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sábado, dezembro 07, 2019

Onde a mística UJM fala de mais um jantarinho de Natal




Se há coisa de que não gosto é de andar a conduzir à noite por sítios que desconheço nos arredores nem sei bem dizer de onde. Pelo nome do lugar não faria ideia de como lá chegar. Portanto, pego nas coordenadas e coloco-as no navegador do carro e vou seguindo as instruções. O pior é aquilo mandar-me para onde não faço ideia, dizer para eu virar à esquerda e não haver esquerda para onde virar, falar na quarta saída da rotunda e só haver três saídas e eu ficar sem perceber se o gps está errado, se fui eu que descarrilei nem sei onde ou se está mesmo a mandar-me para o outro lado do mundo. Ainda por cima, parte das estradas naqueles arrabaldes não têm marcação e eu nem sei se é sentido único ou duas faixas ou se não percebi bem as instruções e vou é em sentido contrário. Ou seja: um sacrifício.


Quando perguntei "mas com que jeito é que escolheram uma coisa num lugar tão ermo? E no início de Dezembro... tão longe do Natal?" explicaram-me que com a lotação pretendida, para ser equidistante dos que trabalham aqui, dos que trabalham ali e dos que acolá e para ser numa sexta-feira ao jantar só se se tinha arranjado ali e nesta data. Pronto. I rest my case.

Mas, portanto, para mim, dar com um lugar fora de mão, desconhecido e à noite, é das coisas que não me agrada. Felizmente lá dei com aquilo embora mesmo em cima da hora, o parque já a transbordar com centenas de carros já por todo o lado. Quando estava a estacionar, estacionou um carrão ao meu lado. Quando saí, pergunta-me o homem, ainda dentro do carro, com um sotaque estrangeiro, se era ali o jantar da empresa tal e coisa. Disse-lhe que sim. Então ele, muito admirado, perguntou-me se eu ia para lá. Disse-lhe que sim. Admirado perguntou se eu trabalhava lá. Disse-lhe que sim e ele riu e disse naquela voz lá dele, meio moldava ou lá o que era, 'já estou com sorte'. Ali no parque, às escuras, achei que o melhor seria pisgar-me e, em cima do meu sapatinho alto, assim fiz, avançandomente resoluta. Não faço ideia quem seja a criatura. Quando lá cheguei, o grande espaço já apinhado, contei a um colega e perguntei se temos algum estrangeiro. Disse-me que os colegas estrangeiros não tinham sido convidados, participarão em jantares nos respectivos países. Isso sei eu, aquele é estrangeiro mas já arranha o português. Ele disse que desconhecia. Olhei em volta e não vi o estrangeirado. Mas, no meio daquela confusão, estranho seria se o descortinasse.


Entretanto, naquela das entradinhas circulantes, coisinhas pequeninas e boas, bolinhas disto, espetadinhas daquilo, amuse-bouche a preceito, estava eu na conversa com uma colega que não via há algum tempo. Nisto chega um homem que vem cumprimentá-la e ela apresenta-mo. Nem eu alguma vez o tinha visto ou ouvido falar nele e, creio, nem ele me conhecia. E nisto, do nada, o homem começa a falar-me do seu percurso profissional, o que fez e deixou de fazer, num malandro que há uns anos lhe cortou as pernas impedindo-o de progredir -- e disse o nome do dito malandro --  e que agora já não lhe interessa porque já decidiu ir-se embora e que vai iniciar uma nova fase na sua vida e que até já perdoou ao outro. E continuou a falar-me em projectos e no que gosta de fazer e tanto falou que, por fim, já falava na beleza língua portuguesa e já dizia graças. Quando uma outra colega veio de longe para me abraçar, eu despedi-me do senhor e ele agradeceu-me e eu, pasmada, 'mas está a agradecer-me porquê?' e ele 'estou a agradecer ter-me dado a oportunidade de me ouvir'.


E, ao jantar, ao contar ao meu colega do lado o que o senhor me tinha contado e como me pareceu que até estava emocionado a contar-me tudo aquilo, o meu colega, de olhos arregalados, perguntou: 'Mas contou-lhe isso tudo a propósito de quê?' E eu: 'Pois, não sei, não faço ideia'. E ele: 'Mas, do nada, saíu-se com isso tudo?' E eu: 'Sim. A sério. Nao sei como nem porquê mas foi'. É que não sei como aconteceu pois foi-me apresentado e, acto contínuo, estava a falar-me da sua vida. O meu colega, olhando muito sério para mim, disse: 'É aquele seu lado místico. Você não quer acreditar mas olhe que eu não tenho dúvidas'. E eu aí não disse nada. É que, de facto, não sei que fenómeno é este. Isto passa a vida a acontecer-me. Gostava de ser filmada para que outras pessoas pudessem testemunhar e interpretar. É que eu não tenho explicação.


