Parece que há agora um novo líder no Syrisa. E meio mundo ficou de queixo caído por ter aparecido, do nada, um manganão que vivia nos States, empresário, que trabalhou no Goldman Sachs e sei lá que mais. Ou seja, tal como se tivesse sido gerado e alimentado pelo sistema capitalista, apareceu esta ave rara. E muita gente, muito justamente, veio dizer que já não se percebe nada disto: afinal onde é que está a linha que separa a esquerda da direita.
Eu não sei responder a nada disto. Nunca tinha ouvido falar no Stefano. Agora uma coisa eu sei. Tal como é sabido e consabido desde os tempos em que Harry Selfridge organizou os seus armazéns no início do século passado, colocando na entrada o que agradava às mulheres (maquilhagem, moda, chapéus, luvas, etc), quem decide como vai ser são as mulheres.
E as mulheres, santa paciência, simpatizam de caras com o Stefanos. Virão advertir-me que o safado é gay. Pois, bem sei. Mas mesmo que não fosse, o que é que eu e as muitas mulheres que votaram nele íamos fazer com ele..? Nada, certo...? Olhar... Ouvir... Acreditar... Ora, se é para olhar e ouvir e acreditar... que diferença faz que seja gay...?
Portanto, se é para ver e ouvir (coisa forçosamente platónica, digamos assim), não é melhor que seja um giraço com um sorriso lindo, fofo, queridésimo, simpático todos os dias...?
E isto sou eu, hetero, a falar. Agora, se a mulherada se encanta, imagine-se o que não pensarão os homens gays lá do burgo...? Tudo a votar no menino... Ora não.
Ao meio-dia de segunda-feira, Stefanos Kasselakis, um executivo do setor marítimo e ex-negociador do Goldman Sachs, caminhou pelos corredores do parlamento grego para ser coroado chefe do Syriza, o outrora partido radical de esquerda do país.
Ninguém poderia parecer mais fora de sintonia com uma força política tão mergulhada na turbulência da sangrenta história do pós-guerra da Grécia. Mas Kasselakis, com um sorriso aparentemente permanente nos lábios, desafiou todas as probabilidades. Depois de iluminar os céus da sóbria cena política do país com uma campanha no alto do vigor das redes sociais, o greco-americano de 35 anos não só emergiu como o vencedor da corrida de duas voltas para liderar o Syriza – ganhando 56,69% dos votos – mas provou que é muito mais do que uma estrela cadente.
Há apenas seis meses, Kasselakis era um desconhecido político arrancado da obscuridade pelo líder cessante do Syriza, Aléxis Tsipras, para se apresentar como candidato expatriado nas eleições estaduais do partido nas eleições nacionais de Maio. Desde que deixou a Grécia, ainda adolescente, com uma bolsa de estudos num prestigioso internato de Massachusetts, depois de vencer uma competição de matemática, ele não olhou para trás.
Se os roteiristas tivessem tido a chance de escrever o roteiro, eles poderiam ter tropeçado. E não só porque o antigo “Garoto de Ouro” – apelido dado a Kasselakis pelos colunistas – vem dos EUA com um currículo que nenhum esquerdista que se preze poderia endossar.
Num país mediterrânico mal preparado para eleger uma mulher como primeira-ministra – e muito menos um homem assumidamente gay – ele chegou à Grécia com o seu marido, Tyler McBeth, um enfermeiro norte-americano que conheceu e por quem se apaixonou em Miami.
McBeth, que assim como Kasselakis, começa o dia malhando na academia, apareceu sorrindo ao lado dele desde o início da corrida pela liderança – o casal entrou na união civil há quatro anos. “A minha mãe”, disse recentemente o novo líder do Syriza, “nada mais quer que nós tenhamos filhos e possamos vir ajudar-nos”.
No domingo, Kasselakis fez de tudo para garantir que a sociedade socialmente conservadora da Grécia soubesse exatamente quem era o seu marido, chamando McBeth para se juntar a ele no seu discurso de vitória fora da sede do partido.
Além disso, a ascensão de Kasselakis surgiu do nada.
O escritor de esquerda Dimitris Psarras, evocando a ansiedade que o súbito aparecimento do greco-americano desencadeou entre os quadros do que outrora foi uma aliança de marxistas, ex-comunistas, ecologistas e social-democratas, disse: “É como se a Netflix tivesse entrado, assumido o controle do party e agora está transformando-o em uma série. As pessoas não têm ideia do que se trata a sua política, ou se ele tem algum programa. É claro que eles estão em choque.”
(...)
Em retrospectiva, o anúncio poderia ter sido escrito por psicólogos comportamentais – o recém-chegado político falou publicamente sobre fazer terapia para lidar com a sua sexualidade.
Pesada na história de vida e na verdade, a declaração começa: “O meu nome é Stefano e tenho uma coisa para vos contar. Nasci em Maroussi [um subúrbio de Atenas] em 1988, num país com primeiros-ministros hereditários; numa família com pais que se criaram por conta própria. A minha mãe, dentista, trabalhou dia e noite para sustentar o meu pai enquanto ele abria sua empresa.”
No final do vídeo, Kasselakis falou sobre o colapso económico de sua família, como foi parar aos EUA “sozinho com bolsa integral”, cursou a Universidade da Pensilvânia, conseguiu um emprego no Goldman Sachs, entrou no mundo do transporte marítimo – ganhando uma pequena fortuna no processo – e conheceu “o sopro de liberdade” na sua vida, Tyler.
A sua decisão de aderir à corrida pela liderança do Syriza – permitida a qualquer membro assalariado do partido – nasceu, disse ele, do desejo de “construir o sonho grego”.
“Tenho consciência de que não tenho experiência partidária. A minha experiência é no trabalho e na vida social”, disse Kasselakis aos ouvintes, insistindo que com o seu melhor inglês, melhores competências empresariais e melhores diplomas, poderia não só derrotar o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, mas também expulsar o centro-direita do poder. “Para que o sonho grego se torne realidade, temos de derrotar aqueles que beneficiam de uma Grécia que é um campo árido e não da Europa na prática”, disse ele.
Quer quisesse ou não, Kasselakis fez o que nenhuma outra pessoa conseguiu fazer: transformar a política grega num pseudo-reality show televisivo em menos de um mês.
Mas o que ele também mostrou tão acertadamente é que quatro semanas é muito tempo na política, o suficiente para apagar o passado e para “redefinir” um partido.
Desde há uns dias andava cansada, com alguma dor de cabeça, a sentir-me murcha. Como nada disto me é usual, pensei que não estava lá muito bem.
Passei o dia de natal e o dia a seguir a caminho de casa dos meus pais, preocupada, a minha mãe com gripe, muito abananada, com febre. Com a idade que tem e com esta estirpe de gripe que por aí anda fiquei apreensiva. Não sou fatalista mas nos últimos dias morreram as mães de três conhecidos. Sintomas um bocado idênticos, fraqueza e tiro e queda. Chamou-se médico a casa. Pulmões limpos mas repouso, muitos líquidos, medicação até passar. Lá fomos à procura de farmácia de serviço no dia de natal.
Na segunda feira tinha metido dia de férias. O meu corpo estava a pedir descanso, a minha cabeça tréguas.
