No outro dia vieram cá umas amigas. Estando nós a atravessar o cinquentenário do 25 de Abril, acordei nesse dia a pensar que queria oferecer-lhes um pregador (não sei porquê mas não me dá jeito dizer broche) com o formato de cravo.
Pensei, na minha ingenuidade, que era coisa que deveria haver a pontapé. Portanto, nesse dia, antes que elas chegassem, resolvi ir, num instante, a um centro comercial, daqueles em que há todas as lojas, pois poderia comparar os diferentes formatos e trazer o ou os mais indicados. Uma das minhas amigas tem uma personalidade algo boémia e outra é a serenidade e equilíbrio em forma de gente. Portanto, ou era um cravo adaptado a cada uma ou era um que fosse ambivalente.
Pois, pasme-se: nem um. Corri todas as lojas de bijuteria que se possa imaginar, t-o-d-a-s, nada, depois passei para as lojas de vestuário que também vendem adereços, nada, segui para as lojas que vendem pedras preciosas ou semi-preciosas, nada, e, por fim, já estava a espreitar ourivesarias. Nada. N-a-d-a.
Não houve uma alma, uma, que se tivesse lembrado de fazer um pregador em forma de cravo, seja ele gráfico, realista, seja metafórico, metafísico, intemporal, abstracto. Nada. Zero.
Acabei por escolher umas florzinhas meio desmaiadas, levemente encarnadas, mais para as margaridas coradas do que para os rubros carnations. Tinha metido aquela na cabeça, não poderia recebê-las sem um flor para porem ao peito.
E, pensando no assunto, pasmo. Não sei como não se transformou já o cravo em símbolo, quiçá a par do Galo de Barcelos ou outros como o das Caldas. Deveria haver peças alusivas ao cravo sejam Bordalo Pinheiro ou Vista Alegre, sejam peças em prata, ouro, plástico, qualquer coisa, sejam ímans, sejam bugigangas para todos os gostos. E, que eu saiba, nem a grandiosa Joana Vasconcelos se inspirou para produzir uma hiper-mega peça em forma de cravo libertário.
Fiquei com vontade de comprar papel plastificado encarnado, tule encarnado, coisas com que eu própria faça peças para oferecer a quem venha visitar-me e para eu própria ter aqui em lugar de destaque.
O vídeo abaixo tem legendagem em inglês mas também se pode escolher a tradução automática para português.
Portugal - Cravos contra a Ditadura
Portugal: Carnations against Dictatorship | ARTE.tv Documentary
In April 1974, left-wing factions in the Portuguese military staged a coup against the authoritarian regime which had been in power for half a century. The uprising was largely peaceful and went down in history as the Carnation Revolution. But the path to a democratic Portugal was not easy and not without obstacles.
Bem... se dúvidas eu tivesse agora tê-las-ia desfeito. Claro que importa. Para o bem e para o mal, importa.
Para os cépticos, tenho aqui uma fotografia que mostra como uma coisa destas não apenas limpa as teias de aranha dos mais conservadores como impressiona não apenas quem o usa como quem o vê. Enorme, nunca visto, de um tamanho inimaginável. Claro que não é qualquer um(a) que aguenta com uma coisa de tal calibre. Requer fôlego, presença de espírito.
Imagino-me a dar uso a tal exagero... E, confesso, fico na dúvida. Se calhar já não tenho idade para tanto. Mas, por outro lado, porque não? Sim, caraças, porque não? Estou viva, não estou? Então, porque não?
O desconcertante no bicho é que não apenas é enorme... como, ainda por cima, tem duas cabeças. E isso não sei. Se um bicho deste tamanho já daria que fazer com uma só cabeça, imagine-se com duas. Nem sei se esteticamente é apetecível. Não sei. Talvez seja mais um daqueles casos em que primeiro se estranha e depois se entranha. Um coiso grandalhão com duas cabeças que se entranha...? É capaz disso, é capaz disso...
E estou a pôr estas reticências todas apenas porque tenho algumas dúvidas. É daqueles casos em que o tamanho importa mas, se calhar, passa um bocado da conta. Não sei.
Só mesmo experimentando...
E, uma vez mais, não é indiferente o que se veste para a ocasião. Costas nuas, evidentemente. E digo evidentemente mas, como é óbvio, é apenas uma questão de gosto. Claro que se pode usar estando vestida da cabeça aos pés, toda coberta como uma irmãzinha da caridade. Mas, lá está, não seria a mesma coisa. É que, para experimentar um coisão gigantão daqueles há que ter muita pele disponível. É que não é apenas uma degustação visual. Melhor: a bem dizer, a partir do momento em que se começa a usar, nem se vê. Só se vê antes e depois de usar, não enquanto se usa. Mas há que senti-lo, senti-lo bem. Dar-lhe toda a pele disponível de que ele precisa.
Aliás, agora que falo na sua utilização, até fico na dúvida: é de tal maneira que, certamente, requer ajuda. Sim, sim, mais do que certo que requer ajuda extra. Senão como é que se consegue?
Claro que, em vez de se usar atrás, se pode usar à frente. Mas aí a coisa apresentará outros desafios. Em privado, sem expectadores, capaz de arriscar na utilização frontal, talvez até desse para umas fotografias bem interessantes. Ah sim, acho que, pensando bem, para utilização frontal, as duas cabeças até viessem a propósito. Até porque as cabeças estão de boca aberta. Já as vejo, cada uma com seu mamilo na boca.
Com tudo isto já só me falta saber onde desencantar um igual a este. Em casa não tenho nada que se pareça senão ia já experimentando.
Este que aqui exibo -- digo, partilho -- foi usado por Zendaya na gala da Bola de Ouro e, claro está, causou sensação. Dizem que hipnotizou Paris e eu acredito. O vestido sei que é um original Roberto Cavalli revisitado por Fausto Puglisi. Agora o enorme escorpião dourado com duas cabeças que se lhe cola às costas como uma espinha dorsal não sei a quem se deve. O que sei é que é uma jóia extraordinária.
[E não venham dizer que isto aqui não é serviço público de primeira.]
