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quinta-feira, setembro 11, 2025

Algum psicólogo forense por aí que trace o perfil dos meliantes que se agremiam no Chega?

 

Hoje soube-se de um que roubava combustível ao INEM. Imagine-se: roubava gasóleo das ambulâncias. No outro dia soube-se de um apanhado em flagrante a atear fogos. Outro, um caso digno de filme cómico, apanhado a roubar malas nos aeroportos, guardando-as no gabinete da Assembleia da República e depois vendendo os pertences dessas malas num site de roupa usada no qual usava o seu nome e ano de nascimento como nickname. Outro agride árbitros em jogos infantis. E receio que seja delírio meu mas tenho ideia de que já houve um que roubava caixas de esmolas, outro que usava armas sem ter licença para isso, não sei até se não havia um ligado a tráfico de drogas ou coisa que o valha. Não continuo pois receio que seja a minha imaginação ou a minha memória a atraiçoar-me. 

E estou a elencar isto apenas porque me espanto e me sinto intrigada: o que leva estes marginais a juntarem-se a um partido que prega a moralidade e que exige mão pesada nas penas justamente contra os crimes que eles cometem?

Não é estranho? Não há qualquer coisa de psicopata nisto?

E ainda outra dúvida: o que leva os votantes no Chega a votar num partido em que já se descobriu que tantos dos seus militantes (incluindo deputados) têm problemas com a Justiça? Não é estranho? Se quem vota no Chega é gente que preza a lei e a ordem como é possível que se identifiquem com um partido destes?

Será que vamos ter que aceitar que há mais gente do que pensamos que não bate bem da bola?

sexta-feira, janeiro 17, 2025

Superar o legado de famílias disfuncionais

 Disclaimer:

Pergunta: Haverá famílias absolutamente funcionais?

Resposta: Duvido

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Abaixo partilho um vídeo que me parece um testemunho importante. 

Quantas vezes as pessoas arranjam neuras, pancadas, fobias, fixações, embirrações apenas porque veem as coisas segundo a sua própria perspectiva, ignorando a dos outros? E, quando entendemos melhor os outros, quantas vezes não mudamos o nosso ponto de vista, não percebemos que arranjámos problemas desnecessários, nos arreliámos por motivo nenhum?

E quantas vezes criticamos nos outros por não fazerem o que nós também não fazemos? Ou por fazerem o mesmo que nós também fazemos? Ou criticamos nos outros aquilo que os outros dizem também de nós?

Sugiro que vejam o que o António Raminhos aqui conta.

Como superei o legado da minha família disfuncional | António Raminhos | TEDxPorto

Para António Raminhos, todos temos um legado, uma cronografia que nos precede. Cresceu no seio de uma típica família disfuncional dos anos 80, com relações e narrativas peculiares, mas hoje olha para trás com um sorriso e não queria ter de contar outra história.

Na sua talk, partilhou alguns desses momentos, trazendo leveza e comicidade mas sem deixar de refletir sobre a importância vital dos nossos antepassados e como devemos reconhecer o papel fundamental que desempenham nas nossas vidas.

Na sua experiência com a sua família, o julgamento e falta de afeto que sentia criaram-lhe as condições para perturbações do foro mental, tal como ansiedade e perturbação obsessiva-compulsiva. Mas através do diálogo com os seus familiares, e em especial com o seu pai, conseguiu conhecer o passado destes, com as suas perspetivas e dificuldades, compreendendo que a forma como tinha sido educado foi o resultado do melhor que sabiam e puderam fazer. Reconhecer a história dos seus pais e avós foi assim uma forma de ultrapassar o legado que recebeu e de conceber um novo para a sua família.

 Da televisão à rádio, dos livros aos podcasts, das redes sociais aos grandes palcos em nome próprio, António Raminhos surpreende ano após ano reinventando-se.

(...)

domingo, janeiro 07, 2024

Do outro lado --- casos reais de saúde mental contados por profissionais da área

 

Nos dias que atravesso a relação entre saúde física e saúde mental é recorrente. Dito desta maneira, se calhar fica a ideia, errada, de que a saúde mental não é física. Creio que é embora nem sempre rastreável através de exames médicos. Ou seja, não há controlo analítico ou RX ou ecografias para se perceber se uma pessoa está com uma depressão, sofre do Síndrome de Munchaüsen ou se, simplesmente, está a atravessa um período conturbado. E se nos é relativamente fácil saber que, se estamos com uma patologia evidente, por exemplo, se fracturamos um osso, devemos procurar ajuda médica, já para as questões mentais pode não ser óbvio. Ou porque achamos que faz parte da nossa maneira de ser, ou seja, não é coisa que deva ser tratada, ou é coisa passageira que saberemos ultrapassar, creio que não é às primeiras que as pessoas, em geral, percebem que devem procurar ajuda.

Ao longo da minha vida tenho-me cruzado com pessoas que, creio, teriam ganho em ter tido acompanhamento psicológico. Uma amiga, por exemplo, saiu directamente de um comportamento tímido e reservado para um totalmente desbragado, sem prestar atenção a nada do que lhe dissessem, entregando-se, sem defesas, a toda a espécie de situações que eram, à vista de todos, situações inviáveis, perigosas, ratoeiras nas quais se ia perder. E, no entanto, atirava-se de cabeça. E saiu de umas para outras, num percurso errático que lhe deixou marcas. Penso que ainda hoje continua a ser como era quando entrou neste registo: atirando-se de cabeça, adolescente até à medula, sem conseguir dosear as emoções, mostrando de forma inocente as suas perplexidades e frustrações. Não sei como é que um psicólogo poderia ter ajudado mas acredito que sim.

E tive um colaborador que era calado, calado, calado. Nunca se percebia o que lhe ia na cabeça, nunca dava opinião, nunca era capaz de fazer um ponto de situação razoável pois, temendo as dificuldades que sentiria até o trabalho estar concluído, dizia sempre que não sabia quando o acabaria. Tive vários problemas por causa dele. Ninguém conseguia relacionar-se de forma saudável com ele. Parecia ter sempre capital de queixa, notoriamente sentia-se injustiçado, mas nada fazia para contrariar essa situação. Por exemplo, numa reunião, pedia sugestões sobre um tema. As pessoas falavam, opinavam, sugeriam. Ele nada. Quando eu lhe perguntava qual a opinião, fazia um esgar de contrariedade, quase sarcástico, dizia que não queria dizer nada porque os outros antes já tinham dito tudo. Uma vez, sem ninguém perceber porquê, do nada, deu-lhe um ataque de fúria, levantou-se, pegou na cadeira em peso e bateu com ela no chão até a despedaçar. Depois virou costas e foi-se embora. À sua volta, estavam todos estarrecidos. Não vi. Contaram-me. Na verdade, acho que ficaram em pânico pois ele passou do habitual estado de quase zombie a monstro desaustinado. No dia seguinte, chamei-o e perguntei-lhe o que tinha sucedido. Com ar espantado, certamente fingidamente espantado, disse-me que se tinha passado porque a cadeira não prestava, que estava sempre a desencaixar-se mas que tinha vindo mais cedo e a tinha montado, que já estava boa. Penso que era um caso em que teria beneficiado de acompanhamento pois alguma coisa naquela cabeça não estava bem encaixada.

E já nem falo numa outra que, sob a capa da santinha, da boazinha que levava bolinhos feitos por ela para distribuir pelos colegas, que trabalhava horas a fio, até de madrugada e que surpreendia todos pois quando os mais madrugadores chegavam já lá a encontravam, frequentemente fazendo trabalho que nem lhe competia, numa de ser amiga dos que precisavam de ajuda, e que veio a revelar ser dona de uma mente perversa, causando sérias perturbações familiares, sérios danos profissionais, chegando até a causar medo a quem com ela lidava mais de perto. Face à gravidade dos casos em que a soube envolvida, mais diria que seria caso até de internamento.

E, do que tenho visto e sabido, não apenas beneficiam de acompanhamento as pessoas que padecem de algum problema, como os acima referidos, como aqueles que, tendo que lidar com essas pessoas, chegam a um ponto de exaustão ou infelicidade ou permanente dúvida sobre como lidar com a situação que, precisam mesmo de alguém sabedor que, de fora, ajude a encaixar as peças soltas do puzzle e forneça pistas sobre como melhor levar a vida adiante.

