terça-feira, abril 30, 2019

Fazer amor é prática em vias de extinção?




Agora ia contar a pergunta que o ginecologista me fez quando lá fui pela primeira vez para me aconselhar sobre o método contraceptivo e eu, inocente, lhe respondi deixando-o de boca aberta, especado a olhar para mim. Mas não conto pois lá viria a vizinha do costume rosnar baixinho, pela calada, 'acha-se a melhor, a mais esperta e agora também a mais...'. Não. Não vou dar esse gostinho nem a ela nem a ninguém. Mas isso também foi há muito tempo e ele, o ginecologista simpático, quando me viu com um Lobo Antunes na mão contou-me que também ele tinha andado na guerra, também médico na guerra, também ele tinha passado por muito daquilo. E ficou sendo o meu ginecologista e foi a ele que pedi que ajudasse nos partos e que evitasse por tudo fazer-me cesarianas ou anestesiar-me. Foi ele que arrancou as duas crianças a ferros, a sangue frio. Médico dos bons.

Mas, quanto a isso, o que sei é que cada um é como cada qual e que a vida e as circunstâncias também influem. Mas coisa sempre houve -- e é bom que a gente não se esqueça das guerras, das invasões, das bubónicas, e etc. -- e não foi por isso. De resto, também é bom que a espécie não se extinga. É certo que para que a gente continue a existir não tem que ser na base do tradicional que o mais que não falta é método para todo o gosto. Também admito que isto de achar que é bom juntar o útil ao agradável é coisa já muito datada pois sei que pode ser útil sem ser mau e pode ser bom e não ter que ser útil.

Portanto, sabendo que os estudos mostram que a malta está a gostar cada vez menos de truca-truca e que, a manter-se a tendência, a coisa desanda rapidamente para o zero, fico sem ser capaz de dizer se é bom, se é mau. Talvez a malta adopte de vez a cena da produção independente num registo profissional, uma seringada de tizóidinhos lá para dentro e já está, e reserve o prazer para o robozinho, para a ciberconversinha, para o videozinho e, com o tempo, para nada. Talvez com o tempo a malta vire platónica. Talvez finalmente a malta alcance na boa o caminho para o céu, tudo casto, tudo virgem. Na volta, um dia destes, pecado já era.

E eu não digo que não. Sou pré-histórica, prima de bonobo, sobrinha de etrusca -- já não sei nada, já não risco nada. 

E estou a falar de um estudo científico, coisa boa, afiambrada, com a chancela de Cambridge (e o Translate dará uma ajuda a quem não saiba francês):
David Spiegelhalter est statisticien et professeur à l'université de Cambridge. Il s’est appuyé sur l’enquête nationale britannique Natsal qui étudie les comportements sexuels des anglais. Une enquête réalisée tous les dix ans, dont la première a eu lieu en 1990 – 1991 et la dernière en 2010 – 2012. 
David Spiegelhalter a donc superposé les résultats des trois enquêtes en sa possession et ainsi pu noter que la fréquence mensuelle des rapports sexuels perdait un point par décennie : en 1990, on faisait l’amour en moyenne 5 fois par mois, en 2000, 4 fois par mois et en 2010, 3 fois par mois. Pas besoin d’avoir fait l’X pour en arriver à la conclusion désolante que vous reniflez d’ici : en 2030, ça fera zéro.

Parece que o desinteresse vem do Netflix à noite e da hiperconectividade a toda a hora, teleleco sempre a despejar posts, likes, news e fake news, instas e o escambau.

O artigo acaba lembrando que 2030 está quase aí e que se a gente quer salvar o planeta deveria pensar bem nisto. Mas eu não sei se salvar o planeta é só inverter a tendência e passar a três ou quatro vezes por mês ou por semana ou por dia ou se para salvar o planeta é preciso mais do que isso. Mais. Muito mais. Fazer tudo diferente, tudo ao contrário. A menos que a gente queira um mundo virado para dentro, habitado por pessoas de patas para o ar e viradas para o próprio umbigo.

Mas isto sou eu a falar e, na volta, estou é influenciada pelas posições do Kama-Sutra que ando a estudar a ver se já as pratiquei todas.


__________________



_______________________________________________________


______________________________________________

Aniston & Sandler -- uma dupla que é muito bem capaz de ser imperdível



Gosto de coisas divertidas. Quando andava no liceu, perdia-me a rir com o Maxwell Smart e a Agente 99. Corria tudo mal, era tudo disparatado. Esforçavam-se, davam o máximo, ele achava-se o supra-sumo da intelligence, era cheio de esperteza... mas o resultado era sempre hilariante. 

Agora soube desta coisa, Murder Mystery, e pelo que vejo deve ser do mesmo género. A gaita é que é Netflix. Há coisas relativamente às quais, aqui em casa, somos resistentes. Não embarcamos. Não sei. Rebanhos não são comigo e aqui com o meu camarada muito menos. Mas começo a desconfiar que isto do Netflix é capaz de não ser o Facebook dos meios audio-visuais, daqueles engodos em que se cai sem se perceber que se caíu. Claro que já poderia ter aprofundado mas nunca me deu a curiosidade. Ouço os meus colegas fanáticos por séries todos Netflix para aqui, Netflix para acolá. E eu moita. 