Zero. Na segunda-feira era o meu pai. Tosse permanente, febre. Para agravar, não quer a cabeceira da cama levantada. Quase afogado na tosse. E a minha mãe fraca, muito apanhada. Médico a casa. Necessidade de antibiótico e mais isto, aquilo e o outro. E eu de roda deles.
Às tantas, recebo um sms. Vou ver. Era do meu marido que estava lá na sala, a avisar-me para não andar completamente de volta deles e para lavar as mãos.
E à noite eu já com frio, frio, a cabeça a incomodar-me. Fui trabalhar mas a sentir que não estava na forma normal.
Esta quarta-feira mais um dia de férias para ficar com dois dos pimentinhas. Mas toda eu arrepios, os olhos vermelhos, a arder, a cabeça a estalar, o corpo dorido.
Agasalhada, com chapéu (a minha filha deu-me um chapéu lindo), lá fui com eles para um parque infantil. O meu filho também de férias juntou-se-nos mas apenas com o mais novo porque a menininha tinha ido ao médico com a mãe, tosse, febre.
Para começar, quando lá cheguei vi que me tinha esquecido do telemóvel em casa. E o meu filho ainda sem chegar, se calhar a ligar-me para ver onde é que eu andava. Imaginei: vai ligar para o pai, o pai vai ligar e eu não atendo, vai ser logo um drama.
Lá fui com os dois irrequietos rapazes a uma pastelaria pedir se me deixavam telefonear. Felizmente tenho um papel mínimo, já meio gasto, com alguns números (porque não sei nenhum número de cor, só meu e o fixo de casa da minha mãe). Liguei ao meu marido. Atendeu-me furioso, que sou sempre assim, despistada, que já estavam fartos de me ligar e de ligar um para o outro, já preocupados, há mais de meia hora.
Passado um bocado, lá chegou o meu filho. Jogo de futebol, viril, sarrafada de criar bicho. Três pimentinhas e um pimentarolas, a jogarem a sério, com faltas, discussões. E eu enregelada.
Depois fomos lanchar. À chegada perto cá de casa, ainda aproveitaram para uma futebolada. E eu toda apanhada.
Ao fim da tarde, já sozinha em casa, enrolei-me numa manta e dormi, dormi. Não tenho feito outra coisa senão dormir. Acho que estou com febre. Dói-me a cabeça, dói-me o corpo. Já tomei um comprimido. Ainda não começou a fazer efeito. Se calhar mais daqui a nada vou tomar paracetamol.
Não sei se amanhã consigo ir trabalhar. Dói-me um bocado o peito, estou a ficar com tosse.
Gostava de ser capaz de escrever alguma coisa minimamente de jeito e não sei sobre o quê. Está a dar uma entrevista ao Júlio Isidro. É um homem inteligente e equilibrado. Mas não consigo prestar muita atenção. A sala está quente e eu super agasalhada mas não me passa o frio e o mal-estar. Também me está a doer a garganta.
A médica que foi ver o meu pai e o médico que foi ver a minha mãe acharam que mais valia ficarem em casa, em repouso, a beberem líquidos e a serem medicados, pois, disseram e vi na televisão, os hospitais estão caóticos.
Já lhes telefonei hoje umas três vezes. Parece que estão melhores. Mas agora está doente a senhora que vai lá a casa tratar da higiene e das refeições do meu pai e dar um jeito na casa. Tomara que não vá à cama, senão como é que ficam os meus pais?
Ai....
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As fotografias mostram arranjos florais que o florista Geoffroy Mottart espalha pelas estátuas de Bruxelas, fotografando-as ao abrigo de um projecto a que deu o nome de Fleurissements. Não têm nada a ver com o que escrevi. Só se for pelo facto de eu achar que era bem bom que me apetecesse ter flores a enfeitar o cabelo.
A música é um bocado mal empregada aqui mas é o que suporto ouvir. Trancrevo directamente do youtube:
"O Virgin Pure”, Hymn of Saint Nectarios, num arranjo vocal e musical de Vassilis Tsabropoulos
Não sei se chove lá fora. Há pouco, estava eu a escolher as fotografias do mar e a ouvir um ribombar surdo, ao longe. Ontem à noite, aconchegada num canto do sofá, a ver na RTP1 um filme francês muito bonito sobre uma prova de vela em solitário, ouvia chover, a chuva a bater com força nas janelas. Soube-me tão bem.
Agora, como habitualmente, a sala está quase às escuras, apenas a televisão com o som baixo e um foco de luz sobre mim para ver o computador. Gosto muito de estar assim.
Hoje acordei com vontade de pegar no tapete de arraiolos que, em tempos, deixei a meio. Antes gostava muito de me sentar num cadeirão pequenino, baixinho, as grandes carpetes sobre os joelhos, eu rodeada de lãs, a tecer, a fazer aparecer figuras, cores. Mas depois troquei esse prazer, bordar noite dentro, pelo de escrever aqui. Já tinha feito tantas carpetes que já não tinha onde as pôr. Hoje olho para todas elas quase abismada, sem compreender como consegui eu fazer tudo isto.
Mas não consegui matar essas saudades. De manhã fui para a praia e almocei por lá, peixe a saber a mar, depois fui às compras, depois fui para casa do meu filho onde a minha filha se nos juntou para lancharmos. Depois foi a costumeira algazarra dos pimentinhas, as jogatanas de futebol entre os rapazes (de todas as idades) e ela, a única menina, a fazer comidinhas na sua cozinha de brincar (parece que agora diz que, quando for grande, quer ser cozinheira em Paris). Já era quase noite quando regressei a casa.
Coloquei a roupa a lavar. Arrumei outras roupas. Deixei de lado a roupa de amanhã.
Como, durante a semana, chego sempre tarde, deixo feita a comida para que seja só aquecer. Por isso, seguiu-se a horinha da culinária.
Estive, então, na minha cozinha. Conto-vos.
Sopa de cenas
Numa panela com água, deito duas cebolas grandes, cinco cenouras de bom tamanho, um chuchu, uma courgette avantajada (tudo descascado e cortado aos bocados) e sal. Ponho ao lume (não é lume porque a placa é electrica -- mas isso é pomenor), espero que ferva e depois baixo a temperatura.
Num tachinho ao lado, deito uma cenoura cortada aos cubinhos e uma courgette mais modesta também cortadinha. Da panela ao lado, depois de levantar fervura, despejo um bocado de água sobre os legumes e ligo o lume. Faço esta manobra do transbordo da água para regular melhor a quantidade total da sopa. Quando ferve, baixo a temperatura. Depois de uns minutos, junto uma embalagem inteira de folhas de espinafres já lavadas. Continua ao lume por mais uns minutos.
Depois de desligar, junto um fio generoso de azeite virgem à panela, e moo até ficar um puré bem macio. Junto-lhe então os legumes e o caldo do tachinho. Com uma colher grande, envolvo tudo bem.
Mão de borrego no forno, com sabor a campo
Ligo o forno à temperatura máxima (calor em cima e em baixo) enquanto preparo o tabuleiro de pirex. No fundo, coloco vinho tinto. Espalho duas cebolas cortadas aos bocados no fundo. Estendo então a mão do borrego (limpa de gorduras, lavada e com uns golpes) sobre essa cama. Ponho algum sal por cima. Ponho ainda uns dentes de alho cortados, 3 ou 4 folhas de louro, alecrim esfarelado e polvilho ainda com orégãos. Rego com azeite. Coloco, então, o tabuleiro no forno e reduzo a temperatura para uns 190º. Passados uns minutos volto a reduzir para os 160º e passado mais um bocado volto a reduzir para os 150º. Na segunda hora baixo para uns 140º. De vez em quanto, viro para que, à vez, uma parte fique mergulhada no molho e a outra exposta ao calor de cima. Não sei bem quanto tempo ao todo, talvez umas três horas. Vejo que está bom quando a carne se afasta do osso e mostra um ar apetitoso.