O Observador, que não tenho por hábito acompanhar enquanto jornal, tem esta louvável iniciativa de ter um 'canal' em que se debruça sobre os labirintos da mente, quer convidando pessoas a falar sobre os seus problemas e sobre como conseguiram procurar alívio com acompanhamento profissional quer convidando justamente diversos profissionais da área da saúde mental que aqui falam sobre casos concretos. "Do Outro Lado" é a nova rubrica do projeto Mental, do Observador.

Escolho, para já, apenas dois dos vídeos, o primeiro porque me impressionou bastante, até porque desconhecia que havia um síndrome identificado para este tipo de patologia, e o segundo porque me fez lembrar o caso de um colega dos meus filhos que me preocupou bastante na altura e o do filho de um colega meu, um rapaz que, de tão viciado, não apenas deixou de estudar como quase deixou de viver, tornando-se até agressivo para os pais.

“Do Outro Lado”. A doente borderline que inventava sintomas para ser cuidada pelos médicos

A vontade de ajudar a primeira ("e última") paciente com síndrome de Münchhausen levou o psiquiatra João Carlos Melo a uma dedicação que desafia os limites habituais da relação terapêutica.


"Do Outro Lado". O caso do rapaz que jogava online 22 horas por dia

Um paciente dependente de videojogos que não falava nas primeiras consultas. Uma psicóloga grávida pela primeira vez. O caso ajudou Rosário Carmona e Costa a tornar-se a psicoterapeuta que é hoje. 

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Desejo-vos um belo dia de domingo
Saúde. Serenidade. Paz.

quinta-feira, janeiro 04, 2024

Fui caçada por uma psicóloga. Estranhei.
Mas, para dizer a verdade, gostei.

 

Nestes meus dias tão incertos em que a inquietação vive dentro de mim, estou a começar o ano como o acabei. Ainda hoje, ao responder a um amigo, lhe disse que o almoço teria que ficar para depois já que, por ora, vivo neste limbo em que a palavra de ordem é 'cada dia é um dia'. No hospital tento que me apontem perspectivas, me esclareçam com aquele nível de exactidão que, para mim, é fundamental. Mas ninguém me diz o que eu quero ouvir. Basicamente tudo anda à volta disto: 'cada dia é um dia'. 

Para qualquer pessoa isto deve ser horrível. Não sou a primeira e certamente não serei a última a passar por estas situações. Mas, para quem, como eu, é das ciências exactas, penso que isto é ainda pior. É como se me pregassem rasteiras, me tirassem o tapete, me deixassem sem chão, sem rede, me deixassem sem eixos referenciais. Navegação à vista, sem regras, sem gps, numa meio de uma nebulosa.

A novidade foi que ontem a médica, depois de conversarmos, me disse que já iam ter comigo ao quarto. Não percebi. Já iam ter comigo? Quem? Ela e outra médica? Porquê? Mas tão admirada fiquei que nem me ocorreu verbalizar as dúvidas.

Mas estava lá, lá fiquei. Até que entrou uma pessoa com bata, que tomei por médica, que se apresentou e disse que gostava de falar comigo. Levou-me para uma sala. Lá fui, atarantada, sem saber qual era a dela. 

Simples: queria apoiar-me. Eu meia parva. Apoiar-me? A propósito de quê? 

Disse-me que a equipa lhe tinha transmitido que achavam que eu estava a precisar de apoio. Eu parva a tentar pensar no que é que eu teria feito ou dito que tivesse levado a equipa a pensar nisso. Depois pensei: capaz de isto ser 'cilada' da minha filha. Mas não entrei por aí, ou seja, não quis saber exactamente quem e porquê, achei irrelevante. 

O relevante, pareceu-me, é que se eu tinha sido caçada, então a caçadora que levasse a dela avante. Porque não?

Portanto, no meio de todo este turbilhão, uma novidade: uma conversa com uma psicóloga. 

Devo dizer que gostei. Achei interessante. Descodificou algumas coisas, deu-me pistas para melhor lidar com a situação. No fim, disse-me que doravante a procurasse.

Hoje, quando cheguei, não a vi. Estava numa de não a procurar, a pensar que a conversa tinha sido boa, útil, e que, como aquelas dicas, já eu ia ver tudo sob lentes novas, mais claras. Portanto, não era precisa outra sessão.

Quando ia a sair, vi-a e pensei: caraças, como é que agora vou conseguir escapar-me?

Ela, mais rápida que eu, perguntou se eu podia esperar pois queria falar comigo. Disse-lhe que estava de saída. Pediu cinco minutos. Achei que seria indelicado não atender ao seu pedido.

E, portanto, segunda sessão. Eu sentada num sofá, ela numa cadeira ao pé de mim. 

Parece-me perceber que a história também lhe desperta atenção, noto que as perguntas não são apenas um caminho para conduzir a sessão, são também curiosidade.

Tal como na primeira sessão, também na de hoje, às tantas desatei a chorar. Tento travar pois parece-me absurdo não conseguir conter-me. Felizmente ela não me diz coisas constrangedoras como 'chore à vontade' ou 'não faz mal chorar, chore que faz bem'. Nada. Se o fizesse eu achá-la-ia vulgar e sentir-me-ia ridícula. Pelo contrário, não se mostrou nem espantada nem comovida ou caridosa e continuou a olhar para mim com atenção, à espera que eu continuasse a falar, como se o meu choro fosse uma contingência com a qual não estava para se distrair. Ainda bem.

Acho-a muito inteligente, perspicaz. Por vezes, estou a falar e ela adivinha o que vou dizer. Ou faz perguntas que revelam que já antevê qual vai ser a resposta e vejo que fica contente ao constatar que adivinhou mesmo. 

No fim disse-me quando lá estaria de novo e que eu a procurasse. 

Uma experiência interessante. Fico a pensar no que ela diz e, na minha cabeça, as coisas apresentam-se já de outra maneira, parece que já fazem mais sentido. Havia uma perspectiva que eu nunca usava e que, se calhar, é justamente aquela pela qual as coisas devem ser vistas.

Eu que em tempos pensei ser psicóloga, que gosto de ouvir outras pessoas e a quem outras pessoas costumam contar coisas, vejo-me agora no papel contrário. Ela diz que é bom eu falar com tanta franqueza e tão abertamente. É certo. Não sei falar de outra maneira. Admito que algumas pessoas rodeiem, baralhem, usem meias palavras. Isso deve dificultar a vida aos psicólogos. Eu falo sem qualquer dificuldade do que me preocupa ou do que me custa mais e, mesmo perante algumas inesperadas, respondo o mais sinceramente possível.

A minha dúvida em continuar tem mais a ver com a necessidade: fico com a sensação que ela já me tirou algumas palas que eu tinha em frente dos olhos, já me mostrou outras linhas de raciocínio que eu nem ousava pensar que existiam. E, portanto, tenho a sensação que ela já fez o que tinha a fazer e que, a partir de agora, é comigo.

Ela diz que acha a situação tão complexa que qualquer pessoa teria forçosamente dificuldade em lidar com ela pelo que está em crer que eu beneficiaria em ter mais algumas conversas com ela, mesmo depois de a minha mãe sair do hospital. Tenho dúvidas. O único aspecto que me deixa receptiva à ideia é que gostei mesmo de falar com ela, acho-a mesmo inteligente e objectiva, rápida, arguta. Falar com pessoas assim é um exercício que me motiva. 

Enfim. No meio destas circunstâncias difíceis, estas duas conversas foram duas inesperadas e agradáveis surpresas. Bem que a minha filha andava a dizer que achava que eu só teria a ganhar com isto. O meu marido também. Aliás, contei à psicóloga uma situação envolvendo o meu marido, em que eu não achei nada bem o que ele tinha dito e lhe pedi para não voltar a fazê-lo, e ela, surpresa das surpresas, disse que achava que ele tinha feito muito bem. Contei-lhe a ele e, claro, parece que tinha marcado golo, que claro que tinha feito bem, que era óbvio, que eu é que nunca lhe dou ouvidos, etc, etc. Agora percebi porque, lá está, ela colocou em cima dos factos um referencial que eu nunca usava e à luz do qual as coisas fazem outro sentido.

