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terça-feira, maio 20, 2025

Reflexões na ressaca

 

Isto não está fácil, confesso. Não me apetece escrever. No domingo à noite deitei-me tarde, atordoada. Os resultados das eleições viraram-me do avesso. Eram seis da manhã e ainda não dormia. Já o dia clareava e eu sem sono. Depois acordei às oito e picos e parecia-me que já não tinha sono. Forcei-me a dormir mais um pouco. Mas pouco mais. Íamos ao ginásio e depois ainda tínhamos várias coisas a fazer. Ou seja, mal dormi.

Por isso, de tarde, lá para as cinco, deitei-me ao sol, na espreguiçadeira, e adormeci. Não muito pois as nuvens passavam a vida a cobrir o sol e ficava frio. 

Há pouco, estávamos a ouvir o Paixão Martins, adormeci de novo. Micro-adormecimentos mas o suficiente para não ter conseguido acompanhar com seguimento.

Ainda não recuperei do entorpecimento, do estupor catatónico em que, interiorente, fiquei.

Do que me chega, há pessoas bem na vida, instaladas, umas que ainda guardam ressentimentos do 25 de Abril e que votam no Chega pois acham que o Ventura vai ajustar contas com esse passado. Outras, quadros em boas empresas, querem simplesmente rebentar com 'isto tudo'. Se calhar, pessoas mal sucedidas na sua vida pessoal (mas isto já sou eu a dizer). Quando pergunto a quem conhece essas pessoas o que é que, na verdade, elas acham que o Ventura pode fazer por elas, a resposta é que isso não é questão que se ponha. Não pensam tão longe, limitam-se a querer rebentar com as coisas. O que vem a seguir é tema que não lhes ocupa o pensamento. Outro caso, nos antípodas, um conhecido que não estudou muito, que começou a trabalhar, trabalho pouco qualificado, faz uns 'ganchos' ao fim de semana para compor o ordenado. Vota no Chega porque diz que os 'outros' não fazem nada por ele, acredita que o Ventura é capaz de fazer. Pergunto: mas fazer o quê, em concreto? A resposta é a mesma: o pensamento dele não vai até esse ponto.

No outro dia, vi na televisão uma dessas que vive certamente numa realidade pobre, suburbana, mas que deve sentir que vive numa realidade alternativa ao viver permanentemente nas redes sociais. Percebe-se que, certamente, tem como ídolos algumas conhecidas influencers. Usava várias vezes a expressão: 'quero tudo a que tenho direito'. Ao ver as influencers andarem pelos hotéis, pelos ginásios, institutos de beleza e restaurantes, sonha, certamente, atingir esse patamar. Pela conversa, acredito que vote Chega. Deve ser daquelas que acha que o Ventura diz tudo o que tem a dizer, não tem medo de nada, tentam calá-lo mas ele não se fica. Ou seja, veem-no como um líder que merece ser seguido. Claro que se lhe perguntarem o que é que o Ventura pode fazer por ela, não saberá dizer. Isso já é uma segunda derivada e o raciocínio não vai tão longe. Se lhe perguntarem também em que é que os 'poderosos e corruptos' de que o Ventura tanto fala a prejudicam, claro que também não saberá o que dizer. 

O Ventura navega nestas águas turvas da ignorância, do ressabiamento, da ilusão. Em bom rigor, de concreto ele não promete nada. Aliás, de concreto, ele não diz nada. Limita-se a apresentar-se como um líder, o que está aqui para salvar os descontentes, o enviado de Deus, o que vai vingar os que se sentem prejudicados. As pessoas acreditam nele sem precisarem de provas, tal como acreditam em Deus sem precisarem de provas ou tal como, antes, acreditavam no PCP sem cuidarem de saber em que país é que aquele modelo comunista funcionava. As pessoas que votam no Chega, em larga maioria, fazem-no por uma questão de crendice, de fezada.

Numa reportagem de há pouco tempo, um pastor evangélico, no Seixal, um que aluga quartos num armazém sem condições, dizia que recomendava o voto no Chega. Os iguais reconhecem-se.

Porque é que nestes subúrbios há tantas igrejas maná, evangélicas, do sétimo dia e coisas assim? O que é que aqueles pastores fazem pelas pessoas? Nada. Ficam-lhes com o dinheiro e prometem coisas, umas divinas, outras estratosféricas. E as pessoas acreditam, gostam.

Não sei como se combate isto. As pessoas com ética, com sentido de responsabilidade, honestas, não recorrem à mentira, às promessas vãs, não se prestam ao papel de fazerem vídeos estúpidos, manipulados ou falsos, apelando à vingança ou  difundindo mensagens xenófobas ou racistas, nem usam a ignorância das pessoas para explorarem as suas emoções, os seus medos, os seus anseios. Ou seja, as pessoas decentes não são capazes de usar as mesmas 'armas' que os populistas. No fundo, o terreno está livre para que os do Chega, os das igrejas alternativas ou outros movimentos do género, possam ocupá-lo e aproveitar a crendice, a ingenuidade ou os ressabiamentos de quem ali se sente entre iguais.

Como se explica a uns e a outros, ao milhão e trezentos mil que votaram no Chega, que o que está a ser feito no País é isto e aquilo, que há contas e orçamentos, que, no caso dos que ganham menos, não pagam impostos e podem usufruir de tudo (hospitais, escolas, policiamento nas ruas, etc.) sem pagarem nada. ou que há um défice demográfico no País e os imigrantes são necessários, úteis e deveriam ser recebidos de braços abertos? 

Como falar com pessoas que não querem ouvir coisas 'complicadas', cujo tempo de atenção se esgota com uma frase de cinco palavras, que não querem saber da ética dos líderes que adoram? Que apenas querem imaginar um eldorado em que elas serão tratadas como princesas com tudo a que têm direito e eles serão machos, viris, ricos, com grandes carrões?

Aqui, em França, na Alemanha, em Itália, nos Estados Unidos... agora ou há cem anos... como se combate o populismo? 

Acresce a isso, a circunstância presente, ubíqua, desregulada: como se combate o efeito nefasto das redes sociais?

Não sei.

Ou será que nem vale a pena matar a cabeça a tentar matar a charada? Será que é esquecer esta franja que sempre votará irracionalmente? Ou não? Será que deve é haver um pacto entre a comunicação social para não dar cobertura aos populistas? Ou quem está no Governo deve, simplesmente, focar-se em resolver problemas concretos e divulgar eficazmente a sua resolução? Ou não é bem isso e o melhor mesmo é ser-se capaz de criar uma utopia -- mas uma utopia realizável -- e deixar que as pessoas que precisam de acreditar em miragens tenham algo com que sonhar... e depois concretizar esses sonhos?

Em paralelo, enquanto se pega pelos cornos (ou de cernelha) o populismo, tentando impedir que cheguem mesmo ao topo, há que construir uma alternativa. Vi na TVI uma caracterização do eleitorado do Livre e da Iniciativa Liberal: um alinhamento entre escalões etários (gente mais jovem do que nos outros partidos) e formação académica (largamente com formação superior). Reforçou a minha convicção de que o futuro passa por aqui. Tivesse eu menos uns quantos anos e era bem capaz de fazer de tudo para explorar as convergências entre eles e tentar arranjar uma plataforma que fosse o motor de um movimento progressista, dinâmico, arejado, que atraísse mais gente, que gerasse iniciativas agregadoras, que avançasse com propostas de melhoria nos diversos sectores da sociedade, que mobilizasse mais gente para participar na construção de novas propostas de acção.

Enfim. Ando para aqui às voltas, preocupada com o mundo cada vez mais estúpido, disfuncional e distópico em que vivemos.

Vou ver se durmo melhor esta noite. E vou ver se, durante o dia, me entretenho mais a olhar e a fotografar as florzinhas que estão por todo o lado. Estão viçosas, lindas, os campos estão cobertos, felizes da vida como se a os temas da política lhes passassem totalmente ao lado.

segunda-feira, maio 19, 2025

Muita apreensão, muita tristeza

 

Na altura das eleições internas do PS, não me pareceu que Pedro Nuno Santos fosse a melhor opção para o PS. As pessoas de que se rodeou não me pareceram uma opção inteligente. A campanha que fez também não me pareceu inteligente. Ponderei não votar PS. Ponderei votar em branco. Mas, perante as perspectivas, achei que não deveria juntar o meu voto a quem baixa os braços e deixa, indiferentemente, que a direita e o populismo acéfalo progridam. Portanto, com pouca convicção mas por um sentimento de dever democrático, votei no PS.