____________________________
E ainda mais uma coisa: sobre isto do corona e desta gracinha da Ómicron e destas vacinas que parece que têm que se apanhar de três em três meses, ocorreu-me que o melhor era arranjarem umas coleiras repelentes para a gente usar, como a dos cães. Podiam fazê-las cravejadas a esmeraldas, a rubis ou safiras, minimalistas, alternativas, ou em couro negro para homens que só usam coisas discretas. Podiam dar-lhe um toque Cartier, Chanel, Timberland ou whatever, mas que servissem para a gente estar sempre protegida. Não é uma boa ideia?
Aquela malta da Nova que enfia transístores em folhas e papel ou que sabe como falar com moléculas não quer pegar na ideia?
É que não precisa de ser colar ou broche dorsal: pode ser pulseira, anel, brincos. Qualquer coisa que largue um cheirinho ou uns ultra sons ou o que for que enxote pulgas, coronas, mosquitos e chatos, está bom. Eu usava.
Há esta dicotomia célebre, questão dialéctica, coisa quase fracturante. Muitos tratados, de várias disciplinas, já devem ter sido produzidos a propósito do incontornável e cabeludo dilema.
Há as pessoas que têm bom feitio e para quem tudo o que vem à rede é peixe e há as mais exigentes que não se contentam com qualquer coisa. Claro que há ainda os extremos: aqueles para quem o tema nem é tema e, no extremo oposto, os que põem defeito em qualquer coisa e só se contentam com o que é feito por medida.
Eu não vou dizer exactamente onde me situo. Mas acho que nem preciso de dizer. Quem por aqui me acompanha já deve adivinhar-me os gostos.
Bem, pensando melhor, não vou fazer suspense.
Claro que, prudentemente, poderia optar pelo nim. O tamanho importa? Nim.
Ou por dizer: depende. Depende de quem o porta e de como o porta. Depende do feitio. Depende da cor. Depende da beleza. Sim, tal como em tudo o mais, aqui a beleza também é fundamental.
Em tempos, era dada a exageros: não me importava nada, muito pelo contrário, de usar bigalhadudos, bem fornecidos, mesmo exuberantes. Cada uso era quase uma performance.
Com o tempo fui ficando mais moderada. Uso, gosto de usar, aliás não dispenso o uso regular, mas aprecio a moderação, o bom gosto.
Consultando a imprensa de especialidade, vejo que agora se apregoam os de alto gabarito, grande volume, dimensão que não passa despercebida, porte arrojado, desafiador. Claro que, para serem usados, não pode ser de qualquer maneira. Senão o exagero vira coisa feia de se ver.
Penso que, para ficar bem, deverá ser como aqui o mostro: sobre a pele nua, os seios cobertos (mas facilmente em vias de ser descobertos. como convém a mulher decente que se preze).
Como influencer que me preparo para ser, partilho convosco um belo exemplar adequado ao tempo frio, para acompanhar um colete peludo e quentinho e, ao que consta, para reforçar a libido (Stones Club) e um mais refinado, adequado a uma festa (Balmain)
_____________________________________________
Para não decepcionar os que vieram ao engano julgando que aqui se iria tratar de miudezas, em especial para os Leitores homens, aqui vai um vídeo para que se mentalizem para o que, um dia destes, vos pode acontecer.
______________________
Bom. Para tentar agradar a gregos e troianos, mormente aos que procuram esta vossa Staª UJM em busca de alguma arte, aqui ficam algumas das mais perfeitas obras de arte, no caso esculturas de se lhe tirar o chapéu. E que quem nunca duvidou que atire o primeiro diamante.
Começo a escrever quando ainda é sexta-feira. Ora as sextas-feiras produzem um certo efeito em mim. Não é tanto o espírito desorbitado das black fridays mas mais o desenfreado de thank's god it's friday.
Dantes, às sextas à noite, ia às vezes dançar até às quinhentas ou, mais recentemente, jantar e passear na praia.
Agora, apesar de ter mudado substancialmente os meus hábitos, chego ao fim do meu dia de trabalho à sexta feira e apetece-me chutar a bola para bem longe, para o alto, desatar a correr, atirar-me de mergulho, furar as ondas, voar -- coisas assim.
Claro que agora só o faço com palavras e, portanto, onde vos parece uma sucessão de palavras iguais a tantas outras usadas ao longo da semana peço a vossa generosidade para acreditar que, sob elas, se esconde a minha vontade de sacudir a plumagem, de uivar na noite, de rastejar como um tigre azul, de açoitar a monotonia dos dias e saudar a noite que chega.
Para hoje não tenho, pois, tema arrumado. Trago antes três perguntas, qual delas a mais profunda. Nada têm umas a ver com outras e haverá até quem não ache de bom gosto misturar no mesmo post o Rangel, broches e ocupações da treta. Mas numa sexta a derrapar para sábado poderá exigir-se mais a uma pobre de espírito como eu?
Primeira pergunta:
É verdade que os broches estão outra vez na moda?
Eu diria que nunca de lá saíram mas, já se sabe, cada um é como cada qual e, além do mais, gostos não se discutem.
Uma vez, ia num autocarro apinhado a caminho da escola onde dava aulas. Ia com a minha amiga Fátima, também professora e alentejana dos quatro costados, voz desempoeirada e bem colocada. Íamos na conversa, daquelas conversas que não se recomendam muito menos a duas professoras rodeadas de testemunhas. E, então, sai-se ela com esta: 'É como os broches. Nunca ninguém os faz mas a verdade é que eles aparecem feitos'. Até hoje não me esqueço. Desatei a rir e tenho a certeza que todos os que nos rodeavam fizeram o mesmo. Ou, então, não. Se calhar ficaram escandalizados perante tal declaração. Devo ainda ter dito para ela falar mais baixo, coisa que nela não deve ter produzido efeito algum.
Eu sempre gostei deles, dos broches. Houve alturas em que preferia os bem aparatosos. Ultimamente já mais comedida, ia na coisa em clássico. Também já estive virada para as obras de autor, coisa artística mesmo.
Mas depois a simplificação nos hábitos levaram-me a optar pela discrição, coisa que mal se desse por ela.