E poderia falar de alguns outros aspectos, alguns bem divertidos, mas daqui a nada são três da manhã, o meu marido está a perguntar-me se não serão horas de me ir deitar e eu acho que são.

Conto só que, quando me raspei, uma vez mais meio à papo-seco (já que centenas ainda lá ficaram), ao despedir-me do meu colega do lado, sem querer desejei-lhe bom natal. E ele: 'Homessa! Já? Mas vai de férias?' e aí eu desatei-me a rir. 'Bolas! Que estupidez. Com tanto espírito natalício, parece que já estamos lá. Que ridículo'. Ele deu-me um beijo de despedida e disse-me: 'Até para a semana.'

E vim de novo, saltinho alto pela calçada, noite cerrada, até ao carro que estava todo molhado, tanta a humidade. Gps para casa e aí vem ela, por campos nunca antes desbravados, sem fazer ideia onde estava, estradas sem marcação, sem iluminação. Mas vim cá dar e isso é que é preciso.

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Obviamente, as fotografias que pertencem a  Jorge Sato e são um tributo a Niemeyer nada têm a ver com o texto. E o Somewhere interpretado pelo Tom Waits também está aqui apenas porque me apeteceu ouvir.
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E a todos desejo um belo sábado.

sexta-feira, janeiro 08, 2016

O cérebro das pessoas criativas é diferente do das outras? Ah, pois é.






Como tenho referido, e ainda ontem aflorei o assunto, desperta-me imenso interesse o conhecimento dos mecanismos mentais que levam à criatividade. Se alguém escreve principescamente, logo eu sinto curiosidade em perceber: A ideia nasce-lhe antes de escrever? Forma-se enquanto escreve? Sai logo assim ou é trabalhada a posteriori?


Com os pintores, então, é um verdadeiro fascínio que tenho: podem dizer as maiores maluqueiras que eu fico presa como se ouvisse a explicação da criação do universo.


Ou com os arquitectos: o que eu gosto de ler livros em que os arquitectos falam das suas obras ou entrevistas em que descrevem as suas ideias...?


Aqueles que mais gosto de ouvir ou ler são os verdadeiramente desordeiros, aqueles a quem as coisas aparecem sabe-se lá de onde, sem intenção, sem explicação, em que há prazer no acto de fazer e desapego depois da coisa feita. Gosto de os ouvir falar dos acasos, da ideia que surge da forma como a luz pousou numa pedra, ou do desenho que a tinta induziu ao espalhar-se na tela, ou do estado de espírito desse dia ou de uma música que se ouviu, ou de uma frase, ou de um sorriso. Ou da curva do corpo de uma mulher que os inspirou a fazer uma ondulação fantástica num edifício do além.


Quando leio ou ouço António Lobo Antunes dizer que sofre muito, que escreve, reescreve, que aquilo é um suplício, fico a achar que, se calhar, é por isso que as coisas nunca lhe saem de jeito.

Percebo que, por vezes ou em algumas áreas, é natural que se faça um plano ou que haja alguma disciplina e que a persistência na eliminação do supérfluo seja fundamental. Mas ou bem que a coisa corre com fluidez, com a alegria de quem é quase só um veículo para que o que nasce do ar se deponha na matéria ou, se é para sofrer, então, digo eu, talvez não valha a pena.


Nos testes que tenho feito ou a que me tenho sujeitado no decurso da minha vida profissional, apareço como um misto de racionalidade assertiva e de criatividade apaixonada. Sou também classificada como uma early adopter, ou seja, uma daquelas pessoas que é escolhida para fazer parte dos grupos que testam as provas de conceito, que aderem quase instantaneamente a projectos que contenham mudança ou que são bons catequisadores relativamente a coisas novas, mesmo sem as terem experimentado exaustivamente.

Gosto de pintar, gosto de fotografar, gosto de escrever. Por preguiça ou ideologia não gosto de aprender técnicas em relação a nada disto pois quero estar livre para descobrir, experimentar, fazer mal, fazer o que me apetece. Não será muito católico da minha parte assumir isto mas é a verdade. A liberdade é-me fundamental e, neste tipo de coisas, a liberdade de poder nascer todos os dias e fazer as coisas pela primeira vez parece-me indispensável.


Na cozinha é a mesma coisa. Ontem fiz um prato diferente, aproveitando uma massa quebrada pré-feita (que comprei para o Ano Novo e não cheguei a usar), lombo de salmão, etc. Fechei-a como uma trouxa. Ficou boa, comemos apenas com acompanhamento de salada. E, enquanto a comíamos, já eu estava a imaginar como faria da próxima vez: pincelaria a base de massa com azeite, cobriria com queijo de barrar, colocaria maçã aos cubinhos pequenos, faria à parte uma pasta de queijo, ovos, lombo de salmão cortado aos bocados, talvez até gambas descascadas, cortadas também aos bocados; depois espalharia sobre o queijo com os pedacinhos da maçã. Fecharia a trouxa e levaria ao forno. No fim, o usual: mel e sementes.