Quando jantámos ainda o borrego estava no forno. Mas nem eu, depois de lanchar, teria fome para carnes. O meu jantar foi sopa (o meu marido, ao comê-la, disse: a sopa está mesmo boa e eu fiquei toda contente) e depois queijo fresco que comi ao mesmo tempo que uma maçã e uvas. Como sobremesa, comi um figo seco, daqueles que a minha mãe torrou e recheou com amêndoas. Depois, quando estava a sair da cozinha, voltei atrás e fui rapinar outro. Claro que fiz isso à socapa de mim pois os figos engordam que se fartam e eu devia dosear.
Só depois aqui cheguei. Estive a colocar um brilhozinho nas unhas, não ando em maré de unhas gritantes, só um brilhinho transparente. Como estou com uma blusa fininha de verão, deu-me o frio. Ainda pensei ir buscar um casaco mas, por preguiça, deixei-me aqui ficar. Peguei então numa mantinha, que estava sobre um dos braços do sofá, e cobri os ombros. Está a saber-me bem.
Estive também a ler alguns blogues. Há quem escreva muito bem ou sobre assuntos bem interessantes. Leio-os com a surpresa de ter, à minha disposição, palavras tão bem entretecidas, palavras ainda jovens, acabadas de escrever e, tantas vezes, a saberem já a palavras boas, antigas.
Enquanto escrevo, vou vendo a televisão. Agora estou a ver Maria João Seixas com José Pedro Serra. Não o conhecia a ele mas já o googlei, já vi quem é. Falam da mitologia grega. O programa chama-se Afinidades e ele fala com paixão de Cassandra e diz frases muito belas. Ela olha-o com aquele quase sorriso que é todo empatia. Desde que lhe morreu o filho, Maria João está sempre com um ar tão triste, tão em suspenso, como se pairasse num tempo que lhe fugiu. Admiro-a pelo que ela é e também pela coragem. O cenário em que estão -- o fundo negro, umas flores lindas com um toque de carmim que se conjuga com o baton dos lábios dela; sempre tão elegante, ela -- anula qualquer hipótese de distração. Apenas a conversa interessa e a forma como se olham enquanto a conversa flui. Sorri ele, enquanto fala da simbologia grega, daquela cultura que encapsula todas as culturas por vir. Escrevi simbologia sem querer, queria dizer mitologia. Mas simbologia talvez se possa aplicar neste contexto. Fica.
Sorri serenamente Maria João enquanto José Pedro Serra diz poemas e eu olho-os e não sorrio, porque fico quase paralisada quando ouço falar assim. E já vejo Maria João quase emocionada. Ao terminar diz que vai querer voltar a ouvi-lo a falar da Eneida, de Nietzsche. José Pedro Serra sorri agradado e conclui dizendo que as viagens afins é difícil saber com quem as podemos fazer. Maria João sobressalta-se, sorri, quase tímida.
Não sei porque não está a televisão cheia de momentos assim. Em vez de futebóis a toda a hora, reportagens infindáveis sobre crimes e fugas, incêndios, um jovem que foi para Londres e armou confusão no aeroporto, o advogado de outro que foi agredido pelos filhos do embaixador, ininterruptas entrevistas a criaturas descerebradas como ao láparo ou à cristas -- não seria mil vezes mais interessante ouvir pessoas inteligentes a conversarem, aprender com quem sabe mais que nós?
Ah, mil vezes sim, mil vezes.
O que eu preciso de aprender -- tanto, tanto que não sei -- e o que eu gosto de aprender (mesmo que, logo de seguida, tente esquecer para, numa próxima vez, ser de novo surpreendida).
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Já é tarde. Daqui a poucas horas inicia-se mais uma destas minhas semanas meio loucas, em que um trabalho ciclópico parece abater-se sobre mim de forma quase torrencial. Os dias passam num instante e eu tento introduzir-lhes travões. Tento manter os almoços tranquilos, tento conseguir fazer uma caminhada à noite, mesmo que curta, tento manter-me acordada aqui à noite para descansar a cabeça enquanto converso convosco.
Fico-me, pois, por aqui que o sono já se faz sentir. A conversa já vai longa e só eu é que estou a falar. De vocês nem um ai. Já devem estar fartos de tanta tagaralice, não?
Tenho aqui ao meu lado um livro muito bonito com poemas de Pedro Tamen mas já não vou abusar mais da vossa paciência. Um dia destes logo transcrevo um poema.
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Reparei há pouco que ultrapassei hoje um milhão e setecentas mil visitas. Lembro-me do dia em que, incrédula, cheguei às mil, depois às dez mil. Mais ainda quando atingi as cem mil. Eram números que estavam para além do que alguma vez poderia esperar. Até que passei o milhão. Fiz uma festa, chamei a família. E agora acredito que um dia ainda chego aos dois milhões. É uma sensação inexplicável. Eu aqui sossegadinha na minha sala, a escrever despreocupadamente, e tantas pessoas aí a lerem estas minhas palavras. Afinidades, também? Gostava que sim, que pessoas que não conheço se sentissem estranhamente próximas de mim. Mas, próximas ou não, agradeço-vos do fundo do meu coração. A vossa companhia silenciosa sabe-me bem, é como se me agraciassem com a vossa generosidade.
O deus do Tempo mutilou o pai, mutilou Uranus, cortando-lhe as partes genitais, que caíram sobre a Terra sob a forma de uma chuva de sangue. Desse sangue de Uranus nasceram muitas divindades benévolas, nossas conhecidas, por exemplo, as Ninfas ou as Oceânides. Mas nasceram também umas figuras temíveis, chamadas Erínias, as divindades que vingam a morte entre familiares; alimentando-se do sangue vertido, pedem mais. Ora, como o correr do sangue entre familiares não conhece sossego entre os mortais, as Erínias não têm mãos a medir.
Um dia, elas chegam a uma família, mercê de um crime que faz parte de um dos casos assinalados por Aristóteles na Poética como aqueles de que tratam as tragédias, a saber, o matricídio. Por sugestão de sua irmã Electra, Orestes mata a mãe, que vivia, desde a partida de Agamémnon para a guerra de Tróia, com Égisto, primo direito daquele. Convém não esquecer o fundamento escondido e gritante que subjaz a esta relação: o pai de Agamémnon havia morto os irmãos de Égisto, seus sobrinhos, dando-os em seguida a comer ao próprio pai, seu irmão. Égisto, que escapou ao monstruoso crime, não perdoou ao tio e resolveu vingar-se, daí a sua relação com Clitemnestra que, por sua vez, tem, também ela, uma boa razão para matar Agamémnon: a morte de Ifigénia, a filha que ela mais amava, às mãos do próprio pai, que sacrificou a virgem de modo a obter ventos de feição para prosseguir viagem até Tróia. Com a mesma arma, um machado de dois gumes, ela mata Agamémnon e aquela que, como despojo de guerra, o acompanhara até Micenas, a princesa-sacerdotisa em quem ninguém acreditava, Cassandra, que, por não ter aceitado levar até ao fim os impulsos amorosos de Apolo, tinha sido condenada à descrença.
