque, enervada, angustiada comigo mesmo, desejando chegar a casa mas, ali sozinha, incontactável, com medo de não conseguir embarcar. Mas consegui. Quando, a seguir ao almoço, toquei à porta do apartamento dos meus pais, a minha mãe ficou ainda mais perplexa. Mas o meu alívio por estar de volta, por poder abraçar os meus filhos, por regressar a casa, não tinha tamanho. E tenho para mim que os meus colegas e o meu chefe da altura passaram a respeitar-me mais por ter mostrado tanta determinação e tanto amor pelos meus filhos.
Outra vez foi com a minha filha. Estava numa reunião de um grupo de trabalho do qual fazia parte, estávamos a preparar uma apresentação para o dia seguinte. Naquela altura as apresentações eram feitas em acetatos que se projectavam com auxílio do que hoje será obra de museu e que creio que dava pelo nome de retroprojector. Uma trabalheira. E tínhamos que acabar cálculos para passarmos as conclusões para os acetatos. E nisto ligam-me da creche a dizer que a minha filha tinha estado com um pouco de falta de ar e que, por precaução, a tinham levado ao hospital mas que parecia não ser nada de muito grave. Foi como se me tivessem tirado o chão, como se me tivessem tirado também a mim o ar, como se o céu estivesse prestes a cair-me sobre a cabeça. Fiquei aterrorizada, impotente. Na altura, andava de transportes públicos e chegar ao hospital parecia-me uma eternidade. Em tal estado de aflição me devem ter visto, certamente quase sem conseguir falar, que o meu chefe da altura me disse apenas: vai buscar as tuas coisas que eu levo-te lá. E foi a abrir, num ápice, eu em lágrimas, numa ansiedade -- como se o recado tivesse sido o oposto. Para mim era como se ela estivesse em risco de vida. Não encontro explicação para a irracionalidade que se apodera de mim em situações assim. Quando lá chegámos, ele disse que ficava à espera mas eu quis que ele se fosse embora pois sentia que era responsabilidade minha, que não podia dividir com ninguém. Voei dentro do hospital até dar com ela. Estava sentada, bem. Tinham-lhe feito um aerossol ligeiro e tinha ficado bem. Levei-a para casa mas num tal estado de medo que me lembro que passei o resto do dia a encostar o ouvido às costas dela a tentar detectar alguma pieira ou sinal de alarme. Quando penso nisto, ocorre-me que, na altura, ainda nem trinta anos tinha. Ontem ela e a sobrinha estiveram a ver fotografias e eu era tão novinha. Nesse dia, eu tinha vinte e tal anos e, para mim, apesar de ser muito responsável no trabalho, não havia acetatos, apresentações ou o que fosse que me prendessem perante a perspectiva de a minha filha não estar bem e eu não estar junto a ela.
E, mais recentemente -- embora já há uns sete ou oito anos --, o meu genro ligou-me um dia a dizer que o mais velho estava com um bocado de falta de ar e que tinham ido ao hospital e que, por prudência, lá ia ficar. Foi como se tivesse sido atingida por uma bala. Parece que, em momentos assim, se me esvaem as forças, parece que me fica a doer o peito, o ventre, tudo. Voei para o hospital. Uma preocupação imensa por ele, por imaginar o susto da minha filha, por tudo.
E podia dar mais exemplos. Apesar de achar que uma pessoa, em situações normais, não deve abdicar da sua profissão ou da sua ambição por fazer aquilo de que gosta por causa dos filhos, devendo, antes, esforçar-se por conciliar os dois mundos -- até porque os filhos crescem e a nossa disponibilidade passa a ser outra (e até porque não devemos nunca dar motivo para que os filhos fiquem a achar que nos devem alguma coisa, nomeadamente por nos termos sacrificado por eles) -- a verdade é que, para mim, sempre esteve muito claro que os filhos e a família vêm em inquestionável primeiro lugar.