O meu marido disse: os cozinheiros pensam, ensaiam e só depois é que fazem para servir, enquanto tu, se fizesses para ensaiar, quando fosses fazer a sério já não eras capaz de fazer igual. Reconheço que é verdade. Se fiz e saíu bem, já me apetece é passar para a próxima invenção. Se tenho que fazer um prato clássico, logo os meus filhos me estão a implorar que veja a receita e a siga à risca, com receio que as minhas invenções adulterem a 'mística' da receita original. Percebo-os e sei que eles têm razão: eu sou mesmo assim. Não apenas não tenho medo de arriscar (sinto-me especialmente motivada para inventar receitas quando é para servir a muita gente) como o que me dá prazer é fazer diferente.

Mas, como é bom de ver, não sou artista de nenhuma especialidade, sou apenas uma curiosa. Curiosa e descarada.


Vem esta conversa toda a propósito de um artigo muito interessante (que, daqui para a frente, vou usar como base, traduzindo livremente e tentando transmitir a ideia num mínimo de parágrafos).

Aí diz-se que o cérebro das pessoas criativas é diferente do das não-criativas -- nem é uma questão de QI elevado, é outra coisa: é a sua capacidade em gerar emoções contraditórias.


As pessoas criativas preferem a complexidade e a ambiguidade à simplicidade. A sua tolerância à desordem é elevada assim como a sua capacidade de extrair ordem do caos. Têm um espírito independente e inconformista e a sua vontade de correr riscos é mais elevada do que da média das pessoas.


Barron (o psicólogo e investigador que, nos anos 60, fez uma experiência reunindo alguns dos cérebros mais brilhantes da altura para perceber o que tinham em comum, Truman Capote incluído) resume: Os génios criativos são mais instintivos e mais cultos, mais destruidores e mais construtores, por vezes mais loucos mas também declaradamente mais sãos que as outras pessoas. Isto pode parecer paradoxal. Mas o que se depreende das observações de Barron é que os criativos são agitados por forças contraditórias que coabitam, seja alternada seja simultaneamente.

As pessoas que inventam coisas também são dadas à introspecção, o que as leva a conhecerem-se melhor a elas próprias. Estão, portanto, também à vontade com as suas zonas de sombra. "Dialogam com o espectro inteiro da vida - tão bem com as zonas de sombra como com as luminosas.", "São uma síntese de comportamentos sãos e patológicos". Estas contradições dão a estas personalidades atípicas uma pulsão criadora.


O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi, que passou 30 anos a estudar personalidades criativas, diz que 'se fosse preciso exprimir uma palavra o que torna estes indivíduos únicos, diria que é a sua complexidade. Em vez de serem um indivíduo, são uma multidão'.

Do ponto de vista neurológico o que se pode dizer é que também há diferenças.

Contrary to the “right-brain” myth, creativity doesn’t just involve a single brain region or even a single side of the brain. Instead, the creative process draws on the whole brain. It’s a dynamic interplay of many different brain regions, emotions, and our unconscious and conscious processing systems. 
The brain’s default mode network, or as we like to call it, the “imagination network,” is particularly important for creativity. The default mode network, first identified by neurologist Marcus Raichle in 2001, engages many regions on the medial (inside) surface of the brain in the frontal, parietal and temporal lobes. 
We spend as much as half our mental lives using this network. It appears to be most active when we’re engaged in what researchers call “self-generated cognition”: daydreaming, ruminating, or otherwise letting our minds wander. 
Creative people are able to juggle contradictory modes of thought — cognitive and emotional, deliberate and spontaneous.


Os cérebros criativos são verdadeiros interruptores. Eles ligam ou desligam um ou outro dos circuitos com maior facilidade. Mudando de modo, as pessoas criativas fazem malabarismos com as contradições, entre o emocional e o racional, entre o reflectido e o espontâneo. Têm acesso a uma palete de nuances que não está, de todo, disponível para a maioria das pessoas.

Isto dizem os estudiosos. E eu acredito. E dizem muito mais mas, da minha parte, por aqui me fico.

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A sério que gostava de continuar a falar do estudo ou de continuar para aqui a divagar e a intercalar vídeos e imagens (da autoria de Sandrine Estrade Boulet) mas é tarde, tenho-me deitado tarde, ando com sono. Contudo, para quem, como eu, é maluquinho por estas coisas do cérebro humano fica a sugestão de que siga os links que deixei ao longo do texto.

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E agora, se me permitem, desçam para saber como, no debate desta quinta-feira, ao comentador Marcelo saltou o verniz com o nervoso de ter adversário (Sampaio da Nóvoa), onde ele queria ter era um caminho limpinho só para ele -- e com passadeira vermelha e câmaras à sua espera.

