quarta-feira, abril 30, 2025

Ainda sobre o Apagão -- resposta a um Comentador e outras breves considerações
-- A palavra, claro, ao meu marido --

 

Em continuação do que tenho escrito e relativamente aos comentários que um Leitor fez, quero esclarecer que uma coisa são as questões técnicas relacionadas com o apagão, outra coisa é a forma como o governo atuou -- e é isso que eu critico. 

E a coisa piora de hora para hora. As declarações do ministro Castro Almeida a dizer que o PM andou a gerir o gasóleo dos carros dos ministros para garantir o fornecimento de gasóleo à MAC é assustador a todos os níveis. Fica claro que o PM não sabe o que tem que fazer e como deve atuar e que não há planos de emergência para situações críticas. 

Relativamente ao que chama politiquices sugiro que ouça as declarações do  Moedas, do Pinto Luz, do Leitão e do Montenegro: isso, sim, é verdadeira politiquice. 

E não será também politiquice terem ido 11 ministros ontem às televisões para tentarem limpar o que lhes correu mal?

Já agora, uma outra pergunta: a eletricidade ainda não chegou a Belém? Ou o Marcelo está afónico?

Ainda o apagão e o spinunvivo também conhecido por Montenegro (Continuação)
-- De novo, a palavra ao meu marido --

 

Em continuação do que escrevi ontem, ao fim da noite:

Confirma-se, uma vez mais, o que tenho escrito. O Montenegro tentou aproveitar o apagão para estar nas televisões, fazer propaganda eleitoral e passar por alguém que sabe gerir crises. Borrifou, como é costume, para os Portugueses e, segundo percebi, instruiu a Proteção Civil para não informar, como é habitual em situações de crise, a população do que estava a acontecer e o que se podia esperar. Assim,  por responsabilidade do Montenegro, o caos aumentou e ocorreram muitas situações que poderiam ter sido evitadas. 

Outro que, também completamente a despropósito, aproveitou o apagão para fazer campanha eleitoral  foi o Moedas, o que não é de estranhar porque são farinha estragada do mesmo saco. Em política não devia valer tudo, mas, para os dirigentes do PSD, vale. Infelizmente as redes sociais, a forma como uma parte da comunicação social transmite a informação, as fake news e a falta de atenção e cuidado com que as pessoas acedem às notícias não lhes  permite  distinguirem o trigo do joio. É pena. Provavelmente esta forma de percepcionar o que se passa não vai mudar rapidamente -- mas há-de mudar e os que nos tomam por parvos não terão lugar de destaque na sociedade.

O governo não existe - só existe o Montenegro, aka Spinunvivo, no seu pior
-- A palavra ao meu marido --

 

O apagão de ontem demonstrou várias coisas. 

A primeira é que não temos governo. Apareceu-nos um PM titubeante e impreparado que demonstrou uma enorme falta de liderança e de incapacidade para transmitir informações úteis e pertinentes ficando-se, como aliás é habitual, por generalidades ocas e sem qualquer utilidade face à situação que o País atravessava. Passou sempre ao lado daquilo que era importante e, ainda por cima, na intervenção que fez à noite, parecia que estava num comício, o que foi completamente despropositado. Os ministros que estão à frente dos ministérios que mais envolvimento teriam nesta situação nem apareceram. Claro que ninguém teve coragem para pôr a MAI ou a da Saúde a botar discurso porque seria mais que certo que ou entrava mosca ou saía asneira. A ministra do Ambiente apareceu em "pé de página" porque ninguém acreditaria que era moça para tomar qualquer tipo de decisão numa situação urgente. O Lentão Amaro, para não variar, não disse nada que se aproveitasse e o Castro Almeida, também para não variar, disse o que não devia dizer. Se tivéssemos esta malta no governo em tempos de COVID tinha sido bonito. Este é mesmo um governo sem cu nem pé nem bico.

Em segundo lugar tornou-se claro que as infraestruturas estratégicas deveriam ser acompanhadas pelo governo (e não estão a ser). E, ainda por cima, depois do que se passou ontem, somos levados a concluir que os contratos de venda da REN e da ANA feitos pelo Passos Coelho, ao preço da uva mijona, aparentemente não defendem os interesses de Portugal e dos Portugueses. Se defendessem, haveria instalações de produção de energia de reserva que permitiriam repor o fornecimento de energia num período muito mais curto. Identicamente, o caos instalado no aeroporto de Lisboa não teria acontecido. Assim se constata como o mais querido da direita se preocupou com os interesses dos Portugueses.

Em terceiro lugar, a Proteção Civil esteve mal. Do que soube hoje, terá sido o Governo a privilegiar a comunicação política (ainda por cima, oca e tardia) em detrimento de informação concreta, operacional, técnica, útil. Talvez por isso, a Proteção Civil não transmitiu aos Portugueses a informação que devia ter transmitido e que teria contribuído para acalmar a população e prevenido situações desnecessárias. Parece que só emitiu alertas quando a situação estava resolvida. 

Em quarto lugar, os contratos de concessão com as operadoras de comunicações têm que definir garantias de fornecimento do serviço em situações de crise. Não é admissível que, poucas horas depois do apagão, as comunicações colapsem, não permitindo efetuarmos contatos quando é mais necessário. Terá havido outras situações inadmissíveis como no caso do INEM, em alguns casos de dificuldade no fornecimento de combustíveis para os geradores nos hospitais, o caos em que ficou o trânsito em artérias críticas, e a completa desorganização dos transportes públicos. 

Com este panorama, ainda há um marmanjo, de seu nome Luís Montenegro, que vem a público dizer que correu tudo bem. É preciso ter lata! Mas, de facto, lata não lhe falta. Não nos esqueçamos do que disse sobre a Spinunviva, sobre o cimento para a sua casota, sobre a gasolineira, sobre o choque fiscal, sobre o plano dos 60 dias para a saúde,.... O que lhe sobra em lata, falta-lhe em ética republicana e em capacidade para ser PM.

terça-feira, abril 29, 2025

Um mundo a diferentes velocidades. Por um lado a Inteligência Artificial a dar passos de gigante e, por outro, de repente, falta a 'luz' e o País pára

 

Comento muitas vezes que o mundo evolui displicentemente assente em pés de barro. Por exemplo, em todo o lado temos que dar o nosso endereço de correio electrónico, que passa a ser praticamente o único meio de contacto, e, no entanto, temos as nossas contas em empresas com as quais temos uma relação muito frágil. O gmail, usado pela maioria das pessoas, só para dar um exemplo, é gratuito pelo que dificilmente haverá margem para exigir o que quer que seja. O que é que as pessoas sabem sobre os locais em que o seu correio está alojado ou o que fazer sem ficarem sem acesso a ele? Mas o correio electrónico apenas está disponível se houver comunicação de dados. Não havendo, não há correio.

Ou, na maioria, temos acesso às nossas contas bancárias através do homebanking que assenta em comunicações que são também vulneráveis. Veja-se o que aconteceu esta segunda-feira com o apagão, em que muitas pessoas ficaram incomunicáveis. O dinheiro físico praticamente já só é disponibilizado via Multibanco mas, como se viu, o sistema ficou inoperacional e, em grande parte do comércio, sem terminais de pagamento, apenas faziam compras a dinheiro.

E não vou aventurar-me a falar de sistemas de chamada como o Uber ou outros serviços que ficam indisponíveis quando as comunicações falham ou quando falha a alimentação elétrica. 

E hoje ficámos a perceber que, estando a energia a ser importada, quando falou em Espanha, ficámos nós todos 'às escuras'. Ainda não se sabe exactamente o que se terá passado mas as causas, para este efeito, são irrelevantes: o que é relevante é que tanta inteligência artificial, tantos avanços tecnológicos, tanta tecnologia gratuita ao dispor de todos... e afinal, uma borboleta bate as asas com mais força num qualquer outro país e, de súbito, tudo cai por terra. 

Ninguém sabia o que estava a passar-se, começaram a surgir explicações para todos os gostos, não se sabia se íamos ficar às cegas e isolados por horas ou por dias, a malta correu para os supermercados sem saber o que fazer, não conseguíamos comunicar-nos uns com os outros, não se conseguia abastecer os veículos, o primeiro-ministro fechou-se em S. Bento sem falar à população e, de repente, parece que tínhamos voltado à pré-história tecnológica.

Ocorria-me que as casas deveriam ter pequenos geradores e reservas de combustível, painéis solares, qualquer coisa para garantir um mínimo de autonomia. Estamos completamente dependentes de tecnologia e ao mesmo tempo completamente vulneráveis.

Pela parte que me toca, fiquei sem conseguir contactar filhos e netos até à noite (e a minha filha esteve sem saber do mais velho durante horas). Em vão tentei contactá-los por todas as vias e só por volta das nove da noite comecei a ter notícias. Preocupava-me pois pensava que, mesmo se fosse ver se a minha filha precisava de alguma coisa (pois o fogão e forno são eléctricos e, portanto, não tinha mesmo como cozinhar), não tinha como chegar até ela pois a campainha do prédio não funcionaria e, mesmo que eu soubesse o código da porta, também não funcionaria. E preocupava-me pois, mesmo que os miúdos fossem a pé para casa, sem terem a chave da porta de baixo e sem campainha e sem telefones, como entrariam? 

Mas, enfim, estão todos bem, em casa, sem problema, e já com energia em casa.

Concluindo: é isto, um progresso que, vendo bem, tem pés de barro.

Há uma reflexão a fazer sobre o que se passou. E espero bem que não seja como sempre acontece: mal tudo fica tranquilo mais ninguém quer saber de coisa nenhuma.

segunda-feira, abril 28, 2025

Montenegro e os seus vários ministros, perante uma situação de crise como esta, fecham-se o dia todo.
Ou seja, o Governo apagou-se

 

Informações concretas, recomendações concretas o que ouvi que se aproveitasse foi Pedro Sanchez que o disse.

E agora, há pouco tempo, também ouvi um Administrador da REN.

