Mostrar mensagens com a etiqueta urbanismo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta urbanismo. Mostrar todas as mensagens

quarta-feira, outubro 30, 2024

Quais as causas para haver, em simultâneo, em vários países, uma crise na Habitação?

 

Até há relativamente pouco tempo não se ouvia falar em crise na Habitação. 

Aliás, há uns anos, antes da 'acalmia', mais concretamente em 2008, houve uma crise mas de sinal contrário. Se agora, o problema é a escassa oferta e, consequentemente, os preços muito elevados, há uns anos o que aconteceu foi o contrário: era área de forte investimento até que a dita bolha imobiliária rebentou, deixando os bancos entalados e, logo, o sistema financeiro a tremer.

Mas agora não é apenas em Portugal mas em vários países, alguns com ainda maior premência do que por cá, que as pessoas vêm para a rua gritar pelo direito a uma habitação digna. Casas não as há, quer para vender quer para alugar, pelo menos a valores compagináveis com os rendimentos da classe média baixa. Parece que as casas 'económicas' desapareceram. Há, sim, casas milionárias ou milionaríssimas que, estranhamente, também se vendem e arrendam bem, embora certamente a outra camada da população, se calhar, até, a estrangeiros.

Há pouco, estávamos a jantar e a ver, na RTP 3, o Jon Stewart com Josh Shapiro, Governador da Pennsylvania. E, para meu espanto, um dos temas abordados foi também o da crise da Habitação.

Ora o que há de comum entre Portugal, Espanha, França, Irlanda, Reino Unido... e Argentina, Canadá, Austrália, Estados Unidos... para que não haja casas disponíveis para a classe média e média-baixa?

A população está a aumentar de forma rápida, não orgânica? 

Em Portugal, o número de imigrantes é de ordem a justificar a escassez de casas? Até pode ser. Felizmente, a demografia anémica de Portugal está a ser compensada com os imigrantes. Já aqui o referi muitas vezes: tomara que por cá se mantenham e se instalem e formem família, de preferência com muitos filhos. Mas, na realidade, são centenas de milhares de pessoas que têm que ser alojadas.

Ou a crise da Habitação tem também a ver com o advento do turismo fora do âmbito hoteleiro? Estará a crise relacionada com a implantação de plataformas como o Airbnb (escrevo no plural pois não sei se não haverá mais)? Por todo o lado há casas que saíram do mercado do arrendamento tradicional ou em que provavelmente os donos desistiram de as pôr à venda pois o rendimento que obtêm com o alojamento local é bem mais atraente.

Gostaria de ver um estudo exaustivo sobre este tema, identificando, por um lado, o número de casas que seria necessário para alojar o acréscimo de população e, por outro, o número de casas que foram subtraídas do mercado habitacional por transferência para o mercado turístico. Creio que estes dois factores são transversais a todo o mundo dito ocidental (que acolhe imigrantes e turistas).

Penso que, com um estudo fundamentado e com números exactos e uma distribuição geográfica das carências, seria mais fácil encontrar soluções.

O que me confunde é que ouço frequentemente dizer que o problema não é a falta de casas. Não sei se há nuances semânticas nisto. Não vale dizer que há casas, são é de gama alta. Se a população que se queixa de falta de casa é gente com fracos rendimentos, o facto de haver casas de 1 milhão ou com rendas de mais 2 mil euros não vem ao caso. Nem vale dizer que há casas, por exemplo podem usar-se conventos ou quartéis, pois instalações dessas poderão ser reconvertidas para hotéis mas dificilmente para apartamentos (digo eu).

Ou seja, penso que tem que haver um mapeamento exacto do que falta e das suas características e localização. 

E também não vale a pena tentar travar o que não é travável, tal como o turismo que se se instala em alojamentos locais. Quando muito consegue racionalizar-se, mas não travar. Pode, também quando muito, tornar-se o arrendamento habitacional mais atractivo para os senhorios (impostos mais baixos, por exemplo). Mas nunca a solução passará por aí.

Seja como for, em abstracto, creio que o que há é fomentar a construção rápida, económica e bem pensada de construção de habitação, não direi social mas para uma população de baixos rendimentos. E isto deveria ser pensado de forma articulada, discutido, entregue a quem sabe: equipas mistas de arquitectos, sociólogos, engenheiros civis e engenheiros urbanistas. 

Não pode ser feita uma coisa às três pancadas, na periferia. Não queremos, certamente ter mais bairros sociais, indistintos, nos limites das cidades, futuros ghetos. 

Creio que há técnicas de construção económicas e seguras que não têm que ser necessariamente ruinosas para os empreendedores. Ainda agora vi que em Estarreja, numa fábrica, estão a apostar em técnicas económicas e sustentáveis para a construção. Tem que haver investigação e investimento forte nestas áreas.