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quarta-feira, dezembro 11, 2013

No dia em que morreu Nadir Afonso, relembro o que, sobre ele, escrevi o ano passado. ('Nadir Afonso e outros génios - recordação dos tempos em que trabalhou com Le Corbusier e com Óscar Niemeyer'.)


Nadir Afonso - Catedrais Góticas

Música, por favor, a ver se chove
Ryuichi Sakamoto - Rain


Tenho aqui ao meu lado o livro 'Nadir Afonso conversa com Agostinho Santos', da Editora Âncora, de Janeiro deste ano.

Nadir Afonso é transmontano, nascido em 1920. É arquitecto pela Escola de Belas Artes do Porto, estudou pintura na École des Beaux-Arts de Paris. Colaborou em alguns ateliers de arquitectura, nomeadamente no de Le Corbusier e no de Óscar Niemeyer, dois grandes arquitectos.

Contudo, aos 45 anos abandonou a arquitectura e dedicou-se à pintura. Premiado, condecorado, Nadir Afonso encontra-se representado em numerosos museus em vários países.

Contudo, não é da sua pintura que aqui vos vou falar, ficará isso, talvez, para outra altura. Hoje vou referir apenas dois aspectos que ele relata e que me surpreenderam.

Temos uma ideia por vezes idealizada de algumas das grandes figuras e tendemos a ignorar o seu lado mais humano, mais pequeno.

Charles-Edouard Jeanneret-Gris mais conhecido pelo seu pseudónimo Le Corbusier

Sobre Le Corbusier (1887-1965), arquitecto, urbanista e também pintor, escuso de falar: é um dos arquitectos mais marcantes do séc.XX. O funcionalismo é talvez dos traços mais marcantes da sua obra: funcionalismo nas cidades, nos edifícios, nas próprias mobílias. Um dia, se me lembrar, também falarei dele.

Nadir Afonso recorda os tempos em que trabalhou com o grande mestre e responde assim à pergunta 'Gostou do espaço? Tinha muitos colaboradores?'

Sim, gostei, mas isso não era o mais importante. No primeiro dia, vi Le Corbusier apenas ao longe. Disseram-me: 'Olha, lá está ele, é aquele'. Mas só tive contacto com ele, dois ou três dias depois. Ele punha-se por trás do colaborador a ver o trabalho que estávamos a fazer. Fazia aquilo com a intenção de não ser logo visto. Havia um grande silêncio e ele, muito sorrateiro, lá se pôs atrás de mim a 'espiar' o que eu estava a fazer. Ou melhor, eu não o vi, eu senti na minha coluna vertebral a presença dele. Uns dias mais tarde, num desses momentos, olhei-o, sorri, e afastei-me um pouco para que ele visse melhor o trabalho que eu estava a desenvolver. Ele viu e disparou-me: 'Você está contente com o seu trabalho?'  Fiquei surpreendido com a pergunta e, sem responder, ele voltou e, dessa vez, atacou mesmo: 'Eu, na sua idade, fazia muito melhor. Você, ao pé de mim, é uma unha negra, uma unha negra' e fez questão de mostrar a sua unha. O que ele queria dizer era que eu nem sequer ser a ponta de um dedo dele.

E Nadir Afonso descreve assim o local em que Le Corbusier trabalhava: Era uma espécie de atelier dentro do atelier. Era um cubículo, sem janelas, tipo dois metros por dois metros, eram os seus aposentos, quase ninguém lá entrava.

Um dia Nadir Afonso entrou lá para lhe mostrar as suas pinturas, incitado pelos colegas, dado que Le Corbusier também pintava.

Conta Nadir Afonso: 'Lá fui, e o cenário que encontrei foi, na verdade, mais aterrador do que imaginava. Aquilo era mesmo pequeno, sem luz directa, havia apenas um foco de luz eléctrica, uma secretária de madeira'. 

Quando lhe mostrou as suas pinturas notou que Le Corbusier hesitava, olhava e dizia que estava ocupado, queria ver mas a seguir concentrava-se no trabalho. Desconcertado, Nadir Afonso 'cai na asneira' de lhe dizer que se tinha inspirado na pintura dele e aí, com isso, despertou a ira do génio. Nadir Afonso recorda 'Aí cai o Carmo e a Trindade, sabe, Agostinho, o homem parece que se atirava a mim, estava mesmo a ver que me batia... Aos berros, respondeu-me que aquilo era meu e não dele, e mais isto e mais aquilo, bem, só me lembro de ficar aterrado, de pegar nos trabalhos que estavam em cima da secretária e pôr-me a andar dali para fora.'

