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quarta-feira, agosto 12, 2020

Quando uma mulher deixa um homem sem palavras, sem norte, sem acção


Vou contar uma coisa que vai indispor muito gente. Não quero saber. Ninguém me conhece (tirando os que conhecem) pelo que tanto se me dá. Podem até fazer uma manif aí pela rua ou fazer tshirts a insultar-me. Bem podem mandar estampar: 'Tens a mania que és boa comó-milho' ou 'achas que podes competir com a Loren...? Tá bem, abelha'. Acharei graça.

Mas conto.

Passou-se isto: como já contei, a parte de baixo do móvel das ondas, que é um móvel com dois metros e setenta de comprimento, dois metros e picos de altura e, na parte bojuda da onda vai ao meio metro, ficou para o meu marido. Eu não daria conta de tamanho bicho. Ele pragueja, invectiva o mundo e arredores, incluindo-me a mim, mas a verdade é que dobrou o cabo e o móvel, neste momento, está vazio. 

Pelo meio descobriu o papel do nosso registo de casamento, coisa cuja existência eu desconhecia, descobriu uma fotografia minha e de um amigo, ambos com disfarces e tabuletas a dizer 'tá-se bem', uma fotografia dele próprio quando, feito Cristo de olhos cor de mel, me converteu ou, no Jardim Botânico, com amigos, no dia em que o meu namorado da altura deu meia volta e foi na direcção dele para lhe dar uma tareia, conseguindo eu travá-lo in extremis dizendo-lhe que se armasse confusão o namoro acabava ali, de imediato. 
E uma fotografia minha também dessa altura, cabelos compridos, aquele vestido verde de tecido fininho que se me colava ao corpo e que o deixava maluco. A fotografia é a preto e branco mas reconhecemos o modelo. Ele fez aquele comentário meio impróprio para consumo que, na boca dele, é papo demonstrativo de apreço. Ri-me. E disse: alguma coisa eu tinha, andavam todos atrás de mim. Ele riu. Fez de conta que me achava convencida mas sabe que não, constatou que não, ele próprio foi um deles. Olhou a fotografia, sorrindo: 'A boca. Talvez a boca'. Lembrei-o que, pouco tempo depois, quando ganhou terreno, não era propriamente da boca que falava. Mas é verdade, reconheço, olhava-me muito para a boca. E a coisa acabava inevitavelmente em beijo. Mais tarde, uma tia dele diria: sempre aos beijinhos, não conseguem separar-se, parece que os beijinhos são uns rebuçadinhos.
Mas eu, em jeito de balanço, o que posso dizer é que não é boca, não é mamas, não é rabo, não são pernas, não são olhos, não é cabelo, não é pele, não são mãos ou pés. Bem. Na volta, é um pouco de tudo isso, sim, talvez tudo isso mesmo, mas na medida certa. Mas é, sobretudo, uma outra coisa que não sei definir, talvez a inteligência, talvez o saber tirar o tapete, talvez o sorriso sorrido a direito, ou melhor ainda: o meio sorriso, o desabilitar o outro de lutar. Ou seja, aquele je ne sais quoi que não se explica.

E isto a propósito de um vídeo fantástico que o YouTube tinha hoje para me recomendar: Sofia Loren a deixar o pobre entrevistador sem jeito, sem palavras, sem tino, sem acção. Uma coisa boa de ver. Gostei.

Sofia tinha, então, quarenta e cinco anos e Dick Cavett menos dois. Se fosse hoje ela pareceria mais jovem do que parecia na altura. As mulheres hoje mantêm-se jovens até mais tarde. Naquela altura, a maquilhagem pesada, os cabelos mais 'armados', os óculos que também não ajudavam nada tornavam as mulheres precocemente mais maduras. Mas era bela de qualquer maneira. E era, sobretudo, uma mulher com aquele toque de descaramento, de je ne sais quoi, de graça, de irreverência, de inteligência despudorada. E é ver Dick Cavett, hábil entrevistador, a ir ao tapete em três tempos. Dá gosto ver. É das coisas boas da vida uma mulher levar um homem ao tapete. 


