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sexta-feira, maio 10, 2013

António Barreto na SIC N: a democracia está em perigo. Ângelo Correia na Antena 1: falta consistência política a Passos Coelho. Manuela Ferreira Leite na TVI 24: se as medidas contra os reformados forem adiante, Paulo Portas tem que se demitir e o Governo cai. Jorge Miranda à Lusa: o corte retroactivo de 10% nas reformas é inconstitucional. Passos Coelho segundo o SOL: PSD irrita-o à brava. Revista Visão: 'guerra dentro de portas', com os o nº 1, o nº 2 e o nº 3 do governo todos escalavrados


E podia continuar, tantas são as vozes que se ouvem contra a rebaldaria a que estamos a assistir. E estou a cingir-me a vozes do perímetro supostamente aderente ou simpatizante com os partidos da coligação (ou mesmo com os próprios membros do Governo ou da sua bancada parlamentar).

Claro que poderia também ter falado de um dos vice-presidentes da bancada do PSD, o Miguel Frasquilho, que tem dúvidas que o País esteja a ser bem ajudado e que defende um abaixamento de impostos já para o ano (mas, enfim, em relação ao Frasquilho e ao que ele quer em relação aos impostos, a gente tem é que temer o que ele diz como se fosse mau olhado. Lembro-me do choque fiscal que ele preconizava antes do PSD ganhar eleições com o Cherne Durão, que mal chegou ao governo fez o contrário).

Estive também a ouvir a Quadratura do Círculo e não há já um deles que não fale com desprezo do que se passa neste governo de incompetentes. 

Agora até me pareceu ouvir nas notícias que o Poiares Maduro disse que o ajustamento pode ficar politica e socialmente insustentável (e que terá dito outras coisas coisas que o colocam mais próximo do PS do que do PSD). De gargalhada.

E a capa da revista Visão é eloquente e demonstrativa do nível de desdém e descrédito a que se chegou em relação a esta gente que ainda teima em manter-se no Governo com o único fito de desgraçar ainda mais o País.




Pergunto: esta é a estabilidade que as apertadinhas do regime ainda teimam em defender? 

Relembro: o desemprego oficial já está perto do milhão de pessoas. Se somarmos os que já desistiram de procurar emprego, o desemprego já atingirá, segundo as contas do Expresso 21,5% da população activa. 322 novos desempregados por dia no primeiro trimestre.

Pergunto: esta gente já nem sequer se dá ao respeito?
*


Nota: No post abaixo disserto sobre as diabolizadas PPP. 

terça-feira, abril 03, 2012

António Barreto e o anúncio à TOP Garrafeira do Pingo Doce; o desemprego e a dor da gente (que não sai nos jornais); o ataque ao Estado Social por parte deste Governo; e Chico Buarque e Sophia de Mello Breyner ou a intemporalidade da arte


 Música, por favor e com vossa licença

Rosinha - Só quer é fruta


Anúncio aos vinhos do Pingo Doce - 'A escolha é minha, o prazer é todo seu', assinado: António Barreto, sociólogo, e referindo-se à  Top Garrafeira

Fui ao Pingo Doce à pressa e, quando ia a sair, quase a correr, dei de caras com um grande cartaz com a cara do António Barreto. Agora para confirmar que não foi alguma alucinação, pesquisei na net e vejo que, é claro, também já está no site. Cliquem aqui para comprovarem. Lá está ele, a rir, ar matreiro, de saca rolhas na mão.

Estou perplexa. Ao que chegámos. O que o dinheiro faz: o douto, sapiente, impoluto, superior e importante António Barreto aí em cartazes no meio dos cestos com rodas empilhados no meio das hortaliças, a apregoar os vinhos do Pingo Doce. É o que se chama lamber a mão que o alimenta (e, talvez, antes lamber que morder - que eu, nisto, tento ser imparcial). Mas, oh senhores!, o arauto da mais elevada consciência (que, quanto mais o ouço, mais me parece que balança consoante os ventos) agora como figura de cartaz publicitário. Alexandre Soares Franco, que levou a sede social da empresa para a Holanda - não nos esqueçamos - agradecer-lhe-á o frete.

