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quarta-feira, junho 10, 2020

Mário Centeno, Mariana Mortágua, Cecília Meireles, Duarte Pacheco, etc.
E Chaplin, António Silva, Duarte Pacheco, Beatriz Costa.


Um dia que tudo isto se resolva talvez eu possa contar o que têm sido estes meus dias. São tempos de mudança. Mudanças a vários níveis. Só me apetece mudar e assalta-me uma vontade quase incontrolável de desapego. Não é fácil explicar-me nem é fácil, sem ser descritiva, transmitir até que ponto estou nesta disposição de virar costas a coisas que, dir-se-ia, me são intrínsecas. 

Mas isto para dizer que são tão preenchidos e intensos estes meus dias que chego a esta hora avançada, a sentir-me cansada, incapaz de me pronunciar a sério sobre o que quer que seja. 

O pior é que, tarde e más horas, quando sossego, ligo a televisão a ver se me distraio e vejo meio mundo a comentar, a dar palpites, a agourar, a sentenciar, a arengar sobre uma coisa que deveria ser a mais normal do mundo -- a saída de Centeno do Governo. E ouço que agora querem impedi-lo de poder vir a ser governador do Banco de Portugal. Arranjam mil razões, inventam argumento, dão testemunho, põem ar de doutores. Sabem tudo. Se alguém se distingue por ser competente logo há quem salte para os balcões da televisão com uma infinita e repetitiva converseta da treta. Circulam entre telejornais, noticiários, programas de debate de pechisbeque, repetem o que já disseram e escreveram noutros lugares -- e mostram que isto é uma terrinha de vizinhas, de comadres, de intriguistas, de gente de olho gordo. Em vez de quererem que gente competente esteja em lugar onde a inteligência seja uma mais valia, parece que querem é que o lugar seja ocupado por morto-vivo, múmia cega e surda, carlos costas de rabos pelados que deixam que tudo aconteça debaixo do nariz sem nada verem, sem que de nada saibam e elencando argumento para desfiar desculpas. 

São deputados e ex-deputados, advogados, ex-directores de jornais. Sempre os mesmos, sempre os mesmos trejeitos superiores, sempre aquela pseudo-sabedoria encardida a armar ao pingarelho. Não quero já nem saber se são competentes ou o escambau. É a atitude. Quando entrevisto candidatos para virem trabalhar para as minhas equipas o que eu quero perceber é se são gente boa, gente com boa atitude, gente franca, gente humilde, bem formada, gente que goste de trabalhar em equipa, que seja tolerante. Não quero gente cagona, de nariz empinado, gente com o reizinho na barriga, gente que pensa que sempre estará por cima da carne seca, gentinha armada ao pingarelho.

Mas esses não são os critérios de quem escolhe comentadores e comentadeiras. A televisão está cheia de gente que eu não queria nas minhas equipas nem pintada. A Mariana Mortágua, por exemplo. Não há pachorra. Arma-se em sabichona, em putativa madre superiora disfarçada de vingadora dominatrix. Ou a Drago. Versão délicatesse da Mortágua. Ou o cardeal, o Louçã. Acha-se superior. Mas superior a quem? Em quê? Não sei. Não aguento arrogância. Não digo que por vezes não tenham razão. Digo que são insuportáveis. Uma sociedade em que intragáveis destes estivessem em maioria haveria de ser pior que viver num convento de freiras do século passado, com castigos, maus tratos, sevícias de toda a espécie.

Ou a Meireles na Assembleia, porta-voz. Sempre com cara de má, sempre roída de azia. Ou aquele super-músculos que, para além dos músculos, só tem cabeça mas, infelizmente, oca, o Duarte Pacheco. O que ele diz, senhores. Parece daqueles pintas de província que se encostam à porta da taberna, armados em bons, faço e aconteço, mas que não passam de uns coitadinhos.

Mesmo dos outros, dos que são supostamente não políticos, na televisão, já não os aguento, um enxame de comentadores que só mastigam e remastigam o regurgitado uns dos outros. Nenhum quer ficar atrás dos outros. Inventam desgraças, antevêem desaires, antecipam litígios. Cada um vê mais problemas, vê antes dos outros, adivinha-lhes, antes dos outros, a gravidade. Aves agoirentas, urubus, papagaios. Não tenho paciência. Espremido é zero.

