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sábado, fevereiro 25, 2017

Quando a brigada da limpeza prova que Natal é sempre que um homem quer
- ou como isto da embrulhada do Marquês é para esquecer
(Agora até o Zeinal Bava e o Granadeiro estão ensarilhados no processo do Sócrates? Oh la la)





A minha sexta-feira foi chata e comprida: começou cedo, acabou tarde e, nem à hora de almoço, consegui intervalar. De notar, contudo, que nem o almoço foi chato (deverei até confessar que, bem pelo contrário, foi superlativo: lugar fantástico, a melhor vista possível, comida excelente, um serviço de primeiríssima e uma companhia irrepreensível: eu e quatro homens simpatiquíssimos), nem a reunião da tarde foi desagradável (deverei até dizer que foi das melhores dos últimos tempos) nem a manhã foi das piores. Simplesmente não consegui alhear-me nem por um instante da persona que me habita quando estou a trabalhar. E também não é que eu antipatize com a dita persona, é mais que preciso de, volta e meia, deixar vaguear a mente, olhar pela janela, esticar as pernas, pensar que me estou a marimbar. Ou seja, necessito de, de vez em quando, intervalar. Fazer silêncio. Ouvir os sons íntimos do silêncio. E não consegui. 


Seguiu-se que saí pouco depois das sete da tarde a pensar que ia chegar a cedo a casa, que poderia ainda ir fazer uma breve caminhada -- e apanhei um trânsito tramado. Cerca de uma hora. Não foi dos piores dias mas, caraças, apetecia-me não apanhar nem um carro pela frente e foi o que foi. E, para fim de festa, tendo resolvido ir jantar fora, decidimos não ir à praia mas ficar por perto. O restaurante foi um dos nossos preferidos, a comida é boa, o serviço de grande cordialidade. Só que estava cheio e demorou, demorou. 

Por isso, cheguei a casa tarde, farta de estar de saltos altos, farta do colar, dos brincos, do relógio, farta de estar com camisa de seda, farta de estar de meias de lycra, farta, farta, fartinha.


Agora, já confortável, instalei-me com vontade de ver coisas boas. E, por acaso, tive sorte: dei uma volta pela net, vi as fotografias maravilhosas que mostrei abaixo e que fizeram com recordasse o nascimento dos meus filhos. 


Só que, agora, ao prestar atenção à televisão, vejo que Henrique Granadeiro e o oustanding Zeinal Bava são arguidos no Caso Marquês, suspeitos, ao que parece, de receberem dinheiro do Grupo Espírito Santo. E fico espantada. Já lá vão mais de vinte arguidos neste processo. Num país pequeno como este, parece que não há processo que não se transforme num mega-processo. Seja porque se oferecem robalos, seja porque se opina sobre o revestimento do chão do apartamento do amigo, seja por que for, é tudo metido ao barulho e um processo, em vez de durar meses, arrasta-se durante longos anos, massacrando a vida de todos aqueles que caíram nas malhas das suspeitas.


Fico admirada com isto. Não que ponha as mãos no fogo seja por quem for e muito menos o faria pelo Zeinal -- e até admito que seja do sono e do estado de saturação em que me encontro -- mas o caso Marquês não tinha a ver com o Sócrates? O que é que o Zeinal e o Granadeiro e de quem recebiam ou deixavam de receber dinheiro tem a ver com o Sócrates?


O Rosarinho, com o beneplácito do Super-Judge Alex, estão para ali a armar um enredo, um enleio que não se percebe como é que, em vida dos visados, isto tudo se vai desensarilhar tal a diversidade de suspeitas, tal o leque de visados, tal a barafunda que já está para ali armada.

Agora fiz zapping e fui parar a um programa onde andam todos nus numa praia mas onde os seios das mulheres e os genitais de todos aparecem desfocados. Se é para tapar, que lógica tem pô-los nus?

É a gota de água. Parece não haver limite para a parvoíce.


Ou seja, e para atalhar razões: não há pachorra. Ou, admitindo que o mal seja meu: não tenho pachorra.

Conto, pois, com a vossa compreensão para permitirem que intervale. Fiquemos, pois, com um momento à maneira. Prestem atenção à letra das canções. 

Cleaning Crew


(com a partipação de Cecily Strong, Emma Stone, Leslie Jones)


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A música lá em cima é The sounds of Silence, de Simon & Garfunkel, numa interpretação de Nouela.

Os desenhos com flores são da autoria de Georgie St Clair

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Pensava que ainda escrever mais um episódio da Dindinha mas é-me impossível.
Vou pregar para outra freguesia.

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E não deixem, por favor, de ver as fotografias maravilhosas do post que se segue.

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quinta-feira, outubro 09, 2014

O tempo é o novo dinheiro: férias ilimitadas. Voto na ideia. Mas custa-me um pouco falar nisto enquanto assisto quase petrificada ao que está a acontecer na PT. Uma desgraça e uma vergonha.


No post abaixo já lamentei a decisão do DN ao prescindir da colaboração do grande jornalista que é Baptista Bastos. Fez mal o DN, por todos os motivos e mais um: é que Baptista Bastos trazia público ao DN. Só espero que rapidamente algum outro jornal o contrate. Eu e todos os milhares de leitores que não perdiam as suas crónicas, segui-lo-emos para onde ele for.

Mas sobre este assunto falo no post a seguir. Aqui, agora, falo de um outro coisa.



Noches Noches La Luz - Aurora



Avishai Cohen



No outro dia a minha filha enviou-me um mail com um link


Richard Branson Is Right: Time Is the New Money. 


O tema é interessanteIn the participation age, a new form of payment is emerging: time.


Férias ilimitadas, regime de trabalho livre.

Há locais em que isto se pratica, empresas de prestígio - mas em Portugal não conheço. 

No Grupo em que trabalho não é assim, os dias de férias são os de lei. Mas, na medida do que é possível gerir de forma directa, facilito ao máximo a vida das pessoas que trabalham comigo. Têm menino com festinha na escola, pois que vão, estejam com os filhos e, nessa tarde, nem precisam de vir, trabalhem a partir de casa, como queiram. Têm assuntos para tratar e vão levar parte da manhã pois que tratem e podem vir apenas de tarde, estão com dor de cabeça e querem ir logo para casa, pois claro, que vão. E sou incapaz de fazer as pessoas estarem numa reunião, se souber que têm que ir buscar os filhos à escola ou se tiverem qualquer outro compromisso. Não concebo outra forma de gerir pessoas. O trabalho não deve ser apenas uma obrigação, muito menos deve ser um castigo. As pessoas trabalham melhor se estiverem tranquilas e felizes, se se sentirem respeitadas e estimadas. 

Aliás, tento não ocupar ninguém depois das seis. Se ficam é porque acham que precisam. Não controlo o tempo que estão no local de trabalho mas sim o que fazem. Da mesma forma, é raro o dia em que não estou um bocado à conversa com quem me procura ou com quem encontro, mesmo que na copa. Conversamos sobre tudo e estimulo que se interessem e valorizem uma vida equilibrada, com tempos livres, com tempo para o prazer.

Contudo, há muita gente noutras áreas da empresa que é ou se faz passar por workaholic. Trabalham até às quinhentas, trabalham à hora de almoço, enviam mails à noite, ao fim de semana. Na minha área desincentivo isso em absoluto.

Gosto de ter a trabalhar comigo pessoas que me falam dos livros que lêem, dos filmes que vêem, de passeios que dão, de programas que vêem na televisão. E rimos, e há alguns que são muito engraçados, e há diferentes pontos de vista, e forma-se um sentimento de equipa, de pertença a um grupo de pessoas que puxa para o mesmo lado. Não sou assim por razões interesseiras, para que a produtividade seja melhor, faço-o porque era assim que eu gostava de trabalhar quando era chefiada por pessoas que me respeitavam como pessoa, e faço-o porque esta é a minha maneira de ser. Mas, claro, sei por experiência própria que nada mata mais a produtividade e o gosto por trabalhar do que a falta de reconhecimento.