É uma pena. Uma pessoa com um timbre de voz tão bonito, não devia dar-se a este desfrute.

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Ok, já se pode calar o pio à Rosinha. 
Tempo agora para coisas mais sérias.

Chico Buarque de Holanda - Notícia de jornal


Hoje estive a falar com uma amiga com quem não falava há uns meses. O marido ficou desempregado. Na última vez que falámos já as coisas não estavam bem, já estava a receber tardiamente, a dias incertos, apenas parte. Já o medo pairava por perto como uma insidiosa doença.

Agora aconteceu. O marido está em casa a receber subsídio de desemprego, sem qualquer esperança de voltar a arranjar trabalho, aos cinquentas e tais anos.

O filho mais novo está numa empresa de trabalho temporário já vai para três anos. Pouco ganha, expectativas diminutas. A namorada com quem vive está a dar umas aulas, não sei onde, ganha pouco e está com esperança de entrar para um sítio onde primeiro tirará um curso mas onde ganhará um salário mínimo. Menos mal, diz a minha amiga.

Poderia relatar mais uns quantos casos idênticos relacionados com amigos ou conhecidos ou amigos dos meus filhos que já se viram constrangidos a emigrar. Não o faço, seria fastidioso. Histórias assim já são vulgares, falar nelas é maçador para quem lê.

O diabo é quem as sofre na pele. A angústia de quem se vê confrontado com a escolha ‘ou Angola ou o desemprego’, ou ‘um emprego precário e mal pago ou nada’ ou quem nem isso, apenas o desemprego. Ou a infelicidade e tristeza de quem, depois de uma vida de trabalho digna, com filhos e netos, se vê atirado para a inacção forçada, para o desemprego que dói e envergonha como chaga aberta.

A dor da gente não sai nos jornais. Pois não.

Soube-se hoje que as estatísticas oficiais do desemprego bateram o tecto dos 15%. E quando os números oficiais são estes, os números reais, totais, são muito superiores e começam a aproximar-se perigosamente de todos nós.  Quando os nossos inaptos governantes falam de riscos de contágio entre os países da zona euro, falam uma linguagem abstracta. Mas quando falamos do desemprego a tocar os nosso familiares e amigos nós percebemos que é aqui que o risco de contágio é perigoso, viral, sem antídoto à vista.

E ouvi que começam agora novas regras para o subsídio de desemprego: menos dinheiro, menos tempo. Como explicar isto a quem trabalhou uma vida inteira, a quem os impostos levaram o couro o cabelo e que, agora, se vê confrontado com a triste sina de receber uma miséria durante um curto período, sabendo que não vai conseguir arranjar outro trabalho?

E ouço ainda que o governo se prepara para cortar também no subsídio de doença e, claro, também, no subsídio de morte. Explicar-nos-á com o vagar de quem fala com crianças de três anos o Vítor Gaspar que não há dinheiro para pagar aos doentes que não conseguem ir trabalhar e, como corolário, explicar-nos-á, com sorriso superior de quem acha que tem um rei na barriga, o inefável Miguel Relvas, que isso de os pobrezinhos, ainda por cima, quererem ir a enterrar num caixão é coisa de gente que gosta de gastar o que não tem, que é tempo dos pobrezinhos se deixarem de mordomias até na hora da morte.


