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segunda-feira, julho 18, 2022

Um domingo in heaven -- e, de novo, um esquilo avistado.
E, para compor o ramalhete, a Cornelia responde

 


Não tenho muito a dizer. Apesar de cansada só devo ter adormecido por volta das seis. Uma espertina das antigas. A meio da noite lembrei-me: o café. Só posso beber café de manhã senão está o caldo entornado. E, com a animação da churrascada e da cantoria festiva, tinha-me distraído e bebido um belo e encorpado café. Fatal.

Mas depois dormi bem e, a seguir ao almoço, adormeci de novo. E a dor no joelho desapareceu. Já não é a primeira vez que isto me acontece: estou cansada, aparece-me uma dor e, depois de dormir bem, a dor desparece. 

Mal me levantei o meu marido disse-me que tinha visto um esquilo a beber água. Diz que, de longe, não percebeu. Temeu que fosse um gato morto. Depois o esquilinho levantou a cabeça, levantou o rabo, subiu o muro e desapareceu. Diz que era castanho e que o rabo é muito grande.

Ainda andei de cabeça no ar a ver se o descobria mas não. Devem estar escondidos nos esconsos dos pinheiros ou das azinheiras. 

O chão está coberto de pinhas roídas. Em contrapartida, vejo poucas bolotas no chão. Na volta comem-nas.

Não consigo perceber como lá apareceram. Vêm andando, andando, quilómetros e quilómetros, até descobrirem o habitat ideal?  Vieram de onde até chegarem aqui? Gostava de perceber.

Antes de nos virmos embora, fui buscar a banheira onde lavávamos os meninos quando eram pequenos, enchi-a de água e coloquei-a debaixo do telheiro para terem água limpa para beber. A ver se não aquece muito. O meu marido disse para não encher com tanta água se a ideia não fosse os esquilos tomarem banho. Mas receio que se evapore.

Também andei a apanhar mais orégãos. Mas não muitos, há poucos e estava muito calor. Os da semana passada já estão praticamente secos mas como basicamente passei o dia a dormir ainda não os escolhi nem embalei. Para a semana trato disso.

Há muitas lagartixas, muitas mesmo. E borboletas. E abelhas. E cigarras. Adoro estar in heaven. É campo, campo. Em dias assim, só nós dois, descanso e reponho energias que é um regalo.

De ameixas já nem vestígio. As que caíram alguns bichos as devem ter comido e das que resistiram nas árvores os pássaros devem ter-lhes chamado um figo. 

As uvas sofreram com o calor. Os cachos, com bagos ainda minúsculos, estão quase secos. Os calores travaram o crescimento, desidrataram-nos.

A ver como saem os figos. Tomaram que medrem e fiquem doces. Adoro carnalmente os figos. 

Olho à volta e só vejo coisas para fazer. E só espero que faça menos calor para ver se deitamos mão à obra. 

(É deste plural, que é tudo menos majestático, que o meu marido se queixa: vejo coisas para fazer mas, quando é para fazê-las, falo no plural. Ou seja, ele também vai ser chamado a fazê-las. Tem que ser. A casinha que foi pintada de verde a pensar que era no tom das árvores afinal tem um verde garrafa que fica ali mais chamativa do que devia. Pensei em pintá-la de verde muito escuro ou mesmo de preto e, depois, pintar-lhe, por cima desse fundo, umas flores em verde mais claro. O banco de pedra que tem na parede que dá para o caminho também merece alguma reflexão. Quiçá no mesmo tom escuro mas com florzinhas como se estivessem a nascer do chão. O murinho baixo também precisa de ser pintado de branco. E lá em baixo nem se fala, montes de coisas a precisarem de repintura. E isto já para não falar em varrer os caminhos. Geralmente varro os cá de cima, mais próximos da casa e os lá de baixo, coitados, ficam entregues a si próprios. Também acho que deveríamos levantar muito mais as copas dos pinheiros. Levantámo-los até onde conseguimos alcançar mas acho que devemos ver se encontramos daqueles brasileiros que trepam às árvores e cortam os ramos lá em cima. Falo de brasileiros pois, sempre que ouço falar disto, só ouço falar 'nuns brasileiros que sobrem até ao cimo das árvores'. Claro que o meu marido nem quer ouvir falar em nada disto pois o grande anseio dele é ter uns dias ou um período em que não tenha nada que fazer. Contudo, acho que não vai ter sorte.)

