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sábado, agosto 24, 2024

Então e nós?
Pink e a filha
-- Mais um momento tocante da Convenção Democrata --
[Assim até tenho um pretexto para me alongar muito a propósito da hesitação entre Kamala Harris e Trump por parte do Bocas Soares]

 

Pouco me tenho informado. 

Tenho sido um bocado selectiva. Vou ao Guardian, vou ao NYT, vou ao Madame. 

Aos nossos jornais online quase não tenho paciência pois obrigam-me a jogar àqueles vídeojogos em que temos que apanhar glutões antes que nos devorem ou em que temos que eliminar inimigos que aparecem de onde menos se esperam: abrem pop-ups por tudo o que é canto e esquina, são anúncios a abrirem por cima, por baixo, pelos lados. 

Mal aparecem, vou, a correr, ver onde está a cruz para os fechar. Nem vejo de que falam. A gaita é quando nos toureiam e a cruz significa 'fechar depois de ver'. A gente clica na maior inocência e abre-se o anúncio. E quando penso que já eliminei tudo o que havia para eliminar, mal clico para abrir um artigo, volta tudo ao princípio. 

Não tenho pachorra. 

Sei que os jornais têm que ser financiados mas esta forma descabelada em que vale tudo, em que já nem querem saber se a gente tem pachorra para andar a fechar janelas atrás de janelas, não deve ser minimamente eficaz para os investidores em publicidade.

Portanto, para além dos acima referidos, vou bebendo alguma informação através dos blogs da minha lista de ilustres  Frescos e Bons (barra vertical à direita). Fico a saber, por exemplo, que o inteligente Hugo Soares, o sarrafeiro de serviço do PSD, entre Trump e Kamala não saberia escolher. Boa Mike. A mim não me espanta porque sempre o tive por aquilo que ele é: um bocas, uma tretas, um tangas. Quase que um dilema semelhante se me poria se tivesse que escolher entre um Venturas e um Hugo Soares. Não saberia o que fazer.

Também sei, mas isso foi porque ouvi agora, que o Marcelo desta vez não se vai meter no meio dos bombeiros no fogo da Madeira. Não deve ser para não atrapalhar, como da outra vez, mas porque o seu correligionário Albuquerque parece ter andado a meter água do princípio até agora (a meter água e não é para apagar o fogo...). Aliás, há um dois dias, de raspão, ouvi o pimpão a dizer que 'o combate ao incêndio tem estado a ser um sucesso'. Grande artista.

Mas, enfim, é o que é.  A malta pimba, carregada de tiques tuga, parece que sai à cena em grande força na silly season.

Portanto, para não ser contagiada, passo adiante.

Fico com um momento que me agradou: Pink e a filha. 

 P!NK and her daughter perform 'What about Us' at 2024 Democratic National Convention

P!NK, along with her daughter Willow, performed a  stripped-down version of her hit single "What About Us?" on Thursday on the final night of the Democratic National Convention in Chicago.


Bom fim de semana!

quinta-feira, setembro 19, 2013

Num 19 de Setembro há muito tempo atrás


No post abaixo falei de coisas sérias (FMI, Blanchard), coisas ridículas (Marco António Costa), coisas recorrentes (Standard and Poor’s), falo na triste sina deste pobre país de gente desatenta e manipulável. Mas isso é a seguir.

Aqui, agora, vou falar de outra coisa. Não quero acabar o meu dia com conversas aborrecidas. 

*
Me and Bobby Mcgee
 - muito dancei eu ao som desta música -

(Não podendo ter aqui a Janis Joplin, tenho a Pink)



*


Faz este dia 19 de Setembro muitos anos que dei um passo que viria a marcar a minha vida. Já falei algumas vezes nisto mas gosto de o recordar.




Eu namorava há quase três anos um poeta cantor, que me enchia de carinhos, de sonhos, que me colocava num altar, num pedestal. Eu era aquela com quem ele viver para o resto da vida, a única e definitiva mulher da sua vida. A sua deusa, a sua musa.

Mas eu nunca fui santa, quanto mais deusa.

