Hoje não vou escrever muito pois estou um pouco exausta. Esta sexta-feira foi um dia muito especial para mim.
Acontece que, em vez de poder focar-me completamente na preparação para o evento em que ia participar durante o dia, de manhã tive uma série de assuntos para tratar. E depois a pessoa com quem tinha que falar não estava, a secretária disse que ela logo ligava, e eu pedi que fosse, no máximo dos máximos até às onze pois, a seguir iria ficaria indisponível... e o tempo passava e nada de telefonema e, a seguir a esse telefonema, teria que fazer um outro e ainda mandar o mail... e nada, nada, nada. Uns nervos. Tudo isto foi acontecer no pequeno intervalo de tempo que eu hoje tinha livre e que tinha destinado a outra coisa.
Não sei se acontece convosco mas as coisas podem acontecer ao longo de meses e não acontecem. Mas, quando acontecem, parece que acontece tudo ao mesmo tempo.
E, estava eu a correr de um lado para o outro e a preparar-me para ir enviar o mail, recebo uma mensagem em que as pessoas com quem eu ia diziam que já estavam estacionadas à minha espera. Mas diziam que estavam num sítio que eu desconhecia.
Saí para a rua e nada delas. Liguei. Disseram-me o nome da rua em que estavam. Rua desconhecida para mim. Ou seja, tinham ido parar a outro sítio. O meu marido, gozão como é, já tinha antevisto: 'Vão perder-se'. Pois.
Mas lá nos achámos.
E foi um dia muito bom. Um dia escreverei sobre isso. Foi daquelas coisas cuja descrição daria uma novela. Mas não quero escrever a quente, prefiro que as coisas assentem dentro de mim.
Só que não sei se para os vossos lados também esteve assim. Presumo que sim. Um forno. Ao sol não se aguentava. Muito, muito calor.
Mas, tirando esse pormaior, o que posso dizer é que esta sexta-feira foi daqueles dias que jamais esquecerei -- pelo menos enquanto tiver os neurónios em bom estado.
Felizmente houve quem fizesse a reportagem e, portanto, para além da memória terei esse testemunho de que tudo aconteceu de verdade.
Fico-me por aqui até porque agora, desabituada que estou de acordar cedo e com despertador, quando isso acontece durmo muito pouco, acordo antes de tempo. Acresce que, ainda por cima, cometi o mesmo estúpido erro de sempre: sabendo que tenho menos horas para dormir, levo-me a mim própria mais cedo para a cama. Ou seja, ainda sem sono. Portanto, uma espertina do caraças.
Agora, ao escrever a data lá em cima, no título da mensagem, reparei que por uma diferença de dez dias, por pouco não tinha também comemorado o dia porventura mais decisivo da minha vida.
Uma vez mais o meu dia começou com um telefonema a acordar-me. Os deuses conspiram para não me deixarem dormir aquilo de que preciso. Desta vez não foi um telefonema com drama mas, sim, uma situação tão inesperada, tão insólita, tão nem sei dizer o quê, que não sei como não pedi para desligarem e voltarem a ligar para eu me certificar que não estava a sonhar.
Além disso, nesse momento, andava eu, uma vez mais, num daqueles sonhos/pesadelos que me deixam de rastos. Quando eu tinha reuniões a norte e tínhamos que lá estar às nove, saindo de madrugada, muitas vezes encontrava-me com um colega e íamos juntos, geralmente ele a conduzir. Acontece que ele mora perto do local em que trabalhávamos. Pois bem, no meu sonho eu ia ter a casa dele e, de casa dele, seguíamos para o trabalho. Ou seja, uma versão absurda do que acontecia. Só que, às tantas ele tinha que fazer não sei o quê e eu tinha que ir sozinha. Ora, no sonho, ele morava numa torre sobre o mar, mas uma torre arranha-céus, com dezenas de andar. E eu tinha que ira pela escada de serviço, fora do prédio, e aquilo não tinha corrimão. Portanto, um terror para mim. E, para agravar, como sempre, ia com os meus netos. Então, estava em pânico com medo que caíssem, que se despenhassem, gritava por eles, que não se mexessem, que esperassem por mim. Mas eles fugiam e eu deixava de vê-los e ficava num total desespero com medo que tivessem caído. Depois eu perguntava se não havia outra maneira e diziam que sim, era voltar atrás e apanhar o comboio lá em baixo. E, então, eu ia com os miúdos, sem mãos para os agarrar a todos, e, afinal, para lá chegar, eram outras escadas quase a pique, sem corrimão. E eu já atrasada. E queria entrar em casa do meu colega mas só podia lá chegar por uma das duas escadas. E eu agarrava o mais novo e ele, a querer esgueirar-se ainda se colocava em mais risco. E os outros, vendo o mar lá em baixo, já falavam em mergulhar e eu, numa aflição, a implorar que fossem junto a mim, nem pensassem em mergulhar nem em andar depressa nem sequer em espreitar.
E estava eu nesta aflição toca o telemóvel. Não que fosse má notícia mas não era o que esperávamos, precipita as coisas. Fiquei estupefacta, quase sem saber que decisão deveria ser tomada.
Portanto, parte do dia foi depois a tratar desta bomba que nos caiu em cima.
Acresce que esta sexta feira é um dia ultra super hiper especial. E, afinal, em vez de poder estar totalmente focada nisso, ainda vou ter que tratar de cenas relacionadas com o tema do telefonema.
Com este calor, demos um salto até à praia, Uma névoa. Um certo calor mas envolto em névoa. Bonito, apesar de tudo. Ou, sobretudo, por isso.
Ao chegarmos, um casal de noivos no areal. Só os dois. A olharem para cima, certamente intrigados por estarem só eles, como se o resto do pessoal tivesse tido mais que fazer.
Passado um bocado chegaram duas convidadas e lá foram para um palanque.
Fomos fazer a nossa caminhada. Depois sentámo-nos na areia. Mal estendi a minha toalhinha e me sentei, logo o urso felpudo veio deitar-se sobre ela ao meu lado. Passado um bocado, pôs-se a fazer o buraco do costume e a encher-nos de areia.
Nessa altura, o meu marido disse-me: 'Olha ali'.
Ao princípio, de longe e com a neblina, não dava para perceber. Depois percebemos. Dois casais. Um era uma dupla de fotógrafos e o outro casal era o objecto da sessão fotográfica: de joelho em terra (leia-se, em areia mais do que molhada) o homem pedia a namorada em casamento. Mas isto com a fotógrafa a pedir e a ensaiar poses, ângulos, orientação solar. Portanto, chegámos a isto. Um homem pergunta à mulher se quer casar.
Mas fá-lo em público, com pessoal contratado a fotografar. Agora, toda a gente, qualquer vulgar anónimo, acha-se uma estrela de cinema com direito a publicação de reportagem fotográfica de momentos que, em situações normais, deveriam ser íntimos. E, mais do que certo, já estava mais do que pedido, ou seja, mais do que tudo combinado, aquilo ali na praia deve ter sido apenas um faz de conta.
