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domingo, abril 26, 2020

O 25 e o Prof. Marcelo, bichos nocturnos, Harari e o corona, Randy, Trump e a lixívia





Contra a vontade do meu marido, estivemos, aqui na sala, até anoitecer, de janela aberta. E refiro-me às janelas de dentro, de vidro. Duas portas largas de vidro. Uma delas aberta. As portadas de fora também, claro. Vi a noite vir chegando, lentamente. Vi os passarinhos a saltitarem aqui à porta. Ouvi-os a cantarem, um chilreio de dar gosto. O meu marido nunca quer as portas abertas ao fim do dia, diz que entram bichos. Diz bichos para dramatizar. Como se pudessem entrar pumas, chitas, javalis. Mas refere-se a melgas. Sei que sim, que há esse risco mas acho que vale a pena. Agora pus na tomada do quarto uma daquelas coisas que supostamente emitem uns ultrassons ou lá o que é que nós não ouvimos mas que põem a cabeça em água a moscas e mosquitos, afastando-os de lá. A ver se resulta, senão, para além das melgas, terei que o ouvir também a ele. 

Mas foi tão bom estar na sala assim.


O dia hoje esteve ameno, não um sol franco mas um suave entressol-entrenuvens, nem frio, nem ventoso, nem chuvoso. E, há pouco, aqui na sala, fui sentindo a frescura da noite que se avizinhava, aquela frescura feita de penumbra e paz, uma lentidão harmoniosa, limpa, boa.

Quando fui fechar as portadas de fora vi o céu. Aquele azul límpido que antecipa o negrume da noite, apenas uma lua a vir em crescendo e, um pouco mais acima, uma única estrela. Brilhante, única. Olhei a toda a volta. Nada, apenas a imensidão do azul e aqueles dois pontos, uma estrela e uma lua a caminho. Emocionei-me. Isto é o mundo na sua perfeição. Só a natureza, o canto dos pássaros, a beleza das nuvens recortadas na linha do horizonte, o mistério das árvores escuras, igrejas onde os pássaros cantam a capella. Nada mais. Eu a olhar para o céu e para tudo, comovida por estar aqui, por me ser dado o privilégio de estar viva a ver, a ouvir e a sentir tamanha tranquilidade e beleza.

Aqui só temos uma televisão, esta, nesta sala, onde agora vejo um bailado na 2. Não há na cozinha, onde almoçamos quando estamos só os dois. Antes de irmos almoçar, liguei-a para espreitar as notícias. Estava a acabar o noticiário mas ainda ouvi que às três se cantaria o Grândola à janela.


E assim fiz. Já aqui estava de volta à sala. Liguei a televisão e confirmei. Fui então lá para fora e cantei. O meu marido estava do outro lado a fazer não sei o quê mas diz que também cantou. Mas nem eu o ouvi a ele nem ele a mim. Ainda tive esperança de ouvir um repicar de sinos ao longe ou um qualquer outro som que me fizesse saber que alguém, para além de mim, comemorava o 25 de Abril. Mas não. Só eu e os pássaros.

Li algures que o Marcelo se tinha portado bem e, curiosa, pus-me alerta. Não o ouvi inteiro mas, pelo que ouvi, hoje dava-lhe um beijinho. Dava. Dava se isto fosse pré-merdinhas. Assim, não dou porque isto do distanciamento é para valer. Mas ofereço-lhe um cravo. Se foi todo na base do que ouvi, terá sido um grande discurso. Directo, sem meias palavras. O discurso de um democrata. Critico-o quando vai atrás do efeito fácil, quando cede à sua necessidade de sentir o afecto dos outros ou à sua atracção fatal pelo mediatismo. Mas, num dia como o de hoje, tenho que louvar a clareza das palavras, a frontalidade, o elogio e a defesa da liberdade e da democracia e a importância de respeitar a casa dos que foram eleitos pelo povo. Marcelo, Ferro e Costa, um trio de peso que sabe tomar conta da democracia em Portugal. Gosto.


