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segunda-feira, março 30, 2020

Éramos felizes e não o sabíamos...?
Voltaremos a sê-lo e ainda não o sabemos...?





O meu pai nunca foi de grandes conversas. Mesmo quando estava bem, não era de se rir muito, de falar muito. Pelo contrário, a minha mãe sempre foi boa onda e conversadora. Por vezes, punha-se a recordar os seus tempos de juventude mas ele, que a acompanhou desde sempre, não participava nessas evocações. Maneiras de ser. Quando vejo fotografias de quando eram jovens, lá está ele, sempre sério, bem apessoado, ar moderno mas, não sei porquê, parece que nunca totalmente integrado no buliçoso espírito do grupo. A minha mãe, pelo contrário, aparece sempre radiosa. Claro que o cabelo louro claro e os olhos azuis ajudam a que apareça não apenas sorridente como irradiando luz. Era um grupo de rapazes e raparigas que passeava e se sentava a conversar e algum deles fotografava. Talvez a máquina fosse a do meu pai pois por vezes não aparece e porque, do que me lembro, andava sempre com ela. Uma kodak. Depois namoraram, casaram, nasci eu. Há muitas fotografias. Naquelas em que estou, estou sempre a rir.


Mas, então, a minha mãe, por vezes, ao recordar os seus tempos de juventude, lembrava-se dos tempos da guerra. Era pequena. Lembra-se do racionamento. Não sei se lembra ou se se lembra de ouvir os pais falarem disso.

Agora voltou a falar nisso. Quando insisto para que faça uma lista do que vai precisar daqui por umas semanas para encomendarmos, volta a dizer que não precisa, que ainda tem muitas coisas. E, quando falamos na duração da quarentena e no tremendo abalo que isto vai causar em todo o tecido económico, volta a temer. 

E volta a recordar o que ouvia aos mais velhos: a pneumónica. E a tuberculose. Diz que nunca pensou voltar a esses tempos. Diz que parece que eram coisas de uma outra era. Suspira. Sinto-lhe o medo.
[De tarde, seguindo o conselho do João, estivemos a ouvir o Fernando Rosas. Com um século de intervalo, a história repete-se. ]usta a perceber o que andámos a fazer nos últimos cem anos para termos chegado até onde estamos agora]
Mas, enquanto ela falava, recordando memórias certamente mais dos meus avós do que dela, senhas, filas para levantar umas misérias, tempos de penúria, recordei eu outros tempos.


Outros tempos, tingidos pelo inocente colorido da distância e dourados pela doçura da memória.

O meu pai praticava muito desporto, sobretudo futebol. Os meus tios voleibol. Os primos do meu pai, mais ou menos da idade dele, hóquei em patins. E havia outros amigos, todos também dados ao desporto. E as respectivas mulheres, todas amigas umas das outras, muito alegres. Estavam sempre juntos, quer para ver as partidas desportivas uns dos outros quer em eventos que organizavam. E havia muitos miúdos, os filhos que iam nascendo. Lembro-me muito bem desses alegres tempos. Íamos ao cinema, às matinées. Por vezes organizavam gincanas e era muito divertido, toda a gente participava. Eu, já no liceu, era frequentemente par do primo mais novo do meu pai, um bad guy com coração de ouro que eu e toda a gente adorava. Por vezes, os adultos iam ao cinema à noite e, nessas alturas eu ficava com os meus avós e lembro-me de ficar até tarde a conversar com o meu grande amigo, filho de amigos dos meus pais e cujo avô era vizinho da minha avó, mãe da minha mãe.


Mas as noites de que eu mais gostava eram as dos bailes. O recreio da escola primária era transformado em recinto de baile. De um dos lados punham fiadas de mesas. Debaixo do telheiro estava o agrupamento musical. Do outro lado havia grelhadores e bancadas com outras comidas. A toda a volta havia enfeites. Estendiam cordas de um lado ao outro e penduravam-se flores ou outros motivos de papel colorido. E fiadas de luzinhas. Por vezes estavam todas acesas e as danças eram alegres, movimentadas. Depois reduziam um pouco e, aí, os casais enchiam a pista, abraçados.

A minha mãe e as amigas iam todas bonitas, com vestidos floridos de saias rodadas. Conversavam muito, riam, contavam piadas, dançavam. O meu pai, apesar de não ser de contar piadas ou de rir, enturmava-se e, curiosamente, dançava com a minha mãe. E eu andava com os meus amigos, à solta, correndo, dançando, feliz por estar ali, naquelas noites quentes e felizes.


Outras vezes, organizavam concursos de dança e, nessa altura, os bailes eram mais a rigor. A sala de cinema era transformada em salão de baile. A maioria das mesas ficava lá em cima e, cá em baixo, a meio, era a pista de dança e, à volta, algumas mesas. Nessas noites, o traje era mais requintado. As amigas apuravam-se para olharem umas para as outras com apreço, para receberem elogios. Havia um júri, havia eliminatórias. Geralmente sobressaía um grupo de jovens universitários que faziam passos quase acrobáticos, os rapazes levantavam as raparigas, elas passavam por baixo das pernas deles. A assistência ia ao rubro. Ou a valsa, romântica. A assistência a sentir que fazia parte de um filme. Eu olhava extasiada. Gostava de ver os meus pais, tão jovens, tão modernos, e os seus amigos tão bem dispostos. Apesar disso, a ideia que tenho é que quase não estava ao pé deles. Sempre gostei de sentir liberdade de movimentos. Quando queriam ir-se embora, tinham sempre que andar à minha procura.

