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domingo, janeiro 28, 2024

Falamos junto à luz


Quando o meu corpo apodrecer e eu for morta
Continuará o jardim, o céu e o mar,
E como hoje igualmente hão-de bailar
As quatro estações à minha porta.

Outros em Abril passarão no pomar
Em que eu tantas vezes passei,
Haverá longos poentes sobre o mar,
Outros amarão as coisas que eu amei.

Será o mesmo brilho, a mesma festa,
Será o mesmo jardim à minha porta,
E os cabelos doirados da floresta,
Como se eu não estivesse morta.

Sophia de Mello Breyner Andresen, em ‘Dia do Mar’


De tarde, chamados pela luz suave e dourada, pelo prenúncio de primavera que nos trouxe temperaturas muito aprazíveis, e, sobretudo, pelo menos pela parte que me toca, pela necessidade de oxigénio, fomos para a beira do rio.

O prazer de andar e conversar num dos lugares bons da cidade, a diversidade de gentes com que nos cruzamos, o sol sobre o rio, a boa companhia, tudo isso é remédio certo para lavar a alma.

Em tempos fotografava pessoas. Adorava. Sentia-me sempre uma observadora clandestina e, ao mesmo tempo, transparente. Já conseguia antecipar os movimentos das pessoas, as suas expressões. Estava de tocaia e, quando a ocasião se proporcionava, disparava. E, aparentemente, ninguém dava por nada.

Tenho muitas centenas ou, melhor, provavelmente, milhares de fotografias de pessoas. Mas depois temia sempre publicá-las pois receava que estivesse a pisar o risco da privacidade. É certo que há mesmo a modalidade de fotografia de rua e muito do que era a sociedade em tempos mal documentados se conhece através do trabalho de fotógrafos de rua. Mas, por via das dúvidas, encolhi-me. E, se não posso mostrar, para quê estar a fazer?

Portanto, agora tento evitar a presença de pessoas. Contudo, por vezes, é impossível deixá-las de fora. Mas, como sempre costumo dizer quando aparecem pessoas nas minhas fotografias, se alguém se reconhecer aqui e não quiser cá estar, bastará que mo diga.

Fomos lanchar ao CCB, depois fui lá tratar de um assunto e, de seguida, fomos passear para a beira do rio. 

O que abaixo partilho é parte da arte de rua que por aqui se pode ver. Escultura de homenagem ao pessoal clínico em tempos covid, a escultura Central Tejo, os big e engenhosos trabalhos da Joana Vasconcelos (se é arte ou gigantes trabalhos que incorporam design e montagem isso não sei), o mural em que vários artistas homenageiam o 25 de Abril, os belos murais de azulejos com poemas de Sophia, o próprio edifício do MAAT que é escultural.

A última fotografia não foi feita hoje nem é em Lisboa. É em Setúbal, no belo PUA, e é uma homenagem a José Afonso. A minha filha estava lá à frente mas, com o corrector, retirei-a. Não ficou perfeito mas como a escultura é algo 'incerta' a modos que disfarça.

Em dias como estes, é bom sair de casa, andar a passear, a laurear, a flanar, a desopilar, a vadiar, a turistar, a espairecer, a espanejar, a dar ar à pluma. Mas, para quem não possa fazê-lo, aqui fica um cheirinho.


























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E vi este vídeo de que gostei e que gostaria de partilhar. Já não é Green Renaissance mas Reflections of Life e são sempre tão tranquilos, transmitem serenidade, a vida a ser vivida com vagar, o contacto com a natureza, o prazer de existir de forma simples.

BELONGING - Finding Connection

Quando somos incompreendidos e sem apoio, é fácil sentir-nos sozinhos, como se não nos encaixássemos no mundo que nos rodeia. Mas algo lindo começa a acontecer quando entendemos que nossa singularidade não é uma falha, mas um motivo de comemoração.

À medida que aprendemos a valorizar e a partilhar os nossos dons individuais, reconhecendo a beleza das nossas diferenças, encontramos uma ligação renovada com o mundo - semelhante à harmonia encontrada na natureza, onde cada elemento contribui para a beleza geral da paisagem.

Inspirando-nos no mundo natural, entendemos que abraçar as nossas diferenças é um presente que podemos oferecer ao mundo, tornando-o um lugar mais bonito para todos que nos rodeiam.

A resposta reside em colmatar lacunas, cultivar a empatia e revelar a vibrante tapeçaria da nossa experiência humana partilhada através do reconhecimento e da celebração da diversidade.

Filmado em Singapura

Com Kathleen Yap


Desejo-vos um bom domingo
Saúde. Serenidade. Paz.

sexta-feira, junho 30, 2023

O Presidente Marcelo não vê a Grande Entrevista?

 

Conforme referi no post anterior sobre a felicidade, segue-se um texto da autoria do meu marido.


Vejo com alguma frequência a "Grande Entrevista" com Vítor Gonçalves na RTP3. O entrevistador prepara as entrevistas com cuidado, a maioria das vezes deixa os entrevistados falarem sem os interromper e os entrevistados são geralmente personalidades interessantes.

Vi as entrevistas do Ministro da Economia, do novo CEO da Delta, da Joana Vasconcelos e, ontem, do Governador do Banco de Portugal. 

Certamente que o sr. Presidente Marcelo teria aprendido algumas coisas com estes quatro entrevistados se as tivesse visto. 

Sobre economia teria aprendido que, afinal, há sectores industriais em Portugal em forte progressão, que afinal os salários médios têm aumentado, que existem politicas económicas suportadas no PRR e com objetivos definidos. 

Com o CEO da Delta aprenderia que o bom senso, o ouvir os outros. o criar grupos coesos com objetivos comuns deve fazer parte da ética do dia a dia de quem dirige e deve ser exemplo para a sua "equipa". 

Com a Joana Vasconcelos podia aprender que para se ser reconhecido e respeitado em muitos Países de vários Continentes não resulta de estar sempre nos media a dizer não importa o quê. 