Só desejo é que o Governo tenha arrojo, visão e arte para dar um piparote em velhos hábitos e para levar o país para melhores caminhos. Para mim, ao contrário do joker pintarolas, Portugal está bem quando os Portugueses também o estão. E é isso que tem que acontecer durante o período que aí vem. E que Centeno continue a ser bem sucedido por todo o lado por onde ande e que continue a ser útil ao País.


Tirando isso, depois dar nomes a alguns bois, pena tenho é que não possa mesmo pegá-los pelos cornos. E agora apetece-me é ver vídeos como estes aqui abaixo. Com vossa licença, deixe que os partilhe convosco.








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As fotografias são de Patrick Demarchelier

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E um bom dia de Camões, da Língua e de Portugal.

quinta-feira, julho 28, 2016

As sanções inexistentes e as reacções catatónicas de Cecília Meireles e Miguel Morgado.
O never ending Caso Marquês e as estonteantes luminárias José Gomes Ferreira, Micael Pereira e um pardal de que não registei o nome que a SIC trouxe à cena para testarem a paciência do Rogério Alves e do João Araújo.



Esteve bem Antóno Costa quando se manteve seguro da sua razão ao defender Portugal do tratamento absurdo, ridículo e até pueril por parte da camarilha burrocrática ancorada em Bruxelas: que viesse um cêntimo que fosse de sanção que ele lhes diria o que é que era bom para a tosse. Que avançaria com um processo, disso estivessem certos. E tal o peito feito com que o disse que ninguém duvidou de que o faria.

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As galinhas, os papagaios, as meninas que se borram de medo ao primeiro abre-olhos da perceptora, as virgens ofendidas que não abandonam a naftalina que a elas se colou, os vendidos e os lambe-cus logo se puseram do lado dos homens do garrote e logo peroraram: que este governo não merecia confiança, que este governo andava a atrair o diabo, que com eles não haveria sanção nenhuma. 
Desavergonhados, a fazerem de conta que o que estava a ser avaliado pela camarilha não era o resultado da sua governação pafiosa.           
(Desavergonhados - disse eu?)

Pois não sei se estou certa ao achá-los desavergonhados. Desde que esta tropa fandanga se uniu em torno da ambição de um certo cão com pulgas e de outros ávidos de poder para derrubarem um programa de recuperação aprovado por Bruxelas (e agora, interesseiramente, até me vou fazer de esquecida do fatídico papelão a que o PCP e o BE também se prestaram) que alimento esta dúvida metódica: são desavergonhados, mal-intencionados ou, simplesmente, burros que nem portas?

Desde sempre me inclino para esta última hipótese: burros. Burros encartados.

Agora caíu-lhes em cima, outra vez, o cuspo que andaram a atirar para o ar. Sanções = zero

Parece que aquele do nome intragável e que parece que bebe vinagre às colheres já veio vomitar azedume com uma cara que parece ela própria regurgitada. Comeu e não gostou. Azarinho.

Claro que, no meio daquela basbaquice, para parecerem que são inteligentes, aqueles comissários de meia tigela lá vieram armar-se em compreensivos e, como quem não quer a coisa, para não aparecerem aos olhos de toda a gente como uns atrasados mentais, embrulharam a decisão com meia dúzia de vacuidades celofânicas. Querem mostrar que estão vivos. Deixá-los. Que sejam parvinhos à vontade. A seu tempo serão varridos de onde estão.

Pois bem. Face a esta boa notícia de que, depois de muito ladrarem, os comissários da treta regressaram à casota com as sanções entre as pernas, qual a reacção das inúteis e nacionais pafianas criaturas?

De gargalhada.
(Mas, também, que outra coisa seria de esperar?)


Do lado do CDS, apareceu aquela que, coitada, não tem culpa de ter cara de má, de bruxa amarga: a Cecília Meireles (quando falo nela tenho sempre que ir confirmar, não vá estar baralhada e a dar-lhe o nome da poetisa de tão bom nome). Nem sei bem o que é que saíu daquela boca ressabiada, parecia que estava agoniada com a notícia. Se calhar, nem percebeu bem o que se tinha passado. Falou como se estivesse a dar uma lição de moral mas não se percebeu quem era o destinatário nem qual a mensagem. Um acto falhado, portanto.



