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quinta-feira, dezembro 11, 2014

Ricardo Salgado, Amílcar Morais Pires, Joaquim Goes, mais uns quantos Espíritos, o PQP, a família de José Guilherme em peso, gostam tanto de Cavaco Silva porquê? O que é que o Cavaco tem para lhe terem dado tanto dinheiro para a campanha eleitoral? Só dos lados do Zé Grande das Caçadas (aquele amigo generoso que ofereceu 14 milhões ao primo Ricardo) foram 100.000 euritos. É obra! Enquanto isto, andam as irmãs do Ricardo Salgado a fazer bolos à noite para venderem para restaurantes e o PQP a gozar com o veneno que anda a destilar por aí.





Claro que eu não estava lá para ver nem ando a xeretar as contas desta gente mas parece-me óbvio que os donativos para a campanha do Cavaco não saíram do bolso deles, não é? Deve ter sido dinheirinho contabilizado nalguma empresa como despesas confidenciais ou coisa assim. Dividiram em tranches para ficarem dentro do máximo permitido por lei e toma lá, ó Cavaco, que a gente confia em ti.

Do lado do Ricardo Salgado e súbditos leio que a coisa não se ficou por menos de 25.000 cada.
Aguenta-te ó BES!, que o dinheiro tinha que dar para tudo e para o resto. 
Assim por alto uns 150.000€ para a eleição do Cavaco!

E dos lados do José Guilherme, também conhecido por Zé das Caçadas ou Zé Grande, a coisa era no mesmo comprimento de onda:

Leio: Mas na lista de donativos há uma família cuja história se cruza também com o BES: Guilherme. O empresário que deu uma prenda a Ricardo Salgado de 14 milhões de euros que está a ser investigada pela justiça deu à campanha de Cavaco em 2011 25 mil euros. Mas não foi o único da família a fazê-lo. A mulher, Beatriz da Conceição Veríssimo deu o mesmo contributo de 25 mil euros, o filho Paulo Jorge Veríssimo Guilherme também e Ilda Maria Veríssimo Guilherme Silva Alberto, uma familiar que é gestora da empresa de José Guilherme doou também 25 mil euros.


Vejo isto e fico arrepiada e tanto mais arrepiada quando penso que, às tantas, esta mesma gente dá dinheiro a quem quer que lhes cheire que vai ganhar as eleições. Para além de Cavaco nas presidenciais, com quem mais foram assim tão generosos nas legislativas? Estou curiosa. Pelo que leio no mesmo artigo, nestas presidenciais o Manuel Alegre ou o Nobre receberam mixuruquices e o Francisco Lopes do PCP népias - para quê? era carta fora do baralho - e Manuel Alegre, então, com a campanha, até ficou endividado até à medula.

Isto de facto é um mundo perverso, estúpido, aberrante. O dinheiro que gastam - em cartazes, em almoços, em bandeiras, em alugueres de salas de hotéis, em carros, carrinhas, agências de comunicação e sei lá que mais - tem que vir de algum lado. Mas, ó caraças, tem que ser da ordem dos milhões e para ser gasto em coisas improdutivas, que viram lixo no dia seguinte? E o que é que essas campanhas dizem sobre o que vão os candidatos fazer se ganharem um lugar? Nada. Tudo aquilo é encenação. Contratam a peso de hora brasileiros especialistas em tornar o refugo apetecível e isso é pago com donativos que vamos ver se não é dinheiro de sacos azuis ou dinheiro 'desviado' das empresas. E é em fracas figuras levadas ao colo por esta gente do dinheiro que os eleitores votam.

Porque é que Cavaco ganhou estas eleições? O que é que ele já fez? Se não fosse todo este apoio, uma campanha com um ar tão vitorioso, o povo teria votado nele na mesma?

Que coisa miserável.

Já em tempos aqui falei do Zé das Caçadas, amigo de Cavaco Silva, amigo dos Espíritos e de todos os que queriam aparecer para serem vistos, para se porem a jeito para oportunidades.

