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quinta-feira, agosto 28, 2025

Santa vidinha

 

Vidinha de aposentada é assim: ginásio, caminhadas, leituras, passeios à beira-mar, fotografar, papar sushi, preguiçar, regar, cumprimentar os conhecidos. Uma santa vidinha, na verdade.

Só que, pelo meio, aparecem sempre cenas. 

Estive até agora, e já passa das duas da matina, a rever um contrato. Chegou-me tarde e, claro, poderia fazer de conta que não tinha visto e só pegava nele de dia, quando tivesse tempo. Vidinha boa de aposentada tem destes privilégios, pode fazer-se o que se quer, quando se quer. 

Se, com carinha lampeira, talvez até deixando implícita a minha condição de sénior, disser, olha, quando vi já estava com sono, depois, de manhã. tive que dar banho ao cão, quem é que vai pegar no meu pé? Ninguém, né? 

Acontece que ainda tenho agarradas a mim as células velhas de quando trabalhava. Bem que já poderiam ter-se renovado, e eu, toda eu, ser outra, despreocupada. Mas não. Feita eu quando era assalariada, mal me chega alguma coisa para fazer, só se não puder é que não ponho logo na calha. E, se na calha não estiver nada de mais importante, é logo. Claro que poderia pensar para mim própria que coisas mais importantes era o que não faltava: ver as notícias, ver o instagram, irritar-me com os comentadores. Mas não. Parece que aquela coisa de primeiro as obrigações e só depois as devoções também continua peçonhentamente agarrada a mim.

Portanto, aqui estive a ver cláusula a cláusula, a consultar o código civil e o rebeubéu pardais ao ninho, a fazer análise comparada com outros contratos, a assinalar as alterações, etc., a trabalheirazinha do costume. 

Conclusão, a esta hora, sei lá eu sobre o que é que hei-de aqui escrever? Não sei... Aconteceu alguma coisa digna de registo? Não sei.

Por acaso, li, de relance, que se percebeu aquela coisa da falha tectónica que justifica aquela quedazinha maçadora para os sismos cá do burgo. Mas não sei mais do que o título pelo que não me aventuro a botar faladura. Além do mais, não é tema que me ponha aos saltinhos. Se aquela coisa da fissura das placas for coisa que dê para preencher com silicone para isto não dar de si, tudo bem. Agora se é coisa sem remédio e a dita falha não vai fazer senão agravar-se, então, obrigadinha, mas não venham para cá incomodar-me com o tema pois passo bem sem ralações adicionais.

Por isso, peço desculpa mas, não havendo nada mais a declarar, aos costumes digo nada e avanço para os meus aposentos. E o que eu estimo é o que eu desejo. Sinceramente. 

quinta-feira, maio 29, 2025

Um frango esquecido e um biquini sem cuecas

 



Posso ter dado a ideia de que esta minha actual vidinha é um absoluto mar de rosas. Se dei, foi involuntário. É que, como em tudo na vida real (e reforço a 'vida real' porque na vida virtual tudo é possível, até a vida ser um imaculado mar de perfeições), não há bela sem senão.

E o senão é simples: quando ambos trabalhávamos, almoçávamos sempre em restaurantes. O jantar era muitas vezes leve, com alguma frequência comprado. Agora a coisa fia mais fino. 

Se calhar, se vivêssemos no centro da cidade, facilmente descíamos até à rua e, mesmo a pé, íamos até à próxima tasca ou poderíamos escolher um dia um restaurante, outro dia um de outro tipo. Morando afastados da urbe e, de vez em quando, imersos no campo mais campo que se possa imaginar, a oferta não está ao virar da esquina. Temos que nos meter no carro e ir. Depois há que estacionar. E depois, chegados ao restaurante, há que ter paciência para esperar. Ora, estamos comodistas. Não temos pachorra para o trânsito, para andar às voltas para descobrir lugar para o carro, para ficar à espera de ser atendidos. Muito menos temos pachorra para comida banal ou pior do que a que faço em casa.

Conclusão: salvo uma ou outra excepção, dia após dia temos que andar a puxar pela cabeça para saber o que se faz para o almoço, o que se faz para o jantar. Como queremos fazer uma alimentação saudável, tudo o que são frituras, refogados puxados, coisas gordas ou com molhos calóricos, estão fora dos cardápios diários. Ora, às vezes falta-me a imaginação.

Esta quarta-feira, para o almoço tinha feito um arroz de chambão com legumes. Para o jantar não sabia o que fazer. Queremos sempre coisas leves ao jantar mas estava sem pica nenhuma, incapaz de ter ideias. Como tinha que ir ao supermercado, pensei que podia comprar lá um frango assado, depois fazia um arroz e uma salada e estava feito. O meu marido achou bem.

Lá fomos. 

O meu marido ficou cá fora para aproveitar para dar a volta higiénica com o cão-fofo. 

Lá dentro, fui pondo no carrinho o que precisava: cebolas, cenouras, tomates, alface, pão, kéfir, iogurte grego natural, requeijão, chocolate preto. Trouxe também atum e salmão congelados. E mistura chinesa congelada. Resolvi também trazer, para experimentar os gelados de pistácio revestidos a chocolate pois o pessoal mostrou abertura para experimentar e, ao fim de semana, no verão, contam sempre que haja gelados no congelador. Depois, vi lá uma tshirt branca de um tecido que me pareceu interessante e a um preço baixo. Pareceu-me que estaria talvez grande demais mas, sendo branca, mais vale larguinha que justa. Trouxe. E vi um biquíni que me daria jeito pois, para aqui apanhar sol, só tenho um. E o preço também me pareceu bom. Trouxe.

Ao chegar à caixa, uma fila dos diabos, um tempo do caraças à espera. 

Quando cheguei ao carro... upssss... tinha-me esquecido do frango assado... E, com aquelas filas, impossível lá voltar.

O meu marido ficou desconcertado: 'E agora? Praticamente era esse o motivo da vinda ao supermercado... Pões-te a ver tretas e esqueces-te do fundamental.'. Respondi: 'Trouxe bife de atum... Posso fazer... ou salmão...'

Pela cara, vi que não estava muito para aí virado. Felizmente, tive uma ideia: como ele ia aproveitar a 'viagem' para ir a uma estação de serviço, pensei que talvez lá vendessem frango assado. 

E tive sorte. Mas só havia uma metade. Receei que fosse um despojo. Perguntei: 'É recente?' O rapaz olhou para mim muito admirado. Ocorreu-me que estava na dúvida se eu me estava a referir a ele próprio. Esclareci: 'Pergunto se o frango é recente...'. Mesmo assim não devo ter esclarecido bem, ou, então, não estava seguro do que responder. Disse-me com o que me pareceu fraca convicção: 'É...'

Chegados a casa, ao arrumar as compras, com um certo desconforto constatei que a embalagem do biquini afinal correspondia apenas ao soutien. Pelos vistos, vendem as peças separadas. Senti-me frustrada. É que, quando lá regressar, já não devo encontrar a parte de baixo à venda.

Mas, vejamos as coisas pelo lado positivo: com a mistura chinesa fiz um belo arrozinho e o frango afinal ainda estava quentinho e era bem saboroso.

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E, com esta conversa fiada, pela qual me penitencio, poupo-me a falar sobre os resultados dos votos dos emigrantes e sobre a confirmação de que o Chega é o 2º partido do meu País. Espero que façam a caridade de me compreender.

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Imagens obtidas via Sora (IA)

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Dias felizes

quinta-feira, outubro 17, 2024

Jubilados e Reformados
- A palavra a um Leitor, a quem agradeço -


A propósito do post no qual me indignei com o privilégio com o qual Madame Gago se regala, recebi hoje um comentário, que muito agradeço, muito exaustivo, que descreve a situação e o que a envolve (não especificamente o caso da dita Madama mas a dos funcionários de Estado que têm a inacreditável possibilidade de optar entre a condição de jubilado e a de reformado): 

A ex-PGR jubilou-se, não se reformou. 

Determinadas categorias de funcionários do Estado, como os Magistrados (Juízes e Procuradores), Diplomatas (Ministros Plenipotenciários e Embaixadores), Professores Universitários, por exemplo têm, nos termos da Lei, a possibilidade de escolher, quando atingem o limite de idade, entre serem jubilados, ou reformados. 

Na jubilação mantêm-se as regalias e deveres dos colegas no activo, a par do último salário que auferiam até à jubilação, o qual é actualizado de igual forma dos seus colegas no activo e continuam a receber, no caso dos Magistrados, um suplemento de compensação, auferindo assim um valor mais elevado enquanto jubilados, comparativamente a quem se reforma pela Segurança Social. 

Por outro lado, o jubilado é pago pela Caixa Geral de Aposentação (CGA) e não pela Segurança Social (SS). No caso, por exemplo, dos Diplomatas jubilados, o jubilado mantém deveres perante a hierarquia do MNE, podendo ser chamado por exemplo para consultas, etc, e não pode exercer quaisquer outras funções ou actividades, por exemplo, no sector privado e outros, ao contrário do diplomata reformado. No caso dos militares, só podem ser reformados, não existe a figura da jubilação.