Ou seja, é sempre saudável, mentalmente saudável, ouvir quem nos mostre outras perspectivas e que mostre como as coisas podem fazer mais sentido quando encaradas sob lentes que antes nunca nos tínhamos lembrado de usar.

Tirando isso, a ver se durmo uma noite descansada. Peguei a gripe (da qual não estou completamente curada) ao meu marido e agora é ele que se farta de tossir durante a noite (e durante o dia também). Enfim. Uma gripe estuporada esta, difícil de curar. Os meus filhos estão na mesma, tiveram-na e ainda andam a ver se conseguem livrar-se do que sobra dela.

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Desejo-vos um dia bom

Saúde. Cabeça fresca. Paz.

quinta-feira, novembro 23, 2023

Impotência

 

No outro dia, ao vermos fotografias do nosso casamento, o meu marido disse: 'O chato disto é que metade da malta já cá não está'. Pois é. Eu, ao ver-nos nas fotografias de grupo, também tinha pensado exactamente isso. Não sei se é metade, se é um terço. Sei que são muitos. Avós, quase todos os meus tios, todos os do meu marido, sogros, o meu pai.

Deve ser o que acontece em todas as famílias ao fim de um período longo. É a tal lei da vida. A malta chega ao fim da passadeira rolante.

No entanto, é também certo que tantos dos que hoje habitam o nosso coração ainda não existiam nessa altura. E isso é uma alegria. De certa forma, a passadeira está sempre cheia. Saem uns, entram outros.

Não têm sido nada fáceis estes tempos para mim. 

Em todos os casos anteriores, quem saía da passadeira estava doente, sabia-se o que se passava. 

No caso que agora me é muito próximo, não se sabe o que se passa. Supostamente, há uma condição física que estará controlada. 

Contudo, antes, o receio exacerbado dos medicamentos sempre a tinha levado a evitá-los (não dizendo a ninguém que o fazia). Sempre zelou em absoluto pela sua independência, estou agora em crer que para garantir que ninguém percebia que não tomava o que devia. E, se se via forçada a tomá-los, imediatamente sentia todos os efeitos secundários que tinha lido na bula. E tão convincente era, tão mal se mostrava, a tantos médicos dizia que ia que, segundo ela, lhe diziam que suspendesse os medicamentos, que não havia como ser eu a questionar o que me era apresentado como decisão dos médicos.

Até que a situação se agravou e passei a acompanhá-la às consultas e a garantir que não falhamos nenhuma e que a medicação é seguida. Contudo, para ela isto foi como uma sentença de morte. É como se estivesse a ser forçada a ser envenenada. Em vez de aceitar que, tratando-se, lhe é garantida uma sobrevida de qualidade, não. Leu todas as bulas e, de imediato, mais uma vez achou que ia morrer dos efeitos secundários.

Tem lutado por todos os meios para trocarem ou retirarem ou reduzirem a medicação. Contudo, para seu desespero, os muitos médicos ouvidos confirmam que a medicação é a correcta e que, sob risco de vida, não pode ser suspensa. Nos últimos dias, um outro médico, mais um, o confirmou. Para ela, foi uma tremenda desilusão. Não sei porquê, pensava que este ia ceder. Ficou para morrer com a indicação dele de que deveria continuar a tomar aqueles medicamentos. A sua condição de saúde parece que se agravou ainda mais ao saber disso.

E, em estado de enorme exaustão, queixa-se de mil sintomas que atribui aos medicamentos e que os médicos juram a pés juntos que não pode ser. Mas a verdade é que está a piorar de dia para dia. Nenhumas análises, nenhuns exames, identificam o que quer que seja. Tudo está normal. Mas o declínio é evidente. De dia para dia, decai mais e mais. Sempre cheia de medo, descontrolada de medo e fatalismo, como se estivesse a morrer e ninguém ligasse, já sem força, exausta, é já uma sombra do que era. 

E queixa-se de tantos sintomas, tantos, que, às tantas, agora que tem enfermeiros e médicos a olharem por ela, está a ser medicada para o que não tem. A mim diz que não se queixou daquilo, que eles é que perceberam mal. Mas a eles não tem coragem de dizer que era a fingir, e toma mesmo. Mas já ninguém percebe o que é que tem de verdade, pois tão depressa sente tudo, de uma forma absoluta, com manifestações exuberantes, como, pouco tempo depois já não é aquilo, é outra coisa. 

Mas, neste processo, desgasta-se, esgota-se, fica exaurida. E eu vejo que, mesmo que tudo o que ela sente seja uma somatização, a verdade é que está a destruí-la. E aparentemente ninguém consegue resolver isto.

De dia para dia a situação agrava-se. Está rodeada de pessoal clínico e todos continuam a dizer que, de físico, concreto, não se percebe o que possa ser, mas a depauperação do estado geral é gritante. E eu sinto-me impotente, sem saber o que fazer. O meu marido e os meus filhos dizem que obviamente não sou eu que posso resolver o que quer que seja, que só o pessoal clínico é que poderá. Só que eu tinha esperança que, entre enfermeiros e médicos, soubessem lidar com uma situação que me ultrapassava, e estou a ver que não.

Creio que é um caso em que fica muito evidente o que a mente pode fazer ao corpo. 

E eu peço-vos desculpa por estar a voltar a este tema. Não queria estar a importunar-vos com o que começa a ser recorrente. Quem por aqui me acompanha sabe que detesto falar dos meus problemas. Tem morrido quem me é próximo, têm estado doentes, eu própria por vezes tenho tido alguns problemas e pouco ou nada falo disso. Não gosto de carpir, não gosto de me lamentar. Só que, desta vez, esta situação está a submergir-me, quase não me permitindo respirar. Bem tenho tentado falar de outros assuntos mais animados ou mais simpáticos mas, lamento, não estou a conseguir.

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PS: Volto a este post para escrever uma nota a posteriori. Quando escrevi o texto que acabaram de ler e que, de vez em quando releio para constatar que aquilo que eu sempre temia -- que um dia houvesse uma situação séria da qual nem eu nem ninguém se apercebesse -- aconteceu. Ao escrever o que acima escrevi jamais poderia supor que dois meses depois a minha mãe estaria morta

sexta-feira, junho 30, 2023

Como ser mais feliz em 5 passos sem truques esquisitos

 

Hoje estava a dar-me para falar de felicidade. Acontece que o meu marido me disse que vai escrever uma coisa e, por isso, arrepio caminho e limito-me a pouco mais fazer do que partilhar convosco um vídeo interessante. Não sou estudiosa sobre a matéria mas, numa perspectiva meramente pessoal, concordo com o que Laurie Santos aqui diz.

Tenho para mim, isto é, na minha ignorância, que isto de se ser feliz tem também muito a ver com a carga genética. Deve haver quem tenha propensão para ser feliz, independentemente das circunstâncias, tal como quem a tenha para a infelicidade, também independentemente das circunstâncias.

Mas, independentemente disso, há também algumas regras que devem ser atendidas em especial para quem isso não seja intuitivo ou óbvio.

São coisas simples e muito eficazes.

Observa-se muito em grandes organizações que, perante as mesmas circunstâncias profissionais, há quem tenha reacções diametralmente opostas.

Vou dar um exemplo. Consoante os resultados e o atingimento dos objectivos anteriormente fixados, era costume haver atribuição de bónus. Para mim, receber um bónus sempre foi uma coisa boa. Fosse quanto fosse. 

Contudo, para muitos dos meus colegas, era um momento de stress. Ou achavam que era menos do que estavam à espera ou proporcionalmente não era tão bom quanto os de outros colegas ou sei lá.

Pois eu nunca tinha quaisquer expectativas. Por isso, tudo o que viesse à rede era peixe.

Depois não fazia ideia nem queria saber o que é que os outros tinham recebido. E, note-se, pelas minhas funções, tinha acesso a saber tudo o que cada um recebia. E, no entanto, nunca -- e nunca é mesmo nunca -- fui ver. E não fui ver porque não tinha qualquer curiosidade. Além disso, sabia que, se visse, iria ficar incomodada pois iria ver coisas que não perceberia ou não concordaria. Ora sempre quis estar feliz. Nunca procurei situações que tivessem algum potencial de me aborrecerem sem que eu tivesse qualquer contrapartida positiva para isso.