Não deveria pois admirar-me mas a verdade é que me admiro. 100.000 euros? Mas que dinheiro é que este homem ganha para se poder dar ao luxo de dar presentes de milhões, donativos da ordem dos cem mil euros, esbanjar dinheiro de uma forma tão ostensiva? E tem pago impostos sobre todo o dinheiro que tem ganho? Não faço ideia: apenas pergunto, intrigada que fico com tamanha generosidade.

Este Cavaco sempre teve amigos endinheirados e sempre beneficiou, voluntária ou involuntariamente, desses dinheiros. O dinheiro fácil que ganhou com as acções do BPN ou SLN, nem sei, ou a permuta do casal da Coelha (ou lá como é o sítio da nova vivenda Mariani), cenas que nunca se percebem bem e agora sabemos destes donativos, cabazadas de dinheiro... Que coisa incomodativa, esta.

E este Pedro Queirós Pereira - que agora ali na Assembleia da República, em tom chocarreiro, denuncia o ex-sócio Ricardo Salgado, espetando facas no peito, na barriga, no pescoço e tudo em tom que mais parece de chalaça - também contribuíu para a eleição do Cavaco. Também sempre metido em jogadas palacianas, em esquemas, e agora armado em santo, que offshores nem vê-las e que as irmãs de Ricardo Salgado até fazem bolos à noite para vender para restaurantes... e todo ele é desdém, superioridade.



Fazer bolos para vender, em si, nem tem nada de mal e conheço várias senhoras da mais alta sociedade que têm empresas de eventos, de catering e mais não sei o quê (e que fazer, fazer, até nem são elas que fazem mas, enfim, orientam, supervisionam) e, verdade seja dita, sentem-se umas gestoras e umas trabalhadoras e, enfim, de certa forma até o são. Portanto, quando o PQP diz que as manas Salgadas fazem bolos de noite, provavelmente nem é coisa que deva ter leitura literal - mas fica a nota de desprezo insidiosamente instilada, fica-lhe o veneno a escorrer-lhe pelos cantos da boca.

Tenho que dizer: em qualquer circunstância, acho inaceitável se a gestão das empresas estiver capturada por interesses particulares, por incompetências, por leviandades; e, em minha opinião, o que houve no Grupo Espírito Santo foi um pouco de tudo isto, tudo temperado pelo sentimento de inimputabilidade que a corte de advogados e assessores de toda a espécie transmite aos senhores a quem servem. Anos de poder e influência e o sentimento de superioridade que advém de um nome com muita patine fazem perder a noção dos limites. E, quando se perde o pé, a fuga para a frente passa a ser uma forma de sobrevivência.

A Queda dos Anjos Rebeldes, Pieter Brueghel

Muita gente beneficiou ao longo de anos desta forma de estar na vida.

Agora que o grande navio dos Espíritos colapsou, os ratos fogem deles a sete pés (sendo que o colapso, há que dizê-lo, foi precipitado e tornado inevitável pelo Governo e pelo BdP - o que continuo a achar uma decisão perigosa já que a recapitalização do BES poderia ter sido possível e inócua para os contribuintes; e, assim, arranjaram para aqui um imbróglio que não sei se algum dia se irá desensarilhar)


Se há coisa que aprecio é o porte digno em qualquer circunstância e outra que, pelo contrário, não aprecio nem um bocadinho é ver rir, cuspir e pisar em quem, por algum motivo, caíu.

O Ricardo Costa do Expresso e outros tantos, na terça feira, apressaram-se a condenar o porte altivo de Ricardo Salgado, censurando-o por não ir para ali armado em coitadinho, pedir desculpa, rebaixar-se. Como se isso fosse possível numa pessoa como Ricardo Salgado. E como se isso resolvesse algum problema, fizesse aparecer o dinheiro desaparecido ou curasse algumas feridas.

Pois a mim choca-me mais os que vão para ali tripudiar, gozar, achincalhar, denunciar de forma quase folgazona, do que o Ricardo Salgado que tem a única atitude digna que poderia ter.

Por algum motivo que ainda estou para perceber, os deputados gostam de se armar em inquisidores mesmo em assuntos como este em que, da Comissão de Inquérito, não irão nunca sair as consequências que se exigem, mas, enfim, se ali estão, o que se espera é que exijam que, quem ali vai, não minta (alô, alô pinókia!), não se mostre folgado ou não vá ajustar contas pessoais.