Ora, pergunta a minha ignorância: para quê isto? Para impressionar os outros? Para se sentirem famosos?
Dá ideia que parte das pessoas se vai afastando da genuinidade, da espontaneidade, da simplicidade... e isso, cá para mim, não pode ser saudável.
Pelo contrário, no extremo oposto, há outros que se afastam totalmente deste mundo e buscam a quase eremitagem, o isolamento. No outro dia, quando perguntei a uma amiga pela outra filha, contou-me, com um certo desconcerto na voz, sobre a sua opção de vida, a viver no campo mais campo deste país, a viver do pouco que as suas mãos produzem, sem preocupação em acautelar o futuro, apenas querendo viver em paz, no silêncio, de quase nada, longe de tudo.
São pólos opostos. Provavelmente a virtude estará a meio destas duas realidades. Mas que sei eu...?
Hoje recebi um mail que, podendo não querer dizer nada, pode querer vir a dizer muito. Com a humildade de quem está a aprender a dar os primeiros passos, dou ouvidos a tudo e levo a sério o que para outros, talvez, não tenha qualquer significado.
E, assim sendo, deitei mãos à obra e trabalhei afincadamente quase todo o dia. A resposta acabou de seguir.
Não sou fantasiosa pelo que não vou ficar toda excitada a acreditar que vai correr bem. Como sempre, atiro-me às coisas tentando conseguir chegar onde quero mas mentalmente precavida para não conseguir nada.
Ou seja, não é fácil desanimar pois, de cada vez que não consigo, vou à volta, tento de outra maneira. Difícil para mim é desistir.
Com isto ainda conseguimos fazer uma caminhada à hora de almoço e ir um bocado à praia ao fim da tarde. Estava-se bem. Tarde bonita.
E, porque não tinha jantar, trouxemos um belo sushi.
Portanto, como síntese, o dia foi produtivo e bom. Não disse mas acho que se depreende que, para os lados da minha mãe, as coisas estiveram mais calmas.
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Com este programa de festas, foi quase de raspão que vi a tinta verde que atiraram ao ministro do Ambiente e a tinta encarnada com que sujaram as paredes da FIL. E não ouvi o que o Marcelo disse mas ouvi o meu marido revoltado, dizendo que o Marcelo quase parecia estar a sancionar a forma de actuar dos jovens.
E o que tenho a dizer é que:
1 - A crise climática é um motivo sério, dramático, e é para nos preocuparmos, mesmo. Que não haja dúvida: é assunto que deve ser levado muito a sério. E não é um tema português: é, sim, um tema mundial. E tem diversas vertentes pelo que tem que ser visto numa perspectiva integrada. Não é simples, pois acabar com uma actividade poluente (a aviação, por exemplo) alteraria o modo de vida das populações de todo o mundo, acarretaria despedimentos, implicaria vultuosos investimento em actividades alternativas, levaria anos a ser posta em prática. Não se pode acabar, de caras, com nada. Pensar isso é ter uma visão simplista e errada sobre o funcionamento da vida real. Mudar o modelo económico do mundo actual requer visão, estratégia, planeamento, recursos, capacidade de execução apesar dos escolhos, muito esforço, infinitos sacrifícios.
2 - Contudo, apesar de tudo, há que operar a transformação. Levará tempo, implicará compromissos, imporá acordos transversais. Penso que, mais ou menos, todos os países civilizados estão empenhados nisso. Claro que quem gere os países são os políticos (eleitos) e sabemos como tantas vezes se elegem políticos que estão na política a servir interesses que não os dos que, ingenuamente, os elegeram.
3 - Para lidar com a urgência das medidas e com a resistências que políticos impreparados ou a soldo, há que ter inteligência.
4 - O processo que os jovens portugueses moveram no Tribunal Europeu dos Direitos do Homem contra 32 países, entre os quais, Portugal, parece-me uma iniciativa inteligente.
5 - As iniciativas inteligentes são as que constroem soluções ou apontam caminhos
6 - Neste domínio, as iniciativas ineficazes, pouco inteligentes, censuráveis e, até, criminosas são as que resultam da ameaça, do insulto, da destruição, do arremesso seja do que for contra pessoas ou património
7 - Nos casos em que há crime (e não sei se arremessar tinta ao Ministro ou às paredes de um edifício é apenas uma estúpida e inútil falta de respeito ou se é crime), devem os acusados ser julgados.
8 - As lutas justas devem ser travadas com lisura, respeito pelo outros e pela lei, civismo e, claro, inteligência.
9 - Se Marcelo não percebe isto, estamos mal. Ou seja, a ser verdade que o nosso Presidente não se demarcou e não censurou muito claramente a forma infantilóide, desrespeitadora e absurda com que os jovens actuaram, vamos de mal a pior.
O meu dia começou cedo, bem mais cedo do que o habitual. Começou com um telefonema. Embora não fosse bom, tenho este meu jeito optimista de ser. E, enquanto ouvia, pensava: 'enquanto for ela a ligar-me, menos mal'. É que as más notícias de verdade nunca são dadas pelos próprios.
De qualquer forma, toda a manhã estive em suspenso sem saber se era para avançar de imediato ou se não. E de tarde fui para lá.
Em acréscimo à óbvia preocupação, esta circunstância de não poder ser dona da minha agenda traz-me alguma ansiedade.
Receio afastar-me, receio combinar coisas a que não possa comparecer.
E outra: agora estou sempre naquela de, quando tenho algum tempo livre de crises, tratar de tudo por atacado não vá o diabo tecê-las e depois não ter tempo. E isto também é um bocado estúpido. Mas parece eu que adivinho. Tendo várias coisas para tratar, na segunda-feira foi uma overdose. Estava saturada mas parece que pressentia que o melhor era aguentar pois poderia surgir alguma coisa que me impedisse de diluir por vários dias. Afinal fiz bem. Agora já estou despachada.
Mas, enfim, é verdadeiramente aquilo que se costuma dizer de um dia de cada vez. Até porque, na realidade, tenho sempre a sensação de que é tudo mais psicológico do que fisiológico. Mas depois, não percebo como, os exames confirmam que há mesmo qualquer coisa e isso é que é pior.
Eu deveria mesmo ter estudado psicologia para saber lidar melhor com estas coisas.
Uma amiga médica, no outro dia, falava-me na dificuldade que é para eles, médicos, conseguirem extrair a raiz do problema de doentes que somatizam, chegando lá a relatar sintomas e mais sintomas, dramas em cima de dramas. Muitas vezes, dizia-me ela, ao fim de estar na conversa uns minutos, já passou tudo, já tudo foi relativizado. Involuntariamente, as pessoas assim transformam o medo em sintomas.
Tirando isso, ainda consegui, durante uma meia hora, passear à beira mar e apanhar algum sol.
Sinto falta de ter tempo para escrever. Há um fenómeno estranho a dar-se na minha vida. Quando trabalhava, trabalhava mais do que as oito horas por dia, perdia tempos infinitos no trânsito e, apesar disso, tinha tempo para tudo. Agora falta-me o tempo e isso é inexplicável.