Mas agora este trailer deixou-me a vacilar. Imagino-me já a rir à gargalhada, a dar saltos de susto e logo a seguir a dar gritos de riso.

E, ao ver ali uma cena, lembrei-me de um sítio em que trabalhei há muitos anos, um edifício lindo, com uma vista magnífica. No último piso, requintadamente decorado, havia de um lado um restaurante privado e, do outro, uma sala de reuniões. A meio havia uma biblioteca.  Os livros eram todos encadernados, ricas encadernações de pele em preto e bordeaux com letras douradas. Só que havia um segredo que poucas pessoas conheciam: uma das estantes era falsa, era uma porta oculta que dava para uma saída secreta. E aquilo passou a ser para mim um daqueles mistérios que me apetecia explorar mas sobre o qual se abatia um silêncio que nunca percebi se era cúmplice ou simplesmente desconhecedor. Contava-se que, anos antes, num dos pisos abaixo, um piso muito reservado, volta e meia havia umas visitas igualmente muito privadas que subiam num elevador também privado. Nessa altura, fechavam-se as portas e nada se sabia do que lá se passava. Houve uma altura em que calhou ter algumas reuniões num dos gabinetes desse piso. Na verdade eram mais apartamentos do que gabinetes: cada gabinete era gigante (à distância recordo que teria uns 50 m2 se não mais) e tinha não apenas a secretária, que tinha em frente uns cadeirões e mesinhas de apoio, atrás armários, e, mais à frente, uma mesa de reuniões para umas oito pessoas; num outro recanto, um sofá de pele com mais dois maples. Para cada gabinete havia uma casa de banho completa e uma outra sala de reuniões, maior, para conversas menos reservadas. E havia ainda os aposentos da secretária com o seu gabinete, a salinha de espera e a sala de arquivo. E isto para cada um dos (creio que) cinco administradores que trabalhava naquele piso.


Gostava de saber qual a actual ocupação desse edifício e, em especial, dos três últimos pisos. Gostava de saber se quem lá agora trabalha sonha sequer qual o ambiente que ali se vivia.

Um dia que tenha tempo livre para fazer o que me der na bolha, ainda vou revisitar todos os lugares especiais em que já trabalhei. Ainda me ponho de máquina em punho e faço daqueles meus animados vídeos.

Entretanto, let's look at the trailer.

Murder Mystery



Ah, e para quem tenha nascido em tempos decentes e não seja dos pré-históricos tempos em que o Get Smart passava na televisão, aqui fica um little cheirinho:


E até já, pessoal.

segunda-feira, abril 29, 2019

Este corpo





Isto para dizer que, tendo eu decidido firmemente fazer dieta, no outro dia, quando fomos lanchar, toda a gente a pedir tostas, sandes, torradas, e vou eu, sentindo-me tão doente, achei que deveria ser compensada com uma doce excepção e, vai daí, para mim pedi uma tarte de limão merengada e, para curar a doença e para fazer pendant com o boloum carioca de limão. O meu filho admirou-se: 'Mas não estavas a fazer dieta?'. Claro que estava.


Entretanto, depois de uns dias em cura de sono e a viver como que numa twilight zone, à vinda, o meu marido foi simpático e percebeu que eu estava carente de algo. Ou seja, perguntou: 'Queres ir comer um gelado?'. Respondi que, estando eu em rigorosa dieta, só ia abrir excepção por ele estar a insistir tanto. Ele ainda me tentou: 'Vê lá, se preferires, não vamos' mas eu não mordi o isco. Claro que fomos. Ou melhor, fui eu que ele não quis. Quando ia a entrar na gelataria pensei que ia ser só uma bola mas, quando pedi, o que me saíu foi: 'Cone de duas bolas'. Mas logo caí em mim. E, portanto, acrescentei: 'Cone sem açúcar' e, por caridade, abstive-me de me achar ridícula. 


Mas depois, enquanto me lambia com ele, ia pensando que, a partir de agora, é que ia ser. E vai. Macacos me mordam se não vai. Saladinhas, hidratos de carbono = bola, açúcar nem vê-lo, nem pintado, nem disfarçado de frutose.
Claro que isto do peso é uma quimera. Tenho colegas que fazem de tudo para engordar: comem papas, iogurtes gordos e açucarados, pão com marmelada e, para inveja global de todas as outras, mantêm-se elegantes de dar gosto. Mas elas não gostam: gostavam de ter chichinha, um pneuzinho que lhes enfeitasse o abdómen, umas maminhas mais salientes. A minha mãe, por exemplo, também pode comer de tudo que não muda de peso. Eu, desde que entrei na menopausa, é o contrário. Só de me apetecer um belo risotto já o meu cérebro interpreta que vêm aí calorias a mais e, por avanço, já começa a processá-las e a alojar gordurinhas a mais um pouco por todo o lado. E não que esteja muito gorda. Há quem ache que estou bem. Mas isto cada um compara-se com quem quer e eu comparo-me com o que era antes. Pode ser um disparate, pode ser que não se consiga nem faça sentido. Mas não quero saber. Tenho para mim que é uma questão de disciplina, de aritmética: não ingerir mais calorias do que as que consumo. E até atingir o ponto de equilíbrio, ingerir menos do que as que consumo. 