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Etc.
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[Excerto de Rebuçados Venezianos de Maria Filomena Molder]
E agora, depois das cenas de 'Maria, não me mates que sou tua mãe', caso queiram ver stratus, cumulus, cirrus, nimbus desçam, por favor, até ao post que se segue.
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] Leitores, não me matem pela heresia que eu sou a vossa UJM [
No outro dia transcrevi um excerto do livro 'Os Gregos' que suscitou comentários interessantes. Por recear que passem despercebidos, resolvi puxá-los para aqui pois considero que enriquecem o conhecimento da matéria versada.
O Leitor José Neves polemiza a propósito do que eu disse pelo que teve resposta, como poderão ver, na respectiva caixa de comentários. Por isso, não vou aqui repetir-me. Contudo, não me referi a um dos aspectos pois, na altura, passou-me. Refiro-me agora.
Considera ele que o termo 'amante' -- que, pelos vistos associa a 'vulgar amante' -- é depreciativo e sinónimo de 'mulher por conta' e que, portanto, eu não o deveria ter usado ao referir-me a Aspásia.
Mas essa conotação é sua, Caro José Neves, e não minha. Amante, para mim, é alguém a quem se ama e com quem se tem um relacionamento amoroso sem vínculo contratual, digamos assim. Uma amante, para mim, não é forçosamente uma mulher por conta, uma mulher vulgar, ou, sequer, uma mulher a quem não se reconhecem atributos intelectuais ou culturais de monta.
Finalmente duas observações: a abertura de parágrafos no texto é de minha responsabilidade e pretende manter alguma homogeneidade com critérios usados em textos meus ao longo do blogue. As fotografias que intercalei, intercalei porque sim e porque é também hábito meu. Foram feitas esta manhã.
E, feito o preâmbulo, que fale quem sabe.
Divna Ljubojevic - Agni partene Αγνή Παρθένε
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A palavra ao Leitor P. Rufino
Já Heródoto quando relatava os comportamentos dos Egípcios, dizia que as mulheres egípcias gozavam de um maior controlo das suas vidas do que as suas congéneres gregas, podendo, por exemplo, ser elas a iniciar um divórcio. E podiam ser comerciantes, por oposição às mulheres gregas, que não possuíam essa liberdade, total, de negociar. Embora, a exemplo das outras sociedades dessa época, a função principal das mulheres egípcias, tal como as gregas, assentasse na sua capacidade procriadora.
O grande orador e estadista grego, Demóstenes, da Antiga Atenas, costumava dizer: “nós temos as Hetairai para o nosso prazer, as concubinas para os nossos desejos mais comuns e as esposas para a procriação e guardiãs domésticas”.
Na desaparecida Etrúria Antiga, as mulheres tinham mais direitos, por exemplo, participavam nos banquetes com os homens, uma prática que era criticada por Teopompo que estava habituado às prostitutas de diverso tipo (Hetairai, etc) nos tais banquetes. As mulheres Etruscas tinham inclusivamente direitos civis e financeiros e os Etruscos consideravam o casamento importante, mais do que um mero arranjo com vista à reprodução.
Na Grécia Antiga, algumas Hetairai obtiveram vulto e sucesso, como Teódote a companheira do estadista Alcibíades, Aspásia a amante de Péricles (de quem se contava que o filósofo Sócrates ia a sua casa e terá tido uma relação), Prynea modelo e amante do grande escultor Praxiteles (e do orador Hiperides). Mas, houve outras, que ficaram igualmente famosas (pela beleza e intelecto), sobretudo na qualidade de Hetaeras, como as duas Lais (de quem uma delas o grande pintor Apeles se deixou encantar pela sua extraordinária beleza), a Thais, Sinope, etc. Naera era tão bonita e célebre que os seus patronos lhe compraram a liberdade, ao ponto de ela dizer de si própria “ser a amante de si própria”. Xenofontes, no seu livro “Memórias de Sócrates” dá conta dos amores de Sócrates por outra conhecida Hetairai, a bela Theodote, um misto de mulher independente, vivendo numa casa “de gosto deslumbrante”, segundo crónicas do tempo.
E grande estadista e legislador Solon (misógeno e homossexual) determinou, entre muitos outros aspectos, que o homem guardião podia vender uma mulher solteira que tivesse perdido a sua virgindade. Em sua opinião, “as mulheres eram uma fonte perene de fricção e conflito entre os homens”.
As mulheres da Antiga Roma tinham, mesmo assim, mais direitos do que as suas congéneres Gregas.
Quanto a Artemis (a Diana na mitologia Romana) é fascinante ler o que Sarah Pomeroy escreve num dos seus livros (a “Amazonas” costumavam adorá-la e procuravam assemelhar-se a ela, segundo a mitologia Grega). Fascina-me particularmente Artemisia (Grega de Helicarnassus), a Rainha Ionian, brilhante estratega militar, ao serviço de Xerxes, durante as campanhas das Guerras Persas.
A terminar, não se deve comparar os costumes daquelas épocas e daquelas civilizações com as de hoje. Embora, se possa comparar com as diferenças dessas civilizações de então. Como as mulheres da Etrúria, os direitos que gozavam, com as suas congéneres Gregas. E as de Roma e da Antiga Grécia.
Há hoje, sobretudo na historiografia inglesa, muita informação sobre a Antiga Grécia e, no caso em questão, sobre as mulheres desse tempo e das diversas categorias de “prostitutas”, que de facto possuíam características diferentes e destinavam-se a fins igualmente diferenciados, como as “dicteriades”, as “auletrides” e as “hetairae”, sendo as primeiras as de mais baixa categoria, trabalhando em bordéis, as seguintes, “auletrides” (que significava “tocadoras de flauta”), possuíam mais instrução e capacidades, tais como cantoras, músicas, dançarinas, etc.
Por fim, as “hetairae” eram as de mais elevado estatuto, devido às suas qualidades e conhecimentos intelectuais, de beleza, educação, etc. Muitas, como já se disse, ficaram na História dessa grande civilização, que foi a Grécia Antiga, “o berço da nossa civilização actual”.
Terá sido Solon, o grande reformador dessa época, que terá criado os primeiros “bordéis” (“porneia”), com vista a que aos cidadãos nunca faltasse “conforto sexual”.
Curiosamente, a iniciação sexual dos mancebos muita das vezes fazia-se através de contacto com homens mais velhos, os “erastes”, com quem o tal adolescente, “eromenos”, acabava por ter uma relação sexual. O sexo entre homem e rapaz era comum nessa época e fazia parte da cultura e hábitos de então.
Para as mulheres casadas, nessa altura, sexo três vezes por mês era considerado suficiente para qualquer cidadã casada. E o guardião de uma mulher solteira, se aquela fosse apanhada em “flagrante delito” tinha o direito a vendê-la como escrava.
Sobre este tema haverá muita coisa para dizer e contar, mas também pode ser maçador. Agora, há autores e, sobretudo, autoras – historiadores/as -, cujos relatos e descrições desses tempos, bem como das situações e respectivos hábitos culturais, que sabem ser cativantes para quem é leigo na matéria e cuja leitura acaba por se desfrutar, com prazer (salve a redundância).
