Apanhámos hoje as vacinas. E, ao escrever isto, 'apanhámos', fico na dúvida se é a forma correcta de dizer. Será apanhámos ou levámos? Ou fomos injectados? Ou comemos com elas? Não sei.
Da gripe num braço, covid no outro.
Tudo tranquilo, até ver. A doer um bocado o braço mas, sendo só isto, não me doa a mim a cabeça.
Fizemos as caminhadas na mesma, tudo normal.
Mas há pouco, enquanto via um programa com muito interesse, o meu marido adormeceu profundamente. E eu, certamente logo a seguir, fui pelo mesmo caminho. Como se estivéssemos pedrados -- e isto digo eu que de pedradas só conheço estas assim, de tiro e queda mas santinhas, sem recurso a substâncias alucinógenas.
Apenas uma mensagem me fez acordar. Mas com que sacrifício... Agora estou acordada mas a voltar a sentir um daqueles sonos de tipo boa-noite-cinderela de que padeci ao longo de meses no pós-covid. Presumo que seja só hoje, até porque amanhã não me daria muito jeito andar a cair de super-sono pelos cantos.
Mas agora estou assim, E, assim sendo, não estou capaz de nada. Desculpar-me-ão mas estou a escrever com os olhos a meia-haste.
Há pouco estava a ver o Major-General Arnault Moreira, pessoa simpatiquíssima e que diz coisas com que, se bem me lembro, sempre concordo, e estava a pensar escrever qualquer coisa sobre a excelente capacidade didáctica destes militares (com excepção para aqueles dois horríveis, mal-encarados que vêm para a televisão bolsar a cartilha putinista e de quem nem é bom a gente dizer o nome).
São cultos, bem informados, uma visão abrangente, uma perspectiva histórica, uma compreensão integrada das várias camadas em análise. É um gosto ouvi-los.
O meu marido, no outro dia, comprou um livro deste risonho (Arnault Moreira) e, do que folheei, deve ter sido uma boa compra.
Entretanto, recebi de uma amiga, por mensagem, um vídeo com o belo bar em que ela está e onde se dança e canta e convive. No Rio. Ambiente giríssimo, super boa onda. Estou mesmo a vê-la, isto é, a imaginá-la, a soltar a franga na maior alegria. Dança que se farta, ela, mesmo que o ambiente não seja caliente e desinibido. Fará lá.
Mas, portanto, como ia dizendo, tenho que ficar por aqui enquanto consigo acabar isto com alguma decência, senão ainda me arrisco a adormecer com o dedo em cima do comando de publicação e sai o post mal amanhado, por concluir.
Vou é, antes, partilhar um vídeo em que um puto que aprecio até mais não poder (e gay até mais não poder como ele o diz), mostra a sua casinha. Tem graça e bom gosto.
Inside Troye Sivan’s Mid-Century Melbourne Oasis | Open Door | Architectural Digest
Today Architectural Digest brings you to Australia to visit Troye Sivan at his beautiful Melbourne home. Unpretentious yet expertly decorated, Troye collaborated with designer David Flack of local firm Flack Studio to bring the vision of his sunny, soulful home to life. An erstwhile brick factory and handball court, the property was transformed into a residence in 1970 by architect John Mockridge, preserving the essence of its Victorian-era origins. Today, it’s an eclectically decorated sanctuary - and a home for Troye’s artistic imagination.
Desde que me lembro, ouço falar em investigações, em ensaios promissores, em avanços significativos, em descobertas animadoras.
E, de facto, muito se tem avançado. Há imensos casos de cura completa e definitiva, há outros casos em que já se trata como uma doença crónica.
Contudo, os tratamentos, em muitos casos, são incómodos, quase incapacitantes, e os exames são um sofrimento sobretudo pelo receio de más notícias que, tantas vezes, são sentidas como sentenças.
Ainda há dias soube que uma pessoa que conheci pujante, todo ele seguro de si, morreu em pouco tempo. Uma outra pessoa que me é muito próxima, depois de pensar que o pior tinha sido ultrapassado descobriu que, afinal, não foi e está agora a passar pelos tormentos da quimioterapia. E a angústia não é apenas o mal-estar dos tratamentos mas, sobretudo, o receio de tudo o que ainda pode estar por vir.
Quando um dos meus tios esteve doente eu li, li, tentei perceber quais as perspectivas para o caso dele, se havia ensaios em algum país. Na altura, li sobre tratamentos promissores em Cuba. Ele não se entusiasmou, achou que já não iria a tempo e que, além disso, que já não tinha capacidade física para viajar até lá. Cheguei a andar a informar-me na Embaixada, o meu primo falou com o médico dele que ficou também de se informar. Infelizmente o meu tio tinha razão. Morreu poucos dias depois com uma embolia.
Mas mantenho a curiosidade. De cada vez que passo por notícias vou espreitando. Sou leiga, leiga, leiga. Leio como uma leiga. Não percebo muito do que leio. Mas interesso-me.
E, do que tenho visto recentemente, o que me parece mais animador é isto que aqui hoje partilho.
O sucesso dos medicamentos baseados em mRNA no combate ao coronavírus está a inspirar cientistas a criar vacinas semelhantes para melanoma e outros tumores.
Em dezembro de 2022, a empresa de biotecnologia americana Moderna, uma empresa que emergiu de uma relativa obscuridade para se tornar um nome familiar durante a pandemia, publicou os resultados de um ensaio clínico que repercutiu no mundo da pesquisa do cancro.
Conduzido em parceria com a empresa farmacêutica MSD, demonstrou que uma vacina contra o cancro de RNA mensageiro (mRNA), usada em combinação com imunoterapia, poderia oferecer benefícios significativos a pacientes com melanoma avançado que receberam cirurgia para remover seus tumores. Após um ano de tratamento, o estudo de fase IIb descobriu que a combinação reduziu o risco de recorrência do cancro ou morte em 44%.
(...)
E abaixo em vídeo.
Não está traduzido, infelizmente, mas ainda assim acho que vale a pena aqui deixar esta informação:
Could COVID vaccine technology cure cancer? | DW News
O cancro está entre as principais causas de morte no mundo. Mas agora, graças a uma tecnologia de ponta para a vacina COVID, podemos estar mais perto de parar o cancro. A BioNTech da Alemanha está a lançar neste outono um ensaio no Reino Unido com vacinas personalizadas contra o cancro neste outono.
Tomara. Tomara. Tomara.
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E, por falar em esperança,
Paz na Ucrânia
Paz. Paz mas a paz que nasce da liberdade, da dignidade, do direito a viver num país independente, autónomo, autodeterminado.
A paz que apenas será possível quando a Rússia tirar as patas e as mãos ensanguentadas da valente e gloriosa Ucrânia.
E que todos os cidadãos decentes, democratas e solidários, se mantenham firmes no apoio à Ucrânia e na condenação da Rússia de Putin.
É sábado e, afinal, continuo sem conseguir dar uma para a caixa. Aliás, ainda pior um pouco que ontem.
No entanto, a culpa não é do dia. Pelo contrário, o dia foi bom, tranquilo, nada a lamentar.