Nesse sentido, a ex-PGR optando por se jubilar, naturalmente terá de usufruir do seu último salário, juntamente com as regalias que lhe estavam associadas – nos termos da Lei em vigor. O mesmo para com os juízes dos tribunais da Relação e do Supremo (e do Tribunal Administrativo e Tribunal de Contas, por exemplo). E assim sucederá e sucedeu igualmente com o Presidente do Supremo Tribunal de Justiça e seus antecessores, situação de quem ninguém se queixou, curiosamente.

Por último, um outro aspecto. Contrariamente ao que faz a Segurança Social, que utiliza uma taxa anual de formação da pensão que varia entre os 2% e os 2,3%, a Caixa Geral de Aposentações (CGA), contrariando a Lei, e criando mais uma desigualdade entre trabalhadores da Função Pública e do Sector Privado, aplica apenas a taxa de 2%.

Em resumo, a jubilação dos Magistrados está inserida na Lei, bem como a de outras determinadas categorias de funcionários do Estado, como atrás se menciona e releva. Situação esta que não foi objecto de qualquer proposta de alteração pelos Deputados da Assembleia da Republica, a quem compete proceder a alterações na Lei e quem fez aprovar esta Lei em vigor.

Fica o esclarecimento.

domingo, outubro 13, 2024

Digam-me que isto não é verdade! Digam-me, se faz favor!
A ser verdade, é um escândalo, é uma vergonha, é inadmissível!

 

Eu -- que sou pensionista da Segurança Social, que vi o meu ordenado esquartejado de todas as maneiras possíveis e imaginárias de tal forma que julguei que se tinham fortemente enganado (desconhecia todos os artifícios que existem na lei para poderem cortar de qualquer maneira) e que, apesar de ter muitos, muitos, anos de serviço, tenho uma pensão muito inferior ao que ganhava quando estava a trabalhar --, leio o que Vital Moreira escreveu no Causa Nossa e fico perplexa. 

A minha primeira reacção é: Não pode ser verdade! Não acredito! Seria indecente demais! Se fosse assim, já alguém teria denunciado tamanha aberração. 

Mas depois penso que o Vital Moreira é pessoa informada, cuidadosa. Não ia escrever uma coisa destas se não fosse verdade. Então, tento fazer um esforço para acreditar mas, palavra de honra, só me apetece desatar a dizer asneiras a a distribuir pontapés. Mas como não tenho nenhum destes juízes, escandalosos privilegiados, abusadores sem vergonha, à minha frente, guardo a indignação para mim e venho para aqui desabafar.

Transcrevo:

O problema da pensão da ex-PGR (e dos magistrados superiores do MP em geral, quando "jubilados") não é somente o seu elevado montante, no caso o maior do setor público, mas sim o facto de as suas pensões serem equivalentes ao último vencimento bruto no ativo (sem dedução da contribuição para a segurança social!...), e de assim se manterem todo o tempo. Ou seja, é maior a pensão de aposentado do que a remuneração líquida no ativo!

(...)

Se o regime de pensão dos "jubilados" é um privilégio dificilmente justificável no caso dos juízes, torna-se num superprivilégio sem nenhuma justificação no caso dos magistrados do MP.

(...)

Em Portugal, os privilégios corporativos tendem a assumir-se como direitos adquiridos irrevogáveis.

(...)

Um leitor acrescenta a «manutenção pelos pensionistas do chamado "subsídio de compensação" (cerca de 900€), relativamente ao qual, durante anos a fio, através de decisões judiciais, em benefício próprio, decidiram que não era tributado em sede de IRS». Inicialmente atribuído aos magistrados deslocados como compensação no caso de falta de "casa de função", foi depois estendido a todos, convolado em compensação da exclusividade das funções (como se esta não fosse já levada em conta no montante da remuneração). De facto, perante um poder político frágil, não há limite para a imaginação na captura de benefícios pelas corporações profissionais privilegiadas.


Texto completo aqui: Privilégios (22): As pensões dos magistrados do MP "jubilados"

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Só espero que isto gere uma onda de indignação geral e que seja imediatamente revogado. Quem são os juízes para terem privilégios que o resto da população não tem? Quem, caraças? Esta Lucília Gago que só fez porcaria enquanto Procuradora geral (e mesmo que tivesse sido exemplar!) o que é que é mais que eu para ter privilégios que eu (e o comum dos mortais) não tem?

Digam-me qual é o partido que vai acabar com isto imediatamente (e com outros privilégios que por aí haja) para eu saber em quem devo votar nas próximas eleições

quinta-feira, agosto 15, 2024

No discurso do Montenegro, foi chato aquilo do será-lhe

 

Não vi tudo. Só comecei a ver quando ele falava -- e bem -- do poder corporativista dos médicos e da necessidade de o enfrentar, abrindo mais vagas para os cursos de Medicina. Aleluia. 

Claro que antes de atirarmos foguetes, primeiro é preciso ver se cumpre ou se não estará, uma vez mais, a cavalo de algumas medidas já engendradas e preparadas pelo PS. Mas, se levar adiante, e se, de uma vez por todas, se formar os médicos de que o País precisa, já não será mau.

Também vai dar um suplemento aos pensionistas com mais baixas pensões. À partida, é uma medida simpática. Mas, nestas coisas, às vezes é preciso ver o filme todo.  Já agora também seria simpático -- e justo -- que passassem a aumentar as pensões todas e não apenas as que são abaixo de 12 IAS. 

Mas se, na parte que vi, me pareceu genericamente bem, a verdade é que, às tantas, Montenegro teve um daqueles lapsus que me deixam cheia de comichões. No meio da frase saiu-se com um desconcertante será-lhe. Mas, vá, no calor do comício, a gramática às vezes vai para as calendas... Portanto, vou relevar. Mas vou ficar de olho.

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É verdade... que é feito do PS? O Pedro Nuno Santos ainda anda a vender bolas de berlim na praia?

terça-feira, julho 16, 2024

Tornar-me jardineira e agricultora ou... nem por isso...?

 

Hoje o dia foi daqueles. Muita a coisa a tratar, muita burocracia, os serviços lentos, reduzem-se pessoas, tudo fica complicado, perdem-se horas. Cansam-me estas coisas. Almocei perto das 5 da tarde e não fiz algumas coisas que, para mim, eram prioritárias. 

E acresce que estamos na era dos caranguejos. Dantes era o meu pai que começava. Agora já sou eu, É verdade, Filo, é verdade. O tempo passa e a gente soma e segue. E, enquanto for assim, está-se bem. Venham eles que a gente cá está para os pegar de frente. 

A seguir a mim vem o meu filho e depois vem um dos meus netos. E logo de seguida chega uma avalancha de leões. 

E isto é a vertente boa, convivial e festiva. 

Mas depois, no meio de tudo, deixámos de ter jardineiro. Era uma luta que eu travava. Só faziam o que queriam e não percebiam patavina de jardinagem. A missão deles, na óptica deles, era limpar as folhas secas e aparar a relva. Ponto. Porque eu lhes pedia, podavam uma sebe de buganvílias mas faziam-na à bruta, sem pitada de competência, ou seja, de uma maneira que nunca conseguia florir. Quando lhes pedia para apararem a cameleira não faziam ideia do que era a cameleira 'É melhor a senhora vir dizer qual é para não ter como errar". Quando pedia para cortarem os rebentos ladrões de um arbusto, perguntavam: 'Ah é? Quer, é? Então, sim, a gente corta.'. Se eu não dissesse, por eles não viam o que tinham que fazer. Ramos velhos que mereciam corte, era coisa que não lhes despertava qualquer interesse. Trepadeiras a avançarem para cima do telhado, correndo o risco de levantarem as telhas era matéria transcendente que parecia não lhes despertar a mínima preocupação. Para eles, isso não estava dentro do âmbito. E, se faziam uma coisa, já não faziam outra. Depois era semanas em que iam de férias e se, na semana seguinte, o dia calhasse a um feriado e, ao todo, na prática ficassem 1 mês sem cá pôr os pés, por eles não havia problema. E a gente a pagar. E o ano passado quiseram um aumento de 20%. Protestei, a inflação não era nada disso. Este ano, vieram com aumento de 10%. Protestei outra vez. A inflação nem 5% é, como um aumento de 10%? Respondeu que não se fiava nos números da televisão, que ele é que sabia o preço das coisas e os aumentos que os 'meninos' pediam, não eram cá os da televisão, mas, se não quiséssemos, não haveria problema, ficávamos amigos. E clientes não lhe faltam. Não gostámos. Estávamos fartos e aqueles modos foram a gota de água.

Portanto, o assunto agora está connosco. Mas parece que até está melhor. Aquela sebe de buganvília está linda, toda florida, nunca a tinha visto assim. 