Nessas alturas, eu era inocente e feliz.


Claro que havia, de vez em quando, algum sobressalto. Uma que andava sempre triste, sem que se percebesse porquê. Mais tarde viria a suicidar-se. Mas isso, muito tempo depois. Naquela altura, apenas causava estranheza tamanha infelicidade. Ou o irmão da namorada de um dos meus tios que regressou da guerra e que veio cheio de angústias, gritos a meio da noite, e deixou de querer participar nas actividades do grupo, não queria sair de casa. Falava-se à boca pequena, veio perturbado. Ouvia-as a conversarem, davam conselhos. Falavam baixo. Mas eu era miúda, percebia que algo de grave se passava, ouvia falar em guerra, mas, ao certo, não sabia nada. E o grupo continuava a ser a mesma alegria.

E a verdade é que, de modo geral, tenho atravessado o tempo assim, transportando boas memórias, momentos de leveza. Apesar de pressentir que, tantas vezes, há o lado menos bom da vida, sentindo que, por vezes, esse lado chega perto de mim, os meus passos têm-me transportado para os campos cheios de luz onde o passado é bom de recordar e o futuro é para onde sempre quero ir.


Mas agora estou onde nunca estive, a meio de uma fissura que parece abrir-se sob os meus pés. 

Hoje estava a ver o fim do noticiário da TVI quando vi que o Paulo Portas tinha trazido um coro a entoar Verdi, cada um em sua casa e, também em sua casa, o maestro. Custa a acreditar que pudesse ter soado tão bem. Emocionei-me ao assistir, tão bela a música, tão bela a interpretação, e emocionei-me ao ver como, de uma forma ou outra, nos vamos todos adaptando a estes tempos de incerteza e medo. Mas a seguir falou o José Alberto Carvalho. Emocionado, esforçando-se para conseguir falar, deixou-me presa ao que dizia, deixou-me angustiada por ele, pelo sofrimento dele. Muito impressionante, muito triste. Que tempos estes em que nem para confortar quem perde um ente querido, nem para acarinhar os filhos ou netos, nem para sossegar os pais, se pode dar um protector abraço. Que tempos estes, que tempos estes, deus meu. 

Como me parecem longínquos e tão ingenuamente felizes os tempos do meu passado.

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As fotografias, como é bom de ver, foram feitas in heaven, lugar onde se recebem de braços abertos todas as estações

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Tomara que, não tarda, venham novos tempos e que, de novo, possamos estar juntos, abraçar-nos, dançar, ser despreocupados e felizes.


A todos desejo uma semana o melhor possível.

Saúde. E esperança.

quarta-feira, junho 13, 2018

Introspecções e outras visões





Mais um dia longe do mundo. Assim vão estes meus dias. Quando ia a sair, disse 'até amanhã' e umas que ainda lá ficaram olharam para mim a rir. Não percebi aquele sorriso. 'O que foi?' Entre sorrisos, elas explicaram, : 'Presume-se que amanhã não venha, não...? Amanhã é feriado'. Recentrei-me e sorri também, 'Ah, pois é... ' Tinha-me esquecido. Bolas, a desejar tanto ter tempo livre e, afinal, tinha-me esquecido. E, no entanto, Lisboa cheira a festas por todo o lado. Barraquinhas, esplanadas nos passeios, festões e balões, cheiro a sardinhas, turistas, turistas, turistas. E, apesar de tudo isso, tinha-me esquecido. Senti-me a mais palerma das palermas. E pensei: como será que me vêem? Despassarada? Aluada?