Além do mais, não é por uma pessoa estar obedientemente presente no local de trabalho oito horas ou mais por dia, que o resultado do seu trabalho é melhor. Tenho colegas que são certinhos, certinhos, certinhos e que, no entanto, para tomar uma decisão ou para produzir uma opinião levam uma eternidade.

Nem todas as empresas terão músculo ou condições para aguentar um regime mais livre mas, sempre que o possam, estou em crer que este modo de estar a nível profissional irá fazer o seu caminho. Quem trabalha por turnos, quem tem que estar atrás de um balcão ou a servir a um restaurante não poderá dar-se a estas liberdades mas, quem possa, acho que deverá fazê-lo.

A principal barreira será a mesquinhez das mentes mais apertadas. Os menos dotados são sempre os mais castradores. Sempre vi os mais fracos, os que têm mentalidade de vizinhas, fazerem da censura o seu modo de vida. Mas cabe às lideranças fortes ultrapassar preconceitos e ideias do passado e fazer valer uma nova maneira de estar.

O trabalho não deve ser tudo na vida, não deve ser uma obsessão. Pelo contrário, deve ser uma componente da vida, uma componente que traz dignidade, autonomia e sentido de realização à vida das pessoas. 

Richard Branson também acha isto e eu estou curiosa por saber como vai ele pôr em prática a ideia. E vou tentar perceber melhor o conceito.

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Falo de bem estar no local de trabalho, falo de motivação e, enquanto isto, penso no que está a acontecer na PT. É um drama difícil de descrever.


Conheço algumas das boas instalações da PT. Participei em encontros promovidos ou patrocinados pela PT, participei em visitas guiadas às suas instalações. Ouvi várias vezes falar pessoas da PT sobre os seus modelos de governance ou sobre a aplicação de novas metodologias de gestão. Não há em Portugal grande ou pequena empresa de serviços, nomeadamente consultoria das mais variadas espécies, que não tenha a PT entre os seus clientes de referência.

A PT era uma das grandes empresas portuguesas. Grande em volume de negócios, grande em números de colaboradores, grande em número de fornecedores, grande em número de clientes, grande em quase todos os indicadores.

Contudo, devo confessar - e quem lida comigo sabe bem disso - que sempre me pareceu que havia ali algum deslumbramento, muito dinheiro fácil, muita apetência por modas. Ou seja, uma gestão algo fútil.


Tenho também a ideia de que gestores florescentes, espampanantes, que primam pelo seu poder de show off, que apadrinham toda a espécie de modas, não dão sólidas garantias aos accionistas e stakeholders.

O tempo rende mais para uns do que para outros, é certo, mas a sua relatividade não é infinita. Uma pessoa que está hoje aqui, amanhã ali, depois a dar entrevistas, depois a fazer palestras, depois a almoçar com jornalistas, depois a dar uma aula, depois a fazer um road show, depois a ter uma reunião para ver apresentações e assim sucessivamente, forçosamente alguma coisa deixa para trás. E, geralmente, o que fica para trás é o cuidado na análise, é a proximidade ao negócio, é o ouvir os colaboradores, é, na verdade, a gestão.

Gestores mediáticos assim ou gestores que adquirem o vício de se sobreocupar com eventos que dão visibilidade, são gestores que, regra geral, delegam demais. E aqueles em quem eles delegam, não se sentindo muito apertados, delegam nos de baixo, e os de baixo sentindo-se importantes, delegam nos de baixo, e aos de baixo já lhes falta a competência e, então, inventam uma desculpa qualquer e contratam consultores e as empresas de consultoria para serem competitivas e terem boas margens, contratam miudagem que vai trabalhar por tuta e meia. E, assim, acabam estas grandes e aparatosas empresas por ter as decisões de gestão a cargo de miudagem das empresas de consultoria ou a cargo de estruturas deslumbradas mas pouco responsáveis. Não é sempre assim - mas é muitas vezes assim.

A gente da PT vivia entre o mediatismo da vida glamourosa do alto empresariado e os macios corredores do dinheiro e do poder.

Até um dia.

Sem que ninguém tivesse exactamente percebido como, de um dia para o outro, a equipa dos gestores excelentíssimos rebentou com um património estimável, com a reputação dos gestores portugueses, e com uma empresa enorme e desejável. 

Eu disse de um dia para o outro mas disse mal. Foi um pouco todos os dias - até que uma gota fez transbordar ao copo. Os 900 milhões aplicados não se sabe como na Rioforte foram apenas a gota de água.

Agora são cerca de 15.000 trabalhadores em pânico, são infraestruturas valiosas, é um património incrível que está à venda na rua - e uns quantos (de outros países, claro) a verem por quanto podem ficar com um saldo destes. Quem comprar vai fechar instalações, despedir pessoas. Era uma empresa sólida, rentável e valiosa, com planos de expansão. Agora, para quem quer comprar barato, é um bagaço, um fruto seco, um saco de ar.




Henrique Granadeiro saíu. Zeinal Bava foi corrido. Os brasileiros não brincam em serviço. Voz de mel mas mãos de ferro. Aos olhos do Brasil, a PT e os grandes gestores portugueses devem ser apenas os restos de uma monarquia tonta com deslocadas manias da grandeza, gente falida, uns pobres amadores.


No Grupo PT a instabilidade impera, a incerteza corrói - e não é para menos.

Perante isto, perante a ruína de tantos que nada fizeram para que uma vergonha e desgraça destas lhes caísse em cima, perante a depreciação de uma empresa tão valiosa, perante o empobrecimento que isto acarreta (porque a PT dava modo de vida aos seus trabalhadores mas também aos seus imensos fornecedores), só espero que se apurem responsabilidades. Mas a sério. Só espero que não ponham nenhuma Mónica Ferro ou outra andorinha assim a apurar responsabilidades nem no Parlamento nem na Justiça; ponham gente séria e com cabeça. E façam justiça. 

Mas, calma aí, os maiores responsáveis para além de Granadeiro, Bava e outros da PT, são os senhores do Governo que assistem a tudo imperturbáveis. Deixaram ir a golden share sem cuidarem de quaisquer cuidados, e agora deixam que tudo aconteça sem que mexam uma palha para salvar nem que sejam apenas os salvados.

Tudo isto tem que ser julgado. Há casos em que a irresponsabilidade e a incúria devem mesmo ser objecto de séria condenação - e este é seguramente um deles.


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Tinha ainda uma coisa giríssima, desta feita enviada pelo meu filho. Mas já não tenho tempo, estou só a bocejar (e temo que vocês também pois só agora reparo no lençol que já para aqui vai). Amanhã.

E há ainda a questão dos livros sobre os quais ando para falar. A ver se amanhã, também.




A ver se faço ideia de quem é o autor que vai ganhar o Nobel. Sinto-me sempre a maior das ursas quando sai a alguém de que nunca tinha ouvido falar antes.

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Relembro: sobre o afastamento de Baptista Bastos do Diário de Notícias, falo já aqui a seguir.


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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira!


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sábado, agosto 16, 2014

Alô! Alô! Senhores do Expresso que fizeram o "Especial BES"! Não se terão esquecido de nenhuma geografia no mapa BES? Não quererão dar uma vista de olhos ao 'Nine to Five'? Dou uma ajuda: "A crise bancária portuguesa: um ricaço leva mil milhões para as Ilhas Cayman e sobrecarrega a Europa com um grupo Espírito Santo sem qualquer valor".