Não creio que tenha que ser construção pública. Pode ser. Mas não tem que ser forçosamente pois as naturais limitações orçamentais do Estado não devem ser um travão para a resolução deste grande problema. 

Agora que se perceba de que é que efectivamente se está a falar, quais as causas, de que é que se precisa exactamente. E que se perceba que isto é um tema global. Que se aprenda com os outros, no que for de aprender. 

______________________________

Partilho um vídeo sobre o tema. Contudo não são abordadas possíveis causas que me parecem bastante prováveis como as que referi (o disruptivo e não linear crescimento da população pela incorporação de imigrantes no tecido social e o grande afluxo turístico que se aloja em casas que antes eram habitacionais).

The Global Housing Crisis in 5 Minutes

The global housing market has reached boiling point. Prices are going through the roof, home-ownership rates are at all-time lows, and supply is consistently below what is needed. As we go through multiple global cities, we investigate the main problems with the housing market, as well as the possible solutions.


sábado, janeiro 29, 2022

E se repensássemos algumas coisas...?
As ruas, as cidades, a agricultura, a energia... (por exemplo)

 


O dia foi mais um daqueles em que tento manter a agenda relativamente aberta mas em que, sei lá como, ela se vai fechando por si. É uma reunião que se prolonga para além do expectável, é outra que é solicitada à última hora, são os telefonemas, são os documentos que não podem deixar de ser lidos e comentados. E, quando dou por ela, já é tarde e o dia passou. 

À hora de almoço tinha dito que, depois de almoço, iria aprender a trabalhar com a roçadora própria para aparar a relva junto aos muros e aos caminhos. À noite o meu marido provocou: 'Não era hoje que ias dedicar-te ao jardim?'. Também tínhamos combinado que faríamos uma caminhada antes de anoitecer. De facto, quando saímos ainda não era completamente noite mas, quando regressámos já era. E os dias estão maiores que é um gosto.

Agora, enquanto aqui estava, ocorreu-me que houve uma altura em que no meu gabinete se juntava uma turma animada que discutia política com um entusiasmo que, à distância, quase me enternece. Predominantemente éramos socialistas mas havia uns que não se acusavam mas que eram conservadores embora muito críticos do PSD e descrentes do CDS, dois que votavam declaradamente no CDS, um por convicção e outro porque se dizia anarquista de direita e achava que o partido mais inconsequente era o CDS. Havia um outro que também não se acusava mas que se dizia ser 'informador' dos sindicatos e muito próximo do PCP. 

Ainda me lembro de uma altura em que, por mudanças a nível dos accionistas, passei um mau bocado. Na altura recebi um telefonema de alguém que eu não conhecia mas que queria dizer-me que eu tinha a confiança da comissão de trabalhadores e que estavam ali para o que fosse preciso. Pouco depois, quiseram propor-me uma reunião. Com a intermediação desse colega, organizaram um almoço. Era um restaurante típico, acolhedor, ali para a Mouraria. Para além desse meu colega estavam uns que eu não conhecia. Vim a saber que um deles pertencia ao comité central do PCP. As coisas em que eu já me vi metida não dão para explicar.

Mas, dizia eu, eram alturas em que eu discutia política a sério, cada um esgrimindo os seus argumentos com uma vivacidade que nos vinha das entranhas. Eram tempos também em que nos juntávamos a jantar em casa uns dos outros, primos, cunhados, a miudagem toda. Em volta da mesa esperávamos as sondagens, sofríamos a ver a evolução dos resultados, era uma emoção, tantas vezes uma alegria. Lembro-me até que, uma vez, uma, que era (e é) artista, até fez um bolo com uma decoração de uma rosa. 

Enfim, outros tempos. Os miúdos cresceram, formaram família, a família desenvolveu-se, esses primos separaram-se. Desabituámo-nos disso. 

Mas, embora de forma mais restrita, iremos na mesma esperar as sondagens, a contagem dos resultados, o desfecho.

Agora o que eu acho é que não apenas estas eleições são um absurdo pois não havia razão para se ter interrompido a legislatura como a própria campanha, em vez de ser usada para se discutirem assuntos de facto relevantes, foi usada para servir de pasto à comunicação social. De tal forma as televisões com os seus infinitos comentadores têm um efeito triturador como toda a comunicação social procura a celeuma, as frases que dão títulos chamativos, o episódio caricatural. Qualquer tema mais sério ou estrutural parece descabido no meio da espuma com que a comunicação social envolve os candidatos.