O Governo, esse bando de anhucas, continua fechado a sete chaves em São Bento. Não sabem que numa situação de contingência, a comunicação é essencial? Não sabem que, em situações assim, uma das primeiras acções é informar cabalmente a população?


8.000.000 visualizações.
E, para os assinalar, é à V., que me 'desmascarou', que dedico estes redondos oito milhões

 

Ontem, tive uma surpresa. Estava a querer referir quantas visualizações tinha em média e, para não me enganar, fui ver as estatísticas. E, para meu pasmo, constatei que, no total, já tinha passado as 8.000.000 visualizações. Há tempos, ao ver que estava a caminho disso, tinha pensado que tinha que arranjar maneira de assinalar a ocasião. E, afinal, distraí-me, e, à hora a que estou a escrever, já vai em 8.029.700 e, portanto, é absurdo estar agora com foguetórios e grandes invenções festivas quando o dia em que transpus o patamar dos oito milhões já lá vai. 


De qualquer maneira, este domingo, ao pegar no telemóvel para ver as novidades, reparei que tinha uma mensagem de um amigo com quem tinha estado na véspera. E tive uma outra surpresa, uma surpresa de se lhe tirar o chapéu. Dizia-me ele que mão mais que amiga lhe tinha feito chegar o que eu aqui tinha escrito horas antes, e agradecia a referência amigável e a empatia de festejarmos juntos. 

Como é bom de ver fiquei de queixo caído. 

Quando aqui escrevo, sou só eu. Por exemplo, agora que já são quase duas da manhã, estou sozinha na sala e é como se estivesse sozinha no mundo. É quando me apetece escrever. Durante o dia, lavei e estendi roupa, apanhei sol, li, fotografei, falei ao telefone, vi televisão. E, só quando a casa adormece, ligo o computador e dou largas ao meu gosto por escrever. 

Hoje retomei a leitura de o 'Caderno Proibido', um diário escrito às escondidas. Não é o meu caso pois, em vez de esconder um caderno no fundo de uma gaveta, abro a janela e deixo que as palavras voem por onde quiserem, que pousem no vosso colo, que cheguem até às vossas mãos. Mas, quando escrevo, é quase a sensação de que escrevo só para mim, como se ninguém me fosse ler, sem correr o risco de ter que me justificar perante ninguém, pois abstraio-me de tal maneira que nem me lembro que alguém que me conheça ou que se identifique com o que escrevo pode reconhecer-se e vir contrapor opiniões ou mostrar desagrado.

Desde sempre quis que o blog fosse anónimo. Estando eu a trabalhar num grande grupo empresarial, nunca quis que as minhas opiniões pessoais causassem desconforto na organização. Sou intrinsecamente livre e não estava para que, quem me lesse, tentasse condicionar-me com observações do tipo: 'trabalha onde trabalha e escreve estas coisas...' ou que viessem aconselhar-me a ter algum cuidado na manifestação de opiniões contrárias a certas linhas de actuação. Nem queria que, ao falar de algumas situações ou de alguns chatos que tinha que aturar em contexto profissional (e que existem em qualquer contexto profissional), pudessem parecer actos de deslealdade perante pessoas ou acontecimentos concretos. E habituei-me a este registo. Continuo a não divulgar junto da maioria dos familiares e amigos que que tenho este blog e que todos os dias continuo a vir aqui partilhar opiniões, memórias, fotografias. Parece até que sinto um certo pudor em contar. Tenho ideia que as pessoas 'normais' não escrevem tanto ou tão abertamente como eu e não quero constrangê-los, não quero que pensem que têm que ter cuidado a lidar comigo porque sou um bocado anormal.

Mas, porque me esqueço que, ao escrever aqui, posso ser identificada, alheio-me completamente e as minhas mãos voam no teclado, escolhendo as palavras que muito bem entendem. Bem sei que diariamente há cerca de duas mil e tal ou mais (por exemplo, este domingo, 5.002) visualizações. Pessoas concretas leem o que escrevo. Mas é como se fosse uma realidade abstracta, pessoas que estão por aí (vi agora que hoje, para além de uma maioria de Portugal, houve quase outro tanto do Reino Unido, mas também umas centenas dos Estados Unidos, um número significativo de Áustria, da Alemanha, do Brasil...). Para além de alguns leitores que me escrevem (e que não conheço pessoalmente), a larguíssima maioria são anónimos, desconhecidos.

E, no entanto, regularmente acompanham-me. De certa forma, justificam esta minha persistência. Sinto-me agradecida. E espantada... Têm muita paciência. Sou escalena, irregular na escolha dos assuntos, nem sempre sou bem comportada. Há muita tolerância nos que, aí desse lado, leem o que escrevo. Do fundo do coração, agradeço-vos.

Mas depois... há estas surpresas. Perguntei ao meu amigo se me poderia dizer quem era a pessoa que lhe tinha enviado o meu post. Disse um nome (vou referir apenas a inicial, V.) e acrescentou, 'minha filha'. 

Num primeiro momento, senti-me comovida. Qual a probabilidade de eu falar numa pessoa, sem dizer nome ou outro dado concreto e justamente a filha reconhecer que eu estava a falar do pai...? Logo a filha... caraças... É muito jogo... 

E, depois da comoção, fiquei estupefacta com outro aspecto. Sempre me espantei com isto: muitos leitores muito jovens. Admitindo que as pessoas quando criam a conta no google escrevem mais ou menos a idade correcta, então é com um enorme agrado que vejo que grande parte de quem me lê é gente jovem.

É o caso da filha do meu amigo. Mas se a filha identificou que eu estava a falar do pai, como percebeu ele que era eu a autora? Pois... a filha segue-me há algum tempo, sabe qual a minha formação, por sinal a mesma que a dela, e mais um ou outro tópico. Bingo. (Se há coisa que a gente gosta é de encontrar soluções mesmo quando há muitas variáveis e restrições em jogo, não é, V.?)

E, portanto, fui identificada. Não me importei nada. Pelo contrário. E tanto assim é que, ao assinalar a ultrapassagem das oito milhões de visualizações deste blog, é justamente à V. que eu dedico este valor, a ela pela sua perspicácia, a ela em nome de todos os outros leitores que, espalhados pelos quatro cantos do mundo, me aturam há tanto tempo.

A V. deve ter a idade dos meus filhos, talvez menos (como sou cusca, já googlei e já a vi: tens uma filha toda gira, I., e, pelo que li, deve ter uma pedalada intelectual que vai lá, vai... Parabéns!). Por isso, ao contrário do que costumo, que é tratar por você quem não conheço, vou tratá-la por tu. 

Afinal se trato o teu pai por tu, não ia tratar-te a ti por você, não é, V.?

Conheço o teu pai desde que éramos miúdos, V.. Sempre foi impecável, 100% impecável, muito inteligente, discreto e educado, sensível, empático. Creio que nunca nos aborrecemos um com o outro. Nem sei se alguma vez alguém se aborreceu com ele. Creio que não. Sempre o admirei. Ao contrário de mim, que sempre me achei uma despistada e efervescente de primeira, a ele sempre achei estudioso, bem comportado, meticuloso, uma pessoa com a cabeça no lugar. Saberás que participámos ambos num concurso televisivo numa altura em que, por só haver dois canais de televisão, os programas tinham outro relevo. Tempos de festa, de grande animação. Sempre fomos solidários, amigos. Fizemos também uma longa viagem por terras de África, numa altura em que, adolescentes, descobríamos a alegria de andarmos à solta, quase como se estivéssemos por nossa conta. Gratas memórias. Depois a vida levou-nos por caminhos distintos, mas agora, ao reencontrarmo-nos, sentimos que a estima ainda está viva, intacta. Quando soube do acidente, fiquei preocupada. Ficámos todos. Os amigos formam uma rede de afecto que apoia quem está a passar por momentos mais delicados. Mas no sábado já o vimos fino, alegre, em forma, e, entre nós, comentávamos como está tão bem e a grande sorte que tinha tido. Ter um acidente assim e ter escapado 'apenas' com a lesão que teve é nascer uma segunda vez.

A vida é assim mesmo, extraordinária. Reserva-nos surpresas. No caos que é a multiplicação de acasos parece haver uma curiosa ordem, uma harmonia que nos conduz a encontros virtuosos, a momentos de profunda satisfação. O teu pai, que é crente, talvez pense que é deus que nos vai encaminhando através de caminhos que nem sempre compreendemos. Eu, agnóstica, vou mais pelo milagre das inexplicações perfeitas, pela indecifrável e aleatória conjugação de arranjos e combinações que, como que por magia, por vezes convergem em inesperados e felizes encontros.

E é isto. À V. e a Todos, uma vez mais, o meu sentido agradecimento. 

E vamos continuando a ver-nos por aqui, não é?

Saúde e alegria! 

domingo, abril 27, 2025

Dia de encontros felizes

 

Já vim do Instagram onde é tudo mais na base do toca e foge. Sendo eu caudalosa como sou, vejo-me e desejo-me para poder encaixar qualquer coisa numa legenda de uma fotografia. Se faço vídeos, a maltinha cá de casa e arredores mói-me a cabeça, que aquilo não tem jeito nenhum, que ninguém faz coisas assim (ora os vídeos são longos demais, ora são malucos para além da conta).

Por isso, aqui estou. 

O dia foi muito bom. Dia de reencontros. Como sempre, mal nos vemos desatamos a falar como se tivéssemos interrompido a conversa no dia anterior. Os abraços que recebo, calorosos, são sempre aconchegantes. Espero que os que dou o sejam também. E constato como a maneira de ser das pessoas, apesar das voltas e reviravoltas da vida, se mantém. E, talvez por isso, a compreensão que havia antes se mantém intacta. As minhas melhores amigas de então continuam a ter a mesma maneira de falar, entendemo-nos como sempre nos entendemos, os gestos, os olhares, os sorrisos são os mesmos.