😘

terça-feira, julho 23, 2019

Strip numa noite quente


Esta minha sala é quente. Toda envidraçada, bate-lhe o sol desde a nascença até que, a meio do dia, se vira para o outro lado. Estive como habitualmente: à espera de aqui ficar sozinha para poder ligar o vento frio. Sabe-me bem o vento frio a soprar-me a pele.

Tanto que lutei contra isto. Anos. Nem queria pensar no que um aparelho destes desfearia esta minha sala tão cheia de coisas especiais. Anos. Toda a família a querer vergar-me, a apelar ao bom senso que, em mim, tantas vezes vagabundeia. 

Até que baixei a guarda. 

Seguiu-se a escolha do lugar menos intrusivo. Eu queria-o escondido. Mas escondido não atiraria o ar com toda a pujança. O técnico elegeu o melhor sítio. Zanguei-me: nem pensar. A estética deve sobrepor-se ao conforto. Absurdo, disseram. Teimei: nada feito, só escondido. Absurdo, repetiram. 

Até que cedi. 

Ali está. Já nem dou por ele. Acho que ninguém dá por ele.

E o que sei é que, desde há algum tempo, mudei muito. A sala é ampla e consegui que, apesar de todas as muitas estantes a circundar todo espaço, permanecesse com este ar espaçoso e amplo. Mas os móveis, na maioria, são móveis escuros, de bela madeira maciça, ou de raiz de nogueira ou de mogno. Mesmo as últimas estantes, do IKEA, são escuras. E tenho peças muito bonitas, especiais mesmo. Mas, dizia eu, mudei. Hoje não escolheria nada disto. Aliás, assalta-me a vontade de simplificação, de móveis brancos, de zero objectos especiais. Zero vidros de murano, zero clepsidras -- e que lindas são, umas de pó dourado que, devagarinho, se vai esvaindo, todas de formas elegantes, umas de um belo líquido azul, o mar a escoar-se em silêncio vagaroso, e caixinhas de música ou outras, lindas, com bonequinhos em biscuit. Para quê tudo isto? Só quereria algum objecto caído do céu como aquele leque de finas lâminas de madeira com desenhos à mão, dedicatórias de amor e poemas manuscritos, coisa de mil oitocentos e tal que um dia descobri. Ou não: como os tais livros que me descobrem (assim mo dizem), também este leque me descobriu numa tarde longínqua.

De resto, zero.

Digo-o apesar de tanto gostar de tudo.

Na realidade, não consigo desfazer-me destas minhas coisas. A sala, apesar de tudo, não está escura. Pintei uma parede de sanguínea. Faz a sala vibrar. Tenho nessa parede um quadro grande que pintei e do qual jorra a cor. E os tapetes são coloridos e os sofás também têm cor e as almofadas também. Mas seria diferente se todas as estantes fossem absolutamente simples, brancas, se os sofás fossem larguíssimos e todos brancos, se as paredes fossem brancas, quase sem nada. E eu, numa noite assim tão quente, nua, numa chaise bem longue, corbusier por exemplo, minimalista -- eu e a cadeira.

E nem conto aqui sobre o striptease que faria antes porque este blog não é dado a intimidades desnecessárias.

Em contrapartida, para ilustrar a desnecessidade de roupa em cima, aqui vos deixo uma série de strips de toda a espécie e feitio. Inspiração para whatever.


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Não sei em que filme é que a Sofia Loren deu cabo do juízo do pobre do Marcello Mastroianni mas, quem tenha curiosidade, talvez descubra.

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sexta-feira, julho 06, 2018

Aquelas belas italianas





Quando eu era menina e moça, jovem púbere, no liceu tínhamos que usar bata. Uma bata branca de um feitio pré-definido. Uma coisa que hoje me parece estranhíssima. Mas era assim. Os rapazes não, só as raparigas. À distância, tudo naquela altura me parece aberrante. E, tirando nós mesmos, tudo era mesmo aberrante. 