Dentro de casa, quando chegámos, estava um calor absurdo, de sauna, desconfortável. Felizmente o ar condicionado resolve o problema em dois tempos. Anos de frio e calor absurdos porque me parecia que os aparelhos iam desfear a casa. Afinal nem damos por eles. Há coisas que comprovam a minha burrice e esta é uma delas. 

Talvez devesse dizer: uma de muitas. Assim de repente poderia referir outra: antes de começar a escrever isto, estive a despachar assuntos. Poderia deixá-los para daqui por uns dias, talvez até mesmo para esta segunda-feira de manhã. Mas começo a pensar que sou viciada. Apareceu-me há pouco um mail daqueles que me irritam: microsoft viva. Ninguém pediu nada mas eles aparecem a resumir-me a semana e a aconselhar-me. Dizem que devia intervalar mais e não trabalhar nas horas de descanso. Metediços, abelhudos, os tipos da microsoft. Só me apetece mandá-los bugiar mas, ainda assim, não mando. Tenho a secreta e inconfessável esperança que um dia me dê para lhes prestar atenção. 


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E agora, para algo completamente diferente e com uma certa graça:

Ask the Artist | Questions for Cornelia Parker | Tate

Cornelia Parker is one of Britain's best loved and most acclaimed contemporary artists. Always driven by curiosity, she reconfigures domestic objects to question our relationship with the world. Using transformation, playfulness and storytelling, she engages with important issues of our time, be it violence, ecology or human rights.


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Fotos feitas in heaven.
Mademoiselle por Sébastien Tellier com Charlotte Casiraghi (e com um touch Chanel)

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Desejo-vos um boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Bom descanso. Dias felizes. Paz.

domingo, fevereiro 07, 2021

Talvez um buraco habitado pelo vazio

 



Estes dias são muito absurdos. Vivo num lugar que até é agradável mas, estando confinada, tanto poderia estar aqui como noutro lugar qualquer. Quando, no confinamento do ano passado, nos mudámos para o campo também estávamos ali como se o mundo fosse apenas  aquele lugar. Agora também. Saímos para fazer uma caminhada aqui à volta e, de momento, este é o nosso mundo.

Tem estado, por aqui, muito frio, vento, húmido, chuviscoso. Desagradável. Saí para dar uma volta pelo jardim por volta das seis e, pouco depois, tive que reentrar, o frio estava mau, triste, escuro. 

Aos sábados gosto de dormir até mais tarde para pôr o sono em dia. Mas tinha-me esquecido de desligar o despertador pelo que acordei cedo e já não consegui voltar a adormecer. De tarde, reclinei-me no sofá, pensando repor a situação. Contudo, estava a começar o Samba no canal Hollywood, filme que em seu tempo tinha visto no escurinho de uma sala de cinema, e não quis deixar de rever. Por isso, não dormi de tarde a agora ainda estou com sono.

E mais? Que dizer mais? Nem sei bem.

Talvez que os dois aquários da família já fizeram anos e festejámos -- que é como quem diz -- através de videoconferências. Em qualquer das vezes foi aquela complicação do costume para a minha mãe se pôr a bordo. Cantámos os parabéns em coro, a várias vozes, em total desafinação. Por estes tempos, os presentes chegam por correio e os beijinhos são dados por palavras. No outro dia, dizia a um menino pequenino que nos desse uma fatia de bolo. Disse que não podia ser. Dissemos que estendesse a mão que nós agarrávamos o bolo. Ele assim fez com a sua mãozinha. Encolheu os ombros e disse: é um bolo invisível. E o meu coração derreteu-se em ternura. Estão todos mais crescidos. Há muito tempo que não os abraço à vontade. Ultimamente abraçava-os pelas costas, beijava-os na nuca. Será que ainda vão aceitar que eu os puxe para o meu colo e os abrace e os encha de carinhos? Não sei. Se calhar ficam com receio que os contagie. Este vírus é diabólico, sequelas all over mesmo em quem não é directamente infectado.