Pois bem. Qual o meu espanto quando agora leio que os broches voltaram a estar na moda. E já não se fala em broches mas em neobroches. Gosto. Neobroches parece-me daquelas de que não apenas podemos encher a boca (a falar deles) como os poderemos ostentar orgulhosamente (na lapela). Sou dada a novidades e quanto mais inesperadas melhor. Versatiles, ces néobroches viennent corser les blazers féminins et masculins. É que nisto, como em tudo o mais nesta vida, há que não haver discriminação de género. Broches são broches são broches, seja para homem seja para mulher.
Rangel está a chegar-se à frente no PSD porque acha que o país pode vir a querê-lo como Primeiro-Ministro?
Eu diria que só se os portugueses estivessem todos com os copos quando fossem votar nas legislativas. Ora não acredito. Impossível que uns quantos milhões de portugueses se apresentassem a votar com uma valente piela.
Claro que há os burros de nascença que não se importam de votar na primeira galinha que lhes apareça à frente. Depois há os que já estão bem aviados de demência e não sabem a quantas andam, botando a cruz onde calha (e algumas lá lhe calhariam). E há, claro, concedo, os que votam depois de almoço e vão para a mesa de voto sem se lembrarem bem do que querem nesta vida nem conseguirem ver bem o que corresponde a cada quadrado. Portanto, alguns votos o Rangel talvez conseguisse ter se algum dia se apresentasse a votos nas legislativas. Mas mesmo levado ao colo pelo Expresso e demais comunicação social, com o Relvas a mudar-lhe as fraldas, com o láparo (agora em versão neo-taliban) a dar-lhe o comer à boca, com a múmia paralítica a sair da tumba para o benzer, e mesmo somando os burros, os dementes e os embriagados, ainda assim acho que o Rangel não conseguiria ter mais votos dos que o meu neto que é sub-delegado de turma teve. Até porque uma coisa é certa. Se há coisa de que o país não precisa é de um vulgar trauliteiro, de um histérico encartado, de um totó armado em fracturante, de uma irrelevante figura que melhor estaria num livro do Eça do que na vida política real.
Terceira pergunta:
Porque é que tantas pessoas têm trabalhos da treta?
O tema agora apenas é apropriado a uma sexta-feira pois o que aqui se defende é coisa das boas. Mas é coisa séria e para levar a sério. Trabalhar apenas no que se gosta e apenas o estritamente necessário -- é o tema. Por exemplo, nos serviços, reduzir o horário semanal a um máximo de vinte horas (acho que esta não é aqui dita no vídeo, esta sou eu a dizer). Anular as tretas, as tarefas inúteis. Organizarmo-nos para que sobre sempre tempo para a vida pessoal, para o lazer. Não é possível em todas as áreas. Sempre que é necessária mão de obra especializada e escassa, não é possível. Mas então que esses sejam bem pagos por terem que trabalhar o dobro dos outros.
Claro que não é tão simples assim e claro que, para lá se chegar, há muito a planear, muito a ajustar. Mas, quando se quer uma coisa, geralmente basta trabalhar para isso.
Mas o melhor é ver vídeo. Para quem prefere ler, transcrevo:
Our society is fixated on working. Some of us work 80 hours per week at jobs that don’t fulfill us simply for work's sake. Expert anthropologists, such as James Suzman, even go as far as to say that many of the jobs we work could be considered "bullshit jobs" - a complex job that is not entirely needed in the workforce. These jobs are created and executed because our culture, and lifestyle, are organized around the 8-hour workday.
So why do we work "bullshit jobs?" Many economists would say it is to fix the problem of scarcity. But what many do not know is that in our society, we passed the scarcity threshold in 1980, and most everyone has their basic needs met. So much so that more food goes into our landfills than goes into our stomachs. If scarcity is no longer an issue, why are we still working over 40 hours per week? It's because people have a humane instinct to work and be productive.
If the 40-hour workweek is no longer serving our society, could we be approaching a new economic utopia? Suzman thinks so. In the present day, especially since the COVID-19 pandemic, many workers are turning away from unfulfilling jobs and diving headfirst into their hobbies - cooking, writing, painting, and creating. If we keep on this path, our entire economic system is bound to change, making for a richer world where everyone does the work they want to be doing.
Atrai-me a perspectiva de mudar de vida. No outro dia li no Guardian um artigo sobre uma pessoa que se reformou e resolveu fazer o que sempre tinha desejado: escrever um livro. Correu-lhe bem e já vai a caminho do terceiro. Anne Youngson tinha uma outra profissão, era engenheira, e, ao mudar, tudo na vida dela ganhou novo sentido. Gostei de ler e pensei que tomara que comigo aconteça o mesmo.
Quando estou de férias, com a perspectiva de não ter nada que fazer, penso: vai ser assim quando me reformar, não ter nada que fazer. Ou seja, uma seca. E sei que dificilmente suportarei estar muito tempo sem nada que fazer. Por outro lado, sei que o tempo pode ir passando sem quase a gente dar por ele se encher a vida de pequenas rotinas: levantar, pequeno almoço, caminhada, compra de frescos, fazer o almoço, almoço, arrumar a cozinha, descansar um pouco, arrumar a casa, regar o jardim, fazer outra caminhada, fazer o jantar, jantar, ver televisão, escrever no blog. A vida pode ser tranquila se for preenchida com rotinas assim, cada rotina um porto seguro. Quem vive uma vida assim jamais se sentirá perdido pois a navegação será sempre curta, com terra à vista, de pequena actividade em pequena actividade. Os anos irão passando, se a pessoa tiver cuidado consigo própria irá vivendo uma vida saudável, e os anos irão passando na boa.
Mas creio que isso não funcionará comigo. Se tiver saúde e os anos de vida suficientes, acho que iniciarei uma nova vida. No outro dia, ao falar com os meninos, o querido e irrequieto mano do meio falava na doença do Jorge Sampaio e dizia que, enfim, também já tinha quase oitenta e dois anos. Contrapus que a bisa tem mais que isso, que já vai a caminho dos oitenta e nove. Ficou muito admirado. Então disse-lhe que isso não tem nada de mais, que eu vou viver até aos cento e tal. Ele repetiu, incrédulo, como se não acreditasse. Repeti, convicta. Mas sei lá quantos anos vou viver ou se, estando lá, na provecta idade, quererei viver muitos mais anos.