Também há esta coincidência de as coisas com a minha mãe se estarem a complicar com uma frequência algo inesperada justamente agora que tenho disponibilidade para andar a acompanhá-la e a tratar de coisas para ela. Se fosse há uns meses como é que teria sido? Pergunto-me mas, na volta, tal como conseguia arranjar maneira de fazer tudo também acomodaria mais isso. Não sei.
O que sei é que ando um bocado psicologicamente esgotada. Para além disso, também um bocado fisicamente cansada.
Mas, enfim, todos os males fossem estes. Portanto, bola para a frente.
E, enquanto escrevo, estou a ouvir este vídeo que aqui partilho. E estou a gostar muito. Se tiverem ocasião, não deixem de ouvir. É mesmo uma maravilha.
Barenboim & Argerich : Mozart Sonata for Two Pianos, K.448
Parece que há agora um novo líder no Syrisa. E meio mundo ficou de queixo caído por ter aparecido, do nada, um manganão que vivia nos States, empresário, que trabalhou no Goldman Sachs e sei lá que mais. Ou seja, tal como se tivesse sido gerado e alimentado pelo sistema capitalista, apareceu esta ave rara. E muita gente, muito justamente, veio dizer que já não se percebe nada disto: afinal onde é que está a linha que separa a esquerda da direita.
Eu não sei responder a nada disto. Nunca tinha ouvido falar no Stefano. Agora uma coisa eu sei. Tal como é sabido e consabido desde os tempos em que Harry Selfridge organizou os seus armazéns no início do século passado, colocando na entrada o que agradava às mulheres (maquilhagem, moda, chapéus, luvas, etc), quem decide como vai ser são as mulheres.
E as mulheres, santa paciência, simpatizam de caras com o Stefanos. Virão advertir-me que o safado é gay. Pois, bem sei. Mas mesmo que não fosse, o que é que eu e as muitas mulheres que votaram nele íamos fazer com ele..? Nada, certo...? Olhar... Ouvir... Acreditar... Ora, se é para olhar e ouvir e acreditar... que diferença faz que seja gay...?
Portanto, se é para ver e ouvir (coisa forçosamente platónica, digamos assim), não é melhor que seja um giraço com um sorriso lindo, fofo, queridésimo, simpático todos os dias...?
E isto sou eu, hetero, a falar. Agora, se a mulherada se encanta, imagine-se o que não pensarão os homens gays lá do burgo...? Tudo a votar no menino... Ora não.
Ao meio-dia de segunda-feira, Stefanos Kasselakis, um executivo do setor marítimo e ex-negociador do Goldman Sachs, caminhou pelos corredores do parlamento grego para ser coroado chefe do Syriza, o outrora partido radical de esquerda do país.
Ninguém poderia parecer mais fora de sintonia com uma força política tão mergulhada na turbulência da sangrenta história do pós-guerra da Grécia. Mas Kasselakis, com um sorriso aparentemente permanente nos lábios, desafiou todas as probabilidades. Depois de iluminar os céus da sóbria cena política do país com uma campanha no alto do vigor das redes sociais, o greco-americano de 35 anos não só emergiu como o vencedor da corrida de duas voltas para liderar o Syriza – ganhando 56,69% dos votos – mas provou que é muito mais do que uma estrela cadente.
Há apenas seis meses, Kasselakis era um desconhecido político arrancado da obscuridade pelo líder cessante do Syriza, Aléxis Tsipras, para se apresentar como candidato expatriado nas eleições estaduais do partido nas eleições nacionais de Maio. Desde que deixou a Grécia, ainda adolescente, com uma bolsa de estudos num prestigioso internato de Massachusetts, depois de vencer uma competição de matemática, ele não olhou para trás.
Se os roteiristas tivessem tido a chance de escrever o roteiro, eles poderiam ter tropeçado. E não só porque o antigo “Garoto de Ouro” – apelido dado a Kasselakis pelos colunistas – vem dos EUA com um currículo que nenhum esquerdista que se preze poderia endossar.
Num país mediterrânico mal preparado para eleger uma mulher como primeira-ministra – e muito menos um homem assumidamente gay – ele chegou à Grécia com o seu marido, Tyler McBeth, um enfermeiro norte-americano que conheceu e por quem se apaixonou em Miami.
McBeth, que assim como Kasselakis, começa o dia malhando na academia, apareceu sorrindo ao lado dele desde o início da corrida pela liderança – o casal entrou na união civil há quatro anos. “A minha mãe”, disse recentemente o novo líder do Syriza, “nada mais quer que nós tenhamos filhos e possamos vir ajudar-nos”.
No domingo, Kasselakis fez de tudo para garantir que a sociedade socialmente conservadora da Grécia soubesse exatamente quem era o seu marido, chamando McBeth para se juntar a ele no seu discurso de vitória fora da sede do partido.
Além disso, a ascensão de Kasselakis surgiu do nada.
O escritor de esquerda Dimitris Psarras, evocando a ansiedade que o súbito aparecimento do greco-americano desencadeou entre os quadros do que outrora foi uma aliança de marxistas, ex-comunistas, ecologistas e social-democratas, disse: “É como se a Netflix tivesse entrado, assumido o controle do party e agora está transformando-o em uma série. As pessoas não têm ideia do que se trata a sua política, ou se ele tem algum programa. É claro que eles estão em choque.”
(...)
Em retrospectiva, o anúncio poderia ter sido escrito por psicólogos comportamentais – o recém-chegado político falou publicamente sobre fazer terapia para lidar com a sua sexualidade.
Pesada na história de vida e na verdade, a declaração começa: “O meu nome é Stefano e tenho uma coisa para vos contar. Nasci em Maroussi [um subúrbio de Atenas] em 1988, num país com primeiros-ministros hereditários; numa família com pais que se criaram por conta própria. A minha mãe, dentista, trabalhou dia e noite para sustentar o meu pai enquanto ele abria sua empresa.”
No final do vídeo, Kasselakis falou sobre o colapso económico de sua família, como foi parar aos EUA “sozinho com bolsa integral”, cursou a Universidade da Pensilvânia, conseguiu um emprego no Goldman Sachs, entrou no mundo do transporte marítimo – ganhando uma pequena fortuna no processo – e conheceu “o sopro de liberdade” na sua vida, Tyler.
A sua decisão de aderir à corrida pela liderança do Syriza – permitida a qualquer membro assalariado do partido – nasceu, disse ele, do desejo de “construir o sonho grego”.
“Tenho consciência de que não tenho experiência partidária. A minha experiência é no trabalho e na vida social”, disse Kasselakis aos ouvintes, insistindo que com o seu melhor inglês, melhores competências empresariais e melhores diplomas, poderia não só derrotar o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, mas também expulsar o centro-direita do poder. “Para que o sonho grego se torne realidade, temos de derrotar aqueles que beneficiam de uma Grécia que é um campo árido e não da Europa na prática”, disse ele.
Quer quisesse ou não, Kasselakis fez o que nenhuma outra pessoa conseguiu fazer: transformar a política grega num pseudo-reality show televisivo em menos de um mês.