E depois há os romances que têm surgido. Alguns são surpreendentes, enternecedores, outros por vezes a gente percebe que são inviáveis -- mas não faz mal, o enamoramento é bom mesmo que não possam senão ser uma amizade especial e mesmo que a gente saiba que, mesmo assim, não têm grandes pernas para andar. Mas não faz mal: há coisas que são boas enquanto duram e que, mesmo que não vão acabar em casamento, um dia que acabem deixarão boas memórias. 

Mesmo quando falamos dos ausentes, é com carinho e saudade que o fazemos. Mas seguimos em frente. A vida continua. Há que saber dar valor ao que temos até porque sabemos bem que tudo é efémero, precário. Um dos 'nossos' está internado, ainda sem se saber o que tem. São médicos, sabem do que falam quando dizem que não sabem o que se passa. Ficamos preocupados. Mas o que desejamos é que, um dia destes, esteja de volta. Um outro teve um acidente que poderia ter sido dramático. Teve que ser operado, esteve internado algum tempo, ficou debilitado. Mas já está de volta, a recuperar muito bem. E sorrimos e toda a gente fica contente porque, no meio de tudo, teve muita sorte. E a boa sorte tem que ser festejada.

E, quando nos separamos, já estamos com vontade que o próximo encontro chegue rápido.

E hoje conheci a mulher de um deles, uma simpatia. E conversámos também como se nos conhecêssemos e agora até estivemos a trocar mensagens. 

A vida é muito curiosa, cheia de surpresas. Temos é que estar disponíveis. É que o comodismo tende a deixar-nos no nosso canto, como se fosse preferível estarmos sossegados, sem ondas. Mas, a mim, estas coisas mobilizam-me gostosamente. Preparo vestimentas, maquilho-me, escolho brincos. E, como estamos na onda 25 de Abril e a minha filha me ofereceu um pequeno cravo em crochet (creio que comprou na feirinha do CCB), até o levei posto como pregador (digo pregador para evitar as armadilhas da língua portuguesa).

E é isto. Quando regressei, passei pelo supermercado, depois fiz o jantar (para mim, uma coisa ultraligeira) e, a seguir, fomos fazer uma caminhada nocturna que me soube lindamente. E, entretanto, já estive a ver algumas fotografias que alguns amigos partilharam. 

Quando vinha a sair do lugar onde nos encontrámos, reparei que estavam a escrever a ementa para domingo. Vi que tinham ovas de choco. E fiquei com imensa vontade de as comer. Adoro ovas de choco, adoro, adoro. Até escrevi isso numa coisa que publiquei no Instagram. Não me saem da cabeça. Imagino-as fritas, estaladiças por fora, branquinhas e suculentas por dentro. Juro que salivo só de pensar. Caraças. 

Mas pronto, já escrevi demais. Estou com sono. Por hoje dou o expediente por encerrado.

__________________________________________________________________

Fotografei estes meus hibiscos hoje. São perfeitos, lindos, exuberantes e precários.

_____________________________________________

Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, abril 26, 2025

Confiar em estranhos

 

Quando circulava mais, acontecia-me com alguma frequência um desconhecido começar a falar comigo e contar-me coisas profundamente pessoais. Eram situações completamente inesperadas que eu havia com atenção e respeito.

E isso parece ter-se estendido à blogosfera. Muitas pessoas têm-me escrito, ao longo destes anos, contando-me aspectos privados, alguns deveras complexos, outros muito íntimos, outros tocantes ou dramáticos. Já me aconteceu também receber apelos desesperados ou para lhes ligar por estarem no limite e não terem mais com quem falar ou para me ir encontrar com elas por estarem a viver uma situação muito complicada e não saberem com quem mais falar a não ser comigo. Nestes casos fico sempre aflita pois sei que não tenho preparação para lidar com situações limite e não quero assumir uma responsabilidade para a qual dificilmente estarei à altura.

Se eu pudesse compilar todas as 'histórias' que têm chegado até mim, quem me lesse diria que a minha imaginação é excessiva, talvez a tender demasiado para o drama, por vezes talvez delirante. Obviamente não o farei pois respeito em absoluto a confiança que ao longo de anos tantas pessoas têm depositado em mim.

Quando eu trabalhava, era frequente, quando havia alguma suspeição no ar, virem perguntar-me se eu sabia de alguma coisa pois diziam que o meu gabinete era o confessionário. Claro que, mesmo que soubesse, não contava nada -- a menos que, pela natureza da situação, me apetecesse colocar algumas achas na fogueira.

Ainda recentemente, num grupo de que faço parte, ao ter sabido da inesperada morte de uma amiga, expressei a minha surpresa e tristeza. Não sei se foi pelas minhas palavras ou se pela recordação de conversas antigas, a verdade é que, pouco depois, recebi uma longa mensagem de um amigo com quem não tinha conversas mais pessoais há anos contando-me situações da sua vida. E fiquei de queixo caído. Jamais imaginaria que ele tinha passado por tudo aquilo e que tinha desenvolvido uma 'filosofia' de vida tão adaptada a quem sente que vive no fio da navalha. Trocámos mensagens e eu estava absolutamente perplexa pela confiança que ele revelava ao contar-me tudo o que estava a desfiar. 

Muitas vezes dou por mim a pensar: porque é que isto acontece? Porque as outras pessoas percebem que me interesso genuinamente por elas? Ou que procuro compreender sem julgar? Ou por qualquer outra razão?

Claro que depois me penitencio por não conseguir desdobrar-me em mil para ter tempo para acompanhar todas as pessoas que me procuram. Tenho a minha vida, as minhas ocupações, e é impossível ter tempo para conviver, mesmo que por mail, com todos quantos têm mostrado confiar em mim como guardiã de segredos, angústias, maravilhas, sucessos, preocupações, mágoas. Faço o melhor que posso mas sei que, para muitos, isso não é suficiente. Espero que compreendam.

________________________________________________________

Talvez por tudo isto gosto imenso de ver estes vídeos em que alguém aborda e filma estranhos e estes, sem hesitação, falam da sua vida, dos seus assuntos mais pessoais.

Jana: The Shy, Beautiful Girl in The Park


_____________________________

Um dia feliz

sexta-feira, abril 25, 2025

25 de Abril sempre.
Para sempre

 

Dispensam-se discursos cheios de tacticismos. Leitura de poesia seria preferível. Dispensam-se cortesias e pró-formas. O melhor mesmo é encher ruas e praças, atirar foguetes e fogo de artificio, tocar tambor, cantar e dançar nas avenidas, andar com crianças pela mão, às cavalitas ou em carrinhos, exibir cartazes coloridos ou flores.

A liberdade não pode ser espartilhada, condicionada, ajustada ao calendário. A liberdade tem que ter a cor e o som e o cheiro e o sabor e o toque da felicidade. 

25 de Abril sempre

Montenegro e Ventura -- um debate falhado.
De qualquer forma, conclui-se o que já se sabia: estão bem um para o outro

 

Uma chachada entre dois populistas. Volksvargas sempre em cima do acontecimento.

Resumo do debate para quem não assistiu. 

Montenegro e Ventura, dois que tais

Um namoro não assumido ou uma saída do armário à vista...?

quinta-feira, abril 24, 2025

Resistir. Lutar.

 

O que se passa nos Estados Unidos, neste imenso país vergado e espezinhado por um maluco cercado de malucos, com malucos e estupores colocados em todos os lugares de poder, a desestabilizar todo o mundo, pode parecer um bocado assustador. Pode parece que não há volta a dar, que Trump minou todas as instituições, que neutralizou o mecanismo de checks and balances.

Mas, quando parece impossível alterar esta situação, eis que o velho democrata, o 'esquerdista', o octogenário Bernie Sanders, se levanta e, com clareza e sem meias palavras, começa a falar em universidades, a fazer vídeos, a participar em podcasts, a fazer comícios, e eis que a ele se junta Alexandria Ocasio-Cortez, uma democrata nascida no Bronx, que chegou a ser empregada de limpeza, que estudou, que subiu a pulso até conseguir ter a voz que agora enche salas, dinamiza multidões.

E o que se vê é mobilizador. É inspirador. É animador. É uma força que se levanta do chão e traz o sorriso e a vontade de resistir a quem assiste. 

Que o mundo inteiro aprenda com os americanos a lição. Votar sem pensar pode ser um erro, um perigo. Mas há correcção possível.

Ainda não vimos o fim da história, estamos apenas no início. Mas tenho esperança que o fim seja feliz.

Do not let them trick you. | Alexandria Ocasio-Cortez

Do not let them trick you into thinking we are enemies. Do not let them trick you into thinking that we can be separated into rural and urban, Black and white and Latino. We are one.


quarta-feira, abril 23, 2025

Não está a funcionar

 

Há muita gente que acreditou que Trump iria mostrar ao mundo como é bom um país governado por liberais, daquela gente que deixa os mercados agirem por si, por conservadores que não alinham no 'politicamente correcto', que estão a marimbar-se para essas 'mariquices' de ambiente, igualdade de género e coisa assim.

Por cá temos vários desses. 

Na nossa política, alguns, burros até à décima casa ou avençados ao serviço de quem quer destruir a democracia, continuam a defender Trump.

E, no entanto, o que se tem visto por lá é uma palhaçada, uma afronta, um disparate pegado, um atentado às mais elementares leis de um estado de direito. Podia ser um filme, poderia ser a versão humana do triunfo dos porcos. Mas não é um filme. É a realidade. Uma realidade distópica, surreal, absurda.

Seria bom que os ingénuos que acreditam ou acreditaram naquilo percebessem bem como as medidas de Trump -- medidas ruinosas, parvas, erradas, catastróficas, desumanas, estúpidas -- destroem a economia, destroem as poupanças, destroem a confiança, minam a estabilidade. Seria bom que, nas nossas próximas eleições legislativas, quem tem dois dedos de testa se afastasse dos partidos que ainda não descolaram abertamente de Trump.

