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sexta-feira, abril 28, 2023

Sobre o vídeo com Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e outros: nada.
Prefiro os trabalhos de Gerhard Haderer

 

Mais uma vez tivemos um caso a preencher o dia. Todos os dias as televisões têm que ter casos para terem pretexto para nos enxamear os ecrãs com comentadores e toda uma chusma de opinadores que tanto opinam sobre finanças como sobre companhias de aviação como assuntos jurídicos ou sobre o preço das batatas. 

E, quando não há casos, a comunicação social cria-os. A seguir, cinicamente, vêm sugerir a dissolução da Assembleia por causa da sucessão de casos e casinhos. Claro que, a bem verdade, há que dizer que, a seguir, vem Marcelo também alimentar o tema 'dissolução'. Um círculo vicioso.

A divulgação do vídeo feito na Assembleia da República quando Augusto Santos Silva, Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e outras pessoas conversavam, entre eles, informalmente, é de uma imperdoável canalhice. 

Recuso-me a comentar uma conversa breve e inócua entre pessoas que se conhecem há muito tempo e acho uma coisa de vizinhas, de gente desocupada, tudo o que se diga em torno do que eles conversavam entre eles.

E concordo que se apurem as responsabilidades para se descobrir quem fez a pulhice de divulgar uma conversa cuja gravação e divulgada não foi autorizada.

Quanto às reacções do Chega e do IL são o que são, são aquilo a que nos vêm habituando, populismos exacerbados, palhaçadas, cegadas que poluem o espaço público, que visam minar a credibilidade da democracia. 

O que penso sobre isso já aqui o tenho vindo a dizer: não digo que se lhes corte o pio senão vão vitimizar-se. Digo apenas que, em minha opinião, pela vacuidade e pelo desrespeito que mostram pelas instituições democráticas, o pio deles merece desprezo e não palco.

A bem de uma respiração saudável no espaço público, os círculos viciosos têm que ser travados.

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O que me parece digno de realce são os trabalhos do caricaturista e cartoonista austríaco Gerhard Haderer. O mundo actual passa todo por aqui e melhor faríamos todos se parássemos para pensar um bocadinho no que andamos para aqui a fazer.











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Desejo-vos uma bela sexta-feira

Saúde. Cabeça fria. Olhos abertos. Paz.

sábado, novembro 12, 2022

Kherson e o tudo o mais que dificilmente compreendo

 


Há muitos assuntos relevantes, cada um em seu patamar. E eu não sei bem em que patamar hoje quero estar. E este 'querer' não tem a ver com afinidade mas com capacidade. Poderia até ter vontade de me abeirar de vários. Mas sei que não iria conseguir. 

Longe vão os tempos em que ficava bem com meia dúzia de horas de sono e, se falo em meia dúzia, até estou a pecar por excesso. Não há muito ia pelo menos uma vez por mês passar o dia em reuniões nas instalações da empresa a norte. Levantava-me às cinco e tal, saía de casa às seis depois de me ter deitado à uma ou duas. E, muitas vezes, com receio de não acordar com o despertador, quase não conseguia pregar olho nas escassas horas de cama. E, no entanto, estava fresca e aguentava um dia inteiro de reuniões, coffee breaks, almoço, viagens. Chegava a casa tarde, voltava a deitar-me tarde e no dia seguinte já estava fresca e a pé às sete e tal e pronta para outro dia.

Agora já não é bem assim. Nos últimos meses passei duas noites no hospital com a minha mãe (felizmente, saindo ela de lá bem) e, em ambos os casos, longas horas a pé (prefiro estar cá fora a andar de um lado para o outro do que estar no meio da apinhada sala de espera). E fiquei francamente cansada. Comparando com a minha resistência dos tempos dos esticões aquando das idas do meu pai às urgências não há comparação. Agora o meu corpo vai-se mais abaixo. Fico a sentir-me quase de gatas.

Ou seja, sinto necessidade de descansar, tenho vontade de ficar a dormir até mais tarde. 

E, por isso, chego a esta hora ou ao fim da semana e sinto que me falta a energia para falar de muitos assuntos. 