Mas o que ele também mostrou tão acertadamente é que quatro semanas é muito tempo na política, o suficiente para apagar o passado e para “redefinir” um partido.
Devo dizer que não sei se é porque nesta fase da minha vida não me apetece continuar a dar para peditórios para os quais já muito dei ou se é porque tenho andado com outras preocupações e isso retira-me energia. O que sei é que estou a ver o caldinho das eleições na Madeira e estou sem grande ímpeto para me pronunciar.
O PS levou uma tareia que não é brincadeira e seria interessante perceber porquê, e o Chega continua a somar e a seguir. Duas situações que dão que pensar e que preocupam.
Subiu o tal JPP que não percebo bem ao que anda. Se calhar as pessoas reveem-se nele.
A coligação PSD/CDS ganhou as eleições e não há dúvida sobre isso. Mas perdeu a maioria -- e parece que o Albuquerque disse que se demitia se isso acontecesse. E agora o dito cujo dá uma pirueta em cima da frase, arrebita-se em equilíbrio sobre um calcanhar e diz que não foi bem isso e que claro que vai governar. Pimbas. Isso, contudo, é daquelas que me deixe bege. Nem branca, nem castanha, nem preta, nem rouge, nem blue nem verde, muito menos amarela. Bege. Desta raça, destes little albuquerques, está o mundo cheio. Desonram a palavra. Mas é a palavra deles que desonram e não as palavras em geral. Portanto, que lhe faça bom proveito.
Vejo na televisão o Montenegro com aquele seu sorrisinho de manhoso que estraga tudo o que diz. Só sabe encher sacos de vento. Também por ali vi uma escaganifada galinha careca e um saco de enxúndia com carinha de grão de bico. Não sei o que por ali andam a fazer. É certo que a Madeira faz parte de Portugal e, portanto, em especial numa noite eleitoral, qualquer bicho careta pode muito bem andar por onde lhe apetecer A minha dúvida só tem a ver com o facto de ser gente sem valor acrescentado em lado nenhum e, por isso, não se percebe qual é a deles. Mas não tenho nada a ver com isso.
Tirando isso, noto apenas que longe vão os tempos em que nestes noites tínhamos sempre o momento de stand up do Alberto João. A gargalhada estava garantida. Agora nem isso.
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Esteve um belo dia de verão. O Outono vai sweet, golden e bem bom.
Fizemos uma caminhada grande na parte da manhã e uma outra mais curta ao fim do dia, já praticamente de noite.
Sobre o meu dia, posso dizer que não joguei padel. Fiquei outra vez a assistir. Mas talvez tenha alguma vontade de me dar uma hipótese. O meu marido gosta mas só joga com os filhos e com os netos. Talvez eu devesse habilitar-me a também ser parceira dele. Vamos ver. Tenho sempre algum receio dos meus joelhos. Mas talvez deva experimentar pois, às tantas, estou com receios infundados.
Quanto à minha mãe, é um dia de cada vez. Recupera e melhor recuperaria se desse ouvidos aos outros. Como quer agir como agia quando era nova e saudável, e como acha que tem o direito a tomar as suas decisões (e tem-no, sem dúvida, e é isso que faz), o percurso não é linear nem sempre muito compreensível. Mas, enfim, é o que é. Quando nos diz que 'sim, está bem' ou 'pois, está bem' a única coisa de que posso ter a certeza é que bem podemos insistir que ela vai é fazer o que lhe der na gana, e só nos diz que sim para não estarmos a chateá-la. Tenho é que aprender a viver com esta realidade.
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Tirando isso, ao espreitar o youtube, vi um vídeo sobre uma israelita que resolveu deixar Israel e vir para Portugal. Partilho esse vídeo sobretudo porque tem belas imagens do meu País. Tentei colocar a legendagem automática e não me pareceu famosa. Mas, quem não se entenda com o inglês, poderá tentá-lo.
Eu, é daquelas coisas, nem sim nem sopas. Nem acredito nem deixo de acreditar. Do que não sei não dou sequer palpites.
Sobre haver formas de vida inteligente fora do planeta Terra o que posso dizer é que, no mero plano das hipóteses, neste caso formuladas por uma leiga (e, portanto, sem valor acrescentado para o caso), me parece muito provável que exista.
E, se aqui, através das condições e das circunstâncias, os humanos (que, para o efeito, acreditamos que são os inteligentes cá do burgo) evoluíram para o que somos, acredito que, noutras condições e noutras circunstâncias, a vida inteligente pode encontrar-se noutros formatos. Porque não coisas parecidas com árvores que sejam inteligentes, comuniquem entre si, tracem planos? Ou bichos parecidos com iguanas que tenham mais inteligência e capacidades que nós...? Não faço ideia. Até podem ser minerais dotados de inteligência e que não se pareçam com nada com que se consiga fazer uma comparação.
Mas admito como provável que enquanto por aqui a discutir amendoins e a distribuir milho pelos pardais, algures no universo outros seres construam as suas específicas civilizações e deambulem por aí a observar-nos na maior das calminhas.
Parecem abonecados demais, perfeitinhos demais, humanizados demais... tudo demais para ser verdade.
Mas sei lá.
Outro aspecto que refiro muitas vezes, meio a sério meio a brincar, quando vejo alguém excessivamente preocupado: sabemos lá se um dia destes não vamos levar com um big calhau na cabeça e vamos todos desta para melhor...?
Com tanto asteroide, tanto lixo espacial, tanta coisa que por aí anda, é do domínio da improbabilidade que passem todos ao largo desta bolinha que dá pelo nome de Terra.
E é sobre tudo isto que no vídeo aqui abaixo da CNN o astrofísico Neil DeGrasse Tyson aqui diz.
Um apontamento mais pessoal. Penso que por causa do estado um pouco variável da minha mãe e sobretudo por causa do seu imprevisível estado de espírito em que é ela que sabe, ela que decide e ela que faz, e que me traz preocupada pois intuo (ou melhor, tenho quase a certeza) que não toma a medicação conforme deveria, não dormi bem, tive pesadelos. Estranhamente os pesadelos envolviam o meu pai. Eu estava num lugar a fazer já não sei o quê, só sei que havia muita gente, eu tinha que prestar muita atenção a tudo, e estava sempre a ver o telemóvel com medo de receber uma mensagem a dizer que o meu pai tinha morrido. E, por isso, eu estava numa pilha de nervos. Mas a disfarçar e a trabalhar e prestar atenção a tudo e a todos para que ninguém se apercebesse. Com isto, acordei várias vezes, aflita e com muita dificuldade em voltar a adormecer.
Portanto, durante o dia andei um bocado cansada e com sono.
Agora à noite estivemos a ver o Task Master, programa que, só se não pudermos é que não vemos, e agora estamos a ver uma reportagem bastante interessante sobre o cenário de guerra na Ucrânia, depois de outra sobre os envenenamentos e muitos outros indícios que o ocidente descurou em relação à Rússia.