E depois os próprios candidatos, salvo duas ou três honrosas excepções, são criaturas medíocres. Ventura, Chicão, Catarina, Rio, e toda essa gente que por aí andou a dizer graçolas ou a lançar dichotes não têm estatura de figuras de Estado.

E, no entanto, há tanta coisa a repensar... A sociedade que queremos deixar aos nossos descendentes é esta em que vivemos? A caminho do descalabro climático? Com pandemias recorrentes? Com desregulações onde elas são mais necessárias? Com a democracia correndo sérios riscos de vir a ser asfixiada sob o peso descontrolado das plataformas digitais onde tudo é possível? Com a tecnologia cada vez mais ubíqua e omnipotente, omnipresente e omnisciente... e totalmente à solta e à mercê de quem a quiser usar...?

Por isso, hoje também não vi televisão. Não vi O Expresso da Meia-Noite nem qualquer dos programas que hão-de ter dado em que jornalistas-entertainers e comentadores-avençados hão-de ter esgrimido fracos (e fake) argumentos sobre irrelevantes temas. 

Entretive-me, antes, a ver vídeos em que se lançam ideias, se divulgam projectos ou se repensa o futuro. Pode ser utópico, inviável -- ou o contrário. Mas interessa pensar, equacionar. De entre cem ideias lançadas, duas ou três poderão ser fantásticas. Há que abrir espaço para novas formas de pensar e de viver. Colocar as hipóteses em perspectiva, ter a mente aberta: Será que ...? Porque não...?

Alguns exemplos:

We’re using our streets all wrong | Hard Reset by Freethink

The rise of the private automobile in American life and culture has dramatically changed how cities were designed, John Frazer, a mobility futurist, wrote for Forbes. 

Emerging from World War II, automakers became economic powerhouses, employing workers who suddenly could afford their own cars — rumbling manifestations of the freedom of the American Dream.

Cities were designed around that dream. Frazer quotes University of Houston historian Martin Melosi, who said that roughly half of the space in American cities has been given over to roads, parking lots, parking spots, gas stations, traffic signals, and other things pertaining to cars. And at the same time, space for other forms of transportation — like sidewalks — were squeezed out.Even the sidewalks themselves are designed to resist change; large concrete slabs, they don’t lend themselves to being changed around. Making an infrastructure change can cost millions, a price many cities won’t or can’t pay. 

But maybe we can take those spaces back; they are public spaces, after all. We could hard reset, and make streets a place for user-generated urbanism. 

 

The Futuristic Farms That Will Feed the World 

| Freethink | Future of Food

Amidst climate change, a growing population, and people consuming more of less sustainable food, how will we feed our future world? The answer may not be increasing resources--land, water, and employees--but rather improving production efficiency to create more sustainable farming of crops. The key question: How do we increase the amount of food we produce while using the same or fewer resources? 

When it comes to scaling agricultural production sustainably, one small country has a very large impact. Bolstered by a national commitment to produce twice the amount of food with half the resources, the Netherlands has become the world’s #2 produce exporter. The close collaboration between the government, science organizations and the food industry have driven impressive innovation and an efficiency that’s unmatched anywhere else in the world. 

On a normal open-field tomato farm, one could expect 4 kilograms of yield per square meter. In a high-tech greenhouse in the Netherlands, that number shoots up to 80 kilograms of yield per square meter, with 4X less water. That’s a 20X improvement on output! And it’s not just tomatoes--the Dutch are #1 in the world on producing chilis, green peppers, and cucumbers (measured by yield per square mile). With conservation and sustainable food as two of the most important global issues, could other countries copy their approach to help save the earth?


How mirrors could power the planet... and prevent wars 

| Hard Reset by Freethink

Concentrated solar power is produced using a large amount of mirrors which are angled to reflect the sunlight onto a large solar receiver. Aside from being clean energy, one of the most promising advantages of CSP is that it can generate transportable energy for use far beyond where it was harvested. 

The idea of concentrated solar power isn’t new — the first commercial plant was developed in the 1960s. But a company called Heliogen has found a way to make the process of reflecting and storing sunlight much more accurate and efficient. And soon, it might be more cost-effective than fossil fuels.

If adopted globally, this could lead to a hard reset in the manufacturing industry, not to mention prevent wars over oil and mitigate climate change.


_______________________________________________________

Fotografias feitas in heaven e que aqui se fazem acompanhar por David Gilmour que interpreta Where We Start

___________________________________________________

Desejo-vos um belo sábado
Tudo de bom para si que está aí desse lado.

domingo, novembro 14, 2021

No futuro viveremos em cidades flutuantes? Como arrefeceremos as casas sem aquecermos ainda mais o planeta? Como vivermos em ambientes sustentáveis? Como nunca nos esquecermos do que é uma vida feliz?

