Mostrar mensagens com a etiqueta Sophie Junker. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Sophie Junker. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, agosto 20, 2020

O dia foi bom. A casa começa a mostrar-se uma casa feliz.
Pior mesmo só o que se relaciona com o IKEA. Muito mau.




Já estou quase a sentir-me a dona do pedaço. Fiz duas máquinas, estendi a roupa no estendal que há logo ao sair da porta da cozinha. E fiz peixe cozido para o almoço com feijão verde, batata, cenoura, ovo. Quase como se estivesse a viver normalmente em minha casa. Esta começa a ser a minha casa e não a casa nova. Pelo meio, arrumei mais uma porção de sacos e caixas. Uma delas, bem grande, tinha material que me deixou passada: montes de livros 'estrangeiros'. Agora que eu tinha concluído a empreitada.

A sala ainda está um caos: falta arrumar os ensaios, os clássicos, as entrevistas, os diários, as correspondências. Não sei por que ordem arrumar nem sei em que estantes pois, no local para onde estavam destinados, parece que o espaço já escasseia. E as caixas de artes: cheias E as arquitecturas: tantas, todas cheias. Em grande parte, livros grandes, altos, de dimensões irregulares. Mas a ficção estrangeira, que eu pensava que estava esfolada, aparece-me agora ainda com aquilo tudo para encaixar. E isto já para não falar dos 'livros não livros' (como o rapaz das mudanças leu os 'livros não lidos') que ainda não sei como fazer. 

Mas o dia teve um momento menos bom: aconteceu uma coisa que me deixou deveras descoroçoada. Estava há tanto tempo a imaginar uma salinha toda com portugueses, só com portugueses. Tinha aquela dúvida que, por fim, ultrapassei decidindo que seria toda a língua portuguesa. E não só a prosa mas também a poesia. A estante dos portugueses da outra casa era do ikea em branco acinzentado metalizado e eu idealizei complementar com mais uns módulos, iguais, para ficar tudo em clarinho. Só que, para não ir lá, porque nem tenho tempo, encomendei online. O cinza do site causou-me alguma dúvida, não fiquei certa de que não seria mais cinza do que o meu branco acinzentado. Mas não havendo nada mais para além do branco-branco, admiti que fosse distorção cromática da fotografia. Hoje, como previsto e dando cumprimento ao meu 'cravanço', o meu filho veio montar as ditas cujas. Contou com a prestimosa colaboração da mulher que, surpreendentemente, tem um jeitão para aquilo que me deixa espantada e, confesso, com uma certa invejinha (mas invejinha das brancas, inocentes) já que eu não me acerto nada com aquilo. 

Depois de a semana passada não terem aparecido e de ter suado as estopinhas para saber o que se tinha passado e para conseguir reagendar -- coisa que só com a ajuda da minha filha consegui pois só lá foi via chat e facebook já que, por telefone, está quieto -- ficou para esta quarta-feira. Das 9 às 13:00. Eram quase duas da tarde e nada. Pensei que ia ser um déjà-vu. Mas não. Apareceram. Sem máscara, com má cara, sem uma explicação para o atraso, sem um pedido de desculpa, um deles só a tossir. Perante tão desconfortável panorama, pedi que deixassem as big caixas à porta, não os quis dentro de casa. 

Quando o meu filho e a minha nora chegaram expliquei porque é que aqueles pesadelos não estavam no sítio. Ele disse logo: 'Já percebi, as caixas estão cheias de covid' e, portanto, desembalaram tudo, deitou-se o cartão fora, desinfectaram as mãos. Não me senti nada confiante com aquela dupla mal amanhada de entregadores, nada como ter todos os cuidados. 