No post abaixo, o Leitor Américo Costa contesta a minha opinião de que a gestão das unidades de tratamento (Hospitais e nem sei se também os próprios Centros de Saúde) deve ser entregue a gestores. Segundo ele, é óbvio que não, que quem os deve gerir são médicos.
Porque acho que o tema é relevante, permito-me puxar para aqui o que ele diz e, de seguida, fundamento a minha opinião.
Cara UJM
Essa frase, "a gestão do SNS devia ser para gestores" deixa-me em polvorosa. Eis os meus conflitos de interesses: médico, Pneumologista do SNS em exclusividade há 41 anos. Desde 1983 que noto os mesmos problemas no seu funcionamento. E não foi por existir gestores que eles desapareceram. Até acho que, com a sua entrada e o facto de se equiparar a saúde como se fosse bananas ou sacos de cimento, que as coisas se deterioraram mais. A medicina é uma arte, não um negócio. O que o SNS precisa é de inteligência emocional e não de gestores. O que o SNS precisa é de elevarmos a literacia em saúde das pessoas, médicos com tempo de conversar com elas e não de cálculos matemáticos ou computadores XPTO. Voltar às origens. Estou cansado desta coisificação da doença, de sopesar os ganhos a torto e a direito, de tratar a doença como se fosse um tijolo que se partiu numa obra. Sejamos claros, cara UJM: fomos nós, médicos e enfermeiros que demos cabo do SNS. Só pensamos em dinheiro (e vejam hoje o motivos das greves : salário, aumento, dinheiro). Portanto, e desculpe a ousadia, teve azar. Não encontrou um médico, mas sim um gestor; não encontrou alguém que lhe resolve-se o problema, mas sim alguém que só espera o fim do mês para receber. E na privada, com dinheiro, vai encontrar de certeza. Vamos destruir o SNS com a nossa ganância.
Abraço
Américo Costa
E, então, agora exemplifico eu com algumas coisas que funcionam mal e que, com um gestor qualificado e competente, facilmente seriam resolvidas.
Exemplo 1
A minha mãe tinha uma consulta marcada para o hospital para um certo dia que a mim não me dava jeito pois coincidia com um compromisso meu.
Alterar o dia deveria ser coisa simples, não é?
Errado. Um calvário.
Liguei e liguei. Nada. Ninguém atendia. Tocava, tocava até que atingia o limite de tempo, deixava de tocar e a chamada era interrompida.
Como temos um número directo para o serviço, resolvi ligar para lá.
Fui atendida por uma pessoa que, quando eu disse o que queria, me deu uma desanda, que aquele número não era para tratar de assuntos administrativos. Quando lhe disse que do outro número ninguém atendia, ela disse que sabia disso mas que eu fosse tentando. Respondi que estava a tentar há dois dias. Então, disse-me que, por uma vez sem exemplo, lhe dissesse o que queria que ela transmitiria aos serviços.
Fiquei à espera que alguém dos 'serviços' me ligasse. Nada. Fiquei sem saber se sempre iam mudar ou se mantinham. Voltei a ligar e ligar e ligar... sem que alguém me atendesse.
Até que a minha mãe recebeu uma carta com nova marcação. Felizmente não coincidiu com nenhum compromisso. Mas... e se coincidisse? O que é que eu fazia...?
Não seria mais fácil terem um serviço de atendimento em que agendassem as consultas em consenso com os interessados, sendo depois a data confirmada por sms automático como acontece nos hospitais privados?
Não senhor, escolhem eles as datas, mandam cartas, envelopam cartas, expedem correio (ou seja, gastam tempo e dinheiro) para prestar um mau serviço.
Reparem: nada disto tem a ver com temas clínicos. Isto é um mero assunto que um gestor saberia como resolver.
Exemplo 2
Outro caso. Numa das últimas vezes de consulta de acompanhamento, chegámos lá, tirámos a senha, depois fomos chamadas para a inscrição. Algum tempo depois, na nossa vez, a enfermeira chamou a minha mãe, colheram sangue, viram-lhe a tensão, etc. A seguir mandaram-na para a sala de espera, que o médico já chamava. Até aqui tudo bem.
Nestes dias, levanto-me bastante cedo para ir buscar a minha mãe e para estarmos lá cedo pois aquilo é por ordem de chegada.
Só que nesse dia a demora foi superior ao habitual. Passou uma hora, passaram duas, e nada. O médico não chamava. Nem a minha mãe nem ninguém. Fui lá dentro espreitar. As enfermeiras zangaram-se, que eu não podia ir lá sem a minha mãe ser chamada. Entretanto, o médico estava no gabinete, sozinho. Das vezes em que o vi, estava a olhar para o computador. Numa das vezes estava a escrever ao computador. Interpelei-o. Ficou varado. Disse que estava ocupado, tinha que acabar uma coisa e que esperássemos lá fora.
Lá fora, a minha mãe desesperava, enervada, que não se admitia uma coisa assim. Creio que já passava da uma da tarde. Uma outra senhora dizia que era diabética, que não podia estar tento tempo sem comer, que já estava a sentir-se mal.
E ninguém chamava ninguém.
Às tantas a senhora diabética foi-se embora, revoltada, 'Não há direito, saí eu tão cedo de casa, a que horas vou chegar a casa? Não estou nada bem...'. E foi-se embora. Ia a andar um bocado de lado, não sei se já meio cambaleante.
Quando chegou a nossa vez, eu disse ao médico: 'São horas a mais à espera, não lhe parece...?'
Resposta dele: 'Para a próxima não venha para aqui espreitar. E se não chamei ninguém foi porque tinha outra coisa para fazer!'
Respondi-lhe: 'Mas será que o atendimento de doentes, ainda por cima o tipo de doentes que é, não será prioritário? Olhe, uma senhora até teve que se ir embora...'
Resposta dele, interrompendo-me: 'Foi-se embora? Fez bem. Melhor assim. É menos uma...'
Fiquei furiosa: 'Acha...? Se ela se foi embora depois de horas à espera é porque estava a sentir-se mal...'
Já não respondeu nada. No fim, meio entredentes, pediu desculpa pela demora.
Ora, agora digo eu: se houvesse algum controlo automatizado e realizado em permanência para ver, por serviço ou por médico, quanto tempo os doentes estão à espera para serem atendidos, talvez os médicos gerissem o seu tempo e as suas tarefas de outra maneira. Assim, estão à vontade. Pode um médico deixar os doentes três horas ou mais à espera que ninguém o chamará para se explicar.
E nós que esperemos. E se não quisermos esperar, pelos vistos, melhor para eles, sempre somos 'menos uns'.
Exemplo 3
Outro exemplo.
Numa das vezes em que fui com a minha mãe para as urgências, no hospital, fomos ao início da tarde. Foi vista, fizeram análises, rx. E ficou à espera. Eu cá fora, ela lá dentro. Ia-lhe telefonando. Estava à espera. O tempo foi passando e ela à espera. Depois repetiu análises. E ficou à espera. Às tantas tinha anoitecido.
Pedi informação ao chamado Gabinete do Utente. Resposta: tinha feito exames, estava à espera dos resultados. Depois estava à espera de ser vista outra vez pelo médico.