No outro dia aconselharam-me: devia prestar mais atenção à forma como as pessoas a vêem. Não quer dizer que a visão dos outros seja mais correcta do que a sua própria mas, se prestar atenção, terá uma outra visão e isso é sempre enriquecedor. Contestei: presto atenção. Sei ver quando alguém não está bem, interesso-me, as pessoas procuram-me para desabafar ou para se aconselhar. Disseram-me: quem a conhece melhor, sabe que é diferente da imagem que passa nas primeiras impressões mas não é isso, é prestar atenção à forma como as pessoas a olham. Não argumentei. Se é isso, então, é isso. Depois continuaram: não planifica a sua vida, parece não ter ambição. Confirmei. Mas foram mais longe: não é normal, na sua posição, ter tal desinteresse pela sua 'carreira'. Encolhi os ombros e disse: não vou mudar, isso é muito intrínseco em mim. Mostraram-me um gráfico. A seta estava no encarnado, perto do zero numa escala que ia até ao cem. Perguntaram: porquê? Pensei um pouco porque estava a pensar nisso pela primeira vez. Expliquei que a minha vida tem muitas parcelas e não quero que nenhuma delas devore as outras. Se me focasse demais numa das vertentes da minha vida, no trabalho, por exemplo, faltava espaço para as outras. E se me concentrasse muito em atingir um determinado objectivo, deixaria de estar alerta a factores inesperados que talvez seja melhores do que aquele que eu desejava atingir. Disseram: as suas opiniões são sustentadas, alicerçam a sua maneira de ser. Na sua óptica tem razão e, se calhar, faz sentido mas estas análises são feitas contrastando a maneira de ser de uma pessoa com a média de muitas outras pessoas que desempenham funções idênticas. Encolhi os ombros. Pensei: o que é que eu tenho a ver com isso? Como se adivinhando, disseram-me: não quer saber de nada disto, pois não? Confirmei: não quero. Concluíram: é uma pessoa desalinhada. Também me disseram que sou fora da caixa. E outras coisas. Quando cheguei a casa contei e mostrei o relatório. O meu marido riu-se e disse: 'E achas bem seres assim maluca?'. Respondi-lhe: 'Não sei se sou ou se deixo de ser, nem acho bem nem deixo de achar'. Ele rematou: 'É o que eu digo e agora está confirmado: és maluca'. Hoje, ao jantar, a propósito não sei do quê, gozou comigo, e, quando eu não percebi, explicou e, depois, concluiu que eu devia prestar atenção aos conselhos que recebo. E perguntou-me: 'Não reconheces que só um santo podia viver com uma pessoa tão atípica como tu?' Eu disse que ele deveria estar agradecido por lhe ter saído o brinde e não a fava. E ele riu-se e desvalorizou: qual brinde qual carapuça.


Hoje, à tarde, uma pessoa perguntou-me como tinha sido, o que me tinham dito. Omiti as coisas positivas e disse: que devo prestar atenção à forma como os outros me vêem. Ele sorriu. Continuei: que muitas vezes a imagem que passo é a de que me estou nas tintas para o que os outros pensam de mim. Ele riu. Perguntei: 'É?'. E ele, rindo: 'É'.


Lembro-me da minha mãe: 'Não chegues tarde, não faças isto, não faças aquilo, vê lá o que vão dizer de ti ou o que vão as tuas tias dizer ou as vizinhas reparam e comentam'. Ficava aborrecida com a maneira de ser da minha mãe por se preocupar com a opinião dos outros. Nunca liguei a tal coisa e achava que a minha mãe se menorizava por se condicionar para não despertar opiniões menos abonatórias. Dizia-lhe: 'Sou como sou, faço o que quero e estou-me nas tintas para as opiniões dos outros'. Era a grande, e creio que única, razão das minhas divergências com a minha mãe. Ainda hoje, se sabe que vou estar com alguém da família, olha para mim, examina-me, diz que me penteie, pergunta se não podia ter vestido nada melhor. Já não respondo. Mas, apesar de tudo, está bem melhor agora do que quando era mais nova.

Só agora aos oitenta e tal é que ela começou a libertar-se: no outro dia estava com umas calças justas em cor de pérola, uma blusa justinha às risquinhas e tinha um colete que eu lhe tinha dado e que ela não usava porque é fúcsia e justo e ela achava que não tinha idade para coisas daquelas. Agora gosta de se ver. Quando começou a ser ela mesma, parece que lhe tiraram vinte anos de cima.


No meio da outra tal conversa, disseram-ne: não guarda ressentimentos, pois não? Confirmei: zero. Ponho para trás das costas. E, como sou muito primária, mal ponho para trás das costas, esqueço-me. Às vezes até penso que devo ser anormal. Disseram: mas isso é bom. Há muita gente que faz terapia durante anos para conseguir ser assim. 

Mas sei lá. Nem sei nem quero saber. Mas um dia que tenha tempo, a ver se consigo ler o relatório todo. Tem para aí uma dúzia de folhas e parece-me muita folha para me desconstruir. Não sei se terei paciência para ler tanta coisa sobre matéria tão pouco sexy. A parte dos conselhos, então, deve ser uma seca.


O que me chateia no meio disto tudo é não ter tempo para fazer tudo o que quero. No congresso do PS não falaram que iam fazer com que as pessoas tivessem mais tempo para si próprias ou que as pessoas trabalhassem menos horas à medida que vão tendo mais anos de antiguidade? Tenho ideia que sim. Espero bem que sim. Por exemplo, se pudesse trabalhar para aí só umas seis horas por dia era bom. Podia ficar livre a meio da tarde para poder caminhar à beira rio, depois ler, quiçá tentar descobrir como se faz meditação, estar tranquila, sem pressas. 


Também já estive a fazer o euromilhões e desta vez até fiz o totoloto. Se fosse contemplada, ficava a viver só de rendimentos até atingir a idade da reforma. Claro que ocuparia parte do meu tempo a cortar mato, a desramar árvores, a varrer o chão e outras daquelas actividades que tanto me motivam e realizam. No fundo, conseguir isso é a minha verdadeira ambição. E, por muito que isto possa parecer uma maluqueira, juro que estou a falar a sério.

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Um bailado líndissimo para enlevar a alma

Orphée et Eurydice de Gluck / Ópera dansada por Pina Bausch



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Ilustrações de Toni Hamel

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quarta-feira, maio 10, 2017

Alô, alô Helena Almeida: já conhece a Gina G?