As comparações são geralmente uma fonte de chatice, especialmente para quem se acha sempre em défice de qualquer coisa. Para pessoas que acham sempre que deviam ter mais do que têm (seja dinheiro, atenção, amor, roupas, beleza, etc), a comparação com os outros só serve para acumular frustrações.

Depois há aquilo da pessoa se comprazer na maledicência e na vitimização, achar que tudo lhe acontece, que aos outros as flores crescem depressa, aos outros saem-lhes os maridos apaixonados, aos outros aparecem sempre oportunidades para grandes viagens ou para ir a belos restaurantes, que a quem menos merece é que tudo de bom acontece. Ser assim é corrosivo para o próprio. 

Se nos abstrairmos desse maneira de ver as coisas e nos sentirmos agradecidos por podermos andar ao sol sem haver risco de sermos atingidos por um míssil ou se podemos comer normalmente sem termos que ser alimentados por sonda nasogástrica ou se temos casa e dinheiro para viver condignamente, vamos andar sempre leves e felizes.

Ou se em vez de passarmos os dias inteiros a ver, nas redes sociais, o que fazem os nossos amigos ou familiares, nos juntarmos com eles e conversarmos despretensiosamente, despreocupadamente, também vai ser bem melhor.

O vídeo não tem legendas em português mas como a dicção de Laurie é perfeita e como acredito que muitos de vós não tenham dificuldade, partilho na mesma.

How to be happier in 5 steps with zero weird tricks | Laurie Santos

Às vezes, é muito difícil ser feliz. E há uma razão para isso: o cérebro humano não é programado para a felicidade. Por quê? Porque a felicidade não é essencial para a sobrevivência. Para piorar a situação, a nossa mente pode enganar-nos quando se trata de felicidade, levando-nos a perseguir coisas que não nos farão felizes a longo prazo.

Para resolver isso, a professora de psicologia de Yale, Laurie Santos, recomenda um conjunto de práticas, apelidadas de “religações”. Essas práticas incluem priorizarmos a conexão social, sermos orientado para o outro, focarmo-nos na gratidão e nas bênçãos e incorporarmos exercícios na nossa rotina diária.

Ao entendermos as armadilhas comuns de nosso pensamento e adotarmos novos comportamentos, podemos alcançar a verdadeira felicidade e fazê-la durar. Para Laurie Santos, a felicidade não é apenas um estado; é uma prática contínua.


E já volto com o texto do meu marido

Até já

quarta-feira, maio 17, 2023

Receita para curar hipocondríacos

 


Por acaso, e pelo menos até ver, não sou hipocondríaca. Mas sei bem o que isso é pois tenho convivido de perto com quem o é.
 
Não é coisa de que se deva gozar pois é uma doença se calhar pior do que as doenças de verdade. 

As pessoas hipocondríacas julgam que estão doentes (talvez porque tenham um medo descontrolado de estar) e, a partir daí, desenvolvem toda a espécie de sintomas que comprovam que têm mesmo essa doença.

O google e a própria bula dos medicamentos incentivam bastante este tipo de problemas. Para quem sofra desta síndrome, os sintomas aí estão à disposição. À la carte.

Quando dizemos a essas pessoas que o problema delas é a ansiedade e que deveriam procurar apoio psicológico ou tomar um ansiolítico ofendem-se e rejeitam liminarmente essas sugestões pois temem que, com isso, desvalorizemos os seus sintomas ou que, ao ficarem menos ansiosas, os sintomas fiquem ofuscados. 

Durante as fases de hipocondria aguda, as pessoas que disso padecem ficam voluntariamente entregues, quase a 100%, a si próprias, a olharem para dentro de si, tentando identificar e caracterizar os sintomas, validando na documentação a que acedem que esses sintomas confirmem a doença, tentando identificar outros que o reforcem, tentando verificar se também os sentem.... etc. 

Não querem conviver pois não querem perder de vista os seus sintomas não vá a coisa agravar-se, não querem que os outros digam que é tudo inventado (ou imaginado). Geralmente ficam deprimidas, mal encaradas. Comportam-se como se estivessem mesmo mal e melindram-se com o descaso que verificam nos outros.

A hipocondria pode focar-se em maleitas distintas que vão variando. Um dia estão muito mal, com todos os sintomas, com um problema na cabeça, e não descansam enquanto não são vistos por um médico e não fazem exames. Mal sabem que estão bem todos os sintomas desaparecem, sendo desvalorizados. E nem querem que se fale no assunto. Pouco tempo depois, estão com outra doença, sempre grave, localizada no peito, com sintomas irrefutáveis. Podem descrever de tal forma o que têm que a única solução é ir para as urgências. Dias depois tudo isso se varreu e já estão noutra. 

Quando lhes dizemos que padecem de hipocondria mórbida negam em absoluto, dizem que ninguém no mundo quereria mais não padecer de nada do que eles. Falam como se um hipocondríaco fosse alguém que gosta de estar doente. Não é. Um hipocondríaco é alguém que desenvolve medos quase paralisantes de estar doente.

Uma pessoa hipocondríaca não é apenas uma pessoa que destrói a sua própria qualidade de vida como a dos que a cercam pois, quem está por perto, teme sempre o dia em que algum daqueles sintomas seja real e que, por o ter desvalorizado, fique responsável por a pessoa não ter sido acudida a tempo. E, por outro lado, não é confortável ficar no papel de quem é insensível e inconsciente a ponto de não prestar atenção a alguém gravemente doente. Mesmo perante o hipocondríaco que se sente portador de doença grave e/ou terminal, como ficamos se mostramos que aquilo não passa de mais uma daquelas invenções habituais e transitórias?

Por isso, que não se menospreze o poder devastador da hipocondria.

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Mas passo a palavra ao ChatGPT

Eu:

O que é, a que se deve e como se trata a hipocondria?

ChatGPT:

A hipocondria, também conhecida como transtorno de ansiedade de doença, é um transtorno psicológico caracterizado pela preocupação excessiva e persistente com a possibilidade de ter uma doença grave, mesmo na ausência de evidências médicas que justifiquem essas preocupações. As pessoas com hipocondria geralmente interpretam sintomas físicos normais como sinais de doença grave e tendem a buscar constantemente exames médicos e investigações para confirmar suas preocupações.

A causa exata da hipocondria não é conhecida, mas acredita-se que seja uma combinação de fatores genéticos, ambientais e psicológicos. Pessoas com histórico familiar de transtornos de ansiedade, traumas passados ou experiências negativas com doenças podem estar em maior risco de desenvolver hipocondria.

O tratamento da hipocondria envolve uma abordagem multidisciplinar que pode incluir:

Terapia cognitivo-comportamental (TCC): A TCC é uma forma de terapia que visa identificar e modificar os padrões de pensamento negativos e distorcidos associados à hipocondria. O terapeuta ajuda a pessoa a examinar e desafiar as crenças irracionais relacionadas à saúde, desenvolvendo estratégias para lidar com a ansiedade e reduzir os comportamentos de busca por reassurance médica.

Terapia de exposição: A terapia de exposição gradualmente expõe a pessoa a situações temidas, como consultar médicos com menos frequência ou adiar a procura de informações médicas, com o objetivo de reduzir a ansiedade associada à hipocondria.

Medicamentos: Em alguns casos, medicamentos como antidepressivos ou ansiolíticos podem ser prescritos para ajudar a reduzir a ansiedade e os sintomas relacionados à hipocondria. É importante lembrar que os medicamentos devem ser prescritos por um profissional de saúde e seu uso deve ser acompanhado de perto.

Além dessas abordagens, é fundamental o suporte de uma equipe médica e profissionais de saúde mental especializados no tratamento da hipocondria. É importante que a pessoa com hipocondria tenha um ambiente de apoio, com familiares e amigos compreensivos, para ajudar na superação desse transtorno.

Se você ou alguém que você conhece está lidando com a hipocondria, é recomendado buscar ajuda de um profissional de saúde mental para obter um diagnóstico adequado e um plano de tratamento personalizado.