Óscar Niemeyer (nascido em Dezembro de 1907) em frente do 'seu' Museu de Arte Contemporânea 

Mais tarde, Nadir Afonso haveria de trabalhar no atelier de Óscar Niemeyer, arquitecto sobre quem aqui já falei, um ilustre e querido centenário cuja obra é inspirada nas curvas das montanhas e dos corpos das mulheres. Relata Nadir Afonso: 'Agora o Niemeyer era simpático, como Le Corbusier, mas tinha, por outro lado, o mesmo defeito do célebre arquietcto francês, era impossível de aturar. Do ponto de vista humano, tenho-o por boa pessoa, mas quando o 'clima' não estava em sintonia com o que pretendia, era o diabo....


E conta: 'No atelier de Niemeyer o esquema era semelhante ao de Paris. O mestre passava-me um croquis para a mão e eu tinha que os desenvolver e assim ia acontecendo. Um dia, atribuíu-me a tarefa de executar o projecto de um casino em Belo Horizonte e, como noutros casos, dá-me o esquisso. Uns tempos depois vê o projecto, diz que está bem e preparava-se para ir para o gabinete. Como eu tinha feito uma pequena alteração, decidi falar-lhe, pois não ficaria bem com a minha consciência, se silenciasse essa questão. Olhe, quando falo em alteração, Nossa Senhora, caíu das nuvens. Aos berros no meio da sala, a acusar-me que eu ia para ali 'escolhanvar'. 

E continua a relatar: 'Reagi seguindo os meus impulsos, opondo-me frontalmente àquela violência verbal. Expliquei-lhe, ou tentei explicar - porque o Niemeyer continuava aos berros - o que se tinha passado e porque tinha, na verdade, feito a pequena alteração. Mas ele estava endiabrado e não ouvia. Recordo-me de ele dizer, aos gritos, que quem mandava era ele e dizia um chorrilho de asneiras. Ao contrário de Le Corbusier, que mesmo exaltado não utilizava palavras grosseiras, o Niemeyer, no momento quente de uma discussão, não se inibia de proferir palavrões. Digo, porque é verdade, que quando se exaltava era mesmo malcriado.

------

Fiquei surpreendida porquê? Nem sei. Não estou eu farta de saber que uma obra pode ser pura, límpida, perfeita, coisa quase divina e que, no entanto, o seu autor, por ser gente, terá os seus defeitos, os seus momentos maus, algumas fragilidades, será capaz de pequenas maldades, de gestos menos nobres? Não estou eu farta de saber que, nas pessoas geniais, geralmente, a sua grande obra supera a sua efémera vida, por vezes a sua pequena vida?

E, de resto, pensando bem, que importância têm uns palavrões, uns palavras arremetidas, uns quantos desaforos? 

E não contei a história toda. Em ambos os casos o relacionamento estreitou-se, de forma pouco óbvia, mas estreitou-se. 

Nadir Afonso - Gaivota

Termino com Agostinho Santos a questionar Nadir Afonso: 'Então o que é que mais admira nos homens?'.

A dinâmica quando, além das suas actividades profissionais, culturais, partidárias, associativas, recreativas e outras, ainda lhes sobra tempo para ler, escrever, manter relações públicas, cuidar de gatos, fazer jardinagem e o cultivo de rosas.

'E o Nadir, actualmente, tem outras ocupações ou é exclusivamente artista?'

Eu sou pintor e também qualquer coisa como atrasado mental: quando paro de trabalhar, só me dá para vaguear pelos campos!

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Este texto é parte do que escrevi o ano passado aqui.

quinta-feira, dezembro 06, 2012

A vida é um sopro, dizia Oscar Niemeyer. Aos 104 anos, tranquilo com a vida, foi-se o arquitecto inspirado pelas curvas das montanhas ou dos corpos das mulheres.


Escrevo este texto de manhã depois de ontem à noite ter escrito um texto sobre uma inovação chinesa relacionada com namoro entre colegas de empresa e depois, ainda, de ter falado de Joaquim Benite (ver abaixo).

Mas acabei de saber de uma notícia sobre a qual não poderia deixar de falar.

Em tempos transcrevi palavras assim: De um traço nasce a arquitectura. E, quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte. [...] Na cúpula do Senado, desprezando a característica autoportante que oferece o empuxo que criaria, inclinei em rectas sua linha circular de apoio, tornando-a mais leve, como preferiria. Na Câmara, depois de invertê-la, a estendi horizontalmente como a visibilidade interna exigia, procurando uma forma que a situasse como simplesmente pousada na lage de cobertura. E tudo isso fazíamos com tal empenho que lembro Joaquim Cardozo me telefonando: 'Oscar, encontrei a tangente que vai permitir a cúpula solta como você deseja.'. [...] Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu num dos seus versos:' Oscar desenha na areia seu edifício.' E tinha razão o nosso amigo. De um risco inicial nasce a arquitectura e até na areia isso pode acontecer".

Algumas vezes antes me referi a ele aqui.




Figura excepcional, Oscar Niemeyer partiu mas levou consigo uma vida vivida com imenso prazer.