É preciso avançar vários séculos, até chegar à Renascença, para se encontrar um tipo de “prostitutas” semelhantes às tais “hetairae”, como algumas famosas cortesãs italianas (“somptuosa meretrize”), cuja designação acabou por vir a ser a de “cortegiana honesta”, em vez de meretriz. Eram mulheres que para além de serem muito belas, possuíam um elevado grau cultural e até social. Algumas pintaram, outras eram poetisas, etc.
Verónica Franco (pintada por Tintoretto) foi poetisa e escritora, Beatrice de Ferrara, cuja casa ficou célebre pelo esplendor e que foi modelo de Rafael, foram alguns desses exemplos. Voltando à Grécia, há uma pintura mural em Pompeia (que recomendo vivamente que se visite – fiquei fascinado) que retrata Safo, a tal poetisa Grega.
E na Roma Antiga, Aesia Pola foi uma das raras mulheres a exercer medicina, actividade que posteriormente veio a ser proibida às mulheres Romanas. E já que se fala de prostitutas, deixo-lhe uma curiosidade: Roma é talvez a única cidade do Mundo a ter uma praça, ou melhor, pela dimensão, praceta, dedicada a uma “cortesã” (“cortesã honesta”), que significava, mais ou menos, “mantida por alta roda”, na pessoa de Fiammetta Michaelis, que foi amante entre outros de Cesário Borgia, filho do Papa Alexandre VI. Fiammetta tinha residência perto da dita praceta que hoje tem o seu nome e “costumava deslocar-se à igreja de Sant’Agostino para se confessar, rezar e fazer inúmeras doações generosas para as almas do Purgatório. Acabou sepultada naquela igreja, embora os vestígios da sua sepultura tenham desaparecido.
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A palavra ao Leitor José Neves
(...) Já tinha confessado antes que lera quase tudo mas não os gregos e isso nota-se perfeitamente no modo ligeiro como tratou o problema das "mulheres de Atenas". Essa ligeireza é patente ao propor uma confrontação sem mais de costumes e práticas sociais entre uma sociedade de há 2500 anos com a sociedade actual. E abusa dessa situação ao legendar um quadro de Aspásia como a "amante" de Péricles, um termo cujo significado e sentido moral de hoje ou não existia para os gregos e por isso mesmo as titulavam de "heteras" que não eram "mulheres por conta" como uma vulgar amante mas, como diz um helenista francês , "As raparigas particularmente dotadas para o canto e para a dança eram com frequência treinadas como heteras".
Aspásia é a mais célebre porque cativou Péricles (este deu o divórcio à mulher e assumiu viver com Aspásia) e exerceu uma grande influência sobre os costumes atenienses mas, também Praxíteles teve a sua Frine, Platão a sua Arqueanassa, Epicuro as suas Dánae e Leôncia, Sófocles a sua Teóris e Míron a sua Làide. E porquê, porque as heteras eram as únicas mulheres cultas de Atenas.
Embora sendo Atenas uma democracia esclavagista e consequentemente o estatuto das mulheres estar inteiramente subordinado aos homens e ao serviço do tear e trabalhos domésticos, nem por isso deixou de haver mulheres livres como Safo de Lesbos e aquelas que nas tragédias gregas aparecem como sendo activas e inteligentes como Medeia, Antígona e outras.
Mas sobretudo, nesta sociedade de homens e esclavagista onde a filha era do pai e a mulher do marido sem quereres ou vontades, os racionalistas gregos punham-se a discutir e filosofar, como Platão pela boca de Sócrates, acerca de uma sociedade perfeita onde existiria uma "Comunidade de Mulheres" cuja defesa vai sendo fundamentada por Sócrates, lógica e racionalmente passo a passo, até chegar à conclusão: "Por conseguinte, meu amigo, não há nenhum emprego respeitante à administração da Cidade que pertença à mulher enquanto mulher ou ao homem enquanto homem; pelo contrário, as aptidões naturais estão igualmente distribuídas pelos dois sexos e é próprio da natureza que a mulher, assim como o homem, participe em todos os empregos, ainda que em todos seja mais fraca do que o homem".
A sociedade da democracia grega só foi possível pela liberdade de pensar e racionalizar todas as questões da existência e também do papel dos escravos, dos sábios, da justiça, da moral, dos deuses e religião e também das mulheres dentro do seu tempo e conhecimentos. Não é possível comparar seriamente aquela sociedade com a de hoje e muito menos opondo uma à outra através dos costumes ou moral.
E mesmo que a comparemos, salvo determinados aspectos mais primitivos que entretanto foram sendo ganhos da humanidade, ficam sérias dúvidas acerca da grandeza de uma e outra. Só mais umas notas: A hetera Aspásia tentou criar cursos de letras e filosofia para raparigas que foi um escândalo e, claro, um insucesso.
Se a mulher levava um dote para o casamento em caso de divórcio esse dote era, por lei, restituído à família da mulher o que lhe permitia uma inestimável protecção e alguma independência. Também há inscrições tumulares que indicam mulheres a trabalhar fora de casa como Fanóstrate, parteira e médica; Melita, filha do imigrante Apolodoros registada como ama; Mânia, merceeira cuja loja fica perto da nascente. Também a religião era uma das actividades em que as mulheres tinham mais liberdade para se envolverem diretamente na vida da comunidade como sacerdotisas, pitonisas, menades.
Uma questão é importante assinalar; os gregos, como diz Kitto, actuavam dentro de um quadro pensado e instituído tão racional e lógico sobre todos os assuntos, quer familiares quer os da polis que não consta qualquer relato de um grego fanático quer político quer religioso nem dado a excessos como os do nosso tempo acerca do desporto ou comercialismo. E, embora pudessem "expôr" à porta os filhos recém-nascidos indesejados, também não consta que batessem nas mulheres, as maltratassem ou matassem como hoje acontece frequentemente por questões de sexo ou ainda mais frívolas.
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Pelo seu generoso contributo, aqui, muito sinceramente, agradeço aos Leitores P. Rufino e José Neves.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda-feira.
Saúde, sorte, alegria - é o que vos desejo a todos.
Aspásia e Péricles de José Garnelo Y Alda (1866-1944)
(...) Passar da perfeição civilizada de Sófocles e de Platão para a vida grega em bruto é quase como sofrer uma deslocação mental.
(...) Consideremos, portanto, a posição das mulheres em Atenas. É opinião aceite, refutada, que eu saiba, por ninguém (...) que a mulher ateniense vivia numa reclusão quase oriental, olhada com indiferença, mesmo com desprezo. A prova tiramo-la, em parte, directamente, da literatura e, em parte, do inferior estado legal das mulheres. A literatura mostra-nos uma sociedade totalmente masculina: a vida doméstica não desempenha nenhum papel. A comédia antiga trata quase só de homens (com excepção de Lisístrata e Mulheres no Parlamento); nos diálogos de Platão os interlocutores são sempre homens; O Banquete, tanto o de Platão como o de Xenofonte, mostram claramente que, quando um cavalheiro convidava hóspedes, as únicas mulheres presentes eram as que não tinham reputação a perder, excepto a profissional; na verdade, na questão de Neera, dá-se testemunho de que uma das esposas jantou e bebeu com os hóspedes de seu marido, como prova presuntiva de que se trata de uma prostituta.