No outro dia, fartos desta monotonia, resolvemos ligar para um dos restaurantes onde íamos, às vezes, jantar. Não faz entregas aqui, apenas ali perto. É o filho que vai entregar. Resolvemos ir nós lá. Fiquei no carro. Contou o meu marido que o restaurante, antes cheio que nem um ovo, estava (obviamente) vazio. A mulher na cozinha, como sempre esteve, mas sem ajudantes, só ela. Ele cá fora na sala a atender os pedidos (por telefone). E o filho a ver se tinha que ir fazer entregas. Diz o meu marido que estavam de máscara, o senhor com um cabelo muito grande. Não se deve ajeitar a cortar em casa. Nesse dia, uma vez chegados a casa, preparámos um gin, depois refastelámo-nos com um belo jantar que não tive que confeccionar e, no fim, para acompanhar a bela sobremesa que também veio de lá, bebemos uma bela ginja de Óbidos. Ao ver a garrafa, lembrei-me que a comprámos lá, num passeio que lá demos entre o Natal e o Ano Novo de 2019. Passeámos com vagar, subimos e descemos as ruínhas, entrei nas livrarias. Parece que foi há uma eternidade. 

Era, para nós, muito natural passearmos. Agora, mesmo que, dentro de algum tempo seja levantado o confinamento, já teremos adquirido outros hábitos. Já não iremos com a mesma naturalidade a restaurantes, quereremos verificar se estão arejados, se há distanciamento, estaremos atentos às máscaras, teremos receio que alguém tenha tossido e deixado gotículas no lugar ou nas coisas em que vamos mexer. 

Estranho, tudo isto.

Enfim.

No meu jardim reina o silêncio. Mal se ouve algum pássaro. De vez em quando, algum lá bem no alto, muitas vezes ao longe. De todos aqueles que tanto cantavam agora nem um pio. Não sei onde andam. Estarão transidos de frio, sem vontade de alegrias?

Há ainda laranjas nas laranjeiras e são muito, muito doces. E tangerinas. Mas estas caem muito. O jasmim está a ficar florido. Não consigo deixar de lá mergulhar o rosto para aspirar o perfume que é intenso demais para o meu gosto. Ainda assim cheiro. Quero perceber se o perfume vai evoluir.

Uma outra trepadeira, uma que deixou a anterior proprietária espantada pelo que cresceu, está agora a florir, uma flor com uma cor inesperada, muito bonita.

Também fiquei admirada com outra coisa. Ainda não compreendi a dinâmica dos meus novos vizinhos. Dá ideia que é uma comuna de rapaziada. Não consigo descortinar a lógica do grupo. O meu filho diz que deve ser malta que está a formar uma empresa. Espanto-me: iriam alugar uma moradia destas...? O meu marido, para quem nada disto interessa e que goza com a minha curiosidade, para apimentar o mistério fala de outras hipóteses, qualquer delas improvável e estapafúrdia. Mas, dizia eu, estava a sair da sala para um passeio pelo meu jardim, dou de caras com um dos jovens, saindo também da sua, de boné. Devia ir pôr comida nos cães, digo eu. Não sei se anda em casa de boné. Pelos vistos, anda. Sol não há na rua e, em casa, muito menos. Mas, então, ao dar de caras comigo, sorriu abertamente, fez-me adeus com a mão, e disse-me um 'olá, bom dia'. Fiquei muito admirada pois parecem-me sempre muito lá na deles, sempre enfiados em casa, se saem para o alpendre é para estarem na conversa uns com os outros, totalmente alheados em relação à casa do lado. Juraria que nunca antes me tinha visto. E, no entanto, cumprimentou-me com um ar surpreendentemente amistoso.

E eu estar a relatar isto revela bem a falta de assunto que envolve estes meus dias. Nada mais há a relatar. Li, vi televisão, fiz o almoço, fiz um jantar ligeiro, fiz alguns pagamentos, tratei de algumas coisas que, durante a semana, ficam por fazer, fiz os meus telefonemas. O dia correu devagar. Nem é o ser devagar. É a sensação de inutilidade. Parece que estou num buraco inespacial, intemporal. Antes, os meus dias estavam preenchidos de mil coisas para fazer, ia aqui, ia ali, alguém vinha cá, não tinha tempo para mim nem para descansar. Tantas vezes me queixei: gostava de ter um bocado só para mim. Agora é o oposto. O oposto mais oposto que é possível.

Várias vezes ao longo destes dias também me apetece ir passear. Meter-me no carro e ir por aí. Descobrir lugares, olhar pela janela do carro, ter vontade de parar para fotografar, deleitar-me com a beleza que sempre me surpreende. Quando poderei voltar a passear? Íamos passear, íamos descobrir restaurantes, íamos descobrir hotéis. Agora, se formos passear se calhar levamos farnel. Não sei. Parece que não sei pensar nem fazer planos. Parece que acho que não vale a pena fazer planos. E o vazio parece que fica ainda maior.