Mas este PS notoriamente não dá resposta aos anseios de uma parte significativa da população. Aquelas pessoas descontentes, umas com razão e outras apenas porque gostam de ser do contra, muitas mal informadas que aceitam ser iludidas, muitas pessoas que gostavam de ser como os seus ídolos do Tik Tok e do Insta, os que votavam contra e que davam o seu voto ao PCP (ou, mais tarde ao Bloco), essas maioritariamente agora votam Chega. Se juntarmos os que votam AD, temos que o PS já é marginal face ao total AD+Chega.

É, portanto, mais do que óbvio que tem que haver uma revolução dentro do PS. E uma revolução não se faz a pensar da mesma maneira com que se tem pensado até aqui. Há que arejar a cabeça, deixar entrar novas ideias.

Por muito absurdo que possa parecer, o que venho defendendo no meu inner circle é que vejo como necessário um partido que saiba apontar a uma política aberta, com visão estratégica, em que haja justiça social, igualdade de oportunidades, mas tudo sem dogmas, uma fusão inteligente entre o que norteia o Livre e o que norteia a Iniciativa Liberal. Liberdade económica, sim, mas balizada por liberdade inclusiva, moderna, desempoeirada, sem preconceitos, respeitando a matriz democrática da justiça social. Tem que haver quem tenha visão, pulso, determinação... e ir adiante, trilhando esse novo caminho.

Não sei o que vai dar isto que hoje está a passar-se. Só ver a sala vazia do Altis me dá ânsias. Para onde foi toda a gente que antes enchia aquela sala? Fugiram? Tudo gente cobarde? De facto, com gente assim não se consegue modernizar o regime.

Já volto.

segunda-feira, junho 10, 2024

Europeias 2024 -- os quês e os porquês
Análise, partido a partido

 

PS - Com uma AD que deu origem ao actual governo -- um governo desgraçado, que tem revelado uma atitude videirinha, pacóvia, ignorante e chico-esperta --, seria expectável e razoável que o PS conseguisse uma distância mínima de 5% em relação à AD. Mas não conseguiu. 

E não venham dizer-me que o PS ainda está a arrumar a casa, a juntar os cacos (como ontem ouvi, na televisão, um débil mental a dizer). Qual desarrumação? Quais cacos? Acaso o PS estava desarrumado? Acaso alguém tinha partido a louça toda? Estão malucos ou quê? O PS estava a governar e bem, tinha a casa arrumada. Poderia estar ainda muito agarrado a velharias, gente ainda muito saudosa dos maravilhosos tempos que se seguiram à queda da ditadura, gente que continua a sonhar sobretudo nos amanhãs que cantam. Mas, tirando o aspecto da renovação que já era (e ainda é) indispensável, era um partido bem dirigido. António Costa era um líder inquestionável.

A razão residirá, isso sim, muito na forma como este PS de Pedro Nuno Santos se posiciona. Continua a querer ressuscitar a geringonça, continua a querer agradar ao eleitorado mais à esquerda, mesmo quando está mais do que claro que esse eleitorado já praticamente não existe. 

Além disso, Pedro Nuno Santos funciona na base do eucalipto: à sua volta, nada. E isso foi bem patente na forma como se apresentou agora a cantar vitória. Em vez de aparecer rodeado pela equipa dos deputados eleitos, não senhor, apareceu ele, ele e ele. E num lado a Marta Temido e no outro o Carlos César. Muito mau. Depois de ter corrido com uma mão cheia de deputados notabilíssimos, nem para com os agora eleitos teve o gesto de os levar para o palco.

Da mesma forma como na política nacional não se sabe rodear de figuras de enorme qualidade como Mariana Vieira da Silva ou Fernando Medina ou Duarte Cordeiro (e outros a quem António Costa soube valorizar). Parece apenas dar ouvidos aos geringônticos Alexandra Leitão (e, de certa fora, Mendonça Mendes).

Ao parecer querer livrar-se de todos os que eram figuras de destaque na governação de António Costa e ao parecer não saber compreender a nova realidade, o PS não sabe ir buscar um eleitorado novo nem sabe recuperar a classe média que se deslocou para a sua direita por não se rever neste PS que, com Pedro Nuno Santos, aparece aos olhos do eleitorado como anquilosado e encostado a uma esquerda moribunda.

Ouvi Pedro Nuno Santos anunciar que vão lançar uns novos Estados Gerais. Espero que daí nasçam novas ideias. Espero que percebam que não é com Carlos César e outras peças de museu ou com Alexandra Leitão e outros saudosos da Geringonça que vão conseguir contrariar a tendência descendente que se vem desenhando. De resto, também não sei se a noite eleitoral era o momento ideal para falar nisto. Sendo estas eleições europeias tão relevantes, Pedro Nuno Santos esqueceu-se disso e só falou de política nacional. Muito curto em termos de visão estratégica. O que ali vi foi sobretudo o PS a olhar para o seu umbigo, parece que incapaz de olhar para o que o rodeia e para o contexto europeu.

Espero que consigam mudar (para melhor) pois o País precisa de um bom partido social-democrata.

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AD - Beneficiam da inércia e da deficiente informação dos eleitores tal como beneficiam do colo que a comunicação social lhes dá. Com Portas e Marques Mendes a fazerem campanha activa em horário nobre, ao domingo, em canal aberto (com a conivência da Comissão das Eleições) e com uma profusão de comentadores a manipularem a opinião política, conseguiram aguentar-se. Com o que têm demonstrado desde que formaram Governo, com um eleitorado bem informado e com um PS mais assertivo e inteligente, a AD teria levado uma banhada. Não levou. Mas é o que temos. De qualquer forma, penso que é uma questão de tempo.

Montenegro, na noite eleitoral, também não se lembrou de que se estava a tratar de eleições europeias. Não deve sequer saber quais os problemas europeus. Tudo o que disse me soa a conversa videirinha, saloia, a falar muito e sem acrescentar nada.

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Chega - Felizmente sofreram um trambolhão. Gostava que lhes acontecesse qualquer coisa como a que aconteceu ao PRD, ou seja, que um dia destes o Chega acabasse. Mas não sei, não. André Ventura não acabará, arranjará maneira de andar por aí pois nitidamente tomou-lhe o gosto, é um populista que não vai ser capaz de parar. André Ventura é inteligente, é ubíquo, é uma máquina, e, como sabe lançar sound bites em permanência, a comunicação social não o larga e isso chama os eleitores. Mas, enfim, assim como assim, os eleitores souberam dar-lhe um chega para lá e isso talvez faça André Ventura refrear a sua energia destrutiva.

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Iniciativa Liberal - Subiram e subiram bem. A democracia liberal é um caminho aberto e o eleitorado jovem e com sangue na guelra  bem como uma classe média informada e exigente que se vê abandonada pelos partidos do dito centrão dar-lhe-ão ímpeto para subir ainda mais. A nível europeu, o espaço da democracia liberal será, creio que cada vez mais, o oxigénio de que a democracia precisa para impor, com alguma modernidade e juventude, os seus valores, fazendo uma barreira contra o populismo e contra a direita reaccionária que tanto nos ameaça.

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Bloco de Esquerda - Caiu e caiu bem. O Bloco é um partido que por vezes está bem mas, na maioria das vezes, está mal, sendo frequentemente populista, agarrando-se a causas marginais, assumindo atitudes justicialistas e arvorando-se em dono da verdade.

Na intervenção que tiveram a propósito dos resultados eleitorais, considero patética a sua  alucinação a cantar vitória, a rirem, às palmas, todas contentes como se não tivessem percebido que a sua representação se viu reduzida a metade. De loucos.

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CDU -- Caiu e caiu bem. Continuam agarrados a ortodoxias de antanho, defendem já não se sabe bem o quê, não percebem que já não representam quase ninguém, ignoram tudo o que de novo e relevante se passa à sua volta. A intervenção de João Oliveira e do Raimundo é alienação em estado puro. Marimbaram-se para a política europeia (realidade que, a bem da verdade se diga, lhes passa ao lado), marimbaram-se para os temas mais relevantes da actualidade e sorrindo de gosto, eufóricos, cantaram vitória e reincidiram na única e estafada lenga-lenga que conhecem. Já vão em 4% dos votos, só conseguiram um deputado, e ali estiveram, contentes como se tivessem ganho as eleições. Não sei se isto deve ser visto como uma perturbação do foro psicológico ou cognitivo mas alguma é.

