Mostrar mensagens com a etiqueta Alexi Lubomirski. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Alexi Lubomirski. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, abril 01, 2014

O que é o amor? Porque é que uns resultam e outros não? Como pode um casamento durar uma vida e haver amor e felicidade até ao fim? - Não sei. Mas, na minha ignorância, arrisco algumas pistas.


No post a seguir a este já gabei a pinta do novo Primeiro-Ministro francês, Manuel Valls, e tenho cá para mim que é moço para dar que falar. O que eu gostava mesmo é que ele impusesse algum respeito a essa gente ordinária que tem vindo a alastrar pela Europa por não haver quem lhes faça frente. Mas vamos ver. Pinta tem ele. E tem uma mulher também com muita pinta.

Mas isso é mais abaixo.

*

Aqui, agora, vou falar de outra coisa.

Vinha com outra ideia, vinha com vontade de pegar em sugestões deixadas ou enviadas por Leitores mas, enquanto escrevia o post anterior, comecei a ver o Prós e Contras que, esta segunda feira, foi dedicado ao amor.


O inusitado do tema despertou-me a atenção mas, sobretudo, despertou-me a atenção o facto de, ao ter passado pela RTP 1, ter visto uma pessoa conhecida a falar. Enviei logo um sms à minha filha, porque é pessoa que ela também conhece, e depois fui deixando ficar.

O meu marido já se foi deitar e, portanto, agora por aqui não se faz zapping, agora posso estar a ver sossegada sem que ele se enjoe. Se aqui estivesse já estaria a bufar: 'é pá, não tenho paciência para estas conversas de chacha'.

Entretanto, já caíu uma chuvada assustadora. Não tenho ideia de uma coisa assim. Um dilúvio. Uma chuva intensa, pegada, nem sei se terá sido granizo, tal o barulho que fazia. Abri a janela para espreitar mas não consegui perceber pois tive que a fechar logo, tal a brutal queda de água, um barulho, um barulho, uma coisa medonha.

Bom. Volto a Fátima Campos Ferreira.
Ainda este domingo a vi no Centro de Arte Moderna. Gosto mais de a ver menos maquilhada do que carregada de pinturas como está quando a vejo na televisão. 
Mas volto a ela não para falar dela mas do tema que ela trouxe ao programa: o amor, como já acima o referi.

Já aqui ouvi muitas teorias - do camião TIR da paixão, das inseguranças, das vulnerabilidades, etc, - e ouvi um casal recém-casado cheio de conversinhas e ilusãozinhas, e ouvi o casal do Solar dos Presuntos, a Graça e o Evaristo, casados há montes de anos e cada vez mais amigos, e estou a ouvir Daniel Sampaio, sempre sensato, e a bela Beatriz Valério, advogada de divórcios, e a ginecologista Maria do Céu Santo que é uma descontraída, e a Catarina Beato mãe solteira de dois filhos de pais diferentes, e mais a autora do blogue dos Saltos Altos, e mais uns quantos cujo nome ou razão de ser de estarem ali não captei. 

E, já que meio mundo opina, opino também eu. Não hei-de dar tiros mais ao lado do que eles.


Hit the Ground, meus Caros





Sou casada há tanto tempo que acho que devo ser capaz de dizer qualquer coisa. Sou casada há mil anos e ainda não consigo passar sem o meu marido. No entanto, nada de falsas ideias: há momentos em que não o posso nem ver, que, se pudesse depois voltar atrás sem pôr em causa a minha imagem, lhe punha as malas à porta. E, se tenho alguma coisa para dizer, é que nem me passa pela cabeça escolher a melhor forma de o dizer ou o momento mais adequado. Não: é logo, na hora, ao rubro. Estrebucho, grito, choro, ameaço, e tudo o que me vem à cabeça. Sempre assim foi. Sou primária até mais não poder. Mas isso tem uma vantagem: como sai tudo na hora e em dose maciça, também passa logo. Estou a lembrar-me da Graça e do Evaristo que dizem que se chegavam um ao outro na cama e faziam logo as pazes. Eu acho que comigo nem é preciso esse truque. Esqueço-me que estava zangada. E acho que o meu marido também. Ou então já se habituou, já sabe que o vendaval passa logo. E com ele a coisa não é muito diferente. Já nos topamos mutuamente.