A casa Ateniense dividia-se em: aposentos dos homens, e das mulheres. A parte destinada às mulheres tinha ferrolhos e trancas (Xenofante, Económico). As mulheres não saíam, senão vigiadas, a não ser que se dirigissem a alguns dos festivais femininos. Na tragédia (na Electra e na Antígona de Sófocles) por duas vezes as raparigas são bruscamente mandadas para casa, que é o lugar mais adequado para elas. (...)
Na verdade, as ligações românticas de que ouvimos falar, e com muita frequência, são com rapazes e jovens adultos: o amor homossexual era tido como coisa normal e tratado com tanto à vontade como o heterossexual (...). Platão tem alguns belos passos em que descreve a beleza e a modéstia de jovens rapazes, e a ternura e respeito com que os homens os tratavam.
(...) A mulher é a dona de casa e pouco mais; de facto, ele [Xenofonte] até diz expressamente que prefere que a sua jovem esposa seja completamente ignorante, para que ele mesmo lhe posa ensinar o que ele quer que ela saiba.
Aspásia, amante de Péricles
A educação das raparigas era passada em claro; quando queriam a companhia de mulheres inteligentes, os Atenienses voltavam-se para a classe das cultas mulheres estrangeiras, muitas vezes iónias, que eram conhecidas por 'companheiras', hetairai, mulheres que ocupavam uma posição mais ou menos entre a dama e a prostituta ateniense. (...) Será preciso acrescentar mais? Quando o testemunho da lei se vem juntar ao da literatura (...) não é mais do que evidente que os Atenienses tratavam as suas mulheres com considerável indiferença, a que não será excessivo preferir o termo 'desprezo'? Poderemos duvidar das provas de que, nesta sociedade predominantemente masculina, as mulheres se moviam numa esfera tão restrita que poderíamos muito bem considerá-las como uma 'área de depressão'? [in Os Gregos de H.D. Kitto; a continuar]
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Da realidade à ficção
Deusas, mitos
Artemis
[Assim me via um Poeta que muito me amou: eu era Artemis nos seus poemas ao falar de mim enquanto adolescente]
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Mas não. Nem Artemis nem 'mulher de Atenas': etrusca, sempre o disse.
Façam-me um teste: o meu ADN prová-lo-á.
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E, caso estejam para aí virados, queiram, por favor, descer até à confissão de Beatrice, o amor secreto de Helmut Kohl e à evocação que faço de um segredo muito bem guardado sobre um grande romance de amor de que, em parte, fui testemunha.
Escrevi um post que me deixou emocionada. Queria continuar para este mas tive que fazer uma pausa; pensei, até, não escrever hoje mais nada. Há assuntos que me deixam perturbada e aquele sobre o qual falei, mais abaixo, é dos que mais me inquietam.
Mas, enfim, sendo o tema triste, também não quero acabar o dia assim e, sobretudo, não quero que, quem me lê, fique com pensamentos menos felizes. Não que tenhamos que andar a rir e estar bem dispostos a toda a hora; mas também escuso de contribuir para a inquietação alheia.
Por isso, sigo para as margens do Minho, esse lugar de sonho que não conhecia e que descobri, em estado de puro encantamento.
Estes meus dias têm sido uma maravilha. Tendo, ao todo, vinte e poucos dias de férias por ano, divido-os e, de cada vez, uso-os com um entusiasmo infantil, aproveitando cada hora, alongando o tempo para poder ver muita coisa, para poder palmilhar muitos lugares. Se vamos de carro, peço para parar quase de metro a metro, deixando o meu marido à beira de um ataque de nervos. Geralmente diz-me que não dá para parar no meio da estrada. Contudo, como agora as estradas estão desertas, não tem desculpa e, por isso, fomos parando para que eu espreitasse uma queda de água, uma vista de tirar a respiração, um monte envolto em névoa, um reflexo no rio. Quando caminhamos, acontece-me o mesmo: paro, vejo, fotografo. Quando dou por mim, já ele vai lá à frente. Outras vezes, já vem na minha direcção, para me resgatar à contemplação. O que mais o ouço dizer nestas ocasiões é: 'Assim não dá'. Como sei que dá, deixo-me corrigir momentaneamente para logo, pouco depois, me esquecer e prevaricar.
Depois de Óbidos, do Gerês, de uma breve incursão à Galiza, o alto Minho. E aqui o fascínio maior das margens do Minho. Nunca por aqui tinha andado. Sempre o atravessava, por ponte, ou o via da beira das cidades ou das estradas. Agora não. Agora, em estado de quase hipnose, caminhei ao longo da ecopista de Vila Nova de Cerveira. São quilómetros, creio que doze, de paraíso. A névoa, o frio, a pureza do ar, a limpidez do azul do céu, as águas que mais parecem um caldo de vida, um espelho, uma parcela intocada do planeta terra - que beleza, que beleza.
Muitas vezes aqui falo de beleza. Procuro a beleza, preciso dela, alimento-me dela. E vejo-a em todo o lado. Vejo-a nas ruas, nas estradas, nos rios, nos mares, nos montes, nas planícies, vejo-a nos rostos com que me cruzo, vejo-a nos sorrisos das crianças, nas rugas dos velhos, vejo-a na cumplicidade de um olhar, vejo-a na intimidade de duas mãos que se procuram, vejo-a em esculturas, em edifícios, em pinturas, na luz que se pronuncia sobre um lago, vejo-a na sombra que cai obliquamente sobre um muro, vejo-a nas palavras ditas, nas palavras escritas, vejo-a na síntese perfeita que é a poesia, vejo-a nas palavras que se conjugam numa toada que me emociona, vejo-a na limpidez de uma expressão algébrica ou na simplicidade de um modelo matemático perfeito, vejo-a nas flores, nas árvores, nos pássaros, num cão que se agacha, a desafiar o dono, para logo desatar a correr, vejo-a na música, na música que me faz fechar os olhos e não pensar em nada, na música que me dá vontade deitar no chão e deixar que a música que parece sair da terra me invada, na música que me toma nos braços e me abraça com força, na música que parece descer dos céus, no voo de quem dança como se desafiasse a gravidade, vejo-a na pele dos livros, na rugosidade das letras impressas, vejo-a na sedução, na aproximação a quem se quer conquistar ou apenas conhecer, vejo-a nas manhãs luminosas, vejo-a nas tardes que chegam com a promessa da noite, vejo-a no silêncio e intimidade das longas noites, vejo-a nos afectos expressos, ou nos disfarçados, ou nos antecipados, vejo-a num ventre que começa a dilatar-se para acolher uma nova vida, vejo-a no milagre da existência, vejo-a no movimento de uma árvore oscilando com o vento, vejo-a na chuva que cai e canta -- vejo-a em tantos, tantos lugares, vejo-a em tantos perfeitos instantes, em tantos, tantos.
Caminho pelas margens do rio e ora os reflexos são azuis, ora se desenham recantos em verde, em verde que te quero verde. Aproximo-me, aproximo-me muito, os pés quase se enterram na terra macia e molhada, uma terra negra e fértil. Penso que deveria poder aqui estar não dois ou três dias mas duas ou três semanas, queria estar aqui desde o nascer do sol até ao cair da noite. Ou de noite, se não tivesse medo.
Mais à frente a cor quase desaparece. As árvores tornam-se transparentes, de uma leveza abstracta, uma filigrana que procura a água para nela se reflectir. Por trás, os montes são uma sombra subtil.