Mas não dormi bem. As preocupações e revelações da véspera fizeram-me acordar a meio da noite, deixando-me algum tempo sem conseguir dormir.
Depois, estando de novo já a dormir, acordei com um sonho. Já era de manhã, seis e meia da manhã. Uma vez mais, acordei a rir à gargalhada. O meu marido, que já estava acordado, admirou-se. Acontece que eu estava numa daquelas de quando nem consigo falar. Ria, ria, ria. Quase sufocava a rir. Levantei-me, fui à casa de banho, e fui e vim a rir. Quando regressei à cama fiz um esforço para lhe contar. Mas não consegui, ria, ria, ria.
Quando fomos fazer uma caminhada, de novo tentei contar-lhe mas voltei a rir até mais não poder. Ele sorri ao de leve. Já nada o espanta.
Vou contar-vos, porque a escrever é mais fácil, mas peço que não levem a mal. A sério: sem ofensa. Foi um sonho. Vou contar tal como me lembro. Foi assim:
Estava com um grupo de amigas e resolvemos ir lanchar. Uma disse que tinha ouvido falar num sítio. Fomos. Era num primeiro andar, parecia uma casa de habitação transformada. Havia uma mesa grande com uma toalha encarnada e com bugigangas em cima. Fomos ver. Nem percebi o que era aquilo. Uma senhora disse: é uma quermesse. Olhei e vi pratinhos ínfimos de barro, mas toscos, sem história, bocadinhos de vidro, tretazinhas sem qualquer estética e que não vi como servirem para alguma coisa. Cada coiseca com um papelinho com o preço. Começou a dar-me vontade de rir. Depois olhei para as paredes e vi símbolos pintados em faixas encarnadas. Reparei que havia símbolos que se repetiam. Junto a cada símbolo uma letra. Perguntei: 'São símbolos?' Disseram que sim com ar de quem nem percebia a dúvida. Perguntei: 'Mas que símbolos são?' E então uma senhora com ar de sargentona disse-me, muito compenetrada: 'Mecanismo. Folha de gengibre. Passarinho.'. Ouvi sem querer acreditar, a tentar conter o riso. Uma que estava comigo, não percebeu bem: 'Folha de cálculo?'. E a outra, agastada, quase ofendida: 'Não! Folha de gengibre!'.
E eu já mal conter o riso. Quando tenho vontade de rir e quero conter-me, fico quase a explodir, a gargalhada pronta a desbragar-se. Depois, olhando bem, em volta, ocorreu-me: 'Mas isto aqui é o PCP?'. E a sargentona: 'Claro, havia de ser o quê? Não conhece os símbolos?' E eu, quase a rebentar a rir: 'Mas têm significado?'. E ela, séria, institucional: 'Têm valor histórico'. Toma e embrulha.
E eu cada vez mais aflita para não me desatar a rir.
Então uma das minhas amigas chamou-nos à varanda. Havia música na rua. Um homem baixo, encorpado, careca, os pelos do peito grisalhos, de calções curtos de futebol, tshirt de alças, decotada, e com uma coisa no corpo de tipo catavento, dançava desengonçadamente, de forma destrambelhada e cómica. Dizia: 'Como saí do partido, agora para usar o mecanismo só cá fora, na rua'. E eu, perdida de riso com os movimentos de baiana desasada dele, parecia uma bicha maluca mas com corpo e traje de campista, com o dito mecanismo a mexer-se em cima da cabeça e em volta do corpo, quase como uma hélice ou umas asas mal amanhadas. Não me contive, desatei a rir, a rir. E a pensar: 'Como será que dançam usando o símbolo da folha de gengibre? Ou o do passarinho?'.
Só maluquices, bem sei. Os meus sonhos têm o seu quê de surreal, acho que já aqui o confessei. E fazem-me rir perdidamente. Tenho passado o dia todo a rir, lembrando-me da sargentona a falar com orgulho dos símbolos históricos do partido: 'Mecanismo. Folha de gengibre. Passarinho'.
Juro, estou a escrever e a rir. Fazer o quê? Falta-me um parafuso, provavelmente.
Resultado: primeiro que voltasse a adormecer foi uma chatice, desatava a rir a toda a hora. Depois, certamente muito pouco depois, estando a dormir, tocou o despertador. Portanto, a noite não foi o repositório de descanso de que estava necessitada.
A seguir ao almoço fomos levar a vacina. As vacinas. Covid e gripe. Muita gente mas a fluir. O acto em si, normal, tranquilo.
E depois, mais ao fim da tarde, fomos dar o nosso passeio higiénico com o urso cabeludo. Também tranquilo.
O pior foi que, ao chegar a casa, vínhamos os dois meio KO. Eu adormeci no sofá, mas profundamente. Ele não sei. Jantámos meio mongas, espapaçados. Foi o resto do almoço, ele é que aqueceu, que pôs a mesa.
Depois arrastámo-nos, de volta, até à sala. Ambos quase a dormir, com frio. Fomo-nos encasacar. Agora já não estou a congelar mas está a pesar-me tudo, sobretudo a cabeça, nem sei se é a querer doer, se é a querer que me deite.
Nas outras vezes que as levámos não nos deu pancada alguma. Agora, não que seja grave mas é uma moleza em cima do corpo que nem vos digo nem vos conto. E dói-me cada braço, no lugar da picada. A jovem enfermeira disse para pormos gelo. Mas, com o frio com que, apesar de tudo, ainda estou, nem pensar em despir-me para me pôr de braço ao léu com gelo em cima. Disse também que tomássemos paracetamol se tivéssemos sintomas. Mas dá-me ideia que, da forma como estou, se tomo um paracetamol, durmo, de seguida, até segunda feira. Não sei se isto é efeito secundário da vacina ou se é do mecanismo, folha de gengibre, passarinho, mas de alguma coisa é.
Vou, pois, ver se consigo arrastar-me até aos meus aposentos. O que me vale é que a cama, a esta hora, já deve estar bem quentinha.
No sábado madrugámos para irmos até a um espaço grande onde há vacinas à discrição e onde não era suposto haver muita gente. Fica numa das cidades perto da nossa casa de campo. Uma vez, estávamos a passar uns dias in heaven e o meu marido auto agendou-se para lá. E aquele lugar ficou-lhe associado pois agora recebeu um sms para ir levar lá a 3ª dose.
Como na outra vez lhe correu bem, despachou-se rapidamente, resolvi ligar a saber se eu, mesmo sem marcação, poderia ir à boleia. Expliquei que levei a Janssenn. Perguntaram-me a idade. Disseram, então, que estavam com casa aberta para os que levaram Janssenn e têm mais de cinquenta. Encaixo. Então, lá fomos.
Muita gente. Muita gente de idade, muita gente com 'ar de campo'. Todos entusiasmados por estarem a levar a 3ª dose e vários como eu, que antes também tinham sido contemplados com a água pé das vacinas. Uma coisa que quase parecia a black friday das vacinas. Chega a ser quase tocante ver como toda a gente adere tão bem a uma coisa ainda tão cheia de incógnitas. Uns mais racionalmente, outros por medo, outros numa de maria vai com as outras. Não interessa. Toca a reunir e as pessoas reúnem-se.