Assim, vendo-os (à Meireles castigadora, à Mortágua com ar de professora implacável, ao Miguel Tiago querendo ser tão mau como elas mas todo ele tendendo para o charme, ao enxundioso Amorim querendo parecer uma fera mas, com o passado que arrasta, só dando vontade de rir, ao rapaz do PS que, por muito que queira, tem um ar de bom rapaz e pouco mais), ali, com as televisões transmitindo as sessão em tempo real, todos fazendo perguntinhas, convencidos que estão a ter dos momentos altos das suas carreiras de políticos, o que me parecem são figurantes ou assistentes de um teatrinho de aldeia, em que, à vez, os artistas convidados vão fazer a sua representação: ora o funcionário atarantado (Carlos Costa), ora a mulherzinha abusada (Maria Luís Albuquerque), ora o fidalgo arruinado que acha que deve manter a pose até ao fim (Ricardo Salgado), ora o primo que tem cara de gostar de uma boa esbórnia e que fala revirando os olhos para o além (José Maria Ricciardi), ora agora este figurão que vai para ali gozar com o fidalgo e com as suas pobres manas (Pedro Queiroz Pereira).


Tudo uma tristeza, uma democracia infantil, frágil, demasiado frágil, assente em cima de uma economia quase inexistente, tudo servido por uma moral também muito frágil. Uma grande tristeza isto tudo.
___

Ricardo Salgado, o Banqueiro

- está ele tal como aqui poderia ter a fotografia de Jardim Gonçalves, João Rendeiro, António Guerreiro 

ou até Oliveira e Costa (que, ao pé destes, quase parece um pé rapado)


A vossa atenção, por favor

Pela segunda vez no Um Jeito Manso: O BANQUEIRO





The Banker


Hello, my name is Montague William 3rd
And what I will tell you may well sound absurd
But the less who believe it the better for me
For you see I'm in Banking and big industry

For many a year we have controlled your lives
While you all just struggle and suffer in strife
We created the things that you don't really need
Your sports cars and Fashions and Plasma TV's

I remember it clearly how all this begun
Family secrets from Father to Son
Inherited knowledge that gives me the edge
While you peasants, people lie sleeping at night in your beds

We control the money that controls your lives
Whilst you worship false idols and wouldn't think twice
Of selling your souls for a place in the sun
These things that won't matter when your time is done

But as long as they're there to control the masses
I just sit back and consider my assets
Safe in the knowledge that I have it all
While you common people are losing your jobs

You see I just hold you in utter contempt
But the smile on my face well it makes me exempt
For I have the weapon of global TV
Which gives us connection and invites empathy

You would really believe that we look out for you
While we Bankers and Brokers are only a few
But if you saw that then you'd take back the power
Hence daily terrors to make you all cower

The Panics the crashes the wars and the illness
That keep you from finding your Spiritual Wholeness
We rig the game and we buy out both sides
To keep you enslaved in your pitiful lives

So go out and work as your body clock fades
And when it's all over a few years from the grave
You'll look back on all this and just then you'll see
That your life was nothing, a mere fantasy

There are very few things that we don't now control
To have Lawyers and Police Force was always a goal
Doing our bidding as you march on the street
But they never realise they're only just sheep

For real power resides in the hands of a few
You voted for parties what more could you do
But what you don't know is they're one and the same
Old Gordon has passed good old David the reigns

And you'll follow the leader who was put there by you
But your blood it runs red while our blood runs blue
But you simply don't see its all part of the game
Another distraction like money and fame

Get ready for wars in the name of the free
Vaccinations for illness that will never be
The assault on your children's impressionable minds
And a micro chipped world, you'll put up no fight

Information suppression will keep you in toe
Depopulation of peasants was always our goal
But eugenics was not what we hoped it would be
Oh yes it was us that funded Nazis!