Na água há pequenos riscos em azul, pequenos segmentos de céu. E então reparo num corpo que desliza pelo rio. As águas parecem imóveis mas aquele corpo esguio e escuro avança a grande velocidade. É um tronco. Naquela atmosfera que parece suspensa no tempo, o que terá sido uma árvore, é agora um veloz rasgo na harmonia silenciosa.
Mais à frente, o rio estreita-se, as margens aproximam-se reparo num grupo de canas, penso que sejam canas, agrupadas quase como um leque de plumas douradas. Reflectem-se na água e o reflexo é ainda mais dourado, como se as águas do rio quisessem embelezar a natureza já de si tão bela.
De um dos lados, sobe pela encosta uma quietude de cores suaves que pousa num grupo de casas. Assim de longe quase não se vêem mas, se pararmos para as focar melhor, reparamos como estão numa posição de onde podem ver o rio, protegidas pela serra maternal, assentes num planalto afável, recebendo a luz do sol sem adversidades, felizes na amenidade de um colorido todo ele transparência e leveza, entre terras arranjadas com o desvelo de quem borda enxovais.
E eu vou andando. Há muitos pássaros aqui, muitos, e há postos de observação junto às margens. vejo-os nas árvores, vejo-os a voarem, e cantam, cantam muito. E há patos, garças, mergulhões. E outros que não reconheço.
Mais à frente a paisagem é uma pintura de cores intensas, reflexos, sombras, verdes, azuis, negros, os brancos da luz, os prateados das sombras.
E os cheiros. Cheira muito a terra fértil, a águas, a cedros, a toda a espécie de árvores, a limos, a lamas.
No outro dia, Leitor a quem muito agradeço, enviou-me um mail que intitulou assim: 'Há padrões objectivos de beleza?' e, no texto, fazia referência a um interessante artigo da Nature no qual se falava em estudos que tentavam comprovar o que, num rosto, se poderia classificar como belo.
A simetria está entre os factores mais decisivos para que se reconheça como belo um rosto. Mas a beleza ou os conceitos estéticos e o que a eles está associado é matéria vasta que os neurocientistas estudam, certamente com enorme agrado. Transcrevo apenas um excerto:
The study of facial attractiveness is also helping neuroscientists to start to understand a completely different aspect of society: aesthetics. “In so far as we understand something about the neural response to beauty, we can begin to generate hypotheses about neural responses to other objects, including art objects,” says Chatterjee, who is also the author of The Aesthetic Brain (Oxford Univ. Press, 2013). Take Nefertiti's bust, for example. Academics agree that it probably does not resemble the real queen. Among other things, the sculptor Thutmose rendered it remarkably symmetrical.
Why would he do that? “People have used the metaphor of artists as intuitive neuroscientists, in the sense that they have been able to engage the brain mechanisms that make people become interested or shocked or enamoured,” says Nadal. He speculates that Thutmose was not after realism or even physical attractiveness when he made his masterpiece. Instead, he was taking advantage of the halo effect, accessing the deep link that the brain makes between beauty and other virtues. “Beauty would convey Nefertiti's moral qualities, like goodness or justice or rectitude,” Nadal says. And as we know from historical accounts of her peaceful and prosperous reign, this queen was much more than just a pretty face.
E, embora o artigo se refira à beleza humana, penso que talvez os conceitos ou as conclusões sejam extensíveis a outras áreas: talvez também às paisagens. E talvez que as paisagens que incorporem elementos de simetria como os que resultam da reflexão sejam tão belas por isso mesmo: há uma harmonia que nos tranquiliza, a harmonia que resulta do que se reconhece -- o espelho no espelho.
O texto vai longo e, uma vez mais, junto de vós me penitencio. Tenho que me controlar para não vos enfastiar mas a verdade é que, agora que revejo estas fotografias, tenho a maior dificuldade em seleccionar apenas umas quantas para aqui colocar, tal a beleza que me parece ver em tantas delas. Não falo na qualidade das fotografias em si, claro, falo na suprema beleza da paisagem fotografada.
Há bocado, antes de se ir deitar, o meu marido perguntou-me sobre o que é que eu estava a escrever. Disse-lhe que sobre as margens do rio Minho. Riu-se. Disse que se espantava com o tanto que eu arranjava que dizer sobre o mesmo assunto. Disse-me que eu deveria era dizer que estávamos admirados por não termos encontrado por aqui o Marcelo vestido de minhota, nem na Nazaré vestido de nazarena, com sete saias. Pois. Talvez devesse. Mas não me apeteceu. Marcelo e a sua demagogia barata fazem parte do lado feio da vida, pelo menos da vida que eu amo.
Por isso, ousei maçar-vos, uma vez mais, com imagens dos caminhos que percorri e com palavras sobre o que vi. Para me acompanhar, enquanto escrevia, tive aqui comigo o canto de quem sabe buscar no interior da terra a força da natureza e no alto dos montes a leveza do voo, conseguindo, assim, falar com os deuses. Soubesse eu também, nem que apenas um pouco, nem que fosse apenas para lhes agradecer a beleza que me é dado testemunhar.
......
No post abaixo falo-vos do memorial triste que descobri por aqui, no lugar de Lovelhe.
Nas empresas que pertencem a Grupos é normal criarem-se órgãos de gestão conjunta por forma a capturar sinergias, adquirir eficiências e tudo isso de que os consultores gostam de falar e as administrações de ouvir.
Criam-se Serviços Partilhados ou Direcções Centrais, estudam-se os modelos de governo desses novos serviços que trabalham para todas as empresas, aferem-se indicadores que reflictam o bom funcionamento dos mesmos, etc, etc, etc. Conheço bem estes processos.
Quando isto acontece, criam-se mecanismos que permitam validar se está tudo a funcionar bem e, se necessário for, corrige-se a trajectória ou procede-se, com alguma regularidade, a um conjunto de ajustamentos.
Claro que uma empresas ou um grupo de empresas não é a mesma coisa que um conjunto de países. Claro que não, é mais simples, muito mais simples. Terá o seu qb de política, de diplomacia, de militarismo, de democracia, de estratégia, de humanismo, etc, mas tem sobretudo a ver com gestão.
Mas se nas empresas se avança de uma forma organizada, estudada, monitorizada, como é que nos países se avança à maluca como aconteceu com a adopção da moeda única?
A Europa não tem um modelo de governo a sério, não tem órgãos que monitorizem e validem e corrijam as trajectórias, não tem sequer gente capaz à frente dos lugares mais importantes. Quando nos países de origem se querem ver livres de alguém, de emplastros, de pesos-mortos, de alforrecas ou chernes, chutam-nos para a Europa. Depois, o que acontece é que cada totó que tem assento nos lugares onde mais se decidem os destinos da Europa responde é perante o seu eleitorado doméstico onde as motivações são culturais e regionais, mal informadas sobre o que se passa nos outros Estados.
Aquilo a que se tem vindo a assistir nesta Europa desgraçada, acéfala, à deriva, é uma perfeita aberração: para obedecer a ditames absurdos, para encaixar em tratados ridiculamente inalcançáveis e para agradar aos eleitorados nacionais, um bando de anormais tomou decisões que, à semelhança de tudo o que decidem, representaram um atentado brutal contra um dos seus Estados. Uma União como esta, em que já nada faz sentido e que não tem governabilidade ou que não é monitorizada pelos cidadãos dos seus Estados membros, é um aborto, uma porcaria.