Tinha visto, já várias vezes, de relance, um outro, esse sim com cara de cristo, corpo de atleta, jeito de guerrilheiro. Mesmo o meu género. 

(Chamo-lhe cristo e a minha filha, quando depois lê isto, discorda, como se fosse um exagero meu: ó mãe, um cristo...? Não me admiro. Mas ela havia de o ter visto naquela altura)

Ele olhava-se com olhares longos e gulosos e eu talvez fingisse algum pudor mas tinha o cuidado de tentar que ele percebesse que era um falso pudor.




Não gosto de situações pouco claras e, por isso, sem medir bem as consequências, um dia disse ao meu namorado que tinha conhecido o homem da minha vida (e que não era ele). Como é bom de imaginar, ele quase caíu fulminado. Sosseguei-o: eu não sabia quem era esse tal, não sabia se o voltaria a ver.




Mas, de vez em quando, via-o. Uma vez vi-o rodeado de meninas, algumas sentadas ao seu colo, cheias de peninha, e que lhe faziam desenhos e dedicatórias no braço engessado. Soube depois: era desportista mesmo e o desporto nem sempre dá muita saúde, tinha partido mais um osso.

Outra vez, uma ex-colega de liceu contou-me, enlevada, que tinha um namorado fabuloso, só qualidades, giro, giro que só visto, e carinhoso, e culto, que ia lá ter com ela ao apartamento onde ela estava a viver, que ela lhe fazia jantarinhos. Tantos os elogios que pressenti que fosse o cristo guerreiro. Perguntei-lhe o nome dele. A partir daí quando pensava nele associava-lhe esse nome. Achava estranho que um gato daqueles estivesse a namorar uma rapariga tão desengraçada que se armava em mulherzinha. Ele disse-me depois, quando eu mostrei o meu espanto, que ela tinha um corpo e tanto. Disse isso e ponto final como se fosse razão suficiente. Até hoje ainda estou para perceber mas ele nunca foi além dessa explicação e, de resto, nunca gostou de falar das namoradas que teve. Lembro-me que, além disso, ela tinha sempre as mãos geladas, que desagradável devia ser. Mas, enfim, o corpo bem feito deveria compensar também esse pormenor.




Podiam passar-se meses sem eu o ver. Mas, se o via, aquela atracção reacendia-se. Nem me lembrava se ele ainda namoraria a outra ou não. Eu namorava o meu poeta-cantor que, tendo começado a dar aulas, queria marcar casamento comigo para daí por uns meses, coisa que não me deixava muito entusiasmada. 

Uma vez eu ia com umas amigas e cruzámo-nos com o cristo de olhos cor de mel. Elas depois disseram-me 'credo, parecia que te queria comer com os olhos'. E eu respondi  'e eu a ele'. Ficaram alarmadas. 'Mas tu namoras!' Ri-me 'e então?'. Avisaram-me, 'não sejas açambarcadora'. Ri-me. Intuía que guardado estava o bocado para quem o havia de comer.

Até que um dia de temperatura suave como seda, ao fim da tarde, um dia 19 de Setembro, calhou, por uma daquelas coincidências, que fossemos ambos assistir a um concerto, ainda tenho essa música no ouvido. Coloquei-me mesmo atrás dele para o deixar nervoso. Todo o tempo ele esteve numa agitação a querer olhar para trás sem dar muita bandeira. E eu a vê-lo. Ele a querer perceber se eu ainda ali estaria e eu a controlar-lhe os movimentos. Estava com uma amiga e ele com um amigo. A minha amiga percebia que alguma coisa se estava ali a passar. Eu, como ela estava solteira, ainda tentei, 'era bom era para ti' e ela disse 'pois era, mas ele é que nem olha para mim'.




Mas, enquanto dizia isso, eu estava cheia de vontade que ele se virasse descaradamente para trás, que metesse conversa comigo, que passasse aos actos e se deixasse de olhares. Mas os homens são uns atados.

Aquilo acabou, saímos ao mesmo tempo, ele só a olhar para perceber para onde é que eu ia e eu a ver que, logo por coincidência, íamos para o mesmo sítio. Ele ia sozinho e eu com a minha amiga. Ele sempre a olhar e a minha amiga a dizer 'ele não tira os olhos de ti' e eu a rir.