Por isso, hoje, apesar de um certo transtorno e desconforto, foi com o coração quentinho que estive a ver o meu menino crescido, tão lindo, tão querido, a dar pontapés na bola tão fortes, tão certeiros, e tão contente por nos ter lá.
E claro que levei um lanchinho. Quando me despedi dele, no carro, ele, molhado e enregelado, coitado, disse-me: 'Obrigado pelo apoio... e pelo lanche...' e eu só me apeteceu enchê-lo de abraços e beijinhos.
E pronto, uma vez mais não ouvi notícias, não sei do que se passa no mundo a não ser alguns temas que não me dão muita vontade de falar neles -- como, por exemplo, que Bill Gates já ultrapassou o Bezos e que já é outra vez o homem mais rico do mundo mas os números são de tal ordem que me parece haver qualquer coisa de muito indecoroso em tudo isto; ou que Veneza está desgraçadamente submersa há tempo demais, de uma forma quase catastrófica, mas acho tudo tão assustador que mal consigo falar nisso -- e, tirando isso ou coisas pouco inspiradoras relacionadas com o Trump ou com o Boris, não tenho muito assunto. Só mesmo isto. Enquanto, na maior paz, ouço os sons do silêncio e escrevo isto que estão a ler.
Acho bonito que chamem às zonas do mundo onde as pessoas vivem até mais tarde 'zonas azuis'. O azul é uma cor saudável, tranquila, a origem e o fim de tudo -- isto, claro, depois e antes do branco original e final, depois e antes do grande infinito. O azul, o vasto horizonte que se funde com o grande líquido azul que transporta e preserva a vida, dentro e fora de nós.
Não me lembro se já algma vez aqui falei disto: os locais da Terra onde há idosos a quem a idade não pesa, vivendo muitas vezes até para lá dos cem anos, mas vivendo com qualidade, felizes da vida.
A nova obra do Bordalo II - um big gato na Expo
É um fenómeno que tem atraído a atenção de jornalistas e de cientistas. E eu, que sempre convivi de perto com gente de avançada idade, interesso-me pelo assunto.
Ainda conheci uma bisavó. Eu era muito pequena e lembro-me de uma velhinha deitada num quarto da casa da minha avó. Dos outros bisas não faço ideia. Tenho uma fotografias de um casal de bisavós e julgo que eram os pais da minha avó paterna mas não garanto. Nada sei deles, não me lembro de alguma vez ter ouvido falar deles. Daquele que fugiu às dívidas de jogo e mulheres ninguém sabia nada. Durante muito tempo, se se falava nele, alguém dizia: 'Se calhar ainda está vivo' mas, que eu saiba, nunca ninguém mexeu uma palha para saber do seu paradeiro. Sabia-se que tinha ido lá para as américas do sul e pouco ou nada mais. E creio que o recíproco também foi verdadeiro. Digo creio porque é isso: mão juro que assim tenha sido.
Quanto aos meus avós, tirando um que morreu novo num acidente horrível, os outros viveram até bem tarde. E o tempo vai passando e agora já são os meus netos que vèem um velhinho na cama e o velhinho agora é o meu pai. E ainda me custa chamar velhinho ao meu pai porque o meu pai sempre foi um homem tão desportista, tão autónomo, tão 'bem conservado' e parece que ainda acho que aquele AVC foi, de facto, uma coisa acidental, que não devia mesmo ter acontecido, daquelas rasteiras que veio mudar o rumo normal das coisas, interromper o que tinha tudo para ser uma vida tranquila para ele e para a minha mãe. Tentamos todos que viva o melhor possível mas o grau de consciência dele já é uma coisa que, para nós, é cada vez mais enigmática.