Esta aqui abaixo é a Helena Almeida numa daquelas suas 'cenas maradas' que me deixam sempre muito admirada.

Diz ela: Ando em círculo; os ciclos voltam. O trabalho nunca está completo, tem de se voltar a fazer. O que me interessa é sempre o mesmo: o espaço, a casa, o teto, o canto, o chão; depois, o espaço físico da tela, mas o que eu quero é tratar de emoções. São maneiras de contar uma história.

Aqui, ela mostra-se a Voar


E esta aqui abaixo é a Gina G. de que ontem já falei, que se mostra em Dias de uma solitária divertida dizendo:

Isto não tem nada que saber, não querendo mostrar duplo queixo ou olheiras ao meu público, é desviar-me desse assunto.


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E, já agora, acho que a Pina Bausch era moça para completar o trio



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E dias felizes a todos quantos por aqui passam.

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domingo, dezembro 06, 2015

Molhado o rosto de areia e de sal, pelas ondas, e o vento desenhado com traços de alegria e desalento, mais o estampido da rebentação


Se, como abaixo contei, comecei o meu dia rente ao rio, já de tarde andei, uma vez mais, junto ao mar. Pelo meio, ocupei-me de afazeres domésticos, tantos, de afazeres familiares, o meu pai abatido depois do internamento hospitalar, a minha mãe sempre atarefada, ocupei-me de compras natalícias (tanto me recomendam que, como habitualmente, não deixe tudo para a última hora, que hoje já comecei a cumprir a missão -- mas a que custo... Ir para um centro comercial ao fim de semana é sacrifício a que me custa muito sujeitar: muita gente, muito calor e eu muito impaciente).

Mas, algures a meio de tudo isto, fomos até à praia. Uma tal maravilha, uns momentos tão, tão bons. Apanhámos sol, passeámos, fotografei as águas azuis e verdes, os surfistas que cavalgam as ondas, as gentes que se alimentam de luz, aspirei a o ar limpo, senti a frescura alva que se evola da rebentação.




A beleza é muita, a felicidade que se desprende de uma natureza assim é também muita, muito genuína, muito simples, e as pessoas aproveitam o privilégio que é habitar um mundo assim, cheio de paz e luz. Umas caminham águas adentro, outras deitam-se na cama de areia macia, outros sentam-se na beira da praia, conversando, sentindo o tempo a oscilar, sereno e infinito como as marés.


E muitas passeiam, passam sorrindo, falando, namorando, desfilando o seu corpo feliz, banhado pelo sol. Uns para cá, outros para lá, e eu, ser invisível, fotografando sem que ninguém me veja, caminhando entre vozes, risos, maresias.


O mundo neste estradão à beira-mar é um mundo diverso: enquanto uns se deitam, corpos quase nus ao sol, outros mergulham, afoitos, nas águas revoltas, enquanto uns brincam com os cães junto ao rebentar das ondas, outros lêem um livro, absortos em relação à vida que os rodeia, enquanto uns andam descalços, escorrendo depois de saírem do mar, outros usam meias, botas, agasalhos.


A criança brinca com o cão e o cão brinca com a criança, um tenta enganar o outro, e o outro finge que se deixa enganar. O menino tem a vida inteira à sua frente e um mundo para reconstruir, o cão tem a sabedoria dos animais que sabem, desde sempre, que a única coisa que importa é o afecto incondicional, o afecto presente, o afecto expresso, declarado, vivido, retribuído.


E há Apolo feito homem. Não sonho, não mito, não lenda, não figura de pedra ou desenho de pintor: um corpo vibrante, apressado, caminhava ao encontro das águas. Como um lençol com dobras de rendas e espumas, o mar convidava e o jovem avançava resoluto ao seu encontro. Cavalgará, esporeará as ondas, por-se-á de pé, desafiando a força das águas que se elevam, deitar-se-á deixando que a carícia das marés o abracem com vigor.


Depois entro eu. Quase. Caminho pelo pontão, vou até ao fim, vou para perto do rebentamento. Percebo a atracção pelo mar, pelo fundo do mar, pela rebentação. Sinto o ar molhado, os salpicos brancos e frescos. O chão está molhado, poças de água, as rochas estão escorregadias. Um pouco mais abaixo, as rochas estão lavadas por mil águas e o perfume da maresia é intenso. Pudesse eu, ah pudesse eu deixar-me ir, descer até onde o corpo sentisse o mar intenso, deixar-me ir, mergulhar neste mar encantado e cheio de vida. 


Saímos com a luz a esvaecer-se, o sol a deitar-se sobre o mar, a espalhar a sua luz sobre o rebentamento suave onde os cavaleiros das ondas deslizam. Na beira da água uma mãe brinca com o filho, debruça-se, talvez lhe ensine o prazer do mar, talvez escute as suas perguntas, talvez lhe diga poemas onde as palavras cheirem a limos, a algas, a medusas transparentes, a ondas luminosas.


Vem sobre os mares,
sobre os mares maiores,
sobre os mares sem horizontes precisos,
vem e passa a mão pelo dorso da fera,
e acalma-o misteriosamente,
ó domadora hipnótica das coisas que se agitam muito!