Provavelmente há pessoas que, à mínima, fazem um drama. Eu não e ele, felizmente, também não.

Eu acho que isto é como tudo na vida. Não há pessoas a quem tudo corre mal e outras a quem tudo corre bem: o que há é pessoas que dão a volta e seguem viagem e outras que extremam os problemas e estragam tudo.

Como não me casei pela igreja, também não frequentei aqueles cursos de aconselhamento matrimonial. Jamais poderia frequentar tal coisa. Há coisas que não se aprendem e esta de um casamento dar certo é uma delas.

Quando me casei também não transformei o casamento num evento preparado ao milímetro.

Hoje vejo algumas 'noivas' que começam a organizar o casamento com um ano ou mais de antecedência, que contratam um coro para a igreja e karaoke e DJ para o copo de água, um fotógrafo e um ajudante, que encomendam convites, cartões para as mesas, mais lembranças para os convidados, que obrigam os ditos convidados a comprarem as coisas de uma lista ou a darem dinheiro para uma viagem para o outro lado do mundo. Uma tal mise en scène que parece que aquilo é mais uma festa de angariação de fundos preparada ao milímetro do que a união de duas pessoas apaixonadas. Tudo isso me é estranho e tudo isso me parece um festival que tem pouco a ver com o genuíno espírito de um casamento a sério. Acho que essas pessoas que encaram o casamento como uma religião ou como uma etapa mediática são as que vão para um relacionamento cheias de ilusões, de cinefilias, de ficções, idealizando perfeições que não existem na vida real.


Mas depois há as outras.

As que não atinam. As que complicam, as que não toleram nada no outro, as que concebem teorias atrás de teorias. Há homens que acham que as mulheres são assim e  assado, tudo tipificado, e que desenvolvem teorias para fazerem aproximações à pista sem se despistarem, ou que se rodeiam de toda a espécie de seguranças para evitarem ser apanhados. E as mulheres idem: desenvolvem também toda a espécie de tácticas para detectarem intenções menos claras, vícios, taras, indícios de infidelidades futuras.

Tudo errado.

Pelo menos, eu acho.






Sou completamente contra todas as teorias de cão de caça. 

Sabido que é melhor (até para a saúde) que uma pessoa tenha companhia no seu percurso de vida e que, melhor ainda, que essa companhia seja boa, que proporcione um ambiente cúmplice, de afecto, de partilha, e podendo eu ser vista como um exemplo, a verdade é que chego a esta altura do campeonato sem conseguir dissertar muito sobre o assunto.

O que leva uma pessoa a ter um relacionamento bom e duradouro? Não sei. Mas é que não sei mesmo.


Vou arriscar mas admito que só vou dizer burrices. 

  • Diria que, em primeiro lugar, tem que haver atracção física. É fundamental. Tem que ter havido algures, no início pelo menos (mas, desejavelmente, ao longo de todo o relacionamento mesmo que, então, de forma mais fugaz ou ligeira), um coup de foudre. Paixão. Perdição. Loucura e borboletas no estômago, no peito, pelas pernas acima.

  • Depois tem que haver afinidade intelectual e complementaridade a nível comportamental - e reparem bem no que eu disse: se a nível intelectual tem que haver equilíbrio e sintonia, já a nível de comportamentos acho que resulta melhor se não forem iguais mas sim complementares.

  • Depois tem que haver admiração mútua. Seja no que for: ou no trabalho, ou a a cozinhar, ou a pregar prateleiras, ou a ser bom pai ou boa mãe, ou a saber poemas de cor, ou a fazer amor - no que for. O desdém é inimigo do amor.

  • E tolerância - a tolerância é fundamental. Mas tolerância no que não for basilar. Se o eu marido fosse um admirador do Henrique Barroso, do Jorge Jesus ou do Passos Coelho ou se se vestisse com fato com risca de giz ou se usasse um aftershave intenso e insuportável, se usasse a unha do dedo mindinho comprida, se usasse pulseira ou anel, se usasse sapato de berloques, ou outras coisas imperdoáveis do género, então é claro que a tolerância teria que ser zero. Mas em coisas acessórias como fazer zapping quando não deve ou querer ouvir comentários desportivos ou nem reparar se eu vestir um blusa nova toda gira ou se nem reparar que cortei o cabelo ou outras insignificâncias do género, aí eu tolero.