O meu marido, como era com marcação, ficou despachado por volta das dez e eu perto do meio-dia.
Pfizer no braço esquerdo e a da gripe no direito. Vim de lá aviada e espero que protegida.
Disseram para tomar ben-u-ron à noite e ben-u-ron de manhã. E para pôr gelo no braço. Como não sou obediente e não me parecia necessário, não tomei o ben-u-ron nem pus gelo. Mas dormi mal com o braço a doer-me bastante.
E passei o domingo cansada, com o braço dorido, com dores musculares, com frio, a sentir-me murcha. Éramos para ir ao campo e não fomos. Nem fui a casa da minha mãe. Só me apetecia estar agasalhada e sossegada.
O meu marido, que também estava com o braço dorido, atalhou logo de manhã com o dito ben-u-ron mas eu resisti até depois de almoço. Mas depois teve que ser.
Melhorei mas, ainda assim, não me sinto propriamente em grande forma.
Quando foi da outra, dessa coisa esperta que dá pelo nome de Janssenn e que pelos vistos não é carne nem é peixe e que só dá um bocadinho de imunidade durante menos de três meses, não me doeu braço nem corpo nem fiquei cansada. Mas tive, nesse dia, um acidente isquémico relativamente ao qual não está descartado que não tenha sido provocado pela vacina.
Mas, pronto, o que lá vai, lá vai. E das sequelas que ficaram trato-me -- e bola para a frente.
E, supostamente, agora, com este reforço, já estarei mais protegida. Não sei é se o estou da Ómicron mas, enfim, parece que o dito rafeiro de corona não é tão coisa ruim como os manos que o antecederam.
Mas sabe-se lá.
O que temos como certo em tudo isto é que temos que ser humildes e ir aceitando que estamos a atravessar um processo de aprendizagem que está em curso, no qual não há muitas certezas e em que o que há para saber á mais do que o que se sabe.
Mas há coisas que são iguais. Enquanto estava à espera, ao meu lado uma senhora falava comigo. Tenho quase a certeza que não abri a boca. Estava com máscara e com óculos escuros. Não estava a fazer-me de diva mas, como receava que chamassem, preferi estar com óculos graduados para ver melhor ao longe. E são escuros. Como estava com franja, pouco ou nada da minha cara estava à vista. E, no entanto, a senhora confiou em mim. Contou-me tudo, o que faz, onde trabalha, a Covid que teve no princípio, os sintomas, como foi de ambulância, como lhe custou cara a ambulância, o que a filha lhe disse, como as senhoras para quem trabalha reagiram. Falou constantemente. Depois da triagem e de ter preenchido o documento, fomos para outra sala. Aí fiquei ao lado de uma outra que me contou o que tinha acontecido ao carteiro de cinquenta anos que não tinha querido levar a vacina, agora o pai que já é tão velho ainda está vivo e o filho, que ainda era novo e saudável, já se foi. Eu ouvia-a e pensava, intrigada, o que se passará comigo que faz com que as pessoas comecem a conversar e a contar-me tudo e mais alguma coisa. Creio que também não abri a boca para falar com a segunda. Sabia que não haveria tempo e não quereria depois interromper uma conversa mais pessoal.
Contei ao meu marido. Ele desvalorizou. Disse: 'O tipo que estava à minha frente também falou comigo'. Fiquei admirada. Não apenas ele é de poucas palavras como parece que as pessoas adivinham pois parece que quase nunca ninguém mete conversa com ele.
Perguntei o que o senhor lhe tinha dito. Disse-me: 'Pediu que quando chamassem Joaquim Sebastião eu o avisasse porque ele era surdo'. Perguntei: 'Só isso?' E ele: 'Sim'. Esclareci: 'Mas não tem nada a ver. Ele fez-te um pedido, a mim contam-me a vida'. Já não disse mais nada. Acho que não está muito interessado na vida dos outros nem percebe porque ma contam.
A mim o que me intrigou mais foi eu estar de cara praticamente toda tapada. E, mesmo assim, foi o que foi.
Tenho a certeza que, se eu tivesse feito algumas observações ou perguntas, a conversa resvalaria para o patamar das confidências.
É certo que tenho uma curiosidade infinita e provavelmente isso manifesta-se através da atenção que presto. E sinto também uma profunda simpatia pelas pessoas que, de forma tão espontânea, me dão a conhecer os seus problemas ou as suas vivências. Penso sempre que, se não andasse sempre com o tempo contado, faria verdadeiras entrevistas às pessoas, deixá-las-ia falar de si, dos seus, dos seus assuntos. Mas eu pensava que a confiança que as pessoas depositavam em mim vinha da atenção que me percebiam, do meu olhar, das minhas expressões. Agora com a cara tapada...
Mas não interessa. As coisas são como são, nós podemos é não as compreender. E isso é um problema nosso, não das coisas.
[Na volta isto de me estar a dar para filosofar é outro dos efeitos secundários da vacina... não...?]
E agora, antes de me despedir, partilho mais um daqueles vídeos bonitos da Green Renaissance..
What Makes You Happy
Most of us have been taught to believe that happiness is linked to our accomplishments. We think that we’ll be happy when we get married, or we’ll be satisfied when we get a promotion at work. We are convinced that we’ll find joy when we finally buy that luxury car.
But happiness is better linked to contentment. It’s about being content with what we have - not hunting for anything more than what we need. The abundance of the present is enough to lead a happy and healthy life.
Of course, this doesn’t mean that we should settle for things as they are. We should continue to dream, set goals, and work towards them. We just need to remember to enjoy the journey and not rush to make it happen.
Being grateful for everything we do have instead of spending most of our time thinking about what we don’t have, makes life a lot more beautiful. So take that first step toward happiness.
Dizia eu ontem que todo os dias aprendo alguma coisa. Hoje cumpriu-se a regra. Provavelmente vou fazer papel de totó ao falar nisto pois, às tantas, toda a gente sabe e usa e eu é que, distraída como sou, fiquei banzada qual campónia que vê o mar pela primeira vez.
Ainda assim, para o caso de haver entre os meus Leitores outros totós como eu, vou falar nisto pois considero que, para mim, foi uma descoberta virtuosa.
Algures no tempo, certamente tempos não muito remotos, alguém disse ao meu marido que se pode consultar o boletim de vacinas na internet. No outro dia, quando andava a ver como obter o certificado digital da vacina covid, pesquisou e foi parar a um portal que o surpreendeu. No capítulo das vacinas descobriu que dentro de algum tempo deve renovar algumas vacinas.
Macaquinha de imitação que sou, não poderia ficar só a ouvir e hoje pus mãos a caminho e aí vai ela à procura do mesmo.
Fiquei pasmada.
Não apenas tem as vacinas que devo renovar e todas as que levei desde pequena até às últimas (e lá está a da Janssen que tomei no início de Junho) como, logicamente, conformei que também tenho para levar, daqui por algum tempo, as mesmas que o meu marido. Jamais me ocorreria. Se calhar vou marcar na minha agenda senão, como ainda vem longe, acabo por me esquecer. Contudo, se calhar, na altura, receberei um aviso...