It's Not Working


__________________________________________

Mas, optimista como sou, tenho alguma esperança. Há vozes que se levantam, que se sabem fazer ouvir, gente com carisma e ideais que apontam para o lado civilizado e bom da vida.

Como já aqui partilhei, nos States, o jovem Bernie Sanders e a carismática e sensata Alexandria Ocasio-Cortez têm juntado multidões para apelarem à revolta da população contra a indigência moral e intelectual de Trump. O vídeo abaixo mostra como, com frases curtas mas muito bem pensadas, muito eficazes, Ocasio-Cortez consegue mostrar as diferenças entre os dois lados.

A note for Fox News hosts. | Alexandria Ocasio-Cortez

When Social Security provides benefits for babies whose parents have passed away, that's not "waste."

That's called humanity.


Tomara que o lado bom da vida prevaleça

(nos States, na Rússia, em Israel, em todo o lado)

terça-feira, abril 22, 2025

Jorge Bergoglio aka Francisco

 

Se nunca estive ligada à Igreja a verdade é que, cada vez mais -- à medida que vou assistindo a histórias continuadas de abusos, encobrimentos e meias palavras --, me incomodam demais todos os luxos, rituais, ortodoxias, hipocrisias, manipulações a partir da psicologia de massas, alienação de consciências que todos os agentes da igreja perpetuam.

Não obstante, e apesar de também tenha achado que Francisco, o Papa, vacilou quando deveria ter sido firme ou compactuou quando nada tinha a perder e podia ter cortado a direito ou usou palavras elíticas quando se exigiam palavras inequívocas, a verdade é que simpatizava com Jorge Bergoglio e reconheço que foi melhor que os antecessores.

Mas, neste momento de comoção quase colectiva -- em que parece que não se fala de outra coisa senão nas memórias pessoais que cada um tem com ele ou das suas virtudes ou do que ele disse ou fez --, o que penso é no homem idoso, doente, de saúde débil, certamente muito limitado na sua autonomia, tendo que ser lavado, com fraldas, medicado até mais não poder, com dificuldades respiratórias, que, apesar de tudo, conseguiu arranjar forças para ir desejar boa Páscoa à multidão.

Quando o vi, ainda antes de ser internado com a pneumonia bilaterial, pensei: está tão inchado, provavelmente já a fazer retenção de líquidos, se calhar os rins já a começarem a falhar. Depois achei que não devia ser tão pessimista e pensei que talvez fosse apenas cortisona para tratar a bronquite. Pode parecer parvoíce mas depois de ter acompanhado a situação do meu pai e, mais recentemente, a da minha mãe, eu ainda não consegui desligar-me deste hábito de vigiar sintomas, de intuir (ou temer?) o significado do que vejo.

Quando o meu pai morreu, já está quase a fazer 5 anos, estávamos confinados, impossibilitados de circular, eu no campo, a trabalhar de manhã à noite em teletrabalho e sem poder meter-me à autoestrada para ir lá a casa (e, com receio de que, se fosse, pudesse contagiá-los, pois, aparentemente, isso tinha acontecido com o pai de uma pessoa que me era próxima). E, em simultâneo, eu inquietava-me diariamente, e não era pouco, com a situação do meu pai. Primeiro foi a minha mãe que, em pleno pico de covid, para não ferir a susceptibilidade de fisioterapeuta, continuou a recebê-la apesar de ser totalmente desaconselhado. Depois, tendo mesmo que receber a senhora que ia fazer a higiene ao meu pai e dar-lhe a comida através da sonda nasogástrica, não lhe pedia que se descalçasse e, até muito tarde, tinha vergonha de lhe pedir que usasse máscara. Eu passava-me com a minha mãe por continuar a achar que só acontecia aos outros e parecia preferir correr riscos para não melindrar as duas, não fossem elas levar a mal se ela e suspendesse os serviços de uma e pedisse à outra para andar de máscara e calçasse outra coisa quando entrasse lá em casa. Isto, no início, quando não se sabia como é que o vírus se propagava e as notícias nos traziam diariamente um número crescente de mortos e de ventilados.

Mas o pior foi quando começou a achar que o meu pai estava inchado. Nessa altura, já tinha passado para o polo oposto, já tinha terror de tudo. Telefona-me cheia de medos de tudo, chorava. Muito a medo ligou para o INEM, pois recava que eles próprios fossem fonte de contágio. Mas lá o fez e eles lá foram a casa. Disseram que o meu pai estava a fazer retenção de líquidos e teria que ir para o hospital. Mas como estava a oxigénio, teria que ir para a ala covid. E aí a minha mãe não quis. E então ligou-me outra vez, a chorar, aflita, a dizer que não queria, senão ele apanhava covid. Depois pôs-me a falar com os do INEM. Coitados, que poderiam dizer? Não poderiam isolá-lo pois o hospital, na ala covid, estava cheio. Faltavam os meios. E não poderiam levá-lo para o hospital contra a vontade da família. E a minha mãe chorava, não queria que ele fosse. Recomendaram, então, que se chamasse médico a casa pois certamente receitaria Lasix. Assim se fez. E o médico, mostrando que a situação o preocupava, foi o que receitou. E o meu pai melhorou.

Mas, ao fim de algum tempo, a minha mãe voltou a dizer que ia voltar a chamar o INEM pois o meu pai estava outra vez inchado. Chorava, chorava. Insisti para que confiasse que ele não ia apanhar covid e o deixasse ir para o hospital pois a situação poderia ser grave. Tive um mau pressentimento. Morreu poucas horas depois.

Com a minha mãe, que foi aquela situação de que aqui falei, uma situação rápida, complicada, em que tudo se agravou abuptamente, senti um aperto no peito quando vi como tinha um braço todo inchado, a mão toda inchada. A médica e as enfermeiras diziam que era do cateter, do soro, da mão imobilizada, sei lá. Mas aquele inchaço assustou-me como se fosse mais uma confirmação da sentença de morte. 

Até ao fim, a minha mãe parecia preocupar-se com pequenas coisas, como se quisesse ignorar o que era verdadeiramente preocupante. Por exemplo, queixava-se que tinha as unhas daquela mão grandes. Dizia-me que, antes de ter sido internada, tinha conseguido cortar as da outra mão mas não tinha conseguido cortar as da mão direita. Como aquilo parecesse afligi-la sobremaneira, pedi à enfermeira se poderiam fazer isso, mas disseram-me que não tinham serviço de manicura. No dia seguinte, levei corta-unhas. E foi para mim um momento muito angustiante. Por um lado, era a situação de diminuição da minha mãe, até tão pouco tempo antes tão autónoma e, naquele momento, a já não ser capaz de cortar as próprias unhas e a querer que eu lhas cortasse. Por outro, a situação anacrónica de estar em situação terminal e, no entanto, tão preocupada com as unhas. Mas, o pior de tudo foi que mal se conseguiam cortar pois a mão quase parecia um balão e não havia espaço entre a unha e a pele do dedo para eu poder encaixar o corta-unhas. Tentei que ela não percebesse a minha angústia. Fingi que estava a cortar sem dificuldade, disse-lhe que já estavam bem. Mas o meu coração estava apertado, apertado.

E depois já não era só aquele braço inchado. Era apenas o mais inchado. Eu vigiava, tentando fazer de conta que não via, mas o ânimo fugia. Um dia, estava ela no cadeirão, com as pernas sobre o sofá. Vi que as pernas também estavam inchadas. Senti um tremendo pavor. O coração dela quase não funcionava, a taxa de ejecção estava reduzida a quase nada, os rins também já não conseguiam funcionar bem. Isto já para não falar que, no peito, o tumor lhe crescia todos os dias. A morte a avançar diariamente, a invadir o seu corpo.

Jorge Bergoglio felizmente não tinha nenhum tumor a devorá-lo mas tinha também insuficiência cardíaca e respiratória. Chega a uma altura em que o corpo atinge o seu limite. Por mais que se tente, que se trate, por mais que se faça de tudo, o corpo já não consegue assegurar o seu cabal funcionamento. Nessas alturas, o sacrifício que o corpo faz para se manter vivo é inglório, já é apenas sofrimento.

Jorge Bergoglio morreu. O seu corpo humano não conseguiu mais mantê-lo vivo. 

Apesar de tudo, recordá-lo-ei com simpatia.

E só espero que o próximo Papa seja bondoso, corajoso, simpático, humanista, inclusivo, justo, aberto, valente. 

segunda-feira, abril 21, 2025

No rescaldo do feliz período pascal, uma brincadeira de reencarnação canina e vice-versa

 

Para que todos acomodassem os seus compromissos familiares, o dia de encontro cá em casa foi na sexta-feira da paixão pois o domingo de páscoa estava alocado aos outros lados da família. 

O dia foi muito bom. Não estávamos juntos desde antes da ida para os States e a troca de experiências e de impressões foi bastante interessante. E, de novo, a mais recorrente constatação: todos mais altos. O que esta gente está a crescer é surpreendente. E até a meteorologia se aliviou e, de tarde, até conseguimos estar ao sol. E calhou que a ementa foi toda na base das carnes e, por sinal, sem direito a pagamento ao padre da respectiva multa. 

Acontece que, por voltas e contravoltas das combinações, parte do pessoal afinal também veio cá almoçar e passar a tarde. Como não estava nos nossos planos, fomos comprar sushi e fiz salada e uma tortilha. Ou seja, na sexta comeu-se carne e, na páscoa, peixe. Sem ser de propósito trocámos as voltas à tradição. E, uma vez mais, a meteorologia adoçou-se e trouxe o sol e deu para passearmos e para apanharmos sol. 

E, no fim, mais uma boa surpresa: ao fim do dia, chegaram os demais e agora tenho os quartos todos ocupados. 

Claro está que o nosso ex-cãobeludo, agora cãotosquiado, que, desde que se viu reduzido a metade tem andado infeliz de todo, murcho, encolhido, uma dor de ver, e, até sem apetite, agora, com toda esta movimentação, tem andado numa euforia, super alegre, cheio de apetite, brincalhão e irrequieto. 