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Livre -- Tenho pena que não Francisco Paupério não tenha sido eleito. O Livre é uma esquerda moderna, ambientalista, humanista, informada. Como tenho vindo a dizer, acho importante que haja uma esquerda inteligente, informada, aberta aos novos temas. Gostava que, em Portugal, o Livre crescesse pois a democracia precisa de partidos assim. E a Europa precisa também de vozes jovens, civilizadas, democráticas, abertas ao futuro.

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Abaixo, as Primeiras impressões

Europeias 2024 -- primeiras impressões

 

A nível nacional:

Continuo triste e apreensiva com as elevadas taxas de abstenção. Não me interessa que seja menos 1 ou 2% ou por aí face às últimas. Mais de 60% das pessoas não se darem ao trabalho de votar.

Continuo triste a apreensiva com a capacidade de análise e com a inércia na reacção dos votantes, ao verificar que, sendo patente a inequívoca falta de qualidade, a todos os níveis, da AD e a estupidez que foi pegarem num comentador arrogante e agressivo (o facto de ter 28 anos até é pormenor) para cabeça de lista, ainda há tanta gente a votar neles.

E, para já, neste momento, só isso é certo.

Face à votação em mobilidade, como o Pedro Magalhães explicou, as sondagens à boca das urnas que serviam para a abertura das notícias este ano não estão calibradas. Portanto, não se consegue garantir a sua fiabilidade dentro dos intervalos que, noutras condições, era seguros.

Portanto, com as devidas reservas:

  • A ser verdade que o PS não descola, fico apreensiva por os Socialistas ainda não terem percebido que os tempos são outros. Se já nem os anteriores votantes no BE e na CDU votam neles, a que propósito o PS continua enleado na doutrina gerincôntica? 
Além disso, verifica-se que a nível de votantes, a faixa maioritária é a das pessoas com mais de 55 anos. Ora isto não é bom. Se um partido não sabe perceber e responder aos anseios dos mais novos e dos intermédios, acaba como o PCP... (ie, à medida que os mais velhos forem desaparecendo, o partindo tende para a extinção. Claro que ainda está longe disso mas os sinais já aí estão)
  • Não me espanto com o que se anuncia como a subida da Iniciativa Liberal. A ver vamos.
  • Ficarei bastante contente se se verificar que o balão do Chega desinflou. Mas vou esperar pelos resultados.´
  • Não fico admirada ao verificar que a esquerda-esquerda continua a caminho da extinção. O PCP e o BE bem podem reflectir. 
  • Gostava que o Paupério fosse eleito. Nos tempos que correm, o Livre é a esquerda inteligente e era bom que continuasse a subir e a ser reconhecida.
A nível europeu:
  • Estou deveras apreensiva com o que aconteceu em França. Muito.
  • Aparentemente, é uma tendência geral na Europa, embora talvez não tão acentuada como em França. O que sempre temo, que a democracia "por delicadeza se deixe matar", pode acontecer se não formos capazes de pensar com uma cabeça nova, uma mente aberta.

NOTA: Interessante a análise que o Sérgio Sousa Pinto tem vindo a fazer na CNN.

quinta-feira, maio 16, 2024

Calma aí... Sei de um maluco, mas maluco encartado mesmo, que agora se filiou no Chega e não me admiro nada que ele adore o Tânger...

 

  • Vi o debate e até dói ver como candidato a deputado europeu uma pessoa como o Tânger Corrêa. Não se percebe qual a ideia do Ventura. O senhor é daqueles em que não se aproveita uma. Daqueles que, se eu encontrasse num recinto a dizer disparates daqueles, se estivesse com vontade de me rir e de perceber o que é o ground zero da estupidez humana até era capaz de ir até lá. Mas, em condições normais, nunca me aproximaria. A criatura não dá uma para a caixa.

Quanto aos demais:

  • A Catarina foi a Catarina. Competente na comunicação mas, a meu ver, não acrescenta. Será sempre boa oradora, será sempre fiel aos seus princípios. Mas não vejo nela rasgo nem apetência pela descoberta e pela modernidade. E o Parlamento Europeu precisa disso.
  • O jovem fofinho do PAN, de que não fixei o nome, também não me parece que risque.
  • De quem gostei outra vez bastante foi do Francisco Paupério, do Livre: sabe do que fala, tem boas ideias, tem boa atitude. Acrescenta.

Não dou votos, não pontuo. Só digo que, a ter que votar em alguém de entre os que hoje debateram, votaria no candidato do Livre. 

No dia das eleições é outra coisa e, para falar muito sinceramente, é decisão ainda em aberto.

E uma coisa me parece, mas sem dúvida alguma: é que, se os jovens que hoje não veem televisão, não leem, não se informam, e andam a votar com os pés (leia-se: no Chega ou, mesmo, na AD), tivessem contacto com a conversa arejada, equilibrada, temperada com os ingredientes do futuro do Francisco Paupério votariam, muito provavelmente, no Livre.

Volto ao parágrafo do início e ao que escrevi em epígrafe. Conheço, embora sem proximidade, um ex militar, pessoa que, em meu entender, deve ter alguns traumas. 

[No entender dele, se soubesse que eu acho isto, tenho a certeza que diria que maluca sou eu por achar que ele pode ter algum trauma]. 

Adiante. Este meu conhecido acha-se um machão, é todo militarista, mas militarista 'à antiga', acha que o país -- porque, segundo ele, anda entretido com os gays, com as mariquicices LGBT e com outras larilices do género --, não dá o devido valor aos verdadeiros cidadãos que, se necessário, darão o peito às balas. Quando fala, a conversa é um misto de revanchismo, marialvismo, nacionalismo exacerbado, conservadorismo bacoco. Pois bem, desiludido com o frouxo do Montenegro (palavras dele), anunciou há dias que se fartou de esperar que isto vá lá com conversinhas da treta e, vai daí, filiou-se no Chega. E eu tenho cá para mim que se identifica bastante com a conversa do Tânger. 

E, do que se vê e ouve por aí, não são só os malucos com vontade de acertar contas e que, volta e meia, até se mostram saudosistas da velha ordem salazarista... O que não falta é gente que não sabe nada de nada, que tanto acredita numa coisa como no seu contrato, que fala sem fazer a mínima do que está a dizer. Para gente assim, um Tânger marcha que nem ginjas.

Portanto, a ver vamos se nas Europeias não vamos assistir a um deslizar de votos da AD para o Chega...

(E será que não do PS para o Livre...?)

quinta-feira, março 14, 2024

Tempo para os deixar poisar


Há coisas que a gente pode ser levada a pensar que são objectivas, inequívocas. Mas não. Do mais subjectivas e flexíveis que há. 

Para começar, a saúde. Perante a mesma situação, cada médico diz a sua coisa. Uma pessoa pode ficar sem saber para que lado se há-de virar. Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo. Já fiz artroscopia porque, segundo o ortopedista, era imprescindível, e já ouvi vários médicos dizerem que tinha sido uma estupidez, que não havia qualquer critério para isso. Sobre a conclusão que se retirou da observação lá dentro, as conclusões foram igualmente díspares, contraditórias. E as recomendações para a prevenção de crises são igualmente para todos os gostos. Parece mentira mas é verdade.

Outra coisa que é que tal e qual é a legislação. Dir-se-ia que deveria ser fraseologia destinada a regular a existência, sem desvio, sem equívocos. Mas não. Por cada frase é preciso ouvir um monte de juristas e cada um fará a sua interpretação. 

Perante a questão do dia, se o que vale é a coligação ou se é cada partido que a compõe, já ouvi de tudo. E confesso que não sei quem tem razão pois os constitucionalistas opinam como tendo conhecimento de causa, mesmo para defenderem posições contrárias e eu, pobre de mim, sou leiga na matéria.

Também há aquilo de ainda faltarem os votos dos emigrantes que, face à escassa diferença existente, poderem vir a alterar os resultados, em especial se o que valer for a contagem dos partidos e não a da coligação.