Abreviando: já era de madrugada e nada. O Gabinete do Utente fechado. Ia-me contactando com ela por telemóvel mas a bateria do telemóvel dela estava quase esgotada e ela enervada por não ter onde carregá-lo e eu enervada não fosse ela ficar incontactável e eu ainda mais às cegas.
É que, com isto, eu continuava cá fora sem saber se a mandavam para casa, se quê.
Bem de madrugada, nem sei a que horas, finalmente chamaram-me. A minha mãe ia ficar em observação. Estava eu ao pé dela, lá dentro, para ela me dar os pertences todos, quando apareceu outro médico que ficou muito admirado por eu estar ali àquela hora. Disse-lhe que só então me tinham chamado para dizer que ela ia lá ficar. Ficou ainda mais admirado. Com a idade dela e aquelas patologias e sintomatologia, desde que entrou que era óbvio que ia ficar em observação e que o mais certo era ficar internada. Não percebia porque não me tinham informado logo que a viram à tarde.
Estive seguramente mais de 12 horas à espera.
Ora custaria muito terem respeito pelos acompanhantes e informarem-nos? Não se trata de actos clínicos mas de ter um processo que informe atempadamente os acompanhantes. Assim não.
Não nos deixam entrar, não nos informam. Aceitam como normal que as salas de espera e as entradas das Urgências estejam pejadas de gente que espera por notícias dos que estão lá dentro.
Exemplo 4
Este não tem directamente a ver com os exemplos anteriores. Mas conto na mesma. Em 2021 enviei para os serviços da Segurança Social um relatório médico elaborado pela Médica de Família dela por a minha mãe ter tido um problema oncológico e por outros problemas para que emitam um atestado de incapacidade que lhe permitirá ter um certo abatimento no IRS. O passo seguinte seria chamarem-na para uma Junta Médica. Meses depois, nada. Enviei um mail. Responderam que as Juntas Médicas estavam atrasadas. Mais de dois anos depois, voltei a contactar dizendo que o estado clínico da minha mãe era agora mais complexo. Informaram-me que agora estão a chamar os processos que entraram em 2020. E que enviasse novo relatório. Não sei quando será chamada.
Ora, pergunto eu: para que tem um doente que se sujeitar a uma Junta Médica se o médico de família já atestou o seu grau de incapacidade? Quando foi do meu pai, que tinha uma incapacidade superior a 90%, sem andar, sem ver, sem falar, sem se alimentar sozinho, estivemos para não o sujeitar a isso. Foi uma violência. Uma violência desnecessária. Mas tinham gastos mensais tão pesados que era também disparatado não pagarem um pouco menos de IRS. Mas, pergunto: para que andam os médicos, que são tão poucos, a perder tempo para atestarem o que está no relatório do Médico de Família? Para que sujeitam à situação de quase humilharem os doentes? Não deveriam ser os médicos a demonstrarem à Segurança Social que deveriam estar a exercer medicina e não a fazerem figura de verbo de encher, sacrificando os doentes e respectivos acompanhantes?
Ou seja...
O penúltimo caso aconteceu já comigo reformada. Mas quantas noites inteiras, directas mesmo, já eu ali fiz (nomeadamente quando o meu pai tinha pneumonias), sem saber se o mandavam para casa ou se ficava lá ou se me iam chamar? Por acaso não sou de faltar ao trabalho e ia a casa tomar banho e seguia para o trabalho. Mas quantas pessoas muito justamente não traziam um papel e faltavam ao trabalho? Que impacto na produtividade e na qualidade de vida se poderia conseguir com medidas simples como informar atempada e respeitosamente os acompanhantes?
Um gestor olha para estas coisas e põe-se logo a pensar que processos e sistemas se poderiam montar para que tudo fluísse melhor, e que processos se deveriam montar para monitorizar o bom funcionamento e o grau de satisfação dos doentes e acompanhantes?
Assim, são médicos que estão na sua luta, muito justamente com motivações clínicas, descurando completamente todos estes aspectos que, a eles, lhes parecem acessórios.
E isto são pequenos exemplos, ínfimos exemplos.
Por isso, volto a dizer: a gestão das unidades clínicas deve ser entregue a gestores. A direcção clínica, sim, claro, deve ser entregue a médicos.
E, repare-se: não falei uma única vez em lucros. Falei apenas num bom serviço.
Mas, se estou errada, queiram, por favor, pronunciar-se. Sou toda ouvidos.
Quando se vai a um lugar assim, a gente vê de tudo. Os mais novos que, fruto de doença ou de circunstâncias infelizes, se veem debilitados. Os velhos que, fruto da idade avançada ou da má sorte, se veem a caminhar por uma via com cada vez mais escolhos. Os de meia idade que, quase envergonhadamente, se apresentam diminuídos no meio de uns e outros, como se não fosse ali o seu lugar, que se mostram tímidos por saberem que os outros os vão olhar com estranheza, como se não pertencessem ali, como se não tivessem o direito a estar ali a ocupar o lugar destinado a outros..
Depois há os que, como eu, acompanham. Há os empregados, os que são pagos para estar ali a acompanhar os que não conseguem ir sozinhos. E há os familiares. Há os que, como eu, tratam o doente quase de igual para igual, relação entre adultos, cada um com a sua vontade. E há os que tratam os doentes, em especial os velhos, como se fossem crianças, usando diminutivos e rebuçadinhos em cada frase.
E há depois o pessoal clínico. Também tratam uns doentes como se fossem uns seres infantilizados. Mas, se calhar são. Há os que não ouvem quase nada, não sabem responder, estão confusos. Se calhar faz sentido que as enfermeiras os tratem com carinho, quase como se fossem bebés. Mas depois há os doentes que são tratados de igual para igual, com respeito. E eu penso, de vez em quando, em determinadas situações: 'Deveria ter sido mais assertivo, deveria ter dito que é assim porque é assim e ponto final.'. Mas não, explicam e deixam à consideração. 'Eu acho isto mas a senhora fará como entender'. Fico a pensar que fizeram mal, deixaram solta a ponta que a minha mãe irá agarrar.
Mas tento sempre pôr-me nos sapatos dos outros, quer do médico que sente que deve deixar margem para o paciente decidir, quer do paciente que se sente com o direito a tomar decisões, mesmo que perceba que não é a que os médicos aconselham.
Portanto, resumindo, mais um dia daqueles. Horas.
Tenho que dizer: tendo ela adse e um bom seguro de saúde, prefiro que se trate no sns onde há um serviço de apoio transversal. Ali é monitorizada, faz análises, é vista por enfermeiros e médicos. E há atendimento todos os dias úteis. O pior é mesmo o de sempre: a organização. O tempo que lá estamos. A impossibilidade de telefonar para a parte administrativa, por exemplo para mudar o dia da consulta. Um conjunto de pequenos bottlenecks que seriam fáceis de resolver e que trarim grande qualidade aos serviços.
