- Quem terá sido o chico-esperto que se lembrou de lançar o boato de que as golas pegavam fogo?
- Quantos doutos papagaios vieram, a seguir, dizer que as golas pegavam fogo?
- Quantos doutos comentadores enxamearam os balcões onde se servem opiniões a copo, prontos a fazer justiça com as suas próprias mãos?
- Quantos jornalistas na reserva saltaram avidamente para a ribalta para sujar o bom nome do jornalismo, falando do que não sabiam?
Não sei quantos. Só sei que muitos.
Já Patrícia Gaspar tinha explicado: não se quer que as pessoas vão para o pé do fogo, que vão apagar fogos; pelo contrário, o que se quer é que fujam dele e as golas são apenas para evitar a inalação de fumo.
Mas qual quê: alguém inventou que as golas pegavam fogo e, incapazes de pegarem em assuntos inteligentes, logo todos os canais, como gato a bofe, inflamadamente se atiraram às golas e desataram a clamar contra o Governo.
Agora veio o resultado dos testes: afinal as golas não pegam fogo.
E eu gostava de ver se a mesma maralha, nos mesmos canais, vai enxamear outra vez os media para fazer o mea culpa junto da opinião pública. É o vês. Caladinhos que nem ratos.
E eu gostava de ver outra coisa: será que a malta que de repente virou especialista em materiais inflamáveis faz ideia se as calças, as blusas, os casacos ou os ténis que usa ou o das pessoas que se virem em situação de fugir ao fogo são ignífugos...? Cá para mim nem lhes ocorreu tal dúvida metódica. Como burros encartados, pensar não é com eles. Põem-lhes um coisa à frente e logo eles, sem pensar, a enfiam na cabeça todos gabarolas. Se depois lhes disserem que aquilo não era um chapéu, eram umas orelhas de burro só para gozar, tiram-nas logo, fazem de conta que não é nada com eles, assobiam para o lado e dão meia volta de fininho. Não desfazendo: na verdade são uns caguinchas, uns putativos maraus de meia tigela.
E a única coisa que se pode dizer de tudo isso é: santa ignorância, santa estupidez.
Agora dito isto, digo outra coisa: se os objectos que compunham o kit não obedeceram a uma decisão informada ou se a escolha da empresa que os forneceu obedeceu a critérios que não os normais (ie, melhor preço para qualidade e prazos de entrega equivalentes) então que se apure isso. Com rigor e sem dramas. Escrutinar os actos da administração pública é um dever e é normal nos regimes democráticos. Mas não faço ideia de se houve algum favorecimento. Se há dúvidas apure-se e apure-se sem condescendências. Não vou atrás de qualquer osso que um qualquer manhoso atire para a rua. Preciso de demonstração, de factos confirmados.
Hoje, ao ouvir as notícias, já aparecia outra: a empresa da qual o filho do Secretário de Estado tem uma quota de 20 ou 30% fez três negócios com autarquias ou lá o que foi. Posso não estar a ver bem mas, só por isto, não vejo mal nenhum. Se fizesse negócio na Secretaria de Estado à frente da qual está o pai, aí já me pareceria eticamente reprovável. Agora em organismos onde o pai não risca peva, não estou a ver qual o problema. Há que evitar fundamentalismos senão perde-se toda a racionalidade.
E digo isto com a consciência tranquila: não exerço nem nunca exerci cargos públicos nem estou ou alguma vez estive filiada em qualquer partido política. Sou absolutamente contra qualquer forma de corrupção, compadrios ou beliscaduras na ética. Mas sou também absolutamente impermeável a fundamentalismos ou juízos precipitados ou levianos.
Portugal é um país de justiceiros, de gente que se acha moralmente superior aos outros, gente que cultiva a maledicência, a intriga, a inveja, a cobardia. Mas atacar ou difamar gente que é inocente é cobardia, é também maledicência, é maldade e, frequentemente, demonstra aquela inveja surda dos que olham alguns dos que exercem cargos políticos como desprezíveis 'poderosos' esquecendo-se que, na maioria dos casos, são pessoas normais, com família, com sentimentos, com valores.
Já o referi algumas vezes: tenho, muito próximas, algumas pessoas que exercem relevantes cargos públicos. Curiosamente, nenhum deles é filiado ou simpatizante do PS, partido com que mais me identifico. E uma coisa posso eu dizer: são pessoas íntegras. E nenhum deles enriqueceu ou está a enriquecer com essa sua ocupação. Pelo contrário. Ganham menos do que ganhavam nas suas actividades anteriores e o que, de facto, ganham é cabelos brancos, dores de cabeça, estafas sobre estafas, noites mal dormidas e grandes sacrifícios das famílias.
De novo, dito isto, acrescento que acredito que haverá ainda muito por aí alguns pequenos amiguismos, combinações de correlegionários de partido que tentam influenciar pequenos negócios. Gente de Juntas de Freguesias, gentinha que ainda anda por dentro dos aparelhos de algumas Direcções Gerais. Acredito. E, havendo, acho que é gentinha que não interessa, cujos hábitos devem ser banidos, cujos crimes devem ser punidos. A transparência é fundamental.
Mas chega-se lá com maturidade, com ponderação, com inteligência -- não com juízos precipitados e goelas inflamadas. Sou a primeira a condenar oportunismos, interesseirismos, gatunagem. Mas não acuso só porque sim ou porque algum palerma que ninguém sabe quem é diz que sim. Acuso quando estou certa de que estou a ser justa. acusar. Acusar um inocente não tem perdão.
Mas chega-se lá com maturidade, com ponderação, com inteligência -- não com juízos precipitados e goelas inflamadas. Sou a primeira a condenar oportunismos, interesseirismos, gatunagem. Mas não acuso só porque sim ou porque algum palerma que ninguém sabe quem é diz que sim. Acuso quando estou certa de que estou a ser justa. acusar. Acusar um inocente não tem perdão.
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Tirando isto: estou curiosa de saber se, por estes dias, o PSD se vai auto-destruir, comendo-se todos uns aos outros. Literalmente. Quiçá, até, biblicamente. No final, apenas um monte de ossinhos debaixo dos lençóis.
Por exemplo, o Hugo Soares, que andava por aí todo fera, comerá alguém? O Rio? Ou o Rio virará o jogo e, qual tarzan, a cavalo numa liana, conseguirá comer alguém? Quiçá o José Eduardo Martins? Ou a pombinha da paz descerá sobre eles e sairão todos de lá aos beijos na boca? E a Maria Luís Albuquerque entrará em que cena? Beijos de língua? Ou não porque toda a gente tem medo porque sabe que aquilo lá é língua venenosa? Eo marido dela pairará por lá armado em body guard? E o Miguel Pinto Luz? In love com a Manuela Ferreira Leite? E o Professor Marcelo telefonará em directo para desejar muitas audiências?Também estou curiosa de saber se, nas próximas eleições, o CDS vai conseguir eleger alguém. Se calhar não. Se calhar, o CDS já era. O pernão não funcionou, o vestido dos kiwis também não, a peixeirada também não, o mostrar folhas com desenhinhos na Assembleia também não, a votação no penteado também não, o falar pianinho também não, o ter diarreia de ideias também não. Bolas. Ou melhor: bola. Zero.
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E agora uma coisa boa
E até já.