Não sei se a Notícia de Jornal do Chico já acabou... 
Quando acabar, podem vir aqui, por favor, accionar esta nova música?
Chico Buarque - Morte e Vida Severina


Estamos a regredir, todos os dias regredimos um pouco mais. Um mundo civilizado, livre e democrático, só faz sentido se as pessoas forem respeitadas, se o Estado (através dos que o representam e governam) assumir que a cada pessoa é devido respeito, tratamento digno e se estiver claro que nada pode ser feito que humilhe ou empobreça quem viva uma vida honesta, uma vida de trabalho; e que assegurem os direitos ou uma qualidade de vida digna a quem já viveu uma vida de trabalho e agora tem direito a receber de volta aquilo para que andou anos a descontar. Não tenho receio de usar a expressão Estado Social nem tenho receio de o defender. Um Estado Social (bem gerido) é a razão de ser de um Estado. Se não é para garantir que todos tenham direito à saúde, à educação, à dignidade, à justiça, então qual o significado e o propósito de um Estado?

A estratégia de centrar todas, todas, todas as atenções no combate ao desequilíbrio orçamental e à dívida, conduz a uma austeridade cega e excessiva e isso conduz inevitavelmente a uma recessão crescente, a um desemprego crescente, a desigualdades e injustiças crescentes.

A cada trimestre que passa, recebemos os dados reais e nova actualização das previsões - e é sempre tudo pior, é sempre pior!

Centrando-me, de novo, no desemprego - combater o desemprego não é criar subsídios para integrar jovens ou outras coisas do género. Integrá-los onde, a fazerem o quê?

Combater o desemprego passa exclusivamente por reanimar a economia, por ter uma estratégia de desenvolvimento para o País, por restituir poder de compra aos portugueses, não apenas para consumirem mas para investirem. Voltando a colocar a economia em movimento, as empresas desenvolvem-se, contratam pessoas, o clima de confiança volta pois, sem confiança e sem dinheiro em circulação, não há economia. Ora este Governo está a fazer tudo ao contrário.

A dor da gente não sai nos jornais. A dor da gente nem sai à rua a manifestar-se. A dor da gente é surda, escondida, envergonhada.


Vejo agora, nos meus passeios pelas margens do rio, muitos homens de aspecto muito pobre que nem uma cana têm para pescar. Têm uma simples linha de nylon, por vezes têm um balde de plástico, que antes levou tintas ou outros produtos, que suspendem no rio com um fio mais grosso ou que têm junto a si para guardarem algum peixe que assim apanhem. Ali estão à beira do cais com o fiozito na mão. Às vezes as mulheres estão com eles e até os abraçam, um apoio e um carinho que me comove.

Deixem agora que aqui coloque um poema de Sophia: Nos últimos tempos
Nestes últimos tempos é certo a esquerda fez erros

Caiu em desmandos confusões praticou injustiças 



Mas que diremos da longa tenebrosa e perita 

Degradação das coisas que a direita pratica? 

Que diremos do lixo do seu luxo —  de seu 
Viscoso gozo da nata da vida — que diremos 
De sua feroz ganância e fria possessão? 

Que diremos de sua sábia e tácita injustiça 
Que diremos de seus conluios e negócios 
E do utilitário uso dos seus ócios? 

Que diremos de suas máscaras álibis e pretextos 
De suas fintas labirintos e contextos? 

Nestes últimos tempos é certo a esquerda muita vez 
Desfigurou as linhas do seu rosto 

Mas que diremos da meticulosa eficaz expedita 
Degradação da vida que a direita pratica? 

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Hoje lá no meu Ginjal temos uma première, um belíssimo poema em torno de coisas perfeitas, breves e intangíveis, de Fernando Guimarães. As minhas palavras e a fotografia que antecede um coro infantil de Mussorgsky são apenas um simples complemento. Convido-vos a irem espreitar. Cliquem aqui, está bem?

Nota: Por simplificação, no título deste post, ao referir a intemporalidade da arte, apenas mencionei o Chico e a Sophia. Contudo, neste caso em concreto, as letras das canções que Chico aqui interpreta não são dele.  Refiro em particular a Vida e Morte Severina que é da autoria de João Cabral de Melo Neto. Mas há, ainda assim, a arte, neste caso, da interpretação.

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Meus amigos, tenham, se conseguirem, um belo dia. Apesar das circunstâncias, a vida é uma coisa esplendorosa, continua a ser.