Mas a minha mãe, essa, sim, poderia muito bem figurar numa destas reportagens das blue zones. Tem uma vitalidade, uma jovialidade e um aspecto que parece de mulher muito mais nova. O que ela faz, o que ele pensa, o que ela ri, transforma-a num exemplo para quem lida de perto com ela. Os netos e bisnetos adoram estar lá em casa. E não é só pelo banquete que ela sempre prepara, é mesmo pela boa onda, pela compreensão e leveza com que encara a vida (apesar da tristeza -- e prisão -- que é partilhar a vida com alguém que se vê a definhar progressivamente, sem esperança que um dia melhore).
Mas, voltando às zonas azuis, o que parece ser comum entre os muito idosos que vivem até tarde conservando a qualidade de vida é:
a convivência -- porque a solidão é um mal terrível, uma coisa que corrói a alma e esgota a seiva que alimenta a vida,
a alimentação natural -- muitos legumes e frutos, de preferência de época, locais, e ervas aromáticas, nomeadamente o alecrim, e carne não muitas vezes por semana, para aí umas duas ou três vezes; não são vegans, são apenas minimalistas no consumo de carne.
o exercício, actividade física -- porque a inactividade faz perder massa muscular, faz perter o tónus, faz amolecer a alma e a vontade de festejar a vida; vários idosos têm a sua horta que cuidam e da qual provêm alguns dos seus alimentos
Fiquei contente por saber. Agrada-me a forma simples de viver e sempre que ouço que isso faz bem ao corpo e à mente fico descansada. Saber aquilo do alecrim, então, para mim foi uma alegria. Gosto imenso de usá-lo e os meus filhos estão sempre a aborrecer-se comigo, dizem que uso e abuso, e o meu marido faz coro, arma-se em vítima como se fosse obrigado a ingerir comida envolta em arbustos do campo. Nada disso. Uso de forma moderada e quando me parece que vem a propósito.
Por exemplo, hoje para o jantar (e a contar que sobrasse para a semana) fiz um guisadinho e, ao temperar, hesitei mas resolvi não usar alecrim. Conto como fiz e parece que ficou bom e digo que 'parece' porque apenas o meu marido o provou.
(Eu hoje, ao jantar, fiquei-me pela sopa de legumes que tinha feito pouco antes, queijo e fruta, acompanhados por dois ou três goles de Trinca-Bolotas, e que rematei, à laia de sobremesa, com um quadrado de chocolate negro comido ao mesmo tempo que dois cubos de gengibre cristalizado).
Mas, então, a receita do meu guisadinho. Tinha comprado vitela, em bocadinhos para fazer a kind of jardineira. Num tacho coloquei azeite, uma cebolona gigante cortada aos bocados, um tomate também bigalhão igualmente aos bocados, salsa, duas folhas de louro, uma meia dúzia de dentes de alho. Pus a frigir ligeiramente para que os sabores se misturassem. A seguir, juntei os bocados de carne, um pouco de sal, pouco, e, quando hesitei a propósito do alecrim, acabei por optar por um pouco de orégãos. Estava o calor no máximo e, quando levantou fervura, baixei. Gosto de cozinhar a baixas temperaturas. pelo que os meus cozinhados nunca ficam 'repuxados'. Coloquei uma pinguinha de água, apenas para poder estar a cozinhar durante mais de uma hora sem risco de acidentes. Quando voltei à cena já a carne estava macia. Nessa altura preparei cenouras, batatas doces, mais cebola, mais tomate, mais salsa, coentros e uma novidade dos meus cozinhados: quiabos. Juntei tudo e envolvi com uma colher, levantando a temperatura até que voltasse a ferver. Depois baixei, temperatura 3 numa escala de 1 a 9. Ficou ali a cozinhar por mais uns quinze minutos. Quando desliguei, continuou sobre a placa para que apurasse um pouco mais. Estava um cheirinho mesmo bom.