But as long as we own all the media too
What's really happening does not concern you 
So just go on watching your plasma TV
And the world will be run by the ones you can't see


Interpretado por Mike Daviot
Escrito, realizado e produzido por: Craig-James Moncur



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira

...

quinta-feira, junho 13, 2013

Andam piratas à solta na Europa. E a Comissão Europeia faz o quê? O que é que lá está o Durão Barroso a fazer? Razão tem a bela Rachida Dati quando, sem papas na língua, diz: ""O senhor Barroso deve ir-se embora, e depressa. A sua falta de coragem e a sua ineficácia prejudicaram decididamente muito os europeus". Nem mais.


No post a seguir a este falo do discurso, das entrevistas e das conferências de imprensa de Cavaco Silva lá pelas instâncias europeias e espanto-me perante a bipolaridade que o atacou (a ele e, de certa forma, a alguns outros).

Mas, agora, aqui, a conversa é outra. 


Europa, para que te quero?




Todos os dias assistimos por essa Europa rastejante a atentados contra os direitos dos cidadãos, atentados contra o desenvolvimento dos países, atentados contra a dignidade das pessoas. Dá ideia que estamos entregues a nós próprios, somos os cegos desesperados e solitários que andam pelas ruas a tentar sobreviver. 




Parece que, acima de nós, ninguém zela para que não morramos como cães famintos. Onde estão os órgãos europeus que deveriam zelar por que países sem moeda própria, e que, tendo seguido políticas europeias, se encontram desindustrializados, sem agricultura, sem pescas, indefesos?

Vários países já caíram às mãos dos especuladores financeiros perante uma Europa embasbacada. 

Há leis da física que não devem ser esquecidas. Uma delas é que nada se perde, tudo se transforma. Quando há países que muito perdem, há outros que muito ganham. Sempre que um país europeu bate no fundo, há gente que enche os bolsos. Quando agora Portugal agoniza, somando dívida à dívida, há gente a ganhar muito com taxas de juro altas, como não há noutros sítios.

Não era para evitar que os seus países fossem carniça para abutres e outros necrófagos que era suposto haver uma Comissão Europeia e um Banco Central Europeu?

Pois. Mas não é isso que acontece.

Passivamente, como chernes, como mulas, ali estão eles: assistem a que as maiores empresas públicas dos países em apuros e entregues a fracas figuras sejam vendidas a empresas estatais não europeias (erro estratégico de uma gravidade brutal), assistem a que se exporte capital humano e conhecimento para onde calha, deixando os sistemas de segurança social insustentáveis e o progresso ameaçado, deixam que se aumentem horários de trabalho numa altura em que os países vivem sob a tormenta do desemprego, deixam tudo, tudo, tudo.

Anos e anos de uma longa caminhada no sentido do desenvolvimento são, assim, aniquilados. 

O que aconteceu na Grécia com o fecho da televisão e da rádio públicas foi apenas mais um episódio. Como um bando de piratas, com antecedência de horas, sem mais, assim de súbito, o governo decretou o fecho das estações. Diz a Comissão Europeia que foi obra do Governo de Atenas. O Governo diz que cumpriu determinações da Troika. Não quero saber. O que sei é que é impensável, inaceitável. Um Governo que faz isto deveria levar uma desanda, mas uma desanda valente, deveria ser obrigado a reverter imediatamente uma decisão destas. Actos de pirataria deveriam ser punidos mas punidos de imediato. Na Europa dos tempos presentes já não deveria haver lugar para piratas. Não é admissível que, em pleno século XXI, se façam coisas destas, verdadeiros atentados contra as instituições e as pessoas.

De cada vez que num país se vai cedendo, acedendo, baixando as calças, mais e mais e mais vai acontecendo. Sempre assim foi, sempre assim será.

Nesta Europa assimétrica, desintegrada, um bando de acéfalos assiste a tudo sem um pio. Ou, se piam, piam baixinho, desencontrados, meses ou anos depois. Pobres criaturas temerosas, cobardes, sem voz. 





A Alemanha avança mas avança não apenas por mérito próprio mas também pela demissão dos que se baixam para que ela os cavalgue.

É certo que começam a ouvir-se vozes contra os que bovina e cobardemente pastam deixando que a Europa se desagregue, empobreça, retroceda.