Finalmente, com o Governador do Banco de Portugal poderia ter aprendido que afinal os salários disponíveis para os 20% mais pobres da população entre 2019 e 2022 cresceram 21% e que nos mesmo período a percentagem de crescimento do salário dos 20% mais ricos foi significativamente menor (6%). Também devia saber que, julgo, no mesmo período o número de empregos criados com salários bastante superiores ao salário médio foi praticamente o triplo (122 mil) dos salários criados no turismo cujo valor é bastante inferior ao salário médio, e que, felizmente, o incumprimento relativamente aos bancos não disparou, situando-se o crédito mal parado próximo da média europeia.

Teria feito bem ao Sr. Presidente assistir a estes programas e atentar na forma de estar destes quatro entrevistados, naturalmente, cada um com as suas ideias mas todos eles sensatos e merecedores do nosso respeito. O Sr. Presidente também poderia retirar das entrevistas assuntos importantes que vale a pena divulgar para que tenhamos orgulho naquilo que fazemos bem e seria um contributo para que os media revelassem este sucessos em vez de nos massacrarem com os dizeres sem relevância de muitos dos nossos políticos (incluindo o Sr. Presidente).

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Duas pequenas notas


1. Nos media somos matraqueados com a crise. Sugiro que investiguem se existe um grupo de pessoas que migra de festival para festival, de concerto para concerto, de arraial para arraial, de jogo de futebol para jogo de futebol, de restaurante para restaurante. Como está tudo sempre cheio/esgotado ou são sempre os mesmos que passam por lá ou então a crise não será tão abrangente como nos querem fazer crer.

Isto já para não falar no que as agências de turismo dizem que nunca se viajou tanto, para tão longe, para destinos tão caros.  

2. Ouvi hoje o noticiário das 20:00 da TSF. Falaram do incidente no aeroporto do Porto em que foi dada autorização para aterrar a um avião numa pista em que um outro avião se preparava para levantar. Podia ter sido uma tragédia. Pasme-se: o relevo que a Senhora que estava a ler as notícias deu não foi ao potencial acidente. Salientou, isso sim, que as conversas com os controladores são gravadas e, assim, se poderia esclarecer as causas do incidente. Até neste tipo de notícias a comunicação social toma  a nuvem por Juno. É triste e trágico!

quinta-feira, janeiro 18, 2018

Esperem!
Parem tudo!
Afinal há outra?
É a Agata que se 'inspira' na nossa Joana... ou é vice-versa....?
Alguém me esclareça, se faz favor.


Há uns anos, um conhecido meu falou-me que tinha estado em casa de um empresário endinheirado que tinha contratado uma artista plástica para lhe fazer uma peça artística com gravatas. Segundo me contou, era uma coisa com as muitas gravatas dele e com uma ventoinha por trás. As gravatas ondulavam com o ventinho. A autora de tão inspirada peça de arte chamava-se Joana Vasconcelos. Foi a primeira vez que ouvi falar dela.

Tempos depois começou a ser conhecida. O sapato alto com os tachos, o candelabro com tampões, o coração com talheres de plástico. Alguma graça. Depois viciou-se no género e tudo passou a ser espalhafatoso. A seguir o crochet. Muitas mulheres a fazerem crochet com lãs, os bocados unidos, coisas cobertas de crochet.

Para mim a obra dela tornou-se algo repetitiva e parecia-me que, às tantas, já só estava a trabalhar para a espectacularidade -- mas, enfim, era o que era. E se escrevo no passado é porque deixei de prestar atenção, não sei o que tem ela andado a fazer.


Pois bem. Agora, para meu espanto, sei de uma outra artista que desde há muitos anos faz coisas assim. Fui conferir e ainda mais pasmada fiquei. Se não estivesse a ver que era a tal Agata Oleksiak (aka Olek) a autora, juraria que era coisa da Joana Vasconcelos.

Caneco. Sou leiga e mais do que leiga nestas coisas mas, na minha mais pura leiguice, diria que uma plagia a outra. Ou então é daquelas coincidências do caraças. Até o processo é o mesmo: junta mulheres de uma comunidade e põe-nas a crochetar e depois, todas felizes, orgulham-se da sua obra. 
Touro coberto de crochet de Agata Oleksiak (aka Olek)
Crochet is not generally viewed as a fine art, nor is it commonly used as a vehicle for social change. But New York-based artist Agata Oleksiak (aka Olek) is challenging those assumptions by elevating the craft and using it as a force for community building. With the streets as her canvas, Olek uses the help of local volunteers to crochet her large-scale crochet masterpieces. For her latest project, “Love Across the USA,” she will travel to every state in the United States to produce crocheted murals that celebrate prominent women in US history. With each unique installation, she’s developed an art form that truly belongs to everyone.
Por estas imagens que aqui escolhi talvez não reconheçam grandes parecenças mas vejam, por favor, o vídeo.

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Touro coberto de crochet de Joana Vasconcelos

Trabalhos de Joana Vasconcelos
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sábado, março 05, 2016

As escolhas de Cavaco: desta vez, Barahona Possolo para seu retratista oficial enquanto Presidente -- e o que eu digo é que teve sorte. Vá lá que ao Barahona não lhe deu para pôr o Aníbal a fazer de cartaginês depravado. Vá lá.





Sempre que o Cavaco ou a Srª Dona Cavaca fizeram escolhas nos domínios artísticos franzi o sobrolho. Os meus santos não cruzam com os santos do casal em nada, mas em nadica mesmo, nem nas fadistas, nem nas artistas plásticas, nem nos costureiros.

E digo isto agora porque andava em felgas. Interrogava-me: quem irá ele escolher para seu retratista? 

Vontade de ressuscitar o Malhoa não lhe deve ter faltado. Aquele lá, sim, pintava como deve ser, devem eles ter suspirado dias a fio. E a Maria até deve ter condescendido: Se ele fizesse questão, até não te importavas de ficar com uma guitarra ao colo. Mas ele, com aquele pragmatismo tão bastamente documentado nos seus Roteiros, deve ter rematado a conversa: Mas não dá, não dá, vamos tirar daí o sentido.

Uma coisa tinham eles como certa, e isto desde o início: com a Paula Rego é que ele não se ia meter.