No outro dia estava a pensar que deveria ter mais uma mesa debaixo do alpendre. O meu marido disse que não, que a mesa que lá está é muito grande, cabemos todos, e ainda temos a mesa desdobrável e mais a outra pequena, redonda, de ferro. Mas eu fiquei a pensar que antes nos encostávamos todos uns aos outros e que, se calhar, nem tão cedo vamos sentir-nos à vontade com essa proximidade. Pelo Natal dividimo-nos por três mesas, distantes umas das outras. Será que, nos próximos tempos, será sempre assim? E sê-lo-á durante tanto tempo que nos esqueçamos que, antes, o normal era estarmos próximos, conversando, rindo, sem receio, descontraídos?

Ao ver o grupo abaixo, um grupo de belas e elegantes mulheres -- todas mulheres Chanel -- conversando em volta de uma grande mesa, todas distantes umas das outras, pensei que vão passar a ser precisas mesas de uma dimensão bem maior do que as anteriores. A vida aos poucos irá distanciar-se do que era, não irá? E todos nos distanciaremos uns dos outros. 

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O charme discreto da Casa Chanel, o charme discreto da burguesia

A roundtable conversation hosted by Caroline de Maigret with ambassadors and friends of the House Penélope Cruz, Marion Cotillard, Charlotte Casiraghi, Vanessa Paradis, Alma Jodorowsky, Lily-Rose Depp, Izïa Higelin, Blesnya Minher and Joana Preiss.Filmed after the CHANEL Spring-Summer 2021 Haute Couture show at the Grand Palais in Paris
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As flores foram fotografadas por Doan Ly

Lá em cima, Trois Gnossiennes por Hans van Manen com Ludmila Pagliero e Hugo Marchand

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Desejo-vos um bom e feliz dia de domingo

domingo, janeiro 31, 2021

Charlotte e os livros

 


No parapeito desta sala há agora um pequeno monte de livros. Esta casa tem isto de que gosto bastante: parapeitos baixos. Claro que tenho que me conter para não fazer de todos eles uma prateleira. Parece que tenho sempre coisas que não sei onde pôr e que ali é que ficavam meio a jeito. Evito. Tento não me esquecer que é suposto aqui respeitar algum minimalismo. Mas aqui teve que ser, não tinha outro lugar onde pudesse pôr os livros que quero ter aqui ao pé de mim. Fui trazendo um, depois outro e agora aqui estão. Um cocktail que não sei se diz muito de mim ou se prova é que reina aqui a confusão. Só não mostro pois podem algumas almas mais sensíveis ficar incomodadas com a visão de livros misturados com décors. Livros são livros são livros e mostrá-los numa estante ou num parapeito pode ofender a sensibilidade das mariazinhas de serviço. Melhor, pois, ser prudente pois, nisto, nunca se sabe. E, depois, há quem pense que os livros são tudo e outros, armados em pretensos cínicos, dizem que são é coisa nenhuma. Claro que o tema é controverso e uns são a favor e outros, em especial os que mais valia que usassem aparelho nos dentes ou botinhas ortopédicas, são do contra. 

Disclaimer despachado, passo aos factos.

Ao fim de semana, à tardinha, gosto de me reclinar neste sofá e, antes, ir ali ao parapeito escolher um livro. Quando chego a casa, se o estore estiver levantado, vejo a pilha de livros. Gosto de ver. Do lado de fora as flores e, do lado de dentro, livros e a cortina que pouco mais deixa ver.

Agora, aqui a meu lado, Manguel fala de Borges. Gosta de falar dele. E percebe-se. Quando alguém nos impressiona, a gente gosta de recordar o que conversou com essa pessoa. 

Hoje de manhã, um amigo ligou-me. Só para saber se estou bem, então, que é feito?, essas coisas. Falou-me dele, do filho, de amigos comuns. Depois relembrou uma coisa que um amigo comum, pessoa invulgar e verdadeiramente superior, uma vez tinha dito. Também me recordo muito das conversas que tive com esse ser tão especial. Foi com ele que aprendi que havia uma coisa chamada bird watching. Lembro-me bem do meu espanto quando o sabia a ir em expedição. Conhecia o país por dentro. Serras, beira de rios, orla marítima, dunas, falésias. Era em estado de felicidade que falava nisso e nas espécies que pensava ir encontrar. Na altura, sobrepunha-se em mim o espírito utilitário, desconhecia o prazer da contemplação.

