E, portanto, na semana em que se assinalam os três anos de Covid em Portugal, para marcar a data em grande estilo, quando já começava a convencer-me que a minha genética para sempre me levaria por entre os pingos da chuva, fui caçada pelo corona.
Nada de extraordinário. Tinha dormido com ele, tinha convivido de perto com ele durante dois dias... como não...?
Na segunda-feira o meu marido falou que andava com pingo. Nada de mal. Nem ele nem eu ligámos.
De tarde estava com dores de garganta. Estávamos a passar perto de uma farmácia pelo que ele parou e foi comprar um spray. Tranquilo. Continuámos na levezinha.
Na terça-feira disse que achava que estava a constipar-se. Espirrava, tossia, doía-lhe a garganta e... tudo ainda na boazinha. À tarde achou que era melhor comprar uns comprimidos para estes sintomas gripais. Começou a tomar.
Para mim era uma carraspana das antigas. Para ele também.
À noite pediu-me para eu ir buscar o termómetro porque se sentia febril mas estava cansado para o ir buscar. Achei aquilo estranhíssimo. Nem protestei, fui logo buscar. E aí já comecei a desconfiar. Cansado? Tão cansado que me pedia para eu ir buscar o termómetro...? Quando constatámos que estava com febre alta e quando o vi com os olhos muito encarnados fui logo buscar um teste. Óbvio. Imediato.
Positivo.
Mas, portanto, teste positivo na terça à noite. Já dormimos separados.
Os seus sintomas acentuaram-se: cansado, cansado. E tosse. E febril. Mas, sobretudo, cansado.
Quando ia levar-lhe a comida ou ia buscar roupa para mim, volta e meia esquecia-me da máscara. Ele corria comigo, aborrecido com a minha falta de cuidado.
Na quarta-feira mantinha-me bem. Na quinta também. Mas à noite estava com um frio um pouco suspeito. Mas as temperaturas têm estado baixas, as casas frias. Portanto, nada de mais. Não tinha quaisquer sintomas. Continuei a alimentar a esperança de que, pelo tipo de sangue, por não me faltar apanhar sol (dizem que a vitamina D é importante), por qualquer outra coisa e, também, por ter sido vacinada com a dose de reforço e a da gripe em meados de novembro, talvez escapasse.
Mas m sexta acordei com algumas dores meio atípicas: nos pulsos, nas costas, nas pernas, na cabeça. Mas desapareciam assim como apareciam. Fiquei a tentar perceber o que se passava. Levantei-me, sem vontade de me levantar, e sentia-me esquisita. Cansada, cansada. Percebi que estava doente. Fui fazer o teste... e, claro, branco é, galinha o põe. Positiva.
Passei o dia deitada. Tive febre, dores de garganta, dores um pouco por todo o lado. cansada, sem energia, sono.
Temos monitorizado o oxigénio, o que é importante. Temos feito repouso e bebido líquidos.
O meu marido está melhor, já se mexe, já não se sente tão apanhado.
Ontem pensei que não ia conseguir escrever aqui nada. Estava KO de todo. Mas, ao ver o De Ornelas a fugir com o colectivo e eclesiástico rabo à seringa arranjei energia para o zurzir, a ele e aos que o rodeiam e apoiam.
E agora que aqui estou, meio azamboada, a ver a Semifinal do Festival da Canção, cheia de peças de roupa, congestionada como se estivesse com uma gripe das antigas, com dores nas costas, com os olhos a modos que a arder, sem comer nada desde a saladinha do almoço, pensei o mesmo: hoje não vai dar.
Mas isto já se sabe: a força do vício é tramada. Neste caso o vício de escrever.
E não quero que me achem maledicente pois até gostei de algumas canções. Por exemplo, gostei da 7, da 8 e da 10. Mas não consigo dissertar sobre isso. Passaram à Final e isso é que importa.
Só mais uma palavra. Estando já medicados, ficámos na dúvida se deveríamos ligar para a Saúde 24, sobretudo para uma estatística mais actualizada. Ligámos. E fiquei muito agradavelmente surpreendida pela atenção, pelo cuidado. E há pouco ligaram para fazer o acompanhamento. E com mais recomendações. Serviço público de qualidade.
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Esculturas de Su Blackwell feitas com livros em segunda mão
na companhia dos bem dispostos Voodoo Marmalade com Tormento, 10ª canção da semifinal.
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Um bom dia de domingo
Saúde. Boa disposição. Paz.