Terá D. Maria dito: Vai que aquela maluca te põe outra vez a coçar o que não deves e a mamar na teta de uma velha. Ainda iam dizer que a velha sou eu. Essa gentinha peçonhenta é capaz de dizer tudo. Ou vá que não, que te pinta como deve ser mas, já sabes, com ela nunca se sabe, vá que ainda te põe cabeçudo, pezudo e enjoado, com uma república de fantasia ao lado, como fez ao pobre do Sampaio... Nem pensar.


A Dona Cavaca também deve ter resolvido: Com o Pomar é melhor também não te meteres, que dali não ia sair boa coisa, ainda te fazia todo abstracto e às cores mas, com a mania de ser engraçado ainda te punha a dares ares de cagarra embasbacada a olhar para uma vaca risonha. Não, o Pomar também não. Resultou com o Soares mas é porque do Soares o Pomar gosta... agora de ti... ui... medo....


E muito ela se deve ter lastimado: A nossa Joaninha pintar não pinta, porque se pintasse era ela mesmo, e posavas num cadeirão com um naperon nas costas, ao pé de uma mesa redonda coberta por uma camilha de renda, de rosetas e, em cima, um candeeiro com abat-jour com franjas feitas de tampões e, aos pés, um cão feito de crochet. Até parece que estou a ver. Mas não, é pena mas não dá, a nossa Joaninha é mais bibelots. 


O consultor artístico deve ter sugerido o Julião Sarmento,  era uma hipótese, iam dizer que afinal o Cavaco era moderno mas a Dona Cavaca não é moça de ir em conversas, deve logo ter alertado: Vai que ele te pinta só as pernas ou te põe inclinado e sem cabeça? E ele deve ter dito, Capaz disso é ele. Risca, Maria.


Um dia, alguém lhe deve ter dito: A Clotilde Fava também faz umas figuras engraçadas, pinta bem, é do estilo quase realista. E o casal Mariani, já em desespero, deve ter dito: Então, se calhar.

Mas as amigas da Dona Maria devem ter-lhe segredado: É melhor não, o seu esposo não ia gostar, e não é por ela ser ex-sogra do Sócrates, é mais porque ele ainda se arrisca a sair com cara de preto ou de peixe. Ao que a Maria deve ter ido a correr ter com o maridinho: Ai filho, disseram-me umas coisas, olha, a Clotilde também não.


E assim devem ter andado, dilema atrás de dilema, todos descoroçoados, O que é que a gente resolve, Maria? Qualquer dia já não dá tempo, vê lá se ajudas, mulher.
Sei lá eu, homem, por mais que puxe pela cabeça já não me sai nada, que é tu queres? Mas olha lá: tu já perguntaste ao Liberato? Não?! Então pergunta, homem, que aquilo lá é ladino, sabe tudo.

E portanto alguém lhes deve ter dito (se calhar até foi mesmo o Liberato, sei lá): Há um tipo que tem mão. E devem ter mostrado ao casal uns quadros em que o Barahona se manteve na linha, tudo tão realista que até parecia uma fotografia, tudo nove horas, nem um fio fora do lugar. E o casal deve ter-se entreolhado e, à uma, deve ter ter feito um alegre give me five e dito em uníssono: Feito!

E assim foi.

Claro que ninguém os deve ter avisado da desbunda que volta e meia grassa pelas pinturas do Barahona. Uma coisa que só vista. Na última exposição que vi dele até tive que, volta e meia, desviar o meu pudico olhar. Um realismo que até faz impressão, benza-os deus.




Claro está que ao Barahona Possolo vontade de despir o Cavaco -- e pô-lo em poses impróprias para consumo -- não lhe deve ter faltado. Quiçá até pô-lo com um espelho à frente onde se reflectisse a imagem do seu alter-ego, a sua alma gémea: a Dona Maria Cavaca em pessoa. Ou todo barrigudo, prenhe de si próprio, e, a espreitarem lá atrás, os amigos do BPN. Mas vá lá, não sei como, conseguiu conter-se e parir um Cavaco igual a ele mesmo. Teve sorte nisso, o Cavaco. Vá lá.


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Já agora, para quem não conhece a obra de Carlos Pedro Barahona Fernandes Possollo de Carvalho (Lisboa, 5 de Agosto de 1967) -- filho de Abecassis João Martins Possollo de Leão Vasco de Carvalho (Alenquer, Aldeia Gavinha, 8 de Fevereiro de 1928), de ascendência Italiana e Alemã, e de sua mulher Luísa Cândida Calleça Barahona Fernandes --  aqui fica um vídeo que mostra bem a sua mão para retratos e a sua imaginação transbordante.

Chamo a atenção para que algumas das pinturas poderão chocar algumas almas, especialmente as mais dadas a apreciar modelos masculinos do género dos que aparecem no vídeo linkado no post abaixo. Portanto, aqui fica o meu aviso: vão com calma.

Estou a avisar.


Recomendo ainda (a maiores de 18, conforme lá se aconselha) a visita ao site do grande Barahona.

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Lá em cima, o acompanhamento musical do post esteve a cargo de Kátia Guerreiro e Anselmo Ralph, numa de transição do actual presidente para o futuro: 'Não me toca'

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A quem ainda não visitou o post que se segue, no qual se recomenda a algumas figuras uma ida ao espaço para ver se crescem 5 cm e onde se faz referência a um curioso concurso para homens, sugiro que vão por aí abaixo.


quarta-feira, junho 24, 2015

O Pacheco Pereira e os demasiado lampeiros para serem sérios, o PS de António Costa, as sondagens, o Syriza, a UE, o euro, esta prisão absurda gerida por burocratas imbecis e desalmados --- e todo este mundo de incertezas e absurdos.


Meus Caros, no post abaixo falei das lágrimas que me cobriram os olhos perante o magnífico Pano de Cena pintado por Chagall para a Flauta Mágica e que está no CCB. No post a seguir falei da surpresa que tive ao ler um comentário que alguém muito especial para mim deixou no post sobre o Valverde Hotel de Lisboa.


Mas, agora, que entrem as valquírias!







