In heaven a minha cozinha é espaçosa, luminosa. Tem uma janela larga que dá para a grande figueira e para o horizonte onde o sol se põe e tem, noutra parede, um rasgo de luz. Os móveis são baixos, não há armários na parede.
Ao meio, há uma mesa onde habitualmente tomamos as nossas refeições. A cozinha é um lugar onde se está bem, onde apetece estar.
Por cima do fogão há uma chaminé. Quando cozinho, o perfume da comida vai lá para fora pela chaminé.
Li esta semana no Expresso uma entrevista em que se dizia que Portugal deveria apostar no que tem de característico como, por exemplo, a cerâmica e as peças em cortiça, reinventando-as com design. Concordo.
Eu, aqui na cozinha, tenho várias peças de cerâmica, pratos sobretudo e, de facto, eu gosto muito de coisas que são nossas, portuguesas, produção nacional. Vou mostrar-vos um pouco. Entrem, por favor. Tenho todo o gosto em receber-vos em minha casa. Esta é uma casa de campo - por isso, não levem a mal que vos traga para a cozinha.
Na parede, à volta do rasgo de luz, pratos comprados em Sagres |
O candeeiro que aqui se vê resulta de um pé das Louças de Sant'Ana, muito antigo, herdado, no qual coloquei um abat-jour banal. Como sou amante de poesia, em cada uma das faces do abat-jour resolvi escrever um poema.
Soneto de Amor de Jorge de Sena no abat-jour (Na minha casa, felizmente, ninguém me impede de fazer o que me apetece) |
Nas paredes coexistem peças tradicionais e peças de artesanato urbano.
Bordallo Pinheiro das Caldas da Rainha e Cerâmica Popular |
Este pesado e grande prato é dos meus preferidos. Ofereceu-mo a minha mãe há alguns anos. É do Fortuna, Artes e Ofícios em Azeitão |
Hoje, ao ler um comentário da Luísa ao meu post da poesia e fotografias do Sebastião Salgado, no qual ela falava da sua ementa de almoço, ocorreu-me falar da minha cozinha e do que eu aqui gosto de cozinhar. E, assim, não querendo rivalizar com as especialidades que ela confeccionou, vou dar-vos conta do que hoje fiz para o almoço dominical.
Gosto de cozinhar mas não tenho paciência para seguir receitas, nem para coisas muito complicadas. Na cozinha, como em tudo o resto na minha vida, guio-me pela intuição. Ao contrário do meu filho - que, esse sim, tem veia de chef, faz coisas elaboradíssimas e é capaz de fazer the extra mile à procura de um ingrediente - eu deito mão ao que tenho por perto e, na hora, invento uma forma de conjugar as coisas.
Hoje fiz frango do campo do forno. Como tenho ainda alguns marmelos no marmeleiro e como tenho alecrim e louro, foi essencialmente com isso que aromatizei o frango.
Fiz assim:
Liguei o forno e aqueci-o a 250º. Entretanto, parti o frango, que era bastante grande, em duas metades. Num tabuleiro de louça, fiz uma cama de cebola cortada em pedaços, louro, salsa, alho, marmelos descascados cortados aos pedaços. Deitei por cima as metades de frango com a pele para cima. Salpiquei com pimentão doce, um pouco de sal, e reguei com azeite. Cobri com uns pequenos ramos de alecrim. Meti no forno. Ao fim de uns 3 ou 4 minutos, reduzi para 220º, mais uns 3 ou 4 minutos e passou para 200º e ao fim de outros 3 ou 4 baixei para 170º e assim ficou por um bom bocado, até ficar tenrinho, cheiroso, saboroso, e com a pele estaladiça, crocante e perfumada pelo alecrim .
Entretanto, num tacho, refoguei cebola em azeite e depois juntei os miúdos do frango e um pouco de água. Ficou a cozinhar durante um bocado. Quando a carne estava cozinhada, juntei água e um pouco de sal e deixei ferver. Nessa altura, juntei arroz agulha (basmati) e deixei que levantasse fervura. Depois baixei o lume. Quando estava quase sem caldo, juntei pequenos cubinhos de marmelo. Quando estava sem caldo, desliguei o lume e juntei um pouco de vinagre balsâmico. Poderia ter levado um pouco ao forno para o secar mas não levei, e estava bom.
A refeição foi, pois, o frango no forno com arroz de miúdos e salada de tomate. Modéstia à parte: bem bom. E um cheirinho a sair pela chaminé que não vos digo nada.
Acompanhámos com um Tinto de Azeitão.
Claro que nisto nunca uso balança, é tudo a olho.
Já agora mostro-vos a minha balança, linda, linda, uma coisa que está na família há bem mais de um século e que nunca me lembro de usar.
Balança de Pratos, uma peça especial para nós. |
Boa semana, meus Caros.
Que consigamos ir dando valor aos pequenos prazeres desta vida, é o que eu desejo.
Enjoy!
Que consigamos ir dando valor aos pequenos prazeres desta vida, é o que eu desejo.
Enjoy!
(PS: Como digestivo não será o mais aconselhável mas, se quiserem ler sobre as diabruras do menino Pedrocas no Paraguai, desçam um pouco mais; e se, a seguir, quiserem ouvir a Callas, desçam um pouco mais)