No outro dia li que, no capítulo das parvoíces, a nova trend é mostrar ao chatgpt uma fotografia do seu cão e pedir-lhe que imagine como seria o cão se fosse humano. Como me parece a ideia tão parva, tão parva, não resisti a experimentar. Como é sabido, tenho este meu lado bem parvo. Fazer o quê?

Achei curioso: um homem jovem com ar enérgico, brincalhão, com o cabelo desalinhado. Parece-me que, de facto, faz sentido. Sim, sim. Olho para ele e poderia ser a reincarnação do meu cãomaluco.

Mas depois pensei: e eu, se tivesse nascido um cão, como seria? Ou, se os átomos que de mim se libertam um dia se reorganizam e dão origem a um cão, como seria?

Não sei se, nas vossas interacções com o Chat, têm constatado que 'o tipo' é cheio de charme. Mas é. Ou melhor, tem aprendido a ser. Pois, depois de eu lhe ter mostrado uma fotografia minha (mas não disse que era eu), diz-me o seguinte: Posso criar uma imagem imaginando como seria uma versão canina inspirada na estética e nos traços gerais dessa mulher. Para isso, posso usar alguns elementos como: expressão serena e inteligente, olhos expressivos, pelagem que lembra o tom de pele e cabelo. Vou captar a vibe quente, elegante e clássica mas viva, talvez sonhadora ou curiosa.

Fiquei a pensar: este 'tipo' já tem a escola toda. Sabe-a toda. 

Mas o que saiu agradou-me. Sempre gostei de setters. Aliás, na fase em que eu dizia que não queria ter nenhum cão, pensava que, a ter, talvez um setter. Lembro-me de quando era pequena e ia à escola onde a minha mãe dava aulas. À tarde eu ia para um terraço onde estava o 'Senhor Director' que tinha um setter que brincava e atrás do qual eu corria, a brincar. Afinal vim a ter um boxer e agora um Serra de Aires (e não me arrependo porque adorei a minha doce boxer e agora adoro o meu fofo e truculento serra de aires).

Seja como for, crédito ao ChatGPT, esta aqui abaixo seria eu, um dia que encarne como cadela. E o pormenor de uma pena verde? Não é uma delícia? Na minha fotografia não tenho nada no cabelo. O que é que ele viu em mim para pôr a cadela com uma pena no meio do pêlo? Achei o máximo. E pôr-me num ambiente de natureza banhada por uma luz dourada? Uma maravilha.


Portanto, se um dia, num parque banhado por uma luz dourada, virem uma cadela assim, já sabem que sou eu. Não sei se é assim que me imaginavam mas eu olho para esta menina aqui em cima e, sim, revejo-me. Sou eu.

_________________________________________________________

Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira

Be happy

domingo, abril 20, 2025

Também tendo a achar o mesmo que a jornalista que andou um ano inteiro a namorar tipos de extrema direita: são, antes de mais, uns seres inseguros, perturbados

 

Quando ouço alguns dos youtubers da moda ou quando ouço a conversa de fulanos de extrema direita geralmente penso o mesmo: deviam tratar-se. São incoerentes, inconsistentes, muitas vezes agressivos, mal educados, assumem posições extremadas, frequentemente de raiva ou ódio, demonstram zero empatia. Em contrapartida, viram-se do avesso, se necessário for, para agradarem, para que gostem deles. Claro que fico sempre incomodada e perplexa por alguém lhes dar ouvidos. E penso que, com sessões de terapia, individuais ou em grupo, talvez pudessem ser ajudados a tornarem-se bons seres humanos.

Esta coisa da manosfera de que só comecei a ouvir falar na sequência da série Adolescência (em que ainda não ganhei coragem para ir além do 1º episódio) -- grupos de homens intoxicados por teorias da conspiração, com sentimentos de rejeição recalcados, misóginos por má ou inexistente informação ou por traumas mal resolvidos -- parece que está a alastrar. E, ao ritmo viral que as redes sociais propiciam, está a 'apanhar' gente de todas as idades, em especial os que ainda têm a sua personalidade em fase de formação como os adolescentes.

Mesmo, no caso da nossa política nacional, se virmos bem, o Ventura é um caguinchas, diz uma coisa e o contrário, faz de tudo e o seu contrário, para que gostem dele, e, quando é apertado, parece que até faz beicinho. É daqueles que, numa situação de aflitos, ficaria a tremer que nem varas verdes e, quiçá, até não conseguisse controlar os esfíncteres. Um pobre coitado que, muito provavelmente, se seguisse um aturado programa de psicoterapia, talvez melhorasse. Assim, por aí anda, a dizer baboseiras, a incitar à divisão tribalista e imatura dos bons contra os maus, a ser seguido por outros tão perturbados quanto ele ou débeis das ideias. Veja-se também o Trump: narcisista, irracional, imaturo, infantilóide, inseguro, sempre a proclamar-se como o maior mas sempre com medo que gostem mais de outros mais fortes (Putin, por exemplo) do que dele. Lança atoardas ou grandes medidas e, quando vê que deu barracada, recua. E quando confrontado com as alarveiradas que diz, mostra-se surpreendido e diz que não disse. Claro que com esta aleatoriedade pegada e sendo uma mente desarranjada. Não se tratou pelo que, ao longo da vida, só tem feito o número dois (como agora se diz). Gente perturbada.

A investigação que uma jornalista levou a cabo confirma isto. 

Talvez se compreendermos bem como funciona a mente e a psique desta gente, talvez, talvez, talvez se consiga que continuem a ganhar influência e a fazer tantos estragos.

This woman dated only far-right men for a year: ‘They were so insecure’

The “manosphere” is made up of macho podcasters and influencers, a space where UFC fighters are among those that reign supreme, like Jake Shields. CNN’s Donie O’Sullivan sits down with Shields and also speaks with independent journalist Vera Papisova as part of "MisinfoNation: Extreme America," airing Sunday April 13 at 8pm ET/PT on "The Whole Story with Anderson Cooper." #CNN #News


Desejo-vos um belo dia de domingo

Renasçamos todos os dias.
Renasça a esperança.

sábado, abril 19, 2025

Conselhos?

 

Passo a vida a ver, em entrevistas ou em conferências ou em vídeos publicados nas redes sociais, pessoas que sabem dizer qual o melhor conselho que receberam. Ou, em alternativa, qual o conselho que dão aos mais novos. 

A forma desembaraçada como parece que toda a gente tem conselhos na ponta da língua deixam-me sempre a pensar que devo ser uma desnaturada.

Quando puxo pela cabeça e tento lembrar-me de algum conselho que tenha recebido e que me tenha marcado, não me ocorre um único. 

No entanto, lembro-me de milhares de conselhos que recebi. O que não foram foi marcantes. Não sei porquê, sempre tive muita gente a dar-me conselhos. Mas foram sempre conselhos para eu contrariar a minha natureza e que, portanto, geralmente não segui.

Por exemplo, a minha mãe. Toda a sua vida me aconselhou a propósito de tudo. Mas eram sempre ao lado. Geralmente tentava que eu me moderasse, que eu pensasse bem, tentava passar-me os seus receios. Desde sempre. Sobre cada namorado ou pretendente, sempre receou que fossem malucos, que fossem meninos da mamã, ou qualquer outra coisa. Em relação ao meu marido, antes de o conhecer, começou por recear que fosse um vilão, um doido. Mas ou porque, ao conhecê-lo, percebeu que não tinha razão ou porque percebeu que não valia a pena, em relação a ele nunca se meteu ou deu palpites. Quando resolvi deixar de dar aulas, para ela foi um choque. Tinha receio que eu não aguentasse uma vida de trabalho, querendo formar família e sem familiares por perto que me ajudassem. Em contrapartida, achava que, como professora, conseguiria acomodar tudo. Depois, sempre que se apercebia que eu andava com discordâncias e lutas no trabalho, tinha medo que houvesse consequências e aconselhava-me a não levantar ondas. Ou aconselhava-me, na rua, a não fazer ou não dizer isto ou aquilo com medo do que pudessem pensar ou dizer de mim. Ora sempre me estive bem nas tintas para o que os outros dizem ou pensam de mim.

No trabalho, os meus colegas e amigos também sempre me aconselharam mas, igualmente, sempre foi para me recomendarem prudência, que não me mostrasse desalinhada, que não enfrentasse poderes instituídos, que não falasse daquela forma ou que não tivesse razão antes de tempo. Nunca segui esses conselhos. Sempre travei lutas, sempre enfrentei quem eu achasse que deveria enfrentar. Tive dissabores, claro. Mas nunca os temi. Além disso, sempre comprovei que uma mulher que se mostra destemida, intimida os homens. 

O meu marido e os meus filhos também sempre me aconselharam e, de forma geral, também são conselhos no sentido da moderação: para escrever menos e mais ponderadamente, para pintar menos e mais apuradamente, para fazer menos comida, o meu marido agora diz para eu não fazer passadeira com tanta velocidade ou não fazer máquinas com tanto peso. Ou para me agasalhar mais quando saio. Ou para não me deitar tão tarde.

Geralmente são assim os conselhos que recebo. Desde sempre o foram.

Ou, se foram num outro sentido, por me parecerem naturais, também não os registei como decisivos.

Ao escrever isto estou, contudo, a lembrar-me de uma coisa que uma vez me disseram, quando trabalhava, que me soou lindamente e que me deu um oxigénio que me durou para o resto da vida. Muitas vezes eu recusei adoptar soluções ou seguir caminhos por me parecerem absurdos e antever que não iam dar em nada. E sempre tive problemas com isso pois as pessoas achavam que eu não podia rejeitar, à partida, opções recomendadas por gente que sabia tanto ou mais que eu só porque sim. Diziam-me que se devia tentar. E eu antevia que era perder tempo e gastar dinheiro para nada. Mas diziam-me que se deveria dar o benefício da dúvida e só no fim emitir opinião. E, por isso, testemunhei vários projectos falhados, alguns projectos empresariais de muitos milhões de euros. E, no entanto, desde o início eu dizia que estava na cara que iriam ser um flop. Diziam-me que não se podem tomar decisões com base na intuição. E quando, tempo depois, perante a evidência do fracasso, eu dizia que tantas lutas eu tinha travado para demonstrar que aquilo só podia correr mal, respondiam-me que ter razão antes de tempo era o mesmo que não ter razão.