E estou a escrever isto e a pensar que não devo é estar boa da cabeça para, em noite de eleições em Espanha e com o galã do Vox, um cavaleiro vindo dos tempos de antanho, a marcar pontos, estar aqui nesta conversa da treta em vez de me dedicar a temas a sério. Por exemplo, talvez pudesse dizer que se calhar era oportuno perceber se há alguma consanguinidade entre o dito Abascal e o calinas do Melo (que parece que nunca fez ponta de coiso enquanto anda a fazer de conta que é deputado europeu e que agora quer ir a cavalinho na onda de populismo do outro) ou se aquilo é mesmo apenas afinidade ideológica. E também podia dizer que os senhores jornalistas deveriam perguntar à Madame Cristas da Coxa Grossa se perfilha a opinião do seu colaborador.


No entanto, agora que estou a sair da toca constipal em que, graças à ceterizina, estive hibernada, dormindo dias a fio, estou ainda desligada da realidade.
(Nem sei como consegui aparentar trabalhar durante a semana que passou. A sério: é um mistério.)
Ou seja, não consigo estar à altura dos temas pertinentes do mundo real nem sequer responder a mails nem a comentários -- e só de pensar que se avizinham mais uns dias normais de trabalho já me apetece voltar a hibernar. 


Portanto, voltando ao tema que aqui me traz: o das curvas.

Uma vez que os votantes, um pouco por todo o mundo, andam a dar mostras de estar fartos de políticos de faz de conta e, de carrinho, enfiam tudo no mesmo saco, e fartam-se também dos políticos de verdade, começam a vingar os palhaços, os comediantes, os apresentadores de reality shows, os parvalhões encartados. E eu, pensando nisso, e já que em Portugal somos mais comedidos, acho que poderíamos inovar e ter candidatos temáticos: os candidatos que são a favor da comida vegan, os candidatos que defendem o direito das mulheres a quererem casar com um agricultor, os candidatos que defendem o direito das pessoas a tatuarem-se de alto a baixo e... os que defendem o direito das mulheres a terem à sua disposição espelhos que emagreçam (ou que engordem -- conforme o caso).


E esta conversa toda porque.

Em França, o movimento The All Sizes Catwalk já aí está. E para provarem que não têm medo de nada e que vieram para ficar, desfilaram este domingo em Paris, no Trocadéro, bem em frentezinha da Torre Eiffel. Em lingerie. O que é bom é para se ver.

E quem não acreditar que faça o favor de conferir, que eu não estou aqui para enganar ninguém.

E desfilaram novas, velhas, magras, gordas, com celulite, sem celulite, mamalhudas ou nem por isso. Do 34 ao 52. Uma alegria de diversidade que assim é que é bonito.

[E fiquei a saber que, para que se saiba, o número mais comum em França é o 42. Boa.]

E, para terminar, un petit cadeau. 

Ou melhor, qual presente qual carapuça: um statement -- This Body


---------------------------------------

E uma boa semana para todos a começar já por esta segunda-feira.

-------------------------------------------

domingo, abril 28, 2019

Uma espreguiçadeira desengonçada, um gato armado em guia, um livro sobre livros, um abrunho muito rouge, uma nêspera à espera de ser comida e um murro no focinho do canguru



Não me lembro se dormi no carro mas acho que em estado de completa consciência também não vim. Sei que depois de almoço me deu um daqueles sonos pesados. A casa, como sempre, está fria. Fechada durante a semana, guarda nas suas grossas paredes a frescura das pedras originais. Por isso, achei melhor estender-me lá fora. Abri a espreguiçadeira debaixo da figueira que, com as suas folhas nascentes, já faz sombra.

Abri... é como quem diz. Não sei porquê, esta espreguiçadeira que a minha filha nos deu tem para ali qualquer coisa que transforma o que deveria ser uma simples operação num complexo desafio. Abro de um lado, fecha-se do outro, puxo pela parte dos pés, fecha-se a parte do assento, tento a pega de cernelha e fecha-se toda, caída no chão. Não quis dar o braço a torcer pelo que não fui pedir ajuda mas, como sempre que tento levar a cabo a faena por mim, foi uma luta.

Qualquer coisa nesta base:


Sei é que, quando consegui, estendi-me e, pimbas, tiro e queda, adormeci de súbito e dormi profundamente. 

Acordei hora e tal depois a sentir-me a assar. O sol tinha-se chegado à frente e a sombra recuado e eu estava à torreira do sol. 

Puxei a espreguiçadeira para trás e, com essas manobras, acordei. Estive, então, a ler o livro do Jaime Bulhosa com os seus apontamentos, histórias de livros e memórias de quando era livreiro. 

E a verdade é que, ao despertar, senti que estava melhor. Depois de ler, fui dar o meu passeio. Estava curiosa: estariam ainda lá os gatinhos? 

Quando dei por mim, ia o gato cor-de-mel à minha frente. Em silêncio e à distância, segui-o. De vez em quando parava, olhava para trás como que a certificar-se de que eu ali continuava. Eu parava também. E ele prosseguia e eu, à distância, devagar, atrás dele.