Quando faço anos, gosto de perguntar aos meninos se sabem quantos anos faço. E acertem ou não, costumo dizer que faço cento e tal. Por exemplo: 'Não senhor. Cento e três.'. E eles, espantados, pensando que ouviram mal: 'Sessenta e três?' E eu: 'Isso é que era bom... Não senhor, já disse: cento e três...'. Ficam sempre baralhados. Gosto de baralhá-los com a minha idade. No fundo, gosto de fingir que tenho diferentes idades pois assim vou vivendo por avanço idades a que não sei se chego. Mas chegue onde chegar, o que quero é ter sempre a impressão de que estou a fazer o que me apetece fazer.
Não fazer fretes, não deixar a vida passar sem pelo menos tentar fazer o que me apetece -- isso é o que tenho sempre em mente, até com algum sentimento de urgência.
Ao escrever isto dos fretes, ocorreu-me que já vivi situações na minha vida que hoje não viveria de modo algum.
Por exemplo, na minha adolescência tomei uma decisão errada, quase involuntária. Porque estava furiosa com um namorado que tinha ciúmes de um outro mas que não fazia o que deveria -- que era, simplesmente, agarrar-me, abraçar-me e beijar-me --, para me vingar e para o picar, resolvi começar a namorar o outro, o alvo dos seus ciúmes. Na minha cabeça impulsiva, aquilo era mesmo só para ver se ele acordava para a realidade e vinha atrás de mim. Se viesse, de forma aberta e assertiva, se me agarrasse e dissesse que me deixasse de parvoíces e que me deixasse estar quieta, nos seus braços, a coisa ter-se-ia resolvido logo ali. Mas isso não aconteceu. Ficou sentido, passado, zangado. Acreditou que eu tinha mesmo optado pelo outro. E ao outro nem lhe passou pela cabeça que eu queria simplesmente provocar o primeiro e, apaixonado que era por mim, levou aquilo a sério. E eu, envergonhada, não consegui desiludi-lo. Gostava dele, era amiga dele, admirava o seu lado artístico. Mas claro que não era apaixonada. Foi um castigo para conseguir manter algum distanciamento físico quando, naturalmente, ele queria muito mais. Escreveu belos poemas sobre isso, sobre a minha estranha e persistente inacessibilidade. Eu inventava mil desculpas para fugir à intimidade que ele procurava. E fazia um sacrifício dos diabos para aturar os pais deles, que eram uma simpatia e que gostavam muito de mim, ou as tias, também amorosas, e que falavam comigo como se eu fosse alguma vez casar-me com ele. Por exemplo, lembro-me bem de como fiquei passada, passada da vida, quando ele, que adorava o meu cabelo e fez vários poemas sobre ele, me disse que queria que eu, toda a vida, tivesse o cabelo comprido pois era assim que queria ver-me até ao resto dos seus dias. Fiquei com vontade de lhe dizer: mas olha lá, acreditas mesmo que vais viver a tua vida ao meu lado...? Mas não disse, tive acanhamento, tive pudor, tive vergonha. E, sobretudo, tive pena dele.
Hoje já não suportaria viver um namoro de faz de conta, que aos olhos dos outros e dele parecia verdadeiro mas que eu, no meu íntimo, sabia que era uma ficção construída em cima de um equívoco que, por cobardia minha, não esclareci atempadamente.
Quem me conhecia apenas percebeu que, da minha parte, aquilo era uma coisa forçada quando me viram deveras apaixonada por aquele por quem o meu coração se rendeu incondicionalmente, num daqueles coup de foudre que fazia estremecer as pedras da calçada.
Se eu pensar na minha vida em retrospectiva posso dizer que esse período em que namorei alguém por quem não estava apaixonada, alimentando-lhe falsas expectativas e, depois, causando-lhe um profundo desgosto de amor, é o que mais lamento. Hoje nada daquilo aconteceria. Hoje, se gostasse deveras de outro, diria claramente a esse outro o que sentia em vez de o deixar a sofrer e em vez de agudizar a dúvida namorando com outro. E, se, sem saber como, me visse metida numa situação dúbia, em vez de fazer fretes e alimentar uma absurda ficção, rapidamente a enfrentaria e me veria livre dela.
Na altura, a inexperiência, o medo da reacção dos outros, a insegurança, sei lá, fez com que alimentasse durante três anos uma coisa que jamais deveria ter durado mais do que três dias.
Mas, enfim, talvez tudo tenha uma razão de ser e talvez a aprendizagem dessa duplicidade que a gente, mesmo sem querer, vai alimentando tenha servido para me me fazer saber até onde se pode ir nesse jogo de disfarces em que, às tantas, nós próprios já acreditamos.
Agora sou diferente. Tal como Anne Youngson diz:
“You have a better sense of yourself as you get older," .
“You begin to understand where you fit, and you are not so anxious about who you are and what people think of you. It is liberating. Actually, I’m a big fan of old age. I think everybody should experience it.”
Agora é tudo pão-pão, queijo-queijo. Se quero digo que quero, se não gosto digo que não gosto.
E se me apetecer ser jardineira ou escritora é isso que irei tentar ser. Não quero saber dos anos que terei pela frente, do trabalho que isso dará, dos escolhos que poderei ter que enfrentar. Se é por ali que quero ir, é por ali que irei.
Entrar numa nova actividade, num novo mundo, conhecer outra realidade, ter que aprender tudo de novo, ter a humildade de ouvir quem sabe e agradecer a ajuda que queiram oferecer-me, conhecer outras pessoas -- tudo isso é das coisas que mais me entusiasma. Começar de novo. Começar tudo de novo.
Foi como a sensação boa de mudar de casa, mudar para um local completamente diferente. Vizinhos novos, hábitos novos. Um corte radical com a vida anterior. Tão bom.
E agora, cada vez mais, tenho vontade de começar a pensar numa mudança ainda mais radical. Nascer de novo. Dar os primeiros passos. Que vontade sinto, caraças.
Palavras, palavrinhas de que servis minhas meninas? Se eu convosco posso fazer o que quiser e pôr-vos a sonhar, a espernear, de pé, deitadas, a falar verdade, a falar mentira, a desenhar abraços ou a portarem-se como ingratas espadas, então, minhas lindas, de que servis vós?