É que, estando eu nesta boa onda, compreenderão que pouca vontade tenha para sujar os dedos com palavras sobre a forma cobarde e estúpida como os burocratas imbecis que governam a Europa estão a tratar a Grécia. Cobardes, estúpidos, desrespeitadores, acéfalos, broncos. E ainda gozam a pensar que ganham alguma coisa vergando um povo, um país. Gente parva, perigosa.

Compreenderão também que não tenha vontade nenhuma de falar deste PS tomado por maria-amélias que medem cada palavra com medo de que os tomem por perigosos radicais, gente acobardada que parece que só lhes falta andar de fralda, que não são capazes de dizer alto e bom som que governar não é desprezar o povo, não é impedir o desenvolvimento económico, não é amarrar gerações a uma dívida que parece um monstro de mil goelas. Compreenderão que já nem posso ver o António Costa incapaz de formar uma equipa credível, de gente desempoeirada, virada para o futuro, em vez de andar rodeado apenas por meia dúzia de gatos pingados a arrastar os pés como zombies.

Compreenderão que me custa à brava ver que tem que ser gente como o Pacheco Pereira a escrever coisas como Demasiado lampeiros para serem sérios 

(e uma vez mais agradeço ao Leitor que me enviou o artigo que eu, de outra forma, não teria lido que nem tempo tenho para passar os olhos, mesmo que apenas de relance, pelos jornais). Transcrevo a parte do texto que esse Leitor me enviou:

O PS ainda não percebeu em que filme é que está metido. Continuem com falinhas mansas, a fazer vénias para a Europa ver, a chamar “tontos” ao Syriza, a pedir quase por favor um atestado de respeitabilidade aos amigos do Governo, a andar a ver fábricas “inovadoras”, feiras de ovelhas e de fumeiro, a pedir certificados de bom comportamento a Marcelo e Marques Mendes, a fazer cartazes sem conteúdo — não têm melhor em que gastar dinheiro? — e vão longe.


Será que não percebem o que se está a passar? Enquanto ninguém disser na cara do senhor primeiro-ministro ou do homem “irrevogável” dos sete chapéus, ou das outras personagens menores, esta tão simples coisa: “O senhor está a mentir”, e aguentar-se à bronca, a oposição não vai a lado nenhum. Por uma razão muito simples: é que ele está mesmo a mentir e quem não se sente não é filho de boa gente. Mas para isso é preciso mandar pela borda fora os consultores de imagem e de marketing, os assessores, os conselheiros, a corte pomposa dos fiéis e deixar entrar uma lufada de ar fresco de indignação.


Compreenderão meus Caros como fico arreliada, e arreliada é apenas um suave eufemismo, por ter que ser uma pessoa do PSD a dar este abre-olhos ao António Costa.

É tarde e espera-me outro dia dos valentes pelo que tenho que estancar a minha indignação perante tudo isto. Mas a verdade é que fico passada com tudo isto, fico mesmo.



A União Europeia fede entregue a gente que toma decisões para ter votos nas eleições do seu país ao mesmo tempo que amarra os países menos desenvolvidos e mais vulneráveis a pactos incumpríveis e os impede de crescer ou de ter esperança numa vida melhor.

Portugal está entregue a uns Pafs ignorantes, manipuladores, gente incapaz que tem vendido o País ao desbarato, gente que já nem deveria poder sair à rua sem apanhar com grandoladas, gargalhadas, sapatos, tartes e sei lá que mais em cima -- e que, afinal, por aí andam lampeiros, a defecar de alto (pardon my french).

O PS, que tinha tudo para fazer uma oposição de pé em riste, anda armada em sei lá o quê, umas mariazinhas que parece que saíram da sacristia. Nem sei o que pense disto tudo. Ou o PS acorda para a vida e percebe que, se toda a gente acha que o Passos Coelho e o Portas não prestam, mas que, ainda assim, consideram votar neles, é porque não se revêem na forma como o PS está a actuar -- ou vamos ter o caldo entornado nas próximas eleições, ai vamos, vamos.

E enquanto a UE não começar a ter Chefes de Estado capazes, gente com visão, vamos continuar a ter cimeiras que só servem para enterrar cada vez mais o ideal europeu. O cherne foi-se embora mas o aquário ficou cheio de peixe podre. Caraças.

Vou pregar para outra freguesia que já estou farta desta cambada toda. Bolas para isto.




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As imagens mostram a Golden Valkyrie de Joana Vasconcelos. A música é (e desculpem por nem traduzir mas já mal consigo manter-me acordada): The Ride of the Valkyries from Wagner's Ring Cycle at the Met.

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Sem rever nada de nada e a escrever quase de olhos fechados e, portanto, antevendo que haja para aqui mais de mil gralhas, apresento desde já as minhas desculpas.

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E, se me permitem o conselho, desçam até aos dois post seguintes que contêm temas mais agradáveis.

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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma bela quarta-feira.

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quarta-feira, junho 17, 2015

Desta ainda a nossa Joana Vasconcelos ainda não se lembrou: obras de arte com bananas. Dá-me ideia é que são obras de arte efémeras porque devem esmorecer muito quando estão murchas.


E ainda me dizem que sou criativa. Qual quê? Criativa, o escambau! Quando vejo as obras de arte da nossa Joana que faz bules onde cabem láparos e isto cabendo ela lá também lá dentro, ou instalações que são tábuas umas em cima de outras, ou outras coisas que não lembram ao careca fico a pensar: como é que eu ainda não me tinha lembrado desta...? 

Pois bem. Hoje nova frustração. Obras de arte tendo como matéria prima a casca da banana e isto com a própria banana lá dentro: belas escavações e pinturas na casca, uma coisa mesmo transcendente. 

Não sei bem é onde é que se põem aquelas obras de arte: suspensas do tecto? em cima de um móvel? Não sei. Preocupa-me é que eu, distraída como sou, haveria de me esquecer e, quando desse com elas, haveriam de estar murchas, infelizes, moles. E lá se teria ido a obra de arte. Digo isto como se, não sendo eu uma cabeça no ar, fosse possível manter as bananas em boa forma durante muito tempo -- quando acho que não.