Do lado do PSD, apareceu um que mais tem cara de delinquente (ou de polícia infiltrado no bas-fond), coitado que também não tem culpa (mas o fácies não costuma enganar...): era só desarrumar-lhe um bocado a roupa, vestir-lhe uma tshirt pintarola, fazer-lhe umas tatuagens pelos braços acima, enfiar-lhe um piercing no canto da boca e calçar-lhe uns ténis maneiros que não tinha que enganar. Chama-se Miguel Morgado e bolsou um palavreado mal-enjorcado, sem inteligência nem articulação lógica. Também não conseguiu avaliar a situação. Mais parecia um actor que ali estava na decorrência de um casting falhado: ou se enganou no vestuário ou desatinou com o texto. Não se aproveitou nada. É que nem deu vontade de rir, só pena.


E é isto a oposição que sobrou: uns desenquadrados, incapazes de perceberem o que se passa à sua volta, apenas ainda presos à vontade servil de bajular aqueles que ainda encarnam os ideais liberais que sonharam para Portugal, muitos dos quais bebidos de luminárias que, em seu tempo, instruíram as hostes laranjas (João Duque, por exemplo; e não falo talvez do principal porque esse já não está entre nós).

Como ilustre professor dos descerebrados pafiosos talvez seja justo incluir também o putativo primeiro-ministro, o fantástico José Gomes Ferreira, que não se cansa de enunciar as medidas do seu putativo governo.

A propósito: esta quarta-feira à noite lá tivemos o fantasioso artista, falando a partir de Faro, opinando sobre PPPs e autoestradas e decretando que se dizem que há fumo, é porque há fumo e, se dizem que há fumo, é porque há fogo e se há fogo não é preciso mais nada, está tudo provado. Sócrates meteu a unha. Onde, como, a que propósito, a troco de quê - isso não interessa para nada. E, em conjunto com o Micael Pereira do Expresso e com uma apardalada figuroca de quem nem fixei o nome, disseram tantos, tantos disparates e alarvidades a propósito do caso Marquês e da personalidade de Sócrates que o meu marido não teve a paciência de santo que vi a Rogério Alves e João Araújo e, depois de os mandar para sítios feios, mudou de canal. Xô!



E eu pergunto: como é possível a SIC juntar tão indigentes opinadores com duas pessoas inteligentes e articuladas? O que pretende? Tornar a SIC num sucedâneo do Correio da Manhã TV? Testar até que ponto resistiriam os dois ilustres advogados antes de atirarem um copo de água à cara dos flausinos ou recusarem-se a falar mais se dessem mais canal ao José Gomes Ferreira (que cada vez mais parece um vendedor de banha da cobra jornalística)?


Não há pachorra. Mas lá está: penso que têm desígnios mal confessados mas, às tantas, também não têm, às tantas também é só burrice da parte de quem engendra estes programas. Burrice da grossa. Inclino-me para isso. Estes são os tempos em que ainda há carradas de burros em lugares de decisão. Aos poucos irão sendo corridos mas, até lá, ainda haveremos de ter que continuar a assistir a isto: burrices atrás de burrices. Se calhar, temos que aprender a pacientar. Ainda mais.

Ou não.

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E agora aceitem o meu convite e desçam até ao post seguinte onde refiro a angústia que testemunhei no rosto de uns pais assustados com a deriva do seu filho, e onde falo também de Adel e Ali a propósito dos perturbados que têm espalhado o terror na Europa.

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sexta-feira, maio 20, 2016

Pois em lugar algum se vê um imortal já no céu...


O tempo corre em plena luz do dia tão secretamente
como o ladrão na noite.

Cravar o olhar no tempo, gritar até que o
medo o petrifique: redenção ou catástrofe?





Com uma certa indolência, deitada no sofá, o computador em cima de mim enquanto leio, deixo passar o tempo devagar. Que ele nunca passe apressado, roubando partes de mim. Quero-me mortal, sim, degustadora de tempo, amante do fluir que, um dia, me há-de levar para o lugar do nunca.