Não sei onde iam estes seres irreais
que avistei hoje quando estava a caminhar à beira rio, desta vez do lado de cá
E, por ora, é isto. Deixo-vos com um vídeo de apresentação de uma série que vai passar em França e onde Angèle Ferreux-Maeght, chef de cuisine e naturopata e Vincent Valinducq, médico e investigador, investigam o que se passa nas zonas azuis junto de gente que anda por volta dos cem no Jaão, Sardenha, Grécia e Costa Rica.
Bem. Rodrigo Pratas à parte, bombeiros, ignições, postos de comando e água versus gel para atacar as chamas também à parte, numa das rápidas fugas pelos canais de televisão na ânsia de descobrir sítio onde se pudesse respirar, fomos parar a Bragança e às suas grandes obras de arte de rua. Um senhor, com legítimo orgulho, falava da transformação da cidade, dos artistas, do turismo que aquilo puxava.
Gostei. E percebi que estou a ficar velha, velha como as velhas são. Se calhar não é por ter mentalidade de velha -- que acredito que não tenho (mas juízos em causa própria não são muito credíveis) -- mas por já ter vivido muitos anos. É que, agora, ao escrever isto, tive vontade de dizer: ainda a arte de rua era coisa de delinquente ou vandalizador de paredes, e já eu andava à cata delas, fotografando, elogiando. Já nem sei quantos anos tem que escrevi para a presidência da autarquia propondo que abrisse a cidade aos artistas, disponibilizando paredes, muros e jardins e praças e largos para colocar esculturas, painéis de azulejos, explicando que enriqueceria a cidade, a animaria com um espírito de modernidade, que atrairía o turismo cultural. Recebi de volta uma carta de circunstância, cortês e oca.
Um filho da mãe que eu tinha por meu amigo e que mais não é do que o sabujo-mor que eu já sabia que ele era dizia-me, como se me avisasse: ter razão antes de tempo é tão mau como não ter razão., ou pior. Isso atrofiava-me, fazia-me ter pena de ter razão antes de tempo porque, na verdade, quando se pensa aquilo em que ninguém acredita, a gente sente-se triste, isolada na sua consciência.
Mas não faz mal. Mais vale pensarmos que ainda bem que aquilo em que acreditamos acaba por merecer reconhecimento.
E, no mesmo dia em que vi as paredes de Bragança transformadas numa galeria a céu aberto, vi esta outra, não por cá mas também não sei onde. Só que esta não correu bem. Talvez muito realista, talvez muito propícia ao desastre. Um túnel muito convidativo com um papa-léguas mesmo ali à espreita para atravessar. Claro que os carros que levaram a obra muito a sério se espetaram contra a parede, constatando tarde demais que a obra era de arte e não de engenharia civil (embora, em engenharia civil, se chamem 'obras de arte' a coisas como pontes e túneis). E foi de tal maneira que obrigaram a tapar a obra de arte com tinta, pintando o muro todo por igual. Acontece.
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E a música lá em cima não tem nada a ver com nada mas soa-me bem e gosto do vídeo.
Recomendo que criem um abaixo-assinado para acabar com o jornalismo feito por criaturas como o tal Rodrigo Pratas de que falo abaixo.
Eu, entretanto, vou dar uma vista de olhos ao livrinho que comprei hoje e que me palpita que deve ser a meu gosto. A encadernação é. Mas o conteúdo não lhe deve ficar atrás: Ver é um todo, entrevistas e conversas 1951-1988, Henri Cartier-Bresson
Para ver se vocês sabem que é como quem diz porque, sem a caixa dos comentários aberta, só se a vossa ideia me chegar através de telepatia. Se bem que, podem crer, tenho o meu lado mediúnico. É um lado meio misterioso que tenho e que, para dizer a verdade, até escondo. Acreditem ou não. Claro que não sei se funciona com todos vocês a pensarem desencontradamente com os vossos pensamentos a voarem por aí pelos ares. Se calhar não.