Mas tivemos que ir comprar um corta-relvas. E já combinei que amanhã temos que levar o escadote lá para fora pois há uma trepadeira cujas guias estão soltas em vez de seguirem por onde devem. O meu marido protesta, claro. Por vontade dele, cortava tudo a eito pois é quase como os jardineiros-estouvados que se estavam nas tintas para tudo o que é jardinagem propriamente dita. E o filodendro, gigante, está com os troncos descaídos tal o peso, temos que pôr uns paus a segurá-los. O meu marido diz que aquilo é um peso grande demais para nós dois conseguirmos fazer isso. Mas acho que temos que tentar.

Também tinha uns vasos que estavam raquíticos. Claro que regar vasos ou tratar das flores dos vasos era coisa totalmente fora do radar dos pretensos jardineiros. Podiam os vasos estar com plantas secas ou cheios de folhas velhas que eles não estavam nem aí. Comprei adubo líquido e tenho posto na água do regador e a verdade é que já começaram a espevitar.

No outro dia, quando estive a falar com a anterior proprietária da casa, constatei que ela já tinha despachado os jardineiros dela, diz que de jardineiros não tinham nada, que o marido se passou com eles, que agora é o marido que trata sozinho do jardim. Não eram os mesmos que os que vinham cá mas pela descrição pouco diferiam. 

Mas, enfim, é mais um trabalho. No outro dia, na piscina, uma colega sugeria que eu fizesse uma horta, que plantasse legumes, dizia-me ela que os tomates, as alfaces, as cenouras, etc, que consome são todos da sua horta. E já nem falo no meu filho que, volta e meia, sugere que tenhamos capoeira com galinhas. Mas nem pensar. Galinhas que têm que ser alimentadas todos os dias e que nos impediriam de sair de cá e uma horta a cuidar, regar, apanhar ervas daninhas e caracóis...? Em abstracto é lindo. Legumes e ovos e tudo biológico... Mas qualquer dia estávamos escravos de afazeres em cima de afazeres em cima de afazeres. Não... Quero sossego. Ambiciono algum descanso. Ando com vontade de escrever... mas querem acreditar que há não sei quanto tempo que não tenho tempo...?

Quando me perguntam o que é que tenho feito até fico sem saber o que dizer pois a verdade é que toda a gente pensa que os reformados são gente ociosa, sem nada que fazer, velhinhos especados em frente da televisão. Mas a verdade é que eu não paro, parece que não tenho tempo para nada. Hoje saí de casa de manhã, regressei perto das cinco, esgalgada de fome. Depois tomei banho, passeámos o cão, voltámos a sair, regressámos tarde. Ontem à noite tinha pensado que de tarde conseguiria sentar-me em frente ao computador e conseguiria escrever qualquer coisita. Sim, sim. Népias.

Que coisa mais inexplicável, não é?

E, pronto, é isto. 

quarta-feira, março 20, 2024

No reino de Kafka

 

Ao fim da tarde, andei a fotografar florzinhas como, por exemplo, as flores da laranjeira, delicadas, cheirosas, os botoezinhos do limoeiro que coexistem com os limões que, uma vez apanhados, exalam um belíssimo odor cítrico, e os frutos, as nêsperas a tingirem-se de dourado, a natureza a embelezar-se para receber a primavera.

Fotografei também o recanto do terraço onde estão os dois pequenos cadeirões e a mesinha que a minha mãe pintou de azul claro, que vieram de casa dela e que têm por trás as hastes arqueadas e floridas do jasmim amarelo.

Ia, pois, falar dos perfumes, das cores, da beleza.

Mas vou antes falar do que tem acontecido comigo e com o meu marido. 

Não quero fazer generalizações, dizer que tudo funciona mal. Não sei, não faço ideia. Posso apenas falar da realidade que conheço e que me toca de perto.

O que concluo do que vou contar, e antecipo já, é que há ainda muito a fazer. E, como sempre, o principal tem a ver com organização. Definir processos ágeis, realistas, eficientes e honestos é sempre o mais importante. Geralmente as empresas ou as instituições tendem a pensar que a primeira coisa a fazer é informatizar, gastar pipas de dinheiro a automatizar -- e isso é um erro, começar por aí é apenas deitar dinheiro para cima dos problemas.

Uma das novas modas e encontro-a nos portais das Finanças e agora constato que é o mesmo no da Segurança Social é decretar que o assunto sobre o qual reclamámos está em análise e, ao decretarem isso, dão a reclamação por resolvida e, portanto, fecham-na. 

Por exemplo, estando um assunto meu por resolver há quase um ano e tendo eu enviado diversas reclamações, estão todas dadas por resolvidas porque escreveram lá que estão na mesma, em análise.

Idem com o meu marido.

Eu conto qual a minha situação, que tem na base a mesma situação que meu marido.

Ambos trabalhámos a vida praticamente toda em empresas, descontando para a Segurança Social. Ambos somos agora pensionistas da Segurança Social. Mas, no início da nossa vida profissional, descontámos para a Caixa Geral de Aposentações (CGA), eu como professora e ele também como professor e depois na Marinha.

Por isso, quando solicitámos a reforma, pedimos a pensão unificada, ou seja, o somatório das duas parcelas, uma da SE e outra da CGA. Em alternativa, poderíamos receber duas pensões separadas. Preferimos, uni-las. Na altura informaram-nos que não tínhamos que enviar comprovativos dos tempos de serviço inerentes aos descontos para a CGA, pois a CGA tinha lá essa informação. Mas, por via das dúvidas, enviámo-los na mesma.

Passado pouco tempo de termos requerido a reforma, fomos notificados com o valor provisório, isto é, sem a componente da CGA. E foi isso que começámos a receber.

Decorridos 6 meses, recebi uma segunda notificação já com a indicação do valor completo. 

Para quem não sabe, nessa altura recebe-se um conjunto de folhas, frente e verso, com números, fórmulas, cálculos. Diversas parcelas, médias ponderadas, penalizações, bonificações... uma coisa quase impossível de conferir. Os cálculos remetem para os decretos respectivos e só os entendidos na coisa poderão validar tudo aquilo.

Mas, a olho nu, duas coisas chamaram a minha atenção. 

A primeira é que, às tantas, no meio daquela babilónia de cálculos, aparece uma operação aritmética. Agora não estou para ir ali dentro buscar a papelada para aqui pôr os números tal e qual mas imaginem que aparece qualquer coisa como

3.000 x 80% = 2.100

Aparece assim, com o enunciado do cálculo.

Olhei e pensei: estão doidos? O cálculo está errado, o correcto é 2.400.

E depois é o valor errado que entra na sequência de cálculos, portanto fazendo com que tudo esteja mal até ao fim.

Numa outra folha, onde aparecem os valores que vêm da CGA, aparece a data de início e a data de fim dos descontos. E vejo que a data de fim está mal, acaba 11 meses mais cedo. Ou seja, deve influir negativamente nos cálculos e no tempo de serviço.

Liguei para lá a referir aqueles dois erros e diz-me a menina que me atendeu: 'Ah, pois é, se calhar a minha colega que tratou do seu processo enganou-se...'.

Fiquei de boca aberta. Julgava que tudo aquilo era automático, que não haveria margem para erros humanos. 

E diz-me ela: 'Mas o que tem que fazer é apresentar uma reclamação, expondo esses erros.'

Assim fiz. No 1º semestre do ano passado. 

E nunca mais nada.

De cada vez que ia ao portal e apresentava reclamação por não ter resposta à reclamação (e voltava a repetir as minhas razões), recebia a resposta de que estava em análise e pimbas, reclamação dada por resolvida.

Mandei mails, telefonei, coloquei reclamações. Nada.

Hoje resolvi não largar.

Quando se liga para estes sítios, a gente tem que ir com paciência, determinação... e muito tempo pois vai marcando os números correspondentes ao assunto, se quer isto digite 1, se quer aquilo o 2, etc, e depois de estarmos para ali a escrever números, esperamos, esperamos pois aquilo toca, toca, toca, e nada. Até que a chamada cai.

Mas tanto insisti que finalmente fui atendida. A senhora disse-me que a Segurança Social é a porta de entrada mas que os cálculos são da responsabilidade do Centro Nacional de Pensões (CNP) pelo que iam transferir a chamada. E aqui novo castigo: toca, toca, toca até que se atinge o tempo limite e a chamada cai automaticamente.

Continuei a insistir.

Finalmente, do CNP atenderam. Sim, viam que o assunto estava em análise. E que, portanto, eu teria que esperar. Disse-lhe que daqui a nada há um ano que estava em análise e que me dissessem o que é que estava a emperrar, se havia algum problema, se haveria alguma coisa que eu pudesse fazer. Ela leu o teor da reclamação. Disse: 'Mas é que o assunto tem duas coisas: uma é um cálculo que você diz que está errado e outra tem a ver com a CGA. Por isso, temos que esperar que eles digam alguma coisa.'