É que o que mais me surpreendeu é toda a informação que lá está sobre mim.
Estive a dar mais autorizações do que as que lá estão por defeito (por exemplo, dei acesso a médicos ou enfermeiros na clínica privada para que consultem o meu processo), a actualizar os meus dados e a identificar contactos de emergência.
Mas também escolhi a opção de ser informada quando alguém aceder ao meu processo.
E andava para aqui a pensar que já estava a precisar de uma receita quando dou com uma opção que é, justamente, pedir receitas de medicamentos que estejam declarados no processo como medicamentos recorrentes. Tomo (quando me lembro) glucosamina, um suplemento que, supostamente, previne o desgastes das articulações. Ora bem, lá estava ela no meu processo. Cliquei em pedir receita. Ainda não recebi nada mas presumo que venha a receber ou por mail ou por sms.
Há uma outra opção que tem a ver com o percurso de saúde (e lá vi, por data, os estabelecimentos de saúde a que fui nos últimos tempos, os exames e receitas que me prescreveram), o resumo de saúde, o cálculo de risco de diabetes, etc. Ou seja, tudo muito útil, de consulta muito intuitiva.
Não sei porque não é isto mais divulgado pois não apenas nos pode ser da máxima utilidade como nos pode facilitar muito a vida.
Terá que se autenticar. Eu autentiquei-me com o meu Número de Utente (que vem no Cartão de Cidadão). Depois recebemos um código via sms e colocamos esse código no portal. E entramos na nossa área.
E aí é só navegar.
Se tudo isto já era de vosso total conhecimento, relevem a revelação da minha total totozice nesta matéria ao estar a falar em descoberta quando já não há cão nem gato que não usa este portal todos os dias.
Mas, a quem não conheça, recomendo. A malta gosta de dizer mal de tudo e não gosta de elogiar o que há de bom e que tanto nos pode ajudar. Pela parte que me toca, aqui fica a diga: espreitem, experimentem. E divulguem...
De facto, o que por aí não falta é quem por mera ignorância, medo irracional do desconhecido (como o Paulo ontem referiu), estupidez encartada (e aqui refiro-me aos que veem conspirações e complots em cada canto e esquina), de forma mais ou menos escolada ou até pretensamente bem informados, desenvolvam teorias e argumentações para justificarem as suas decisões.
Não sei como se deve lidar com essa camada de pessoas que vive envolta em obscurantismos, em medos, em teorias baseadas num pot pourri de coisas lidas aqui e ali.
Claro que as redes sociais e a comunicação social avençada contribuem muito para a nebulosa que envolve estas pessoas. Conseguem sempre arranjar argumentos para se justificarem. Sabem sempre o que mais ninguém sabe ou conhecem o último estudo ou leram o último artigo. Ou sabem de casos que quase mais ninguém sabe. Ou acham que o que é divulgado nunca é realidade toda. O mundo inteiro anda equivocado, só eles têm o conhecimento integral dos factos.
Tratando-se de um caso de saúde pública em que é indispensável a existência de medidas transversais e universalmente aplicáveis, os organismos de saúde deveriam munir-se de estratégias de comunicação para lidar com estas pessoas. Imagino que não seja fácil até porque as motivações dos que não se encaixam são díspares. Os que têm fobias não são mal intencionados, devem é ser tratados. Os obscurantistas ignorantes devem ser convencidos a, humildemente, recolher à casota e lá ficar a estudar a lição antes de voltarem a latir. Os conspiracionistas, confusionistas e populistas devem ser desmascarados e expostos em toda a sua cretinice. Ou seja, deverá haver uma estratégia de comunicação para cada um destes grupos.
Eu que não sou expert em comunicação -- e, em boa verdade, no que quer que seja -- limito-me a partilhar uma imagem que acho que fala por si, mostrando o que é a investigação séria dos que estudam as vacinas e a pseudo-investigação dos que se alimentam de teorias baseadas no que pescam por aqui e por ali.
No Bored Panda há um local onde se mostra como alguns se dão ao trabalho de tentar rebater os que são anti vacinas. 30 Satisfying Times Anti-Vaxxers Got Roasted. Convido-vos a verem pois pode ser que encontrem formas eficazes para rebaterem os anti-vaccers com que se cruzem.
Pode parecer que não mas há por aí quem tenha medo de apanhar vacina (*). Pode ser medo de adversidade, medo de que o líquido na seringa esteja trocado ou, estando fora do frigorífico, tenha ficado que nem leite azedo ou pode ser, pura e simplesmente, medo de agulha.
E medo não escolhe em quem se alojar: pode ser em amelinha, pode ser em zé valentão, pode ser em anónimo ou em figura pública. Não sei qual a percentagem de medroso porque medroso não se confessa, não se declara para a estatística, medroso disfarça, arranja desculpa. Acho que medroso está em minoria mas, quando os há, de cada um a gente pode fazer um filme. São criativos, arranjam desculpa cheia de erudição ou, para ninguém suspeitar deles, ainda se riem dos outros.
É como aqueles homens que levam a vida inteira a esconder que são gays e que, apesar de toda a gente ver que há neles um piquinho a azedo que não engana, não fazem senão contar anedotas de gays. Contam e riem, contam e insinuam que os outros é que são. E a gente faz de conta que não percebe nada para eles, por dentro, poderem continuar fechados no armário enquanto, por fora, se armam nos maiores machões. Mas deixa. Tem pai que é cego.
O vídeo abaixo, mostra um desses. Todo prosa e, na hora, logo a fugir com o braço à seringa. Um pândego todo fóbico.
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6 bilhões de anos de evolução humana, 3 séculos de revolução industrial, 25 anos da clonagem da ovelha Dolly, chips, nanochips, óculos VR, rede 5g, câmera Tekpix, drones, privadas japonesas high tech e nada de inventarem essa vacina em gotinhas. Sacanagem.
Prefeito vacinado
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Mas, vá, não devemos rir das fobias dos outros não vá alguma descer também em nós. Ando a ficar medrosa, é o que é. Por exemplo, imagine-se que ficava com medo de calçar sapatos não vá enganar-me e ir com um sapato de cada nação (já me aconteceu; quando me chamaram a atenção fiquei para morrer, meti-me no carro e fui a casa repor a boa ordem), medo de cortar o cabelo em casa não vá dar uma tesourada abusiva e ter que quase cortar o cabelo à escovinha (já me aconteceu, apareci na sala a chorar, sem saber o que fazer. O meu marido ainda hoje se ri dessa minha aflição. Era uma jovem na altura, se fosse hoje assumia a assimetria), medo de comer figos não vá não conseguir parar (acontece-me todas as vezes que os como). As fobias são tramadas. Mais vale a gente deixá-las sossegadas para ver se não se assanham e não nos saltam em cima.
Por isso, já virei a minha boca para lá e vou focar-me num outro assunto. O da locução. Nada daquele tom de quem a sabe toda, jargões técnicos, comparações com outras sumidades. Nada. Aqui a locução é de outro estilo. Mais terra a terra, mais todo o terreno. Desta locução eu gosto.