Mas isto para vos mostrar um pouco do que vi hoje de tarde. Vi mais coisas e até já enviei algumas fotografias ao menino mais crescido -- que já tem endereço de mail e a quem envio as fotografias que ele me pede para tirar, se calhar para depois mostrar aos colegas da escola. Mas se vos mostrasse duas das que lhe enviei, estaria a facilitar-vos a vida. Assim, das que lhe enviei mostro só uma, esta aqui abaixo.
Então...? Já descobriram? Vá. Não é difícil. Quem puder, vá lá amanhã para conferir. Não darão o tempo por perdido, podem crer.
Caminhar. Descobrir. Rever como se nunca tivesse visto. Espreitar pela lente. O prazer da primeira vez.
Alfama, vielas, becos, escadinhas, arcos, varandas e varandinhas, vasos, piropos, roupa estendida -- e muitas casas reabilitadas.
Grandes armazéns e velhos prédios estão agora a ser restaurados, com bons materiais e bom gosto. Um hotel privado. Janelas de pedra, cortinas, gatos. Recantos que vêm de outros tempos.
Foi, pois, dia de passeio pela cidade. Eu turista, visitante de primeira viagem, sempre encantada, sempre à descoberta. Lisboa, a bela, tão visitada, tão cosmopolita e, no entanto, tão acolhedora, gente de todas as nacionalidades, raças, idades. Uns vestidos de invernia, outros de verão. Casacos, agasalhos. Calções, cavas.
E eu à procura de graffitis, de recantos, de gentes. Espreito as paredes, detenho-me, fotografo.
Na 24 de Julho, um fantástico novo trabalho do Bordalo II. Restos, lixos. O prédio abandonado ganha uma nova vida.
E os largos com árvores tingidas de Outono. Lindas, lindas. Fosse eu capaz de transformar emoções em palavras e haveria agora de estar aqui imaginando romances vividos em casas com vista para o arvoredo. Fosse eu dotada de capacidade de síntese e de musicar ideias e haveria de estar aqui a escrever poemas que soubessem transportar os cheiros da cidade, as cores e os sons e as saudades de todos quantos por aqui, ao longo dos tempos, se sentaram nas esplanadas e escreveram postais aos amados que ficaram noutras paragens.
O novo espaço do Campo das Cebolas quase pronto, uma engenhosa e bela solução que eleva o piso, cria uma nova zona de lazer ampla e luminosa com vista para o casario e para o rio. Um dos espaços mais inesperados da capital, que, certamente, irá trazer ainda mais pessoas para dentro da cidade e para bem próximo do Tejo.
Esta Lisboa que eu amo cada vez mais estimada, mais inteligentemente aproveitada. O novo e o velho, o luminoso e o escuro, o amplo e o esconso. Os azulejos gastos e os novos, os candeeirinhos, as escadinhas.
Há uma arquitectura muito própria que acompanha a orografia da cidade e há uma clarividência extraordinária de quem sabe inventar espaços novos que convivem com os antigos.
E os desenhos, os cartazes, o humor, a graça, o grito, o queixume, a rebeldia, a melancolia. O jeito lisboeta de ser onde a truculência se mescla com a nostalgia, o humor com a poesia, a exuberância da cor com a lágrima sentida.
E, depois, almoço no cantonês, caminhada à beira rio, o frescor do ventinho trazendo a maresia da baixa mar, as gaivotas, as muitas gentes, as muitas línguas.
E, de novo na avenida ribeirinha, o novo terminal de cruzeiros. Ao lado, um paquete enorme por onde entravam os viajantes. As árvores ainda são novas, os acabamentos ainda faltam mas já se percebe ali um outro espaço de modernidade. Não deu para andar por lá a cirandar, apenas o vimos do lado de cá. Um dia destes aproximar-me-ei pois ficámos em dúvida sobre se parte do edifício está ou não sobre a água.
E o Terreiro do Paço e o Cais das Colunas, lugar sempre tão tranquilo apesar da quantidade de gente que por ali anda. O símbolo da abertura portuguesa ao mundo.