Sendo o Um Jeito Manso um blogue, presta-se à diarística e, assim sendo, volta e meia gosto de aqui registar as minhas andanças. Sou moça simples, eu. Poderia até dizer que sou um verdadeiro caso de alterne. De facto, ora sou executiva ora sou sopeira, ora sou dada à política ora à decoração. Este sábado fui sopeira, femme à menage e com muito orgulho e, pelo meio, ainda fiz uma reportagem fotográfica de modo a satisfazer os meus Caros Leitores que gostam de decoração.

Mas isso é a seguir, no post a seguir a este.

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Aqui agora, alterno de novo e de sopeira passo a alfinetadeira. Ora, então, aqui vai mais uma alfinetadela. Coisa simples.

Depois das limpezas, do banho reparador e do jantar, foi tempo de Expresso.

E que vi eu?

Depois do BES, a PT como não podia deixar de ser. A seguir, outras virão. Quando uma borboleta bate as asas no cu de Judas, alguém aqui espirra. Imagine-se agora se, em vez de uma borboleta, for um colosso e se, em vez de ser no cu de Judas, for aqui mesmo ao pé de nós...? Numa economia frágil, em que o capitalismo é de brincadeirinha e que, em vez de fortunas, há dívidas, cai um Grupo Espírito Santo e um banco como o BES e toda a economia abana. Riscos sistémicos. 

Por enquanto, a coisa fica-se pela guerra aberta na PT e é informação e contra-informação com o Expresso no olho do furacão. 


Se o trabalho dos jornalistas económicos do Expresso tem sido determinante (Pedro Santos Guerreiro a fazer um trabalho que ficará na história do jornalismo português; João Vieira Pereira a sair da casca e, entre umas tacadas de golf que eu bem o vi lá no Expresso/BPI, lá consegue assinar crónicas cada vez mais veementes), há agora o risco de serem instrumentalizados. Começamos a ver mails e comunicados de um e outro lado, Ricardo Salgado e advogados, brasileiros da Oi, há para todos os gostos. A guerra aqui não é a brincar: é daquelas guerras sujas em que vale tudo. Tomara que 'os homens do Expresso' (nos quais incluo as jornalistas mulheres envolvidas neste trabalho) consigam preservar o distanciamento necessário para verem com alguma clareza no meio das nuvens que vão sendo forjadas e das que existem e são espessas.

O que eu espero é que a justiça aja rapidamente porque fazerem o que fizeram a uma grande empresa como a PT - que não tarda é nada, esfumando-se entre guerras em que ninguém ganha e que deixam o caminho totalmente livre para os accionistas brasileiros que já mandam e desmandam à boca cheia nesta mera subsidiária da Oi - deve merecer punição e da grossa.

O que eu leio, não apenas é uma subserviência cega perante o accionista BES como é, sobretudo, um desrespeito pelas mais elementares regras de gestão e, melhor, uma gestão de faz de conta. Estou mesmo a ver: um senhor faz os taleaux de bord com os dados relativos à gestão. Deve ter umas ferramentas de business intelligence  ou até uma simples folha de cálculo com tabelas dinâmicas, toda formatada, cheia de links,  em que há uma linha para os depósitos do BES. Quando lhe aparece papel comercial do GES deve ficar sem saber o que fazer. Reprogramar aquilo tudo para inserir mais uma linha? Se se mete a fazer isso, ainda acaba por não conseguir entregar a tempo e horas o quadro com os KPIs (KPI=Key Performance Indicator). Portanto, que se lixe, assim como assim, para quem é, bacalhau basta. E, portanto, soma-se o BES com o GES e fica na linha do BES e está muito bem.

Para quem lê os mapas, se é que os lê, é tinto. O que interessa é o glamour da gestão, os contactos, o bom da coisa. Mapas...? Bahhh...

Põe-se a outra questão: mas quem é que autorizou?

Pois, cá para mim, ninguém. Deviam ser renovação de outros que se venceram e, nestes vazios de permissões que existem nestas empresas cuja gestão de topo é essencialmente um faz de conta, ninguém se deve ter lembrado de pensar: 'Espera aí. Mesmo que seja renovação e em condições idênticas, deve ser analisado e autorizado na mesma, porque as circunstâncias podem ter-se alterado'. Pois. Mas, do que se vê, isso já era esperar de mais. Era preciso que houvesse naquela administração alguém que fosse capaz de pensar. E depois, aquilo eram produtos dos Espíritos e toda a gente sabia que os Espíritos é que mandavam na PT e que, se Granadeiro pudesse escolher, até escolhia Ricardo Salgado como irmão.

Quanto à auditoria do Sr. Mello Franco que veio dizer que a auditoria viu tudo o que era suposto ver: claro! Está a falar verdade. Mas o que prova é que, na PT como no BES e em tantas outras empresas, haver ou não haver auditorias é tudo a mesma coisa. Uma treta. O que o Sr. Mello Franco veio constatar é que não está lá a fazer nada.


É como aquelas cenas das certificações de Qualidade, Segurança, Ambiente, Gestão de Recursos Humanos, etc. Tretas. Aquilo até poderia ser uma boa coisa se fosse conduzido por gente inteligente e por gestores a sério. Assim é uma treta. A Administração sponsoriza, claro, porque todos os consultores dizem que é importante que a Administração se envolva. Depois o Administrador arranja um responsável pela Qualidade (idem para a Sustentabilidade, idem para a Segurança, idem para tudo). O responsável* depois vai falar com os responsáveis pelos outros processos. Os responsáveis têm mais que fazer e delegam noutro. O outro não tem tempo para essas merdas e delega noutro. Às tantas quem está a descrever os procedimentos é o funcionário que faz o que faz porque sempre fez e, portanto, relata o business as usual. E passa a letra de forma. Claro que depois a cadeia hierárquica em peso vai receber a descrição do procedimento para a validar. Mas, caraças, quem é que tem pachorra para andar a ler folhas e folhas a dizer como é que se faz uma encomenda ou se faz um depósito a prazo? E vai de cruz. 
(* Digo o Responsável apenas por facilidade, já que o mais frequente, nestas empresas, é serem putos contratados por empresas de consultoria.) 

a fina flor do entulho da gestão em portugal
A partir daí, todas as auditorias vão verificar se as coisas estão a ser feitas conforme estão descritas no procedimento. E, se estão, concluem que está tudo bem. Claro que o procedimento pode ser um disparate ou estar omisso em relação a uma série de aspectos - mas isso não interessa para nada.

Isto é assim em todas as empresas? Não. Felizmente. Sempre que há gestores a sério, gente que sabe o que anda a fazer e que, em vez de querer receber prémios de centenas de milhares de euros a troco de uma gestão de faz de conta, gere mesmo, questiona, quer saber, quer ver, sabe perguntar, isso não acontece. Mas, estou em crer, são excepções nas grandes e mediáticas empresas.

Portanto, a PT foi ao ar sem ninguém dar por isso e agora anda tudo às turras e aos murros na mesa a ver quem é que foi e ninguém faz a mínima. E no GES/BES foi a mesma coisa. 


Soube há pouco que o Montepio também está a ser investigado e tomara que não venha por aí mais outra bronca, mais um Novíssimo Banco - e isto é tudo uma grande vergonha, uma verdadeira bandalheira.

Mas, enfim, volto à cold cow, ao GES/BES.

No Expresso de hoje, aparece uma imagem do mundo em que se sinalizam os locais por onde os Espíritos andaram a circular ou, em particular, por onde o dinheiro andou a viajar.

Contudo, noto que não aparecem as Ilhas Caimão.