Bem, não interessa, isto já sou eu a prender-me com coisas prosaicas. Alguém com veia lírica, capaz até de imaginar a banana a declamar poesia e eu aqui a pensar como se conseguiria preservar a banana na sua forma original. A Joana, então, capaz de fazer um candelabro artístico, todo ele feito de cachos e cachos de bananas escavacadas e coloridas, estejam elas na sua forma poderosa ou murcha.

Mas vejam, por favor, se não é uma belezura. Mostro apenas três exemplares mas é tudo muito bonito.


Esta, se feita pela nossa Joana, até aposto que a D. Maria Cavaca, sua devota, a encomendaria logo para engalanar o salão nobre do Palácio de Belém: afinal tem as cores de Portugal e, toda corações ao alto, aponta no sentido do futuro.
Até poderia ter sido usada como decoração no púlpito onde o seu Aníbal falou, Aníbal esse que, entre outros, condecorou o costureiro que faz as toilettes dela, D. Cavaca, (refiro-me a Carlos Gil, agora Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique). Tudo a condizer, portanto.


Esta é a versão romântica da banana, toda ela em pink e rendilhado em folhinhas, Acho que ficaria muito bem como header nuns blogs muito dados às coisas do coração


Esta é a versão desconsolada da coisa.
Mas os optimistas talvez vejam nela um daqueles para-quedas ou parapente ou lá o que é


E terminemos com um pequeno apontamento musical que, nestas coisas, a música a preceito abrilhanta sempre os momentos artísticos.


Que entre, pois, a Chiquita Banana.


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O inspirado artista que faz as obras de arte em bananas chama-se Dan Cretu e dei com ele no Bored Panda (onde mais?).

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domingo, setembro 28, 2014

Olha onde eu fui descobrir a Joana Vasconcelos...! Na Dior! J'Adore Miss Dior.


Depois de, abaixo, ter divulgado o vídeo com algumas 'notáveis' a propósito do desfile Dior outono/inverno 2014/15, aqui, agora, partilho convosco a surpresa que acabei de ter: Joana Vasconcelos, elle-même, na Dior, executando mais uma das suas mega peças. 

(Isto já tem meses, eu é que não acompanho estas faenas e portanto, só agora, ao descobrir o vídeo, é que me dei conta).








Trata-se de um big, big laço (280x305x105) feito com frascos de perfume Dior J'Adore, resina de poliéster, fibra de vidro, LEDs RGB, microcontrolador, fonte de alimentação, metal.


A peça Dior J'Adore foi inspirada no vestido Concerto, um clássico Dior.


Na fotografia, Joana Vasconcelos com Natalie Portman, rosto da marca.



No vídeo abaixo, Karl Lagerfeld, na abertura da exposição 'Miss Dior' no Grand Palais em Novembro do ano passado, declara-se obcecado com a rapariga que fez o laço, diz que a adora. E uma coisa é certa, não há como negar: o laço de Joana Vasconcelos está em grande destaque. Não sei se é arte, se é design, se quê. Mas não é coisa que passe despercebida e, naquele contexto, tem pinta.




Esta rapariga, de facto, para além do mais, tem olho para o negócio, tem sentido de marketing.






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quarta-feira, julho 09, 2014

Reportagem fotográfica da primeira visita oficial dos Reis de Espanha a Portugal, o protectorado do vice-irrevogável (que não consegui ver por lá).


Estou cheia de pena, cheia, cheia. O meu filho falava-me há bocado no tanque que era a equipa alemã e, quando o disse ainda a coisa ia em 5 a 0. Mas agora que já vai em 7 a 1 nem sei o que dirá ele: bomba atómica..? Que pena dos rapazes, coitados. Ninguém merece uma humilhação destas.

Bom, adiante que eu de futebol não sei nada.

No post abaixo já vos mostrei uma fotografia em grande plano de Letizia: dá para ver em pormenor como é que ela se maquilha e é uma perfeição. Claro que a beleza dela e a qualidade da pele e do cabelo ajudam muito mas, ainda assim, é uma lição de bem maquilhar.

Mas se abaixo a coisa se foca na beleza, aqui, agora, a conversa é outra, um bocadinho outra. Um bocadinho porque, com diminutivo, talvez custe menos.


Ora vejamos o que é que temos aqui.

Mas ao som de Marisol, por supuesto.



Ha llegado un Angel




O Rei de Espanha a fazer de conta que não reparava
no pernão da Sum-Sum
e a Rainha a interrogar-se mentalmente
porque teria ela que estar ali naquele cenário do século passado
.
.

A nossa inconseguida Sum-Sum Esteves desta vez armou-se em woman in red, pernoca ao léu, dressed to impress


Mas é bizarra demais, aquela cabeça espetada, aquela pose, tornam-na uma figura que se presta à caricatura. Resta saber o que disse. Às tantas, a indumentária ainda foi o menos. Imaginem se desatou com aquela conversa do soft power e mais não sei o quê...

Os Reis de Espanha com Assunção Esteves
(que parece estar a pedir uma esmolinha)

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Na fotografia sentada, não se percebe bem o modelito da Sum-Sum mas, quando está de pé, a gente vê que a toilette também resultou inconseguida. Uma verdadeira frustação inconseguimental.

O cabelinho, a expressaozita, o casaquinho, tudo é coitadinho, parece que está naquela, desculpe lá qualquer coisinha, ó senhor meu rei...

O Rei olha para ela com espanto, parece nem saber bem o que dizer, se lhe há-de dar uma peseta se lhe há-de pôr uma chucha a ver se ela não chora..

A Rainha faz como eu: olha para o lado a ver se não encara. Na volta padece do mesmo mal que eu, tem pavor de desatar a rir perante situações assim.

A pobre da Letizia não teve a vida facilitada nesta visita. Como ontem vos mostrei, ia ficando sem mão, com o Cavaco a lambuzar-se nela.
O meu marido diz que o homem estava era com raivinhas (como o nosso bebé que, quando tem os dentes a nascer, morde tudo o que lhe passa por perto). 
Depois ainda teve que passar pela provação de ter pela frente uma inconseguida que não diz coisa com coisa. Se à Sum-Sum lhe deu para falar em espanhol, então faço ideia o espectáculo.