Deu uma volta grande, uma volta por fora, pelas extremas, a mesma volta que dou quando faço a minha caminhada. Contudo, quando estava a aproximar-se da toca, desapareceu. E eu, quando me abeirei dela, constatei o expectável: nem sinal dos gatinhos.

Ainda andei a espreitar, na esperança de ver algum a fugir, mas apenas havia o cantar dos passarinhos e o silêncio. E a paz e o perfume tão bom que se respira aqui, in heaven.

Depois, andei a fotografar. As flores. Os frutos.

A abelha a preparar-se para fazer 'mel de rosmaninho'

O primeiro abrunho -- um rouge que faria inveja à Dior e à Chanel

A nêspera, a primeira do ano, antes de ser comida

E depois voltei para casa porque o entardecer veio com fresco e voltei a sentir-me um bocado congestionada e, antes que a coisa retrocedesse, abriguei-me e agasalhei-me.

E agora já jantei e, para me provar que bem-bem ainda não estou, sinto-me, de novo, pedrada de sono, pedrada, pedrada. Não percebo se isto é das little ceterizinas, se é de outra coisa qualquer, mas a verdade é que, desde o meio da semana, parece que uma enorme onda de sono se abateu sobre mim. Já nem sei que faça. Hoje já não vou tomar nada. Aliás, tenho ideia que aquilo é para tomar só três dias. Se conseguisse tirar de mim esta coisa, este sono, este abatimento, e dar-lhe um bem-dado murro nas fuças, era bom. Seria um alívio.

Assim como este fez ao canguru. Coisa bem dada. 


E, com isto, estou de novo naquela circunstância que me deixa incapaz de garantir que ainda consiga cá voltar hoje.

sábado, abril 27, 2019

Que mundo é o de Sophia?
[Sophia, a robot humana]





Já não gotejo. Em contrapartida, estou como se estivesse sedada. Um comprimido por dia, ainda por cima de ínfima dimensão, e fico assim, neste estado. E esta noite vou tomar a terceira dose a ver se deixo de estar congestionada como ainda estou. Quero voltar ao normal. Nem tenho dormido com o vidro da janela completamente aberto pois receio que o frescor da noite, que me sabe tão bem, me faça pior. Tenho ideia que é à terceira que isto se cura. Não tive febre pelo que deve mesmo ser coisa de nada, só resfriado, influenza benigna, coisinha de gente retardada que se constipa quando os outros já curaram meia dúzia. O pior é que me diminui a energia a um ponto que não se imagina. Ainda eu estava apenas a sentir-me doente, sem ter tomado nada, e já estava inerte. Imagine-se agora, com um comprimido letal por dia. Para que se perceba: cheguei a casa e nem me despi. Vá lá, descalcei-me. Mas vim para o sofá com a roupa do dia. Quando dei por mim, estava o meu marido a perguntar-me o que jantávamos. E eu a querer acordar para lhe responder e só a adormecer. Quando o ouvi dizer que podíamos comer atum lá arrebitei: fiz um esforço e, ao fim de um bocado, consegui abrir os olhos. Arrastei-me até ao quarto, troquei de roupa e lá consegui chegar à cozinha. Liguei o forno no máximo. Descongelei salmão. Num tabuleiro coloquei pera aos quartos, depois os lombos de salmão em cima, temperei-os com sal, orégãos e azeite e levei ao forno. Nessa altura, baixei a temperatura. 

Regressei à sala e adormeci de novo. 


Acordei com ele a chamar-me. Felizmente o salmão não ficou esturricado. Mas também não se queimaria pois deixei a temperatura nos 150º. Quanto muito, secaria. Mas não secou. 

Lá fui. A mesa estava posta. Havia também arroz e salada. Comi um poucode salmão com salada. Também consegui lavar os pratos. Mas, mal cheguei de novo ao sofá, voltei a adormecer.  Já passava das dez, acordei de novo: era ele a perguntar-me se já tinha falado com os filhos. Liguei ao meu filho e, logo a seguir, tocou o telefone e era a minha filha. Não sei se voltei a adormecer mas sei que acordada não estou.

E agora aqui estou. 


Porque será? Porque estou aqui? É esta coisa de os meus dedos quererem dançar no teclado,  dançar mesmo que seja sozinhos, escreverem palavras que nem eu sei o que vão ser. Pois que seja, não me importo. É como se fosse outra, alguém que não sei quem é e que escreve sem me pedir autorização. Só sei o que escreve quando vejo escrito.

E isto faz-me pensar. Deve ser o primeiro pensamento que tenho hoje: e se eu não fosse eu mas 'alguém' que tivesse sido clonado e que se fizesse passar por mim? 'Alguém' não: uma coisa.

Pensamento meio delirante.

E se, num salto quântico, o tornar completamente delirante, vou parar lá onde todos os caminhos vão convergir.


Ao mesmo tempo que temo o uso perverso e desregulado da inteligência artificial, atrai-me muito. Pode ser uma ajuda potentíssima. E pode ter utilizações múltiplas e cada uma mais insólita que a outra.

Estive a ver a Sophia a conduzir uma sessão de meditação.

Cada vez vão humanizando mais o objecto. Sorri, tem rugas de expressão, semicerra os olhos, abre-os, diz piadas. Não tardará o dia em que conversará connosco de uma forma tão inteligente e sensível que preferiremos a sua companhia à dos humanos. Virá o dia em que as pessoas se apaixonarão pelos seus robots. O Her deixará de ser ficção. A inteligência das coisas será cada vez menos artificial. 