Palavreio, palavrosa, palavroada, palavrainha, minhas coitadas meninas, para que vos hei-de eu querer? Se outros convosco vos melopeiam, vos tartamudeiam, se vos atiram ao charco, se vos amassam, lambuzam, torpedeiam, violentam, agridem, de que, minhas insignificantes menininhas, de que servis vós? Dizei-me. Falai.
Poemas, passeios descritos, argúcias dissimuladas, agressões, preversões, ilusões, para tudo, tudo, vós servis, vós, vós mesmas, suas vendidas. Para que vos hei-de, então, querer, suas malucas?
Páginas cheias de símbolos vazios de significado, páginas repletas de símbolos prenhes de significado, frases, parágrafos, tudo, tudo, tudo vago, tudo lábil, tudo levável pelo vento, tudo lavável pela chuva, embranquecido pelo sol, tudo despido de sentido, tudo carregado de sentido. Para que voais em torno de mim? Para que quereis que eu vos tome em minhas mãos? Para quê?
Deixai-me. Deixai-me apenas ver em que param as modas. Deixai-me ficar a ver palácios, jóias, lábios pintados, olhares sedutores, balanceamentos elegantes, dourados, coloridos, olhares rendidos, apaixonados, ruas ao sol, brilhos em candelabros, passos atapetados, reflexos, inverdades. Não me tenteis. Deixai-me estar aqui apenas a querer ter aqueles colares, aqueles artísticos brincos, deixai-me pensar que quem ali vai tentando e abusando de tanta beleza sou eu.
Quero sorrir sem ter que descrever o sorriso, quero maliciar sem ter que confessar a razão das minhas safadezas, quero desfilar o meu olhar sem ter que levar pela mão palavras que se põem feitas tontas a pôr em causa o que eu penso. Se penso que isto é beleza, logo me desafiam, que não, beleza é outra coisa. Se eu me ponho a imaginar-me vestida assim, sorrindo com uma boca feliz, logo as petulantes se empertigam nos meus dedos, que não, que não, que tenha eu juízo, que eu não, que eu não.
Desavergonhadas palavras. Falsas. Belicosas. Tentadoras. Insinuantes. Deixai-me. Não vos quero perto de mim.
A menos que me tragam ternuras e flores e abraços nas mãos ou escândalos presos nos dentes, não vos aproximeis de mim. Longe. Longe de mim. Dai-me descanso.
Agora vou ver os filmes. Depois logo vejo se vos dou nova oportunidade.
Dolce & Gabbana
Alta joalharia
Miss Sicily da Dolce & Gabbana: um baton irresistível
e o melhor que havia em mim nunca cheguei a entender.
Hoje apercebo sombras
e a minha memória erra entre imagens difusas
e palavras ríspidas.
Quem me dirá o que fui?
_____________________________
Será superficialidade, coisa de mulher - aceito. Misturar poesia e dança com moda se calhar não é coisa bonita. Mas então? As mulheres têm destas coisas, uma certa falta de vergonha, uma certa impudica leveza. Desculpo-me e penso que moda é beleza, feminilidade. E intimidade. E talvez isso possa ligar bem com poesia e dança. Sei lá.
Gosto de pedras preciosas ou não preciosas, gosto de cores profundas, de branco com bolas pretas e brincos coloridos ou sapatos encarnados, e casacos bordados, carteiras bordadas, casacos de veludo macio com bordado em pedras.
Calças justas pretas que dão com tudo, blusas macias na cor que for, ou pretas. Não é preciso muito dinheiro, basta sentir alegria na escolha e combinação das roupas. E um perfume subtil, um odor morno que se sinta apenas de perto.
E se o casaco é chique demais, então que se combine com uns jeans. Tudo é possível desde que devidamente conjugado e desde que usado com descontração.
Dolce & Gabanna é uma festa. Podíamos ter filigranas aqui também. E os cabelos tão bem penteados, tudo uma graça. Mulheres cheias de graça - aqui sempre bem vindas.
Dolce&Gabbana Summer 2015 Womens Fashion Show: the day before
___
O primeiro poema é de Alice Vieira in Os armários da noite
O segundo é o nº 3 de Nossa Senhora de Rocamadour de Luís Filipe Castro Mendes in A Misericórdia dos Mercados
O terceiro poema chama-se De Senectude de Luís Filipe Castro Mendes in A Misericórdia dos mercados
O bailado é Bella Figura, uma coreografia de Jiří Kylián, pelo Nederlands Dans Theater.
Não sei fotografar roupa. Penduro as coisas num cabide e fica tudo pendão, sem graça. Parece que faz falta o meu recheio para que as toilettes ganhem graça (aqui a minha avó, diria com ar gozão: gaba-te cesto).
É mais fácil apanhar uma borboleta em pleno passe de ballet abeirando-se de uma madressilva do que um casaco que não se mexe e fica onde eu o puser.
Depois, sou sempre coarctada nestas minhas démarches. Andava eu aqui na sala a ver como haveria de dispor o casaco, as luzes todas acesas, e o meu marido, deitado no sofá, a ver o futebol e incomodado com aquela luz toda. Parece que ainda não se habituou a estas minhas produções fotográficas porque olhou muito admirado, 'O que é que andas a fazer?'. Disse-lhe que amanhã logo veria, quando viesse cultivar-se aqui no Um Jeito Manso. Como de costume, não disse nada, limitou-se a concluir: 'És maluca' e 'apaga mas é essa luz'.
Portanto, tive que me deixar de fantasias, pendurei-o, ajeitei a écharpe, coloquei o colar e pronto, lá vai disto.
.
Casaquinho a la Chanel que pode ser usado no verão ou na meia estação. Comprado nos saldos da Zara por 40 euros.
Claro que não são 40, devem ter sido 39,9. (Isto dos ,99 são os do comércio para irem de encontro àquela coisa da oneomania conforme aprendi com o ilustre Plúvio)
Écharpe comprada num vendedor de rua no Chiado - 5 euros
Colar comprado nos saldos da Parfois - 8 euros (isto é, 7,99€). Uns brincos de tipo pérola, comprados por 4€ também nos saldos da Parfois, ficarão mesmo a fazer pendant.
Ficará bem com blusinha branca fininha, sem mangas ou, quanto muito, de manga curta. Decotada, claro. Em azul claro ou em verde água também será boa ideia.