Os Reis de Espanha com o Casal Coelho

.

E ainda teve que ouvir a D. Laurinha a ensinar-lhe com pormenor e linguagem gestual a receita das farófias. 


Letizia nem queria acreditar quando a D. Laurinha defendeu que as queijadas que o marido faz são ainda melhores que as de Sintra. Pela expressão corporal, a gente consegue adivinhar o pensamento da Rainha: 'Não acredito no que esta me está a dizer... Pleeeaase... Tirem-me deste filme...!'




Cavaco Silva largou a mão da Rainha para logo se agarrar ao cotovelo.
 Senhores, que melga.
.

Já para não falar do Cavaco, armado em babaca, todo derretido, sempre a agarrar-se à rapariga, a parecer um velho babão. 

Joana Vasconcelos, a artista plástica do regime,
sempre a inovar nas toilettes


(O azul da esfregona 
quase coincide com o azul do fato de Letizia 
mas o bracinho cor de rosa faz a diferença)


E tudo sob o olhar baboso da D. Cavaca. A moça está mesmo 'Pleaaasee, deixem-me em paz...' ou 'Mas este não me larga... Pleeaase, atem-no, tirem-no daqui. E as gracinhas que diz... e o sotaque, senhores, a querer falar espanhol... pleeeaaase... poupem-me...'

Mas a coisa não se ficou por aqui.

Não sei se a Kátia Guerreiro, de saia rodada, xaile pelas costas  e sorriso embevecido, também por lá andou mas a Joana das Pegas e dos Tachos não faltou.


Desta vez não foi vestida com uma colcha, nem com um espanador na cabeça nem sequer mascarada de bicho exótico.


Não senhor, desta vez Joana Vasconcelos foi menos elaborada: foi de simples esfregona. 


Pela fotografia não consigo ver se a coisa ia até aos joelhos ou se ia de mini-saia, uma coisa mesmo na base da Vileda. 

Pela expressão do Cavaco, com dentinhos de fora, teme-se o pior relativamente ao que estaria a dizer. Uma gracinha foleira, certamente. 

Enquanto isso, gabando a Vasconcelos, a D. Cavaca dizia a Letizia 'Quem a vê ninguém diz mas é uma mãos de fada. E os tachos dela...? Areados que dão gosto'.



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E assim se passou a primeira visita de Felipe e Letizia, Reis de Espanha, a este protectorado. Só sinto falta, nesta minha reportagem fotográfica, do Caniche Miró. Será que não se apresentou para abrir a porta dos palácios?


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E entretanto acabou o jogo Brasil-Alemanha, um resultado humilhante, um mineiraço desgraçado: quando o apito final soou, primeiro os jogadores brasileiros rezaram e, depois da oração, caíram na maior choradeira. O meu marido disse, dantes os jogadores de futebol eram do tipo machão, agora são do tipo sensível.


A seguir o Felipão apareceu com a conversa mole do costume. Espremi e não deitou sumo.

Agora tenho o treinador alemão aqui na sala, um sujeito entre o sinistro e a esquisitinho, uma franjinha para o suspeito. A conferência está a ser dublada e a coisa soa ainda mais estranha.

Mas eu, como não acompanho estas coisas, não sei qual a moral da história.

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(As fotos da visita real foram obtidas aqui e ali, nomeadamente na !Hola! - e eu devia ser capaz de virar o ponto de exclamação de pernas para o ar mas não sei como se faz).

E, agora que falo de ponto de exclamação, ocorreu-me que, em tempos, parece que andou por aí uma cabala contra os pontos de exclamação. Tenho ideia que os intelectuais achavam que isso das exclamações - muita pontuação, muita emoção - era coisa de gente brega. Já com os advérbios de modo parece que é a mesma coisa, um encanitanço dos diabos. E eu, que passo os meus dias no meio dos números e no meio de gente que nem uma vírgula sabe usar quanto mais aconselhar-me nestas minhas dúvidas linguísticas, leio a gozação dos intelectuais e fico a pensar: ó com o caraças, mas como é que eu, plebeia das letras, me vou expressar por escrito sem usar pontos de exclamação ou advérbios de modo? Se ninguém me vê a rir, se não vale a pena gesticular, se bem posso dar murros na mesa que ninguém me ouve... como vou fazer para a escrita soar expressiva, e não parecer escanzelada, pele e osso, pãozinho sem sal...? E estou a escrever isto e a pensar: na volta até as reticências são enfeite desnecessário.

Mas adiante.

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E olé! que se faz tarde.




 Suite Sevilha pela Companhia de Dança Antonio Navarro

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Meus Caros, hoje fico-me por aqui. Pus-me a responder a mails, tinha uns poucos - e, mesmo assim, não consegui responder a todos - e agora já estou cheia de sono. Tenho aqui umas anedotas e umas notícias parvas para comentar mas estou pedradésima, mesmo a precisar de ir descansar, já não dá para fazer mais nada por aqui. Também queria dar uma folheada num livro que comprei e que está a despertar a minha curiosidade mas acho que nem isso.

Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta feira.


sábado, abril 26, 2014

25 de Abril de 2014 junto ao Convento do Carmo. E, depois, passeio por Lisboa, a bela, colorida e luminosa cidade que esteve todo o dia em festa. Esta é a minha reportagem fotográfica.







Na manhã de 25 de Abril de 2014 parecia que todos os rios iam desaguar ao Carmo. Lisboa linda como sempre, solar, amena. E aquele movimento que a anima, gente diferente, gente de outras terras que se junta à festa, cravos na mão, sorrisos, expectativas. 

O Largo do Carmo transbordante. As ruas que o alimentam cheias.

Comecei na Rua Nova da Trindade que já estava cheia mas quis ir mesmo lá abaixo. 

Que não, que não, impossível, não se vai conseguir arranjar sítio. Mas eu queria mesmo era circular. Difícil, de facto...