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E agora dancemos nas águas, chapinhemos como crianças, brinquemos, festejemos a frescura da alegria nos dias de sol

......

O excerto de poema acima pertence a Vem, noite antiquíssima e idêntica de Álvaro de Campos in Antologia Poética de Fernando pessoa com ilustrações de Pedro Proença.

O título do post faz parte do poema Marés vivas de Agosto de José Carlos de Vasconcelos in 'A vista desarmada, o tempo largo' (Poetas em homenagem a Vasco Graça Moura.

Lá em cima no vídeo é o Poema azul de Sophia de Mello Bryner, voz de Maria Bethania.

O bailado é Vollmond (Lua Cheia), uma coreografia de Pina Bausch.

As fotografias foram feitas na Costa de Caparica.

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E queiram agora, se vos apetecer, claro está, descer até à beira do rio onde comecei o meu dia. 

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quarta-feira, abril 16, 2014

É dança? É teatro? Ou é apenas vida?


No post abaixo já me referi à rábula O Láparo e seu devoto pet - um sucedâneo de manequim dos Fanqueiros (o verdadeiro mora num palácio em Belém) à fala com um sucedâneo de papagaio (o original habita na RTP 1) na SIC. 

Pouco a dizer a não ser que aquilo foi produto de quinta categoria. Entrevista não foi, espaço de opinião também não que aquilo não tem cabeça para tanto, número de humor também não que a gente nem se consegue rir com uma cena tão indigente. Olhem: pastiche, pechisbeque.


Sejam turcos ou romanos, os poderosos humilham-nos sempre.
Meu Deus, tende piedade.


Agora que já arrumei a casa, estou de volta para limpar o ambiente por estas bandas. Nada pior que cheiro a coelho. E, portanto, é hora de uma limpeza profunda. Já abri a janela, já estou junto ao imenso céu rodeada pelas luzes da cidade grande, o rio silencioso a vigiar-me lá em baixo. Que venham agora, portanto, os pássaros, as mulheres e os seus amantes, a música, o sonho.

Pina. Não é a primeira vez que Pina aqui vem e não será certamente a última. A beleza do movimento sem propósito, a liberdade delirante, o voo sem destino.



Is it dance? Is it theater? Or is it just life?

Love. Freedom. Struggle. Longing. Joy. Despair. Reunion. Beauty. Strenght.

Dance, Dance. Otherwise we are lost...



O filme Pina é realizado por Wim Wenders

Intérpretes: Pina Bausch, Regina Advento, Malou Airaudo, Ruth Amarante, Rainer Behr


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Deseja-se muita vez a repetição das coisas; deseja-se reviver um momento fugaz, voltar a um gesto falhado ou a uma palavra não pronunciada; esforçamo-nos por recuperar os sons que ficaram na garganta, a carícia que não ousámos fazer, o aperto no peito para sempre desaparecido. 


Reyes, batallas, elefantes.
Battaglie, re, elefanti


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E depois a solidão.



Lost in Motion

Realizador: Ben Shirinian; Coreógrafo: Guillaume Côté
Bailarina: Heather Ogden


Música: "Avalanche" interpretado por Leonard Cohen 



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As citações em itálico são ínfimos excertos do livro que me encantou Fala-lhes de Batalhas, de Reis e de Elefantes de Mathias Énard de que já aqui falei no outro dia.

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Permitam-me, por favor: não queiram, depois da beleza dos movimentos em liberdade e das palavras dolentes como a suave música das cítaras, entrar na toca do láparo anão aqui abaixo. Não é coisa bonita de se ver.

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E, por agora, fico-me por aqui.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quarta feira.


terça-feira, outubro 01, 2013

'Os Idiotas' de Rui Ângelo Araújo juntam-se a 'O Anão' de Pär Lagerkvist - 'Solte os Cachorros', diz Adélia Prado e eu peço a Claudia Galhós para trazer Pina Bausch porque me apetece ter aqui a vida em forma de dança. Mas, primeiro, vamos até 'Sob o Signo de Amadeo' no CAM não sem antes assistirmos a uma sessão fotográfica de um casamento extraordinário nos Jardins da Gulbenkian. O curto comentário sobre o PS de António José Seguro é, aqui, apenas um breve aparte.


No post a seguir a este transcrevo dois textos enviados por Leitores de Um Jeito Manso. O primeiro refere-se a um muito esclarecedor artigo de José Vítor Malheiros e o outro é um conjunto de citações de Natália Correia nas quais ela antevia algumas das desgraças que estavam para se abater sobre este mal estimado País.

Mas isso é mais abaixo. Agora, aqui, a conversa é outra.

*

De um verão tardio, quente e doce, das folhas que mal chegaram a amadurecer, que não chegámos a ver cheias do sangue suave que vem do lugar mais secreto da terra, eis que passamos directamente para a macieza da neblina, da chuva branca, constante, branda. 

A terra que estava quente deixa agora sair os seus odores mais íntimos. A natureza recolhe-se, envolta em seda húmida e nós recolhemo-nos com ela. A nossa casa é, assim, o ninho, o ventre, o aconchego.