 

Cop26. Não se pode esperar muito de cimeiras assim. Estão lá representados países que estão em patamares de desenvolvimento muito díspares. O mundo não anda apenas a uma velocidade: anda a muitas. Não é possível esperar que a consciência ambiental esteja sempre presente quando há que satisfazer necessidades básicas e indispensáveis à sobrevivência das populações. Nem é possível agir de consciência limpa quando, nos bastidores, se movimentam as poderosas forças ligadas ao petróleo ou às armas. No grande tabuleiro em que se joga a sobrevivência da espécie humana agitam-se, subterraneamente, mil forças contraditórias que tolhem os movimentos de quem quer ver ao longe.

Enquanto a população, na sua grande maioria, não estiver completamente consciente dos riscos de sobrevivência para a vida como a conhecemos e enquanto não estiver ciente de que há uma relação directa entre os que escolhe para nos governar e os destinos da humanidade, muito pouco se conseguirá.

Temos que perceber que não somos apenas nós mas os que nos seguirão e os se seguirão a esses. 

Quando ouço previsões de como será o mundo em 2100 faço contas de cabeça: quem, da minha família, cá estará? E logo uma angústia me aperta o peito. Talvez os meus filhos, velhinhos, também os meus queridos pimentinhas, os seus filhos, os filhos dos seus filhos. Um aperto no peito. Não quero que sofram horrores. Quero que vivam melhor que eu, quero que sejam mais felizes que eu.

Lembro-me. Eu era pequenina. O meu pai ia para o trabalho de bicicleta. A minha mãe ia a pé para a escola e, antes de ir, deixava-me em casa da minha avó. Íamos a pé, não era muito longe. Lembro-me de um regato. Baixava-me, apanhava água na concha das minhas mãos. Era fresca. Sentia-me feliz. Ao fim da tarde, a minha mãe ia-me buscar e esperávamos pelo meu pai num sítio da estrada. Por vezes, ele estava à nossa espera e íamos a pé, ele com a bicicleta ao seu lado. Outras vezes demorava e a minha mãe desenhava uma cruz na areia do chão para que o meu pai soubesse que tínhamos ido andando para casa. 

Depois, construíram uma moradia longe do trabalho de ambos. Passámos a andar de autocarro e eu passei a ficar, durante a semana, em casa dos meus avós. O carro era para o fim de semana ou férias ou para uso pessoal. 

Mais tarde, compraram um segundo carro, um para o trabalho, outro para a família, e já só se andava de carro.

Comigo foi a mesma coisa: sempre a trabalhar longe do trabalho. Ao princípio usava autocarro. Depois deixou de fazer sentido ou, mesmo, de ser possível. Longe. Passei a deslocar-me apenas de carro. Cada um seu carro. Numa altura, eram quatro carros. 

Numa altura, quando ia ao norte a trabalho, ia de comboio. Preferia. Depois passou a ser o avião ou, se éramos mais que um e conseguíamos ir juntos, íamos de carro, na conversa. 

A vida foi-se tornando cada vez mais complexa. Cada vez mais poluição.

E antes havia alfaiates e costureiras e faziam-se camisolas de malha em casa. Depois veio o pronto-a-vestir. Muitos modelos, preços muito acessíveis. Roupa feita no México, na China, no cu de judas. Grandes cargueiros a poluir os oceanos, voos e mais voos a poluir o ar.

Havia hortas e mercados locais. Depois vieram os supermercados e os legumes vindos do outro lado do mundo e a comida embalada vindo do outro lado. E, como sempre, grandes cargueiros a poluir os oceanos, voos e mais voos a poluir o ar.

Desaprendemos a vida simples. Estragámos o planeta. E agora, por muito aparato que possa envolver estas cimeiras, no fundo, no fundo, é como a Greta diz: bla-bla-bla.

_________________________________________________________________

  • Em todo o mundo toda a sociedade (t-o-d-a) deveria ser convocada para a emergência climática.
  • Em todo o mundo as populações não deveriam admitir que políticos de meia tigela continuassem a poluir as consciências com populismos ou imaturos jogos de retórica.
  • Em todo o mundo as populações deveriam organizar-se para reflectirem em conjunto e construir soluções.
  • Em todo o mundo as populações apenas deveriam eleger políticos que tivessem a emergência climática e a sustentabilidade do planeta como primeira prioridade.
______________________________________________________________________

Pela parte que me toca, aqui deixo uns vídeos que dão que pensar, que inspiram.
Arquitectura, urbanismo sustentáveis. 
Alternativas ao modo de vida. 
Pensando o futuro nas zonas alagadas. 
Reaprendendo a felicidade.








___________________________________

Desejo-vos um belo dia de domingo