E chegará o dia em que poderei accionar uma opção no computador ou numa pequena coluna em que eu digo aqui uma coisa e, do outro lado, um robot escreverá outra ou eu direi, com esta minha voz, alguma coisa e, do lado de lá, daí, chegar-me-á alguém que lerá os vossos pensamentos e mos dirá com uma voz estranhamente humana. E quando eu disser maluquices ouvirei alguém a rir ou a querer corrigir-me. A emocionar-me. Chegará o dia. E não faltará muito.

O mundo está a caminhar rapidamente e quando percebermos que estamos a ser ultrapassados... só espero que não seja tarde demais.


Mas, enfim, não é dia para conversas dessas. Precisaria de ter grande parte dos neurónios activos e o que se passa é que nem um, único, deve estar em condições.

Vou, pois, introspeccionar-me de olhos fechados, a pensar na lua a banhar o rio, esteja ela como estiver, loura, esbelta, gélida, esquálida, promissora, fugidia. Tanto faz. O rio é tolerante, sempre uma boa cama.


Mas, antes, vou partilhar convosco um vídeo em que se vê como Sophia tem aprendido umas coisas. Jimmy Fallon até fica desconcertado.  Até já canta, ela, a coisa.


______________________


______________________________________________________________

A mamã ursa, o seu bebé ursinho -- e o drone


Entre apagões de consciência, que é o estado em que me encontro*, li sobre os riscos de perturbação que os intrusivos drones podem trazer ao frágil equilíbrio dos animais na natureza. E, para o ilustrar, havia um vídeo onde aparecia a sombra de um drone na neve. Ou seja, houve a sua presença física a sobrevoar uma ursa e a sua pequena cria.

E eu, que não tenho dados para afirmar se os animais se sentiram assustados ou se o facto de sentirem um corpo estranho a segui-los no espaço como uma ave ameaçadora os perturbou, concentrei-me, isso sim, nas imagens impressionantes da persistência do bebé, na sua força, e na presença atenta da mãe que não se afastou antes que o seu filhote se lhe juntasse. Como a percebo. Claro que eu, em circunstâncias idênticas, seria mais irracional que a ursa pois ter-me-ia atirado, de súbito, para ir buscar o meu bebé, provavelmente rebolando mais que ele e impedindo-o de subir. Mas cada um é como cada qual e é sabido que todos os animais são iguais mas que há alguns mais iguais que outros. E mais racionais, também.

Fallen Bear Cub Climbs Back to Mama



_____________________________

* E nem se imagina o esforço por me manter, na aparência, normal durante o dia de trabalho quando só me apetecia dizer que me deixassem em paz e me deixassem dormir sossegada.

sexta-feira, abril 26, 2019

Sempre tanto por descobrir





Como seria de esperar, dormi, dormi., dormi Dormi até manhã alta, dormi a seguir ao almoço, dormi antes de jantar.

Saí de tarde para estar com eles -- o bebé a dormir no carrinho, a menina a fazer equilibrismo nas cordas do arborismo, as crescidas na conversa e os rapazes, claro, a jogarem à bola (rapazes onde se incluem os crescidos, incluindo até este muito crescido que agora, aqui ao meu lado, canta Zeca Afonso enquanto na televisão passa um concerto que ainda não percebi se é de homenagem ao grande compositor se é de homenagem ao 25 de Abril).

Apesar do vento frio, dois dos meninos, os manos, trajavam a rigor: equipamento do Sporting de alto a baixo. Os outros despiram os casacos e camisolas para, no relvado, fazerem as balizas.


Depois fomos lanchar. Uns devoradores que surpreendem pelo inesgotável apetite. Até o bebé, depois de comer meia bolinha de pão com queijo, devorou, em três tempos, uma empada de galinha. Dos crescidos nem se fala: são poços sem fundo. Um gosto de ver.

Quando cheguei a casa vinha pior, mais congestionada. E, aqui no sofá, voltei a adormecer. Penso que seja o efeito da ceterizina que tomei ontem ao adormecer. Daqui a nada vou tomar outra porque já não estou uma fonte pingante mas estou longe de estar bem. Passei o inverno sem me constipar e agora, nesta mistura de primavera -- primavera que tem sido um misto de verão e invernia --  é que fui apanhar uma destas.

Mas adiante que esta coisa das constipações, apesar do mal-estar que causa, é uma doença de porcaria, não merece tanta prosa.


No outro dia, ou mais propriamente na véspera do 25, ao sair da empresa, despedi-me de uns com que me cruzei dizendo: Um bom 25 de abril! Olharam para mim, admirados, como se não percebessem, e disseram-me apenas, 'Bom feriado'. Fui no elevador um bocado incomodada. Depois pensei que ambos nasceram depois desse dia e que, na volta, é data que já pouco diz a quem não sabe como eram as coisas antes. Tenho pena. Haveríamos de encontrar uma forma criativa de fazer chegar aos mais jovens a mensagem de que a democracia e a liberdade são bens não adquiridos, efémeros, frágeis.