Desde ontem que uma chuvinha quase imperceptível cai sem parar.  Lisboa hoje esteve britânica. Não sei se é nevoeiro, se somos nós no meio das nuvens. Também não sei se os vendedores de castanhas já chegaram ao Chiado. Dias assim combinam bem com um leve perfume a coisas queimadas, a braseiros, a lareiras.

Adiante.

Hoje deveria fazer o rescaldo das eleições, agora que os resultados são conhecidos e que já houve tempo para meditar sobre o sucedido. Mas eu sou pessoa de primeiras impressões. Já disse ontem, a quente, o que me parecia e agora já não me apetece chover no molhado.

De qualquer maneira um comentário deixado no texto sobre as eleições deixou-me a pensar. Foi esse comentário (do Leitor jar) e foi a crónica diária de Fernando Alves. Talvez eu esteja a ser injusta para com o António José Seguro. A resiliência de que tem dado mostras abona a seu favor. No entanto, acho-o excessivamente cauteloso, talvez calculista, e sem rasgo, sem aquela determinação quase predadora, aliada à intuição, a que vulgarmente se dá o nome de killing instinct e que me parece imprescindível para abrir caminho neste mar pejado de alforrecas. Mas talvez seja porque não o conheço bem, talvez seja porque pendo mais para quem tem ar de ser capaz de ser mal comportado (e ele tem ar de não partir um prato). É também certo que António Costa tem vacilado quando toda a gente esperaria que avançasse e não é menos verdade que, apesar de tudo, sempre tem tido o respaldo das lideranças do partido. Seja. Vou tentar ser mais open-minded e aguardar com alguma paciência que o Tozé me surpreenda. Tomara.

Mas agora vou falar de outra coisa, uma de que muito gosto de falar: livros.

No entanto, vamos por partes.


Este domingo, entre visitas familiares, eleições, caminhadas, culinárias e outros afazeres e prazeres, fui ver a exposição alusiva a Amadeo Souza-Cardoso que está no Centro de Arte Moderna da Gulbenkian, Sob o Signo de Amadeo, Um Século de Arte



Almoçámos lá, é claro, o self do CAM é um clássico nos meus domingos. E não escaparam os célebres peixinhos da horta, a bola panada de esparregado e outros acepipes, bem como o inevitável cup de fruta e as maravilhosas sobremesas. Claro que, com os pimentinhas a armarem confusão, o almoço nunca é tranquilo mas, enfim, os benefícios da tranquilidade são relativos quando se pode optar pelos risos, pelas brincadeiras, pelas conversas descontraídas.

Naturalmente que tivemos também o habitual número dos patos e as corridas pelos caminhos no meio dos bosques, à beira dos lagos ou entre as pedras, esconderijos, canaviais e todos esses atractivos que fazem a delícia de pessoas de todas as gerações. Entre a chuva miudinha lá andámos como se estivesse um dia de sol.

Este domingo, contudo, os jardins da Gulbenkian tinham um atractivo suplementar.

Um casamento em peso deslocou-se até lá, presumo que para a realização da sessão fotográfica.

A particularidade era que se tratava de um casamento negro com umas toilettes do mais vistoso e colorido que se pode imaginar.

Os sapatos delas, então, eram qualquer coisa de extraordinário.

Alguns pejados de brilhantes, todos com saltos de meio metro de altura.

Por ali cirandavam, decotadas, engalanadas, e encavalitadas em cima daquelas obras de arte, com os pés ora se enterrando na terra húmida ora tendo que ter mil cuidados para não ficarem com os saltos presos nas pedras da calçada.

Andavam sorridentes, fotografando-se umas às outras, uma animação que dava gosto.

Nem reparavam nos turistas nem nos habituais frequentadores da Gulbenkian, era como se aquele fosse apenas um jardim quase privado onde se tinham reunido para fazer uma magnífica sessão fotográfica.

Tive vontade de lhes pedir que me autorizassem a fazer a minha própria reportagem fotográfica, tão espantada e deliciada eu estava com tudo aquilo.

Mas, como sempre, não me permitiram, fui arrastada para longe do cenário.


Mas, voltando ao Amadeu. O Centro está como que em festa. Um prazer andar por lá.

Por todo o lado há ‘cenas’.

Logo no grande átrio de entrada há cadeiras em cima de uma carpete, estantes, coisas assim. Olhámos à volta não fosse aquilo ser uma instalação. Temos esta coisa com a arte contemporânea: o nosso olho ainda não está suficientemente educado. Mas não nos pareceu.

Mal os pimentinhas se puseram em campo, a primeira coisa que fizeram foi dirigir-se cada um a sua cadeira, como se prontos para assistir a um qualquer espectáculo.

Ainda mal eles estavam a trepar, já uma funcionária vinha a correr, que não, que não, que aquilo era uma instalação. Olhámos em volta tentando perceber. Depois lá descobri uma descrição numa parede.

Podem ver aqui já com público e talvez sejam mais espertos que eu e percebam exactamente de que se trata.

Não vou aqui falar de tudo, apenas dizer que o espaço de exposições do Centro é luminoso, amplo, parece ligado aos jardins,  e qualquer obra parece valorizar-se ainda mais quando ali exposta.