Ora as Ilhas Caimão aparecem referidas no site holandês 925.nl como sendo o destino dos milhões de Ricardo Salgado. 


Já lá foram publicados alguns artigos relativos ao escândalo Espírito Santo, artigos que falam da OnGoing e de Nuno Vasconcellos e Maria Alexandra Mascarenhas, falam das empresas no Luxemburgo e na Suiça, falam nas contas furadas, mostram números, desmontam esquemas e afirmam que nas Ilhas Caimão terá Ricardo Salgado qualquer coisa como mil milhões de euros. Coisa pouca. Trocos. 


Cá para mim, parece-me um exagero mas já não digo nada.

Segundo me dizem e quem o diz sabe o que diz o  principal do 527 é advogado, foi redactor-chefe de uma prestigiada revista, é assustadoramente bem informado, amigo de há uma vida de Marc Rutte, o actual PM da Holanda, mas sujeito independente a sério e capaz a sério. Fora isso, comentador da TV, figura do Jet Set, dandy também a sério.

Os textos são naturalmente escritos em holandês mas, a quem não compreenda a língua, dou a dica que me deram a mim: a tradução do google para português é imprópria para consumo mas a tradução para inglês dá para perceber alguma coisa, o suficiente para se perceber que, quem escreve aquilo, documentou-se e não fala de cor.


Do fim para o princípio: aqui, aqui (o tal onde se fala das Ilhas Cayman) e aqui. Acho que falta ainda um mas agora não consegui encontrar.

Conviria que alguém, com tempo, desse uma vista de olhos ao Nine to Five pois pode ser que debaixo daquele angu haja caroço.

O que me dá mais pena, para além da desgraça para tanta gente que não tem responsabilidade nenhuma nestes verdadeiros crimes e se vê vítima*, é a imagem desgraçada que damos de nós próprios lá fora. Parece que isto é um país de terceiro mundo, em que o poder fátuo do dinheiro (que nem sequer existe, já que o que há são monstruosos buracos) a todos corrompe e, além disso, uma cambada de totós que é roubada por um bando de artistas de alto gabarito e que não dá por nada.


* Uma vez mais Henrique Monteiro assina no Expresso uma crónica do mais infeliz que há. Dá-lhe o nome 'Calma, ó vítimas do BES'. Mostrando que, como sempre, não vê um palmo à frente do nariz, põe-se agora a criticar os que criticam a decisão do BdP porque, diz ele, investidores não podem ser comparados com aforradores e quem anda à chuva molha-se. 


Mas, digo-lhe eu, muitos pequenos investidores são como pequenos aforradores, acreditam no que lhes diz a pessoa da agência, acreditaram que o dinheiro aplicado em acções do BES estava seguro e que rendia mais. Mas se é um crime rapar o dinheiro dessas pessoas que não tinham voto na gestão (e estou a referir-me aos pequenos investidores) também é um tiro no capitalismo e, por infame que o capitalismo frequentemente se mostre, é o regime em que vivemos. Tirando os especuladores, a malta do short selling e dos CDSs, quem é que, em consciência, vai voltar a investir no mercado de acções em Portugal? E não pensarão que, se isto é assim agora na Europa, mais vale é estarem quietos? Poderia tentar aqui explicar ao Henrique Monteiro muitos outros aspectos espúrios desta decisão, da forma como ela se revestiu, mas estaria a gastar o meu latim. O Henrique Monteiro gosta de falar de cor, diz o que lhe vem à cabeça, gosta de tiradas de efeito e pouco mais. Não é para ser levado a sério. A chatice é que passa a vida nas televisões a dizer o que diz e, com isso, é capaz de influenciar muita gente.

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Bem, é tardíssimo, fico-me por aqui. Não vou rever porque já não me aguento acordada.
Relembro: sobre decoração de casa de banho e limpezas e mais não sei o quê, desçam, por favor, até ao post já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.


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quinta-feira, agosto 14, 2014

A descida aos infernos de Henrique Granadeiro, Zeinal Bava, Luís Pacheco de Melo. Na queda arrastaram a PT que, de jóia da coroa, passou a subsidiária, a anedota. Para ter artistas destes à frente das empresas, eu por mim preferia ter bonecos da Orient Industry. Pelo menos não saíam tão caros, não gastavam tanto dinheiro mal gasto e não faziam porcaria.



No post abaixo falo do afinado Quarteto de J. Rentes de Carvalho e do desafinado desfiar de desAgrados de M. Bentes Penedo - e faço questão de marcar a diferença de estatura entre o primeiro que é grande e a segunda que, no que escreve, revela a sua pequenez. 

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é de outra natureza. Contudo, continuo a falar de coisas pequenas.


Ver a banda passar





A PT teria estado melhor servida na Administração/Comissão Executiva
com estas três daqui do que com os três que aparecem na fotografia seguinte


Estive a ler a notícia do Expresso onde se revela que a Comissão de Auditoria na PT envolve Zeinal Bava e compromete Granadeiro: Investigação interna na PT diz que Bava sempre recebeu tabelas com aplicações financeiras, que falavam em BES e não em GES. Granadeiro confessa que mandou contratar papel comercial. PT não queria investir em 2014 mas foi convencida... não se sabe porquê. Pacheco de Melo devia ter falado, Morais Pires não devia ter calado. Comissão de Auditoria de Mello Franco só se iliba a si mesma.




O ex-trio maravilha da PT: Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e Pacheco de Melo



Ou seja:

Zeinal Bava estava ao corrente de todas as aplicações mas, onde se devia ler aplicações de risco no GES, lia-se depósitos no BES. De qualquer forma, aparentemente confiava nos outros e não questionou ou, então, nem deu por isso. Peanuts.
Henrique Granadeiro aprovou 200 dos 900 milhões e não recebeu informação relativa aos restantes (milhões). Peanuts.
O CFO, Luís Pacheco de Melo, não deu conhecimento do que se passava porque, do que me parece, nem ele se ralava com tais peanuts já que seria o director financeiro que se ocupava dos amendoins, parece-me que um tal Carlos Cruz, o que fazia os quadros onde se trocava GES por BES e aplicações em papel comercial de risco por depósitos.

Luís Filipe Vieira
e Luís Pacheco de Melo

(a teia dos negócios)

Intrigada com tal desgovernance, acabei a saltar dali para ir ver o CV do CFO Luís Pacheco de Melo. Vi que em 2011 Luis Pacheco de Melo foi distinguido pela Institutional Investor como o terceiro melhor CFO europeu no scetor das telecomunicações e o melhor CFO em Portugal e que, em 2010, foi eleito, pela Institutional Investor, como o 3º melhor CFO europeu no setor de telecomunicações e pela Extel como o melhor CFO para a área de Relação com Investidores em Portugal. 


Ora bem, lá prémios nunca lhes faltou. Ah, egozinho mais aconchegado...

Vi que também veio do BES, da área do Investment. Bate certo.

E, finalmente, vi que a formação de Pacheco de Melo é a mesma do financeiro Carlos Moedas: engenharia civil.


E, aqui chegada, senti-me esclarecida.

Note-se que tenho a melhor das impressões dos engenheiros civis -  acho que, em geral, são inteligentes. Mas faz-me muita confusão que à frente de áreas em que é necessária uma formação de base relevante na área da gestão, economia e finanças, esteja uma pessoa que recebeu formação em engenharia civil. Mas isso já são os peanuts mentais que me enchem a cabeça a fazerem estragos, a impedirem-me de perceber tanto do que me rodeia. 

Mas, enfim, em Portugal o mais que eu vejo são erros de casting ou o exercício de funções de responsabilidade a cargo de quem não tem formação suficiente para as desempenhar.

E, por isso, o meu ponto é outro. 