Não faz sentido um país pertencer a uma União que destrói a vida do seu povo, que destrói a sua dignidade, a sua economia, a sua esperança.
Não me interessa saber se a culpa foi do partido A, B ou C ou do lunático X, do inexperiente Y ou do atrasado mental Z. O que me interessa é como é que, no conjunto, deixámos que aqui se chegasse e ainda continuamos a fechar os olhos a este projecto falhado.
Tragédia, miséria, humilhação - e tudo é encarado na maior ligeireza, como se isto pudesse ser reduzido a pequenos episódios. Para evitar mais tragédia, miséria, humilhação todos nós nos deveríamos levantar para exigir que ou nunca mais tal aconteceria ou bardamerda para esta porcaria (e peço imensa desculpa pelo meu linguajar mas é o que me ocorre dizer a este propósito).
O que aconteceu com a Grécia e que está ainda a acontecer e as reacções que ouço mostram bem a estupidez que é esta União Europeia. Da forma como está e como funciona, acho que, ou há a capacidade de a repensar e refundar (o que me parece ser altamente improvável) ou mais vale limpar as mãos à parede -- antes que haja alguma coisa ainda mais séria (e que já me pareceu mais longínqua).
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Pedro Santos Guerreiro, com aquele seu ar de menino bem comportado (daqueles que deixam crescer a barba para ver se parecem mais crescidos), continua a mostrar que é inteligente, lúcido, e um excelente comunicador. Escreveu mais um artigo brilhante e eu não poderia deixar passar isso em claro.
O Syriza já está destruído, podemos agora salvar a Grécia?
Chegará o momento em que tiraremos as mãos das carteiras e as poremos na consciência. Chegará o momento em que já não veremos os ricos que roubaram mas os pobres que ficaram. Em que não quereremos ressarcimento mas reparação. Em que perceberemos que não se pede sequer solidariedade, mas piedade. Em que nem os sádicos se divertirão com o espetáculo degradante dos políticos gregos. A União Europeia foi longe de mais na violência estéril e vingativa. Para destruir o Syriza está a ceifar-se um povo. Já não é indignação, é súplica: SOS Grécia. E se tudo o resto falhar, apele-se à inteligência, que não é de esquerda nem de direita, pois é preciso mudar aquele plano que, além de horrível, é burro, é mau, é pior para todos.
Nos palácios de Bruxelas, nos sofás de Berlim ou mesmo nos bancos de jardim de Lisboa permanece apetecível distribuir culpas e medir ideologicamente o debate. Mas nas ruas de Atenas já passámos essa fase. Sobra o desespero de saber que nada vai valer a pena porque pagar ou não pagar parece indiferente, o tudo ou nada resultará sempre no pouco, no de menos, no insuficiente, porque o plano não funciona. Repito: a Grécia vai ter uma recessão pior do que a que os Estados Unidos viveram na Grande Depressão de 1929. Repito: o plano económico vai falhar porque foi concebido para falhar. Repito: desistimos dos gregos e resistimos a ver o desastre encomendado.
(...)
É preciso mudar o plano. Somar à austeridade um programa de investimento que estimule a economia e que apoie casos sociais de pobreza. Isso é ser inteligente, até porque é a única forma de tentar recuperar parte da dívida. Talvez a linha dura dos alemães queira apenas humilhar o Syriza e tenha feito um plano para que, depois da capitulação de Tsipras, mude o plano para melhor. Até seria bom que isso fosse verdade. Seria maquiavélico mas, ao menos, saberíamos que a loucura iria mudar. E que, portanto, a Grécia haveria de ter uma saída da crise em vez de uma saída do euro. Para já, o que vemos é o que temos, um país inteiro a afundar-se na desgraça.
Os gregos estão desesperados porque a situação é desesperante. Coloquemo-nos no lugar deles por um minuto: um governo de extrema-esquerda ajoelhado depois de cinco anos de tareia, de desemprego e de austeridade, depois de décadas de corrupção e roubo institucionalizado com os governos de centro. E o que lhes dizem que se segue? Pobreza. Talvez a esta hora também estivéssemos na rua.
[Artigo completo no Expresso; recomendo a sua leitura. E daqui envio os meus parabéns e o meu agradecimento ao Pedro Santos Guerreiro, um grande jornalista]
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Outra análise que recomendo é a de Viriato Soromenho Marques, no DN.
O pior de dois mundos
No tempo em que Deus não tinha ainda morrido, o espetáculo da tragédia de série B em que a Europa se transformou provocaria tremor e ranger de dentes face à expectativa de um castigo divino. Obrigar um primeiro-ministro a impor um programa em que não acredita, que foi derrotado esmagadoramente num referendo, parece desprovido não só de bondade mas de eficácia. Agravar a austeridade quando ninguém, mesmo entre os credores (FMI, por exemplo), parece acreditar que a dívida grega já existente possa alguma vez ser paga, é um absurdo cruel. A Grécia transformou--se no labirinto em que a lógica e a ética pública dos governantes europeus se perdeu. Por um lado, acusa-se a Grécia de - e isso é verdade - não ter sido capaz de construir um Estado moderno pós-clientelar, baseado em sistemas universais abstratos (nomeadamente de recolha de impostos), por outro, lança-se sobre ela uma barragem de planos de "resgate" que aniquilam o embrião de competência e organização administrativas, além de fazerem recuar os indicadores macroeconómicos para os níveis de uma economia de pós--guerra num país derrotado, deixando milhões de cidadãos aturdidos, empobrecidos e entregues à mais devastadora e desamparada das solidões. Ninguém sabe se Tsipras cumprirá o titânico e envenenado caderno de encargos que poderá garantir a Atenas arrastar-se num terceiro resgate. Mas, rompendo o véu obscuro da novilíngua do Eurogrupo, se a "confiança" (leia-se, submissão) não for demonstrada, o "acordo" (leia-se: ultimato) falhará. Nessa altura, talvez a Grécia seja arrastada para fora da zona euro numa explosão de desordem e violência social. Com isso, a zona euro entrará na lista infame dos crimes contra a humanidade.
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As imagens foram obtidas na net e mostram o dia a dia grego com execpeção da última que mostra um homem derrotado, humilhado até à exaustão (independentemente de se ele agiu de forma madura ou inteligente ou não).
A pintura é de Theodore Ralli (pintor grego, 1819-1878), Eavesdropping
A música é do compositor grego Dimitri Mitropoulos --- Greek Sonata 1920 [1. Allegro non troppo (ma con passion) -- piano Charis Dimaras]
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Aconselho também que vejam o vídeo que Leitor, a quem muito agradeço, me deixou em comentário num post abaixo.
E, visto no blog do Embaixador Seixas da Costa, Duas ou Três Coisas, que pergunta: Em 2015, como será?e no Ladrões de Bicicletas onde Nuno Serra pergunta Fundo de Activos ou Pacote de Indemnizações?, um quadro com números que nos deveriam fazer pensar. E chorar. E lutar.
Uma vergonha insuportável.
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Vinha com ideia de escrever sobre amor, de incluir uma música da Melody Gardot, coisinhas saborosas e estivais desse género. Afinal, deu-me para isto. A ver se mais logo não me desvio dos meus românticos propósitos.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela sexta-feira.