Um aperto: o Largo do Carmo cheio, cheio, não cabia nem mais um ovo. Mas lá consegui ir circulando, a custo, muito a custo. Depois subimos pela Travessa do Carmo e voltámos à Rua da Trindade, o meu marido sem perceber esta minha vontade de ver tudo, de testemunhar, de registar. Digo-lhe que é a minha veia de repórter. Responde-me, és maluca, é o que é. Talvez.

Quem lá esteve sabe do que falo. Muita gente.

Tirei uma fotografia panorâmica com o telemóvel e enviei aos meus filhos e aos meus pais. A minha filha perguntou de volta: 'Só cotas?'. respondi que não. Todas as idades. Crianças. Mas sim, muitos cotas. 

Gente com bom ar. 

O que eu vejo nestas manifestações é que quem lá está é essencialmente classe média ou média alta, senão alta mesmo. Os muito pobres, os abandonados pela sociedade não se manifestam, nem isso fazem. Estarão cansados, infelizes, descrentes. 

Vê-se muito do que terá sido a geração estudantil em 74 ou os que passaram pelas crises académicas de final dos anos 60, e que hoje se revoltam porque vêem o País agora entregue a gente desclassificada.

Vêem-se pessoas de idade, muitos cabelos brancos, gente que não suporta a ideia de se ver tratada como se de um grupo de parasitas se tratasse.

Mas, pela primeira vez, vi muitos casais jovens, gente que se vem chegando talvez com curiosidade, talvez com vontade de exercer os seus direitos, talvez sentindo que viver não é sinónimo de aceitar mas de lutar. 

Mas há um tal ambiente de festa que todos se sentem inevitavelmente bem vindos, acolhidos num ambiente de fraternidade.

Não sei se é da luz de Lisboa, se é dos cravos, tantos cravos, se é do espírito que Abril induz nas pessoas, a verdade é que as pessoas estavam bonitas, garbosas, joviais.

Nestes momentos a emoção toma um pouco conta de mim. 

Um povo que se vê espoliado, insultado, os seus sonhos roubados e que, depois, reage assim, vindo pacificamente para a rua, como se viesse para uma festa. Há uma forma tranquila, uma resiliência, uma superioridade moral que é tocante.

E Vasco Lourenço falou e foi muito aplaudido. Disse da sua revolta e da forma como estes desgovernantes destratam as pessoas, esquecendo-se delas, desgovernando para agradar aos mercados custe o que custar e não para as pessoas. Disse também que a União Europeia está a impor regras que atentam contra a liberdade soberana do País e que, se isto continua assim, deveremos pensar sair dela. Nesta parte não aplaudi embora não discorde totalmente, não sei.

Estou plenamente de acordo com o ideal europeu mas a UE encontra-se de tal maneira manietada por burocratas ou por políticos que os países rejeitam para uso doméstico e exportam para lá como refugo que aquilo acaba por se tornar um caldo amorfo, sem líderes. A UE anda à deriva e toque de caixa por uma Merkel que manda mais do que todos os organismos atafulhados por milhares de seres cinzentos, meio descerebrados. Mas sair de lá e ficarmos entregues apenas a nós próprios, sabendo a fragilidade do regime português e a debilidade (mental e não só) de grande parte dos políticos, não sei não.

Também não me revejo no derrube forçado do Governo. Ou deveria ser destituído por Cavaco Silva ou deveria demitir-se se o resultado das europeias lhe for muito mau. Por norma, não sou adepta de golpes de estado. Pelo contrário, sou totalmente adepta de regimes democráticos e só em casos extremos, como era o caso do regime antes do 25 de Abril de há 40 anos, me revejo na forma como o derrube então aconteceu.

A referência de Vasco Lourenço ao actual Presidente da República mereceu a maior vaia, uma monumental assobiadela, e gritos como Ladrão!, Grande filho da...1, É o pior de todos!, ouviram-se de entre uma multidão revoltada.


Depois, no final, ele propôs que cantássemos o Grândola e depois o Hino Nacional.

Nesta altura comovo-me sempre. Milhares de pessoas a cantarem em uníssono a Grândola, todos ali junto uns aos outros, aquele frémito quase material que percorre os corpos - e a mim as lágrimas correm pela cara, não as consigo controlar.

E a seguir o Hino. A energia do cantar da Portuguesa foi formidável. No final, a parte da luta pela pátria e contra os canhões marchar, marchar, foi cantada a plenos pulmões, com raiva, com muita energia, com uma força que trespassaria qualquer palerma armado em governante de pacotilha que, naquela altura, por ali passasse.

E depois o grito de ordem O povo unido jamais será vencido. O povo unido jamais será vencido. O povo unido jamais será vencido.

Poderia soar  quase como um grito de guerra mas, na boca afável dos portugueses, soa apenas a um aviso, mais a um alerta para que não esgotem a sua paciência. O povo unido jamais será vencido. E a mim soa-me como um grito de união e a mim a união expressa desta forma uníssona emociona-me sempre.

Vi várias figuras públicas conhecidas e fotografei algumas. Contudo, agora que estava a escolher, de entre as centenas que fiz, algumas para aqui vos mostrar, achei que não deveria colocar fotografias de pessoas públicas mas que, certamente, ali estavam a título pessoal. E, por isso, apenas aqui divulgo fotografias de pessoas que não conheço.
Como sempre o digo, se alguma das pessoas retratadas o não permitir, bastará que me contacte e solicite que retire a fotografia que logo o farei.
Continuando. Dali seguimos para o Chiado. Em festa também, tanta a gente, tanta a luz, tanta a música que envolve quem passa. Os Capitães de Abril andam também por ali. Bela homenagem esta a de espalhar fotografias do dia inicial, puro, limpo, que há 40 anos fechou o ciclo obscurantista que impedia o desenvolvimento do País.














Sei que muitos dos meus Leitores não são de Lisboa. É a pensar neles e, em especial, aos que terão mais dificuldades em vir até cá nos próximos tempos que mostro todas estas fotografias.

Há tanto movimento, tanta cor, que a cidade parece ainda mais bonita. Há imensos turistas.

O trabalho de António Costa à frente da autarquia tem sido inteligente e meritório. Atrai as pessoas para o uso da cidade. Também senti isso quando estive, há uns meses, no Porto.