Contudo, entre as opiniões de uns e outros, Marcelo já começou com as audições. Não faço ideia se faz bem se faz mal. Diria que, uma vez mais, está a falar antes de pensar. Mas isso sou eu.

Mas que está aqui um caldinho, está. Marcelo, na ânsia de correr com o PS, fez de tudo para o concretizar. Sempre embrulhou as suas intenções na desculpa da estabilidade. Mas sempre foi ele o principal agente de instabilidade e, como se isso não fosse suficiente, este seu lindo serviço da dissolução da Assembleia da República conduziu ao que se vê, um resultado que é do mais assimétrico e instável que há. 

Tal como tenho aqui dito, face ao ponto a que chegámos, se entramos todos em histeria -- cada um a espingardar para seu lado -- não vamos a lado nenhum.

O PCP, como sempre sem perceber nada do que se passa à sua volta, já nos presenteou com uma rejeição precoce. Ainda a coisa não começou e já eles estão a (não direi a ejacular mas a...) disparar. 

É que, em termos concretos, ainda ninguém sabe a composição do Governo e, muito menos, o seu programa. Mas isso não é coisa que incomode o bom do Raimundo que, por via das dúvidas, já anunciou que vai avançar com uma moção de rejeição. Por causa das tosses, diz ele (ou se não é por causa das tosses é por causa de outra coisa qualquer).

A Mortágua, bem longe da imagem de sombria cruella, parecendo querer que a gente se esqueça dela armada em vingadora e dominatrix, aparece-nos agora toda sorrisos e vestuário colorido, patética, a bandear-se, armada em chefe das cheerleaders da esquerda. É vê-la por aí a lançar desafios aos que ela acha que podem, com ela à frente, animar os saudosos da geringonça. Caso para dizer que já o carapau tem tosse. Não percebe que, o mais que faz, é estatelar-se ainda mais perante o eleitorado que, em tempos, lhes deu algum crédito. 

O PS parece que lhe disse que sim mas espero que tenha sido só por uma questão de boa educação e, sobretudo, por inexperiência. É que não sei se o PNS já aprendeu a mandar banho ao cão por outras palavras ou se ainda tem que comer muito pão com broa. Mas o Raimundo, um fofo, tão naïf, parece que a levou a sério e disse que sim. Sim... mas calma aí. Sim mas só se a Mortágua não estiver a pensar passar-lhe a perna, dilui-lo. Essa é que era boa, diz o Raimundo a fazer biquinho de valentão. Ora. Aprendam com ele.

Atilado, como tem sido seu apanágio, o Livre. Valha-nos isso.

Do outro lado, a IL já saltou fora do que poderia ser uma aliança alargada, AD+IL. Palpita-lhes que a coisa pode não ir longe e não querem ficar conotados.

E o Ventura, por seu lado, desdobra-se em entrevistas em que, perante a opinião pública, se mostra como o santo pronto a sacrificar tudo para o deixarem sentar-se à mesa dos grandes. Diz que, se for preciso, cede em tudo. Na prática, pretende encostar a AD à parede: ou a AD aceita negociar com eles ou chumbam-lhes os Orçamentos. Mas, claro, tudo a bem da estabilidade.

Felizmente o PS tem estado sereno, a ver no que isto vai dar. Só espero que aproveitem o compasso de espera para reflectir, para se reorientarem. 

Portanto, resumindo e repetindo-me. Moral da história: é deixá-los poisar. Isso é que é inteligente. 

Entretanto, partilho um vídeo que me parece interessante.

It doesn’t matter if you fail. It matters *how* you fail. 
| Amy Edmondson for Big Think +


Desejo-vos um dia bom

Saúde. Inteligência. Paz.

terça-feira, março 12, 2024

E agora? Que faremos com estes resultados...?

 

Em 2015, o Bloco e o PCP valiam 18,4% do eleitorado. Isso correspondeu a 36 deputados. Apesar de tudo, tinham uma expressão não negligenciável.

Agora valem apenas 7,7%. Menos de metade do que era naquela altura. Dizendo de outra maneira: mais de metade das pessoas que se reviam nas políticas do PCP e do Bloco mudaram de ideias, fartaram-se.

Ou seja, a esquerda que eles representavam é hoje marginal. 

Hoje são 9 deputados (num total de 230). Ou seja, na verdade são apenas 4% dos deputados da Assembleia. Sejamos objectivos: quase nada.

Isto significa que a sociedade tem vindo a cansar-se e a desiludir-se do que o PCP e o Bloco têm para oferecer.

O eleitorado privilegia agora outras coisas. 

O eleitorado deslocou-se para o centro. 

O PS perdeu também eleitorado para a direita.

Por isso, o PS deverá perceber que o eleitorado tem hoje outras aspirações, diferentes das de há uns anos. Hoje o eleitorado já não quer ver-se livre da austeridade, do láparo, dos vestígios do cavaco, naquela gente que vendia o país ao desbarato. 

A página foi virada e os problemas, reais ou percepcionados são outros. Hoje as pessoas querem estabilidade, qualidade nos serviços (educação, saúde, segurança), quer retorno do resultado do seu trabalho (melhores rendimentos e uma carga fiscal menos pesada), quer qualidade de vida. 

Por isso, sempre que a conversa for dirigida para o que era o eleitorado de esquerda em 2015 falhará o objectivo de cativar mais eleitorado.

Quanto ao Livre, penso que é diferente. Rui Tavares mostra-se europeísta, civilizado, uma esquerda 'moderna', não caciquista, não anquilosada, não justicialista. A população urbana, que dá valor á democracia, à liberdade, a causas humanitárias e ambientalistas, tende a rever-se no programa do Livre. Os eleitores do Livre, em meu entender, não vêm do Bloco ou do PCP mas sim do PS.

Por isso, aqui referi que teria sido inteligente se o PS e o Livre tivessem feito uma aliança pré eleitoral. Haveria menos votos perdidos por via do método Hondt.

Não o fizeram antes das eleições mas estão ainda a tempo de se aproximar e pensarem em conjunto o futuro.

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No rescaldo destas eleições antecipadas, o PSD/AD está a herdar uma situação fértil. O PS fez um trabalho fantástico (que o PS e Pedro Nuno Santos não souberam louvar e divulgar de forma eficiente). Hoje há dinheiro em caixa (o défice é mínimo ou inexistente), há dinheiro nos cofres (há uma almofada, ie, reservas), há dinheiro a cair (do PRR). Portanto, a AD tem margem para fazer as flores que quiser. Tem margem para pôr em prática medidas que vão impressionar muito favoravelmente parte do eleitorado tradicional do PS bem como muito do eleitorado do Chega. 

E pode, se assim o entender, pôr em prática as suas medidas eleitorais sem ter que submeter um Rectificativo a votos.

E, portanto, pode seguir até ao OE 25 sem grandes sobressaltos.

Mas, se a AD for antes a votos, à luz da leitura que hoje faço dos factos, eu, se fosse ao PS, apostaria na abstenção, deixando o Rectificativo passar. E isto porque se um Rectificativo chumbasse e se se entrasse numa crise com novas eleições ainda este ano, não vejo como é que o PS poderia melhorar os seus resultados pois parte do eleitorado, que sentia que iria ser beneficiado com as medidas da AD, penalizaria quem chumbasse esse Orçamento. 

O que o PS deve fazer agora é perceber como deve reorientar a sua estratégia. Para começar, deve ver-se livre do que ainda subsiste de aparelhismo, de assessores e da lógica ainda instalada dos jobs for the boys. E depois deve orientar-se para o que os eleitores realmente querem: estabilidade, qualidade de vida. Os mais jovens querem condições para ter filhos e para poder proporcionar-lhes uma boa vida. A população em geral quer segurança nas ruas e isso significa integração das populações mais marginais (imigrantes, nomeadamente), quer segurança a nível de saúde com Centros de Saúde e Hospitais funcionais, quer boas escolas e professores a cumprirem os horários, quer paz social.  Claro que os ordenados devem subir mas, para isso, o mundo laboral tem que deslocar-se para profissões mais especializadas, em que a produtividade seja significativa. E todos querem receber uma parte maior do que ganham já que hoje, em especial os que passam a ser um pouco mais que remediados, a carga fiscal é um peso que custa a aceitar. Se queremos que os que emigraram regressem e que os que estão a pensar sair não vão, temos que assegurar-lhes maior liquidez, seja por via de salários mais altos seja por um expressivo alívio na carga fiscal.