O meu ponto é que estas empresas que se viram essencialmente para o mercado e para a imagem, são empresas que vivem em função de modas, que papam tudo o que as empresas de consultoria lhes dão a comer, onde o verdadeiro sentido de negócio e boa gestão parecem não abundar. 

A PT e todas as empresas que vivem na sua órbita são o paraíso para as empresas de serviços em Portugal: não há cão nem gato que não apresente como referência a PT. Há lá, em permanência, consultores, e recorre-se a outsourcing e fazem muitos benchmarkings e patrocinam tudo o que é seminário e trapalhadas do género. E, claro, tanta benevolência para com auditores, consultores e demais prestadores de serviços é recompensada: por muito pouco que efectivamente façam, estão sempre a receber prémios e prebendas, prémios esses que os jornais amplamente divulgam (não fosse a publicidade da PT uma colossal fonte de receitas - tal como era a do BES).

A PT é, pois, aos olhos de (quase) todos, o modelo de eficiência, o modelo da modernidade, a que está na crista da onda. Tudo o que é nova tendência ou modelo de gestão, é implementado na PT.

Pois bem, a julgar pelo que agora constatamos, com tanta cagança, esquecem-se do bê-a-bá: de gerir o mínimo dos mínimos.

Não é só na PT, note-se. Do mais comum que há em Portugal é os CEO, os CFO, os CMO, os CTO e por aí fora (já para não falar nos chairman que é mesmo suposto serem meramente decorativos), andarem entretidos em reuniões da treta em que miúdos das empresas de consultoria apresentam belos power-points ou em larachas ou em almoços e jantares ou em torneios de golf ou de ténis, enquanto a gestão das empresas lhes passa ao lado.

Bem podem encomendar relatórios de sustentabilidade, terem brilhantes códigos de ética e de governance que o que é importante, o meter as mãos na massa, o querer ver e questionar (mas o que é isto? porquê isto e não outra coisa?) tudo isso é coisa que não lhes assiste. Não sabem. 

Por isso, nem posso dizer que fique admirada por a PT, uma das jóias da Coroa, ter ido para o buraco em dois ou três meses. Frequentemente o que me admiro é como é que não acontecem maiores desaires a torto e a direito.

Muitas vezes aqui o tenho dito. As elites em Portugal são um desastre: as elites políticas, as elites na gestão, a elite nos empresários, a elite na academia. Tudo um faz de conta que assusta.

Não são os trabalhadores que ganham muito ou que trabalham pouco. Não. O problema é que quem manda, em geral, não tem competência para tal.

A família Espírito Santo arrasou o prestígio familiar, destruíu o Grupo e, de caminho, deu cabo do banco, deu cabo da vida a muitos pequenos investidores e vai pôr no desemprego muitos colaboradores. Tanta gente que lá trabalhava, tantos supervisores, tantas auditorias, tantos consultores e auditores e, no entanto, todo o poder estava nas mãos de gente sem escrúpulos e sem competência - que destruíu tudo sem que ninguém desse por nada. 

O mesmo se passou na PT.

Dado que se trata de empresas que estão no mercado de capitais, deveriam ter estado sujeitas a escrutínio. E estavam. A CMVM, no entanto, no caso da PT não se apercebeu nunca que a gestão estava a cargo de um senhor qualquer algures no meio da estrutura. E, no caso do BES, o banco de Portugal também não deu por nada. Nem a Troika. Tudo uns totós. Tudo show off. 

E depois ainda me vêm falar de estratégias de comunicação. Tretas. Há por aí muito ignorante que acha que o que se deve é trabalhar com boas agências de comunicação para irem gerindo 'o que passa para fora'. Como se o problema fosse a imagem e não o conteúdo.

Não sei como é possível dar a volta a este estado de coisas.

As universidades formam pedantezecos formatados para obterem valor para o accionista, para optimizações fiscais, para tretas e embustes. Os patrões, regra geral, são fracos e, portanto, gostam de se rodear de gente ainda mais fraca. A comunicação social está empestada de papagaios que papagueiam acefalamente tudo o que as agências de comunicação lhes dão a comer. Os políticos emanam das jotas, gentinha desqualificada, que acha que pode mandar sem sequer saber falar sem dar pontapés na gramática. Como se isso não bastasse, quando nos partidos se querem ver livres de alguém, chutam-nos para Bruxelas, pelo que em lugares relevantes de Bruxelas se encontra gente do piorio, chernes, oportunistas, joguetes, capachos.

Por isso, nem sei que sugestão posso eu dar. Dizer que as elites sejam escolhidas pela competência e honestidade intelectual parece-me uma utopia. Só se for que, em vez destes indigentes, passem a estar bonecos. Aliás, acho que bonecos ainda não há. Mas é pena.




Em contrapartida, bonecas com toque de pele humana, poitrines para todos os gostos, cabelo, pézinho atrevido, é o que não faltam. Dizem as más línguas que ainda por cima têm uma grande vantagem sobre as mulheres de verdade: não falam.

Por isso, daqui lanço um apelo aos accionistas que tenham que votar administrações em próximas Assembleias Gerais: votem em dolls destas que aqui mostram. Saem baratas, não maçam os colaboradores com projectos da treta, não fazem disparates, não arruínam empresas, não dão cabo da economia do País. Só vantagens.


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Já agora um momento de cultura geral

‘Dutch Wives’ sex dolls have realistic skin, claims Japanese doll-makers Orient Industries





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Relembro: sobre a diferença que uma letra faz (Rentes versus Bentes), desçam por favor até ao post já a seguir. Ele há coisas do além. Pode uma pessoa julgar-se tão grande como aqueles de quem fala? Pode. É ver para crer. 


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A música lá em cima é A Banda, interpretada por Chico Buarque de Holanda

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.


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segunda-feira, agosto 11, 2014

'Especial JOSÉ GUILHERME' - a Gente do Expresso revela algumas das 'dangerous liaisons' do Zé Grande, o benemérito que ofereceu 14 milhões a Ricardo Salgado [14 milhões que a gente saiba...]


Ora bem. No post abaixo já vos contei como cozinhei o meu almoço de sábado e de domingo. Não falei do jantar de sábado porque foi restos (massa e carne assada para o meu marido, tosta de carne, tomate e rúcula para mim). 

Só agora me ocorre uma coisa em relação às receitas: uso temperos que vou ao campo apanhar ou que trago de lá (orégãos, louro, alecrim). Talvez nem todos os arranjem frescos mas talvez os haja no supermercado, talvez secos. Mas se não forem os que referi, podem usar outros ou talvez até nenhuns.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra (embora o tema também inclua bastas almoçaradas).


Vou falar do que aprendi com o Especial José Guilherme da rubrica Gente do Expresso desta semana.



Quem é o Zé Guilherme?, é bem capaz de ser a pergunta que os distraídos farão.


Penso que toda a gente sabe quem é o misterioso José Guilherme mas, aos distraídos e incautos, informo que é o tal generoso amigo de Ricardo Salgado, aquele que, tanto quanto sabemos, lhe ofereceu uma pequena lembrança, um recuerdozitouma atenção (digamos assim): 14 milhões de euros depositados numa offshore

[Que mal tem?, terá pensado Ricardo Salgado. Uma insignificante liberalidade destas qualquer um recebe. E o mesmo digo eu: qual de vós, Caros Leitores, não está fartésimo de receber cadeaux assim? Todos. Todos recebem. Não venham agora armar-se em santinhos e dizer que não. Olhem, eu confesso: a mim, dia sim, dia sim, caem-me uns trocos destes nas minhas contas das Caimão. E que mal tem isso, ora essa? Amigos que são amigos dos seus amigos é o que toda a gente deve ter, e se não os tem, azarinho. Aqui, no caso da amizade entre o Ricardo Salgado e o Zé Guilherme, a chatice foi que entrou uma areia na engrenagem. Por um azar dos Távoras, neste caso a coisa não correu muito bem e os suiços, por onde os 14 milhões terão deixado algum rasto, acabaram por dar com a língua nos dentes e as autoridades portuguesas não puderam fingir que não sabiam de nada. Daí aquela piquena correcção que Ricardo Salgado teve que fazer no IRS (digo piquena porque é assim que os Espíritos desta vida pronunciam a palavra 'pequena'; às tantas pensam que é assim mesmo que se escreve)].