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Uma outra abordagem 

- que entre a malta da Porta dos Fundos

Segundo o Google, tenho apenas mais dois dias de vida. Tudo começou com uma coceira de nada no pescoço, cocei tanto que desloquei meu ombro e chamei meu amigo Jorge para colocar no lugar. Ele não conseguiu ajudar e devia estar gripado, pois agora também estou espirrando e com uma dor de garganta muito forte. E juro que não tem nada a ver com a mamada que eu dei nele na hora. Adeus, mundo!

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segunda-feira, março 13, 2023

Ataques de pânico
Anabela Figueiredo e a ansiedade. “Deixei de andar de carro, de jantar com amigos”

 

Não é tema para noite de Óscares nem sequer para passadeira vermelha.

Mas também não tenho frequentado o escurinho das salas de cinema para aqui poder botar faladura sobre matérias cinéfilas.

Portanto, com vossa licença, vou falar de um tema pouco sexy.

Já aqui o referi: felizmente não conheço a experiência dos ataques de pânico pelo que não posso aqui trazer o meu testemunho pessoal. Contudo, conheço quem já tenha passado por essa terrível experiência.

Ainda não há muito, uma pessoa me contava que, na noite anterior, tinha tido um angustiante ataque de pânico. Depois de muitos exames médicos em que tentou despistar diferentes doenças pois tinha a certeza de que tinha um problema físico, concreto, com sintomas muito evidentes, e porque aquelas manifestações exuberantes aconteciam do nada, sem que estivesse nervoso, tinha finalmente reconhecido que o problema de que padece é do foro mental.

Por exemplo, nesse dia, segundo me contou, estava em casa a cozinhar, tranquilamente. 

Como vive sozinho, apesar de já saber que são ataques de pânico e não cardíacos, ainda tem um certo receio de que alguma consequência grave ocorra e, por isso, quando isso acontece e está em casa, vai para o carro. Acha que, em situação de ser preciso algum socorro, na rua, mesmo que dentro do carro, estará mais perto de alguém que passe. 

Diz que já identifica quando os ataques estão a chegar e já consegue ter algum autodomínio nessas situações.

Tem uma vida profissional muito exigente e, diria, muito stressante. A nível pessoal tem também alguns factores que não são especialmente estabilizadores. 

Por causa dos ataques de pânico que são, segundo ele, incapacitantes, começou a ter algum receio de conduzir. E esse facto, o de, por vezes, não conduzir, é um outro factor que, por si, também não ajuda pois perguntam-lhe porque não usa o carro e ele, não querendo contar o que se passa, vê-se na necessidade de inventar desculpas que a ele mesmo parecem esfarrapadas, deixando-o ainda mais enervado. E, uma vez mais, está a ocultar coisas, deixando-o ainda mais inseguro, com receio que descubram. Tem receio que, se descobrirem que tem ataques de pânico, o considerem pouco apto para as suas funções ou gozem com ele.

Perguntei ao Chat GPT o que são ataques de pânico e eis a resposta:

Ataques de pânico são episódios súbitos e intensos de medo e ansiedade que podem ocorrer sem aviso prévio. Eles geralmente duram de 5 a 20 minutos, mas podem durar mais em casos extremos. Durante um ataque de pânico, a pessoa pode sentir uma sensação intensa de perigo iminente ou de morte iminente, mesmo que não haja uma ameaça real presente. Alguns sintomas comuns de ataques de pânico incluem:

    • Palpitações cardíacas ou taquicardia
    • Sensação de sufocamento ou falta de ar
    • Tremores ou tremedeira
    • Suor excessivo ou frio
    • Náusea ou dor abdominal
    • Tontura ou vertigem
    • Sensação de irrealidade ou despersonalização
    • Medo de perder o controle ou enlouquecer

Os ataques de pânico podem ocorrer como resultado de transtornos de ansiedade, como o transtorno do pânico, ou podem ser desencadeados por eventos estressantes, como a morte de um ente querido, mudanças na vida, problemas de relacionamento ou problemas de saúde. O tratamento para ataques de pânico pode incluir medicação, psicoterapia ou uma combinação de ambos. É importante procurar ajuda profissional se você está sofrendo de ataques de pânico ou qualquer outro problema de saúde mental.

Porque se chamam ataques de pânico se a pessoa aparentemente não sente medo?

Embora possa parecer que as pessoas que estão tendo um ataque de pânico não estão sentindo medo, na realidade elas estão experimentando um medo intenso e incontrolável. O nome "ataque de pânico" se refere à intensidade e rapidez com que os sintomas aparecem, assim como à sensação de perigo iminente que muitas pessoas descrevem sentir durante um ataque.

Os sintomas de um ataque de pânico, incluindo palpitações cardíacas, sudorese, falta de ar, tontura e tremores, podem ser tão intensos que a pessoa pode sentir que está tendo um ataque cardíaco ou morrendo. A sensação de medo e terror que acompanha esses sintomas pode ser esmagadora e incapacitante.

Embora as pessoas que têm ataques de pânico possam parecer calmas em outras circunstâncias, isso não significa que elas não sintam medo ou ansiedade. Na verdade, muitas pessoas com transtornos de ansiedade, incluindo transtornos de pânico, podem ser altamente sensíveis ao estresse e à mudança emocional, o que pode desencadear um ataque de pânico, mesmo quando não há um evento estressante aparente.

Qual a melhor estratégia para uma pessoa lidar com um ataque de pânico?

Existem várias estratégias que podem ajudar uma pessoa a lidar com um ataque de pânico. Aqui estão algumas sugestões:

  • Respire profundamente: A respiração profunda pode ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade. Tente respirar lentamente pelo nariz, segure a respiração por alguns segundos e expire lentamente pela boca. Repita esse processo várias vezes até que se sinta mais calmo.
  • Identifique e desafie seus pensamentos: Durante um ataque de pânico, é comum ter pensamentos negativos e assustadores. Tente identificar esses pensamentos e desafiá-los, questionando sua validade e racionalidade.
  • Pratique a atenção plena: A atenção plena envolve concentrar-se no presente e aceitar seus pensamentos e emoções sem julgamento. Isso pode ajudar a acalmar a mente e reduzir a ansiedade. Tente se concentrar em sua respiração, notando como o ar entra e sai do corpo.
  • Use técnicas de relaxamento: Existem várias técnicas de relaxamento que podem ajudar a reduzir os sintomas de ansiedade, como meditação, yoga e exercícios de relaxamento muscular progressivo.
  • Busque apoio: É importante procurar ajuda de outras pessoas durante um ataque de pânico. Fale com um amigo, membro da família ou profissional de saúde mental sobre o que está acontecendo e como se sente.
  • Considere a terapia: A terapia, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), pode ajudar a identificar padrões de pensamento e comportamento que contribuem para ataques de pânico e ajudar a desenvolver estratégias para lidar com eles.
  • Considere a medicação: Em alguns casos, a medicação pode ser prescrita para ajudar a controlar os sintomas de ansiedade. Fale com um profissional de saúde mental sobre as opções disponíveis.

Lidar com um ataque de pânico pode ser assustador, mas há muitas estratégias eficazes que podem ajudar a reduzir os sintomas e controlar a ansiedade. É importante encontrar o que funciona melhor para você e procurar ajuda profissional, se necessário.

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Está disponível mais um vídeo da fantástica série sobre os Labirinto - Conversas sobre Saúde Mental do Observador. 

É necessária muita coragem para uma pessoa expor desta forma as suas fragilidades. É sobretudo um acto de generosidade pois, com o exemplo, estes testemunhos ajudam certamente muitas pessoas que sofrem em silêncio este tormento.

Anabela Figueiredo e a ansiedade. “Deixei de andar de carro, de jantar com amigos”

Começou com um ataque de pânico, acabou por transformar-se em fobias que lhe limitaram severamente a vida. Gestora, Anabela Figueiredo só nunca deixou de trabalhar — e hoje interroga-se porquê. 

Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
Saúde. Serenidade. Força. Paz.


segunda-feira, novembro 21, 2022

A depressão e a ansiedade de Marta Rebelo, a corajosa maluquinha assumida

 

Mais um testemunho muito sincero sobre um problema de saúde mental vivido na primeira pessoa. E, uma vez mais, uma surpresa. Desta vez é Marta Rebelo de que me lembro quando era deputada da Nação, socialista e fashionist. Looks sempre modernos, por vezes arrojados, ela era uma imagem arejada em meios que tantas vezes tresandam a convencionalismos.

