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sexta-feira, março 03, 2017

Alô, alô, Juiz Carlos Alexandre!
Ora, então, dizia um colega seu, a propósito do Eng. Sócrates, que "quem cabritos vende e cabras não tem de algum lado lhe vem"
Referiria-se-ia ele também ao facto de, pouco depois, vir, V.S.ª, também a receber um empréstimo de milhares de um seu amigo?
(E que amigo, Ex.ª... logo um Procurador suspeito de corrupção)


Escreve o insuspeito Observador notícia que me deixa boquiaberta. Para a mim própria me convencer de que não estou a delirar, cito um excerto:

Procurador suspeito de corrupção terá emprestado 10 mil euros a Carlos Alexandre



Orlando Figueira, suspeito de corrupção e um dos principais arguidos da Operação Fizz, terá emprestado 10 mil euros ao juiz Carlos Alexandre. Montante que já foi devolvido pelo magistrado do Tribunal Central de Instrução Criminal. Estes factos foram explicados pelo próprio juiz Carlos Alexandre em declarações prestadas como testemunha nos autos da Operação Fizz.


A notícia é avançada pelo jornal Público, que dá conta de vários detalhes desta situação. Amigos há mais de 25 anos, desde altura em que trabalharam juntos no tribunal de Vila Franca de Xira, Orlando Figueira terá ajudado Carlos Alexandre a agilizar o pagamento da construção de uma casa na sua terra natal, em Mação.

Carlos Alexandre, conta o mesmo jornal, tinha pedido um empréstimo de 100 mil euros à Caixa Agrícola para ajudar à construção da casa. No entanto, o dinheiro só era libertado em prestações e dependia dos avanços da obra. Em outubro de 2015, os responsáveis do banco concluíram que a obra não tinha avançado o suficiente para libertarem 10 mil euros que o juiz precisava para continuar a obra.

O juiz terá então desabafado com o seu amigo Orlando Figueira, que se prontificou a ajudar. De acordo com o Público, que cita o auto de inquirição de Carlos Alexandre no DCIAP, o juiz terá ainda hesitado em aceitar a ajuda de Figueira, mas, perante a insistência, acabou por aceitar a oferta.

(...)
Orlando Figueira, procurador que deixou o Departamento Central de Investigação e Acção Penal (DCIAP) para se juntar ao BCP, é suspeito de ter recebido 760 mil euros e outras vantagens para dois processos em que se investigavam crimes de branqueamento de capitais e que envolviam Manuel Vicente, vice-Presidente angolano e ex-presidente da Sonangol. Em linhas gerais, é disso que trata a Operação Fizz, que o Observador explica aqui.
(...)

E eu leio isto e a minha alma fica parva. 

Pois é esta criatura --- que, em entrevista, há tempos, ao Expresso, já tinha mostrado ser uma criatura pequenina, centrada em si própria, um sujeitinho deslumbrado, com a mania dos carros e das casas, com dívidas não negligenciáveis ao banco, com milhares em cartões de crédito e mais não sei o quê... que afinal, sabe-se agora, também aceita empréstimos de amigos (ainda por cima amigos que, à vista desarmada, enriqueciam sem se perceber como) --- que fundamenta uma decisão altamente penalizante para com outra pessoa baseando-se sobretudo em juízos de índole moral...? Ou que, referindo-se a Sócrates e ao amigo Carlos Santos Silva, que lhe emprestou dinheiro,  conclui que ninguém tem amigos tão generosos e, portanto, que o dinheiro não era do amigo mas, sim, dele, Sócrates?

Já viu bem, Ex.ª Senhoria Carlos Alexandre..? E se nós concluirmos que o dinheiro do Orlandinho era mas era seu? Que o Procurador Orlandinho não passava de uma barriga de aluguer para o seu dinheiro? Gostava....?

E eu interrogo-me: mas é isto um juiz? Qual a credibilidade de um sonso destes...?

Que moral tem um saloio destes (Saloio de Mação, intitula-se a criatura) que -- depois de ter mantido preso José Sócrates com base em indícios que outro juiz, mais tarde, metaforicamente descreveria como quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado lhe vem -- anda a receber milhares de euros emprestados de um amigo...? 