Curiosamente foi da boca de uma mulher e de uma mulher da ala conservadora que veio um ataque directo.




A ex-ministra da Justiça francesa, Rachida Dati, exigiu a demissão do presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, acusando-o de "ineficácia" e de se "curvar" perante os Estados Unidos.


"O senhor Barroso deve ir-se embora, e depressa. A sua falta de coragem e a sua ineficácia prejudicaram decididamente muito os europeus", afirmou em comunicado a deputada europeia do PPE (Partido Popular Europeu, centro-direita).

A ministra do executivo de Sarkozy condenou a intenção de Barroso de querer negociar, em prejuízo, na sua opinião, da defesa da exceção cultural europeia, um acordo de livre comércio com os Estados Unidos.

"Para que serve a Comissão Europeia se, por medo dos seus parceiros comerciais, ela se recusa a defender os europeus e tudo o que constitui a nossa especificidade? O senhor Barroso está a curvar-se perante os Estados Unidos antes mesmo de as negociações começarem", sustentou.

Referindo-se ao encerramento das estações públicas gregas de rádio e televisão ERT, Rachida Dato considerou que se trata de "um símbolo trágico do fracasso da Europa em proteger o povo grego".


"Se a Grécia está num tal estado atualmente, a Europa não está isenta de responsabilidades", observou.




E não é apenas perante os EUA que Durão Barroso se curva: curvou-se perante Bush, curva-se perante Obama, agacha-se de rabo entre as pernas perante Angela Merkel, fecha os olhos e assobia para o lado perante tudo. Um desastre.

É de gente desta que as instâncias europeias estão cheias, gente que nada faz, que se empatam uns aos outros. Enquanto a democracia é avistada, a economia destruída e a independência soberana é ameaçada, esta gente acomoda-se nos gabinetes e amealha um bom pé de meia. E nada mais.


*

A pintura relativa à Parábola dos Cegos é de Pieter Brueghel (ou Bruegel?)

As inspiradas imagens que resultam de montagem provêm do espantoso blogue We have Kaos in the Garden.

*
E já sabem: se quiserem seguir para o comportamento de Cavaco Silva na Europa, é já a seguir.

*

Acho que ainda cá volto. Queria falar sobre a espertalhice do Crato, desafiando os professores e querendo virar a população toda contra eles, mas acho que fica para amanhã. Seria longo e já é muito tarde.

quinta-feira, maio 03, 2012

Das cenas do 1º de Maio no Pingo Doce ao Ensaio sobre a Cegueira de Saramago, com brevíssima dissertação sobre as fragilidades humanas. Das estatísticas desgraçadas relativas ao desemprego em Portugal que já vai em 15,3% ao artigo de Min Zhu do FMI, passando pela teoria de Sinatra sobre o casamento e o amor. Começa com uma verdade inquestionável: uns vão bem e outros mal e não sou eu que o diz, é Fausto.


Música, por favor

Fausto - Uns vão bem e outros mal 



Hoje, quando bebia o meu café matinal, ao meu lado um cliente dizia ao gerente do pequeno estabelecimento que, na véspera, quando tinha estado no Pingo Doce, não tinha havido distúrbios de maior, que as pessoas é que não sabiam comportar-se

À saída de um Pingo Doce


Contava, com ar de quem tinha ido à guerra e saído vitorioso, que tinha compensado. Que tinha comprado 10 garrafas de litro de azeite, que agora tinha azeite para 2 anos e olhava sorridente à volta, orgulhoso pelo feito. O gerente dizia que também tinha comprado muito azeite mas que tinha optado por garrafões de plástico, vários, que também lhe iam dar para 2 anos, pelo menos, que o prazo de validade é grande. Quando eu saí ainda eles comparavam o volume de compras que tinham feito.