Depois perdia-a de vista e nunca mais me lembrei dela. Algum tempo depois houve aquele episódio sobre o fim de uma relação porque o namorado tinha deixado fugir o gato. Foi o fim do mundo em cuecas, a gargalhada geral. Nestas coisas há sempre quem queira parodiar o desgosto e as aflições dos outros. Mas a verdade é que os tempos mudam e talvez hoje não houvesse a crueldade jocosa a que então se assistiu. Depois despareceu outra vez do meu radar.

Surge agora em mais uma das utilíssimas e muito bem conduzidas entrevistas do Observador, na Série Labirinto - Conversas sobre saúde mental.

Aqui Marta Rebelo fala da depressão que a atormentou durante anos e sobre a ansiedade, nomeadamente os terríveis ataques de ansiedade, que condicionaram toda a sua vida.

Conta como disfarçou e escondeu a sua condição, por vezes quase incapacitante, com receio do estigma a que certamente estaria sujeita se se soubesse. Uma deputada maluquinha? Ficar em casa, incapaz de sair da cama, e telefonar a dizer isso, que não conseguia ir trabalhar...? Nem pensar.

Acredito. Aconteceu com ela e deve acontecer com muita gente: o receio de ser visto como fraco, o receio de ser considerado incapaz de estar à altura dos desafios profissionais, incapaz de dar conta do recado com os filhos, o receio de ser olhado de lado pelos outros. 

Para evitar isso, muita gente esconde, tenta fazer de conta que está tudo bem. Marta Rebelo conta como ria e disfarçava mesmo quando se sentia como se estivesse a ter um ataque cardíaco fulminante. Hoje espanta-se como conseguiu enganar tanta gente durante tanto tempo. Diz que hoje 'fareja' quem está a passar pelo mesmo e fala em geral sobre o tema mas não assumindo, na primeira pessoa, que vive essa circunstância. Mas não se admira pois ela própria fez isso.

Marta Rebelo tentou o suicídio. Não foi apenas o pensar nisso. Não, tentou mesmo. 

E todos os que estavam junto a ela ajudaram a esconder o que se tinha passado. Fizeram-no para a proteger, para a ajudar a melhor superar esse momento terrível.

E, no entanto, Marta Rebelo, às tantas, começou a sentir que o secretismo em volta da sua condição estava a atrofiá-la e a prejudicar a sua recuperação. Quando decidiu falar no assunto, sentiu que o sofrimento pelo qual vinha passando há tanto tempo talvez fosse útil para chamar a atenção para os problemas e os estigmas associados às doenças mentais.

E é verdade: é da máxima importância que se fale nisso.

Há contudo um tema que ainda não vi abordado e que seria útil que viesse para o conhecimento público: como se deve lidar com alguém que tem uma depressão ou que sofre de crises de ansiedade?

Eu não sei. Se eu estiver junto a alguém que pressinto que está a padecer de depressão ou com crises de ansiedade mas se a pessoa o negar e disfarçar, como devo agir para ajudar? Intuo que não se deve forçar... mas não sei o que fazer. Assistir ao sofrimento de alguém que se ama e que não quer tratar-se nem quer assumir o seu problema é uma coisa terrível, uma pessoa sente-se impotente. Seria importante que esse tema fosse abordado. A depressão ou a ansiedade não são apenas problema para quem disso sofre mas também para os que os amam.

Marta Rebelo e a depressão. “Cheguei a tomar nove medicamentos diferentes”

Esteve “no inferno” várias vezes durante mais de 10 anos. O ponto mais duro chegou quando era deputada. Sente que se escondeu e isso pesa-lhe, por ser “cúmplice” do estigma. Parceria Observador/FLAD


Precisa de ajuda? Estas são as linhas de Apoio e de Prevenção do Suicídio em Portugal

SOS VOZ AMIGA
Horário: 16:00 – 24:00
Contacto Telefónico: 213 544 545 | 912 802 669 | 963 524 660
Linha Verde gratuita: 800 209 899 (21:00 – 24:00)

CONVERSA AMIGA
Horário: 15:00 – 22:00
Contacto Telefónico: 808 237 327 | 210 027 159

VOZES AMIGAS DE ESPERANÇA DE PORTUGAL
Horário: 16:00 – 22:00
Contacto Telefónico: 222 030 707

TELEFONE DA AMIZADE
Horário: 16:00 – 23:00
Contacto Telefónico: 222 080 707


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Continuo sem responder a mails ou a comentários. Por bizarro que possa parecer (a mim parece-me), continuo submersa numa onda de moleza absoluta e de grande sono, com mais frio do que é costume e com algumas dores nas pernas. Sei que estas vacinas têm este efeito em algumas pessoas. A mim nunca tal me tinha acontecido pelo que é novidade. Presumo que amanhã ou depois esteja melhor. Também estive, este domingo de manhã, com um familiar que veio a saber horas depois que está com Covid. Mas estivemos ao ar livre pelo que não há-de ser nada. Mas isto para pedir a vossa compreensão para a minha ausência de respostas. Haverei de sair em breve desta letargia.


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E queiram continuar a descer. Abaixo há um comovente momento de união e afecto em torno de Jorge Palma. Muito bonito. Não percam, por favor.


sexta-feira, novembro 04, 2022

José Carlos Pereira, médico e actor: “A partir do segundo copo, já não existia limite”

 

Um dos meus grandes amigos tinha um problema de alcoolismo. Contudo, se isso era inegável para todos, ele não o reconhecia como problema. Ou melhor, reconhecer até reconhecia mas achava que durava enquanto ele quisesse. Em situações em que estivéssemos juntos, víamos todos onde é que aquilo ia parar. Bebia um copo, depois outro, depois outro. E nós víamo-lo a ficar com os olhos vermelhos e brilhantes, cada vez mais bem disposto e brincalhão... e queríamos pará-lo. Mas era impossível. No fim ainda bebia whiskey e, se fosse preciso, não um mas mais copos. 

Preocupávamo-nos que conduzisse assim. Mas dizia que não ia deixar o carro para trás. Por exemplo, se ia na Marginal, dizia que ia devagarinho, com cuidado para ir entre os dois traços. Quando estava sóbrio ria-se pois claro que não há dois riscos, há um único, o risco de separação das faixas. Portanto, deveria ir -- devagarinho, dizia ele -- a meio da estrada. Foi apanhado algumas vezes. Uma das vezes foram devagar a escoltá-lo até casa. Noutras vezes foi multado. Não havia, na altura, a severidade que há hoje em relação aos excessos de alcoolemia. 

E tinha uma coisa. Guardava sempre umas notas junto aos documentos. Quando o mandavam parar e lhe pediam que mostrasse os documentos, apareciam as notas. Às vezes funcionava. 

Claro que ficávamos chocadíssimos com isto mas, quando estava alcoolizado, facilitava e abrandava os rigores morais e a única coisa que queria era chegar a casa. Uma vez o truque das notas não resultou e acabou na esquadra. Claro que o advogado o tirou de lá. Contou que na altura ficou preocupado e envergonhado mas logo aquilo passou a ser mais uma das várias peripécias com as quais se divertia.

Uma vez, estávamos, um grupo grande, a almoçar num restaurante ali na zona de Alvalade. Bebeu que deus a dava. Caipirinha atrás de caipirinha. Não era o único, mas ele mais que todos. Depois vinho. E escolheram um tinto dos bons. Vieram garrafas sobre garrafas. Inteligente e divertido como era, nessas alturas ficava hilariante. Aquela mesa era uma festa. Mas, ao fim de muitas, naquele dia a coisa deu-lhe para o sentimento. Lembro-me que lhe deu para nos contar que tinha passado o dia do enterro da Princesa Diana em casa, numa tristeza, a ver televisão, comovido. Um outro, gozão: 'Mas o quê, Senhor Doutor, chorou? Chorou...? Foi mesmo de ir às lágrimas...?' e ele, já comovido, 'Ah, sim, quase, quase...' e quase a chorar. E nós todos a rirmos. Às tantas, ar aflito, disse-me em segredo: 'Tou aflito para mijar...'. E eu: 'Então, porque é que não vai?'. E ele: 'Acho que não consigo lá chegar...'. E eu: 'Olha, agora esta. Se está aflito tem que ir'. E ele, todo tarará: 'Qual o melhor caminho...?'. E eu: 'Vá por aqui, encostado à parede. Vire só lá ao fundo na direcção da casa de banho, se for preciso apoie-se a alguma mesa'. Encheu-se de coragem, lá foi, devagarinho, dobrado de aflito que estava. Os nossos colegas riam-se mas a mim fazia-me muita impressão. 