Oscar Niemeyer (autor da letra), Edu Krieger e Caio Marcelo  
Samba 'Tranquilo com a vida', também conhecido por Samba Niemeyer



Tranquilo com a vida, se foi. As suas obras falarão, para sempre, dele.


*


De convexidades de mulher,
Sensuais concavidades,
Silhuetas de rio,
De um braço,
Um dedo,
Um instante,
Um traço curvo de luz,
Eis de que fizeste cidades
Com chapéus,
Taças,
Afrontações,
Sei lá eu…,
Até ondulações de Alentejo
Com sorrisos dos homens a olhar
Que querias o mais iguais que se puder…

E porque a vida é assim,
Luz e sombras,
Em linha recta em plano
Eis-te a descansar…



['Poeta do betão armado', um poema com as curvas de uma mulher, de José Rodrigues Dias num comentário abaixo e também no blogue Traçados de Nós]

segunda-feira, março 12, 2012

Nadir Afonso e os outros génios - recordação dos tempos em que trabalhou com Le Corbusier e com Óscar Niemeyer. E Theo Jansen, esculturas em movimento. E, a ver se chove, trago aqui o Ryuichi Sakamoto com Rain


Nadir Afonso - Catedrais Góticas

Música, por favor, a ver se chove
Ryuichi Sakamoto - Rain


Tenho aqui ao meu lado o livro 'Nadir Afonso conversa com Agostinho Santos', da Editora Âncora, de Janeiro deste ano.

Nadir Afonso é transmontano, nascido em 1920. É arquitecto pela Escola de Belas Artes do Porto, estudou pintura na École des Beaux-Arts de Paris. Colaborou em alguns ateliers de arquitectura, nomeadamente no de Le Corbusier e no de Óscar Niemeyer, dois grandes arquitectos.

Contudo, aos 45 anos abandonou a arquitectura e dedicou-se à pintura. Premiado, condecorado, Nadir Afonso encontra-se representado em numerosos museus em vários países.

Contudo, não é da sua pintura que aqui vos vou falar, ficará isso, talvez, para outra altura. Hoje vou referir apenas dois aspectos que ele relata e que me surpreenderam.

Temos uma ideia por vezes idealizada de algumas das grandes figuras e tendemos a ignorar o seu lado mais humano, mais pequeno.

Charles-Edouard Jeanneret-Gris mais conhecido pelo seu pseudónimo Le Corbusier

Sobre Le Corbusier (1887-1965), arquitecto, urbanista e também pintor, escuso de falar: é um dos arquitectos mais marcantes do séc.XX. O funcionalismo é talvez dos traços mais marcantes da sua obra: funcionalismo nas cidades, nos edifícios, nas próprias mobílias. Um dia, se me lembrar, também falarei dele.

Nadir Afonso recorda os tempos em que trabalhou com o grande mestre e responde assim à pergunta 'Gostou do espaço? Tinha muitos colaboradores?'

Sim, gostei, mas isso não era o mais importante. No primeiro dia, vi Le Corbusier apenas ao longe. Disseram-me: 'Olha, lá está ele, é aquele'. Mas só tive contacto com ele, dois ou três dias depois. Ele punha-se por trás do colaborador a ver o trabalho que estávamos a fazer. Fazia aquilo com a intenção de não ser logo visto. Havia um grande silêncio e ele, muito sorrateiro, lá se pôs atrás de mim a 'espiar' o que eu estava a fazer. Ou melhor, eu não o vi, eu senti na minha coluna vertebral a presença dele. Uns dias mais tarde, num desses momentos, olhei-o, sorri, e afastei-me um pouco para que ele visse melhor o trabalho que eu estava a desenvolver. Ele viu e disparou-me: 'Você está contente com o seu trabalho?'  Fiquei surpreendido com a pergunta e, sem responder, ele voltou e, dessa vez, atacou mesmo: 'Eu, na sua idade, fazia muito melhor. Você, ao pé de mim, é uma unha negra, uma unha negra' e fez questão de mostrar a sua unha. O que ele queria dizer era que eu nem sequer ser a ponta de um dedo dele.

E Nadir Afonso descreve assim o local em que Le Corbusier trabalhava: Era uma espécie de atelier dentro do atelier. Era um cubículo, sem janelas, tipo dois metros por dois metros, eram os seus aposentos, quase ninguém lá entrava.

Um dia Nadir Afonso entrou lá para lhe mostrar as suas pinturas, incitado pelos colegas, dado que Le Corbusier também pintava.

Conta Nadir Afonso: 'Lá fui, e o cenário que encontrei foi, na verdade, mais aterrador do que imaginava. Aquilo era mesmo pequeno, sem luz directa, havia apenas um foco de luz eléctrica, uma secretária de madeira'. 