O José Guilherme, antes apenas construtor civil da Amadora, é agora um grande construtor civil em Angola e tudo graças às portas que Ricardo Salgado lhe abriu. José Guilherme e o filho, Paulo Guilherme, entretanto já se entrosaram com o regime e dizem que já não dependem apenas do crédito do BESA mas, claro, amigos que são dos seus amigos, não esquecem a amizade que os une a tão distinta família.

Sendo pessoa discreta, de José Guilherme não se sabe muito. Conhecido por Zé Grande ou Zé Construtor, quem o conhece diz ter um coração grande.


Para suprir essa lacuna de conhecimento, a GENTE do Expresso dedicou, esta semana, uma atenção especial ao filantropo da Amadora para que melhor possamos perceber quão grande o seu coração é. Aliás, já na outra semana tinham explicado um bocado o percurso deste homem generoso (é conhecido pelos donativos, onde se inclui o piano que comprou para o jovem Domingos António, na altura protegido de Duarte Lima, aparentemente para agradar a este último de quem, consta, era bastante próximo. Consta também que é amigo de José Luís Arnaut mas, enfim, dessas coisas eu só sei aquilo que ouço).


Pois fiquei esta semana a saber que o Zé Construtor tem uma herdade na Amareleja, a Herdade dos Arrochais, com 2.700 hectares. Ora bem. E fiquei também a saber que a herdade tem adega topo de gama, vinho do bom a cargo de enólogos de renome e que é do melhor que há para caça que é um gosto: perdizes, lebres, javalis, veados.

E fiquei ainda a saber que o Zé Grande organizava grandes caçadas, em que uns caçavam e outros iam só pela companhia, e que se juntava lá toda a fina flor. Grandes almoçaradas, sãos convívios.

Consta também que agora já ninguém quer dar a cara em defesa desses encontros. O nome José Guilherme queima. Pudera.

Claro que nos Arrochais se encontravam pessoas da família Espírito Santo, gente amiga, mas também Dias Loureiro  (of course!) e, pelo que fiquei a saber, Isaltino Morais (a quem Zé Grande já tinha oferecido um almocito de aniversário no valor de 3.400 euros e outras piquenas atenções). Mas não só. E digo este 'não só' com um picantezinho porque a Gente lembra aquela vez em que Luís Montez, o genro, foi ferido por um ricochete de chumbo. Lá foi para o Centro de Saúde e, claro, o sogro, Cavaco Silva, também lá foi ter. Consta que eram carros e mais carros, parecia um casamento, diz-se ali. Diz-se também que o Zé Grande, sempre mãos largas, deu de gorjeta 250 euros em notas aos dois bombeiros.


A uns 250 em notas, a outros milhões em offshores. Muito dinheiro - daquele que não deixa rasto (excepto quando alguma coisa corre mal) - a rolar por ali, é o que é. Leio também que um político que pediu o anonimato disse: O Zé Guilherme sabia receber em grande. A caça é como o golfe. Um evento muito restrito em que alguns aproveitam para estabelecer e fortalecer contactos. Era o que se passava nos Arrochais.

Ora bem, digo de novo enquanto faço um estalo com a língua. É que o assunto é mesmo de estalo.

Poderia pôr-me para aqui a especular que não devia ser o Zé Guilherme a bancar aquelas festanças, cá para mim deveria ser um custo ('despesas de representação', talvez) de uma das suas empresas. Também poderia especular que essas empresas eram financiadas pelo BES e, se fosse ainda mais picuinhas, poderia ainda especular que, face ao que hoje se sabe, que esse dinheiro talvez tivesse origem nos depósitos dos clientes do BES, talvez das economias de pequenos depositantes, talvez até daqueles de quem depois os Salgados desta vida diziam que 'viviam acima das suas possibilidades'.

Mas não digo nada disso, digo apenas que gostei de saber qual era a entourage que se movia em volta do benemérito Zé Grande.

Novidade, isto? Tenho que confessar que não. É como nas telenovelas portuguesas, parece que os artistas são sempre os mesmos.


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As imagens mostram a Herdade dos Arrochais e o Monograma do seu dono.

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Estava com vontade de falar de outras ligações perigosas, desta feita envolvendo outra casta, a dos administradores excelentíssimos, daqueles que recebem todos os prémios de gestão aquém e além mar, os que apadrinham cursos, que sponsorizam seminários, os que ensinam o que é uma governance de truz. Desta vez centrar-me-ia naqueles que, porque a areia começou a entrar na engrenagem, deixaram a descoberto o climinha de promiscuidade e o aparente transvase de dinheiro de um lado para o outro - e que, uma vez mais, mostraram o profundo desprezo pelos accionistas, pelos trabalhadores e pela lei, pela regulação, pela ética. 

Referir-me-ia, em concreto, a um que já um dia se confessou encornado e que agora, pelo que dá a entender, se sente de novo como tal. (Meu filho, corno uma vez, corno para todo o sempre - não sabia?). Henrique Granadeiro. E o amigo Ricardo Salgado, claro. Mas também Zeinal Bava. E outros. Todos os que geriam a PT, a jóia da Coroa, todos os que a destruíram. Todos os que destroem a economia e o nome de Portugal.


Quanto valor e quantos empregos (directos e indirectos) vão desaparecer por conta desta forma de agir por parte de quem acha que está acima da carne seca? Não sei quanto nem quantos, respectivamente. Mas sei que muito, muitos. 


Mas hoje já tenho sono, já não dá para desenvolver o triste tema. Fica para depois.


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Se quiserem comer como se come in heaven então permito-me relembrar: descendo até ao post já seguir, poderão encontrar duas receitas, uma de salmão e outra de bacalhau.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
Saúde, sorte, afecto e alegria é o que vos desejo.


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segunda-feira, julho 28, 2014

Os homens do Expresso e Ricardo Salgado, o BES, o Grupo Espírito Santo: Nicolau Santos, Pedro Santos Guerreiro, João Vieira Pereira. E Miguel Sousa Tavares. E João Duque. E outros de outra comunicação social como Marcelo Rebelo de Sousa. E o Correio da Manhã (mas isso não sei se é bem jornalismo). E os Partidos. E não só.


Volto a um assunto de que já tantas vezes aqui falei: a decadência de um poderoso Grupo económico português que se tem vindo a precipitar a velocidade acelerada, mostrando como entre a glória e a ruína vai um curto passo. Uma família Espírito Santo, até há pouco tão rica, rica demais para poder tombar, é hoje, certamente, um grupo de pessoas em aflição, consumida pela desconfiança e pelo ódio.





E volto ao assunto porque a imprensa, antes tão servil, é agora um cão esfaimado pronto a saltar ao pescoço daqueles a quem, antes, tanto venerava. E, ao lançar confusão e areia, a imprensa tablóide corre o risco de desviar a atenção daquilo que importa.

Por isso, vou começar no Correio da Manhã mas não por muito tempo pois penso que presta um mau serviço ao país e vou antes centrar-me no Expresso, no qual há, apesar de tudo, alguns jornalistas de qualidade. E digo alguns porque outros, jornalistas ou colaboradores, uns por uma razão, outros por outra, nem tanto (e agora estou a cingir-me, em particular, ao mediático caso Espírito Santo).