Para fotografar?
Poderia ser mas no meu caso não, só para ver.
Nem desenhar?
Não, só para ver.
Não percebo. Vai a um sítio só para olhar?
Sim, isso, só para olhar.
E depois regressa, sem mais nada?
Sem mais nada, não. Já vi os pássaros.
Deve ser chato...
Não, nada.
Ai... não percebo.
Experimente.

Neto de uma das pessoas relevantes da nossa cultura, herdeiro de várias obras, herdeiro, por exemplo, de uma das casas icónicas desse avô. Casado com uma brilhante pianista, pai de muitos filhos, todos virados para as artes, ele era uma pessoa verdadeiramente especial. Havia quem o achasse um bocado etéreo. Talvez fosse mas só às vezes. Tinha um lado muito pragmático. Era, sobretudo, uma pessoa de cultura e uma pessoa de bem.

Quando o mundo anda infectado com pessoas más, de má índole, pessoas cruéis, maldosas, é com alguma saudade e alegria que penso em todas as pessoas extraordinárias e com bom coração que tenho conhecido. Esta pessoa de quem hoje falámos era dessas pessoas. De uma enorme delicadeza, de uma enorme humildade. Conversávamos e eu ouvia-o, encantada. Este outro que me ligou também é um pouco assim. Telefona-me sempre no dia dos meus anos. A mim que nunca consegui fixar o dia dos seus anos. Liga-me pelo Natal. E liga-me quando quer saber de mim. E eu, que fico sempre contente quando ele me liga, nunca me lembro de ser eu a tomar a iniciativa. Outras vezes para me dar más notícias, mas isso eu sei logo pela sua voz, quando me diz o primeiro olá. Conhecemo-nos há nem sei quantos anos e sempre foi uma amizade sem mácula. Há pessoas que atravessam a vida deixando boas recordações, partilhando a elegância de uma irrepreensível maneira de ser. 

Queixava-se hoje que, vivendo agora essencialmente no campo, com estas restrições nem consegue ir ver exposições na cidade mais próxima, ir à livraria de cujo livreiro já se tornou amigo ou ao atelier de um amigo que vive noutra cidade. Nem pode vir a Lisboa, cidade da qual se sente cada vez mais distante mas onde tem casa que lhe serve de base quando vem a concertos ou a conferências. O filho também procurou uma vida que nada tem a ver com a formação de base e vive agora entre França e uma outra pequena cidade do país profundo, não muito longe dele. 

Hoje contou-me que um dos seus infinitos sobrinhos vive agora não muito longe de mim, depois de ter vivido vários anos fora. Tinha ido para lá renegando o país, achando que lá fora é que era bom. Afinal, estando lá, desiludiu-se, sentiu falta dos amigos, da família, do seu país. Gostei de ouvir. 

Custa-me muito saber quando alguém sai do nosso país e se porta como um deslumbrado, como uma saloio, renegando o seu próprio país. Custa-me sobretudo que falem mal do seu país usando a língua portuguesa. Acho isso de uma cobardia e desrespeito vergonhosos. Gente assim não merece perdão. Em contrapartida, fico feliz quando alguém conhece a vida noutros países e regressa, com saudades, feliz por vir viver entre os seus. Trabalha comigo um jovem assim. Conheci-o ainda vivendo lá. Namora uma jovem de lá. Custou-lhe deixá-la lá mas não conseguiu deixar de vir. Gosto muito quando ele fala de lá e de como não se arrepende de ter regressado. Sem lhe confessar, sinto-me agradecida, quase emocionada.

Bem. 

Quanto ao dia de hoje, nada a reportar. Continuo a apanhar as camélias que caem, pondo-as nos vasos ou, as mais amarelecidas, na caleira da própria cameleira. Estava entretida nisto, passou um casal, a caminhar, desejando-me uma sorridente boa tarde. De manhã, quando andávamos a caminhar, do jardim de uma casa veio um sonoro bom dia infantil. Era uma sorridente menina com longos cabelos espalhados pelos ombros que nos fazia adeus. Estava sentada perto da entrada da casa, a brincar com uma boneca. Perto dela, o pai arranjava um arbusto. Sorriu-nos e disse também bom dia.

E pouco mais aconteceu digno de registo, pelo menos que me lembre. Cirando por aqui, cozinho, lavo e estendo roupa, trato da casa, falo ao telefone, fotografo, ando por aqui neste desconcertante fare niente.