- As alterações climáticas e a nossa cultura e a nossa organização enquanto sociedade que nos leva a fazer uma vida assente no consumo de produtos produzidos a milhas, em viagens de avião a preço de uva mijona, em espaços industriais ou de serviços que se situam longe das zonas residenciais, em hábitos que são pouco saudáveis -- seria um dos temas em que hoje gostaria de falar sobretudo porque não vejo que estejamos colectivamente conscientes da inflexão que tem que ser feita, sobretudo porque não estou a perceber bem o rumo que isto está a levar.

- O Twitter, essa plataforma que meio mundo utiliza, nomeadamente políticos, empresários e tutti quanti foi tomada de assalto por um maluco encartado que despediu uns milhares e depois disse que os ia readmitir, depois que ia cobrar a certificação das contas verdadeiras e que ia fazer e depois desfazer,  montes de ideias ideias peregrinas, agora, perante a debandada geral, está nas bocas do mundo pelo risco de falência -- e esse seria outro dos temas sobre o qual também gostaria de falar. 

[A day of chaos brings Twitter closer to the brink]

[Two weeks after Elon Musk completed his acquisition of Twitter, the future of the company has never looked less certain. In the past week alone, one of the world’s most influential social networks has laid off half its workforce; alienated powerful advertisers; blown up key aspects of its product, then repeatedly launched and un-launched other features aimed at compensating for it; and witnessed an exodus of senior executives]

Sobretudo porque há em tudo isto muita coisa que não percebo, a começar naquilo que, pelos vistos, não oferece dúvidas aos milhões que tuitam. 

- Claro que também me apeteceria falar dos milhares de despedimentos do Facebook/Instagram e do que um dia aí virá para desgosto de quem se viciou na exposição pública da vida privada. Sobretudo porque um dia será muito claro que, para além dos fenómenos de adição ou de depressão, estas plataformas são um risco real para a democracia.

- Marcelo e as gaffes diárias (ou será horárias?) e a sua compulsiva necessidade de comentar tudo, seja de que natureza for, a qualquer hora, em qualquer contexto levando aos seus cada vez mais frequentes excessos, enganos, tons inapropriados, palavras deslocadas e/ou escusadas, tiradas infelizes, ideias trocadas e gatadas -- seria outro tema a que gostaria de deitar mão, em especial num dia em que, uma vez mais, se saiu com uma que logo mereceu reparos, correcções e sorrisos. Sobretudo não percebo se o senhor não está bem de vez ou se é achaque passageiro.

- Ou Matt Hancock, o bacano ex-ministro da Saúde inglês, demitido depois de ser apanhado abraçado e a apalpar o rabo a uma colega numa altura em que o distanciamento era obrigatório, e agora deputado, que está agora a participar num reality show, deixando os ingleses divertidíssimos e os conservadores em estado de rebuçado -- e disso eu apetecia-me mesmo falar. Sobretudo porque não percebo bem qual a dele e porque, para dizer a verdade, gostava de ver como reagiríamos se um qualquer nosso ex ministro e ainda deputado se metesse numa destas, a comer insectos e a conviver com cobras.

- E tantos mais temas... 

Mas não dá. O corpo está a pedir-me caminha.

Contudo, ainda assim, para que a vossa visita a esta vossa casa não seja completamente em vão, vou tentar falar de Kherson. Um bocadinho, que não dá para mais. E falo contente, claro. Como não...? Claro que fico contente. As imagens de felicidade dos ucranianos, a jovem a tocar violino na curva da estrada... Claro que tenho que me sentir contente. São momentos épicos.

Desde o dia um, quando -- petrificada e revoltada -- caí na real e constatei que a Rússia tinha mesmo invadido a Ucrânia, tive para mim que Putin não estava apenas a assassinar muitos inocentes e a arrasar um país, estava também a cavar a sua própria sepultura. 