  • E tem que haver humor. Os membros de um casal têm que se fazer mutuamente rir. Fundamental isto. Não conseguiria conceber estar com um chato, mal humorado, uma seca, um embirrante. Imagino que um homem também não suporte uma mulher soturna, mal disposta, ensimesmada, desconfiada.

  • E não pode haver ciúmes. Pelo menos ciúmes por tudo e por nada. Ciúmes doentios é do pior que há. É fundamental pôr o coração ao largo.

  • E tem que ser-se capaz de ter uma conversa de igual para igual. Eu não poderia ser casada com um palerma que não percebesse metade do que eu dissesse, que desse pontapés na gramática a torto e a direito, com quem eu nunca aprendesse nada, com quem eu não tivesse afinidades estéticas, intelectuais, morais, políticas. Pode haver diferença nos interesses, nas posturas, nas opiniões mas não pode haver um afastamento sistemático, divergências insanáveis. (Acho que já falei disto lá mais para cima mas é que isto é mesmo importante)

  • E deve haver uma vontade, motivação mesmo, em partilhar um projecto de vida em comum, vontade de caminhar a dois. 

  • E é capaz de haver mais uma série de coisas mas, às tantas, vai tudo dar ao mesmo.

E a ordem dos factores é capaz de não ser bem esta mas isso também é irrelevante pois a importância das coisas vai mudando ao longo da vida.


****

As fotografias são de Anja Rubik e Sasha Knezevic para a Vogue Alemanha e de Toni Garrn e Clive Owen para  Vogue Espanha - em ambos os casos, o fotógrafo é Alexi Lubomirski.

A música é Hit the Ground de Lizz Wright.


****

Relembro: sobre o malandreco e pintaroludo Manuel Valls que agora é Primeiro-Ministro em França (e que parece que acha que é melhor não se falar em socialismo, vejam bem como ele é), falo no post abaixo.


****

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa terça feira (apesar deste tempo assustador)


*

ETERNIDADES

Foi no teu olhar que encontrei sempre a minha âncora
mesmo quando eras tu a desencadear os vendavais
a minha barca quase se afundava
coberta de ondas, tremia
e depois se alevantava
mais forte mais bela mais segura

e quando fui eu que inventei as tempestades
e fiz tremer o casco dos navios
e nascer a impensável escuridão

de rastos e olhar vadio
atravessei o nevoeiro
perdi a noção do norte e das estrelas
esqueci mesmo o bater do coração à procura do arco íris

e de novo
o TEU OLHAR
a eterna razão que me trazia à tona de água

nadei até ao cais
exausta confusa arrependida
seguindo o único farol que me traz de volta a casa
ilumina o resto do caminho
e continua a dar sentido à minha vida...



[Poema da Leitora 'Era uma Vez', num comentário aqui abaixo]

quarta-feira, março 21, 2012

Uma mulher perigosa (que usa Chanel, ouve Erik Satie, declama baixinho Maria Teresa Horta e tem um quadro de Bela Silva no quarto)


Música, por favor
Erik Satie -Trois Gymnopédies


Ouve-se uma música suave, quase intangível de tão suave.

O quarto é amplo, a janela vai até ao chão, abre para uma varanda de onde se vê o mar ao longe; mais perto, grandes árvores de um verde escuro, talvez cedros. 

Dos lados da grande janela, dois pesados cortinados num estampado abstracto e harmonioso que varia entre o cinza, o azul. Numa das paredes, na que está pintada num antracite brilhante,  um grande espelho ao alto em talha dourada, vai quase até ao chão, enorme, belíssimo. Na outra parede, pintada de um cinzento quase branco tal como as outras, uma grande consola, um busto negro, um grande espelho (mais um). E a luz entra naquele quarto magnífico e reflecte-se nos grandes espelhos e o ar fresco das árvores e do mar ao longe entra, também, e mistura-se com os cheiros florais que vêm dos roupeiros, da roupa de cama.

Numa das paredes não há nada a não ser um quadro, inesperado ali.

Bela Silva - A Terra dos Beijos

Os tons e os motivos da pintura introduzem ali uma alegria e uma modernidade inesperadas. Quem habita este espaço?