Quem o conheça, concorda certamente comigo. Quem o não conheça e tenha oportunidade, não deixe de o vir conhecer. É magnífico.

Enquanto eu fiquei logo presa aos bonecos do José de Guimarães que estavam na entrada, os pimentinhas partiram à descoberta, parando num outro conjunto de cadeiras mais à frente (se tiverem clicado no link mais acima, poderão ver de que estou a falar).

Quando cheguei perto deles, ali andavam de roda, podemos? Não podemos? E já de perna alçada, prontos para se irem aboletar - e todos a travá-los, que não, que não, é uma obra de arte, então não ouviram o que a senhora disse? 

Mas eis que um outro funcionário se nos dirigiu, que sim, que se quisessem podiam sentar-se.

Vá lá a gente perceber estes artistas contemporâneos.

Mas é bom que as crianças, desde pequenas, tomem contacto com coisas bizarras, isso abre-lhes a cabeça para aceitarem a diferença.


Mas não era exactamente sobre isto que eu hoje ia escrever.

Hoje era sobre o regresso ao aconchego da casa, ao ninho. Para o ninho para o qual eu transporto laboriosamente aquilo com que me vou abrigar, aquilo de que preciso para me aconchegar e proteger das inclemências. Hoje falo, portanto, de livros.


Para vos mostrar, fiz a minha própria instalação. Sobre uma écharpe em tons saison, antracite, terra e ouro, dispus Os Idiotas de Rui Ângelo Araújo e fi-los acompanhar de outros que lhe fizessem boa companhia.





Ainda não tive tempo de ler Os Idiotas. Folheei apenas. A mancha de escrita na página começou logo por gerar em mim alguns anti-corpos. Gosto de páginas cuja escrita não seja invasiva, que deixe algum espaço para respirarmos. Talvez para poupar no número de folhas, e esse será certamente um argumento muito válido, a escrita invade a página em mancha demasiado compacta e até muito abaixo. Será uma barreira que vou ter que ultrapassar. Ainda por cima, a sinalefa da editora ao lado de cada número de página não acrescenta e, pelo contrário, introduz ruído na página. (Pormenores, claro: sou muito cheia de comichosices, eu sei)


Mas, do que li, em diagonal e salteado (é sempre assim a minha primeira abordagem), pareceu-me apelativo e deixou-me com vontade de ler com vagar.

Transcrevo um excerto (pag.32) apenas para dar o tom:

Devo dizer que o mito de Édipo não é para aqui chamado. Eu não estava a confundir a cidadezinha com o velho e a última coisa que me teria ocorrido seria casar com a minha própria mãe. O rapaz que eu fui queria partir sabendo que deixava para trás também a velha. Era um pack que na época me entusiasmava, três em um. A ela tinha-lhe amor filial, mas era demasiada feia e gorda para despertar em mim outro género de paixões. Não vou ser hipócrita ao ponto de dizer que o amor é cego. Pelo menos o amor carnal não o é, não me lixem. Aliás, não é alheio a essa constatação o visual que fui descuidando com esmero. Houve uma altura em que pretendia foder amiúde; como depois o que queria era que não me fodessem, decidi escolher um estilo adequado e deixá-lo arruinar-se por si mesmo. (Talvez não tenha sido bem uma decisão, mas estão a perceber.)


Porque me parece que seria uma boa companhia para Os Idiotas fui buscar O Anão de Pär Lagerkvist. Eis, pois, um excerto deste livrinho imperdível (pag.19):


O confessor da princesa vem aos sábados de manhã, a uma hora fixa. Há muito tempo que ela está lavada e vestida, tendo passado um bom pedaço em oração diante do crucifixo. Está bem preparada para a confissão.
Não encontra nada para confessar. E não é por hipocrisia nem por ardil; pelo contrário, fala com o coração nas mãos. Mas não faz a menor ideia do que seja pecado. Crê não ter feito nada de mal. Quando muito, acusa-se por se ter impacientado contra a camarista, por esta ter sido desajeitada ao penteá-la. É uma página branca sobre a qual se inclina, sorrindo, o confessor, como sobre uma virgem imaculada.


E, para enquadrar devidamente aqueles dois, chamei a Adélia Prado com o seu ímpar Solte os Cachorros (já aqui a trouxe antes mas, porque me agrada muito, tem direito a encore). Um bocadinho apenas (pag 46):


Um minuto de estrondo à idade reencontrada. As taças para um brinde, porque hoje sou de novo uma mulher de sutiã grená, polindo os dentes sem pressa e desenhando a boca em coração. Basta, nem só eu respondo pela fome do mundo, e vou certificar-me: se ainda me olham duas vezes, se ainda intimido, se pelo que amo ainda faço a face dos homens abrandada e ansiosa. Enquanto dura a trégua, vou guerrear.


E, porque never mind the gap,  não podia faltar Pina Bausch. Vem pela mão de Claudia Galhós (pag 206) e vem dançar para quem goste da vida inteira.