À saída de um Pingo Doce


Claro que, vivendo com dificuldades, as pessoas não pensam duas vezes e disparam, por vezes sem racionalidade, quando lhes acenam com metade das compras à borla. Claro que, para isso, teriam que efectuar compras no valor de 100 euros, coisa que, já de si, não é pouco mas nem devem ter avaliado o impacto no seu orçamento doméstico de compras da ordem dos cento e tal ou duzentos euros num único dia (numa reportagem de televisão vi um senhor orgulhoso dos 400 euros que tinha gasto, em vez dos 800 que seriam).

Questões de vária ordem poderiam ser analisadas sobre este facto mas quero apenas referir que este é, na sua maioria, o povo votante deste país, o povo que decide o sentido de voto. Pessoas que procuram uma instantânea melhoria nas suas condições de vida, sem se deterem a analisar o porquê, o como, o até quando, etc., pessoas que agem por impulso, sem fazerem cálculos ou sem se deterem em considerações de carácter filosófico.

Foi assim - porque gostaram da cara de quem lhes prometia uma política de verdade, que lhes dizia que não era admissível que se aumentasse mais os impostos ou que se sonhasse sequer em mexer nos subsídios de natal - que deram a vitória nas eleições a uma pessoa como Pedro Passos Coelho, colocando-o a ele e  ao Relvas, ao Gaspar e a outros neófitos, ex-jotas e aprendizes à frente da governação deste país.

É fácil, muito fácil, manipular pessoas que, de alguma forma, se encontram fragilizadas (ou porque se sentem inseguras, ou carentes, ou revoltadas, ou doentes, ou desempregadas ou o que for).

*

Parábola dos Cegos - Pieter Brueghel, 1568

Estavam muito perto do supermercado, em algum destes sítios se deixou ela cair, a chorar, naquele dia em que se viu perdida, grotescamente ajoujada ao peso dos sacos de plástico cheios, valeu-lhe um cão para a consolar do desnorte e angústia, este mesmo que aqui vai rosnando às matilhas que se chegam demasiado.
(...)
A claridade do dia iluminava até ao fundo o amplo espaço do supermercado. Quase todos os escaparates estavam tombados, não havia mais do que lixo, vidros partidos, embalagens vazias.
(...)
O cão das lágrimas ganiu baixinho. Tinha outra vez o pêlo eriçado. Disse a mulher do médico, Há aqui um cheiro, Sempre cheira mal, disse o marido. Não é isso, é outro cheiro, o da putrefacção, Algum cadáver que estará por aí, Não vejo nenhum, Então será impressão tua. O cão tornou a gemer. 
(...)
Atravessaram o supermercado até à porta que dava acesso ao corredor por onde se chegaria ao armazém da cave. O cão das lágrimas seguiu-os, mas de vez em quando parava, gania a chamá-los, depois o dever obrigava-o a continuar. Quando a mulher do médico abriu a porta, o cheiro tornou-se mais intenso.


[Excertos de uma das cenas pungentes de Ensaio sobre a Cegueira de José Saramago, cena em que os cegos tinham invadido o supermercado e depois se tinham precipitado, escada abaixo, caindo uns sobre os outros... e mais não digo porque o que vos aconselho a ler é o livro todo, um dos livros que mais me impressionou desde que me tenho por gente. Digo-vos apenas que é um documento impressionante sobre as baixezas mais torpes e vis de que as pessoas são capazes em situações limite - e que, ao ler, sentimos que nós próprios - bem falantes, bem pensantes - também o faríamos se nos víssemos naquelas circunstâncias]

*

Imagem do filme Ensaio sobre a cegueira (Julianne Moore como a mulher do médico, um dos muitos cegos)


Hoje soube-se que o emprego continua a subir. Já vai em 15,3% (e em mais de 36,1% nos jovens) e estes são os números oficiais que são inferiores aos números reais.

Pois ia eu no carro à hora de almoço quando ouço, perplexa, o Secretário de Estado do Orçamento, Luís Morais Sarmento a mostrar-se muito admirado com estes números inesperados (inesperados dizia ele, claro)...!

E concluía a "inteligente" criatura que o que era preciso para resolver isto era liberalizar o mercado de trabalho, flexibilizar ainda mais.