Os tempos de antes, cheios de negrume e atavismo -- tempos antiguinhos, de atraso e pobreza, tempos opressivos e de estúpida repressão, tempos que deveriam ser rejeitados por toda a gente de bem, tempos que não deixaram saudades e de que toda a gente de bem deveria guardar medo e a mais funda rejeição -- são tempos cujo fim deveria ser festejado sempre com alegria e convicção.


De manhã, enquanto eu dormi, o meu marido foi fazer uma caminhada e passou por lugares de homenagem. Quando acordei, disse-me, e percebi que estava com pena: 'Só velhotes'.

Não pode ser.

Os portugueses gostam de carpir, gostam de dizer mal, gostam de desprezar as suas raízes. Parece que o que os motiva são sobretudo as causas pontuais, com algo de onírico e distante, causas em que se envolvem empolgadamente (vestidos de branco, velas na mão, correntes no facebook, ajuntamentos virtuais, coisas assim) para logo a seguir se desinteressarem. Parece que não sabem honrar com renovado orgulho os que um dia se bateram pelo país, os que um dia se levantaram, dando o corpo às balas, para libertar o país seja do domínio estrangeiro, seja do atraso de uma vida em que se asfixiava.


Penso que todos, cada um de nós, deveria ser capaz de manter vivo o interesse e o orgulho colectivo nos melhores de nós, nos mais corajosos. Deveríamos ser capazes de mobilizar o interesse dos mais jovens pela defesa do património de memórias que ajudem a preservar a lembrança dos tempos retrógrados, anquilosados (em que até os jeans ou a coca-cola eram proibidos) como forma de garantirmos que nunca mais voltarão.

E há tanto por descobrir nessas memórias  -- os que um dia também foram jovens, com sonhos e que, por serem rebeldes e intrinsecamente livres, tiveram que viver em cativeiro, foram torturados, viveram na clandestinidade, tiveram que emigrar. São histórias que podem ser contadas com vozes novas, com vozes que emocionem e fiquem gravadas no coração de quem as ouça.


Vou acabar com mais uma música do Zeca. Tal como a primeira, Achégate a Mim Maruxa (que, se em tempos conheci, agora já não recordava), também esta, Galinhas do Mato, me soa a nova, tão nova, tão coisa de amor e ternura, cântico para tempos novos, sem querer saber de raças ou fronteiras. Faz parte do seu último álbum no qual, devido à sua doença, a maioria das canções já não pòde ser interpretada por ele.

Sempre tanto por descobrir.

Tão fértil e rico o património artistíco de José Afonso. Tão fértil e rico o património cultural e histórico do meu país que espero que, para sempre, seja de Abril.

Abril sempre, 25 de Abril sempre.



Sempre.

Para sempre.

quinta-feira, abril 25, 2019

25 de Abril sempre


A questão é que estou um bocado resfriada, com pingo, capaz de cair para o lado -- uma pancada total (e ainda nem sequer me tratei). 

E tive o pessoalzinho cá em casa, os pequeninos, e até fomos com eles para a rua, para um lugar de festejos. Depois voltámos porque estava frio. E mantiveram-se acordados até os pais os virem buscar. 

E fiz entrevistas aos meninos sobre o 25 de abril e disseram coisas engraçadas e até aprendi uma coisa, como aquilo de um senhor que esteve preso oito anos e depois preso outra vez e escreveu um livro que se chama Barrigas e Magriços -- e, quando perguntei quem foi, soube que foi o Senhor Bordalo Cunheiro. E eu disse que nunca tinha ouvido falar nem no livro nem nesse senhor e o menino de seis anos ficou contente por estar a ensinar-me coisas. A irmã disse que não era nada esse o nome, que era outro, mas ele insistiu e ela também não soube dizer qual era.

E ela contou que o Salazar fez uma ponte e deu-lhe o nome dele mas, quando foi o 25 de Abril, mudaram-lhe o nome da ponte para 25 de Abril. E que esse senhor, que era contra a liberdade e não deixava as pessoas usarem certas palavras como por exemplo 'chato e... etc.', caíu da cadeira, ficou doente da cabeça e veio o Marcelo Caetano que, quando foi o 25 de Abril, teve muito medo e fugiu para o Brasil.

Mas, hélas, não posso pôr aqui os filmes porque se mexem todos tanto que ora aparece a cara de um, ora aparece a de outro, ora o bebé quer roubar-me a máquina para ser ele a fazer a reportagem, ora é o meu marido que, sem perceber que decorriam filmagens, irrompeu pelo cenário adentro falando normalmente.

Portanto, como geralmente acontece, muito trabalhinho para nada.

E, agora, não levem a mal que volte a não conseguir responder a comentários e que o post não passe disto mas tenho mesmo que ir ali cair para o lado. Mas, antes, vou tomar um comprimido daqueles do tipo boa-noite-cinderela e, com certeza, vou dormir horas a fio. E, se tudo correr bem, fico boa. Ah, e vou também ali  pôr uma fralda no nariz. Com licença.

-----------------------------------------------------------------

E as fotografias não têm a ver com nada mas foi o que vi de apresentável ao querer uma mulher com um cravo não propriamente real mas talvez metafórico -- quiçá uns lábios em rouge, um chiffon amachucado em carmim suave a cobrir a pele nua, quiçá um little dress em carnation abstracto. As de John Heyes não me pareceram mal.