E poderá ser usado com calça justa, afunilada, pelo tornozelo, em azul escuro (comprei um par, impec, por 20€ também na Zara) mas também ficará bem com umas calças justinhas brancas ou uma saia branca.
Em qualquer dos casos, sapatos azuis escuros com saltos bem altos (ou uns que tenho em dois tons de azul, um dos quais a atirar para o esmeralda, que condiz bem com os tons do casaco e da écharpe)
Bem, mas isto sou eu armada em madame que veste Chanel. E não se pense que é nonsense total da minha parte - não senhor. Coco era também assim (mais coisa, menos coisa, claro): reinventava, ousava, atirava-se para a frente. Desavergonhada como eu mas com um talento e um jeito para os negócios que a mim, para mal dos meus pecados, não me assiste (já que não passo de uma mera proleta).
Gabrielle Chanel - Inside CHANEL
Já agora, para os que apreciam o estilo, aqui fica o Making of relativo à campanha Pronto a Vestir 2014/2015, "Coco Coach", com a irreverente mas, de facto, muito expressiva Cara Delevingne e com Binx Walton. Karl Lagerfeld comanda a operação.
No post abaixo já recordei as fabulosas esculturas em movimento de Theo Jansen e, a seguir a esse, tenho mais uma das minhas úteis aulas práticas, desta vez dedicada à bricolage no feminino, socorrendo-me eu, claro, da minha fabulosa assistente Martine Hill.
Mas isso é a seguir. Agora, aqui, a conversa é outra.
*
Música, por favor
Ninna Nanna Malandrineddu
(É uma canção da Máfia mas relevem, já sabem que tenho gostos estranhos e gostar de canções da Camorra, da Malavita é um deles- mas, de resto, a minha relação com a Máfia não passa disto)
*
Já vos contei que sou toda coquette. Nasceu comigo. Nasci assim, sempre fui uma dor de cabeça para os meus pais que me viam a querer enfeitar-me quando não tinha ainda idade para isso, e ainda assim sou e, digo eu, sempre assim serei.
Não saio de casa sem brincos tal como não saio sem cuecas. É a mesma coisa. Não é uma questão de aconchego pelo que não tem a ver com tamanho. Não. Os brincos podem, até, ser ínfimos. Mudo todos os dias. Têm que conjugar com a roupa.
E, tal como uso sempre aliança (excepto ao fim de semana e nas férias), também uso geralmente um anel no anelar da mão direita.
E uso sempre, independentemente da roupa, um fio de ouro muito fino, quase invisível, um risco dourado na base do pescoço. No Natal a a minha mãe deu-me um outro, também muito fininho, de outro branco com um coração pequeno, aberto, cravejado de brilhantes. É um pouco mais comprido que o outro, assenta um pouco abaixo do dourado. Desde então também não o tiro. Mas esses é como se fizessem parte de mim, já nem contam. Para além deles, uso sempre um outro colar a condizer com a roupa.
E pulseiras? Também. Se o anel é vistoso, ou não uso ou uso uma discreta. Mas, se o anel é discreto, abuso nas pulseiras.
Uns brincos de que gosto muito são uns que são uma rosinha. Tenho um par de cor de marfim e outros com a rosinha em verde água. Para cada par destes brincos tenho o corresponde anel, uma rosa da mesma cor.
Também sou uma gulosa.
Fruta. Adoro fruta. Já aqui contei. Até há algum tempo atrás eu tinha um par de quilos a mais e não percebia porquê. Tirando um outro doce e um ou outro almoço mais lauto, de resto era tudo muito na base das coisas ligeiras e da fruta. Logo de manhã comia umas três peças de fruta. Ao almoço, a acompanhar a refeição, bebia um sumo de frutos naturais, de dois frutos, e, geralmente, em cima, mais uma salada de frutas. E por aí fora.
Fui a uma nutricionista que me ouviu descrever os hábitos alimentares. No fim perguntou se eu sabia o que é que estava a provocar-me o peso a mais. Eu não sabia. Talvez o facto de fazer pouco exercício, aventei. Ela explicou: isso também não ajuda mas o pior é mesmo a fruta, é demais. Geralmente eram umas sete ou mais peças de fruta por dia. É muito açúcar.
Não me tinha ocorrido que a fruta engordasse. Passou-me a três peças por dia, um sacrifício para mim. E tinha que passar a andar, mas a andar de forma algo intensa, não andar a ver as montras. Agora ando todos os dias durante quase uma hora. Às vezes calha não poder e sinto logo a falta.
Mas sou mesmo uma gulosa. Fruta e chocolate preto. E gelado genuíno de fruta fresca ou de frutos secos e rum. Ou bolos de fruta. Tento dosear mas é uma chatice: detesto dosear naquilo de que gosto. Tenho aqui agora uns mirtilos secos que são deliciosos. Ou tâmaras. Adoro tâmaras. No outro dia a minha filha lembrou-se de umas entradinhas que eu fazia com bacon a envolver tâmaras, levava os rolinhos a tostar, ficavam uma delícia, mas, claro, upa, upa de calorias. Agora já não faço essas coisas.
Enfim. Vou mas é parar por aqui senão terei que ir à cozinha tasquinhar qualquer coisita, uma laranja talvez, tenho agora umas laranjas sumarentas, douradas, belíssimas.
Sou eu e a gulosa aqui em baixo. Gulosa e coquette como eu. Também com uns brincos e um anel com rosinhas. Mas acho que as semelhanças acabam aí.
(Quem tem uns olhos como ela é a minha meninininha mais linda mas a boca da minha princesinha é mais Angelina Jolie do que Bianca Balti.)
Transcrevo: A short movie shot backstage at the Dolce & Gabbana Jewellery Mamma campaign shoot by Giampaolo Sgura, stars a sexy Bianca Balti with a suggestive nod and a wink to the racy Italian comedies of the70s
***
Relembro: Por aí abaixo há mais dois posts em registos diferentes.