O Correio da Manhã, que parece estar umbilicalmente ligado ao Ministério Público, revela que o BES emprestou alguns milhões aos Partidos, com o CDS à frente (5.5 milhões?). 


Não sei como é feita a gestão económica e financeira dos partidos. Presumo que tenham como fonte de receitas o que os militantes pagam, que não deve ser muito, e algum apoio vindo do Orçamento de Estado. Como despesas, devem ter rendas e outras despesas de funcionamento da sede, incluindo pagamento de ordenados a funcionários, publicações e publicidade, etc. Não sendo empresas com fins lucrativos, diria eu que deveriam ser capazes de viver com o que têm já que não poderão fazer, como as empresas, diversificação de actividades, 'penetração' em novos mercados. Por isso, causa alguma estranheza que precisem de se financiar em milhões. Por exemplo, o CDS, um partido tão pequeno, precisa daqueles milhões para quê? Não sei. Mas, enfim, parece ser mais um caso de gestão do que outra coisa. Uma organização ou uma pessoa pedir empréstimos à banca não tem nada de mal, sobretudo se os conseguir pagar. Por isso, a capa do Correio da Manhã a mim não me diz nada: parece-me, isso sim, puro populismo jornalístico.

A questão é mais outra: quase toda a gente que exerce uma actividade em Portugal parece que não sabe gerir sem ser com recurso a capitais alheios. Ou seja, tal como digo aqui desde sempre e como fica cada vez mais claro, não foram as pessoas individualmente que viveram acima das suas possibilidades mas sim alguns, poucos, os muito privilegiados de sempre, e as organizações, especialmente as de gestão privada (provavelmente, partidos incluídos). 
Portugal vive em cima de dívida e isso, sim, é um grande problema. Há tempos li na entrevista que Anabela Mota Ribeira fez a António Nogueira Leite uma coisa com a qual estou absolutamente de acordo. Referia-se ele ao contacto que tinha tido com o patrono do Grupo Mello:
O Sr. José Manuel de Mello via sempre à frente de todos os outros. Há uma série de coisas que estão a acontecer que, ditas na linguagem encriptada que ele usava, e que quem trabalhava com ele percebia, anunciou. Refere, candidamente mas de uma forma frontal, que em Portugal as pessoas não gerem activos, gerem dívida – que até aí ninguém tinha dito.

É verdade. E, quando se vive em cima de dívida, vive-se no arame - dependente de tudo, vulnerável, as fracas economias que a actividade vá gerando a serem devoradas pelo serviço da dívida. E vive-se sob o jugo de quem tem o poder para ir dispensando mais uma pinguinha, mais um pózinho. 

Porque se chegou a este ponto? Ter-se-ia que recuar muito na História de Portugal para encontrar as causas e nem seria eu a pessoa mais habilitada para falar nisso.

Um Estado em geral ocupado por fracas elites, por gente que se deixa manipular, incapaz de regular o que quer que seja, o poder na mão de uns quantos, poucos, e muita corrupção, grande e pequena mas disseminada, dinheiro circulando por muitos corredores - esta tem sido, de facto, mais coisa menos coisa e salvo em alguns curtos períodos de excepção, a história da vida deste pobre país.

As empresas francesas, quando orçamentavam grandes projectos para venderem em Portugal, incluíam sempre uma rubrica designada por frais latin. Luvas. Soa humilhante para nós mas era (e até há pouco tempo era assim; agora não sei) indispensável para que se conseguissem ganhar grandes concursos.
Não havia grande negócio que se fizesse que não tivesse que contemplar dinheiros para este, para aquele e para aqueloutro. Por vezes, as benesses percorriam a hierarquia de cima a baixo, tudo agilizado (oleado) de forma generosa. Repito: escrevo no passado porque desconheço o que se passa nos dias de hoje.

E, portanto, uns porque pagaram, outros porque receberam, outros porque trabalham em empresas que são fornecedoras e que não querem perder negócio, outros porque são colaboradores e devem fidelidade à empresa, outros porque são amigos ou familiares, ou por mil outras razões - não puderam falar e, mesmo hoje que tudo se escancara em escândalo e revolta, há pessoas de quem se esperaria que denunciassem ou criticassem factos e o não fazem. 

Numa altura em que o assunto que grita no País é o escândalo e o drama da queda do império Espírito Santo, Miguel Sousa Tavares sempre tão atento à actualidade, não toca no assunto GES/BES. Compreende-se: a sua filha é casada com um Espírito Santo. Eu também teria dificuldade em arrasar publicamente um compadre meu. 



Marcelo Rebelo de Sousa já o disse publicamente várias vezes: é amigo pessoal de Ricardo Salgado, já passaram muitas férias juntos, e é sabido que a sua namorada de longa data, Rita Amaral Cabral, é administradora do Grupo. Como poderia ele falar abertamente? Como poderia ele lançar alertas públicos? Fala apenas em geral, em termos globais e fala agora. Ouvi-o há pouco dizendo que já em 98 afrontou Ricardo Salgado mas não tenho ideia. Desconheço se teceu críticas privadas ou quase privadas mas em privado tudo é possível porque, supostamente, as paredes não têm ouvidos. Sobretudo, é inconsequente. O que importava, perante as dramáticas consequências para tanta gente, era que, atempadamente, se tivesse tentado impedir que tanto mal acontecesse.


[Nota: Falar agora é fácil e meio mundo o faz como se já soubesse deste brutal escândalo há mil anos. Mas a coisa é ainda mais desagradável quando o falatório assume contornos de conversa de vizinha. É o que achei da recente conversa de Paes do Amaral. Paes do Amaral foi casado com uma irmã de Rita Amaral Cabral e, portanto, quase cunhado de Marcelo Rebelo de Sousa. A forma deselegante como, na entrevista que concedeu ao jornal Dinheiro Vivo a propósito da privatização da TAP, envolveu Marcelo Rebelo de Sousa na teia de Ricardo Salgado soou-me a vingança, a mau feitio, a coisa feia, a coisa muito pouco nobre - mas, enfim, por estes dias a nobreza parece andar pelas ruas da amargura]

Continuo. Falo agora não de jornalistas ou comentadores mas, sim, de gestores tidos por excelentes, verdadeiros opinion makers junto de quem se interessa pela boa governance de sociedades. Henrique Granadeiro ou Zeinal Bava eram presença frequente em seminários ou debates, casos exemplares. Contudo, estão nas administrações de empresas que têm como accionista os Espírito Santo - como podem falar, se estão onde estão pela confiança que merecem junto do ex-dono disto tudo? Não podem. Aliás, de forma incompreensível, atiraram para a lama a sua própria reputação, a reputação da PT e estoiraram com as economias dos que acreditavam neles. Um caso difícil de entender e que ainda irá dar que falar.



São exemplos, simples exemplos, porque as ligações são poderosas e inúmeras.



Nicolau Santos recordou na sua crónica do suplemento de Economia do Expresso de sábado: em tempos falou das suspeitas e indícios envolvendo Ricardo Salgado e, por causa dessa ousadia, o Expresso sofreu uma quebra de receitas publicitárias no valor de 3 milhões. O BES é um grande anunciante, uma fonte de receitas relevante para toda a gente que precisa das receitas publicitárias. Não é fácil a uma empresa como aquela que gere o Expresso encaixar uma perda de receitas de 3 milhões. Por isso, antes que alguém falasse, que pensasse bem. Assim funcionam estas coisas.