Depois há os pensionistas, uma fatia enorme de qualquer eleitorado. Aqui o que há a assegurar é que as pensões acompanham o crescimento da economia e que haverá igualmente um alívio fiscal. E, também aqui, que o SNS seja uma resposta efectiva às necessidades. Hoje é muito difícil. Em especial nos grandes meios urbanos, que são os que melhor conheço, é muito complicado. Dou o meu exemplo. Mudei de casa vai para quatro anos e não consegui mudar de médico de família pois, onde agora vivo, não há médicos de família disponíveis. Mas com o meu também não é fácil pois, se marcar hoje uma consulta, só tenho vaga para Junho. E não é um exemplo inventado, é a realidade. E um dia destes vou fazer exames. Se alguma coisa não estiver bem, tenho que esperar por Junho ou, em alternativa, ir às oito da manhã, ou antes, para arranjar vaga para o dia, podendo ser atendida por um qualquer médico. Se estiver com alguma coisa que requeira análises ou RX tenho que ir para as Urgências do Hospital sujeitar-me a longas horas. Sei pelo que passei diversas vezes com os meus pais. Como tinham seguro, por vezes fomos para o Privado e aí, claro, as condições são outras. Ora é indispensável reorganizar todo o SNS por forma a que a resposta do SNS seja equivalente à dos Privados. Se enfrentar horas de espera, estar estendido horas a fio em macas em corredores pejados de gente, em que a privacidade e a dignidade das pessoas é posta em causa, é muito mau para toda a gente, ainda é mais ingrato para pessoas frágeis, de idade.

E é também indispensável que se perceba que essa larga faixa eleitoral é composta por uma população felizmente a viver até cada vez mais tarde em que o pão nosso de cada dia são os problemas complicados. E, por isso, deve haver mais Unidades de Cuidados Continuados ou Paliativos e deve haver muito mais Residências assistidas, dignas, com qualidade, e a preço acessíveis. Hoje a oferta com alguma qualidade é caríssima (acima de 3.000€/mês, o que não está ao alcance da maioria da população). 

Para além disso, há as grandes questões de fundo: a demografia e as alterações climáticas.

Por isso, o PS tem muito em que pensar. Tem que se reorientar e tem que ter tempo para isso.

Não sou de clubites nem tenho testosterona a correr-me nas veias em vez de sangue. Penso com a cabeça e não com as hormonas. Quero paz e desenvolvimento e não guerra e ajustes de contas.

Assim, acho que é de deixar a AD fazer o que se propôs e para o qual recebeu os votos dos eleitores (e que se entendam ou deixem de se entender com o Chega). Ou seja, que não possam alegar que não podem satisfazer as aspirações dos eleitores por culpa do PS.

A política, em meu entender, requer políticos que, no dia a dia, pensem no melhor para os cidadãos, e no médio e longo prazo, no melhor para o País. Requer políticos que pensem sob diferentes perspectivas, que estudem as matérias, que planeiem as suas medidas e avaliem os seus impactos.

Com uma abertura ao futuro, com generosidade, com abnegação pessoal, com os pés na terra e com uma proximidade atenta aos cidadãos, será possível ao PS preparar-se para as próximas eleições.

Se souberem ser uma oposição ponderada, bem informada, bem intencionada, próxima das pessoas, serão reconhecidos.

É o que eu penso.

quarta-feira, março 06, 2024

A minha escolha no dia 10 + Declaração de voto

 

Como gosto de me pôr à prova e tenho dificuldade em virar costas a um quizz ou a testes que me digam o que eu penso, experimentei as dating apps que os jornais disponibilizaram para podermos validar quais os partidos ou os líderes com que mais nos identificamos.

Muito consistentemente deu-me o que me costuma dar: em primeiro lugar o PS, em segundo o Livre. Cá bem em baixo, aqueles com que não tenho nada a ver como o Chega ou o PCP. Bate certo.

Dito isto, considero que a campanha do PS parece que ainda não percebeu que, para ganhar, tem que ir buscar votos a quem está a pensar votar na AD ou a quem, estando hesitante, não está muito convencido a votar no PS. Ou seja, tem que perceber as dúvidas ou os anseios da classe média que não se revê em políticas muito encostadas à esquerda. Como escrevi aqui no outro dia, o PS não tem que falar para quem gosta do PCP ou do Bloco pois esses vão votar no PCP ou no Bloco. Não é com esses que o PS tem que se preocupar. Tem que se preocupar com aqueles que, nas últimas legislativas, votaram no PS (com António Costa) e que agora estão preocupadas com receio que o Pedro Nuno Santos dê ouvidos ao Bloco e ao PCP, nomeadamente, com aqueles para quem a conversa da AD de redução de impostos é música para os seus ouvidos.

Apesar de eu compreender as dúvidas desses hesitantes ou de preferir e um PS mais social-democrata e mais virado para a frente, mais aberto às grandes questões do mundo, e, em contrapartida, menos agarrado às reivindicações corporativistas de várias classes profissionais, considero que, face às reais alternativas, o PS é a melhor aposta, a mais segura, a que me dá mais confiança, a mim e ao País. Apesar de votar onde poderia eleger deputados do Livre, não quero arriscar. O meu voto é consciente e é útil.

Jamais daria o meu voto a quem pode colocar em risco a democracia, a liberdade, os avanços sociais que já foram conseguidas, a aventureiros, a populistas, a gente desqualificada ou traiçoeira.

E agora, esperando que não levem a mal, vou importar para aqui as declarações de voto de duas pessoas cuja opinião prezo.

Da declaração de voto do Rui Bebiano (A minha escolha no dia 10):

O meu voto sempre esteve, no momento da decisão, associado à pluralidade da representação da esquerda e à escolha de políticas baseadas nos valores que esta fundamentalmente partilha. A saber, para mim e para tantas outras pessoas: a defesa da democracia e da liberdade, a promoção da justiça social e de um desenvolvimento material harmonioso, a propagação do bem-estar, da saúde e da educação, o progresso da cultura, a defesa dos direitos humanos e do relacionamento pacífico entre povos. Sempre ancorados no papel imprescindível, ainda que infinitamente em construção e aperfeiçoamento, do Estado-Providência. É este, na essência, o sentido da minha escolha no momento de votar. E é também esta a razão pela qual, com o gesto, procuro contribuir para afastar a direita, a extrema e a dita «moderada», que são o contrário de tudo isso.

Direto agora ao assunto apontado no título. O partido cujo programa, apesar de algumas pequenas discordâncias, está mais próximo das minhas convicções – a defesa integrada de universalismo, liberdade, igualdade, solidariedade, socialismo, ecologia e europeísmo – é o Livre. Todavia, sei que, no presente contexto e com a atual lei eleitoral, em muitos distritos levará a votos perdidos; assim, se votasse em Lisboa, Porto, Braga ou Setúbal, onde pode eleger, votaria no Livre, mas não sendo o caso, votarei sem hesitar no Partido Socialista. Este é o partido de esquerda mais forte e aglutinador, que pode impedir o regresso da direita e tem condições para governar. Mesmo discordando de algumas das suas escolhas e personalidades, creio ser a solução possível, de preferência em convergência à esquerda. Tendo simpatia por escolhas e por pessoas do Bloco de Esquerda, que por muitos anos apoiei, reconhecendo o seu importante papel, temo o seu desequilibrado sentido institucional, bem como algumas das suas prioridades no combate político, mas representará sempre uma opção progressista e combativa.

Nas últimas eleições sugeri o voto em qualquer dos partidos da esquerda, mas reduzo agora o leque, pois dois deles perderam a escassa confiança que neles ainda tinha. Um é PAN, sem coerência para além das suas causas pontuais, pactuando com diferentes campos sem uma orientação clara, desde que da escolha resulte a participação num quinhão de poder. Outro é o PCP – o PEV é, de facto, um partido sem vida própria – que, apesar da sua respeitável história e das muitas pessoas honradas que sem dúvida inclui, continua a revelar-se defensor de ditaduras, como as da China, da Coreia do Norte ou de Cuba, e de regimes autoritários, como o da Venezuela, o da Síria e o da Rússia neoimperialista. Ao mesmo tempo, tem pactuado com a invasão da Ucrânia, em nome de uma «paz podre», tem sido sempre anti-União Europeia, e, além de conservador no plano dos costumes, tem-se batido contra causas justas e urgentes, como a defesa da morte assistida ou o fim das touradas. Quem considere isto irrelevante, que me ignore.