Tenho ainda a dizer, em minha defesa, que, de tarde, mais para o fim da tarde, concretamente, quando fui dar o meu passeio, me apeteceu filmar. No primeiro, a dada altura, ouvi o meu marido, a quem eu tinha dito que ia sair para ir andar, a chamar por mim. Cortei mas penso que deve ouvir-se o meu nome. Se eu tivesse paciência para ir aprender a fazer edição, talvez tivesse paciência para ir ali buscar a máquina e pôr-me com coisas. Fiz um outro mas tenho ideia que não deve ter pitada de graça e ainda um terceiro, sobre um arbusto que dá uma flor miudinha, branca, que cheira como os anjos da minha imaginação. Mas já não me lembro como se faz para passar os filmes para aqui, estou com preguiça. Além do mais, aconteceu o de sempre, não me dá jeito andar a falar alto, sozinha, e portanto, a falar baixo e com o meu fio de voz, há-de ter ficado o sussurrar do costume. Depois ouço-me e fico arrependida.
[Agora tive que me levantar para perceber que animal é aquele que ali vai avançando devagar na parede. Se ainda aqui estivesse o meu marido (já dorme a sono solto), já estava a dizer que, com aquilo de eu insistir em estar de janela aberta, vai ser um ver se te avias de bicharada. Afinal é um inocente bicho de conta. Sempre achei graça. Se eu lhe tocasse, fechar-se-ia feito bolinha. Mas não toquei. Ali vai, devagarinho, seguindo o seu caminho. Hoje é dia da liberdade. Hoje e, aqui, sempre.]

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Entretanto, o corona também vai fazendo o seu caminho e, se me sinto descansada por os números revelarem um crescimento contido, por outro lado, sinto o contrário, sinto que o grau de imunidade da população é baixíssimo e, portanto, mal o confinamento se atenue, isto vai voltar a crescer. E a ver se o merdinhas-vírus não vem com mais força, que aquilo ali é pior que traveca normal, é bicheza dada a transformismos tinhosos. No início do mês, quando eu dizia que as projecções destrambelhadas do Buescu não me convenciam, dizia também que se os números oficiais chegassem a 30.000 no fim de Abril, os números totais, no máximo eram capazes de andar pelos 200.000. Estamos a cinco dias do fim do mês e vejo que as minhas previsões, pelo menos no que se referem ao número de infectados, não deverão falhar por muito e isso significa que, a nível do número global de infectados, também não deve andar muito longe. Ora, isso é nada face ao que garantiria uma imunidade razoável. Ou seja, até que a vacina ou o tratamento cheguem, a liberdade de movimentos vai ter que continuar a ser muito controlada sob pena de voltarmos ao empinamento da exponencial.
(Se calhar nada disto vem muito a propósito da primeira parte do post mas também não sei porque haveria de vir.)
Aqui abaixo, Harari, obviamente também em quarentena, diz de sua justiça. Fala da humanidade e do que o corona faz com ela. E é sempre uma voz inteligente que se ouve de gosto. O meu marido trouxe os livros dele mas acho que ainda não lhes pegou desde que cá chegou. Aliás, na cidade, eram livros de cabeceira dele. Volta e meia, via que estava a lê-los. Mas nem ele lhes pegou nem eu. Tinha pensado ler à vez, com ele, e, afinal, nem de tal me lembrei até agora. Não temos tempo. Ou é a trabalhar no duro durante a semana ou, ao fim de semana, eu atirada às limpezas de casa e ele do mato. Depois, chegamos ao fim do dia e já não atinamos com as letras. E os dois livros ainda ali estão, onde ele os depositou quando viemos deportados.



E, para acabar com um apontamento de tragicomédia, deixo-vos com o Randy Rainbow a propósito de mais uma anormalidade da besta quadrada do Trump. Só não sei é porque é que ninguém lhe dá uma injecção de lixívia naquele rabo gordo e esbardalhado para ele comprovar se, para além de ficar branquinho, fica também limpinho de vez. Bom. Mas também não tinha que ser lixívia pura que eu, nisso, não sou de tratamentos radicais. 


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E agora vou ver como ficaram os vídeos que fiz a ver se consigo aproveitar algum

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Desejo-vos um bom dia de domingo