Seguindo uma muito oportuna dica da mulher de quem se fala, lá fui. O meu marido, quando eu lhe explicava que tinha aquele afazer, perguntou-me 'mas tens alguma falta disso?'. Esclareci-o que tinha mesmo falta. Não acreditou. Reiterei-lhe que estava mesmo a precisar de uma azul. Ele escarneceu 'isso é o que de mais por lá deve haver'. Expliquei que tenho uma azul mas é um azul claro e que preciso mesmo de uma em azul marinho, ou ultramarino (qualquer dos dois tons daria jeito). Gozou 'olha que se procurares bem ainda tens alguma surpresa'. Não percebi; mas ele fez o favor de concluir, 'é que não vai aparecer uma, devem aparecer várias'. Mas eu já não ligo a estas provocações.
Ontem, regressada de férias, tinha comprado umas calças azuis escuras, justas, pelo tornozelo, com pequena dobra, com risquinha discreta num cinza claro, uma elegância.
Mas, aqui chegada, faço um aviso à navegação. Já o fiz muitas vezes. Gosto de me vestir bem (enfim... eu acho que é bem mas, claro, estou a ser juíza em causa própria) mas não gosto de gastar muito dinheiro a vestir-me. Acho um desperdício gastar fortunas em roupa. Ao contrário de algumas amigas e familiares que não olham a despesas para terem roupa de marca, peças que acham que são únicas, bem confeccionadas e sei lá que mais, e conhecem tudo e são avisadas pelas lojas quando chegam peças novas, etc e tal, eu não entro nesses esquemas. Com o preço de uma blusa de marca, eu compro um guarda-roupas inteiro.
É que, além de achar um disparate gastar tanto dinheiro, gosto de sentir que faço bons negócios, gosto de andar à procura de coisas a bom preço. E cada vez mais. E cada vez me sinto mais livre de toda a espécie de preconceitos, nomeadamente - porque é disso que agora estou a falar - em relação ao vestuário.
Exemplifico: descobri este ano duas lojas que, antes, para mim, eram apenas para miudagem e, em particular, para miudagem com fraco poder de compra.
No outro dia fui a um centro comercial e o meu marido ficou de se encontrar lá comigo para irmos almoçar. Quando chegou, ligou-me a saber onde é que eu estava, eu disse-lhe que estava numa dessas lojas, descrevi onde é e ele lá foi ter comigo. Quando chegou ao pé de mim, perguntou-me com ar confundido ou perplexo 'mas tu já viste quem é que está aqui a comprar roupa...?'. Não é que ele seja elitista, que não é, nem preconceituoso que também não é. Mas, de facto, olhando à volta, dir-se-ia que a miudagem de um bairro daqueles problemáticos tinha ido ali abastecer-se. Pois bem, desde que descobri essa loja, quase que já passo sem a Zara. Ontem lá fui outra vez. Mas já está tudo muito escolhido, já não vi nada que me agradasse em saldo, coisas de jeito já só da nova colecção. E eu ainda estou virada para as pechinchas dos saldos.
A loja de que falo é a Bershka.
As blusinhas giras, giras, que lá comprei desde que a descobri, e umas calças leves e macias de viscose, um blusão branco de um tecido que parece seda... E uns preços que não vos digo nada. O que é, é preciso escolher pois há coisas clássicas, discretas, ao lado de blusas justas por cima do umbigo, com as costas ao léu ou saias que mal tapam as virilhas. Mas escolher é parte do prazer de fazer compras.
A outra loja onde este ano comprei parte da roupa com que me tenho vestido é a Pull and Bear.
Miudagem, miudagem, também. Mas no meio da roupa do mais básico, vulgar ou exagerado para a miudagem descubro coisas de pasmar.
Já vos mostro uma blusinha branca de cavas, bordada, uma graça. E os preços são sempre uma agradável surpresa. Esta de que falo custou uns 10 ou 12 euros, mas foi antes dos saldos. Agora, se ainda as houver, devem estar a metade do preço.
E hoje lá fui à Parfois, conforme dica da HSC (que, pelo que vejo, podia ser minha parceira em andanças do mesmo género). Já ontem lá tinha ido mas estava muita gente na caixa e, como já tinha perdido algum tempo na Zara a provar e a pagar as ditas calças, tive que deixar para hoje.
E, portanto, lá me abasteci: carteira óptima em azul, ampla, uma maravilha, com um toque que parece de pele e, ainda por cima, com uma bolsa enorme lá dentro, daquelas que se usam para migrar a tralha de umas carteiras para outras, por 19,90€ e uma leve, macia e suavemente colorida écharpe por 9,90€. De passagem ainda trouxe também um belo e largo anel em ouro branco e brilhantes por 2,90€.
E, chegada a casa, resolvi então fazer uma instalação com estas peças para vos mostrar. Mas fotografar roupa tem que se lhe diga. Não sei bem como as dispôr para ficarem visíveis e perceptíveis.
Ao fim de 3 ou 4 tentativas, esta é a melhor fotografia que consegui arranjar. O fundo amarelo é do coxim do cadeirão (digo isto para não parecer que o amarelo faz parte de alguma das peças de vestuário.
Nas costas do cadeirão, a écharpe Parfois (9,90€) No braço, à direita: as calças Zara (19€), a blusinha branca Pull & Bear (10 ou 12€, sem ser nos saldos), com colar da Parfois por cima (não foi comprado nos saldos, não me lembro bem do preço, mas tenho ideia de que deve ter andado à volta dos 9 ou 10€) No assento, de pé, a carteira Parfois (19,9€) e, em baixo, e mal se vê, encostada à perna das calças, a bolsa de dentro que tirei para verem que é uma peça solta
Pode parecer que a risquinha das calças faz um zig-zag mas não, é distorção da fotografia: é uma risquinha finhinha a direito.
Mostro aqui abaixo um pormenor da dita blusinha branca, de cavas, quase transparente mas não indecente. Fica bem por fora, solta, dá um ar mais casual, ou fica bem por dentro da saia ou das calças, neste último caso com um cinto fininho.
Agora que está calor, usa-se assim, só isto. Quando vier o fresco, ficará bem com um casaquinho fino branco, ou um curtinho ou um solto, assimétrico. Ou com um azul escuro, para um conjunto mais sóbrio. Em situações que requeiram algum formalismo, com um blaser azul escuro está a toilette feita. Com sapatos baixos ou com sapato alto azul escuro, tanto faz.
Um conjunto que, na aparência, é do mais clássico que há e, como se vê, tudo roupa barata de lojas por quem as flausinas não dão um tusto.