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Do comentário abaixo, do Paulo B, transcrevo uma parte:
Tenho encontrado muitas mais pessoas com medo do que imaginava! E com razões tão díspares como:
a) pessoas de um tempo em que o médico era pouco mais que o padre que ia dar a santa unção (o meu avô) e que tem um medo de morte dos médicos no geral e da vacina em particular;
b) pessoas de poucos estudos e muito trabalho que têm sobretudo medo do desconhecido, dada a sua vida no limite da dignidade que as torna irracionalmente avessas ao risco (a Sra da pizzaria onde fui no fim de semana, que confessou ainda não se ter ido vacinar...),
c) pessoas supostamente informadas e bem formadas (formação superior) mas crentes na religião dos bio cenas e afins que os levam a desconfiar das intenções do sistema económico dominante e, claro,
d) a religião dos neofascismo que por aí proliferam, que têm dado a mau a tudo o que é teorias das conspiração que os.ajuda a vender as suas ideias... (A de que são os novos Messias).
Pois, de facto, cada um terá os seus motivos, mas a verdade é que, por cada não vacinado, há um elo de transmissão que não foi interrompido. Ou seja, para além da fobia, há um acto que pode ser visto como de irresponsabilidade social.
Tenho ouvido toda a espécie de histórias sobre as vacinas e a melhor de todas passou-se com um conhecido meu e que eu, com receio das coincidências, não me arrisco a contar. Quando ele me contou, soltei uma gostosa gargalhada e ele diz que elas lá também se desataram a rir.
Também sei de uma pessoa que acha que com ele é sempre o cúmulo da pouca sorte e que, nesse estado de espírito, me contou que com ele tinha que ter sido a da AstraZeneca. Na 2ª dose, acho que pôde escolher e escolheu outra.
Mas o melhor de tudo o que já vi e ouvi foi isto que agora partilho convosco. Muito bom.
Olha a boa do fim de semana: Open Bar de vacina, doses de Janssen e Sputnik liberadas a noite toda! Mulheres com cartão de vacinação entram de graça e homens usando PFF2 pagam meia. O local será divulgado mais tarde nos Stories da Ludmilla.
Há quem se queixe de dor no braço ou de dor de cabeça. Conheço um que passou a noite a tiritar, tapado até ao cocuruto, febril. Outra diz que a mãe passou a semana seguinte sem se poder mexer, um cansaço paralisante.
A mim, que eu desse por isso, nada. Nem dor no braço, nem na cabeça, nem febre nem nada. Se houve alguma coisa, foi na base do mistério -- yes, doc, bem sei, a ser coisa séria como a travadinha que me deu, seria dias depois e não logo a seguir -- e até pode ser que mistérios aconteçam todos os dias, a gente é que não os apanhe em tempo real.
Mas isto para dizer que a gente, quando pensa em efeitos secundários, só pensa em coisa má. Mas, de facto, ser só coisa má é que é improvável. Na volta dá também coisa boa, a malta é que só põe a boca no trombone quando é para se queixar porque, se a coisa for boa, fica caladinha não vá alguém deitar mau olhado e a coisa boa levar sumiço.
E até há tratamentos que nascem assim, de efeitos secundários que, sem mais nem ontem, por mero acaso, vão curar o que menos se esperava.
O químico inglês Simon Campbell trabalhava em um medicamento para dilatar as artérias do coração e aliviar a dor no peito da angina. Os efeitos, porém, estavam aquém do desejado. Só que nos testes clínicos os pesquisadores começaram a ouvir relatos de voluntários que sofriam uma estranha (e bem-vinda) reação adversa: o citrato de sildenafila melhorava a ereção. Em 1998, a Pfizer lançava o Viagra.
Eu, por exemplo, não me ralava nada se o antiagregante plaquetário que agora ando a tomar me retirasse toda e qualquer ruga ou me fizesse ser capaz de dançar em pontas ou rodopiar no ar.
Ah, agora que falo nisso, estou a lembrar-me que, no outro dia, a minha filha, olhando-me a pele, disse que ando com a pele diferente, melhor. Nesse dia, atribuí isso a um brilhozinho que tinha passado mas ela disse que achava que não era isso.
Na altura, não me ocorreu mas, na volta, é da vacina.
Um dia destes ainda me dá para tocar piano. Sem se perceber como, ainda sou capaz de surpreender muito boa gente. As mãos voando no teclado, eu Clair de Lune, espantando todo o mundo. Mas como? -- interrogar-se-ão. Se nunca conseguiu, como é que agora, do nada, lhe saem das mãos sonatas, prelúdios, cantatas, sinfonias, tudo o que há de bom?
E eu, feita sonsa: É que levei da boa, como diz o Vice-Almirante; e, vejam só, até pianista me tornei. Caladinha, sem revelar que era efeito colateral da Janssen.
Já para não falar do grego. Quando me aparecesse um e outro a darem-me lições, a dizerem que não posso perceber nada de nada se não li a Odisseia no original, saia-me com um trecho completo. Οδύσσεια de cabo a raso. Grego do bom, do antigo.
Ler e escrever. Toda a gente boquiaberta. Mas o que é que lhe aconteceu? Agora até para o grego lhe dá.
E eu, toda prosa:
Έχω ένα καλό σουτ. Τώρα παίζω ακόμη και πιάνο, μιλώ ελληνικά και χορεύω σε γωνίες Και όλα αυτά λόγω του εμβολίου Janssen. Γιούπι! Και ότι οι ελίτ περιφέρονται, οι ηλίθιοι που πιστεύουν ότι είναι οι καλύτεροι. Μπόρα, αλλά όλα είναι καλά αφαιρέστε!
Mas a grande, a mediática divulgação seria no programa do Goucha. Ele a apelar ao sentimento, a escavar fundo nos meus sentimentos, eu já toda à flor da pele, até que, finalmente, indefesa e de olhos lacrimejantes, revelaria toda a verdade. A partir daí, o Vice-Almirante até teria que pôr polícia à porta da casa aberta, toda a gente a querer levar 'da boa' para ver se eram bafejados por iguais prodígios.
Mas isto é como tudo: a uns sim, a outros não. A vida é assim, o sol quando nasce não é para todos. Temos pena.
É que esta coisa do corona e da vacina anti-corona, quem os fabricou, fê-lo com criatividade, coisa customizada: a cada um seu efeito. Uns a saírem de lá na mesma, monotonamente iguais a quando entraram, quanto muito a queixarem-se do braço, enquanto outros uns a dançarem sapateado, outros a dizerem missas em latim, outros, novos e velhas, a fazerem flic-flacs encarpados com aterragem em espargata ou, até, transformados em estrepitosos helicópteros.
O próprio do Goucha haveria de lá convidar a sua candidata Garcia para, à desforra, emborcarem bombons recheadinhos da boa. A ver se a malta continuava a criticá-los... É o criticas. O efeito haveria de estar à vista. A ver é se não era o mesmo que é reportado aqui abaixo (no pun intended).