E, no entanto, trabalhei durante algum tempo com uma pessoa muito diferente. Não apenas era o presidente da empresa em que eu trabalhava como era, em simultâneo, empresário, sendo accionista maioritário de um grupo de empresas criadas por si. Aliás, para poder acumular esses cargos, passou por inúmeros crivos e aprovações. Mas, sendo um gestor experimentadíssimo, hábil negociante, os accionistas da empresa em que eu trabalhava acharam que ele tinha o perfil certo para a fase em que se estava. Era um homem temido, implacável. Correu com alguns directores, apertou com outros, criou um clima de algum terror entre os meus colegas. Quando a secretária os chamava ao gabinete dele, iam a tremer. Alguns vinham de lá a tremer ainda mais. Curiosamente, nunca me senti intimidade por ele e sempre concordei com tudo o que ele fazia. E até concordei com a limpeza que ele fez. Admirei a sua perspicácia, a sua capacidade de cortar a direito. Era de uma frieza notável. Com poucas palavras e sem levantar o tom de voz, impunha um respeito que ninguém questionava. Acabei por acumular a responsabilidade por duas áreas durante esse período. Uma das áreas tinha a ver com comércio internacional e foi das fases mais estimulantes da minha vida profissional. Avancei para inúmeros mercados em que nunca tínhamos posto o pé, desbravei caminho em geografias longínquas e arriscadas. E exerci uma das coisas de que mais gosto: negociar. E aí fazia uma coisa que deixava toda a gente doente: levava as negociações até ao limite. Fazia bluff sabendo que o bluff, se corresse mal, poderia fazer a empresa perder milhões. Muitas vezes quase me imploravam que parasse pois já tinha conseguido condições fantásticas e puxar mais poderia levar a que a outra parte se retirasse, obrigando-me a ter que fazer negócio com outros menos vantajosos. Frequentemente, faziam-me sinais, escreviam-me recados em papel, reviravam os olhos, suavam, e eu, frequentemente, pediam que me deixassem sozinha para não me desconcentrarem, queria estar atenta aos mínimos sinais daqueles com quem estava a negociar, queria usar todas as armas, queria não ter ninguém a puxar-me pela saia. Esse presidente dizia que toda a gente o achava a ele muito frio mas que não era nada ao pé de mim, que eu o deixava nervoso ao levar, com tanta frieza, as coisas até ao limite.

Mas eu arriscava. E gostava de arriscar: fazia negócios de grande dimensão com quem não tinha as garantias que, por regra, exigíamos, fazia negócios em que lutava até ao último cêntimo (e, na minha cabeça, pensava assim: se eu conseguir mais isto, só este desconto adicional paga o meu ordenado e o de todos os que trabalham comigo durante um ano, e isso dava-me como que uma espécie de razão mais do que válida para me arriscar como me arriscava). Mas, claro, não o fazia sem ter o respaldo do presidente. Antes de cada ronda negocial, eu reunia-me com ele para o pôr ao corrente do ponto em que estava e de qual a minha ideia. E expunha-lhe os riscos. Ele dizia-me: por mim, já está mais que bom, por mim parava aí, mas o que é que a sua intuição lhe diz? E eu respondia: a minha intuição diz-me que é de confiar (quando os outros não conseguiam dar todas as garantias) ou diz-me que há ali ainda uma margem para eu forçar um bocado mais. E ele ficava a pensar e dizia: siga a sua intuição. E eu mostrava o meu receio: posso deitar tudo a perder. E ele respondia: arriscar faz parte da arte da gestão. E eu mostrava, com franqueza, que sabia bem que estava a andar no fio da navalha: pode dar uma valente bronca. E ele respondia: se a sua intuição lhe diz que é de avançar, avance. Em gestão, quando se arrisca, às vezes perde-se mas, quando se ganha, o gozo é a valer.

E esta coisa de alguém acreditar na minha intuição ou, mais genericamente, alguém achar que a intuição é coisa que se leve a sério, dava-me a confiança de que necessitava e uma alegria muito grande.

Depois dele trabalhei com pessoas muito competentes e com grandes totós. Os totós eram sempre mais acagaçados, mais apertadinhos, mais moralistas, mais conservadores. Os totós não acreditam na intuição dos outros (e creio que, eles mesmos, não a têm) e munem-se de pareceres de mil consultores pois temem o risco e, por isso, só avançam em cima dos sapatos dos outros. Mas, mesmo nesses períodos em que tive que me sujeitar a lidar com totós, com cromos, com palermas, quando tinha que me organizar e saber como lidar com as situações eu repetia, para mim: o que é que a tua intuição te diz?

Ainda hoje, perante algumas situações, quando tenho decisões para tomar, eu me interrogo: o que é a que a intuição me diz? 

Por vezes, eu própria não sei bem explicar, apenas sei que é aquilo. Ainda no outro dia, quando estava um temporal, o meu marido queria ir de carro a um sítio pois dizia que não fazia sentido irmos a pé. Teimei, não quis, achei que não devíamos ir de carro. Contrariado, ultra-contrariado, lá me fez a vontade e lá fomos debaixo de uma ventania e de chuva, ele só a mandar vir. Quando lá estávamos, passado um bocado, ouvimos um enorme estrondo, um som um bocado medonho. Saímos para ver o que era. Uma enorme árvore tinha caído em cima de dois carros, no lugar em que teríamos estacionado. 

Quando alguns colaboradores das minhas equipas por vezes me perguntavam que conselhos lhes daria para a sua vida futura, eu dizia-lhes: nenhum, não gosto de dar conselhos. E quando não acreditavam que não tivesse nenhum conselho a dar e insistiam, eu explicava que cada um sabe de si, o que funciona para uns não funciona para outros. Mas, a ter que aconselhar alguma coisa, pois que tentassem sempre ouvir a sua consciência e a sua intuição. E que fossem generosos e justos, para os outros e para eles próprios. 

E vem tudo isto a despropósito do vídeo abaixo em que Dorothy Wiggins, que faz 100 anos em Agosto, fala do seu percurso e de como chegou até esta idade com tanto gosto pela vida, e ainda tão bem. 

E uma palavra de apreço também para o jovem que conduz a conversa com tanta espontaneidade, tanta simpatia, tanta leveza.

This 99 Year Old's Life Advice Will Make You Rethink Everything...

I asked 99 year old Dorothy Wiggins, who has over 300,000 followers on Instagram (!!) about her best life lessons. Dorothy is incredibly unique, witty, and social. In fact, she went out to a jazz club immediately after I interviewed her. She has seen so much of the world, and for that reason, I can guarantee that Dorothy's advice and wisdom is easily some of the most interesting I've EVER heard. Please enjoy!


Um bom sábado!

sexta-feira, abril 18, 2025

Quando o fim do mundo chega cedo de mais

 

Hoje, quando vi no grupo de whatsapp uma mensagem em que uma amiga, ao lado do Nuno Guerreiro, ambos sorridentes, dizia que a fotografia tinha poucos dias, fiquei muito admirada. Ainda não tinha sabido da notícia. Fiquei triste.

E lembrei-me como, talvez há uns dois anos, andava eu a passear na cidade com a minha mãe, o vimos. Falámos da sua boa voz. A minha mãe disse que achava que ele era algarvio. Eu contrapus que achava que era setubalense ou que, pelo menos, vivia ou tinha vivido em Setúbal. Mas era indiferente. Falávamos por falar. Quando penso em momentos assim faz-me impressão. Lembro bem essa tarde. O sol estava dourada, a cidade estava florida. Passeávamos devagar. Parecia um dia tranquilo. E era. Não poderia adivinhar que tão pouco depois a vida da minha mãe teria chegado ao fim e a dele, tão mais novo e tão talentoso, hoje também já terminou.

Reajo assim, um bocado ilogicamente -- como se fosse suposto que uma pessoa tivesse estampado na testa o prazo de validade.

Sinto sempre uma certa perplexidade em torno destas coisas.

Fim do Mundo   --  Ala dos Namorados

quinta-feira, abril 17, 2025

Sobre a mais recente ingerência do Ministério Público numa campanha eleitoral não me apetece cansar a minha beleza.
O que é que move aquela malta: é um ódio rebarbado ao PS ou estão a soldo de alguma força que quer destruir a democracia? Ou é, simplesmente, gente perturbada?
Não sei e gostava que alguém bem informado nos explicasse esta grande pancada.
Entretanto, para não falar nisto, vou antes falar num outro maluco encartado.
Trump quer ficar mais uma carrada de anos mas, cá para mim, os americanos arranjarão maneira de se livrar dele mais dia menos dia

 

Ou os bilionários que lhe pagaram a campanha ou os tribunais que ainda funcionam ou os estudantes em peso ou a malta que deixe de conseguir pagar o básico ou os democratas que, vitaminados pelo jovem Bernie Sanders e pela carismática Alexandria Ocasio-Cortez, acordem para a vida e façam levantar a indignação ou todos juntos conseguirão afastar a besta que está à frente dos Estados Unidos.

Hoje, no ginásio, enquanto estava a fazer a passadeira, ia olhando para a televisão onde passava o estupor a dizer as maiores alarvidades -- e pensava que o mundo é mesmo um lugar deveras perigoso para que aconteça a irracionalidade de milhões de pessoas terem votado numa besta daquele calibre, apesar de tudo o que já se conhecia dele.

Mas, enfim, não consigo acreditar que a situação de caos que Trump criou se consiga manter por muito mais tempo. É que ainda por cima, irracional como um animal burro e desencabrestado, torna a ordem mundial completamente imprevisível. 