Mas o pior foi a má notícia que o meu filho e a minha nora me deram quando viram a cor daquilo. Cinza rato. Fiquei para morrer. Nada, nada a ver com o branco platinado da outra. O meu filho chama-lhe cinzento urbano mas eu, desconcertada, só me apetecia era chamar-lhe cinzento de m.... Aquilo diz cinza metalizado e, na fotografia, parece cinza bem claro. Nada a ver com o que recebi. A minha vontade é dizer que venham buscar. Só que, para isso, teria que gastar horas e horas e horas a ouvir música sem que ninguém me atendesse, haveria  de passar por chatices e mais chatices, haveriam de dizer que agora não dá para trocar porque já se deitou fora tudo o que é embalagem. Ficámos ali a olhar para aquilo, sem saber o que fazer. Cansada do ikea e do péssimo serviço com as entregas e do péssimo (ou, melhor, do inexistente) atendimento, resolvi que se montasse. Isto na esperança que, quando montadas, a apanhar a luz, a cor se mostrasse aclarada. Mas aclarada uma ova. O meu filho diz: agora que foi montada já não dá para devolver. Uma chatice. A minha filha diz que não lhe parece mal, que, como tem portas de vidro e como vai estar cheia de livros, não vai ficar mal. O meu marido, por seu lado, quando lhe pergunto o que acha, diz que não acha nada. O meu filho e a minha nora dizem que eu troque as portas por portas brancas. E, por isso, não montaram as que vieram. Mas não sei. Fundo cinza com portas brancas ao lado de uma em branco acinzentado capaz de parecer uma coisa que nem é carne nem é peixe. Que raiva. É o inconveniente de fazer compras online. Nada como ver ao vivo.

Enfim. Adiante.

E puseram-se mais uns quantos quadros, sempre debaixo da embirração do meu marido, porque, depois de posto, se percebe que ficou mais acima ou abaixo do que devia e ele não quer arrancar e fazer outro furo, porque diz que nas paredes onde queremos (eu e a minha filha) é betão e não se consegue furar, porque fura e não cobre o que está por baixo e, ainda por cima, fica zangado quando me zango com ele. Desde que me lembro que pôr quadros na parede é esta cena.

E a minha filha andou nas decorações, em parte em conjunto com a sobrinha. Está a ficar muito bonita, a minha casa. Clara, ampla, luminosa.

Os miúdos organizam-se, correm, brincam. Uma festa. Penso que sentem que é também já a casa deles. 

Tirando isso, trabalhei. Ainda não estou de férias. Portanto, não foi fácil. Telefonemas, mails. Como muita gente está de férias, tenho conseguido ter uma vida um pouco mais facilitada. Mas esta quinta-feira já vou estar com reuniões e, portanto, o equilíbrio tem que ser mais esforçado. E à noite tratei do que não consegui fazer durante o dia. Nunca sobra trabalho para o dia seguinte, isso é ponto de honra. Tenho é muita coisa para tratar a nível pessoal como, por exemplo, mudar a morada em tudo o que é sítio. Devia ter uma semana sem mais nada que fazer, só para pôr estes assuntos em ordem. Mas nunca disponho desse tempo.

E a ver se sossego e se tenho tempo para ler notícias e ver televisão para, ao menos, ter assunto.  E já nem falo em não cair a dormir mal aqui me sento. A querer despachar trabalho e só a sentir-me adormecer. Senhores.

Mas calo-me já. Imagino como deve ser fastidioso ler estes longos relatos sobre temas que, sendo importantes para mim, a vocês nada vos devem dizer. Sorry.

Amanhã a ver se vou às compras que há alguns dias que nem daqui saio. Tenho o frigorífico quase vazio. Tenho a casa cheia e, chegados à hora de jantar, cada um vai à sua vida pois nada tenho para lhes oferecer. Uma coisa que, em mim, é contranatura. 

__________________________________________


As imagens pré e com sorriso são uma graça, não são? Obtive-as através do Panda Chateado (Pics Of People Before And After They Were Asked To Smile).

Acompanha-nos a bela Nè men con l'ombre d'infedeltà de Handel na interpretação de Sophie Junker

_________________________________________

E votos de um dia feliz. Saúde a esperança em dias melhores. 

[E a quem está mal de amores o que digo é que há mais marés que marinheiros. Se o actual marinheiro é fraco e aparentemente não é capaz de levar o barco a bom porto, então pouco há a perder. E isto, obviamente, é válido para marinheiros e marinheiras. A vida não deve ser desperdiçada com quem não sabe ser a companhia que desejaríamos. A vida é para ser vivida em amor. E, se ainda não o encontrou, então é de ir à procura dele. Amores à espera de serem encontrados é o que não falta]