Quando voltámos a casa já a tarde se estava a pôr, já Lisboa anoitecia. Uma suave e serena tarde de Outono.
Era bom que chovesse mas não chove. Se chovesse não teria podido andar a palmilhar o ruedo e as avenidas da cidade, fotografando como se nunca tivesse visto a cidade que diariamente percorro. Mas era tão bom que viesse a chuva.
Talvez por ter a rotina alterada, talvez por ainda estar sob efeito do último relaxante muscular que tomei (para aí há uns dois ou três dias), talvez porque a noite de ontem, sábado, foi obra, todos cá em casa, um chinfrim que só visto, os miúdos numa animação tal que me deram conta da cabeça (isto de estar mau tempo e não desopilarem na rua para, em casa, estarem minimamente sossegados, ontem deu num pico de energia simultânea que me ia fundindo os neurónios), a verdade é que chego a esta hora e estou a modos que off.
Há bocado estive a ler em voz alta o horóscopo chinês não apenas para o meu animal como para o dos restantes. Mas, a cada frase, já me estava a dar vontade de bocejar.
Agora já se foram todos deitar e apenas eu me deixei ficar. Estou a ver o programa da Anabela Mota Ribeiro e o Curso de Cultura Geral com a Ana Luísa Amaral e gosto de a ouvir, tem uma dicção perfeita e um tom de voz encorpado que me agrada. Também me agrada o que ela diz. Agora fala o antropólogo Miguel Vale de Almeida mas não está a dizer nada que me encante. Também ali está uma senhora com um cabeleira farta mas ainda não percebi quem é porque estou a escrever e a ouvir mais do que a ver.
Hoje de tarde, depois de chegar de um passeio na praia, que estava gelada, a fotografar redes de pesca, o mar, um trabalho do Bordalo II, e quem por ali andava, fui ao supermercado e, depois de arrumar as coisas, deitei-me em cima da cama e adormeci profundamente. Até me lembro de ter sonhado. Que sono tão bom eu dormi. Curto mas bom.
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Ah... é a Adriana Molder. Diz que não se sente culpada de flanar, de andar sem destino. Que é obsessiva quando trabalha mas que, depois, gosta de degustar o ócio. Diz que é assim aos 40 tal como era aos 12, quando estava de férias. Tem um ar um pouco ansioso.
Parece-me que o programa tem a ver com as influências do mundo exterior, parece-me que viveram no exterior durante algum tempo.
Nunca vivi no estrangeiro. Apenas em serviço ou em férias, coisas de curta duração. O maior período fora de seguida foi um mês. E nunca estive sozinha. Estar sozinha no estrangeiro, isso, desconheço. Acho que não gostaria, Também nunca vivi sozinha cá. Nem sequer fui alguma vez ao cinema sozinha. Ou à praia. Não gosto de estar sozinha. Só à noite na sala -- mas a isso não se pode chamar estar sozinha.
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Dizia eu, lá atrás, que, de tarde, tinha adormecido. Depois, quando acordei, fiz sopa, fiz o jantar desta segunda-feira, passado um bocado fiz o jantar de domingo, depois tomei banho, depois vi uma apresentação para uma reunião que tenho de manhã, depois respondi a alguns mails de trabalho (e calma, não trabalho em casa ao fim de semana por prazer ou devoção mas porque esta segunda vai ser complicada, tinha mesmo que adiantar algumas coisas), depois estive a enviar fotografias que tinha feito de manhã no parque, depois estive a preparar a roupa de amanhã porque de manhã não terei tempo para isso, depois chegaram eles, os novos habitantes cá de casa, e os mais pequenos estiveram a brincar, depois jantámos, depois brincaram mais um bocadinho, depois cama, depois a mãe esteve aqui na sala e esteve a ouvir-me ler o seu horóscopo chinês, como se fazem umas bolinhas de maçã e aveia (apple energy bites) e os efeitos benéficos de usar o açúcar misturado com o shampoo como esfoliante natural. E etc.