Até que adoeceu. Apanhou um susto e que susto. Teve o apoio de toda a gente, deixou de beber. 

Tinha um outro colega que bebia bem, sempre, mas que, à sexta-feira, era demais. Nesses dias, aparecia de almoço só lá para as quatro ou cinco da tarde. Vinha sempre radiante e estar com ele nesses restos de tarde era uma festa. Por vezes, excedia-se e fazia disparates dos valentes. Uma vez chamou os responsáveis de áreas que dependiam directamente dele e disse-lhes: 'Estou farto de vos ver sempre nas mesmas funções e nos mesmos gabinetes. Reúnam-se entre vocês e troquem. Troquem à vontade. Na segunda não quero ninguém nem nas mesmas funções nem nos mesmos gabinetes.' Contou, perdido de riso, que os outros o ouviam sem acreditar no que ouviam, boquiabertos, preocupados. Eu ouvia-o a contar a proeza, todo feliz com a parvoíce que tinha feito, e fiquei também preocupada. Claro que isto se espalhou e foi com muita apreensão que se tentou mitigar o impacto do disparate. Nessas alturas, dizíamos-lhe que era sorte que no edifício onde estávamos não houvesse controlo de alcoolemia. Dizia que não teria problema. Sabia conter a respiração e enganar 'o balão'. No caso deste não sei se seria um caso de adição pois apenas o víamos fora das marcas à sexta-feira. Em ambiente social, ao fim de semana, sei que também bebia bem mas não tenho ideia que fosse dependente disso.

Poderia contar outros casos de bebedeiras épicas ou, pelo contrário, o caso de um infeliz, alcoólico em último grau, que pediu indemnização para sair. Durante algum tempo, hesitámos. Sabia-se que acabaria mal, longe da nossa vista. Temíamos que usasse o dinheiro da indemnização nos copos. Um dia apareceu lá a mãe, uma senhora bem idosa, a pedir que o deixássemos sair para ele ganhar força de vontade para se tratar. Lá foi. E perdemos-lhe o rasto.

Sobre drogas, poderia falar de um caso próximo mas dado ser, de facto, próximo, não vou falar. Escrevi, há algum tempo, um folhetim em que um dos personagens era inspirado nele. Estava viciado, agarrado, e conseguiu esconder de grande parte da família. Quando a situação assumiu proporções deveras graves, afastou-se do meio lisboeta em que se perdia e onde já se tinha afogado em dívidas (afastou-se... ou foi afastado quase à força), deixou a profissão, isolou-se no campo, casou-se e agora não para de fazer filhos. E creio que é feliz. 

Mas a adição, qualquer adição, é, a partir de certo momento, uma prisão, uma pedra amarrada aos pés. Quem sofre de adições sofre muitas perdas e, a dada altura, começa a perceber que as perdas são penosas demais e que o prazer que se obtém implica cada vez mais riscos e mais perdas.

Uma vez mais partilho uma entrevista da série Labirinto - Conversas sobre Saúde Mental do Observador

Aqui Sara Antunes de Oliveira entrevista o actor e médico José Carlos Pereira que chegou a ser capa de revistas pelo estado alcoolizado em que era visto nas noites lisboetas e pelos atrasos nas gravações. Uma vez mais, temos uma pessoa a falar aberta e humildemente dos problemas que viveu.

E a mensagem é, de novo, a mesma: há saída. É preciso pedir e aceitar ajuda, é preciso persistência, é preciso querer muito. 

José Carlos Pereira e a adição. “A partir do segundo copo, já não existia limite”

Começou a beber socialmente, até perceber que já não se divertia sem álcool ou drogas. Sofreu com a dependência e com o rótulo. Hoje está focado em não voltar atrás.


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Um dia bom
Saúde. Ânimo. Paz.

terça-feira, novembro 01, 2022

O grande Raminhos e o seu TOC

 


Volto à saúde mental. Uma expressão que muito me agrada é aquela de que o cérebro é a última fronteira. Nada sabemos do que o habita. Ou melhor, saber até sabemos. Mas não conhecemos inteiramente o que há para além do que se sabe. Isso não sabemos. E isso é muito.

  • Somos o que a nossa mente é? 
  • E a mente é o que o cérebro processa? Ou é o que é, independentemente das faculdades dos neurónios e das sinapses?
  • E se há ligações no cérebro que, por doença ou acidente, não estão a funcionar bem? Deixamos de ser quem, na verdade, somos?
  • É a nossa maneira de ser, a nossa personalidade, que se altera ou, simplesmente, há algo que tem que ser tratado?

Por felicidade minha -- felicidade ou sorte, não sei -- até hoje ainda não sofri de depressão, não sofro de distúrbios obsessivos compulsivos e, se sinto ansiedade, parece-me legítima e controlável. 

Mas conheço quem já tenha sofrido ou sofra destas perturbações. E sei como sofrem... Um sofrimento terrível, muitas vezes dúvidas sobre se alguma vez vão conseguir ter uma vida normal ou ser capazes de experimentar a felicidade. Ouço as pessoas falar: acordar já com ansiedade mesmo não sabendo exactamente porquê, ter medos, por vezes medos abstractos, indefinidos, medos incapacitantes. 

Ou ter ataques de pânico, crises que se confundem com quase-morte. 

Há algum tempo alguém me contava que tinha tido mais um ataque e que, estando em casa sozinho, com medo de estar sem ter quem o acudisse e medo que fosse um problema de saúde 'a sério', ataque cardíaco, por exemplo, saiu e foi para o carro. Assim, se sucumbisse, talvez alguém o visse e socorresse.

De pessoas que têm assiduamente problemas deste tipo, medos, ansiedades, crises que parecem mesmo de saúde física -- e não de foro "mental" [como se o 'foro mental' não fosse também de ordem física...] -- pode dizer-se que essa é a sua maneira de ser, uma maneira de ser depressiva ou ansiosa, ou são pessoas que apenas estão doentes e a necessitar de tratamento?

Conheço uma pessoa que é obsessiva compulsiva e que, por exemplo, se está na dúvida sobre se desligou o computador, pede-nos a nós que vamos verificar senão ele já sabe que lá terá que voltar umas três vezes a fazer essa verificação. Já se conhece bem, já identificou o seu problema e já consegue lidar com ele, verbalizando as suas dificuldades. Mas não o consegue ultrapassar. Conta que, por exemplo, já se programa para sair mais cedo de casa do que seria necessário pois sabe que é mais que certo que volte várias vezes a casa para verificar se fechou a porta ou se desligou o gás ou a água. Conta que sabe que é absurdo mas que, se não o fizer, a meio do caminho dá meia volta e vai a casa fazer essa verificação.

E tive um colega que, quando havia reunião, nos pedia para fazer a acta, mesmo que tal não fosse necessário. Levava três cadernos e algumas canetas, cada uma de sua cor. E, consoante o que lhe parecia ser o tema dominante, escrevia em seu caderno, usando canetas de cores com sentidos por ele pré-definidos. Raramente participava na conversa tão concentrado estava no registo do que se passava. Antes de começar a escrever, era como um ritual: colocava à frente dele, muito alinhados, os três cadernos e as canetas. Nunca ninguém quis saber daqueles apontamentos. Dizia que tinha estantes cheias de cadernos. Contudo não o dizia com orgulho. Era quase como se fosse uma penitência à qual não conseguia fugir. Dizíamos-lhe que não era preciso, que deixasse para lá, que não se preocupasse em escrever a acta. Qual quê. Parecia que tinha que ser, que era uma compulsão. Claro que era alvo de gozação pelas costas e pela frente. Mas não conseguia parar. Uma vez pediu para sair da empresa, queria negociar a saída. Saiu, claro. Depois disso já publicou vários livros que acho que ninguém deve ler. Dizem-me que são livros chatos, intragáveis, ilógicos. Deve continuar a escrever, certamente de forma muito sistemática, mesmo que que não exista um propósito. 