Sem pressa, dizia, vagueio pelas páginas dos livros, pelos ecrãs. Procuro o que me pareça coisa rara.
Mas não é fácil. Penso que há tanta, tanta gente que escreve que me parece provável que, tal como eu escrevo anonimamente, algumas das pessoas com quem lido diariamente, também o façam.
Talvez a blogosfera não seja formada por um grupo restrito de pessoas que não passa sem escrever nas, sim, por uma amostra da sociedade. É que, ao ler alguns blogues, detecto uma cópia da futilidade que encontro no dia a dia, mais do que a necessidade de escrever. Para já, nunca descubro blogues por mim, sou pouco mais do que blog-excluída. Contudo, volta e meia vou atrás de alguns comentadores que vejo noutros blogs. E fico perplexa. Como daquelas ondas baixas que, junto à rebentação, trazem toda a espécie de lixo que o oceano cospe, assim alguns blogues: insinuam, maldizem, atacam-se uns aos outros ou copiam-se  ou comentam as vacuidades que outros já comentaram. Cansa-me isso e interrogo-me: porque escrevem? Mas vejo pouco mais que a ponta de um imenso iceberg de palavras que se propagam pelos ares: instagram, facebook, twitter, blogues, blogues, blogues. Por cabo ou pelos ares, o planeta deve estar saturado desta imensa cacafonia que por aí circula. E eu, que para aqui estou a falar, contribuo para isso.

Mas o que penso de muitos blogs, penso também de livros. Entro numa Fnac e são prateleiras e estantes cheias de lixarada. As montras da Bertrand a mesma coisa: lixo, lixo, lixo. Muita cor, muita palavra vazia.

No meu dia a dia a mesma coisa: pessoas que só falam de trabalho e que, com ar enfático, dizem que nem deram por ser feriado ou fim de semana. É frequente eu receber mails de trabalho ao sábado, ao domingo. E geralmente nunca é nada de urgente, tudo coisas que, sem problemas, poderiam ser enviadas durante a semana, em horário normal. Porque, mesmo aos dias de semana, é frequente receber mails de trabalho às onze da noite, quando não depois da meia noite.

Acho uma tristeza. São estas pessoas que se vangloriam, como se se lamentassem, que não têm tempo para ler, para passear, para ficar a olhar o mar.

Hoje voltaram a dizer-me que sou desalinhada. Sou. E nem consigo disfarçar. Afirmo-me como sou mesmo que veja uns pares de olhos espantados presos às extravagâncias que digo.

Se ouço toda a gente a dizer que fez e aconteceu, que reviu, validou, e etc, e tudo isto à noite, toda a gente a enviar cenas uns para os outros, eu digo 'a essa hora estava eu a ver as luzes sobre o rio e a ouvir Arvo Pärt'. Silêncio. Para já devem pensar: quem diabo será esse e, de resto, a que propósito vem isso? E já falo no belo do Arvo porque é muito conhecido. Um dia destes ainda digo que, em vez de mails que pouco acrescentam, prefiro ouvir monjas beneditinas. Presumo que a incompreensão seja ainda mais perfeita.

Não é que eu, por vezes, não tenha coisas para tratar fora de horas. Tenho, claro. Mas é a excepção, o frete, não o supremo gozo ou o pratinho de ração diário.

No entanto, volta e meia sou ultrapassada e isso tenho também que confessar. No outro dia, conversando com quem juraria eu ser do mais conservador que à terra deus deitou, confessa ele que agora faz parte de um grupo de teatro amador, que até já participou num espectáculo. Fiquei sem palavras. Perguntei se era coisa a sério, com as pessoas a pagarem bilhetes. Claro que sim!, respondeu-me, Nem nunca tinha ouvido falar em tal grupo de teatro. Dias depois contei aos meus filhos. O meu filho ficou ainda mais passado que eu: foi uma vez, ao engano, ver uma peça. Diz que é do mais surreal, só maluqueiras e palavrões da pesada. Fiquei, de novo, sem palavras.