Putin manda destruir prédios, pontes, escolas, teatros, hospitais, manda chacinar uma população e eu olho para o que a comunicação social mostra e o que vejo é a derrocada do regime corrupto e ditatorial de Putin, o que vejo é um perdedor, um desgraçado. E vejo também a incrível força anímica do povo ucraniano, um povo necessariamente vitorioso. 

Contudo, o que se passou com Kherson é qualquer coisa que não entendo bem. É uma vitória ucraniana, certamente. Mas se isso corresponder ao que parece, uma pesada e humilhante derrota russa, a situação será ainda mais caricata. Custa-me a crer que as forças do Kremlin sejam tão nabas e estejam tão desgovernadas como parece porque, se o que está a acontecer é mesmo o que se vê, então tudo isto será mesmo fruto de um delírio absurdo de um homem maluco e de uns quantos cobardes que vivem à sua sombra. No terreno, no dito teatro de guerra, o que parece é que tudo não passa de bandos de patifes deixados à solta, de bandidos descomandados, violadores, ladrões, esfomeados, ou simplesmente jovens espantados e desnorteados, sem uma estratégia que os guie. E, se assim é, como se explica que o mundo assista estarrecido a este circo bárbaro sem ser capaz de impedir o assassino de prosseguir?

A partir daqui, será que é a isto que se vai assistir: debandada geral dos russos, deixando tudo para trás, maquinaria, munições (para além de rastos de barbaridade)? Um dia, mais cedo do que pensamos, acordaremos com a notícia do fim do regime de Putin? Acordaremos, em breve, felizes com a notícia de paz na Ucrânia?

Ou isto não é exactamente o que parece...? Poderemos ainda ser surpreendidos com alguma outra cartada de violência e destruição?

Que Putin vai ser apeado e que a Ucrânia sairá vitoriosa e será reconstruída e será um dos mais felizes países europeus disso não tenho dúvida. O que não sei é se será em breve ou se, até lá, ainda muito mais sofrimento vai acontecer. Isto de Khersen deixa-me um bocado confundida. 

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Ilustrações, de novo, de Pawel Kuczynski na companhia de Nicolas Altstaedt que interpreta Bach/ Cello Suite nr. 1 in G – Sarabande

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Um bom sábado

Saúde. Tudo de bom. Paz.

sexta-feira, novembro 11, 2022

Ceninhas do meu dia a dia
[E dois momentos do humor: o do Klebão e o do supositício ex banqueiro Carlos Costa]

 


Só para dizer que, há uns três anos, na empresa, mudaram de empresa de cartões de refeição. Fiquei com saldo de dois euros no cartão antigo(e sei porque me enviam o saldo). Em relação ao seguinte, como mudei eu de empresa, passei a ter um cartão novo e do velho não sabia o saldo. A última vez que tentei usar no supermercado (para quem não saiba, estes cartões tanto podem ser usados em restaurantes como em supermercados) não consegui pagar, saldo insuficiente. 

Em relação ao primeiro, ainda não usei pois nunca mais me apareceu uma conta de dois euros. Em relação ao segundo, fiquei também com ele em stand by até perceber como saber o saldo e tentar encaixar uma conta nele.

Até que, no outro dia, no supermercado, a pessoa à minha frente, por sinal uma brasileira anafada, extrovertida e com um cabelo num louro ostensivamente irreal, ao pagar decretou: 'É pa parcelá'. Fiquei sem perceber. Parcelá? Já estou como o Bolsonaro, sem perceber. Seria 'parcelar? Mas parcelar a conta do supermercado? Contudo, o rapaz da caixa não estranhou: 'Quanto no primeiro cartão? E ela: 'Dezassete e meio'. Passou o cartão. A seguir passou o segundo. Fiquei bege. Afinal dá para pagar a conta do supermercado com dois cartões!? Como é que nunca me tinha lembrado de tal? Como é que nunca me tinha apercebido disso?

Mas, assim sendo, problema resolvido. Só tinha que descobrir o saldo do segundo que, pelas minhas contas, ainda teria dinheiro que se veja.

Então, hoje ao ir ao supermercado, tive uma ideia peregrina: ir primeiro à máquina do multibanco e ver se me dava o saldo do cartão. 

