Agora ia contar a pergunta que o ginecologista me fez quando lá fui pela primeira vez para me aconselhar sobre o método contraceptivo e eu, inocente, lhe respondi deixando-o de boca aberta, especado a olhar para mim. Mas não conto pois lá viria a vizinha do costume rosnar baixinho, pela calada, 'acha-se a melhor, a mais esperta e agora também a mais...'. Não. Não vou dar esse gostinho nem a ela nem a ninguém. Mas isso também foi há muito tempo e ele, o ginecologista simpático, quando me viu com um Lobo Antunes na mão contou-me que também ele tinha andado na guerra, também médico na guerra, também ele tinha passado por muito daquilo. E ficou sendo o meu ginecologista e foi a ele que pedi que ajudasse nos partos e que evitasse por tudo fazer-me cesarianas ou anestesiar-me. Foi ele que arrancou as duas crianças a ferros, a sangue frio. Médico dos bons.
Mas, quanto a isso, o que sei é que cada um é como cada qual e que a vida e as circunstâncias também influem. Mas coisa sempre houve -- e é bom que a gente não se esqueça das guerras, das invasões, das bubónicas, e etc. -- e não foi por isso. De resto, também é bom que a espécie não se extinga. É certo que para que a gente continue a existir não tem que ser na base do tradicional que o mais que não falta é método para todo o gosto. Também admito que isto de achar que é bom juntar o útil ao agradável é coisa já muito datada pois sei que pode ser útil sem ser mau e pode ser bom e não ter que ser útil.
Portanto, sabendo que os estudos mostram que a malta está a gostar cada vez menos de truca-truca e que, a manter-se a tendência, a coisa desanda rapidamente para o zero, fico sem ser capaz de dizer se é bom, se é mau. Talvez a malta adopte de vez a cena da produção independente num registo profissional, uma seringada de tizóidinhos lá para dentro e já está, e reserve o prazer para o robozinho, para a ciberconversinha, para o videozinho e, com o tempo, para nada. Talvez com o tempo a malta vire platónica. Talvez finalmente a malta alcance na boa o caminho para o céu, tudo casto, tudo virgem. Na volta, um dia destes, pecado já era.
E eu não digo que não. Sou pré-histórica, prima de bonobo, sobrinha de etrusca -- já não sei nada, já não risco nada.
E estou a falar de um estudo científico, coisa boa, afiambrada, com a chancela de Cambridge (e o Translate dará uma ajuda a quem não saiba francês):
David Spiegelhalter est statisticien et professeur à l'université de Cambridge. Il s’est appuyé sur l’enquête nationale britannique Natsal qui étudie les comportements sexuels des anglais. Une enquête réalisée tous les dix ans, dont la première a eu lieu en 1990 – 1991 et la dernière en 2010 – 2012.
David Spiegelhalter a donc superposé les résultats des trois enquêtes en sa possession et ainsi pu noter que la fréquence mensuelle des rapports sexuels perdait un point par décennie : en 1990, on faisait l’amour en moyenne 5 fois par mois, en 2000, 4 fois par mois et en 2010, 3 fois par mois. Pas besoin d’avoir fait l’X pour en arriver à la conclusion désolante que vous reniflez d’ici : en 2030, ça fera zéro.
Parece que o desinteresse vem do Netflix à noite e da hiperconectividade a toda a hora, teleleco sempre a despejar posts, likes, news e fake news, instas e o escambau.
O artigo acaba lembrando que 2030 está quase aí e que se a gente quer salvar o planeta deveria pensar bem nisto. Mas eu não sei se salvar o planeta é só inverter a tendência e passar a três ou quatro vezes por mês ou por semana ou por dia ou se para salvar o planeta é preciso mais do que isso. Mais. Muito mais. Fazer tudo diferente, tudo ao contrário. A menos que a gente queira um mundo virado para dentro, habitado por pessoas de patas para o ar e viradas para o próprio umbigo.
Mas isto sou eu a falar e, na volta, estou é influenciada pelas posições do Kama-Sutra que ando a estudar a ver se já as pratiquei todas.
O artigo acaba lembrando que 2030 está quase aí e que se a gente quer salvar o planeta deveria pensar bem nisto. Mas eu não sei se salvar o planeta é só inverter a tendência e passar a três ou quatro vezes por mês ou por semana ou por dia ou se para salvar o planeta é preciso mais do que isso. Mais. Muito mais. Fazer tudo diferente, tudo ao contrário. A menos que a gente queira um mundo virado para dentro, habitado por pessoas de patas para o ar e viradas para o próprio umbigo.
Mas isto sou eu a falar e, na volta, estou é influenciada pelas posições do Kama-Sutra que ando a estudar a ver se já as pratiquei todas.
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