E que presciência tem um imprudente destes que não suspeita que o enriquecimento do amigo levantava dúvidas...? E que integridade moral tem um imprudente destes que, depois de tudo o que fez e disse no caso de Sócrates, perante uma oferta de empréstimo, começa por se fazer de caro para, com uma simples insistência, logo aceitar...? É assim tão fácil de convencer, o super-juiz Alex...? 

E é um tosco destes uma das figuras mais poderosas deste país?

Mas está tudo doido ou quê? 

Eu olho para isto e, uma vez mais, penso que tem que haver maneira de nos defendermos de ficar nas mãos de malucos. 

A democracia é uma maravilha e a separação de poderes é outra. E temos que defender isto com unhas e dentes.

Mas quando a coisa degenera e começam a aparecer aberrações que transformam a democracia numa anedota e a separação de poderes num risco e nos vemos à mercê da decisão de psicopatas, lunáticos, estarolas, palhaços, moralistas patológicos, megalómanos, frustrados e outros doentes, deveremos pensar qual a escapatória. Tem que haver. Uma escapatória legal, claro. Ou, pelo menos, consensualmente legítima.

Mais uma vez penso no Presidente da República.
Felizmente já nos vimos livres do outro --ue esse era outro em quem também não nos podíamos fiar. Este, o Marcelo, até ver, apesar de um ou outro excesso, tem provado ser pessoa decente. 
Não sei como -- nem sei, sequer, se pode fazer alguma coisa -- mas acho que ele ou alguém (ou um movimento qualquer) deveriam, no mínimo, correr com este Carlos Alexandre. O sujeito não tem moral para exercer o cargo que ocupa. Descredibiliza o exercício da Justiça. E é um perigo para quem tem a pouca sorte de se ver nas mãos dele. Credo, cruzes, canhoto. 


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As duas últimas fotografias são de Ève Morcrette

A escolha das fotografias do Super-Juiz Alex para enfeitar o texto é de minha responsabilidade (ou seja, não aparecem no artigo do Observador)

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Caso vos apeteceça lavar a alma, aconselho os dois posts abaixo. 
É outro comprimento de onda. Já a seguir, Adélia Prado.

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Shopsi



Hoje completa um ano que tou fazendo terapia
- O que você conta ao doutor?

Que tenho medo panifóbico de ver minha mãe morrer.
  - Só isso?

Só. Coisa à toa feito não comer três dias porque vi formiga de asas, isso eu não conto mesmo. Só converso coisa séria.
- E ele?

É muito paciencioso. Diz que meu caso é difícil mas tem cura com o tempo. Qualquer dia me convida pra uma sessão no sítio.
- Você topa?

Tou pensando. Vai que aparece lá uma formiga de asas e apronta aquele escândalo. Me diz com que cara eu volto no consultório do homem?
- Mas ele tá lá pra isso.

Isso o quê? Tchauzinho, Catarina.
- Tchau.


[Shopsi - Adélia Prado; lido por Adélia Prado e Jorge Emil]



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Uma vez mais, fotografias de Ève Morcrette.

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E queiram descer, por favor, caso queiram ouvir a voz de uma mulher indecente.

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Do desejo, da noite, do desejo, alcoólicas



Se eu disser que vi um pássaro
Sobre o teu sexo, deverias crer?
E se não for verdade, em nada mudará o Universo.
Se eu disser que o desejo é Eternidade
Porque o instante arde interminável
Deverias crer? E se não for verdade
Tantos o disseram que talvez possa ser.
No desejo nos vêm sofomanias, adornos
Impudência, pejo. E agora digo que há um pássaro
Voando sobre o Tejo. Por que não posso
Pontilhar de inocência e poesia
Ossos, sangue, carne, o agora
E tudo isso em nós que se fará disforme?


[in HILST, Hilda. Do desejo]



Hilda Hilst: Quatro poemas na voz da autora



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Fotografias de Ève Morcrette

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