Perguntei: 'Mas do CNP já enviaram o pedido para a CGA?'

A senhora disse: 'Devem ter enviado porque aqui o que tenho é que está em análise.'

Ainda tentei que tentasse ver em que data tinham enviado o pedido para a CGA. Disse-me que isso não conseguia saber.

Resolvi, então, ligar para a CGA. Já com aquilo quase a fechar fui atendida por um senhor muito simpático. Para meu espanto disse que não havia nenhum pedido da CGA relacionado comigo, nada. 

Quando me mostrei espantada e sem saber o que fazer, sugeriu-me que eu enviasse um mail para a CGA a dizer que no CNP me tinha informado que estavam à espera da resposta da CGA. E que eles me responderiam que ninguém lhes tinha pedido nada.

Lá mandei o mail, e acrescentei, de minha lavra, que fizessem o favor de verificar aquilo das datas e que informassem o CNP das datas correctas.

Não sei se o farão nem sei quando é que este nó estará desfeito. 

Uma coisa aparentemente tão simples...

No caso do meu marido, ainda está um passo atrás, pois a mim já juntaram a parcela da CGA, penso que errada mas já estão a pagá-la. Ao meu marido nem isso. Ainda está apenas com a pensão provisória pois ainda não juntaram a parcela da CGA. Já fez a mesma coisa: reclamações, mails, telefonemas. 

Até que hoje também não desarmou. Na SS, disseram-lhe que o tema está no CNP. Ligou para o CNP: que estão à espera dos cálculos da CGA. Ou seja, a resposta de sempre: o assunto está em análise. 

Então ligou também directamente para a CGA. E, para espanto dele, a resposta é que não fizeram nada porque não lhes enviaram os comprovativos. Ora quer no pedido da pensão quer nas reclamações e mails ele juntava sempre os comprovativos. E isto apesar de nos dizerem que não são precisos. Mas... se agora, afinal, são precisos e não os têm, então não pedem...? E da CNP não estranham passarem meses sem resposta e não questionam a CGA?

Lá enviou um mail para a CGA com os ditos comprovativos.

Vamos ver qual a evolução. Mas é asfixiante. Uma pessoa esbarra em paredes, parece que não vai conseguir furá-las, parece que fica sem saber o que fazer, parece que fica a descrer de alguma vez conseguir resolver os assuntos.

Como aconteceu com a minha mãe. Porque tinha insuficiência cardíaca, porque tinha sido operada a cancro do cólon e mais uma série de coisas, a médica de família tinha-lhe feito um relatório médico que ela enviou para a Segurança Social, para efeito de qualquer coisa chamada Multiusos, que lhe daria direito a ter algum desconto no IRS. Enviou no início de 2021. Responderam que agendariam uma inspecção numa Junta Médica. O tempo ia passando. Volta e meia eu mandava um mail para lá a saber como estava aquilo. Respondiam que se tinha atrasado tudo com a Covid, que esperasse. E o tempo passando. Para aí em Novembro, numa altura em que a minha mãe estava pior, mandei um mail a dizer que o estado de saúde da minha mãe se agravava e que já lá iam 2 anos e tal. Ligaram-me no dia do velório para, então, agendarem uma Junta Médica. Dei-lhes a notícia: tarde demais. Poderiam, ainda assim, ter emitido um relatório pois ainda há que pagar o IRS de 2023. Mas não. Morreu, morreu, azarinho, fecha-se o assunto e é menos um assunto em aberto .

Provavelmente haverá mil razões: falta de organização, falta de pessoal, falta de formação do pessoal. Mas que isto deixa os cidadãos a quem acontecem situações destas a sentirem-se impotentes e desanimados, lá isso deixa...

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Mas não quero que isto abale os meus alicerces, muito menos a minha boa disposição. 

Portanto, que entre o talentoso Jacob Collier (com Tori Kelly)

Witness Me


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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Pachorra e ânimo. Paz.

quinta-feira, outubro 19, 2023

Amigos contra as tempestades

 

Por aqui ainda não dou pela Aline. Mas parece que vem mesmo. A ver se não faz estragos, pelo menos, estragos de maior. 

Passa da meia-noite e meia e agora é que estou a pegar nisto. Não sei como me arranjo mas parece que, sejam quais forem as minhas circunstâncias, arranjo sempre maneira de andar sempre ocupada. 

Hoje foi na conversa com uma amiga de longa data. Impressiona-me muito como algumas amizades resistem ao tempo. É como se fossemos sempre as mesmas pessoas. A nossa história vai mudando, já vivemos muitas vidas, temos mais experiência, mas nós, nós mesmas, estamos aqui, capazes de falar horas a fio, compreendendo-nos, com vontade de conversar, de saber mais, de mostrar as nossas coisas.

Há algum tempo, quando estava na fase de me desligar do meu trabalho, eu a querer sair e a quererem que eu ficasse mais e mais, e eu, sobretudo por solidariedade e estima para com um colega que não estava bem de saúde, ia ficando e ficando, mas cheia, cheia, cheiinha de vontade de me pôr ao fresco, eu desejava dar uma volta completa na minha vida. 

E isso está a acontecer. Tenho a gestão do meu tempo, tenho a minha vida, posso estar na minha casa, que era uma coisa que eu desejava tanto, posso ler e escrever. Tenho escrito muito. Sei que tenho que passar por algumas provações até chegar onde quero. Mas passarei. Sou resistente. E resistente. E confiante. 

E o reencontro e reaproximação de amigos de quem a vida me tinha distanciado está a ser uma surpresa e uma alegria muito grandes.

...

Hoje pouca televisão vi. Entre uma e outra coisa, não me sobrou tempo. Está agora a televisão ligada mas estou a escrever ao mesmo tempo pelo que a atenção está um pouco desligada.

Sei que o mundo está muito perigoso, que o malvado e hipócrita Putin deve estar feliz por toda a atenção e esforços estarem concentrados na crise Israel/Hamas, sei que as ameaças terroristas saltaram de imediato para a Europa. E isso custa-me imenso. Uma vez, estávamos para ir a Paris mas havia atentados e ameaças de atentados e tivemos que adiar. Até há pouco tempo isso parecia-me longínquo. Paris sempre foi dada a greves a sério (uma vez fomos de comboio pois os aeroportos estavam em greve e o meu marido tinha reuniões de trabalho e eu tinha metido férias para aproveitar para ir laurear), dada a manifestações atribuladas. Mas os atentados ou as ameaças terroristas pareciam ter dado algumas tréguas. Agora, voltaram. E isso é um terror. A imprevisibilidade do local e da hora do ataque e a barbaridade que assumem é de estragar a tranquilidade a qualquer um. Dir-me-ão que é isso que sofrem os desgraçados da Palestina, de Israel, da Ucrânia e de todos os países assolados pela guerra, sempre na contingência de ser atacados, de perder a vida, de perder a casa e a família. É certo. Mas eu falo da minha realidade, a de viver numa realidade pacífica e temer, por mim e pelos meus, que aconteça alguma coisa que me parece impensável nos dias de hoje.

Enfim.

Não vos maço mais. Não vale a pena estar para aqui com ladainhas. 

Vou mudar. Não vem a propósito, pelo contrário, mas, nestas situações, apetece-me sempre, distrair a cabeça. Por isso, com vossa licença, que entre quem possa fazer-nos sorrir.

Chaplin and Keaton Violin and Piano Duet 


Desejo-vos um dia feliz, tranquilo

Saúde. Afecto. Paz.

segunda-feira, março 27, 2023

Marcelo. Macron. O sentido de estado.
[E, só porque sim, como um despropositado intróito, um pouco do meu dia]

 

Estou particularmente cansada, hoje. Quando chegámos a casa, ainda fui regar um pouco, talvez para conseguir ter alguma normalidade no dia ou levar a cabo alguma acção por minha decisão. Há vários dias que ando a reboque dos acontecimentos, horas fora de casa, sempre a sair cedo e a chegar tarde, sempre sem saber o que se segue. 

Quando cheguei a casa, depois de comer um iogurte ao qual juntei frutos secos (pois não tinha almoçado), sentei-me e, estafada como estava, adormeci. Ouvia, à minha volta, o urso cabeludo a ladrar freneticamente... mas o sono foi bem mais profundo, levou a melhor. 

Estava também expectante em relação à chegada do mais velho, que chegava de Paris, e que, fruto da confusão que por lá vai, tinha de lá partido com atraso. Isto depois de dias de farra e alta animação. E tinha pensado que tinha que acordar à hora dele chegar.

Quando o meu marido me foi acordar para ver se queria ir à rua passear com o dog pensei que não conseguia despertar de maneira nenhuma e, muito a custo, disse-lhe que fosse sem mim. Mas vi as horas, vi que estava quase na hora do avião aterrar. Fui logo ver o site. Ainda não tinha chegado.

Então forcei-me a levantar-me do cadeirão, bebi água e lá fui à rua, sempre agarrada ao telemóvel, a ver as mensagens e o site. Só aterrou cerca de meia hora depois. Aí respirei de alívio. 