___________________________________________________________

E a Grândola não podia faltar, claro está


_____________________________________

25 de Abril sempre, anyway

quarta-feira, abril 24, 2019

Pecar em grande no Dia do Livro




Saí tarde à hora de almoço e, portanto, atrasada face à hora combinada. Ainda por cima, tinham-me chamado para o que seria suposto ser uma simples rapidinha pelo que nem tive pretexto para ir buscar o telemóvel. Só que, afinal, os preliminares nunca mais acabavam e o que se seguiu foi mais do que tântrico. Ou seja, não tive como avisar que ia chegar atrasada.

Ao fim de todo este tempo, ainda não ultrapassei isto: fico enervada quando estou atrasada. Detesto chegar atrasada. Das poucas coisas que verdadeiramente me enervam em profundidade é isto: estar agarrada numa reunião sabendo que vou chegar atrasada à seguinte ou estar agarrada, e sem escapatória, no trânsito sabendo que não vou conseguir chegar a horas. 


Portanto, cheguei atrasada. Quem por mim esperava, sem ter sido avisado, já se impacientava quando, chegada ao carro, avisei o óbvio: a hora combinada já era.

Tivémos, pois, que almoçar sem muitas delongas. Ele tinha horas para se ir embora. E eu também mas com uma pequena folga, coisa de uns dez minutos. Acontece que, quando ia no carro, tinha ouvido dizer que era Dia do Livro. 

Não ligo a esta coisa dos Dias de. Mas não ligo quando não me convém ou quando não estou nem aí. No caso vertente, pressenti logo que teria que abrir mais uma excepção. E pensei: deviam era fazer também o Dia dos Perfumes. Ou o Dia dos Brincos. Ou o Dia dos Gelados. A ver se não ligava a todos os Dias de, ai não que não.

E, assim sendo, quando ele se despediu a correr, perguntando-me se eu também não ia, respondi que, sendo Dia do Livro, teria que ir fazer as honras.


E é destas coisas que nem vale a pena tentar iludir: a gente sabe quando tem a predisposição no corpo. A gente quer, genuinamente, não ceder à tentação mas a gente sente, nessas alturas, que não é genuinamente coisa nenhuma, que a gente só está é à espera do pretexto e que, a bem dizer, nem é preciso pretexto nenhum, é mesmo só surgir a oportunidade.

Logo à entrada, a estante corrida, verso e reverso, de livros cheios de descontos, e descontos upa-upa. Pensei: cuidado, não vá já os teres. É que se é para pecar pois que o pecado venha com travo a coisa nova, a aventura e descoberta. Nada de coisa datada, coisa já por aí muito batida, coisa que talvez já tenha passado pelas minhas mãos. Não, se é para pecar pois que seja com coisinha a cheirar a novo, fora da zona de conforto, desconhecido, blind date.

Portanto, passei a zona dos déjà-vu e avancei resoluta para as novidades.


E aí foi a emoção inversa do stress-mau, aí foi aquele fremitozinho bom, tremurinha com cheirinho a desafio, com apelo irrecusável: pega-me, espreita-me, toma-me para ti.

Em situações assim nada a fazer, não me faço rogada, entrego-me ao prazer do desfrute. Peguei no primeiro, virei-o e revirei-o, abri-o e sondei as suas entranhas. Agradou-me. Teve que ser.

E assim foi, uma e outra e outra vez. Pensei: se é para pecar, se é para ceder à tentação, pois que a festa seja rija, sem pudor, sem arrependimento. Não com um que só um, em dias assim, é pouco. Dois. E que venha mais um que só dois é pouco.

Foram seis. 

Depois, quando vinha a sair, tive um rebate de consciência e, para me consolar, pensei: não são todos para mim. Um é para ele. O magala. Salvo seja, claro -- porque não é magala, é oficial do exército. O autor, bem entendido. Mas não é o autor que é presente meu para ele, é a obra. 


Mas os outros cinco são para mim -- embora, não sendo eu egoísta, tenha todo o prazer em partilhá-los. Um luxo. Depois, no carro, ia a pensar: não foi só por ser Dia do Livro, foi mas foi já coisa do 25 de Abril, para festejar a liberdade. E venham mais cinco. Venham mais cinco/ Duma assentada.

Quando cheguei aqui à sala com eles todos pelo braço, o meu marido olhou e riu-se: Deste-lhe! E eu já querendo ser perdoada mas, ainda, sem qualquer pudor pelo mal feito: Um é para ti. 

Depois peguei na máquina fotográfica e ele voltou a rir-se: Não me digas que vais fotografá-los... Claro que fui, orgia que é orgia tem que ficar registada. 


Com ínfimos excertos escolhidos completamente à toa (e ansiando pelo dia em que vou ter tempo para lê-los todos, de lisinho, na boazinha)

Presente para ele:

  • Que fazer contigo, pá? -- Carlos Vale Ferraz 

Longe das vistas e das censuras da família católica e dos colegas da Opus Dei, Maria del Tosario cortara os medos dos pecados e das más-línguas; benzia-se antes de abrir as pernas -- que se joda Rosario! -- e adradecia o prazer no final -- gracias, Jesús!