A minha escolha é esta e a ela não voltarei até ao dia das eleições.


Da declaração de voto do Valupi:

(...) O meu voto no PS é paradoxal. Considero que esse partido suporta isolado a coesão da comunidade, ligando as carências de pobres, remediados e ricos em políticas que não ambicionam a revolução nem a perfeição. A história do PS como partido de poder confunde-se com a história da democracia como regime da inclusão e do desenvolvimento pragmático, realista, consequente. E estes predicados são os mesmos que me levam a considerar o PS como o principal responsável pela perigosíssima, e já trágica, disfunção dos órgãos de Justiça, Ministério Público como corporação e certos juízes incluídos.

No PS não existem respostas para essa crise do poder judicial tomado pelo justicialismo e cometendo crimes sistemáticos. Não existe sequer um discurso que permita ter esperança a respeito. Restam as pessoas a dar o seu melhor, confusas e assustadas com os poderes fácticos em acção. Sendo demasiado pouco, é nesta circunstância infinitamente melhor do que nada.

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Um dia bom

Saúde. Pés na terra. Paz.

quarta-feira, fevereiro 14, 2024

Legislativas 2024 -- os debates
E eu...? Não posso ser comentadora...? Ora essa...

 

Posso não ser ilustrada ou bem-falante, posso não ter canudo de Relações Internacionais ou de Ciências da Comunicação. Mas posso dizer o que me vai na alma, ou não posso?

Portanto, com vossa licencíssima, aqui vai.

Vi um bocado de Paulo Raimundo e Rui Tavares.

Se eu fosse comentadora diria que o Paulo Raimundo é um fofo. Parece que anda sempre um bocado ao lado mas isso ainda aumenta mais a sua fofura. Perguntam-lhe se aquela posição fofa sobre a invasão da Ucrânia pela Rússia não estará a contribuir para o afastamento dos eleitores do PCP. E ele, com aquele seu narizinho arrebitado de menino que se quer atrevido, diz que há uma questão central que é a legislação laboral.

O Rui Tavares de vez em quando inclinava um bocado a cabeça, certamente preocupado, a pensar que o Raimundo não tinha percebido a pergunta. O moderador também a fazer um ar apreensivo sem ver onde é que o raciocínio do Raimundo o ia levar, ensarilhado que parecia estar com a conversa da legislação laboral. 

Finalmente lá voltou ao tema. Com ar valentão, disse que não queria fugir a ele. E lá veio outra vez com a das forças da paz. O Putin invade a Ucrânia e, para o PCP, a solução é a malta querer paz. Só isso. Coisa simples. Quiçá a Ucrânia pôr-se à janela com um lencinho branco na mão. Uma pombinha fofa, o Raimundo.

No outro dia, num outro debate, parecia que ia virar a mesa, mudar o rumo da conversa. Lançou, imagine-se, que ia dizer uma coisa a talhe de foice, uma coisa de que ninguém falava: a cultura. Mas, em vez de desenvolver o tema, não senhor, disse que era para ver se alguém lhe pegava. Uma coisa inédita, a dar tópicos para outros brilharem. E fez aquele seu sorrisinho que pretende ser ladino mas que é apenas muito fofo.

Hoje o Rui Tavares disse que ia agarrar o tópico lançado pelo Raimundo: a cultura. E desenvolveu. O Raimundo, coisa mais fofa, fez um sorriso todo contente. Afinal alguém estava a agarrar o tema que ele tinha lançado. 

Mas lançou só por lançar pois, a bem dizer, que se tivesse percebido, o tema da cultura para ele, e desenvolveu só para não ficar atrás do Rui Tavares, tem sobretudo a ver com os precários da cultura. É que, não esqueçamos, seja qual for o assunto, guerra ou cultura ou whatever, para o Raimundo a malta não deve desviar-se do tema central que é um e só um: a legislação laboral.

Uma palavra para a elegância de Rui Tavares ao referir o que tinha em comum com o PCP quanto à política internacional (União Europeia, Nato, etc). Disse que o PCP é um partido coerente: ao menos sabe-se o que pensam e, como pensam sempre o mesmo, não há que enganar.

O Raimundo sorriu com ar agradecido, pensou que o outro estava a fazer um elogio. De uma enternecedora naïveté, o Raimundo. Uma fofura. 

Sem ofensa e com toda a consideração, acho que, quando ele fala, as televisões deveriam aplicar-lhe um filtro daqueles que põem asinhas nas pessoas, asinhas com penas fofas e branquinhas, um anjinho mimoso com uma aura a pairar-lhe sobre aquela cabecinha ovalada, e coraçõezinhos a palpitar-lhe na carinha laroca. Depois de um bailarino simpático --  Jerónimo, o último moicano -- temos agora o símbolo perfeito para o Dia dos Namorados, o fofíssimo Raimundo.

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Também vi a Mortágua com o Ventura. Se fosse comentadora teria dificuldade em comentar. Como resumiu o Paixão Martins, foi uma peixeirada. Ora, como se comenta uma peixeirada: quem é que atirou mais peixes à cara do outro? Não sei. Sei é que o Ventura é execrável. A todos os títulos. Portanto, nem consigo comentar.

A Mortágua é de um outro campeonato. É gente educada e que sabe estar à mesa da democracia. O trauliteiro-mor não, é gente que nunca deveria ter conseguido pôr o pé no Parlamento. Que não haja confusão. Mas, verdade seja dita, o BE tem sido um partido a quem o chinelo puxa muito para o populismo e para a facada nas costas dos supostos aliados e, claro, o que tem feito mina o terreno que pisa. Portanto, ao estar frente a frente com um arruaceiro, ela teria sempre dificuldade. E teve. 

Provavelmente, quer um, quer outro, conseguem extrair dali sound bites para as suas redes sociais. Como é meio que não frequento, passo à frente.

Só um aparte relativamente à Mortágua: aquele seu sorriso que afixa e congela não lhe é natural. Mais vale que se apresente com aquele seu ar de castigadora e deixe o papel de fofinho para o Raimundo

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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Cabeça fria (mas coração quentinho). Paz.

segunda-feira, fevereiro 03, 2020

Faria Dias interroga Joacine Katar Moreira sobre a fracturante questão: homens grandes têm pilas pequenas?


in HenriCartoon
Cá em casa, quando se fala na Joacine nunca se fala em política, fala-se simplesmente na sua parvoíce. Ou isso ou na estranheza que sentimos face ao seu comportamento. Estranheza a todos os títulos. Penso que é daquelas pessoas de quem se diz ser tóxica, alguém de quem se deve guardar distância. Não é confiável. É manipuladora. É narcisista. Parece não ser boa da cabeça.

E outra coisa. No outro dia a minha filha dizia que estranhava muito a Joacine não gaguejar quando está irritada. Dizia ela que convivia de perto, há muito tempo, com uma pessoa gaga e que os gagos ficam mais gagos quando estão em situação de stress. Também sempre tive essa ideia. Contudo, quando grita,  quando insulta ou quando vai para a rua armar baderna, a Joacine parece que se esquece que é gaga. Será facto pouco relevante mas lá que é curioso, é.

No outro dia, uma pessoa conhecida lamentava ter-se enganado tão redondamente ao votar no Livre, lamentava que não o tivessem prendido em casa no dia das eleições.  De facto, deve ser uma frustração. Para ele e para todas as muitas pessoas que acreditaram que o Livre poderia fazer alguma diferença e que seria bom o PS não ter a vida fácil, tendo que contar com outra voz na Assembleia da República. Viu-se no que deu: uma vergonha para o Livre e cenas degradantes para a política sempre que a madame resolve abrir a boca ou passear-se pelos corredores da Assembleia com um GNR à ilharga.