Ainda existem muitos estigmas sobre as doenças mentais. Quem as sofre teme ser visto como maluco. Para os outros, alguém que se trata em psiquiatras ou psicólogos pode ainda ser visto como um fraco ou como um perturbado, inapto para funções mais exigentes. Ou confunde-se a doença com traços de personalidade. Muito desconhecimento, muito preconceito.

E falo isto sem conhecimentos, apenas pelo que ouço, pelo que leio. 

O que sei é que geralmente quem tem este tipo de problemas sofre muito mais do que sofresse de gastrite, de enxaquecas, de angina de peito ou de rinite alérgica. É que, nestes casos, a doença é reconhecida facilmente como doença e não há pudor ou receio em tratar. Já no caso de uma doença mental não apenas não é ainda frequentemente reconhecida como doença como, sendo-o, há algum receio de tratar-se, receio de adquirir habituação aos medicamentos, receio de ficar com as faculdades limitadas, receio de ficar conotado com uma personalidade fraca ou disfuncional.

Por isso, é importante partilhar testemunhos. Quem sofre não é o único a sofrer. Quem sofre deve poder saber que há tratamento, que há uma saída.

No outro dia já aqui partilhei a entrevista de João Vieira de Almeida sobre a depressão. Hoje partilho a entrevista ao Raminhos sobre o seu transtorno obsessivo compulsivo, a dúvida metódica transformada em paroxismo, em inferno. Uma vez mais, trata-se de uma entrevista da série Labirinto do Observador. Muito sincero, muito lúcido, muito explícito. 

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Raminhos: “‘Eh pá, não penses nisso’ é o pior que se pode dizer a alguém que lida com ansiedade"

Sentiu logo o estigma quando lhe falaram em medicação: "é porque sou maluco". António Raminhos fala sobre o seu transtorno obsessivo-compulsivo, que chegou a impedi-lo de sair de casa, no 'Labirinto — Conversas Sobre Saúde Mental'.


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Esculturas de Bruno Walpoth na companhia de Joyce DiDonato com Lascia ch'io pianga

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Um bom dia feriado
Saúde. Serenidade. Paz.

quarta-feira, agosto 17, 2022

7 sinais de que a outra pessoa afinal não é a tal.
6 tipos de pessoas que deve evitar a todo o custo.
10 técnicas infalíveis para flirtar.
Fotografias photoshpadas que não têm nada a ver.
E, para começar bem, uma introdução completamente deslocada.

 


Depois do fim de semana prolongado que me soube a férias, retomei o trabalho e as suas reuniões e afazeres correntes. 

Há empresas  que convencionam fechar completamente em Agosto. Pode parecer uma coisa demasiado intrusiva na vida das pessoas, especialmente quando antes estavam habituadas a escolher livremente, mas, na verdade, é muito mais prático para o funcionamento das organizações, sejam empresas, escolas ou outras. 

No entanto, pelo próprio tipo de actividade da empresa isso pode não ser possível. Contudo, nestes casos, se a vertente mais operacional pode funcionar regularmente, já nas restantes, quase inevitavelmente, anda-se a meio gás. Quer andar-se com algum assunto e está sempre alguém de férias. Nessas ocasiões penso que era o melhor que eu também fazia, ir de férias.

No entanto, não gosto especialmente de férias em Agosto. Há muita gente, os restaurantes estão cheios, estacionar é um castigo e os hotéis custam um balúrdio. Sempre preferi mais o fim de Agosto, princípios e meados de Setembro. É certo que os dias estarão mais pequenos e muitas vezes já entardece com a temperatura mais baixa mas, ainda assim, as férias são sempre mais tranquilas. Mas o pior mesmo é aguentar até lá se chegar.

Ao fim da tarde, não fomos para a beira da praia, limitámo-nos a passear por aqui mesmo. Sou distraída, vou andando e conversando, olhando desatentamente para os jardins e para as casas por onde vamos passando. Ou seja, vou flanando, numa boa.

Às tantas o meu marido parou, disse-me que era melhor voltarmos para trás. Não percebi. Não tinha visto nada estranho. Então ele disse: 'Aquele cão grande está solto na rua'. Sou míope e, além disso, não fixo os cães em função das casas ou das ruas. O facto de ser míope contribui para ser distraída, uma pessoa como não vê bem ao longe até se esquece de prestar atenção. Mas, focando-me, vi o que ele dizia. Há uma casa que tem um cão gigante, mas ponham gigante nisto, todo peludo como o nosso mas em pelo castanho. O meu marido, que eu pensava que conhecia todas as raças, não identifica esta. O cão deve fazer uns dois ou três, senão quatro, do nosso e tem uma cabeçorra imponente. Quando passamos por lá, ele ladra com uma voz que mais parece um rugido ameaçador, num vozeirão encorpado, capaz de matar intrusos só com o medo que inspira. Portanto, foi com convicção que arrepiei caminho. Entretanto, saiu de casa um senhor com porte também de impor respeito, chamou-o e agarrou-o pela coleira, levando-o à força para casa. Estou convencida que o cão deve pesar tanto como o dono. E que o dono é capaz de ser tão possante como o cão. Les beaux esprits se rencontrent, so they say. 

Fiquei a pensar que corro riscos quando saio sozinha com o minha fera felpuda. Hoje, certamente, a coisa poderia dar para o torto pois não sei como seria o desfecho de um encontro de primeiro grau entre aqueles dois.  Quiçá sobraria para mim pois não poderia ficar impávida a ver o grandão a tentar desgraçar a vida do meu ursinho cabeludo.

Quando regressámos, uma vez que tinha o jantar feito, sentei-me à mesa de trabalho mas com o alívio de não ter que trabalhar. 

Notícias: a Serra da Estrela continua desgraçadamente a ser devastada pelos incêndios. Uma miséria. Entretanto, na Crimeia alguém anda a pôr a cabeça dos russos em água e isso são boas notícias. Tudo o que se faça para que aquele regime de corruptos, psicopatas, aldrabões e facínoras se ir abaixo das canetas é boa ideia. Pode demorar mas mais tarde ou mais cedo, a justiça será feita e os russos poderão ter esperança em viver num regime aberto, democrático e saudável. 

{E bem pode o comentador que aqui deixa comentários quilométricos, parte dos quais em maiúsculas, ou os leitores ordinarões que andam sempre com pénis na boca ou as eternas namoradinhas do pcp virem aqui ver se me maçam que eu não estou nem aí.}

De seguida, fui ver o que o YouTube tinha para me oferecer. Tem sempre alguma coisa. Por vezes não são coisas muito óbvias e eu precipitadamente penso que em todo o pano cai a nódoa. Mas o tipo é fino. Hoje, por exemplo, resolveu apanhar-me de cernelha, pelo lado da psicologia. 

Um conjunto de vídeos com uma animação apelativa, uma voz simpática e umas afirmações que me parecem acertadas. Uma vez mais, lamento que não haja legendagem em português. Mas a dicção é boa. E os conselhos parecem-me bastante úteis. A sério. 

7 sinais de que o outro/a não é o/a tal

Quando se começa a duvidar que o outro talvez não seja a pessoa com quem se quer partilhar o futuro, está na altura de apelar ao pragmatismo e equacionar um rápido fim para a relação


6 Tipos de pessoas que deve evitar a todo o custo

Is someone in your life draining your energy? Perhaps you’re always leaving feeling exhausted or in a worse mood than before. How do we know whether someone is a lifelong friend or someone we need to avoid at all cost? Well to help you out,  here are a few types of people you should avoid at all costs.

10 Estratégias psicologicamente provadas para Flirtar

Having trouble flirting? Here are some 10 tips you could use when it comes to getting the person you want! Each of these tips are backed by science! 

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O autor do photoshop a pedido é James Fridman, conhecido por gostar de fazer das dele

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Uma boa quarta-feira
Saúde. Vontade de rir. Paz.