Presentes para mim:

  • Carne crua -- Rubem Fonseca
Um dia entrou no armazém uma moça muito linda, perfeita, seios pequenos, bunda durinha, pernas grossas, mas não muito. Seu Manoel a atendeu e u fiquei olhando, excitado; foi uma espécie de paixão à primeira vista. 
  • Dicionário sentimental do adultério -- Filipa Melo
Pense como um jogador de xadrez: com duas a três jogadas de avanço. Há quem diga que o adultério é uma forma de treinar não só o corpo mas também a existência.
  • Pedra de afiar livros e outras histórias de um livreiro -- Jaime Bulhosa
Vamos organizar no próximo mês uma grande festa de caridade. Contamos com as senhoras para nos levarem todos os objectos inúteis que tenham em casa: livros, vestuário, bugigangas e também, naturalmente, os maridos.
  • No impudor do olhar -- Octave Lothar
Assim a pele feminina, tapete mágico inesgotável, será acariciada, beliscada, mordida, fustigada, por forma a que se erga em voo pelo céu do desejo e nesse voo arraste quem quer que a ponha à prova, libertando os excessos e os prodígios nela represados.
  • Correio para mulheres -- Clarice Lispector
No entanto, quantos maridos poderiam evitar situações embaraçosas e desagradáveis se ouvissem mais os conselhos das esposas?Conselho é aquilo que não aceitamos porque desejamos experiência; e experiência é o que nos resta, depois de perdermos tudo o mais.

__________________________________________________________

Nota de culpa

Dadas as presentes circunstâncias -- o post foi longo e o anterior também um bocadinho e madruguei e a alvorada vai voltar a ser prematura e a noite de 24 vai ser longa -- não consigo manter-me acordada pelo tempo de que necessitaria para responder aos comentários. Por isso, aceitem as minhas desculpas. Mas saibam que os li e que gostei e que... (não posso dizer...) e que apenas não tenho bateria para mais conversa.

_____________________________________________________________

E porque sim, apesar do calendário ainda estar em Abril: Maio maduro Maio. E que viva a Liberdade. Sempre e para sempre.


25 de Abril, forever in our hearts. 

(E não me perguntem porque é que escrevi isto desta maneira e, ainda por cima, em inglês, porque não faço a mínima)

Os opostos atraem-se


Novo post no blog de Steve McCurry. Mal me apercebo disso logo vou espreitar, impaciente por descobrir qual é, desta vez, o motivo. É como receber um presente de alguém que sabemos que acerta sempre na escolha.

Há nas suas fotografias o amor das pessoas e o amor do que não é muito óbvio, o pormenor sob a capa da evidência, a ternura do olhar ou de duas mãos que se tocam, a alegria de viver num mundo diverso e colorido, a beleza incomum e intemporal.
[Steve's body of work spans conflicts, vanishing cultures, ancient traditions and contemporary culture alike – yet always retains the human element.]
na Croácia

Desta vez, Steve McCurry escolhe os contrastes e, como sempre, deixa-me com um sorriso seja pelo seu bom humor, seja pela sua ternura.

Escolho, para aqui partilhar convosco, algumas das suas fotografias e as citações que as acompanham.
The joy of juxtaposition is endless.
– Peter B. Lewis

“Creativity is that marvelous capacity to grasp
mutually distinct realities and draw a spark
from their juxtaposition.”
– Max Ernst.

no Afganistão

Não conheço nenhum destes países e embora neles haja certamente paisagens fantásticas (montanhas imponentes, mares que parecem estender-se até ao fim do mundo) ou monumentos maravilhosos,  nunca me senti motivada a ir à aventura para nenhum (talvez com excepção para a Croácia mas, ainda assim, longe de ser a minha primeira prioridade). 

Conheço pessoas que papam todos estes países, atraídos pela distância, pelo exotismo, pela mística. A mim não. Não me sentiria bem em ruas como as que aqui se vêem. Da Índia lembro-me sempre de quando um grupo de colegas lá foi e lhes aconteceu de tudo, desde uns miúdos que atiraram porcaria para os pés deles e depois pediram dinheiro para os limpar até um homem que, sem que nenhum dos meus colegas tenha conseguido impedi-lo, pôs uma cobra ao pescoço de um deles para pedir dinheiro por uma fotografia com a gibóia, deixando-o à beira de uma apoplexia.

Ná. a mim não me apanham numa dessas.

E um outro foi fazer um retiro espiritual para um lugar recôndito no meio da Índia, todo empolgado por ir meditar e fazer silêncio a milhas de casa, e acabou no meio de uma cena turística, mal organizada, mal limpa, com uma comida péssima.

Mas, enfim, lá por isso não deixo de gostar de ver como é a vida por lá. Sobretudo, gosto de ver as fotografias de McCurry.

na Índia

em Myanmar

na Índia

“There is something perfect to be found in the imperfect:
the law keeps balance through the juxtaposition of beauty,
which gains perfection through nurtured imperfection.”
– Dejan Stojanovic

outra vez na Índia

na Tailândia

A totalidade do post pode ser vista no blog de Steve McCurry

______________________________________________________

E já volto para vos mostrar como, porque a ocasião se proporcionou, cometi um abuso dos antigos

______________________________________________________________