Depois a minha amiga despediu-se e ele ficou numa paragem do Largo do Rato e eu tinha que atravessar a rua para ir para casa. Mas nisto umas senhoras vieram perguntar-me como é que se ia para um sítio qualquer. Nem pensei duas vezes. Fui ter com ele e perguntei-lhe se ele sabia. Não faço ideia do que ele disse. Só sei que, depois de despacharmos as senhoras,ele me perguntou para onde é que eu ia e se podia ir comigo. Eu disse-lhe que a rua era livre. Ele foi. Quando nos despedimos à porta de casa, combinámos encontrarmo-nos no dia seguinte. Nesse dia seguinte, eu disse-lhe que namorava. Respondeu-me que não tinha ciúmes. E acrescentou que nem os casamentos são de pedra e cal, quanto mais os namoros. Achei que a argumentação fazia sentido. E, entendidos que estávamos, tornámo-nos inseparáveis.




Andei com os dois durante alguns meses. Mas eles eram uns picuinhas. O meu namorado oficial não aceitava que eu andasse sempre com outro e esse outro não aceitava que eu passasse os fins de semana e algumas partes de dia da semana com o meu namorado. Gerir a minha agenda de forma a que não se encontrassem passou a ser muito difícil. Uma vez cruzaram-se e o meu namorado queria andar à pancada com o outro. Um stress. Para ajudar à festa, as minhas amigas gostavam de me pregar partidas. Quando sabiam que eu estava à espera de um, diziam que vinha aí o outro. Assustava-me imenso, ficava com o coração a bater à força toda, com medo que a coisa acabasse mesmo em tareia. Elas riam-se.

Eles eram o oposto um do outro. O meu namorado amava-me muito, demonstrava-o a toda a hora, de todas as maneiras, jurava-me amor eterno. O outro dizia que não fazia ideia de se no dia seguinte ainda gostaria de mim, admitia que sim mas não garantia.

Isto tornava-me ainda mais difícil optar por um. Por um lado detestava sentir-me amarrada a planos alheios, por outro fazia-me impressão dar um salto no escuro, sem saber se não ficaria sozinha no dia seguinte. O ideal seria ficar com os dois: um todo idealismo, romantismo, belas palavras, muitos livros, muita música, uma identidade perfeita com esse meu lado, o outro todo corpo, poucas palavras, terra a terra. 




O meu lado de mulher etrusca levava-me a tentar que não me pressionassem e se deixassem estar assim, eu a poder estar ora com um ora com outro. Mas não foi possível, embirravam o tempo todo, e aquilo até já me estava a tirar o sono.

Optei. Acabei com o poeta-cantor mas disse ao cristo que não queria começar a namorar oficialmente com ele logo de imediato, que queria fazer um interregno, queria respirar, descansar a cabeça. Mas não sou muito boa a manter-me fiel a intenções deste género. Ia no Rato (de novo, o Largo do Rato) quando tive aquela conversa de não querer, de imediato, começar um namoro a sério, e ele muito aborrecido, depois de tanta espera para eu correr com o outro, agora uma destas - mas eu irredutível. Fomos conversando naquele comprimento de onda até que, uns metros depois, uns escassos minutos  depois, no Largo de S. Mamede, me esqueci completamente daquela minha firme determinação, lhe virei a cara e o beijei na boca, um beijo que não acabava. Depois fomos andando abraçados e sempre a parar e a beijarmo-nos na boca. Eu tinha um compromisso mas faltei, não nos conseguíamos despegar. Anoiteceu, estava de chuva, e nós abraçados e aos beijos.




Nunca mais nos largámos. Até hoje. 

Nunca me prometeu amor eterno. Aliás, acho que nunca me prometeu nada. Para falar verdade, nem eu a ele. Mas está bem assim.




*

Não sei, se depois disto, terão vontade de me ouvir falar do Blanchard, do FMI, do Marco António Costa e de assuntos igualmente pouco românticos mas, se tiverem, é já aqui a seguir.

*

Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, uma quinta feira cheia de peace and love.