Agora diz que nasceu para estar ali, que não se vê noutro sítio. Coisa de um ridículo que até dói. E já fez saber que dali ninguém a tira. Talvez possam arranjar-lhe uma cadeirinha à porta da Assembleia a ver se se dá por contente e percebe que deve dar o lugar de deputada a outra pessoa do Livre. Se é que há lá alguém que tenha tino para a substituir, coisa que já duvido. Depois de ver o espectáculo que esta tem dado, fico na dúvida porque, reconheçamos, nada disto abona a favor do Rui Tavares (e do Livre, em geral) pois não é possível que nunca tivessem percebido de que matéria a putativa diva é feita. Não sei se é erro de casting se, por ali, é tudo da mesma cepa.

Perante pessoas como esta Joacine -- bem como perante o seu alter ego Ventura -- a única atitude inteligente é não lhes der palco, não lhes ligar patavina, deixá-los a falarem sozinhos um com o outro. Apanhei o comentário do Paulo Portas na TVI já a meio e um bocado de raspão mas pareceu-me que ele estava a dizer isto, que a Joacine e o Ventura estão bem um para o outro. E estão. Gémeos separados à nascença. Com a excepção que o Ventura tem uma conversa mais estruturada e um comportamento menos destravado, o que o torna mais perigoso. Portanto, o ajuizado é não lhes passar cartão.

E pode parecer contraditório eu pensar isto e estar aqui a falar deles mas é que aconteceu uma coisa. Passo a explicar.

Vi aquele vídeo da Joacine a gritar que nasceu para estar ali e a invocar o 25 de Abril e a gritar contra fascistas e racistas e achei que era um número de stand up do mais destrambelhado que já vi. E, de novo, parece que se esqueceu de gaguejar. Do além.

E, quando voltei a abrir o YouTube, o algoritmo, certamente antevendo o meu pensamento, sugeriu-me que visse um outro vídeo. E esse achei bastante oportuno. Uma coisa de tipo Randy Rainbow mas sem o Rainbow: um cavalheiro a questionar a grande deputada sobre um tema -- que não se sabe se é verdade científica se é mito urbano -- e sobre o qual, por estar sempre na ordem do dia, convém saber qual a douta opinião da grande líder. 

Ei-lo:

O grande Faria Dias do Pessoal das Cenas questiona a Joacine Katar Moreira sobre a magna questão das pilas pequenas dos homens grandes




Ficámos na mesma.
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Quanto à gaguez às vezes versus a não-gaguez noutras vezes I rest my case. É ver.

Joaci-ci-ci-ci-ci-ci-ci-ci-ci-ne no seu melhor



E aqui na versão não-gaga, nascida para viver no Parlamento


Uma maluqueira pegada

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E agora a ver se não volto a esta temática tão cedo

quarta-feira, dezembro 11, 2019

Joacine & Tavares, um deus me Livre de 19 mais 22 horas de lavagem de roupa suja.
Os coelhos em risco de extinção e eu sem saber se ria se chore.
O Super-Judge Alex a mostrar ao mundo que macho mais alfa não há: quer porque quer interrogar o Costa.
E eu, face a isto tudo, começo é já a distribuir presentes pelos Leitores.
Jingle bell, jingle bell.
Oh-oh-oh.


Não vou falar de lavagem de roupa suja ao retardador. Não dá. Se fosse uma simples lavagem, em programa rápido, ainda ia que não ia. Agora 22 horas... Só se eu fosse parva. Ainda por cima com pré-lavagem. 19 horas de pré-lavagem. É certo que de cada vez que a Joacine tem alguma coisa para dizer há que multiplicar o tempo por 10. Mas um partido com meia dúzia de pessoas e uma única deputada (que se passeia com um assessor de saias, escoltada por um GNR de calças) e que, ao fim de um mês, andam todos à trolha e, para resolver a questiúncula, precisam de 19 mais 22 horas... é coisa de doidos. De doidos varridos. Poder-se-ia perguntar: quem nunca? mas eu teria que levantar uma tabuleta a dizer: eu nunca. Eu nunca dei pão para malucos. Eu nunca papei partidos burocrático-experimentais com senhoritas divo-alternativas. Portanto, passo.

Também não vou falar naquilo de os coelhos poderem estar a correr risco de extinção. A questão é que isso desencadeia em mim uns so called mixed feelings. E nem é que goste de comê-los. Não gosto. Em tempos, no meu período bárbaro, não queria cá saber de pruridos: comia-os de gosto, de preferência à caçador, ainda a saberem a ervas do campo. Agora nem pensar. É daqueles casos em que já estou como o outro, associando-os a quando andam, fofinhos, aos saltitos. Mas, por outro, há aquele caso do láparo. Não que deseje a sua extinção física, nem pensar. Mas política, isso, era para já. Extinção de penalti. Ele e mais o outro da carinha sarcástica, o seu homenzinho de mão, aquele que agora anda a moer a paciência ao alpacas. Ou seja, não é tema que me assista em termos blogosféricos.

E depois há aquele tema extraordinário, coisa para ir parar aos casos do Além. O Super-Judge Alex, esse macho alfa da Justicite tuga, resolveu que há-de interrogar António Costa. E se o Super-Judge quer, quem é que tem poder para o impedir? Em Portugal, os malucos mudaram-se em peso para a Justiça e não há quem lhes deite a mão. Parece que a coisa tem a ver com Tancos. Não sei se acha que, apertando-o ao vivo e a cores, o Costa, qual delator premiado, vai entalar o Azeredo ou se é mais do que isso e tem daquelas suspeitas profundas que o costumam assaltar. Por exemplo, não me admira que ande a magicar que o Costa está feito com o Fechaduras ou a intuir que isto está mas é tudo ligado e que, para surpresa geral, foi o Costa que contratou o Fechaduras para arrombar o cofre da mãe do Sócrates para pagar a entrada da casa de campo da Fava, quiçá a troco do namorado dela convencer o Vara a aceitar os robalos em vez de uma casa de campo em Vale de Lobo e, en passant, a convencer o Perna a fazer atrasar os pagamentos das obras do apartamento de Paris sabendo que com isso ia servir para disfarçar que o Salgado, o Bava e o Lena estavam todos feitos com o célebre e saudoso Magalhães, o computador com super-poderes. Mas como o caso está em segredo de justicite não posso aqui falar de nada. Uma pena.

Portanto, impedida de tecer loas a uns e a outros e sem vocação para bababus e papatás, passo já aos presentinhos para os meus queridos Leitores que tanta paciência têm para aturar os meus anti-posts. Não digo para quem são, estão aqui à disposição e cada um que escolha o que quiser. Não há coerência entre eles justamente por isso mesmo: pressinto que entre os meus Leitores também não haja uma coerência por aí além. Portanto, para quem gosta de rir, está um, para quem goste de raining men em trajes menores há outro, para quem goste de orgias, incluindo elas-com-elas -- e pelo menos uma, a filha da Srª Dona Madonna, com trunfa no sovaco -- há outro e, finalmente, para que se perceba que isto é porque é Natal, temos uma christmas song mas comme il fault, com Mr Bob Dylan todo bento e devoto, oh-oh-oh.










E talvez a partir de agora, de vez em quando, volte a distribuir cadeaux para vocês. E reparem os senhores do Porto como isto do vocês é tão de tia, tão de alface em versão beta, tão de quem vive numa concha, tão de quem, na verdade, gosta de uma boa conchinha. Se é que me entendem.

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Como é bom de ver, as fotografias de animais como noses não têm a ver com nada. A menos que tenham, claro. Foram repescadas no Unsplash e no Pexels por Ahmad Habash e por Titas Burinskas e avistei-as no Panda Entediado.

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E queiram agora fazer o favor de descer para verem uma coisa boa de mais: Banksy em registo natalício.

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E um dia bué bom para vocêzes.

quarta-feira, novembro 27, 2019

Joacine, a putativa diva que se desloca dentro da Assembleia com Assessor e Segurança e que está a dar um nó cego no Livre.
Maria Teresa, a madre-superiora que se apaixonou perdidamente e não foi por Deus.
E Kris que foi encontrar-se com Caitlyn, o seu ex-marido, que agora tem um belo par de mamocas e faz boquinhas por todo o lado.


Depois de um assunto sério, preocupante e triste, apetece-me aligeirar para que o novo dia não comece sob o peso das tragédias.