E agora que estou aqui e que tinha pensado escrever sobre um assunto da actualidade, estou nesta preguiça, sem energia para o que quer que seja.
Não respondo a comentários, não respondo a mails, uma vergonha. Mas é tal a indolência que me tolhe as mãos (e o raciocínio) que, como podem ver, não passa disto. Desculpem-me.
Nem a corrida em osso no Valls, nem a vitória de Benoit Hamon, nem as inqualificáveis anormalidades do palhaço Donald, nem a vitória do Moreirense (tema que chegou a dar uma certa disputa entre os dois meninos, ele a dizer que o apoiava e ela a dizer que gostava de todas as equipas menos do Moreirense), nada -- não consigo alinhar meia dúzia de palavras sobre o que quer que seja.
Tenho aqui ao meu lado um livro sobre Guilherme Parente, pintor de que muito gosto, e gostava tanto de transcrever parte de uma sua entrevista ou, então, um pouco do livro de Imre Kertész do qual, antes de adormecer, ainda consegui ler um pouco (e ontem também; vá lá). Mas nem isso. Senhores. Nem isso.
E li há pouco alguns blogues, destes que aqui tenho na minha galeria. Algumas coisas boas. Pensei: vou fazer um cadavre exquis com frases de uns e outros. Estava a pensar se lhe dava a forma de poema ou de prosa. Pois, pois. E energia para isso? É que nem energia para desempatar entre a poesia e a prosa.
Por isso, vocês desculpem-me: hoje fico-me por aqui (apesar de agora estar a ver o Jordi Savall e só isso justificar que, em condições normais, eu fizesse até uma directa).
Antes de me ir deitar, ainda vou ver ver se os meninos estão tapados. Geralmente não estão, especialmente ele.
No entanto, para tentar que não protestem e não me exijam de volta o dinheiro do bilhete, deixo-vos com um dos poemas preferidos de Mandela e do qual eu também muito gosto. Tomara que também gostem e que achem que justifica o tempo que vos fiz perder até aqui chegarem.
Invictus de William Ernest Henley lido por Morgan Freeman
Out of the night that covers me,
Black as the pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.
In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.
Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds and shall find me unafraid.
It matters not how strait the gate, How charged with punishments the scroll, I am the master of my fate, I am the captain of my soul.
Fogo que isto não está fácil. Retomei a rotina diária há pouco mais de uma semana e, chegada aqui à noite, dou por mim perdida de sono, como se já estivesse a precisar de férias e, ao fim de pouco tempo de reclinanço neste sofá de perdição, estou a adormecer num sono descansado como se estivesse a sestar.
E assim foi que, tal como ontem -- mal escrevi o post anterior, o dos belos assentos, e, antes que me deitasse a circular pelos outros blogues, a saber o que há de novo ou a responder aos comentários -- já estava caída no poço da santa inconsciência.
Acordei agora e, ainda mal acordada, volto a optar pela facilidade.
No entanto, não me rendo às primeiras: escolho uma música alegre a ver se, contagiada pela energia sensual dos cubanos, consigo salsar e rumbar em vez de borregar.
Muito bem. Vamos lá. A ver se consigo que as minhas mãos consigam andar por si e se, sem a ajuda da cabeça, conseguem acordar as palavras.
Depois de semanas sem comprar livros e desmotivada até de fazê-lo tão militantemente ignara fui nas férias, eis que no fim de semana e esta terça-feira tive umas recaídas -- e logo daquelas que provam que curada nunca estive nem tão pouco tentada a está-lo.
No domingo, de fugida entre veraneios e turismos acidentais, com o tempo à rédea curta, dei um salto a Setúbal. A vontade de me despedir da Culsete era grande e a pena de não trazer uma das últimas provas da sua existência teve que ser apaziguada. Tenho aqui ao pé de mim o que lá comprei e tinha vontade de vos mostrar. Em especial dois dos livros são de me benzer e chorar por mais. Mas, para isso, deveria fotografá-los e, para tanto, não encontro energia.