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Antes de me ir, partilho convosco o que diz Charlotte da sua relação com os livros. Fez-se uma mulher muito bonita. Não é de estranhar: quer do lado da mãe, quer do pai só poderia ter herdado beleza. E, para além de bonita, parece muito simpática, tem um ar doce, por vezes um pouco sonhador. Sorri enquanto fala. Mas a voz grave e o maxilar bem desenhado deixam prever uma personalidade forte. Lindamente vestida, Charlotte não é apenas a bela nova embaixadora Chanel, é também alguém que gosta de livros e, por isso, é com todo o gosto que lhe passo a palavra:

In the library of Charlotte Casiraghi — CHANEL


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Desejo-vos um belo dia de domingo

quinta-feira, abril 03, 2014

Carolina de Mónaco vai ao Baile da Rosa de ténis debaixo do vestido de noite. E de bengala. Se fosse a mana Stéphanie a aparecer assim, a gente não estranhava. Agora a Carolina...? //// E, fazendo a agulha para um outro mundo, ofereço-vos um 'amuse-bouche': Rui Chafes no CAM (Gulbenkian)


No post abaixo já mostrei o vídeo que está nas bocas do mundo: o que foi projectado no tempo de antena do PS para o Dia das Mentiras, demostrando factualmente o patranheiro que tem vindo a revelar-se o barítono frustrado Passos-Láparo.

Ou seja, para constatarem as mentiras e outros embustes do gang que nos desgoverna, queiram, por favor, descer até ao post seguinte.

Mas aqui, agora, a conversa é outra. Façam o favor de se aperaltarem que vamos entrar na Sala das Estrelas. A preceito, se faz favor.





Todos os anos se repete o glamour. A família real monegasca recebe os convidados para o Baile da Rosa, um baile de caridade. Pagam 800 euros pelo ingresso, verba destinada à Princess Grace Foundation.

No entanto, a bem dizer, ninguém pensa muito no assunto da caridade. O baile é o momento por execelência para se ver em que param as modas - a todos os níveis. Os olhos convergem sobre as princesas, as câmaras estão a postos, os editores das revistas do coração aguardam o grande momento.. Estarão elas sorridentes ou, sabidos os choques de personalidades, revelarão mal estar, frieza ? O que vão vestir? Stéphanie vai ou zangou-se de vez com a mana? Vai algum dos namorados? A bela (e sonsa) Charlene vai arrastar-se com ar distante ou vai dar um ar de sua graça?

Pois bem. No passado dia 29 de Março decorreu mais uma edição do badalado Baile da Rosa e é disso que eu hoje, qual Pipoca mais Doce, aqui vou falar.

A elegância foi a de sempre. No entanto, Stéphanie desta vez não compareceu. O afastamento é cada vez mais um dado oficial. Andrea também não foi.

Charlotte, a bela, estava linda embora o vestido não mostrasse a sua elegância.

Talvez não seja como a Carolina Patrocínio que, ao fim de seis dias, já não tem rasto de gravidez e se apresenta com cintura estreita e barriga lisa. 

Talvez a bela Charlotte ainda tenha um pouco de barriguinha e tenha tentado disfarçar com o vestido solto.


Mas a beleza é muita, exuberante: herdou os traços perfeitos da mãe e também do pai.

O vestido, em cinza-gelo, era Chanel Couture.

Beatrice e Pierre
Esteve divertida e fartou-se de dançar ao som de Mika.

Quem surpreendeu foi Charlene. Depois de ter sido fotografada há pouco tempo toda dengosa com um outro, eis que no Baile se apresentou sorridente, vestida com um requintado Akris azul-escuro com detalhes pretos, encostada ao mulherengo Alberto, e, num dado momento, até lhe passou o braço à volta do pescoço.

Pierre lá estava com a sua bela Beatrice Borromeo, elegante, suave como um pêssego reluzente, vestida com Armani Privé, uma verdadeira princesa.


De resto, a surpresa da noite foi mesmo  Carolina de Mónaco. Debaixo do vestido Chanel estava de ténis. Claro que os ténis não eram uns ténis quaisquer: eram Karl (Lagerfeld) mas, valham-me todos os santinhos, eram uns ténis! E avançava lentamente e de bengala!


Se fosse a Lady Gaga isto podia fazer parte do modelo. Mas não.

A questão era afinal mais comezinha. Carolina é humana, apenas isso. Tinha sido operada a um joelho e, portanto, não podia usar sapatos apertados ou altos. 