Por isso, tenho que deixar na minha mente espaço para me surpreender. E tenho, também, que conseguir não fazer juízos precipitados. Mas não é fácil.

Contudo, uma vez que posso escolher, evito tudo o que me parece tóxico, oco, inútil. Vou-me tornando niquenta, pouca coisa me agrada de verdade. Vagueio por aqui e por ali à procura do que me agrade e cada vez é mais raro. Procuro o canto dos índios ou dos pássaros, fontes de água limpa, caminhos silenciosos, a neblina que cobre os rios ou se esconde por entre as árvores, o cheiro do pão quente, a carta que chega, a ausência de disfarces, a generosidade, as palavras puras. De vez em quanto encontro e aí me fixo. Ou, se ando pelas livrarias, escolho livros que me falem do aroma do tempo, do desenho das sombras, da arte de fazer luz, dos enigmas que vivem dentro do nosso corpo, de mistérios que a física há-de um dia descobrir. Coisas assim. Mesmo poesia me vejo aflita para encontrar: não suporto lugares comuns ou versinhos de efeito fácil. Tenho que sentir a fibra e o osso, o sopro e o olhar, a respiração e o toque da pele, o tronco e a raiz, o barro e a pedra, a cor e a doce toada, o bater do coração, a suavidade da mão que se quer carícia, a força do braço que se quer abraço,

Quem, se eu gritasse, me ouviria dentre as ordens dos anjos? e mesmo que um me apertasse de repente contra o coração: 
eu morreria da sua existência mais forte. 
Pois o belo não é senão o começo do terrível, que nós ainda mal podemos suportar, e admiramo-lo tanto porque, impassível, desdenha destruir-nos. 
Todo o anjo é terrível.

[Rainer Maria Rilke]


Porque é que não se inventou nunca
um deus da lentidão?

[Peter Handke]


Aquele que um dia ensinar os homens a voar terá deslocado todas as barreiras; para ele, as próprias barreiras voarão pelos ares, e dará um nome novo à terra, chamando-lhe 'A Leve'

[Friedrich Nietzsche]


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E depois estão vocês aí desse lado. Todos os dias. Ao escrever, por vezes, espreito as estatísticas. Estou a escrever e vocês aí. Neste momento, à uma e dez da manhã, oitenta pessoas partilham o seu tempo comigo. Gostava que sentissem que me sinto grata por sentir a vossa companhia.


Portugal - 50; Brasil -12; Estados Unidos - 5; Alemanha - 4; Arábia Saudita -3; Ucrânia - 2; Bélgica - 1; França - 1; Indonésia - 1;  Irlanda - 1


Mas não são números, são pessoas que lêem as minhas palavras, são vocês, Caros Leitores. E eu sinto-me em dívida. É certo que parte do meu tempo é-vos oferecido, parte da minha vida está convosco. Mas não sei se vos agradeço o suficiente. Podem não acreditar mas, mesmo sem vos conhecer, sinto estima por quem está aí, comigo.

Lembro-me das palavras de Cecília de Meireles.
Tenho amigos em toda parte. Mas sou feito o Drummond que é tão amigo quase sem a presença física. Esse meu jeito esquivo é porque eu acho que cada ser humano é sagrado, compreende? Eu sou uma criatura de longe. Não sei se me querem mas eu quero bem a tanta gente! Sou amiga até dos mortos. Amiga de muita gente que nem conheci. Você não imagina quanta gente eu levo ao meu lado. E fico emocionada quando penso como uma criatura só recebe tanto de tantos lados, de tantas pessoas, de tantas gerações!


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As palavras do título são da autoria de Friedrich Hölderlin. As do início do post são de Proust. Todas as palavras em itálico são referidas no livro 'O aroma do tempo', Um ensaio filosófico sobre a Arte da Demora, de Byung-Chul Han. As pinturas são da autoria de pintores orientais (que, dado o adiantado da hora, não vou agora repescar).
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Abaixo encontrarão um vídeo surpreendente. A bem da inclusão.