Quando lhe mostrou as suas pinturas notou que Le Corbusier hesitava, olhava e dizia que estava ocupado, queria ver mas a seguir concentrava-se no trabalho. Desconcertado, Nadir Afonso 'cai na asneira' de lhe dizer que se tinha inspirado na pintura dele e aí, com isso, despertou a ira do génio. Nadir Afonso recorda 'Aí cai o Carmo e a Trindade, sabe, Agostinho, o homem parece que se atirava a mim, estava mesmo a ver que me batia... Aos berros, respondeu-me que aquilo era meu e não dele, e mais isto e mais aquilo, bem, só me lembro de ficar aterrado, de pegar nos trabalhos que estavam em cima da secretária e pôr-me a andar dali para fora.'

Óscar Niemeyer (nascido em Dezembro de 1907) em frente do 'seu' Museu de Arte Contemporânea 

Mais tarde, Nadir Afonso haveria de trabalhar no atelier de Óscar Niemeyer, arquitecto sobre quem aqui já falei, um ilustre e querido centenário cuja obra é inspirada nas curvas das montanhas e dos corpos das mulheres. Relata Nadir Afonso: 'Agora o Niemeyer era simpático, como Le Corbusier, mas tinha, por outro lado, o mesmo defeito do célebre arquietcto francês, era impossível de aturar. Do ponto de vista humano, tenho-o por boa pessoa, mas quando o 'clima' não estava em sintonia com o que pretendia, era o diabo....

E conta: 'No atelier de Niemeyer o esquema era semelhante ao de Paris. O mestre passava-me um croquis para a mão e eu tinha que os desenvolver e assim ia acontecendo. Um dia, atribuíu-me a tarefa de executar o projecto de um casino em Belo Horizonte e, como noutros casos, dá-me o esquisso. Uns tempos depois vê o projecto, diz que está bem e preparava-se para ir para o gabinete. Como eu tinha feito uma pequena alteração, decidi falar-lhe, pois não ficaria bem com a minha consciência, se silenciasse essa questão. Olhe, quando falo em alteração, Nossa Senhora, caíu das nuvens. Aos berros no meio da sala, a acusar-me que eu ia para ali 'escolhanvar'. 

E continua a relatar: 'Reagi seguindo os meus impulsos, opondo-me frontalmente àquela violência verbal. Expliquei-lhe, ou tentei explicar - porque o Niemeyer continuava aos berros - o que se tinha passado e porque tinha, na verdade, feito a pequena alteração. Mas ele estava endiabrado e não ouvia. Recordo-me de ele dizer, aos gritos, que quem mandava era ele e dizia um chorrilho de asneiras. Ao contrário de Le Corbusier, que mesmo exaltado não utilizava palavras grosseiras, o Niemeyer, no momento quente de uma discussão, não se inibia de proferir palavrões. Digo, porque é verdade, que quando se exaltava era mesmo malcriado.

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Fiquei surpreendida porquê? Nem sei. Não estou eu farta de saber que uma obra pode ser pura, límpida, perfeita, coisa quase divina e que, no entanto, o seu autor, por ser gente, terá os seus defeitos, os seus momentos maus, algumas fragilidades, será capaz de pequenas maldades, de gestos menos nobres? Não estou eu farta de saber que, nas pessoas geniais, geralmente, a sua grande obra supera a sua efémera vida, por vezes a sua pequena vida?

E, de resto, pensando bem, que importância têm uns palavrões, uns palavras arremetidas, uns quantos desaforos? 

E não contei a história toda. Em ambos os casos o relacionamento estreitou-se, de forma pouco óbvia, mas estreitou-se. 

Nadir Afonso - Gaivota

Termino com Agostinho Santos a questionar Nadir Afonso: 'Então o que é que mais admira nos homens?'.

A dinâmica quando, além das suas actividades profissionais, culturais, partidárias, associativas, recreativas e outras, ainda lhes sobra tempo para ler, escrever, manter relações públicas, cuidar de gatos, fazer jardinagem e o cultivo de rosas.

'E o Nadir, actualmente, tem outras ocupações ou é exclusivamente artista?'

Eu sou pintor e também qualquer coisa como atrasado mental: quando paro de trabalhar, só me dá para vaguear pelos campos!

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E de novo aqui no Um Jeito Manso, Theo Jansen, o escultor do movimento. Gosto tanto de o ver, gosto tanto das suas figuras surreais, poéticas. A beleza sem razões, apenas criatividade, apenas sonho. Vejam, por favor.


E tenham, meus Caros, uma boa semana a começar por esta segunda feira. Aproveitem, como uma bênção, cada precioso instante da vossa vida.

[E, já agora, caso estejam virados para a poesia e para a música, convido-vos a irem até à minha casa junto ao Tejo. Hoje, no meu Ginjal temos Tatiana Faia e uma mulher que, em parte, fica presa na noite, nas ruas estreitas. Acompanha com Debussy.]

quinta-feira, agosto 18, 2011

A vida é um sopro, diz Neimeyer, o homem que é atraído pelas curvas livres e sensuais

Não é a primeira vez que este homem excepcional aqui é convidado de honra. Hoje mostro-vos o trailer deste documentário em que dá para se ter um pouquinho, muito pouco, do que é este fantástico arquitecto, este construtor de sonhos.