Sei bem o que isso é. Durante um mês ou dois andei de havaianas ou outras chinelinhas, sandálias, sabrinas e por aí. Toda a gente olhava para mim com um sorriso indulgente. Eu, sempre de saltos, naqueles preparos. Calhou no verão, menos mal. Ainda agora, ao fim de semana, uso maioritariamente ténis ou outros sapatos confortáveis. Foi um hábito bom que veio com a operação.

É, pois, de louvar a descontração e o estoicismo de Carolina. Provavelmente estava com o joelho inchado, provavelmente estava a custar-lhe imenso estar de pé e, ainda assim, ali esteve, a sorrir e a deixar-se fotografar.

Não é nada de mais, é certo. Pelo mundo fora, milhões de mulheres têm dores e fome e mantêm-se de pé para tentarem manter-se vivas. Mas não é isso.

A questão é que Carolina foi 'vendida' desde que nasceu como o bebé perfeito, a menina perfeita, a noiva perfeita, a mulher perfeita, a mãe perfeita, a filha perfeita, a órfã perfeita, a viúva perfeita, e, com esta imagem, mostra bem que, mais do que perfeita, ela é humana. 

É certo que desde há uns anos a imagem das princesas tem sido dessacralizada, já não é possível manter aquela etérea imagem sempre tão deificada pela imprensa cor de rosa. Mas, ainda assim, pelo inesperado da imagem, pode dizer-se que, apesar de não ser pelos melhores motivos, Carolina continuou a congregar as maiores atenções.


***

A música é Grace Kelly interpretada por Mika a quem coube animar a noite no Baile da Rosa 2014.


*

Pernas suspensas com botas
Rui Chafes no CAM
Pois é. 

Era hoje que eu ia falar de Rui Chafes, João Tabarra, Pieter Hugo na Gulbenkian.


Até um Leitor me enviou fotografias da exposição do escultor no CAM e uma entrevista de Rui Chafes ao Público na qual ele diz que não sabe o que faz (- mas as fotografias que aqui tenho são minhas). 

Mas, uma vez mais, ponho-me a escrever sobre faits divers e o tempo passa e eu começo a bocejar e ando cansada e como não curo as constipações e está frio ou os miúdos pegam-me ou é de trabalhar num sítio sem janelas ou sei lá o que é, estou um bocado mal da garganta, a modos que a sentir-me, outra vez, meio constipada, e tenho mil reuniões, pegam-se umas às outras, e saio tarde, chego a casa às horas a que meio mundo já acabou de jantar e está na sala a descansar, e não consigo tempo para responder a mails ou comentários, não sei para que lado me virar, e esta semana até já tive uma festa de anos, e já fui fazer parte do turno da tarde a fazer baby sitting a um dos miúdos que estava doente, e nada disso é coisa demais mas o certo é que tudo junto faz com que chegue a esta hora e já não consiga dar uma para a caixa. Se calhar, se o tempo estivesse bom, talvez eu conseguisse escrever aqui até às duas da manhã fresca e inspirada mas, assim, o facto é que não consigo.

Uma bola sentada ao lado da minha filha
A bola é da autoria de Rui Chafes
A minha filha é de minha co-autoria
Eu queria dizer-vos hoje que as peças de Rui Chafes não são nada em concreto mas que eu gosto delas e os miúdos adoraram, andavam de volta, riam, chamavam a atenção uns aos outros e eu também gostei, deve ser o meu lado infantil. Gosto de coisas que não são nada ou que aparecem em lugares inesperados porque, se reproduzirem coisas a sério e em situações previsíveis, mais vale ver os originais e, por isso, gosto de ver coisas que não existem em mais lado nenhum, só na cabeça doida dos artistas.

Mas talvez fale disso amanhã. Se conseguir. Se não me puser a falar de outras coisas antes.

Agora tenho que me ir deitar. Estou cheia de sono e amanhã tenho a agenda preenchida de manhã até ao fim do dia, entre reuniões e conference calls, vai seu uma estopada das valentes; e nem sei se vou conseguir almoçar.



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Recordo: o vídeo do PS passado na televisão no Dia das Mentiras e onde se pode ver o mais trapaceiro dos trapaceiros, o mais perigoso dos perigosos, é já a seguir.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira.


domingo, fevereiro 02, 2014

Fotografias do casamento religioso de Andrea Casiraghi e Tatiana Santo Domingo. Foi um momento romântico em Gstaad, Suiça: nevava e a igreja era pura magia, entre centenas de velas e rosas brancas. Tão notada foi a elegância dos convidados como a ausência de outros.