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segunda-feira, março 14, 2016

O primeiro erro de Assunção Cristas no CDS pós-Paulo Portas


Como poderão ver no post abaixo e, provavelmente nos que se seguirão, estou noutra. Se estava no carro, ouvi música, se estava a pé deleitei-me com a paisagem. Passeie por entre verde, azul e dourado e, se nem me lembrava que vivo num planeta com fronteiras, muito menos me lembrei que vivo num país com partidos.



Mas, agora que estou de novo entre paredes, tenho a televisão ligada e, há pouco, vi o que penso que terá sido o encerramento do congresso do CDS.

Andando a caminho de um carro, naquele seu passo miúdo tão característico, com um lustroso casaco acolchoado, lá se foi o Portas. Foi tarde, já devia ter ido antes, há muitos anos que estava a mais na política portuguesa (se é que alguma vez acrescentou alguma coisa). 

Depois de Cavaco, sai, pois, Portas. Talvez, aos poucos, a política em Portugal vá ficando respirável, talvez, aos poucos, as pessoas que mais contribuíram para o descrédito da democracia e para o enfraquecimento do país vão saindo.

Durante décadas, o espaço político foi ocupado por gente que fazia do jogo de interesses o seu modo de vida (interesses de vários tipos), gente que, por motivos diferentes, fez com que a fasquia de exigência fosse sendo trazida para níveis cada vez mais baixos, um humilhante menos do que mínimo denominador comum que abriu a porta à venda ao desbarato de grande parte do País. 

Falta sair Passos Coelho. O PSD perdeu a recente oportunidade de se refazer ao reeleger Passos Coelho. O PSD de Passos Coelho está gasto, descarnado, descerebrado, anémico -- uma desgraça. Mas talvez o Láparo não se aguente por muito mais tempo pois aqueles que habitam esse espaço se encarregarão por repelir aqueles que estão já, apenas, a atrofiar o partido.

Mas, voltando ao CDS. Com Cristas o CDS vai ficar melhor do que com Portas. Acredito que sim. 

Não tem rabos de palha, ela, não terá ainda grandes vícios ou dívidas, e tem uma outra forma de falar, menos artificial, mais terra-a-terra. Contudo, ao ver as imagens e ao ouvir o que era aquilo, fiquei estupefacta. Então Assunção Cristas vai reformar a casa pegando em quatro rostos completamente colados a Paulo Portas e que os portugueses olham como o que de piorzinho o CDS tem? Alguém se prepara para uma nova era com gente presa ao passado?

Nuno Magalhães e Nuno Melo, dois trauliteiros, cosidos com as políticas da troika, irmãos gémeos na ideologia de Paulo Portas, Cecília Meireles, uma regateira, sempre a baixar do tacão e a tirar a faca da liga e a armar peixeiradas, Adolfo Mesquita Nunes que mais parece o protégé do irrevogável, todo ele a voz do dono, os meus tiques, os mesmos trejeitos, a mesma forma de falar com recurso a frases de efeito. Não arranjou ela gente mais normal, mais afastada daquela imagem triste que o CDS tem colada à cara?


A bem da democracia e do clima político português seria bom que o CDS se credibilizasse mas, com estes quatro vice-presidentes, não estou completamente certa de que Assunção Cristas esteja a dar os passos certos. A ver vamos (como diz o ceguinho).

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E queiram, por favor, descer até a um lugar lindo, onde os animais andam à vontade, sabendo que a terra é mais deles do que de nós, pobres humanos.

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sábado, maio 23, 2015

Porque a vida, a vida, a vida, a vida só é possível reinventada.


Tenho, nos lugares mais diferentes, amigos à minha espera. Você já reparou que, entre centenas, em cada país, nós temos sempre aquela pessoa, que, sem mesmo saber, espera por nós e, quando nos encontra, é para sempre? Por isso é que eu gosto tanto de viajar, visitar terras que ainda não vi e conhecer aquele amigo desconhecido que nem sabe que eu existo, mas que é meu irmão antes de o ser.

Tenho amigos em toda parte. Mas sou feito o Drummond que é tão amigo quase sem a presença física. Esse meu jeito esquivo é porque eu acho que cada ser humano é sagrado, compreende? Eu sou uma criatura de longe. Não sei se me querem mas eu quero bem a tanta gente! Sou amiga até dos mortos. Amiga de muita gente que nem conheci. Você não imagina quanta gente eu levo ao meu lado. E fico emocionada quando penso como uma criatura só recebe tanto de tantos lados, de tantas pessoas, de tantas gerações!