Efeito secundário dos valentes, este aqui abaixo, do Betinho. Pôxa vida, efeito deste deveria vir escrito em letra gorda, não vá dar em todo o mundo. Mas, pronto, parece que dá em quem tomou a AstraZeneca e dessa eu não tomei, não posso testemunhar.
E que entre ele e o Marcinho, ambos da Porta dos Fundos
[Às vezes um efeito indesejado não é tão indesejado assim, talvez seja realmente algo que você secretamente desejou, algo que você reprimiu. O efeito colateral passa a ser esperado, o adverso vira super agradável. E todo mundo sai feliz!]
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Desejo uma very happy friday e uma vida longa e feliz a todos os que forem uns afortunados contemplados
Mais um dia meio parvo. Não sei o que passa pela cabeça de algumas pessoas para ligarem para outras antes dessas pessoas estarem bem acordadas. Nos tempos longínquos em que uma pessoa tinha uma hora de trânsito pela frente, de certeza que às oito e tal estava toda a gente mais do que a pé. Agora quando uma pessoa trabalha em casa, what's the point? Claro que há os madrugadores que, ainda nem o sol raiou, já estão a pé. Não é o meu caso. Quando os madrugadores se levantam talvez as galinhas também já acordadésimas. Eu não, a essa hora estou no primeiro sono. E pouco antes dessa hora, nomeadamente agora, ainda eu estou a escrever aqui.
Mas, pronto, há gente para tudo. Ainda por cima uma pessoa atende a ver qual a urgência e não é urgência nenhuma.
Enfim. Coisas desagradáveis.
Depois, ao estar instalada no canto de que fiz o meu office, vendo a agenda, disse, toda contente: vai ser um dia calmo. E uma vez mais se verificou aquilo de não dar sorte a gente falar cedo demais. A meio da manhã um telefonema complexo. Dei as minhas indicações mas era complexidade a mais para ser só decisão minha. Liguei para quem devia. Nada. O telefone a tocar, tocar e nada. Enviei uma mensagem descrevendo o que se passava e pedindo que ligasse para a pessoa que me tinha ligado.
Junto à hora de almoço fomos fazer a caminhada. Quando estava longe de casa, um telefonema. Era ele. Fiquei desconfortável. Não ia atender ali, no meio da rua, a andar. O meu marido disse que ficasse parada. Não quis. Sabia lá se o telefonema iria demorar meia hora. Não ia ficar plantada no meio da rua. Quis regressar a casa. Ele achou um disparate. Disse-lhe que ia eu, que continuasse a andar. Veio comigo. Uma verdadeira caminhada aeróbica. Em metade do tempo, percorremos o caminho de volta. Já em casa, liguei. Conversámos, analisámos hipóteses, combinámos estratégias.
Depois do telefonema, já mais descansada por ter partilhado preocupações, voltámos à rua e terminámos a nossa caminhada.
Depois de almoço, fui outra vez optimista: pensei que a tarde não se afigurava má de todo, talvez me desse para uma sesta de quinze minutos. Alonguei-me no sofá, pus os braços para trás como gosto de fazer (coisa de que a minha mãe me diz que já leu que não se deve dormir assim porque tem ideia que faz mal a alguma coisa) e, de imediato, senti que estava a deslizar para o sono. Mas isto é fatalidade: o mundo conspira para não me deixar pôr o sono em dia. Uma sonora mensagem.
Claro que poderia tirar o som ao telemóvel mas não consigo, tenho sempre receio de que alguma coisa requeira a minha imediata disponibilidade. Mais uma pancada minha, esta de que tenho que estar sempre em estado de prontidão. O meu marido, de vez em quando, recorda-me: 'sabes aquilo de que há sítios cheios de pessoas insubstituíveis?' Claro que sei. Mas não me acho insubstituível, quero é estar disponível para o que for preciso. E confesso: não sei se isto é caso para procurar um psiquiatra mas, se for, agradeço que me avisem que eu vou.
Resultado. Nem cinco minutos consegui passar pelas brasas. E depois foi toda a tarde a bombar.
Lembro-me frequentemente daquilo que uma colega que se reformou recentemente me disse uma vez que me encontrou no Colombo, poucos dias antes do apocalipse de Março do ano passado. Estava toda gira, ela, mais jovem, um corte de cabelo todo moderno, melhor pele, uma roupa toda fashion. Ouvi um grito: 'Olha para ela...!'. Reconheci logo a sua voz. Tinha-me visto. Estava apressada, ia encontrar-se num restaurante com uma amiga. Disse-me ela: Ai é tão bom não trabalhar. Penso muitas vezes que, se quem trabalha soubesse que é tão bom não trabalhar, ficariam todos muito infelizes.Ai é tão bom poder fazer o que me apetece. Faço ginástica, encontro-me com amigas, vou aos concertos da Gulbenkian, vou ao cabeleireiro, durmo a sesta, vou até Sagres, faço o que quero.
Aqui em casa, em teletrabalho, penso muitas vezes que é uma tristeza não conseguir gerir o meu tempo por forma a guardar algum para me sentir mais livre, nem que seja por apenas umas horas. De quando em vez lá acontecem uns lampejos que me deixam toda feliz da vida, até faço de conta que estou a entrar em férias. Mas dias como o de hoje, a meio de Julho, já com várias pessoas de férias, com a agenda pouco sobrecarregada, em que penso que vai ser pera doce e, afinal, um telefonema, um mail, uma reunião, outro telefonema, e mais outro, entristecem-me um bocado. O dia vai decorrendo assim, sem tempo para descanso e, quando chega ao fim, acho que foi uma estupidez. Uma seca.
Mas é um propósito que tenho, por todas as razões e mais a que se prende com o que me aconteceu há mês e picos: ir doseando a carga de trabalho e ir aprendendo a guardar algum tempo para mim. Tem que ser.
Quando estava naquela maca de hospital, no meio de gente aos gritos, sem perceber bem o que me estava a acontecer, não posso dizer que tenha sentido grande medo. Acima de tudo o que me ocorria era que seria uma chatice se a minha vida terminasse mais cedo do que era suposto ou se ficasse com limitações.
Penso muitas vezes no caso do meu colega que trabalhou para além do que era suposto pois foi acedendo a todos os pedidos para que se mantivesse por mais algum tempo em funções e que, ao fim de poucos meses, quando finalmente se reformou -- e quando começava a gozar a liberdade de fazer caminhadas, de almoçar com amigos, de estar mais tempo com a família --, num dia igual a todos os outros, sem que nada o fizesse prever, sentiu um cansaço, sentou-se, apoiou os cotovelos nas pernas e pousou a cabeça nas mãos e, sem qualquer sinal de alguma coisa se passasse, caiu morto. Morte santa, sem dúvida. E não ficou cá para lamentar a morte prematura mas, se tivesse sabido qual o desfecho que lhe estava reservado, certamente teria sabido gerir melhor o seu tempo, guardando mais tempo para si e para os seus em vez de se ter entregue, quase por inteiro, à empresa.
Naquele fatídico dia de inícios de junho, estava eu na maca, sem perceber se o meu coração se preparava para deixar de trabalhar, auto-vigiando os sintomas pelos quais tanto me perguntavam -- tem dor no peito? custa-lhe a respirar? está a transpirar? sente alguma má disposição? náuseas? sente formigueiros? -- e ia pensando que era uma chatice se ainda gozava menos a vida que o meu colega.