Entretanto, toda a gente que goze com ele é bem vinda, seja nos Estados Unidos seja no resto do mundo.

“Billionaires Are Actually Good” - Stephen Colbert feat. Alan Cumming

Stephen Colbert performs a special song for the richest people in the world, in the hopes of getting them out of our lives for good. Special thanks to Alan Cumming for hopping on the track!  

Fees, Fees, Fees, - A Randy Rainbow Song Parod


_________________________________________________

Seja como for, recomendo a leitura de:

quarta-feira, abril 16, 2025

Conversa típica de pensionista. Ou de avó. Ou das duas coisas.

 

Bem. Hoje a ver se não me deito muito tarde pois a noite passada acordei algumas vezes, a ver as horas previsíveis de aterragem, a acompanhar o voo nos céus (de facto, a tecnologia é extraordinária), etc. 

O voo tinha partido com atraso e eles tinham dito que saíam mais tarde pois os sistemas não respondiam. Depois que estavam a testá-los, etc. Fiquei assim a modos que um pouco inquieta. Um voo de várias horas sobre o oceano não oferece muitas hipóteses de recuo numa situação de atrapalhação. 

E depois, ainda cedo, chegou uma mensagem. Não podiam ser eles. Assustei-me. Era uma daquelas notificações desnecessárias. Habitualmente tiro as notificações durante a noite pelo que, se chegam, não dou por elas. Mas, quando há viagens de noite, não tiro. E, portanto, sobressaltei-me e já quase não consegui voltar a dormir. 

Felizmente chegaram bem e até praticamente a horas. O piloto comeu o atraso. Deve ter apanhado ventos de feição. 

Mais de metade da turma tinha ido fazer férias grandes (11 dias) para os States. Nós, que ficámos, conseguimos acompanhar os passos dos turistas através das fotografias, vídeos e telefonemas que foram fazendo. No cômputo geral, a pé fizeram 135 km. Sendo que vários são crianças, dos 8 aos 16, é obra. Visitaram cidades, ruas, edifícios, parques naturais e de diversões, museus de todo o tipo, zoos, viram desfiles, jogos de basket e outro de que não me lembro o nome, e sei lá que mais. Uma alegria e umas férias memoráveis, embora, apesar de terem adorado a viagem, algumas das coisas que viram deixaram-nos digamos que algo desconfortáveis.

Entretanto, um dos meninos, imagine-se bem, foi 'assinar' por um outro clube que o 'caçou'. Aquela coisa dos olheiros é mesmo realidade. Portanto, agora vai jogar numa equipa da 1ª Divisão do Nacional (creio que é assim que se diz). Ou seja, mais treinos, mais preparação física, jogos em todo o País. Os pais cada vez mais 'presos' face a estas exigências e às deslocações que isto implica pois o estádio não é propriamente ao lado de casa. Claro que haveria sempre a possibilidade de dizer que não. Mas isto marcaria para sempre o menino que adora futebol, que é óptimo no que faz (era ele bem pequeno e já o meu marido comentava que o achava especialmente dotado para aquilo) e que está felicíssimo. E há o compromisso de não deixar que isto afecte  o desempenho escolar. Ou seja, um desafio para ele e para os pais.

Tirando isto tenho a dizer que fomos ao supermercado e que fizemos as compras mais caras de sempre, e isto apesar de não termos comprado nem extravagâncias nem nada em grande quantidade. Não há dúvida que os preços estão cada vez mais altos, alguns mesmo estupidamente altos. Vinha para o carro e a olhar para o talão na esperança de detectar algum engano. Mas não dei. Mesmo assim não deitei fora para poder voltar a conferir. Uma barbaridade. Dei por mim a equacionar o que é que, se tivesse menos dinheiro, cortaria ou trocaria. Deixaria de comprar chocolate preto, pois o chocolate está uma exorbitância. Deixaria de comprar cápsulas de café pois também estão caras. O meu marido teria que deixar de comprar cerveja ou teria que racionar. Deixaria de comprar carne de vaca (e já compro pouquíssima, não pelo preço mas porque evitamos muita carne vermelha). Deixaria de comprar corvina ou maruca, teria que escolher um peixe mais barato. Mas batatas, cebolas, azeite, laranjas, maçãs, iogurtes, coisas assim, teria que comprar. Só que, na realidade as coisas estão todas muito caras e quem ganhe pouco deve ver-se aflito para ter uma alimentação decente. 

Mas, pronto, hoje fico-me por aqui. Vou dormir. 

___________________________________________________

Um dia feliz 

terça-feira, abril 15, 2025

Se calhar, deveria saber extrair uma moral para a história...
Mas não consigo...

 

Quando fui para o ginásio, por cima da tshirt, vesti apenas uma blusinha leve de manga comprida. O meu marido levou uma parka. Quando me viu, perguntou-me se eu achava que ia bem assim. Pergunta retórica, claro. Se me tinha vestido assim é porque achava que ia bem. Referiu que o céu estava cinzento e que a meteorologia anunciava chuva. Não me pareceu. Antes tinham caído uma pingas e admiti que fosse a isso que os meteorologistas se referissem.

Quando estávamos lá, já na recta final das máquinas, o meu marido perguntou se eu já tinha olhado lá para fora. Não tinha. Sou muito focada: se estou a puxar roldanas ou a remar para exercitar os músculos superiores ou a abrir e fechar pernas para exercitar os músculos de dentro e de os fora, é nisso que estou concentrada. Mas, porque ele disse isso, olhei. E engoli em seco. O dilúvio. Quase me apetece acrescentar: 'literalmente' o dilúvio. Uma carga de água... mas uma senhora carga.

Não me desmanchei. Pensei que, assim como assim, quando chegasse a casa, ia tomar banho. Chegar molhada seria apenas evitar uma fase, podia passar logo para a aplicação do gel de banho.

Mas, cavalheiro como é, quando saiu do balneário, tinha um casaco de capuz que levava por baixo da parka para me dar. Não queria aceitar a gentileza. Mas, tanta a insistência, aceitei.

Apesar de ter abrandado um pouco quando saímos, a verdade é que cheguei toda molhada.

E felizmente não tinha deixado roupa estendida. O que isto tem de bom é que desde há alguns meses, se calhar desde novembro, não sei bem, não é preciso ligar a rega. E está tudo verdinho que é um gosto. De vez em quando, com regador, rego os vasos que estão debaixo de telheiros e é só. 

As rosinhas já começaram a despontar e a nespereira está carregada. A chatice é que é uma árvore tão grande que os ramos estão todos muito altos, custa a chegar à fruta. Mas já apanhei umas quantas. Ainda não estão dulcíssimas mas, para mim que sou de boa boca, já estão boas.

Há ainda uma coisa que é um bocado triste e que até estou a hesitar trazer aqui. Trazer para quê, não é? Não gosto nada de trazer para aqui coisas que podem puxar ao sentimento. Mas, por outro lado, antes de começar a escrever, era nisto que estava a pensar. Falei na molha que apanhei para ver se me distraía e não falava no que estava a pensar.  Mas, aqui chegada, estou outra vez com esta em mente. Por isso, se calhar, mais vale falar e pronto. Aquela amiga que perdeu o marido a semana passada está muito abalada e muito triste e tanto mais, segundo ela, quando foi uma coisa quase inesperada. Faz-me muita impressão. Custam-me as palavras dela a dizer que está a viver tempos muito duros e que não consegue encontrar palavras para a dor que sente. Compreendo-a e imagino o vazio enorme que agora deve estar a invadir a vida dela. Uma pessoa que vive a vida inteira com outra, em que as vivências, tudo, resulta de uma convergência de hábitos, deve ficar a sentir-se completamente desamparada. Deve ser quase como se tivesse que reaprender a viver por si, alguém a quem se tiram as muletas, o andarilho, o oxigénio, a sonda, tudo, e que, sem sentir motivação para tal, tem que aprender a ser autónoma. Sozinha, cheia de saudades e tristeza, e por sua conta como quando nasceu e teve que aprender a virar-se. Depois fiquei a pensar: ela diz que lhe custa ainda mais por ter sido uma coisa quase inesperada mas, se ele tivesse sofrido, se tivesse sido uma daquelas mortes lentas em que a pessoa assiste ao seu próprio declínio, em que a pessoa vai perdendo autonomia, dignidade, não teria sido mais doloroso?

Pergunto isto e sei que a pergunta é estúpida. Dor é dor.

E agora lembrei-me de há uns meses, ao encontrar uma amiga de longa data que não via há séculos, pergunta-me ela se eu me lembrava de um que tinha sido nosso colega. Assim de repente, não me lembrava, mas ela mostrou-me a fotografia dele. Ah, perfeitamente, lembrava-me. Diz ela: 'Casámos, não sabias?'. Não, não sabia. Mas antes que eu me pusesse a festejar, ela atalhou: 'Morreu o ano passado.'. E aí fiquei sem jeito. Fiquei também sem palavras. A sorte é que ela depois mudou de assunto.

Mas, enfim, são situações que parece que tiram o chão às pessoas. O que vale é que, na maioria das vezes, não é o chão, é o tapete. E as pessoas reaprendem a andar porque o chão, mal ou bem, continua lá.

E com isto não concluo nada. Para dizer a verdade nem sei como acabar este post. 

Partilho, antes, um vídeo que, se calhar, até já tinha partilhado antes. Acho que não tem a ver com nada do que acima fui escrevendo. Mas é um vídeo curioso. Um bocado terrível. A mim, que padeço de vertigens, faz-me muita impressão. Até parece que sou eu que estou ali, à beira do abismo, a escorregar, os outros a empurrarem, e eu a tentar aguentar-me... depois a tentar ganhar coragem... e, depois, olha, lá vai disto, seja o que deus quiser...