E liguei à minha mãe a quem tinha deixado, um bocado antes, muito pouco animada, cheia de medos e ansiedades. Felizmente, já estava melhor.

Quando regressei a casa, fui fazer o jantar. 

Quando depois cheguei aqui ligou-me o jovem 'parisiense', rouco, rouco, radiante, feliz da vida, cheio de peripécias. Rico menino. Já quer lá voltar, diz que quer ir com os primos (e com o irmão, claro), quer ir repetir as aventuras, quer voltar a sentir a adrenalina das aventuras mais radicais. Quando tinha a idade dele e andava num ano lectivo equivalente ao dele, a minha excursão foi à Serra da Estrela. Agora vão a Paris. Outros tempos, outros tempos.

E agora estou aqui a lutar para me manter acordada mas não está fácil.

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Tenho andado para ver se conseguia falar de dois temas e gostava que fosse hoje. Vou tentar.

O primeiro tem a ver com as recentes medidas do Governo para mitigar as dificuldades económicas face à inflação, nomeadamente o aumento de 1% à função pública e à redução do IVA num conjunto de produtos essenciais, isto em conjunto com apoios a inquilinos de baixos rendimentos ou a quem tem créditos à habitação que não consegue suportar. E o que tenho a dizer é que, se for só isto, acho algo preocupante. Eu, numa situação de défice baixo, mais baixo do que o previsto, e com o crescimento do PIB acima do expectável, como meritoriamente aconteceu (e sinceros parabéns ao Governo!) centraria grande parte do esforço na redução da dívida. Sempre que se reduz a dívida poupam-se os custos dos seus encargos, libertando-os para outras áreas. Em contrapartida quando se aumentam custos, em especial custos fixos, pode estar a comprometer-se o futuro.

Ora não ouvi falar na redução da dívida e isso preocupa-me pois essa, em meu entender, deveria ser uma grande, grande, prioridade. 

Depois não sei se não se está a concentrar demasiado as ajudas nos sectores mais desfavorecidos, quase numa lógica de dádiva. Penso que fazê-lo de forma quase exclusiva é coisa de vistas curtas. O motor de uma economia é sempre a classe média. É a classe média que puxa pela classe mais baixa, e fá-lo numa lógica sustentável, criando empregos, gerando riqueza replicável. 

Ora parece-me que se está a agir demasiado numa lógica assistencialista e pouco numa lógica de desenvolvimento, de crescimento. E isso, a ser verdade, não é muito inteligente.

Contudo, mal tenho conseguido acompanhar as notícias pelo que posso apenas estar mal informada.

Além do mais, faz mal Marcelo em andar cegamente colado às sondagens e à opinião pública, pensando e actuando apenas numa lógica imediatista. Ele diz que é para contrabalançar a maioria absoluta mas eu acho que ele introduz confusão e ruído minando o terreno, pois, depois do que diz, deixa de ser possível ao Governo agir de forma racional, numa lógica de futuro.

O segundo tópico de que aqui quero falar tem a ver com o que se passa em Paris, com a rua em polvorosa contra a subida da idade da reforma. E o que tenho a dizer é que fico perplexa com aquela violência e disparate. Macron tem razão e nem sei como é que o sistema francês de pensões se aguenta com reformas aos 60, 61 ou 62 anos. Claro que, se não sobem a idade da reforma, é quase inevitável que, daqui por algum tempo, haja problema. Para além do mais, com a esperança de vida tão longa, que mal tem as pessoas trabalharem até aos 65 ou 66 ou mesmo 67 anos? Os actuais sessentas são os antigos cinquentas. 

Os cálculos relativos a pensões de reforma são cálculos complexos e dão sobretudo pelo nome genérico de cálculos actuariais. Há muito trabalho de simulação sobre modelos estatísticos e probabilísticos. E um dos factores que mais influencia os cálculos é, como não poderia deixar de ser, a esperança de vida. Se uma pessoa vive até aos noventa ou cem ou mais anos e se cada vez há mais pessoas a viverem muitos anos, tem que se ver bem de onde vem todo o dinheiro para lhes pagar. Por isso, quanto mais tarde se reformarem, menos pressão haverá. Claro que se a demografia for favorável com muito mais gente nova a trabalhar do que gente a receber a reforma, o problema estará mitigado. Mas acontece que em França (tal como em Portugal) a população vai envelhecendo sem que os novos se reproduzam ao ritmo necessário. Ajudam, nesta matéria, os imigrantes. Mas não chega. 

Não sei como é que Macron não consegue explicar uma coisa tão óbvia. Não sei se há aqui uma falha de comunicação da parte dele e do Governo ou se são os manifestantes que não querem perceber o óbvio. Os franceses deveriam era estar agradecidos a Macron. Ainda bem que ele é um estadista e não um catavento que gira ao sabor da opinião pública. 

Mas o que eu receio, ao ver aquelas inflamadas manifestações em que grande parte parece gente arruaceira, de baixa idade, é que os sindicatos e as ruas estejam infectados com agitadores que, como tem sido divulgado, poderão ter mão russa a agir na sombra para minar as democracias europeias.

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E para animar, um belo momento de dança e alegria.

Jerry Lewis Jitterbug


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Uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Boa sorte. Paz.

terça-feira, março 21, 2023

Primeiros passos

 

No outro dia perguntaram-me o que é que eu estou a fazer. Disse que nada, que quero degustar o prazer de não ter compromissos, que é tão bom pensar que no dia seguinte não vou ter reuniões complicadas, que saber que não vou receber telefonemas problemáticos e um sem fim de temas que devoravam os meus dias é uma maravilhosa sensação de alívio.

E lembro-me sempre daquela ex-colega que encontrei uma vez no Colombo. Eu sentada num restaurante e ouço: 'Olha quem ela é...!'. Olho, admirada, e é ela, toda turista, toda radiante, vindo na minha direcção. Perguntei-lhe como era, ter todo o tempo do mundo. E ela: 'Tão bom...! Se vocês que ainda trabalham soubessem como é bom, ficavam todos infelizes, ainda bem que nem sonham, senão queriam todos deixar logo de trabalhar'

Mas ele insistiu e eu confessei que estava a escrever um livro e que isso é uma sensação muito boa. Pode até vir a ser uma frustração, não conseguir que alguma editora publique o que eu escrever. Mas estou em crer que não. Gosto do que dá luta, gosto de ter o que alcançar a duras custas. Ele disse que sim, que deve ser uma sensação boa, interessou-se.

Claro que dar estes meus novos primeiros passos em cima da covid não ajuda. 

E já acabei o livro. Estou na fase da revisão. Mas, para mim, bom, bom mesmo, é criar, pôr cá fora o que antes não existia. Agora... rever, limar, retocar... para isso já é preciso paciência. Agora imagine-se o que é isto caída de sono. É de cair para o lado.

A minha filha também é de escrever. Escreve, escreve. E, quando está inspirada, diz que é de rajada. Um dia vai ganhar um prémio, um dia vai publicar.

O meu filho não. Pelo menos até ver. E sempre se incomodou com os meus métodos: escrever ou pintar ou o que for tudo de empreitada. Para ele um livro deveria ser escrito em longos e esforçados meses. Disse-me que o Saramago escrevia uma página por dia. E diz-me que os leitores apreciam uma obra bem acabada. Contei ao meu marido que me sugeriu que eu lhe diga que o Camilo escreveu o Amor de Perdição em quinze dias.

Cada um é como é. E tomara eu poder chegar aos calcanhares de qualquer deles mas claro que estou mais para a velocidade do Camilo do que da do Saramago. 

Estou a rever o que escrevi e já desinteressada pois já só me apetece é saltar para o seguinte.

A minha neta disse-me: 'Gostava de ler o teu livro'. E eu disse que sim, poderia ler o início, e ia abrir para estar ao pé dela Mas ela disse que eu lho enviasse por mail. Ah isso não. Expliquei que tem partes para adultos. Deixava-a ler as primeiras páginas para perceber qual a opinião dela mas o livro todo só o meu marido é que pode. A minha filha perguntou se eu não queria que ela lesse. Não. Seria inevitável que viesse com sugestões e eu já não estaria nem aí. Uma coisa é detectar um erro, uma pontuação errada, uma sugestão na base da coisa pouca. Agora sugestões que me obriguem é meter-me outra vez na pele dos personagens, reverter partes do enredo, mudar o DNA de alguém, isso já não quero, já não dá.

Mas hoje que tinha pensado entregar-me a essa tarefa da revisão não consegui. Uma moleza e um sono... Uma amiga trocou mensagens comigo e disse-me que tenho que ter que paciência, que isto é natural, que ela, depois da covid, andou quase dois meses assim, cansada, cheia de sono, a arrastar-se.