E esta terça-feira, com o dia transbordante como é a marca de água destes dias de semana, dei por mim, à hora de almoço, a mandar às malvas toda a urgência e a adentrar-me por ente os arremedos de literatura da estantaria, procurando, como cão que fareja restos de vida por entre os destroços, livros que me saltassem para os braços. E houve três que o fizeram num súbido coup de foudre. Tenho-os também aqui e, há pouco (antes de escrever sobre os tais bancos que fazem a diferença), estive gulosamente a namorá-los, mãos ansiosas por desfolhá-los folha a folha. Também mereciam uma vinda ao palco. Fotografia, nome e autoria, uma qualquer pequena amostra dos interiores. Em vez de estar a escrever isto, devia estar a ir buscar a máquina, a escolher-lhes um décor, uma iluminação, e que fizessem um cheese para vos aparecerem bonitos. Mas não consigo. Pesa-me o sono. Três semanas de dolce fare niente dão nisto, parece que a boa vida, à noite, faz questão de me lembrar que a coisa, para ser bem feita, era eu vir almoçar a casa, dormir a sesta, e, então, voltar ao batente para, à noitinha, aqui estar, fresca e esperta como uma alface escrevinhadeira.
Pode ser que amanhã consiga disciplinar-me e impedir-me de adormecer quando batem as onze badaladas. Agora passa da meia-noite e, seguisse eu a recomendação conjugal, seguiria daqui para o leito em vez de me pôr a escrever sobre o que devia fazer e não faço. Mas a indisciplina corre-me nas veias e, por isso, aqui estou.
É que parece que chego sempre fim do dia com cinquenta mil assuntos sobre os quais me apetecia trocar uma prosinha com vós-outros. Há também ali em baixo comentários que me estão a chamar (e o virginal, então, estava mesmo a pedir um riso a duo) mas, com mil perdões que vos peço, vou fazer-lhes orelhas moucas pois não quero fazer perigar a possibilidade de me manter acordada até vos dizer ao que venho: o nosso Arturinho está a bombar cada vez com maior pujança e graça e isso tem que ser dito e festejado.
Com o que encontra -- chaparia, tubos e tralha -- o nosso Artur inventa ternura e dá à luz uma bicharada que nos olha com olhos quase de gente. Não é a primeira vez que o fantástico Bordalo II vem de visita a Um Jeito Manso nem será a última. O seu talento vai em crescendo e eu, que sou fervorosa devota da arte de rua, orgulho-me que seja meu conterrâneo um menino com tanta arte dentro do corpo.
Diz dele próprio o puto Bordalo (que já se internacionalizou pelo que se apresenta na língua de sua majestade de aquém e de além mares):
I was born in Lisbon, 1987. I belong to a generation that is extremely consumerist, materialist and greedy. With the production of things at its highest, the production of "waste" and unused objects is also at its highest. "Waste" is quoted because of its abstract definition: "one man's trash is another man's treasure". I create, recreate, assemble and develop ideas with end-of-life material and try to relate it to sustainability, ecological and social awareness.
O que mostro neste post é uma amostra da série Big trash animals. As palavras são ainda dele:
Trash Animals is a series of artworks that aims to draw attention to a current problem that is likely to be forgotten, become trivial or a necessary evil. The problem involves waste production, materials that are not reused, pollution and its effect on the planet.
The idea is to depict nature itself, in this case animals, out of materials that are responsible for its destruction.
These works are built with end-of-life materials: the majority found in wastelands, abandoned factories or randomly and some are obtained from companies that are going through a recycling process. (...)
Grande Bordalo!
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E, agora, queiram descer até ao post seguinte para irem repousar a vossa beleza em bancos, cadeiras ou balouços onde o rejuvenescimento é garantido.