Emperor penguin chicks jump off a 50-foot cliff in Antarctica NEVER-BEFORE-FILMED FOR TV | Nat Geo

National Geographic and BAFTA Award-winning cinematographer Bertie Gregory release unprecedented footage of Emperor penguin chicks leaping 50 feet off an Antarctic cliff. The never-before-filmed behavior was for the 2025 installment of National Geographic’s Emmy award-winning SECRETS OF franchise, SECRETS OF THE PENGUINS, premiering Earth Day 2025 on Nat Geo.


segunda-feira, abril 14, 2025

Deixem o Luís continuar a ser Mentenegro. Deixem o Luís continuar a gozar com o pagode. Deixem o Luís continuar a rir-se da malta

 

Quando vi referido que o hino da campanha da AD continha a expressão 'Deixem o Luís trabalhar' pensei que não era possível, que o hino devia ser uma piroseira tal que levava o pessoal a distorcer para gozar com o Luís. Mas não. Nestes estúpidos tempos, a realidade é sempre mais parva do que poderíamos supor. O hino contém mesmo aquela expressão. É estúpido de mais para ser verdade. Mas a estupidez, como se sabe, não tem limites.

Como muito bem diz o Der Terrorist, Deixem o Luís gozar com os portugueses


E continuo a tomar a liberdade de transcrever do Der Terrorist:

Luís Montenegro não tem contas escondidas do Tribunal Constitucional, Luís Montenegro, como qualquer português de bem, tem várias contas a roçarem o mínimo legal exigido para serem declaradas.

Não foi a gasolineira de Braga que doou/ financiou o PSD, foram vários familiares do dono da gasolineira.

Deixem o Luís gozar com os portugueses.

domingo, abril 13, 2025

Alô, alô Senhores da Comissão Nacional de Eleições! Isto é legítimo: "Governo pede aos “serviços de recursos humanos” do SNS para trabalharem no fim de semana e processarem aumentos salariais este mês"?

 

Montenegro é um manhoso. Não se pode confiar numa pessoa assim. Hoje, vinha no carro e ouvi-o a explicar-se sobre o facto de ser sido questionado pelo Ministério Público sobre o dinheiro espalhado por várias contas bancárias, supostamente para não ter que as declarar ao Tribunal Constitucional, e, como é seu hábito, encolheu-se para passar de fininho entre os pingos da chuva. Disse ele, com aquela sua vozinha de lampeiro, que sempre preencheu os documentos como lá é solicitado. Claro. Como, com o dinheiro dividido, fica com o saldo abaixo do que é preciso declarar, está tudo 'certo'. É assim que ele age, com espertezas, com habilidades, com meias palavras, meias verdades. E sempre a sorrir, com aquele sorrisinho que enjoa. 

Faz campanha eleitoral ilegítima à descarada -- mas sempre com um estratagema para se desculpar. Foi com o Governo em peso, ministros e secretários de estado, para o Bolhão. Diz o manhoso que foi fazer um conselho de ministros (e as minúsculas são deliberadas). Um conselho de ministros sem agenda e que nem sala teve para se reunir. Julga que somos parvos. E, a seguir, foi -- com a tropa fandanga em peso mais os que o PSD tinha arregimentado mais as câmaras de televisão e os pés de microfone  -- desfilar na Rua de Santa Catarina. 

Perante esta provocação à decência, a CNE não teve nada a dizer. 

Marcelo, essa criatura que cada vez está mais irrelevante e a quem, cada vez mais, a vergonha parece  escoar-se, perante estas indecências não diz nada ou, quando muito, diz, sonsamente, que o Montenegro aproveita para ir somando uns pontinhos. Quando as pessoas não se dão ao respeito até se esquecem de respeitar os outros.

Pontinhos. Muitos pontinhos. Hoje li no Expresso o que transcrevi no título: mais outra manhosice. 

As administrações das 39 unidades locais de saúde e dos três IPO receberam um e-mail do gabinete da secretária de Estado da Gestão da Saúde na tarde de sexta-feira para que as atualizações remuneratórias recentemente aprovadas sejam pagas ainda este mês. Gestores falam em “pressão inaceitável para que os pagamentos sejam feitos antes das eleições” (...)

Será que a CNE também acha isto normal? Vão continuar a andar com o manhoso -- e um descarado e reincidente vendedor de banha da cobra --  do Montenegro ao colo? Pergunto.

sábado, abril 12, 2025

Dos mais loucos paradoxos de que há memória

 

Andámos a cortar uma trepadeira que estava toda desconforme, saída dos eixos por via do Martinho, ensarilhada em tubos relacionados com painéis solares. O meu marido, naquela sua de Rambo que leva tudo à frente, queria cortar pela base. Eu, mais para Cinderela, amante dos desvalidos mesmo que os desvalidos sejam trepadeiras desaguisadas, quis preservar, encaminhar. E assim se fez, ele contrariado, eu insistente. Isto logo a seguir ao Martinho. Mas Cinderela que é Cinderela tem coração bondoso mas não é burra. Por isso, depois de ver que a coisa não levava jeito de todo, com o coração sofrendo, condescendi. Que se fizesse a sua vontade.

Assim, depois do ginásio, ele no escadote, eu tentando ainda salvar alguma coisa, lá fomos progredindo no entendimento. Eis senão quando desaba um violento aguaceiro. Não dei o braço a torcer e ele também não. Ali, debaixo de chuva, lá fomos andando, andando, corta daqui, corta dali, e mais daqui e mais dali. No fim, os dois ensopados, restou um pequeno pé de trepadeira que, com sorte, um dia voltará a rebentar e a dar as lindas florzinhas azuis que até há pouco embelezavam aquele pilar. 

Mas quando, desolada, deitei os olhos ao céu tive uma alegria. Há uns meses andou aqui um brasileiro cheio de agilidade e de graça que fez o que o meu marido queria: desbastar ao máximo uma árvore linda que já estava a ir para cima do telhado, a fazer sombra nos painéis solares e a fazer correr o risco de dar cabo das telhas ou não sei o quê. Desde há um ano ou dois que o meu marido andava com essa fisgada e eu a dar luta. Mas tive que me render: era um facto que os painéis já mal apanhavam sol e já havia folhas a mais no meio das telhas. Mas pedi contenção no corte: só o mínimo indispensável. Mas o brasileiro, todo ele rico em metáforas e sem tempo a perder, para ali arranjou uma conversa que era de cortar tudo, uma carecada das valente. De outra maneira a árvore ficaria desencontrada, desequilibrada, desengraçada. Cortando ente, daí por uns dois meses estava toda cheia de folhas, que eu depois logo lhe contava se era ou se não era. Claro que, quando a conversa é cortar, o meu marido decide rapidamente: corte!

Mas os dois meses passaram, os três meses passaram, já lá em seis meses. E nada. Estou sempre a dizer: filho da mãe que me deu cabo da árvore. O meu marido, ar apreensivo, já dizia: tem calma, se calhar ainda nasce. Mas nada.

Ora bem. Hoje, depois de termos dado cabo da trepadeira, ao olhar para o céu -- não para invocar os deuses mas para ver se a chuva já tinha parado de vez, pareceu-me ver, na ponta de alguns dos ramos amputados, umas little coisinhas verdes. Hão de ser folhinhas.  Fiquei feliz.

Mas, logo a seguir, tive a notícia de que tinha morrido o marido de uma conhecida e o irmão de uma outra. Fiquei assim naquela: caraças, logo dois de uma vez. É bem certo que isto da vida é uma brincadeira. Andamos por aqui sempre cheios de razões e opiniões e decisões e emoções e ilusões e esquecemo-nos que é tudo uma fantasia de curta duração. Não ficaremos cá para fazer o balanço nem para tirar teimas. Iremos também um dia. Só que a gente se esquece e, por isso, quando recebe estas notícias, fica assim a modos que meio desamparada. Lá transmiti os meus sentimentos e coisa e tal mas estava com vontade de dizer que não era nada demais, que a vida é mesmo efémera, que hoje foram eles, amanhã seremos nós. Mas não disse, não quis ser mal interpretada.

Portanto, coração ao alto.

Mas é bom dizer isso mas o pior é ser capaz de o pôr. É que entre debates e as cavaladas do Trump (e do Putin e do parvalhão de Israel e de todos esses malucos) uma pessoa mal consegue ter ar limpo para respirar.

Só que isto que está a passar-se nos States vai para além de tudo o que é razoável pois é pôr os destinos do mundo nas mãos de um ignorante, de um narcisista maluco, doido varrido.

Isto das tarifas seria de gargalhada se não fosse tão perigoso. Aquilo baseia-se numa fórmula matemática errada. Aplicando a fórmula correctamente, as tarifas seriam 4 vezes inferiores. Mas, independentemente da fórmula estar errada, é o próprio conceito e a própria 'jogada' que são erradas, anacrónicos, estúpidos.

Os vídeos abaixo são elucidativos. Acima de tudo, tudo o que ali se passa é estúpido pois é mau para os outros e mau para os americanos.

E depois há o parvo do Musk, que tantas tem feito, tantas, todas tão parvas, e que, no fim de tudo consegue ser dos maiores prejudicados em toda esta macacada. Se pegassem nos doidos mais varridos do Júlio de Matos e os pusessem à frente dos Estados Unidos não fariam tanta porcaria como a que o Trump e companhia andam a fazer.

Paradoxos que um dia alguém explicará. Paradoxos consentidos pela democracia o que, em si, é outro paradoxo. E dos valentes.

'Could not be more stupid': Scott Galloway on Trump's tariffs

NYU professor and podcaster Scott Galloway tells CNN’s Anderson Cooper why President Trump’s tariffs are worse than those imposed nearly 100 years ago


Economist says there's a math error in the formula used to calculate Trump's tariffs

Crawling   -    The Lincoln Project 

Elon Musk can't be trusted with rockets, drugs, video games, social media, or even his own children. He damn sure can't be trusted with your data.

The Lincoln Project is a leading pro-democracy organization in the United States — dedicated to the preservation, protection, and defense of democracy. Our fight against Trumpism is only beginning. We must combat these forces everywhere and at all times — our democracy depends on it. 


Desejo-vos um belo sábado