Fomos ao fim da tarde fazer compras, nomeadamente adubo para citrinos e outras coisas, e depois passear na praia. Pois, ao chegarmos, enquanto o meu marido tomava banho, antes de jantar, voltei a adormecer profundamente. Mas isto depois de, a seguir ao almoço, pensando ler um livro que a minha filha cá deixou, ter também adormecido. 

Portanto, assim vai. Tenho que voltar a ter a energia habitual para meter pernas a caminho. Assim, como estou, não consigo fazer planos ou ter ritmo. Adormeço pelo meio. Ou, mesmo que não adormeça, pouco mais faço que borregar, preguiçar. 

E, a seguir, mal volte a ter pilhas, tenho que aprender a organizar-me nesta minha nova vida em que também me está a saber bem demais não ter obrigações a cumprir.

sábado, fevereiro 18, 2023

Se é para macacadas, peço desculpa para prefiro a companhia dos de verdade

 


Na quinta-feira o dia foi mais longo que o habitual e, em vez de poder desforrar-me dormindo até mais tarde, não senhor. Esta sexta-feira estava a dormir no meu segundo sono, e quem diz segundo diz terceiro, a sonhar descansadamente, quando ouvi o som que durante tanto tempo me despertou. O meu sonho ainda fez por assimilar o ruído, como se fizesse parte do argumento, mas logo abri os olhos e percebi que era realidade.

O dia tinha que começar cedo. Não teria que ser tão cedo mas, como sou inflexivelmente pontual, gosto de antecipar possíveis contratempos. Além disso queria ter a certeza que, sendo das primeiras a chegar, teria o serviço cumprido de certeza a tempo e horas.

Afinal, não me serviu de nada. Não ficou pronto. Impediu-me de repor o sono e obrigou-me a telefonemas e manobras complicadas e... tudo para nada. Não sou de me stressar mas, mesmo assim, irrito-me.

Há uma coisa nesta deriva em que anda o mundo que me faz muita espécie. Há tecnologias para tudo e para mais algumas coisas, tudo em tempo real, tudo online, tudo à distância de um clique. E depois, vá lá a gente perceber porquê, grande parte das coisas que antes eram fáceis, nas calminhas, agora são uma medonha trabalheira. Há apps para tudo, cada vez mais tudo converge na realidade virtual, mas depois as apps pedem códigos e depois os códigos não funcionam e, quando depois de mil esforços, lá se consegue pôr a funcionar, são as instruções que não são claras, é a rede ali que não é boa. Há sempre qualquer coisa que atrapalha. Um mundo que se vai estreitando.

E depois, para o que tem que ser físico, horas para marcar qualquer porcaria, horas para ser atendido, horas no trânsito. E, para uma coisa de nada, tudo tem que vir da central e vem através de uma transportadora, e os da transportadora ficam presos no trânsito e as peças não chegam a tempo e horas e ninguém sabe quando chegam porque é tudo contratado, subcontratado, sub-subcontratado e ninguém é responsável pela totalidade do processo.

E uma pessoa fica pendurada, sem saber de nada, e ligamos e o telefona toca, toca, toca e ouvimos música, recomendações e o diabo a sete e, quando por fim aparece uma alma, essa alma também não sabe de nada e também lamenta e também compreende, mas também não pode fazer nada porque agora é assim.

Tudo isto me cansa de uma maneira... Nestas alturas só me apetece hibernar.

No interstício, num destes compassos de espera, resolvi ir ao supermercado. Quando fui pagar não percebi. Não tinha comprado nada que se visse e, no entanto, a conta era upa-upa. Olhei para o ticket. Os ovos, o arroz, o pão tudo a preços absurdos. Não há justificação económica razoável para aumentos que levam os preços nestes básicos para cerca do dobro.

E agora, enquanto escrevo, vejo o Expresso da Meia-Noite. 

Chego à conclusão que este pacote de medidas para a habitação foi feito em circuito fechado. sem envolver os representantes das partes envolvidas. 

[Pode acontecer que o Leitor Ccastanho e o Leitor Corvo Negro tenham razão, que tudo isto não passe de uma manobra de diversão ou uma forma de testar os agentes e de auscultar a sociedade. Pode ser. Mas, seja como for, foi um mau passo.] 

Continuo a achar que, se houver eleições, dificilmente haverá melhor candidato que o Costa e partido com melhor programa que o PS. Mas...

Mas isso não chega. Têm que se esmerar, têm que trabalhar mais e melhor, tem que arranjar maneira de ter gente sénior e experiente a trabalhar, a avaliar impactos, a medir consequências, a conseguir ver por outras perspectivas. Se continuar neste registo de maltinha trainee, só miudagem a dar tiros nos pés, não conseguirá ir longe.

Provavelmente este pacote agora foi obra da catraia promovida a Ministra da Habitação mais da catraia que aqui está na SIC Notícias, Maria Begonha de seu nome, a dizer generalidades e/ou infantilidades, se calhar também da outra catraia que andou a dizer que a Decathlon podia fornecer tendas para as pessoas acamparem em cima da ponte até se resolver os problemas da habitação. Só pode.

O PS esteve muito mal, muito, muito mal, no dossier da habitação. 

Penso que, para se limparem, deveriam entregar o assunto a um ministro capaz, com uma equipa capaz, gente experiente, inteligente, com mundo, com uma visão holística das coisas. Enquanto um tema tão relevante estiver entregue a miudagem sem noção do que é a confiança e do que é necessário para a obter e para a conservar, vamos estar mal.

E eu estou cansada. 

Hoje de tarde, vi que um dos mails que tinha recebido era de uma certa marca, anunciando os últimos descontos. Fui ver a roupa de mulher. Descontos de 70%. Coisas bem bonitas a preços bem bons. Comecei a seleccionar. O carrinho a compor-se. Depois pensei: Para quê? Apaguei tudo. Não vou comprar coisas de que não preciso. 

Toda a minha vida está em reset. Quero mudar tudo. Até o cabelo já foi. No outro dia voltei à cabeleireira a que não ia há cerca de três anos. Levei uma fotografia que a minha filha me tinha enviado, de alguém que tinha um corte compatível com a minha trunfa e com o que queria. Cheguei lá e disse: Qualquer coisa como isto. A meio, o chão já pejado de cabelo, olhei-me ao espelho e interceptei-a: ainda assim, não será que ainda poderia ir mais? Cortar é aquilo de que ela mais gosta. Mas vi que ela própria temia a ousadia do corte. Incentivei-a: Força

Saí de lá outra.

E muito mais teria a dizer. Tudo coisas assim, irrelevantes, coisas desta minha vidinha. Mas ando com tanto sono, tanto, tão improdutiva, tão a precisar de passar dias a dormir...

Depois do Expresso da Meia-Noite pus-me a espreitar vídeos. Descansa-me ver imagens boas, gente boa, animais bons, natureza, gente e animais em harmonia.

Este aqui abaixo é um doçura. A forma como o gorila recebe a mulher de Damian Aspinall é uma coisa extraordinária. Quanta ternura.


E aqui abaixo outras imagens incríveis: Attenborough observa de perto como uma mãe orangotango manipula instrumentos como um humano. Imagens que me impressionam. Imagens que penso que posso dizer que são belas. Como ela aí anda com o filho ao colo...


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Desejo-vos um bom sábado
Saúde. Bons pensamentos. Paz.

quinta-feira, fevereiro 16, 2023

As dicas do grande Peçanha sobre OVNIS e balões.
E, já agora, uma breve inexplicação sobre as minhas actuais inoperacionalidades

 

Têm sido dias não muito fáceis de explicar. O tempo corre sem que o saibamos domar. Há muita coisa a tratar. Até aqui, a vida, em aspectos logísticos relevantes, estava-nos simplificada. Havia sempre quem tratasse das coisas por nós. Sorte a nossa, claro. 

[Ontem recebi um mail de alguém que está a passar por momentos muito complicados e que me dizia que estava a habituar-se. E dizia: como sabe, habituamo-nos a tudo. Várias vezes, noutros contextos, ao admirarmo-nos com coisas antes impensáveis e que, por força das circunstâncias já aceitávamos, concluíamos que acabávamos por nos habituarmos a tudo. É verdade.]

Uma pessoa é uma privilegiada e habitua-se de tal maneira a isso que, às tantas, nem se lembra que há uma multitude de coisas para tratar. Alguém delas se ocupava. E nem dávamos por isso. Nem nos apercebíamos do trabalho que davam.

As coisas mais simples. Agora tudo é uma aventura. Nunca as fiz. E ainda não cheguei ao ponto de me pôr a andar de metro ou coisas complicadas do género. Aí, então, deve ser uma odisseia.

Haverá quem leia e pense: uma dondoca. Exacto. Confirmo.  

Eu própria, agora que quero pôr-me a andar por mim e me vejo às cabeçadas, sem saber bem como fazer ou quais as precedências, e em que parece que há sempre um pequeno grão cuja existência eu desconhecia mas que atrapalha todo o plano, tento relativizar: calma, não pode ser difícil, meio mundo o faz. Lamento-me, de mim para mim: és um totó mal habituada, isso é que és, caraças.