Por essa altura, eu andava perdida de amores por um colega que também se perdia de amores por mim. Mas, como todos os grandes amores entre gente pequena, a coisa, ao princípio, não era completamente explícita.


Eu tinha uma grande amiga que eu achava muito bonita, de quem gostava muito e de quem era inseparável. Mas, de vez em quando, tinha ciúmes dela. Parecia-e quase impossível que ele não se sentisse atrído por ela. Aparentemente não tinha mas eu, se calhava vê-los juntos, logo sentia aquela pontada (que, diga-se em abono da verdade, foi o máximo que, desde que me conheço, consegui a nível de ciúme). Uma vez zanguei-me com ele (o que acontecia frequentemente) e ele em vez de sair do liceu comigo, saíu com ela. Fiquei roída. Uma afronta sem perdão. No entanto, não deixei de gostar menos dela porque sempre achei que ela não tinha culpa de ser tão bonita. A minha fúria era com ele. No dia seguinte vinguei-me dele, fiz-lhe toda a espécie de ciúmes. Para ele não ser parvo. Mas, à tarde, já eu estava arrependida de ser eu tão parva porque na véspera a culpada tinha sido eu e nada justificava que persistisse, agora fazendo-lhe ciúmes escusados. Então, toda humilide, arranjei maneira de lhe dizer que, gira como ela era, compreendia que ele se interessasse por ela. Olhou para mim admirado como se tal coisa nunca lhe tivesse passado pela cabeça. Disse-me que a ela lhe faltava qualquer coisa, que andava com os braços colados ao corpo, que não levantava a cabeça, que parecia que lhe faltava vida. Fiquei espantada com isso. Nunca tinha reparado em tal coisa. Achava que uma cara bonita e um corpo bem feito bastavam para que um rapaz achasse piada a uma rapariga. Mas ele disse-me, com sentimento, que gostava era de mim. E eu perdoei-lhe tudo, mesmo aquilo que ele não tinha feito. 

Por essa altura, o meu corpo já estava a ganhar formas. Eu não estava segura de que o meu corpo fosse bonito. Pelo contrário, achava o corpo dessa minha amiga muito mais elegante que o meu. Toda ela era mais longilínea e isso parecia-me a perfeição. Isso e o cabelo. O cabelo dela era fininho, liso, esvoaçava quando lhe dava o vendo, parecia seda. O meu era uma juba revolta. A minha mãe dizia que não fosse parva, que tomara ela ter o cabeço farto e forte que eu tinha mas isso não me convencia nem fazia diminuir a admiração que eu tinha por aquele cabelo sempre penteado, sempre com ar elegante. Mas o corpo. Os meus seios cresciam, as minhas ancas arredondavam-se. A minha bata ficava justa. Uma vez eu queixava-me, que a bata estava a ficar-me apertada, que parece que ficava melhor às outras do que a mim, que detestava ver-me de bata. E, então, ele disse uma coisa surpreendente: 'Eu gosto. És tipo viola'. Fiquei sem perceber mas não pareceu grande elogio. 'Tipo viola? O que é isso?'. E ele, jovenzinho adolescente, fez um ar meio tímido e com as mãos fez aquele movimento de um homem a contornar as curvas de uma mulher. Foi a primeira vez que vi aquele gesto. Não percebi bem a lógica e a beleza da coisa mas passei a aceitar melhor as minhas curvas e intuí que ele estava a ficar um homem.


Entretanto, comecei a prestar mais atenção à forma como o meu pai, os meus tios e amigos falavam das estrelas italianas da altura. Uma vez mais, eu olhava as fotografias delas nas revistas e não achava pingo de piada. Pareciam-me matrafonas, formas exuberantes demais, feições marcadas demais, maquilhagem a mais, tudo exagerado. Lembro-me de achar a Sofia Loren horrível, uma boca que não acabava. À Monica Vitti achava-a eu horrível, uma cara estranha. Achava a Claudia Cardinale bonitinha mas vulgar. A Gina Lollobrigida parecia-me uma mulherzinha baixinha, corpinho ridículo de tanta curva e contra-curva, com os seios estupidamente espevitados. Sobre a Alida Valli ouvia eu sempre falar com uma admiração especial, como se fosse alguém num patamar à parte. Eu olhava e não percebia qual a diferença entre ela e qualquer outra mulher bonita que se visse na rua.