O vestido é de tecido pesado e brilha em verde e azul, escamas esmeralda, nuances de um tom de mar profundo e o vestido tomba ao longo do corpo, cai junto ao chão. Os brincos têm uma esmeralda e realçam a profundidade da cor dos olhos. O vestido não tem costas nem mangas e, no pulso, descai uma pulseira pesada, ouro e esmeraldas. Mais nenhuma jóia, seria demais. 

O espelho mostra uma mulher que se olha de lado, de frente, de costas. Ajeita o cabelo que desce quase até aos ombros, apanha-o ao de leve, avalia a melhor forma de o reter, e vigia, no espelho a imagem da mulher que a olha. Depois, não contente, solta-o de novo, despenteia-se, melhor assim, enfia os dedos no cabelo, agita-o, alisa-o ao de leve. 

Calça os sapatos. Altos, bem altos, verdes, escuros, um veludo subtil e umas leves pedras azuis em volta. Com um ligeiro movimento da perna afasta ligeiramente o vestido, quer que o sapato apenas espreite, está bem, dá uns passos, olha-se de lado, de costas, ajeita o cabelo, ensaia o andar. Voluptuosa. Talvez demais. 

Anda de novo, mais discreta, olha agora de lado, um olhar discreto. Avança para o espelho, meneia as ancas mas, apenas, ao de leve. O olhar basta, não é necessário que as ancas introduzam distracção. Mas depois pensa melhor e decide que sim, o andar será lento, as ancas marcarão o ritmo, uma gata andando com cuidada precisão.

Chega-se ao espelho. Passa uma sombra escura nas pálpebras, depois uma sombra clara junto à sobrancelha, depois o eye liner, depois as pestanas tornam-se mais espessas, e o olhar ganha mistério, mais mistério. A seguir olha a boca. Pega num baton, hesita na cor, talvez um rosa quente, talvez uma cor de morango brilhante, olha o baton, olha, no espelho, a boca, avalia, hesita, opta pelo morango doce e vermelho, mais quente. Fecha e reabre os lábios, sorri, olha-se e sorri, e é malícia que assoma ao rosto, gosta, ensaia de novo, sorri do sorriso.

Afasta-se do espelho, vê-se de longe, está bem, gosta.

Depois, um sobressalto. Como podia esquecer-se de uma coisa tão importante? Imperdoável. Era como se fosse nua, que horror, que esquecimento. Pega, então, no frasco Chanel e um leve sopro húmido chega-lhe ao pescoço, afasta o cabelo, agora é a nuca, um pouco, basta pouco. Depois atrás das orelhas, um leve segredo molhado, nada mais que isso.

Debruça-se um pouco e umas gotas tocam o colo, lá bem em baixo, na nervura dos seios. Uma intuição apenas, nada de definido, uma subtil alusão, Chanel em doses fatais, breves, apenas para entendedores.

Afasta-se. Agora sim. Agora está pronta.

Veste então um pequeno casaco de pedras escuras. Depois o despirá mas agora, para entrar, será assim, um  casaquinho sobre o belo e pesado vestido. A sedução apenas adivinhada.

Ensaia o olhar. Depois tem uma ideia. Fotografa-se a si própria. Olha a fotografia. Gosta. 

Cate Blanchett para a Harper's Bazaar por Alexi Lubomirski


Ensaia a imagem enquanto fala e diz em voz baixa, um sussurro apenas,


                                                                                                           Quando menos
                                                                                                            se aguarda
                                 
                                                                                                            Vence-se da flor
                                                                                                             o vício

                                                                                                             O fogo da palavra

                                                                                                             E desobedecendo
                                                                                                             tudo torna ao início



Sorri, ah o fogo das palavras... e o olhar é quente como as palavras que desobedecem desde o início. Sorri, pois, ao espelho e o sorriso começa no olhar e pousa, malicioso, nos lábios.

Antes de sair, olha para trás, de novo, olha-se ao espelho, de frente, de lado, do outro lado, de costas e espreita sobre o ombro, roda, de frente outra vez, de alto a baixo, depois apenas o olhar, ah o olhar que confirma a perigosidade. Ajeita o vestido. 

Sorri. Avança para a porta, avança para ganhar. 


//////\\\\\\

[O poema chama-se Início e é de Maria Teresa Horta.

E, por poesia, não deixem de ir de passeio até ao meu Ginjal, que hoje temos uma valsa de Ravel para iluminar um torpor especial]

//////\\\\\\ 

E, meus Caros, tenham uma bela quarta feira!