E há ainda uma outra faceta da coisa -- deparo-me com um mundo paralelo, insuportável: ligar para qualquer sítio para tratar do que quer que seja ou para pedir uma porcariazeca de uma informação. O mundo dos contact ou call centers. Uma pessoa liga e sofre horrores até conseguir chegar à fala com um humano. Uma pessoa tem que digitar algarismos, tem que percorrer um labirinto de opções até que, depois de muito esperar, a chamada cai. E tudo recomeça. Isto quando, estando eu concentrada para não perder nenhuma das opções, não acontece o pior: o dog desatar a ladrar, impedindo-me de ouvir. E pimba: não há outro remédio senão abdicar do caminho percorrido. Ou seja, tenho que desligar e voltar à casa de partida.

Se os meus filhos, à noite, nos perguntam o que fizemos, parece que pouco ou nada tenho para dizer. E, no entanto, não sobrou um minuto e stress foi o que não faltou.

Com isto, lamento mas também não me sobra tempo para responder aos comentários; e mails para responder que, julgava eu que por estes dias ia ser canja de galinha, tenho uns poucos. Uma ineficiência, uma vergonha. E agora, a escrever isto, já adormeci várias vezes. Alguém que me explique isto.

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E, neste estado, como é bom de ver, não me dá senão para coisas do outro mundo. Mas em versão light. Balões chineses, ovnis americanos, tautau no rabinho dos espiões, chumbinho no olho dos espreitadores.

Nada de pânico: 

o especialista em ufologia Peçanha veio a público mostrar como abater um objeto voador 

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A bela fotografia lá em cima é de VCG/Getty Images e foi tirada na China

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Um dia bom

Saúde. Boa onda. Paz.

domingo, dezembro 11, 2022

Há vários caminhos e só me apetece ir pelo mais desconhecido

 


Não faço ideia como funcionam as vendas online em regime doméstico (ie, não empresarial). Como não frequento facebooks ou instagrams não estou habituada a ver como é que as coisas se processam. De vez em quando ouço falar em alguém que começa a divulgar coisinhas que faz e que, pouco depois, já não dá mãos a medir. Não sei se abrem actividade nas Finanças, se têm contabilidade, se emitem factura, se há mecanismos de devoluções, etc. Estou habituada a processos certificados e auditados em grandes empresas e padeço de total iliteracia quanto a processos caseiros. E também não consigo meter-me numa situação sem ter a certeza que estou a fazer as coisas como deve ser.

Digo isto porque tenho bibelots que vieram da outra casa e que aqui não tiveram cabimento, tenho quadros e posso vir a ter coisas que me dê na cabeça produzir. 

Nem sei como se divulga uma coisa assim. 

Em paralelo com actividades mais absorventes, podia fazer uma coisa que não me desse muito trabalho, como fotografar uma peça, colocar num site. Mas também não sei como atribuir um preço, como garantir que enviava a coisa e que depois me pagavam, etc. como me manter em dia a nível fiscal. Ignorância total. 

Claro que vou tendo ideias mas, como me falta tempo e conhecimento, ficam em carteira para um dia. Mas é esse absoluto desconhecimento que me atrai. Ir aprender, fazer as coisas de raiz num território totalmente estrangeiro para mim. Foi como quando comecei o blog. Desconhecia tudo o que se relacionava com a blogosfera, outros blogues, técnicas. Mas desconhecia ao nível mais básico: como se fazia, como se inseriam imagens, como se inseriam vídeos, como tudo. E o prazer da descoberta, o perceber que devagarinho as pessoas iam descobrindo o que eu fazia, a quantidade de pessoas que fui conhecendo e que de outra forma jamais conheceria, toda essa descoberta foi (e ainda é) fascinante. 

Quando penso em actividades que posso desenvolver um dia que deixe de trabalhar tenho muito claro que quero fechar completamente a porta a tudo o que tenha minimamente a ver com a minha actual actividade profissional.  Anseio pelo tempo em que posso limitar-me a ser um espírito livre, sem compromissos, sem horários, sem fazer fretes ou sacrificar um milímetro da minha liberdade de movimentos, sem ter que aturar quem não faz o meu género. Anseio também pelo tempo em que possa começar a desbravar novos terrenos, a ir à procura de quem esteja disponível para me ensinar.

Two roads diverged in a wood, and I—
I took the one less traveled by,
And that has made all the difference.


The Road not Taken by Robert Frost (read by Tom O'Bedlam)

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Enquanto escrevia isto, o dog de guarda, que dormia profundamente, desatou a ladrar.  Fui ver o que se passava. Sentado, a olhar para a porta, depois para outra porta. Fui ver. Chove de novo a cântaros. Acordou com a intensidade da chuva. Esperemos que não haja problemas como no outro dia. Para quem vive na rua, em casas frágeis ou situadas em zonas de cheias isto deve ser um susto.

Seja como for, e sem querer imitar o outro senhor que disse para a gente intervalar na preocupação pelos direitos humanos, tenho que confessar que gosto de estar aqui à noite, sozinha, a ouvir música... e a ouvir a força da chuva.

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E, pelo meio, vou vendo estes vídeos que me descansam a cabeça e me dão algumas ideias

(Tem legendada mas o português não é de primeira água, vou já avisando)

Parisienne's home tour/Family of three, artist-ceramic artist, full of unique style/ France vlog


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As pinturas são de Gerhard Richter ao som de uma canção de embalar (lobos)

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Desejo-vos um bom dia de domingo
Saúde. Força. Paz.

terça-feira, setembro 20, 2022

Alô, alô António Costa! Vamos lá a rever as medidazinhas e vamos lá a rever essa sua atitude perante os cidadãos, ok?
Não estou a achar gracinha nenhuma a estas suas últimas coisas, ouviu?

 


Tenho andado a tentar perceber se já se conhece tudo o que há para conhecer e se percebo o que ainda não vejo com clareza. 

No dia em que António Costa falou sobre os apoios às famílias fiquei genericamente decepcionada e a pensar que, no que se referia às pensões, era gato escondido com rabo de fora. O meu marido tentou acalmar o meu desagrado: por um lado ainda viria o pacote da poupança da energia e, por outro, naquilo das pensões, ainda não se sabia exactamente os contornos do que ele tinha dito.

Dei o benefício da dúvida. Esperei caladinha.

Até que saíram as medidas de poupança às empresas e fiquei igualmente desapontada.

Até que, aos poucos, o gato começou a sair à luz do dia e se percebeu que, na realidade, a medida das pensões é pura treta e que o corte nas pensões é real.

E agora aparece, a trouxe-mouxe, um conjunto de notícias avulsas sobre a sustentabilidade da Segurança Social para justificar a anunciada esperteza saloia.

Face a isto resolvi que já tenho o que preciso para dizer de minha justiça. E faço-o com a franqueza que sempre uso, seja para criticar ou louvar este ou aquele, sejam de que quadrante político forem.

O momento que vivemos é de excepção pois temos a conjugação de uma guerra brutal 

-- levada a cabo por um assassino que não se tem ensaiado em provocar guerras paralelas, energética e alimentar, nomeadamente -- 

com uma inflação inusitada e com uma escassez de alguns outros materiais (que vinha do tempo dos confinamentos). Tal como acontece na atmosfera quando se conjugam condições que se potenciam, também aqui, na sociedade, se desencadeia um daqueles fenómenos extremos, agudos e difíceis de controlar. 

Por isso, não seria expectável que Costa tirasse da cartola um package bem pensado e já anteriormente testado com medidas para todos os gostos. Não podia, isto é novo, de certa forma até há pouco tempo inesperado. Até aí compreende-se.

Mas exige-se a um estadista (eu, pelo menos, exijo) que, perante situações de excepção, consiga pensar não apenas no imediato mas também no médio e longo prazo e que, além disso, não apenas pense em medidas conjunturais mas também em medidas estruturais.

Ora, penso que as medidas agora anunciadas são de curto alcance: aliviam momentaneamente uma parte da população (e isso é bom) mas nada resolvem na essência nem de forma duradoura.

Há que atacar na raiz nos problemas e não apenas aparar as pontas dos ramos, criando uma ilusão que não se sustenta no tempo. 

Por isso, para além destas medidas imediatas (dar 125€ a uns, 50€ a cada filho, dar qualquer coisa aos pensionistas de mais baixos rendimentos, etc), estava à espera de mais, de melhor, estava à espera de ouvir falar em planos de fundo, planos concretos. 

  • Por exemplo, apoios intensivos, substanciais, muito dirigidos e muito facilitados para instalação de painéis para produção de energia solar para auto-consumo ou painéis para aquecimento de águas em casas individuais ou prédios sejam de residência sejam de serviços (escritórios, hospitais, quartéis, etc). 
  • Por exemplo, esperava um incentivo forte para uso de transportes públicos (passes muito baratos ou mesmo gratuitos pelo menos em linhas ou carreiras de maior uso ou que mais trânsito automóvel evitassem).