Claro que estava também muito chateada por estar assustar tanto a família. E pensava que, se lá ficasse internada ou se tivessem que me operar, ia estragar-lhes o fim de semana. Sobretudo pensava que o meu marido nem devia ter jantado, que, na volta, mal dormia tal a preocupação de se levantar ainda mais cedo do que o costume. Medo de morrer acho que não senti, só chatice e incompreensão pelo que estava a acontecer. Mas, naquela noite terrível, agora que penso nisso, penso que, sobretudo, senti muita solidariedade e compaixão pelo sofrimento alheio a que ali estava a assistir.
Quando, de manhã, se aproximaram de mim para me repetirem todos os exames, o braço já cheio de cateteres, senti ansiedade mas era sobretudo medo de se descobrir mais alguma coisa estranha que os fizesse querer que eu continuasse lá, preocupação pela preocupação do meu marido e do meu filho lá no hospital e da minha filha em casa sem saberem se eu tinha alguma coisa grave, preocupação de que fosse coisa complicada que tivessem que contar à minha mãe, sabendo eu, de antemão, que ela iria ficar em pânico.
Mesmo quando, antes, accionaram o protocolo dos acidentes cardíacos e chamaram do INEM e me vi enfiada numa ambulância, as luzes azuis a rodar, não tive medo de morrer. Foi mais apreensão por aquilo tudo. Ou talvez, até, incompreensão: bolas, mas será que me está acontecer alguma coisa grave? será que vou desta para melhor sem ter tido tempo de gozar a liberdade do meu próprio tempo? Caraças, que é isto? O susto que estou a pregar a toda a gente, que chatice... Tomara que não se assustem muito... Será que há o risco de isto estar a acabar para mim...? Haverá risco de ir desta para melhor sem sequer me ter prevenido...?
E pensei, uma vez mais, naquela outra vez quando o meu carro ficou sem travões, numa descida que ia dar a uma rotunda cheia de trânsito. Percebi que havia sérios riscos de me espetar. Quando vi que estava a galgar uma rotunda e a ir desenfreada contra uma estrutura metálica, pensei que aquilo me poderia cortar o pescoço. Também não tive medo. Pensei apenas que, se calhar estava a viver os últimos instantes da minha vida e que se calhar nem tinha tempo de pensar em cada um dos meus queridos para mentalmente me despedir deles. Naqueles breves instantes, pensei isso com muita tranquilidade.
Nestas coisas não tenho medo de morrer. Aliás, nem penso nisso. É como aquilo de andar de avião. Não tenho medo. Penso que se tiver que ser, será. E não penso mais no assunto. Não tento controlar ou evitar o que depende do acaso e da lei das probabilidades. Penso que o que for soará.
O que gostava era de, até que a guia de marcha chegue, para além de me manter disponível para os meus, ter também tempo para fazer o que me der na gana: preguiçar, ler, fotografar, passear, dormir, não fazer nada, jardinar, escrever contos, escrever um diário, escrever inacreditáveis maluquices, estar mais perto da natureza, ir comer um gelado quase todos os dias, aprender a fazer coisas, conhecer outras pessoas, vadiar, um dia ter o cabelo azul, noutro platinado, noutro cor de violeta, ousar, experimentar, descobrir estrelas, descobrir poetas, descobrir diseurs. Rir. Dançar. Nadar. Festejar a minha liberdade. Coisas assim.
E é para isso que, mentalmente, tenho que me ir preparando, abrindo caminho.
É com alegria que aqui recebo, uma vez mais, o fantástico Dude (with sign), Seth Phillips de seu nome, que, como anteriormente, vem reivindicar grandes medidas.
O som é Bird's Teardrops || Estas Tonne feat. Peia.
Tenho cá para mim que o título, em especial naquilo das odds, não tem lá muito a ver --
-- mas ando com esta expressão na cabeça e assim, escrevendo-a, talvez me passe.
Recebi alertas sobre o que tenho escrito, referindo-me que, perante quem me lê, pode ficar a ideia de que sou reticente em relação à vacina anti-Covid e sugerindo que, tendo eu em média para cima de duas mil visualizações, deveria ter cuidado com a mensagem que posso estar a passar.
Sou sensível a esses alertas. Não quero que passe uma mensagem que não coincida com as minhas ideias e, por isso, vou tentar falar claro.
A minha mãe, quando ao falar comigo, se refere à 'porcaria da vacina' está apenas a ter o seu sentimento maternal aguçado. Desde sempre assim foi: se alguma coisa não está bem comigo, ela sente necessidade de encontrar um culpado para descarregar nesse agente a sua arrelia por alguma coisa me ter feito mal. Já lhe disse muitas vezes que nem sempre a razão é da responsabilidade, bem identificada, de terceiros: os responsáveis podemos ser nós próprios ou as nossas circunstâncias ou pode, até, haver razões congénitas.
Mas não é contra as vacinas: quando foi convocada, não hesitou. Já levou as duas doses.
E se é verdade que as vacinas, umas menos que outras, não se têm mostrado tão eficazes quanto o desejaríamos no contágio com a variante Delta, a verdade é que são eficazes na prevenção da gravidade da doença -- e isso é o mais importante. Não será grave eu ser infectada se isso não me afectar grandemente mas poderá ser grave, ou até fatal, se for parar a uma cama dos cuidados intensivos, se for ventilada ou se for desta para melhor. E esse é o raciocínio a fazer.
Ou seja, se há 20, 30 ou 40% de pessoas que, estando vacinadas, ainda assim contraem a covid, a verdade é que essas pessoas, maioritariamente, ou ficam assintomáticas ou têm manifestações ligeiras ou benignas da doença. A percentagem de casos graves ou de fatalidades diminuiu drasticamente entre a população vacinada. Os casos graves que continuam a verificar-se concentram-se agora nas pessoas não vacinadas ou com a toma ainda incompleta.
É certo que há um ou outro caso de reacções adversas às vacinas mas não apenas será sempre difícil afirmar de ciência segura que a causa do que aconteceu é a vacina como se trata de uma ínfima minoria e, salvo muito raríssimas excepções, casos não dramáticos.
Percebo também que, para quem me lê, pode parecer que estou a querer fazer caso, ou seja, a criar mistérios, não contando o que me aconteceu. Mas não, não é isso. Não o contei, justamente por não haver certezas de nada e por receio de que isto alimente especulações. Contudo, sopesando os argumentos, vou contar.
Na tarde do dia em que levei a vacina, fui fazer um ecg de rotina. Mera coincidência.
Para minha absoluta surpresa, porque sempre tive tensão baixa e nenhum problema identificado, esse ecg assinalou um comportamento anómalo do meu coração. Ao repetir o exame, algumas horas depois, a situação tinha-se agravado, havendo já uma sequela. Perante a estranheza do caso e a perspectiva de que pudesse estar a ter um enfarte agudo de miocárdio ou que tivesse acabado de tê-lo, após conferência entre médicos, nomeadamente com o responsável de cardiologia, foi activado o protocolo e fui levada pelo Inem, de ambulância, para um hospital. Escolhi ir para um hospital público pois, se a situação era grave, achei que estaria melhor num hospital público.