Aquela família tem glamour. Façam o que fizeram há neles qualquer coisa que atrai as atenções. Talvez seja porque ali há de tudo: beleza, elegância, glamour, tragédias, irreverência, traições, paixão.

É certo que as famílias reais já não são a mesma coisa, é tudo muito diferente dos contos de princesas na nossa infância e é também um facto que o Mónaco não é propriamente um reino que meta medo a alguém, até o Eurodisney lhe fica a ganhar. Parece tudo a brincar, desde o tamanho do território, à sua bela localização, à vida plena de aventuras de todos os seus membros.

Andrea Casiraghi e Tatiana Santo Domingo já em Agosto se tinham casado, conforme na altura aqui comentei. Tinha sido uma cerimónia hippie chic, tão ao gosto da noiva, muita animação e pouco formalismo e tinha sido um casamento civil.



Pois bem, se na altura era verão e tudo se passou em ambiente encalorado, agora que o casamento foi religioso, escolheram o frio a sério.

As fotografias, pintalgadas pela neve, quase remetem para aquele ambiente mágico dos filmes de príncipes e princesas, castelos de altas ameias e fadas madrinhas.

O acontecimento teve lugar na igreja de Saint-Nicolas, em Rougemont, Gstaad, na Suiça, um frio de rachar, roupas a condizer - mas sempre aquela fantástica elegância que sempre caracteriza estes encontros de beautiful people.


Tatiana desta vez vestiu Valentino (que também foi convidado) e, em vez do cabelo solto que tinha no casamento civil, agora tinha-o caprichadamente apanhado e usava uma bela tiara de diamantes.


Andrea, o noivo, um dos homens mais belos da realeza de todos os tempos segundo a  BeautifulPeople.com, estava como é: lindo. As suas feições perfeitas sobressaíam naquele cenário irreal. Um verdadeiro príncipe, um principezinho. (Nesta fotografia até quase parece aquele etéreo efebo de A Morte em Veneza)


Carolina, elegante como sempre, lá compareceu em mais um evento dos seus irreverentes filhos.  Na fotografia aqui ao lado parece estar de robe de chambre mas admito que, ao vivo, a coisa fosse diferente e que, por baixo, tivesse um vestido de arrasar.


Não há muito tempo foi avó pela segunda vez, desta vez do filho da sua bela filha Charlotte. 


Aos 27 anos, Charlotte Casiraghi, solteira, foi mãe de Raphäel, fruto da sua relação com o actor e humorista francês Gad Elmaleh, de 42 anos.


Ao casamento religioso do irmão, Charlotte compareceu sozinha. O pai da criança não compareceu, parece que tinha que fazer. Quem também não compareceu foi a tia do noivo, a desenfiada Stephanie. Nem ela nem as filhas. As relações entre ela e a mana Carolina não estão grande coisa, pelo que li.

Outra que também não apareceu foi a aparentemente sempre triste Princesa Charlene. Dizem que teve compromissos oficiais. Nada de estranho dado que as relações entre ela e o ex-solteirão Albert parece que estão frias desde o dia do casamento.

De resto, nevava, os convidados tinham que se abrigar - e a igreja, ao que dizem, estava linda, toda decorada com rosas brancas e iluminada por centenas de velas.

Aqui à esquerda parece-me ser a bela e elegante Beatrice Borromeo, a namorada de Pierre Casiraghi, o mais novo dos três filhos de Carolina e Stefano Casiraghi. O vestido é uma maravilha e combina lindamente com o agasalho.



Esta beldade aqui à direita não sei quem é mas gosto do conjunto, desde o penteado, ao vestido e ao casaquinho.


Bem que me estava a apetecer ter agora algum casamento deste género para poder vestir um modelito assim, à maneira.

E, tirando todo este glamour e rêverie, o que digo é que tomara que este casamento dê certo e que sejam muito felizes - e desejo isto a este casal como desejo a todos. 

É bom as pessoas sentirem-se amadas e terem vidas longas e felizes, sem dramalhões, tragédias, tristezas, coisas que toldem a alegria de viver. 

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[Sou assim, nada a fazer: pelo-me por uma bela história de amor e por uma festa de casamento com toilettes elegantes. Dá-me logo para o romantismo. 

Foi pena foi não ter estado mesmo lá mas, enfim, vejo as fotografias e imagino o resto.]