Ou seja, a poupança na energia e nos combustíveis pela via inteligente e sustentável, levando a um menor consumo.

  • Por exemplo, o incentivo ao teletrabalho ou aos regimes híbridos sempre que possível, levando a menos trânsito e a menos consumo de combustível (já para não falar em menos poluição e em melhor qualidade de vida).

Claro que, em paralelo, há que incentivar fortemente o investimento em fontes limpas de energia e isso creio que está a decorrer (hidrogénio verde, por exemplo). Mas isso são long shots, investimentos complexos que levarão bastante tempo até que produzam eficientemente. Por isso, há que avançar rapidamente para medidas de mais fácil implementação e retorno. 

  • Ao mesmo tempo, há que reforçar rapidamente o investimento em creches públicas e em ATLs públicos. Havendo oferta pública para escolas e ocupações de tempos livres, a poupança para as famílias será significativa. E, lá está, serão medidas estruturais e não pontuais, não de carácter caritativo.

É preciso, em situações de aperto (e receio bem que o aperto ainda esteja no princípio) injectar liquidez na economia, nomeadamente colocando-a nas mãos de quem mais precisa. Mas, se for só isso, será caridade e não verdadeira ajuda, será dar o peixe e não ensinar e dar meios para pescar.

  • Para os mais velhos, os mais indefesos, há que avançar com residências para a terceira idade mas residências dignas, com assistência médica e de enfermagem e com actividades que permitam um envelhecimento digno. O que hoje há que cumpre estes requisitos é escassíssimo, caríssimo, para elite, incomportável para a maioria dos idosos. De resto, a maioria do que há mais acessível é mau, indigno, assustador, como uma antecâmara para a morte, ninguém quer ir para lá. É pois vital que haja apoios para investimento privado ou social ou que o próprio Estado avance com essa oferta na qual as pessoas paguem de acordo com os seus rendimentos. 

Estas medidas não apenas garantiriam o estímulo à economia local através da construção de creches, lares, atl´s (para crianças e para idosos), como garantiriam a criação de muitos postos de trabalho, e, ainda, uma melhor qualidade de vida para quem deles iria usufruir, e garantindo, também, que a população não estaria em situações financeiras tão vulneráveis quanto hoje está, dependendo inteiramente de pensões que, às tantas, não asseguram a sobrevivência  digna. 

  • Uma outra medida que me parece essencial dada a maior longevidade das pessoas é que se prolongue a sua vida activa. Por exemplo, havendo mais creches, mais residências ou mais equipamentos para ocupação de tempos livros, poderá recorrer-se a pessoas que, embora já reformadas, poderão ainda trabalhar em numerosas tarefas podendo usufruir de rendimentos complementares.

Quanto ao tema das pensões, a coisa também fia fino. 

Aqui tenho que dizer que não gostei nem um bocadinho dos artifícios de António Costa. Melhor: detestei. Apresentou aquela antecipação de meio mês das pensões e o aumento do ano que vem como se estivesse a dar alguma coisa. Não está. Pelo contrário, à sorrelfa preparava-se (ou prepara-se) para descer estruturalmente as verbas a pagar de 2024 em diante. É feio. Há aquela coisa rasteira de querer enganar os 'velhinhos'. Feio. Sempre tive António Costa em boa conta. Desta vez, desiludiu-me e não foi pouco.

Depois de negar a habilidade falhada, face ao burburinho gerado António Costa não teve outro remédio senão tentar desfazer o mal feito. E, então, ele e alguns ajudantes, apareceram a dizer que isso tem a ver com a sustentabilidade da Segurança Social. E hoje saíram-se à cena com um estudo que, supostamente, prova que, se aplicassem a fórmula, desgraçariam a sustentabilidade do sistema de pensões. E, mais uma vez, digo e digo com todas as letras: não gosto. António Costa está a jogar com o medo de pessoas vulneráveis. Não gosto. N-ã-o   g-o-s-t-o. Com todas as letras.

Estas coisas não se fazem assim. 

Ao agir como está agir, António Costa está a abrir a porta aos populistas (Ventura ou Catarina Martins, por exemplo), a dar espaço e tempo de antena aos passistas (Montenegro, por exemplo) e a fazer os apoiantes socialistas torcerem o nariz. Ou seja, muito mau.

E não sei que contas da Segurança Social são essas de que por aí falam. As contas para as pensões não são aritmética simples. Trata-se de cálculo actuarial que entra com probabilidades várias (a da subida de preços, a da longevidade, a da entrada de novos descontantes no sistema, etc). É matemática complexa. Só vendo e ouvindo explicar (por quem sabe destas matérias) poderei formar a minha opinião. Mas mesmo que estejam certas (e volto a dizer: não sei se estão) há que resolver os assuntos atacando a raiz dos problemas, não as pontas das folhas.

Há um problema estrutural no nosso país e do qual já muito aqui falei: o da demografia que, em Portugal, é anémica, descendente, decadente. Se as pessoas vivem cada vez mais tempo (o que é bom), recebendo pensões durante muito mais tempo, e se nasce cada vez menos gente, havendo cada vez menos pessoas a entrar no mercado de trabalho, temos que, cada vez mais, o dinheiro dos descontos da segurança social tem que dar para distribuir por muito mais pessoas, ou seja, teremos menos dinheiro para dar a mais gente. 

E é aqui que há que actuar. Não é cortando as pensões. É injectando mais dinheiro no sistema, não pelo aumento dos descontos mas por ter mais gente a ingressar no mercado do trabalho. Todas as medidas que visem estimular a natalidade são necessárias e urgentes. Creches públicas, por exemplo, são importantes -- por exemplo. Tempo e dinheiro para os progenitores criarem os filhos são ajudas essenciais. Fomentar o mercado do arrendamento, outra urgência. Os jovens ou os que não têm economias ou não receberam heranças têm que ter acesso a habitações que não tenham forçosamente que ser adquiridas para poderem constituir família.

Mas também é essencial desincentivar a emigração e, ao mesmo tempo, é essencial integrar o mais e o melhor possível imigrantes no mercado de trabalho, com óbvia integração no sistema da Segurança Social. Temos que ter mais contribuintes líquidos no sistema. É urgente.

Também há uma outra coisa. Fiquei agora a saber que as pensões de reforma superiores a um certo patamar (um múltiplo de um rendimento mínimo, creio que 10 ou 12 vezes) não são aumentadas anualmente. Acho isso injusto e errado. Até poderia achar que isso poderia acontecer, e mesmo assim de forma progressiva, para valores francamente acima dos níveis de vida normais, sei lá, no mínimo umas 20 ou 30 ou mais vezes. E acho injusto por duas razões: se as pessoas têm pensões elevadas é porque descontaram muito, durante muito tempo, e, com esses montantes elevados, ajudaram a que o 'bolo' a distribuir por todos seja maior. Descontaram, convencidos que o pacto de confiança não seria quebrado, ou seja, que o seu nível de vida não iria descer ao longo do tempo, isto é, que à medida que vão envelhecendo e que têm maiores gastos em consultas, medicamentos, internamentos em lares, etc, o seu rendimento relativo não fosse diminuindo. Além disso, as pensões de reforma são tributadas em sede de IRS e as pensões mais elevadas descontam uma percentagem progressivamente maior. Por um lado, descontam mais que os outros e, por outro, enquanto esses outros vêem as suas pensões ser actualizadas com a inflação, eles ficam com os rendimentos congelados. É injusto e, creio que posso dizê-lo, até desonesto. Acresce que, com esta brincadeira de não se aumentarem anualmente as pensões mais elevadas, haverá forte tentação a que quem faz as leis (e ganha bem e trabalha para quem ganha ainda melhor) arranje buracos legislativas que permitam que certo tipo de rendimentos não sejam objecto de descontos para a segurança social sendo antes dirigidos para seguradoras privadas. Perigoso. 

Não sei em que governo nasceu esta medida nem isso me interessa: é uma medida errada, populista e estúpida -- e deverá ser revista.

Quanto a António Costa é bom que refresque ideias, descanse, faça um retiro, respire fundo... e pense a sério no futuro dos portugueses. Há muito a fazer, muito, muito. Acredito que seja cansativo, desgastante. Não é para todos. Mas é o que é. 

Agora uma coisa há que ter sempre presente: há que falar verdade, agir seriamente, estudar bem os assuntos, conjugar a visão de curto, médio e longo prazo, não se deixar ir na cantiga dos influencers e demais papagaios da política, nomeadamente os assessores da treta e os boys socialistas que sempre gostaram de se encostar ao poder convencidos que os portugueses se deixam levar pela sua lábia. Não deixam.

Gostaria de poder votar no PS nas próximas eleições mas esse meu voto não é um dado adquirido.

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Imagens de Jae Sam Lee na companhia de Vera Lynn com There'll Be Bluebirds Over

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Um dia bom

Saúde. Honestidade. Sageza. Paz.