 Billie Holiday - As Time Goes By


Nunca esperei por momento algum na vida. Vou vivendo todos os momentos da melhor maneira que posso. Quero realizar coisas, não para ser a autora, mas para dar-me, para contribuir em benefício de alguém ou de alguma coisa. Quando adoeci e tinha que repousar uma hora depois do almoço, ficava calculando quanto poema deixava de escrever, quanta coisa linda deixava de ler e conhecer naquelas horas perdidas. Mas aprendi também a renunciar. Não tenho poema predileto. Ainda não o escrevi. A intenção é que é perfeita. Às vezes, um poema viaja comigo muito tempo sem ser escrito. Se não lhe dou muita importância, vai embora. Tenho muita pena dos poemas que não escrevo. E também muita dos que escrevo.




Tenho um vício terrível” — me confessa Cecília Meireles, com ar de quem acumulou setenta pecados capitais. “Meu vício é gostar de gente. Você acha que isso tem cura? Tenho tal amor pela criatura humana, em profundidade, que deve ser doença.” “Em pequena (eu era uma menina secreta, quieta, olhando muito as coisas, sonhando) tive tremenda emoção quando descobri as cores em estado de pureza, sentada num tapete persa. Caminhava por dentro das cores e inventava o meu mundo. Depois, ao olhar o chão, a madeira, analisava os veios e via florestas e lendas. Do mesmo jeito que via cores e florestas, depois olhei gente. Há quem pense que meu isolamento, meu modo de estar só (quem sabe se é porque descendo de gente da Ilha de São Miguel em que até se namora de uma ilha pra outra?), é distância quando, na realidade, é a minha maneira de me deslumbrar com as pessoas, analisar seus veios, suas florestas.”

Olho para Cecília encolhida em sua poltrona, iluminando a penumbra do canto da sala. Vejo-a tão menina olhando o solo e descobrindo na madeira floresta e lendas, deslumbrada de azul! Uma ilha cercada de pontes por todos os lados. Pontes para a ternura, pontes para a poesia, pontes para a alma de cada um. E olhando-a assim, poesia ela mesma, tão alta e tão pura, percebo porque continua a ser a garotinha à procura do eco, correndo por todos os cantos e por todos os deslumbramentos, sem poder recolher o eco da própria voz: nós somos o seu eco, cantamos o seu canto, sem que ela perceba; somos todos um pouco habitantes de sua Ilha de Nanja “onde as crianças brincam com pedrinhas, areia, formigas”. “Solombra”, a última obra de Cecília, quer dizer só sombra. Cecília, para nós. é só luz.


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O texto é um conjunto não sequencial de excertos da última entrevista de Cecília Meireles. A escritora morreu alguns meses depois de ter concedido o depoimento ao jornalista Pedro Bloch, em maio de 1964.

As fotografias mostram (e desculpem-me por não traduzir mas mal posso com um gato pelo rabo, quanto mais traduzir mais do que três palavras seguidas...): 
Hawaii-born painter and street artist Sean Yoro (a.k.a. Hula) has created a stunning series of street art murals depicting women emerging from the water along the concrete walls of ruined and abandoned structures. At home on the water, he paddles on a surfboard to reach the best locations for his art, even managing to balance his paint cans as well.
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E hoje por aqui me fico. Andei na rua até tarde, mais concretamente no Terreiro do Paço a ver o espectáculo de luz, a passear à beira do rio, a aspirar a maresia fresca da noite, etc, etc, e isto depois de termos ido jantar ao Mercado da Ribeira que estava a animação do costume, e, portanto, agora estou mesmo é capaz de me ir entregar ao sono dos justos.

E, acabo agora de ver, não sou a única a falar do sono dos justos - o que é natural: it's friday, thanks God.

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Happy little moments
by Maori Sakai


Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado cheio de momentos felizes.
E bons banhos de sol - e, sobretudo, bons banhos de mar a quem nele possa mergulhar. 
Eu espero bem poder fazê-lo.

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