E depois outra situação. No outro dia a minha mãe teve que ser vista por um médico. Não era caso de hospital. No centro de saúde havia greve, não havia consultas. Médicos ao domicílio já não havia para este mês. A hipótese seria ir com ela para o centro de saúde no dia seguinte logo de manhã a ver se arranjávamos vaga. Ora não estava em condições para se meter em tal aventura. Conclusão: para não ir horas para filas de espera imensa para o hospital público, foi para um hospital privado.
Mas, mesmo que fosse fácil obter vagas para o dia, em especial em casos complexos de idosos, não haverá, no Centro, maneira de fazer análises e um rx.
Para tudo isto funcionar bem teria que haver um enorme investimento em meios de diagnóstico simples para as unidades locais, e mais pessoal. E, não menos importante, gestão.
Os Centros ou os Hospitais devem ser geridos por gestores e não por médicos. Estes devem ser os directores clínicos, não os gestores.
Agora que já não tenho o belo seguro de saúde que tinha através da empresa, estou por minha conta. Gostaria de me bastar com o sns. Mas se precisar de uma consulta de cardiologia, o que faço? Espero que o médico de família me referencie para uma consulta no hospital? E vários meses depois chamam-me? E, entretanto?
E depois esta forma abstrusa de trabalharem. Em vez de ligarem às pessoas e escolherem uma data/hora consensual, não senhor: prepotentemente, enviam uma carta a dizer o dia e a hora. Se uma pessoa não pode, azarinho.
Coisas simples que poderiam ser melhoradas.
Espero que tudo isto leve uma grande volta mas com optimização de recursos, boa gestão.
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E estou cansada. Levantei-me muito cedo. Foi dose. Isso e mais lidar com a situação que, toda ela, vai evoluindo, por vezes de forma desconcertante. O que me valeu foi ir passear para a praia ao fim da tarde. Foi bom. Mas estou um bocado esgotada.
Não posso dizer que o dia tenha sido dos mais tranquilos. As situações com a minha mãe vão ocorrendo mas aparecem-me, sempre, envoltas nos receios que ela tem e que, voluntária ou involuntariamente, não me permitem clareza de análise. Acho que já o referi (e talvez, até, mais que uma vez): tem mais medo dos medicamentos do que das doenças. Por isso, faz de tudo um pouco, para provar que não precisa ou que não pode tomar o que prescrevem.
No outro dia um amigo médico enviou uma piada de médicos (não sei se sabem mas há milhares de piadas sobre médicos e doentes que os médicos animadamente trocam entre si). Nessa piada a que me refiro, um 'paciente' vai ao médico contrariado, apenas para fazer a vontade à mulher que acha que ele está doente. O médico prescreve uma coisa que não ata nem desata, apenas para o homem sair dali confortada e a mulher convencida. A verdade é que o comprimido provoca um efeito secundário que deixa o homem incomodado e o leva novamente ao médico. A seguir segue-se uma longa narrativa em que para tratar o mal que os comprimidos anteriores fizeram, o médico vai prescrevendo outros. Às tantas, o pobre 'paciente' já está mesmo doente, toma todos os dias dezenas de comprimidos e, ao fim de algum tempo, morre.
E, até porque, na realidade, a gente nunca sabe o que vai acontecer e porque, na verdade, a minha mãe é autónoma e independente e sabe o que faz e é senhora do seu nariz, nunca quero pressionar. Mas não é fácil. O meu lado pragmático, racional, objectivo, fica sem saber bem como lidar com estas situações com que me vou deparando. E depois, com alguma frequência, as decisões dela, baseadas (ainda que não conscientemente ou, pelo menos, não assumidamente) nos seus medos, não dão bons resultados.
Mas, enfim... Apesar de tudo ainda consegui dar um salto até à praia. Estava boa. Pouco sol mas temperatura amena.
E tinha metido na cabeça levar uma toalhita, daquelas pequenas e ultraleves, para me deitar ao sol. Não sei onde é que estava com a cabeça. Mal a estendi na areia, a fera fez-se de lord e, imediatamente, deitou-se-lhe em cima. Pimbas. Tudo dele. Pensou, imagine-se, que a toalha era para Sua Excelência.
Afastei-o, claro, mas fez-se de desentendido e o mais que consegui foi espaço para me sentar.
Logo de seguida, levantou-se e, freneticamente, desatou a escavar à volta, enchendo a tolha de areia. Tive que me afastar para não ficar revestida a grãos de areia.
A seguir, quando apareceu água no buraco que fez, enfiou-se lá dentro. E depois, todo molhado, sacudiu-se. E depois voltou para a toalha. Ou seja, impossível refastelar-me. Estive de pé, pois claro. Portanto, aquele devaneio de estar a apanhar banhos de sol saiu-me duplamente furada.
Menos mal. Só de estar na praia já é bom. E caminhámos e fui à água. Mas se me molhei à gato, a minha valentia não deu para mais, não consegui coragem para mergulhar.
Em casa fiz sopa e caldeirada. E telefonei. E estive a ler.
E, de concreto, para além do relatado, pouco mais.
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E que entre Jacob Collier, ao vivo em Lisboa, com Somebody To Love
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E chamo a vossa atenção para este alerta (por favor carreguem no link para lerem o texto completo da autoria do sempre atento e sempre jovem Eugénio Lisboa):
Sinto um certo remorso por não comentar a palhaçada do Chega com a moção, mais a chachada do PSD que não é carne nem é peixe e que se deixa meter no bolso do Ventura, e mais, ainda, a palermice encartada dos artistas da IL que emparelham com os achegados para depois se armarem em betinhos e dizerem que não andam aos gambozinos com eles.
E podia ainda falar do Lula que tanto diz uma coisa como o seu contrário, e recordar que eu dizia que entre o Bolsonaro e o Lula, o Lula -- mas que, para dizer a verdade, venha o diabo e escolha.
Ou poderia falar do carente Marcelo que faz de tudo para ser amado e para que ninguém se esqueça dele e que, nessa sua desaustinada ânsia, já não consegue conter a incontinência afectiva e verbal que tomou conta dele... dizendo o que lhe vem à boca (ia dizer, tudo o que lhe vem 'à cabeça' mas emendei porque acho que nem lhe passa pela cabeça, é tudo na base da ligação directa à boca).
Mas vou falar de outra coisa. Estivemos a ver e ouvir o Nada será como Dante. Várias leituras um pouco desconcertantes. Mas uma poesia em particular deixou-nos a balançar sobre um dedo do pé. Para validar se era eu que estava armada em picuinhas, perguntei ao meu marido o que achava daquele poema. Respondeu: 'Para começar, seria preciso saber se aquilo é um poema'. Concordei pois estava a pensar a mesma coisa. Poema, o tanas.
Então perguntei-lhe se ele se lembrava de uma certa situação a que ambos assistimos há uns anos. Lembrava-se. Então disse-lhe: 'Vou ler um poema que escrevi sobre isso'. Ficou totalmente admirado. Há coisas da minha existência em que dificilmente acredita.