Por isso, foram poucos os que, em momentos difíceis, tiveram a coragem de romper o cerco. Nicolau Santos, como já antes o disse, tem sido exemplar na forma como rompe os cercos do medo. Esta semana não apenas recorda os que valorosamente têm posto o dever de informar acima de medos ou interesses, como tem a coragem de enunciar as actuações tíbias de Carlos Costa que tem sido tão elogiado por meio mundo e cuja actuação, na prática, tem sido tardia, pouco eficaz, e, sejamos claros, pouco credível.

Nicolau Santos fala também em Pedro Santos Guerreiro, um jornalista de primeiríssima água. Claro na expressão, directo, honesto, pela sua mão têm sido escritos dos mais claros artigos sobre a ruína da família Espírito Santo.


Esta semana, Pedro Santos Guerreiro, faz uma antevisão do que vai acontecer às empresas do Grupo (falências, depreciações, venda, prejuízos para os fornecedores e demais credores, muito desemprego), ao BES (perda de valor, perda de dimensão, provável aquisição por parte de outro banco, anulação da marca BES) e para a família (perda de tudo, ser processada, desagregar-se). Ler Pedro santos Guerreiro é ler a realidade sem photoshop.


Nicolau Santos fala ainda de João Vieira Pereira que acompanhou algumas investigações.

Confesso que, em geral, não me revejo na escrita e nas opiniões de João Vieira Pereira. Parece-me frequentemente errático nas suas apreciações, injustificavelmente crédulo (o que parece acontecer sempre que as promessas vêm do lado da actual coligação), só reagindo perante evidências, aparentando pouca consistência nos seus juízos de valor. Mas, de vez em quando, tem assomos de clarividência e escreve de forma directa, sem brandura. É o caso do que escreve esta semana no seu Bloco de Notas. Não sei exactamente a que se refere quando fala de links mas presumo que ele saiba e, por isso, transcrevo:

O Grupo Espírito Santo era claramente extractivo. Extraía para alguns. Para os seus. Família ou amigos. Não havia bem comum. Havia o bem de um.

Sobre ele girava um império. Os links estão todos feitos. A Durão Barroso, a Paulo Portas, a José Sócrates, à EDP, à PT, e até ao Benfica. Os casos sucederam-se durante anos. Sempre com o memsmo denominador. No palco ou nos bastidores.


Mas a culpa é tanto dele como de quem lá o deixou ficar. Durante anos houve um pacto que ninguém ousou quebrar, ninguém.Por mais que agora venham dizer que sempre avisaram, é mentira! Ninguém teve coragem para o fazer. Ninguém com o poder de acabar com a vergonha.

A vergonha de haver um poder económico que não trouxe prosperidade. E que ajuda a explicar por que razão continuamos na cauda da Europa. O valor criado era apropriado por alguns, os eleitos. E foram muitos os que ganharam no jogo.


Não posso estar mais de acordo. Só lamento que, com a presciência que agora revela, João Vieira Pereira não tenha tido a mesma lucidez nas vezes em que o vi defender, com unhas e dentes, as medidas estúpidas com que Passos Coelho tem vindo a destruir a economia, a aumentar a dívida e a atacar trabalhadores, como se tivessem sido estes últimos os responsáveis pelo estado do País. Mas, enfim, se finalmente, caíram os véus que, por vezes, pareciam toldar-lhe a vista, só posso ficar contente. O país precisa de um jornalismo isento e lúcido.


Exemplo de um cata-vento que diz o que calha consoante sopram os ventos é, em minha opinião, João Duque, justamente o da 'confusion de confusiones'. Chega a ser patético. Esta semana escreve uma crónica, naquele seu estilo que tenta ser humorístico, mostrando que, com a estrutura accionista e a estrutura organizativa (e fiscal), as empresas do Grupo Espírito Santo formam uma teia impossível de rastrear. Pois. Têm razão Nicolau Santos e João Vieira Pereira quando dizem que agora é fácil pisar quem já está no chão. Pois não foi João Duque que, à frente do ISEG, concedeu mais uma distinção a Ricardo Salgado? Em 2013, Ricardo Salgado  não foi prestigiado com o doutoramento "honoris causa" por serviços prestados à economia, cultura, ciência e à universidade?


Transcrevo uma parte de uma notícia de Julho de 2013, assinada por Maria Teixeira Alves,sobre o discurso de agradecimento de Ricardo Salgado ao ser agraciado :
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"Hoje em dia não se pode falar de emprego e crescimento sem ter conta uma visão estratégica sobre o que se passa no mundo", disse [Ricardo Salgado] defendendo a internacionalização. Elogiou o papel do BESI na internacionalização do banco.
"Agrada-nos muito ter contribuído para o aumento das exportações portuguesas", disse.
Ricardo Salgado reforçou o papel do Estado no equilíbrio das finanças públicas para poder reduzir a austeridade ao mínimo e promover o crescimento económico". O banqueiro realçou ainda a importância da União Bancária.
Finalmente elogiou o papel do ISEG, presidido por João Duque, no conhecimento.

Por isso, quanto a João Duque, estamos entendidos.



Mas volto ao muito esclarecedor artigo de Nicolau Santos e, para abreviar razões, limito-me a transcrever:

O BES foi seguramente, nos últimos anos, o banco que mais investiu em publicidade na comunicação social. Essa estratégia nunca foi inocente. Na sua mão tinha sempre a espada de Dâmocles, que levava o director de cada rádio, jornal ou televisão a pensar duas vezes antes de publicar algo desagradável para o banco verde.

A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de férias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco.



Poderia eu acrescentar: Meu Caro Nicolau Santos, acha que esta prática era exclusivamente dedicada a jornalistas ou a estâncias de neve ou náuticas? Quantos directores ou administradores de empresas foram assistir a jogos de futebol aqui, ali e acolá, com viagem de avião, deslocações, almoços e jantares tudo incluído por convite do BES? Poderia juntar alguns exemplos para além do futebol como, por exemplo, torneios de golfe aqui e além mar, ou outros, mais mas isto está longo para além da conta e eu sei que a vossa paciência tem limites.


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Seria bom que se pudesse fazer uma limpeza nos bastidores da política, da economia e das finanças de Portugal, especialmente acabando de vez com a teia que perigosamente, ao longo de muitos anos, se foi entretecendo entre os seus vários agentes. Mas seria bom que isso não implicasse o sacrifício de muitos inocentes. E é disso que tenho receio, é isso que me preocupa. Mas tudo se há-de resolver e, com sorte, os efeitos colaterais não serão dramáticos e a justiça correrá célere para punir os culpados de tanto atraso de vida.

E até lá, até que a justiça faça o que tem a fazer, que haja decência e respeito (inclusivamente por parte da Justiça e dos seus agentes).





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As músicas são, respectivamente, as bandas sonoras dos filmes 'O Padrinho' e 'O silêncio dos inocentes'.

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Nota escrita na manhã de quinta feira, dia 7


Este post, à data a que escrevo isto, já foi lido mais de 22.000 vezes o que me surpreende imenso. Aos que aqui vierem agora permito-me sugerir a leitura do que, sobre o tema, escrevi entretanto, depois de ter escrito o que acabaram de ler:

Aqui

Aqui

Aqui

Aqui

e, já sobre o NOVO BANCO, aqui, e depois disso já outras dúvidas, perplexidades e catatonias de que seria fastidioso continuar a pôr a aqui os links pelo que o melhor, caso queiram, é irem direitos ao blogue em geral, sem destino definido (mas vão com cuidado pois - vou já avisando -, por vezes, perco-me por maus caminhos).


[Já agora: desde o início que venho escrevendo sobre o tema BES mas para não estar aqui a pôr todas as ligações, caso esteja interessado, sugiro que nas 'etiquetas' do lado direito, lá mais para baixo, clique em BES]. 


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