Por isso, se me permitem, volto-me para as comédias, para os romances, para os fait-divers ou whatever

Há pouco vi na televisão uma cena do mais hilário que existe: Joacine, a neo-diva, sem se dignar dar bola aos jornalistas, avançando pelos corredores da Assembleia com o seu Assessor pela trela e vigiada de perto por um Segurança. Sim: por um Segurança. Sentindo-se a nova Lady Di e não querendo correr risco de se prejudicar por via dos paparazzis que pululam à sua volta, chamou um Segurança. Pimbas. Para a próxima vai com um rottweiler. Sobre o ter-se esquecido do projecto sobre a Lei da Nacionalidade nem uma palavrinha que a menina não está ali para prestar contas. Em contrapartida,  a senhora doutora -- através do seu Gabinete (que gente importante é assim, só comunica através do seu Gabinete ou do seu Assessor) -- atira publicamente todo o seu fel, ressabiamento e deslealdade contra o partido que a acolheu. Um espectáculo digno de novela de quinta categoria. 

Mas, calma, não é só ela a má da fita. É um facto que anda armada em ursa a ver se trama o cordeirinho do Tavares mas, calma, o Tavares não fica menos mal na fotografia. Que inteligência, que perspicácia lhe poderemos, a partir de agora, atribuir se, em todo o tempo que já conviveu com ela, não foi capaz de perceber de que material é feita a menina? Ná. Quando uma pessoa escolhe alguém para a sua equipa e a escolha sai furada, quem meteu água e fez a escolha errada tem que assumir a responsabilidade e resolver a situação.

A Joacine, em uma ou duas semanas, já arrasou quase completamente o Livre. Se o Rui Tavares não quer que o Livre tenha um fim triste, tem que correr rapidamente com a menina. Claro que a neo diva ficará na Assembleia por sua conta e risco, a meter água por tudo o que é canto e esquina, sem saber em que votar, esquecendo-se de trabalhar ou de cumprir compromissos -- e o Livre ficará sem ninguém na Assembleia. E os fiéis e crédulos que acreditaram na madame e votaram no Livre ficarão a chuchar no dedo, sem ninguém que os represente. Mas azarinho, nada mais há a fazer. Que fique como lição aprendida.

Tirando isso, tenho que falar de uma notícia que, apesar de triste para a própria, acho linda. Parece ser a sina das Maria Teresas: são dadas a êxtases mal compreendidos. 

A madre-superiora do belíssimo convento dos Padres Cappuccini, em Sansepolcro, Itália, mulher activíssima e bem disposta, toda empreendedora, apaixonou-se por um homem da terra. Mas não deve ter sabido fazê-la direitinha pois foi mandada borda fora e o convento encerrado. Poderia, como a outra, converter a paixão em delíquio literário e dizer que a espada do anjinho a tinha penetrado até às entranhas uma e outra vez. Toda a gente levava a coisa à conta de delírio e maluqueira e com meia dúzia de avé-marias ficava o assunto encerrado. Não. Enérgica e franca, a Madre-Superiora Maria Teresa deve tê-la feito às claras: e deu nisto. E o convento tão lindo. Devia ser tão bom rezar ali à sombra das belas árvores da Toscânia. Ou rezar no escurinho da cela, um belo toscano a despi-la devagarinho. Mas pronto, foi mais um êxtase que correu mal. Uma tinha feito com que a tomassem por doida e esta agora fez com que a tomassem por libertina. Ainda não foi desta que apareceu uma Maria Teresa santinha a sério.

Para terminar, numa de conclusão, só posso agora falar de um assunto que não tem nada a ver.

Kris Jenner, a madre superiora do quartel das Kardashians, encontrou pela primeira vez Caitlyn Jenner, mulher grandona de voz grossa, o seu ex-marido durante mais de vinte anos que, na altura, dava pelo nome de Bruce, era um calmeirão e um garanhão que fez nada menos que seis filhos. 

Do que se vê, a Kris ainda está que não pode, sem saber como lidar com a situação. Olha-a de soslaio, queixa-se, choraminga. Aliás, choram as duas, muito emotivas e, no fim, para rematar, fazem uma selfie. Uma graça.



E, pronto, ficamos assim.

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E se há outros assuntos que interessem para além destes, escaparam-se-me.

E uma boa quarta-feira para si, para si em especial.

segunda-feira, novembro 25, 2019

Rui Tavares está perplexo com a Joacine? Eu não estou.
[Aliás, aproveito para dizer porque não votei no Livre]



Claro que poderia fazer um post a explicar porque não votei em cada um dos partidos que não mereceram o meu voto mas vou centrar-me no Livre, dada a comédia a que assistimos, uma paródia digna de rábula dos saudosos Gato Fedorento. 
Joacine diz que se absteve porque não percebeu como é que o Livre queria que ela votasse (e isto, em si, já é extraordinário pois como é que se explica que ela não tivesse a sua própria ideia sobre o assunto?) e o Livre diz que não percebe aquela inexplicável abstenção, já que o programa do Partido é claro e que, para mais, ela nunca tentou aconselhar-se. Depois foi ela que, baixando ainda mais o nível, veio dizer que foi ela que ganhou o lugar na Assembleia e não o Livre. E agora é o Rui Tavares que vem dizer que percebe que os portugueses estejam perplexos porque ele também está. 
Tudo isto parece uma brincadeira, uma infantilidade, um perfeito nonsense.
Os ideais do Livre não me parecem mal. São boas orientações, bons princípios. Defendem valores que, em abstracto e de forma geral, me parecem globalmente correctos. 

Só que nestas coisas, entre os ideais e o ser capaz de os sustentar e ser capaz de identificar o trilho certo para lá chegar -- e ser capaz de se manter no trilho -- é outra conversa. Como agora toda a gente diz: são outros quinhentos. Em tempos dizia-se de outra maneira: que de boas intenções está o inferno cheio. E admito que sim. 

Estar na Assembleia da República a representar o povo, defender os seus interesses, saber discernir a linha de rumo através de um orçamento, saber avaliar propostas ou saber elaborar outras, perceber a essência dos temas em sede de comissões, saber interpretar os 'jogos' e ter o 'calo' para afirmar a sua posição sem se deixar levar, etc, etc, etc, requer mais do que o enunciado abstracto de boas intenções mesmo que a espuma mediática lhes empreste o aspecto de sabedoria e determinação.

Ser contra o sistema é coisa bonita de se dizer mas quase impossível de concretizar estando dentro do sistema. Pode parecer pessimismo ou cinismo. Mas é o que, na verdade, penso.

O mais que pode acontecer para mudar o sistema (e será sempre um mudar muito relativo: será sempre um percurso lento, errático, de pára-arranca, erros e breves sobressaltos) é haver quem, de forma lúcida e clara, interprete a evidência dos factos de forma a tentar conduzir a consciência colectiva a ir mais para um lado ou para outro. 
Por exemplo: 
  • As crises financeiras -- que deixaram à vista o que os fundos abutres e toda a especulação desregulada, a fuga ao fisco e a lavagem de dinheiro, os offshores e tudo o que rodeia tudo isso, provocaram na economia real: descalabro de muitas empresas, explosão do desemprego, corte de rendimentos e etc, -- fizeram inflectir ligeiramente a opinião das pessoas. 
  • Identicamente, haver quem prove que, para ultrapassar as crises, o melhor é reforçar a liquidez circulante, aumentar a confiança, e animar a economia e não secar tudo isso, é também uma forma de 'abrir' as mentes a um sistema mais desempoeirado. 
  • Ou ir, inteligentemente, tentando provocar consciências através da evidência de que a pobreza ou as desigualdades mesmo que longínquas acabam por vir bater à porta de todos nós.
Se o Rui Tavares é uma pessoa que se percebe ser culta e séria, já muito do que o envolve parece ser puro idealismo, qualquer coisa de adolescência tardia, alguma vacuidade disfarçada de desalinhamento -- e isto à custa de alguma encenação acarinhada pela comunicação social. E, não sei bem porquê, parece que isto continua a ser música para os ouvidos de uma certa intelectualidade que ainda sonha com uns vagos amanhãs que cantam.

No entanto, a verdade é aquela que, ao fim de um mês, já está bem à vista. Tudo espremido é capaz de não ser muito mais que zero.


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As fotografias foram feitas hoje no Ginjal e estão aqui não para ilustrar o texto mas apenas porque foram feitas num dos lugares mais lindos do mundo