Fiquei de boca aberta. É que, meus Amigos, o problema maior não é só estarmos a ser governados por quem não sabe o que faz: o problema maior é que nem sabem tirar conclusões face às consequências do que fizeram...! Então se o problema é o desemprego estar a aumentar a um ritmo que nem eles percebem, o remédio que lhes ocorre é, justamente... facilitar ainda mais  os despedimentos...?!

Ou isto não é nabice da mais pura que há mas, sim, coisa deliberada? Maldade pura?! Defesa de interesses inconfessáveis?! Já nem sei que diga, perante coisas destas.

Quanto ao Álvaro ou a alguém do Ministério das Falências e do Desemprego, nada: estão noutra. Economia e Emprego é coisa que não lhes assiste.

Portugal é o 3º país ex-aequo com o maior desemprego num conjunto de 29 países ditos desenvolvidos, li num artigo do FMI. 



O autor, o chinês Min Zhu, questiona-se: ‘desenvolvidos na miséria?’ pois é nestes países que o desemprego mais se acentua e, de entre eles, para nossa vergonha e sofrimento, Portugal, só é antecedido (na desgraça) pela Espanha e pela Grécia (e igual à Irlanda). 

Logo no início do artigo, Min Zhu parafraseia uma frase de Frank Sinatra - em que este diz, referindo-se ao casamento e ao amor, que não existem um sem o outro - dizendo que é a mesma coisa em relação ao crescimento económico e ao emprego. Não há emprego sem crescimento, nem crescimento sem emprego.  

E mais uma vez recomenda moderação na aplicação de ajustamentos e, também, garantia de liquidez no sistema financeiro. Injecções de liquidez, políticas de desenvolvimento, abrandamento nas políticas de austeridade – só assim se evitará o suicídio.

Mas, claro, nem Passos Coelho nem nenhum do seu grupo lêem este género de artigos. E, mesmo que lessem, duvido que percebessem. 

No dia 1 de maio, com ar ligeiro de quem pronuncia uma banalidade irrelevante, Passos Coelho disse que os portugueses se deveriam preparar para mais uns anos de desemprego alto. Ainda não percebeu o buraco em que está a enfiar Portugal nem a miséria para que está a atirar os portugueses.

*

Não me apetece falar mais disto que fico indisposta.

Por isso, com vossa licença, para terminar, um bocado mais de Ensaio sobre a Cegueira para que saibam, meus Caros Leitores, que há cegueiras de que se recupera e que há histórias que acabam bem (e, se há lágrimas no final deste excerto, não se admirem, elas são de compreensível emoção de descompressão).

Eu acredito nisso.


Então o médico disse o que todos estavam a pensar, mas que não ousavam pronunciar em voz alta, É possível que esta cegueira tenha chegado ao fim, é possível que comecemos todos a recuperar a vista, a estas palavras a mulher do médico começou a chorar, deveria estar contente e chorava, que singulares reacções têm as pessoas, claro que estava contente, meu Deus, se é tão fácil de compreender, chorava porque se lhe tinha esgotado de golpe toda a resistência mental, era como uma criancinha que tivesse acabado de nascer e este choro fosse o primeiro e ainda insconsciente vagido. O cão das lágrimas veio para ela, este sempre sabe quando o necessitam, por isso a mulher do médico se agarrou a ele, não é que não continuasse a amar o marido, não é que não quisesse bem a todos quantos se encontravam ali, mas naquele momento foi tão intensa a sua impressão de solidão, tão insuportável, que lhe pareceu que só poderia ser mitigada na estranha sede com que o cão lhe bebia as lágrimas.


A tradução destas legendas é pavorosa mas, enfim, foi o que arranjei...
O filme é uma adaptação da obra de José Saramago, e foi realizado pelo brasileiro Fernando Meirelles

*

Bom. Caso ainda tenham paciência, não quererão os meus Amigos ir dar uma espreitadela lá ao meu Ginjal e Lisboa? Hoje as minhas palavras voam em volta de um poema de que gosto muito de Maria Sousa. Acompanha com Puccini, La Bohème... mas oh que encenação!... Só mesmo visto. A sério.

*

E, claro está, desejo-vos uma bela quinta feira, de olhos bem abertos... 
(para verem as coisas boas desta vida!)