No entanto, Lisboa é mais meridional, mais desinibida.

Pelo menos, a mim parece-me.

E dali fomos até ao rio. Inevitável, o Tejo.

As esplanadas cheias, cheias, gente a apanhar sol, o rio perfumado, imenso.

Acostado, o cacilheiro Trafaria que era apresentado com direito a cocktail.

Podia mostrar-vos muito mais - como a surreal sessão fotográfica a que assisti e que registei, com uma produção bem exigente, modelos femininos de cabelos e vestidos ao vento e cães felpudos - ou a elegância das mulheres que passeia em Lisboa. Mas isto ficaria longo demais e não quero maçar-vos indecorosamente.

Mas deixem que vos mostre a alegria dos meus pimentinhas que se nos juntaram na parte da tarde no Terreiro do Paço para verem as viaturas militares. Ela não ligou patavina, claro. Material de guerra não é a praia dela. Mas os rapazes deliraram. Boys will be boys, disse a minha filha quando os viu todos num entusiasmo com os canhões, os mísseis, os equipamentos com antenas e sei lá que mais. Até o bebé se interessou, já para não falar no pai dele que se pôs a fazer pontaria com uma G3.

Mas não é tudo material de guerra como os soldados lhes foram explicando. Há veículos de salvamento ou patrulhamento ou para actuar em situações de emergência. O mais crescido fez perguntas e mais perguntas e o ex-bebé ria de felicidade, aos comandos daquela maquinaria toda.

Depois ficámos mais um pouco por ali à espera de ouvir a Banda da Armada. Na altura ainda não havia muita gente e eu podia fazer uma reportagem completa só com as pessoas curiosas que iam aparecendo, com as mulheres elegantes, com os homens patuscos, ou com a graciosidade florida das raparigas.

Depois, então, começaram os marinheiros aventureiros.

Numa altura em que já ninguém fazia tropa e sendo a minha filha já nascida, um dia, ao chegarmos a casa, o meu marido tinha um postal à sua espera na caixa do correio. Não percebíamos o que era aquilo, nem nos ocorreu o que pudesse ser. Era a incorporação na tropa. De todos nossos amigos e ex-colegas de curso, ele foi o único que foi mobilizado, uma coisa incompreensível. Foi ser professor numa das Escolas da Armada, parece que precisavam, na altura, de professores para as cadeiras que ele foi dar. Na altura foi um choque brutal para nós. Estava a trabalhar, claro, e foi ganhar muito menos. E ele era (e é) todo anti-militarista e ver-se a fazer tropa foi uma contrariedade muito grande. Mas eu acabei por achar graça àquilo. Ele ficava lindo com a farda. No inverno, a farda era azul escura; no verão, era branca. E havia umas mordomias agradáveis. Ainda lá esteve 26 meses. 

E ainda mantém alguma ligação à Marinha. Era um ambiente bom, uma camaradagem agradável. Por isso, ficámos ali a ver e ouvir a banda no Terreiro do Paço.

Entretanto, o Terreiro do Paço tinha-se enchido. Havia provas de ginástica, e muita gente, muita luz. A bateria da máquina estava a chegar ao fim mas há coisas a que não se consegue resistir.

Esta cadelinha estava produzida a rigor, uma autêntica Portuguesa.

É o que vos digo: os portugueses são afáveis, boa gente, com um sentido de humor notável.

Apesar da desgraça que lhes caíu em cima com o governo mais incompetente de que há memória, os portugueses enchem-se de cravos, cravos nas mãos, nos chapéus, no cabelo, na lapela (eu usei o meu atrás da orelha, preso com os óculos de sol), sorriem, apanham sol, vivem. Não perderam a força, não perderam o ânimo. Gostei de ver os meus conterrâneos. Ainda não morreram. Ainda estamos vivos.

Já estávamos cansados pelo que apenas espreitámos os Restauradores, não tivemos energia para a Avenida da Liberdade. Por pouco não apanhámos a chuva de cravos. Acabámos a jornada deitados ao sol, rente, rente ao Tejo, naquela rampa que desce do passeio ribeirinho até ao rio. Quando estávamos a ir para lá, cruzámo-nos com Manuel Salgado, o arquitecto de Lisboa, que tem imaginado os espaços públicos da cidade e que a tem devolvido às pessoas.

Um belo, belo dia. 25 de Abril sempre. Claro que não ouvi o que é que o Cavaco disse na Assembleia da República nem estou interessada em saber se enviou recados ou alfinetadas ou as banalidades do costume. Há mais vida para além de gente como ele.

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Nobre povo, Nação valente



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São 3 da manhã e isto saíu-me tão extenso e estou com tanto sono que não consigo rever o que escrevi. Por isso, se detectarem gralhas, por favor relevem, imaginem que são gaivotas e não gralhas... A menos que sejam calinadas imperdoáveis, caso em que vos peço que, por favor, me avisem.

Não consigo responder aos comentários do post anterior mas a ver se amanhã respondo a um deles que acho que não deve passar sem resposta. Todos têm direito à sua opinião mas custa ouvir defender o regime anterior ao 25 de Abril, um regime que mantinha o Pais amordaçado, atrasado, inculto, um país que era uma vergonha.

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Já agora dou a ficha completa da jornada. Almoçámos no Restaurante Pessoa na Rua dos Douradores, um dos bons restaurantes tradicionais da cidade. Os comes repartiram-se entre ovas de pescada cozidas com batatas e feijão verde e lulas grelhadas com o mesmo acompanhamento, as sobremesas entre torta da casa e ananás. Ambiente do mais tranquilo que há, comida da boa, preços muito acessíveis. Uma dose custa à volta de 9 euros e dá para 2 pessoas. As meias doses são individuais mas muito bem servidas e custam 7 euros. Recomendo.

De resto, no que se refere à música deste post:
  • A Grândola, Vila Morena, é cantada pela Joan Baez e pelas pessoas que assistem
  • O Hino de Portugal aqui é cantado pelo Coro Infantil da EB1/PE Marinheira no dia Eco-Escolas
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo sábado.