E digo-vos uma coisa: para o prazer ser ainda maior, o que era mesmo bom era que eu pudesse regatear o preço. Adoro. Mas nestas lojas não dá. É tudo mais que tabelado. Mas tenha eu oportunidade de negociar preços e aí é o delírio.
Faço com cada compra que não vos passa pela cabeça. Se é a nível profissional a coisa não me fica mal. Mas se é a nível pessoal e o meu marido está comigo, afasta-se, vai para a porta, tem vergonha. E os meus filhos são a mesma coisa. Eu até lhes dizia para me deixarem em paz, para eu poder fazer os meus números à vontade.
Bom e por aqui me fico porque a seguir tenho assuntos cabeludos para abordar.
Beethoven, 5ª Sinfonia - Interpretação fantástica e muito pouco convencional a cargo de Rudolf Budginas
Hoje estou a começar a escrever ainda mais tarde do que é costume. Depois de dois dias assaz preenchidos, só chegámos cá já passava um bom bocado das 9 da noite. O que vale é que tinha jantar no frigorífico. Mas, a seguir, fui deitar-me no sofá, estava cansada. Era minha intenção ver o telejornal da RTP2 para saber a quantas vai o mundo. Acho que me fiquei pelo Alberto João a provocar os bombeiros enquanto via o panorama terrível da paisagem ardida. Adormeci logo de seguida.
Mas, enfim, lá acordei algum tempo depois e já respondi aos comentários. Mas, com este regime maluco, já falta um quarto para as 2 da manhã e só agora estou a começar a escrever isto. Neste momento ouço lá fora um gato a gritar, não sei se chama por alguma gata, se anda nalguma perseguição a algum roedor. E ouço os grilos. Gosto. De tarde, à hora do calor, são as cigarras, é uma orquestra. Os sons do campo, que bom.
Enfim. De qualquer forma, depois dos afazeres, ainda consegui hoje ir tirar fotografias junto ao rio.
Ah, o rio, preciso mesmo do rio. Este hoje não foi bem aquele rio mais meu, aquele em que ando mesmo quase em cima dele. Deste hoje, separa-me um muro e há mais gente mas, paciência, é melhor este muito povoado e mais distante, do que a saudade dele.
E, de resto, Lisboa, para quem gosta dela, é sempre linda.
Tinha começado por ir ao Miradouro das Necessidades, perto do hospital de onde vinha, mas é um miradouro que não tem uma vista por aí além, pelo que aí me limitei a uma única fotografia.
Por isso, dali descemos até ao Cais Sodré.
Autocarro panorâmico em pleno Cais Sodré. Um dia ainda vou passear nele.
Entre o prédio azul ao fundo e os prédios brancos à esquerda, corre a Rua do Alecrim, uma
das ruas mais bonitas de Lisboa, que vai dar ao largo Camões, na zona do Chiado
Como de costume, os bancos e canteiros coloridos junto à esplanada dos puffs às cores estavam cheios de gente, gente a ler, gente ao sol, gente a namorar. É um local com imensa vida. Hoje havia muitos pescadores. Não vi foi nenhum indiano. Se calhar é só ao fim de semana que costumam vir passear à beira do rio. Vêm grandes famílias, todos com as suas belas roupas. Gosto imenso de os ver, os homens com elegantes e dignos turbantes, as mulheres com as vestes coloridas ondulando com a aragem que vem do rio.
Ternura em fundo azul
E há sempre muitos estrangeiros, famílias com crianças, casais que se fotografam mutuamente com o rio por trás, gente a dormir ao sol.
O prazer de dormir ao sol, rente ao rio
Não me saciei da saudade que tenho de andar à beira do rio mas, enfim, sempre foi melhor que nada. A ver se agora vou à praia um dia destes, tenho que ver quando é que está maré vazia. Ainda tenho algumas condicionantes mas, com algum cuidado, a ver se dá.
**
Já agora. Antes de ontem à noite resolvi fazer um colar para usar com a saia e a blusa que tinha resolvido vestir ontem. Depois, ontem de manhã, achei que estava formal demais para a toilette e fiz um outro, que foi o que acabei por usar, que é o da esquerda. Coloquei os dois sobre a blusa, junto à saia, para vos mostrar mas isto de fotografar bijuteria deve ter algum truque porque a fotografia não saíu nada fiel ao que são os colares. O da esquerda tem peças em turquesa e em rosa, intercadadas com bolinhas em dois tons de verde, umas em verde água e outras num verde um pouco mais vivo e umas pequeninas em amarelo - incluindo, portanto, todas cores da saia. O da direita tem dourados e encarnados e verdes. Algumas peças são transparentes e ficam bonitas pela luz contra a transparência colorida. Ao pousar os colares na blusa, perde-se o efeito e perde-se a cor. Tenho que ver qual a melhor forma de fotografar estas peças, se calhar tenho que os suspender para poderem receber a luz através deles. Seja como for, para já mostro-vos a fotografia que tenho. Gosto imenso de fazer colares e pulseiras e faço para mim e, por vezes, para oferecer.
Quase podia ser eu aqui... mas não, falta o miolo.
Aqui está apenas a vestimenta e os dois colares
E, como ando em maré de visitas guiadas à minha casa, aqui vos deixo mais um pormenor de um recantozinho. Embutido na parede, um painel de azulejos e, por baixo, uma figura artesanal de madeira, talvez uma Nossa Senhora e, junto a ela, um dos meus galos, uma vela em forma de ovelha, uma flor e, de lado, uns tubinhos suspensos que produzem música (o martelinho de madeira já desapareceu mas, estou certa, um dia destes encontro-o por aí).
Sobre o móvel da sala onde está a televisão e o leitor de dvd
**
Livrai-me, Senhor,
de tudo o que for
vazio de amor.
Que nunca me espere
quem bem me não quer
(homem ou mulher).
Livrai-me também
de quem me detém
e graça não tem.
E mais de quem não
possui nem um grão
de imaginação.
['Libera me' de Carlos Queiroz.... (o Poeta, não o ex-seleccionador)]
**
E é isto, Caros Leitores.
Tenham, por favor, uma bela quarta feira. Gozem-na bem, gozem a vida - não se esqueçam, está bem?