Não sei se já contei mas para aí no verão, entre os dias de férias e de miúdos e de mais não sei quê, meti na cabeça que haveria de fazer uma série de retratos em poesia. Cenas minhas, não interessa. E mandei-os para um certo sítio, e não vale a pena virem com piadinhas. E nem dei a ler ao meu marido pois ele não é grande apreciador de poesia. Temi que gozasse e me boicotasse a intenção. Portanto, a coisa seguiu o seu rumo sem a bênção ou o conhecimento dele.
Tive que me focar para não me desatar a rir. Dá-me vontade de rir de mim e das parvoíces que faço. Mas, então, lá li.
Por fim, atinei e li. Ouviu atentamente e, no fim, quando a coisa teve um desfecho trágico-cómico, riu-se.
Perguntei-lhe se tinha gostado e disse que sim.
Eu é que não gostei nada pois descobri que falta uma letra numa palavra. É o mal de nunca me dar tempo para rever com mil olhos. Caraças. Seguiu com uma letra a menos. Tomara que não seja fatal.
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E como na volta aparecerá alguém, outra vez, a protestar que, lá está, falo, falo... e não digo nada... (ah pois é, bebé...), vou passar ao que interessa: uma casa que é uma fantástica obra de arquitectura.
Inside a Futuristic Mansion with Removable Rooms | Unique Spaces | Architectural Digest
Today Architectural Digest tours a futuristic home nestled among the trees in Malibu, California. If you were to imagine life on Mars your mind might conjure an image similar to this extraordinary residence. Built by architect Ed Niles in 1992, his experimental builds have been redefining the architecture of Southern California for decades. The innovative design features a long structure with modular rooms that can be unhooked and rearranged along the house's spine. Join Ed as he talks you through the creative process behind this architectural marvel.
Na véspera tinha estado até às últimas a acabar umas coisas. O meu marido perguntou-me qual a pressa. Disse-lhe que prefiro ter as coisas despachadas não fosse surgir alguma situação que me impedisse de levar a água a bom porto. Sempre assim fui e agora ainda mais: gosto de acabar as coisas antes da data limite pois gosto de guardar uma reserva de tempo para imprevistos.
Parecia eu que adivinhava. Uma das coisas que mais impressão me faz, que sempre me fez, isto é, que me custa, é não poder ser eu a gerir inteiramente o meu tempo e as minhas actividades. Mas quem tem pais de idade sabe bem o que é andarmos com o coração nas mãos. Ou é uma coisa ou é outra. E, quando estão sob orientação permanente de terceiros em quem se confia para garantir que a medicação é seguida ou que os sinais de alarme são despistados, é uma coisa. Quando estão autónomos, independentes, orgulhosos de serem senhores do seu nariz, aí a coisa fia mais fino. Fazem o que querem. E não podemos obrigá-los a fazer o que não querem pois estão na plena possa das suas faculdades e ainda bem que assim é.
O pior é quando o seu querer tem consequências. E não reconhecem como consequências mas, sim, como uma contingência de algo que não percebem ou não querem perceber: é que há dez ou vinte ou trinta anos faziam coisas cujas consequências eram nulas ou negligenciáveis mas, nos noventas, a fragilidade do corpo, já prega partidas.
Enfim. É o que é.
E, portanto, o dia foi daqueles com longas horas, preocupações, canseiras.
Agora parece que a coisa estará mais controlada. Mas, até que tudo passe, não fico tranquila.
Tenho a sorte de viver muitos anos com os meus pais vivos.
Mas assisti ao declínio do meu pai e ele também assistiu e sofreu muito por isso. Desde que teve o último e grave AVC ficou altamente debilitado, estando acamado nos últimos anos. Quando ele morreu, obviamente custou-me muito mas, racionalmente, compreendi que tinha chegado a hora dele, a hora de parar de sofrer, a hora de descansar, de chegar ao fim do seu caminho.
A minha mãe, felizmente está ainda bem, apesar das suas doenças e condicionantes. Mas está também a assistir às crescentes limitações que o seu corpo demonstra. E não está a aceitá-las bem. Receia muito essas limitações, desgosta-se muito, não aceita nem compreende, assusta-se. E, portanto, embora por razões diferentes do que aconteceu com o meu pai, com a minha mãe também não está ser fácil.
É lugar comum dizer que não se escolhe.
Os jornalistas, quando entrevistam pessoas com alguma idade, têm o péssimo gosto de acabar as entrevistas com perguntas sobre a morte: pensa muito na morte? como gostaria de morrer?
Se me perguntassem parvoíces dessas mandá-los-ia à fava. Mas, por dentro, ficaria a pensar. Obviamente gostaria que fosse o mais tarde possível mas que acontecesse quando eu deixasse de gostar de estar viva e que fosse rápido, indolor e, de preferência, sem me aperceber que estava para acontecer.
Mas, pronto, isto não é conversa que se tenha. A questão é que estou cansada, um pouco esgotada.
Contudo, não me esqueci do que ontem disse, que ia mostrar os livros que trouxe da Gulbenkian. Contudo, vendo bem as coisas só um é que talvez possa ser cabalmente considerado como livro. Mas eu, que não sou purista, considero-os.
Acordei de madrugada com a chuva e depois custei a readormecer. Mas, apesar de alguma dificuldade, lá consegui.
Quando acordei de manhã já não chovia.
Começámos o dia ao ar livre. A caminhada foi boa. Cheirinho a terra molhada, chão fofo pela caruma amolecida. O cão doido com os cheiros, a parar de centímetro a centímetro.
Depois de anos esforçados, agora temos sempre a vontade de ficar a borregar em casa, sossegados.
Mas a minha filha perguntou no outro dia se não estamos a ficar mongas e essa pergunta deixou-me a pensar. Contei ao meu marido. Ficou arreliado. Não gosta de ser confrontado com umas certas verdades. O meu filho também está sempre a perguntar quando é que saímos, também acha que não devemos enclausurar-nos.
E, portanto, de certa forma sensibilizados com as censuras e apelos deles, resolvemos dar-lhes ouvidos e deixar de ficar aqui a ronronar no conforto e quentinho do ninho.
Tendo a minha filha alertado para que esta segunda feira já seria o último dia da exposição Histórias de uma Colecçãona Fundação Gulbenkian, resolvemos inverter a ordem dos factores a alguns compromissos familiares para não deixarmos a visita para a última. E, portanto, este domingo lá fomos.
Soube-me que nem ginjas. E almoçámos por lá e comprei uns livros que são um mimo. Estou mesmo contente com os meus livros. A ver se amanhã mostro. E até comprei, imagine-se, dois ímanes para a parede lateral do frigorífico.
E a exposição é extraordinária. Adorei, adorei, adorei. Muito boa.
E ao fim do dia voltámos a fazer outra caminhada. Uma energia mesmo boa.
Deixo aqui algumas fotografias da exposição. Mas, acreditem, ao vivo é outra coisa e a amostra que aqui deixo não é seguramente a melhor.
Se conseguirem, aproveitem. Vale mesmo a pena.
Para nos acompanhar na visita, Maria João Pires interpreta Clair de Lune, Debussy