Diz Oscar Niemeyer que não o atraem as rectas, tão lineares. Prefere, sim, as curvas como as das montanhas, como as das mulheres.


Diz ele que o mais procurou na vida foi o amor das mulheres.

E toda a sua vida tem sido um belo exercício de amor. Cada construção que idealiza é uma obra de amor, tem asas, e fala como um poema. A vida é um sopro, diz ele. E que bem que ele tem sabido aproveitar esse sopro.

Salvé Oscar Niemeyer!


quarta-feira, dezembro 15, 2010

O stress e o cérebro, segundo Nuno de Sousa. Oscar Neimeyer faz hoje 103 anos, Manoel de Oliveira fez 102 há dias atrás.


Um trabalho de investigação da equipa liderada pelo médico e neurocientista Nuno Sousa da Universidade do Minho, publicado pela exigente revista Science, comprova o efeito nefasto que o stress prolongado tem no cérebro. A equipa tem estudado a correlação entre o stress e várias formas de doenças demenciais, entre as quais ao doença de Alzheimer.


Na entrevista a Carlos Vaz Marques, na TSF, deu-nos conta desses trabalhos. Um cérebro submetido a frequentes estímulos de stress atrofia, como que bloqueia, passa a reagir de forma repetitiva, não relacionada com os estímulos casuísticos que recebe. Pelo contrário, um cérebro não sujeito a stress frequente é capaz de reagir de forma adequada, criativa, digamos assim.

Claro que há que distinguir entre o stress negativo e o positivo - o positivo é aquele que associamos à adrenalina, ao entusiasmo, ao desafio que, esse, é estimulante e benéfico.

Por outro lado, é sabido como a actividade física e intelectual regulares são essenciais para uma longevidade de qualidade.

Hoje faz 103 anos um dos maiores arquitectos de sempre a nível mundial, Oscar Niemeyer, o arquitecto de Brasília e de tantas obras em que a arquitectura assume formas escultórias, em que o betão armado é esculpido como uma obra de arte. Neymeyer sempre disse que a sua principal fonte de inspiração são as montanhas do Brasil e, sobretudo, as curvas das mulheres.


 Neste aniversário, ao inaugurar mais um edifício, justamente a Fundação Niemeyer, ele explica: “Enquanto eu puder trabalhar eu trabalho, porque o trabalho me distrai, não é sacrifício. Cada problema que aparece é um esforço para resolver que me agrada muito e que ainda consigo fazer”.


A mulher, cerca de 40 anos mais nova, com quem se casou há 4 anos, confirma que ele está bem, com saúde, cheio de projectos, tem aulas semanais de cosmologia, desenha, faz fisioterapia, lê, edita uma revista e gosta de desafios. Diz que está agora a fazer um aquário dentro de água, coisa que nunca ninguém fez. ‘Isso me distrai’, diz ele.


Neste pequeno livro de 1993, em que o autor do texto é Oscar Niemeyer e o autor da capa, dos desenhos e da paginação é... Oscar Niemeyer, leio: " De um traço nasce a arquitectura. E, quando ele é bonito e cria surpresa, ela pode atingir, sendo bem conduzida, o nível superior de uma obra de arte. [...] Na cúpula do Senado, desprezando a característica autoportante que oferece o empuxo que criaria, inclinei em rectas sua linha circular de apoio, tornando-a mais leve, como preferiria. Na Câmara, depois de invertê-la, a estendi horizontalmente como a visibilidade interna exigia, procurando uma forma que a situasse como simplesmente pousada na lage de cobertura. E tudo isso fazíamos com tal empenho que lembro Joaquim Cardozo me telefonando: 'Oscar, encontrei a tangente que vai permitir a cúpula solta como você deseja.'. [...] Um dia, Carlos Drummond de Andrade escreveu num dos seus versos:' Oscar desenha na areia seu edifício.' E tinha razão o nosso amigo. De um risco inicial nasce a arquitectuta e até na areia isso pode acontecer."

É um prazer ler as palavras de Neimeyer, sentir o prazer supremo de alguém que nasceu para fazer o que tão bem tem feito ao longo da sua longa vida.

Daqui, deste lado do Atlântico, envio-lhe os parabéns, Arquitecto Niemeyer!

Manoel de Oliveira, que completou recentemente 102 anos, é feito da mesma fibra: tem dois filmes em fase de financiamento, tem vários projectos em mente, diz não temer a morte mas não querer perder tempo pois, com ironia, diz não saber por quanto mais tempo ainda cá andará.


Pessoas sem stress, pessoas boas, pessoas motivadas, pessoas do mundo, do futuro, pessoas felizes.

Uma lição para os comuns mortais.