Tão vivas as emoções que se permitiam surgir ardentes em cena, viscerais, violentas, sedutoras, esmagadoras. E tudo isso pareceu ruidoso num mundo amordaçado, silenciado pelo assassínio em massa, pela devastação da vida humana, pelo medo de se exprimir.
As emoções escondiam-se, por entre os lençóis, à noite, para não acordar o vizinho e não denunciar a existência de um coração pulsante. A vida escondia-se muito lá no fundo e, quando a dança acontecia, as pessoas queriam esquecer. Esquecer tudo. Principalmente a vida lá fora. Com Pina Bausch isso não foi mais possível.


Não esqueçamos, pois




Apetecia-me ainda juntar a estima de Valdemar Cruz pelo Poeta Cansado, António Ramos Rosa, mas já não consigo, são duas da manhã e daqui a nada tenho que estar a pé. Por este motivo não vou conseguir reler este texto que me saíu outra vez longo demais pelo que vos peço que relevem trapalhadas, vírgulas voadoras, letras trocadas, coisas do género. Ainda por cima isto hoje está de uma lentidão horrorosa, ou é o computador ou é a internet, não faço ideia, eu escrevo uma coisa e o cursor ainda está lá para trás, depois reescrevo e aparecem-me as coisas escritas duas vezes, depois volto atrás para apagar e nunca mais lá chego. Um desespero.

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Relembro que, se descerem um pouco mais, poderão ler um artigo imprescindível de José Vítor Malheiros e excertos premonitórios de Natália Correia.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira!

quinta-feira, fevereiro 02, 2012

Agent Provocateur, a lingerie de luxo; Dita von Teese, a dama do burlesco; Pina, a feiticeira da dança - a seguir ao pôr-do-sol sobre o Tejo


Há pouco quando o sol se pôs no Tejo, o Bugio ao fundo, uma visão de nos fazer ajoelhar perante tanta beleza

Meus amigos, hoje cheguei muito tarde a casa, logo que pude vim para aqui, passei fotografias para o computador, depois estive a responder aos comentários, a seguir coloquei uma fotografia no Street Photo, depois passei para o Ginjal  e escolhi uma música de Gershwin, depois um poema da Tatiana Faia - uma menina de Lisboa, nascida em 1986, que é uma poeta que nem vos digo nada - depois escolhi mais uma fotografia e escrevi um pequeno texto e, agora, já passa da 1 da manhã, tenho que me levantar cedo, (como de costume, ou melhor: mais cedo ainda, porque vou apanhar pessoas que não têm transporte devido à greve de transportes), e estou aqui completamente perdida de sono, muito cansada mesmo - ou seja, hoje não estou capaz de escrever mais nada. Desculpem-me.

Mas, ainda assim, para que a vossa vinda não tenha sido totalmente em vão, aqui vos deixo umas distraçõezitas, coisitas inocentes, inócuas, educativas.

A propósito da notícia que correu sobre o gosto de Michelle Obama pela marca de lingerie Agent Provocateur, aqui fica um pequeno filme com uns ensinamentos sempre úteis. Não é a Paula Bobone mas é a Paz de la Huerta, senhora também da alta sociedade como verão:



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E como isto da lingerie é como as cerejas, por lingerie lembrei-me da Dame du Burlesque Dita von Teese e, assim sendo, escolhi um dos filmezitos mais adequados a todas as idades (a maior parte é para maiores de 18 e este blogue, como é sabido, é um blogue de família):



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Ok, aceito. Há muita gente que não aprecia o género, eu sei. 

Então, para os que são atilados e intelectuais, quiçá até para alguns economistas sisudos e preocupados com a crise, ou para os professores que têm que manter sempre arte e cultura em estado puro na alma, ou para os que andam cansados de tudo e já não conseguem ter paciência para meninas que têm a mania que são giras, aqui vos deixo uma dança do melhor que há, Lillies of the Valey, música de Jun Miyake, coreografia de Pina, por Wim Wenders. Desta vão gostar, garanto, é linda:


E por hoje não dá mais. Sorry. Se amanhã não escrever nada, já sabem, é porque caí aqui agora a dormir e assim, ferradinha, vou ficar durante 48 horas de seguida que é aquilo de que estou mesmo a precisar.

Tenham uma boa quinta feira, meus Amigos. Estamos quase no fim de semana!
  

sexta-feira, novembro 18, 2011

Homenagem às mulheres que voam, que têm almas de pássaro - Pina Bausch, uma alemã sem peso, cujo coração continha poesia, cujos pés mal tocavam o chão e de cujos braços nasciam estranhas asas














Pina (diminutivo de Philipine) Bausch (1940-2009) foi uma coreógrafa alemã, bailarina, professora de dança e directora do Tanztheater Wuppertal Pina Bausch - e foi mais uma mulher com alma de pássaro.

Conhecida principalmente por contar histórias enquanto dançava, as suas coreografias continham sempre apontamentos poéticos, intemporais, por vezes estranhos, e eram, geralmente, baseadas nas experiências de vida dos bailarinos e feitas conjuntamente com eles, incorporando aspectos recolhidos durante as tournées.


Tenham, meus Caros, um belo dia. Que a malaise que anda no ar, os receios de que a Europa impluda, o risco sistémico de um incumprimento generalizado, e tudo o que de virulento e inquietante paira sobre nós, não vos deprima, não vos desmotive - coração ao largo que nada disto depende de nós, bola para a frente.

Por isso, let us fly!