Lá, na sala de reanimação, ao ser avaliada, examinada e analisada, decidiram que ficava lá em observação. Tive alta apenas no dia seguinte, à hora de almoço, ao ser verificado que o coração estava estabilizado, embora com a sequela identificada na noite anterior. Saí não apenas com medicação mas, também, com um conjunto de instruções sobre como agir face a alguns possíveis sintomas, com indicação de repouso quase absoluto e de ir o mais rapidamente possível a cardiologia.
Na sequência disso, tenho estado a fazer diversos exames, nomeadamente para perceber como está o meu coração a funcionar agora que ficou a referida sequela resultante do evento isquémico. A situação que poderia ser mais crítica, problema nas coronárias, já foi descartada. Foi entretanto percebido que há um aspecto em que o meu coração tem uma condição congénita que pode, em certas circunstâncias, provocar alguns problemas, nomeadamente o que aconteceu. Pode ter sido, também, um acumular de diversas situações, nomeadamente stress, inflamações, anti-inflamatórios, etc (talvez por ter uma vida muito sedentária ou stressada, tenho, de vez em quando, algumas tendinites ou inflamações articulares que trato com anti-inflamatórios). Ou pode ter sido a vacina -- e isto apenas é hipótese pois existiu a coincidência temporal.
Mas, se eu não tivesse feito o ecg, não teria dado por nada e a questão da vacina nem se teria colocado. Por sorte, fiz o ecg que apanhou a situação e me permite perceber os cuidados que devo ter daqui para o futuro. Faço a vida normal mas com menos intensidade pois trabalhar doze ou catorze horas por dia não dá saúde a ninguém e eu sentia que estava a atingir um limite. E, lá está, terei que vigiar-me e estar atenta a alguns sintomas.
Não há nenhum médico que arrisque uma razão para o que me aconteceu, nem a favor nem contra alguma hipótese. Aconteceu -- e, milagrosamente, fiz ecg's no exacto momento em que a coisa estava a dar-se.
Mas uma coisa é certa: se eu tiver que tomar nova vacina, se isso for aconselhado pelos organismos mundiais de Saúde e pela nossa DGS, tomá-la-ei.
No balanço que faço entre os prós e os contras e na conjugação de probabilidades, não tenho dúvida em achar que a balança pende, sem dúvida, para o lado de se tomar a vacina.
Chateia-me um bocado pensar que a que levei, Janssen, é a menos eficaz no contágio (mas é segura na prevenção da gravidade). Leio que está em estudo a avaliação sobre se é seguro conjugá-la com uma toma de vacinas de outro tipo e, naturalmente, quero sentir-me confiante quanto a essa segunda toma.
Mas, no cômputo geral, não tenho qualquer dúvida de que, tal como, ao longo dos tempos se venceram flagelos como o sarampo, a difteria, a varíola, a poliomielite e etc. com vacinas, também agora não poderemos vencer esta praga senão com a vacina.
E que ninguém pense que está acima dos riscos e que não precisa de vacinar-se. Errado. O risco de ter consequências graves caso se contraia a covid é incomparavelmente muito superior aos efeitos secundários de tomar a vacina. Cada pessoa é responsável perante si, perante os que lhe são próximos e queridos e perante a sociedade. Sob nenhum ângulo a pessoa poderá desculpabilizar-se se contrair formas graves da doença por não ter querido vacinar-se.
Desde há meses que o mundo está a ser vacinado pelo que a amostra existente é de uma tal ordem de grandeza (milhões e milhões que não acabam) que não deixa margem para dúvidas. As vacinas são seguras e eficientes. Os números falam por si.
Quem não se vacine está deliberadamente a colocar-se no grupo dos que vivem nos países mais pobres, onde as vacinas tardam a chegar.
Espero que agora esteja claro o que penso das vacinas contra a covid (que é idêntico ao que penso das vacinas em geral): se a recomendação é para vacinar, vacino-me. E não penso duas vezes.
Não é apenas por mim e pelos custos gerais para a sociedade (ter um doente covid internado sai caro ao erário público). É também pelos que me são próximos: se apanhar covid e ficar mal, ventilada, não me perdoaria por causar tantas preocupações e trabalhos aos que me são queridos se isso fosse o resultado de não me querer vacinar.
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E porque gosto sempre de ter acompanhamento musical, imaginando que o tema vos possa ter dado vontade de dormir, aqui deixo uma musiquinha a condizer:
Seja a quarta, a delta ou o que for, de nada nos servirá essa informação se daí não conseguirmos extrair conclusões úteis.
Informação extraida hoje, dia 16.06.2021, do site da DGS
Os números voltam a subir e eu volto a pensar que a comunicação continua a falhar. A informação de pouco serve se for um mero despejar de números. Para ser útil, temos que interpretar os números e não apenas servi-los, a cru. Por exemplo:
Os novos casos, como se distribuem por escalões etários? Não quero saber valores acumulados, quero saber os do dia a dia para perceber a evolução.
Dos novos casos, quantos tinham ou não tinham a vacina tomada? Uma ou duas doses?
Dos novos casos, quantos usavam a máscara no provável local onde foram contagiados?
Qual o contexto em que ocorreu o contágio? Casa? Escola? Restaurante? Local de Trabalho? Transporte Público? Espaço fechado?
Só com informação deste tipo, exacta, concreta, se poderão tirar ilações que permitam tomar medidas para contrariar a tendência.
Se, por exemplo, não ocorrerem contágios em espaços abertos (praia, parque, etc) não haverá grande sentido em forçar medidas que serão forçosamente sentidas como artificiais e desnecessárias.
Em contrapartida, se a maioria dos contágios ocorrer em meios de transporte, então haverá que reforçar a ventilação e meios de higienização. Ou se ocorrer em contexto familiar, onde não se usa máscara e onde confluem pessoas que vêm dos locais de trabalho ou das escolas, então haverá que reforçar cuidados a montante. Ou se ocorrem em contexto profissional, por exemplo em escritórios sem ventilação natural, então haverá que repensar se é mesmo de levantar a obrigatoriedade de teletrabalho obrigatório.
Estou a dar exemplos apenas para concretizar a ideia de que informação deve ser completa, estruturada e clara. De outra forma, as medidas são mais gerais do que precisariam de ser e, em concreto, pouco se sabe sobre como nos precavermos.
E, quando falo em tomar medidas, não falo apenas em entidades 'superiores' que decidam em nome de todos: falo também em cada um de nós que, sabendo onde e como estão a ocorrer os contágios, poderemos adaptar as nossas atitudes para reduzir o risco.
E muito gostaria que a DGS percebesse isso e nos facultasse a informação de que todos estamos necessitados. Sinceramente, acho que já vai sendo tempo de irmos voltando a uma vida tão 'normal' quanto possível mas isso só poderá acontecer quando estivermos mais e melhor esclarecidos.
E é isto: o coroninha a fazer do mundo um seu joguete