Enfiei o cartão. Ainda mal tinha introduzido o código já aquilo me estava a mostrar opções. Mas uma coisa atípica. Apenas duas opções 'Outras Operações' e 'Mb way'. Tentei  'Outras operações'. Em vez de me aparecer a opção 'consulta de saldos', não senhor, fui parar ao ecrã anterior. Tentei o Mb way. E, aí, nem saldo nem dinheiro nem nada. Zero. A máquina disse-me que, por razões de segurança, me ia reter o cartão e que contacte eu o banco. 

Fiquei siderada. Sou avessa a situações destas, sinto-me impotente, indefesa, fico a temer que o mundo me sugue, que um meteorito me caia em cima e me esmague para todo o sempre.

Mas, pronto, a vida continua. Fui fazer as compras. Pouca coisa e, sem saber como, cinquenta e dois euros. Isto está bonito, está. Imagino o sufoco para quem tem miúdos em casa e um ordenado curto ou para quem tem uma reforma baixa e medicamentos e despesas inadiáveis. 

Quando fui pagar, ao procurar o cartão normal, vi na carteira o outro cartão de refeição e constatei que, na máquina, me tinha enganado. Usei o cartão dos dois euros. Foi esse que, afinal, foi engolido. Ou seja, coloquei o código do cartão mais recente. Não percebo porque não assinalou que o código estava errado. Só sei que agora tenho que ligar para o banco e depois hei-de ter que ir buscá-lo. Ou deixá-lo lá ficar pois não sei se vale a pena grandes maçadas por dois euros.

Quando cheguei a casa, peguei no outro, o dito mais recente, aquele de que não sabia o saldo, e pus-me a vê-lo com olhos de ver. Vi que tem números de telefone. Nunca tinha reparado. Liguei. E fui guiada pelo atendedor automático: introduza o código. Depois: se quiser saber o saldo, digite 1. Digitei e aquilo disse-me o saldo. 29€.

Mas isto para dizer que andei este tempo todo sem saber como descalçar a bota e, afinal, era de caras: bastou ligar e fiquei logo a saber o saldo. E ando há anos a ir ao supermercado e desconhecia que dá para parcelar e pagar com dois cartões.


Às vezes acredito mesmo que devo ser de outro planeta, que não vejo e não ouço o mesmo que a maioria dos terrestes pois ignoro o que a maioria das pessoas sabe de cor e salteado. Ou então sou uma terrestre altamente limitada. É o mais provável, acho eu.

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As fantásticas ilustrações são da autoria do fantástico Paweł Kuczyński e lá em cima os Ok Go que, talvez por serem tão doidos eu acho o máximo, interpretam Here it goes again. 

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E, por falar em cartões, em especial os que parece que não têm saldo ou de que não se sabe se a culpa é do cartão, da máquina, do cu ou das calças, aqui fica o Klebão.

Aproximação segundo a Porta dos Fundos

Nunca foi sobre crédito ou débito, é sobre conexão, sobre estar junto em todos os pratos, em cada acompanhamento. É aquele acalento na alma na hora de pedir a conta e o coração chega a errar as batidas até a maquininha chegar. Ame seu garçom em praça pública!


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Já agora, o grande momento de humor do dia: o socialmente ainda respirante Carlos Costa parece estar a ver se ressuscita e, ao que consta, vai publicar um livro onde parece que faz de tudo a ver se se limpa. Está bem abelha. Aselha mais aselha não se conhece. Enquanto estava no posto armou-se em macaquinho tricéfalo: um não via, outro não ouvia, outro não falava. Os bancos a caírem como tordos, meio mundo a ficar a arder, e ele, tataranha, a fazer de conta que não sabia de nada e que, além disso, não era nada com ele. E agora, ao que parece, vai sair à pena com um livro em que parece que se põe a sacudir para cima de um e de outro. 

De gargalhada. Outra múmia paralítica que, volta e meia, quer fazer-se de viva. 

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Um dia bom
Saúde. Boa sorte. Paz.