Só já bem mais tarde, eu já mulher feita, vendo a Monica Belucci, comecei a perceber o conceito. Sobretudo é a sensualidade que transpira das mulheres italianas, cheias de curvas, vibrantes, de bem com o seu corpo e com Eros.


Mas, naquela minha tenra idade, para mim beleza era a Françoise Hardy, a Brigitte Bardot, essas que, a meus olhos tinham um ar moderno, natural, descarado, pouco convencional. Nada como aquelas outras italianas, muito mulherzinhas, todas anquinhas, todas muito penteadinhas.


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Moral da história

O que se passa é que o que a gente vê é função dos olhos com que a gente vê. E e capacidade de visão dos nossos olhos varia com a idade, com o ambiente, com tudo. Hoje olho aquelas belas italianas e acho-as fenomenais. E custa-me até a perceber como até não há muito tempo eu não via isso. Mas é a vida. Acho que vamos percebendo melhor as coisas.

E esta conversa toda só porque estava, na preguiça, aqui a passar os olhos pela Vogue francesa e dei com um espaço dedicado às Les plus belles actrices italiennes de tous les temps. E, vendo-as, lembrei-me do que vos acabo de contar.

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E, para terminar, um striptease: aquela tal que eu achava horrível despe-se para um encabulado Mastroianni


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E, agora, para os que calhem estar interessados no meu umbigo, um convite: queiram descer um pouco mais. Fica aqui um pouco mais abaixo.

sábado, junho 23, 2018

Receio bem que hoje seja apenas mais um daqueles dias




O que foi este meu dia nem vale a pena dizer. Digamos que foi o culminar de uma semana inteira mal dormida, pouco ou nada descansada e em que o trabalho tombou imparavelmente em cima de mim.  À hora de almoço, a um colega que entrou no meu gabinete, enquanto saía outro, eu disse: acho que isto está a começar a ser de uma violência desumana. Depois não disse mais nada porque senti que estava a começar a ter pena de mim.

Drew Barrimore
Passado um bocado, à hora de almoço, saí nas horas de estalar para ir à consulta de ginecologia que deveria ser anual ou bianual ou sei lá e à qual não ia há anos. A maior parte das vezes, quando me lembro, peço a algum médico qualquer que me passe precrição para exames, vou e, se estiver tudo bem, acaba aí, já acho que não vale a pena perder mais tempo com consultas.

Desta vez, quando soube de pessoa próxima com um problema, e já lá vai ano e tal, pensei que tinha que ir à médica. Afinal só há uns meses lá fui. Mandou fazer uma série de exames e deu-me uma desanda. Para conseguir agendá-los todos de seguida e ao início da manhã, tive que esperar uns meses. E a seguir, para conseguir vaga com a médica à hora de almoço, mais uns meses. Foi hoje. Mas a consultra atrasou-se e eu comecei a ficar sem tempo pois, daí a nada, nova reunião. Portanto, com a pressa de me vir embora, nem fiz a pergunta que levava engatilhada com o propósito de marcar logo, nem que fosse para daqui a dez anos: qual a periodicidade indicada para este tipo de revisões. Esqueci-me. Agora olha, é quando voltar a lembrar-me. 

Drew Barrimore
Mas, portanto, no meio das trabalheiras do costume, tem-me acontecido ter que encaixar coisas inesperadas ou extra-curriculares. E, por tudo e também por mais isso, ando que não posso. Eu e o meu marido -- porque, por alguma bizarra conjugação astral, parece que, por simpatia, os deuses estão a fazer o mesmo com ele. Hoje, mal conseguimos cair aqui, cada um em seu sofá, foi tiro e queda. Um sono pesado, incontornável.

Ele levantou-se agora para se ir deitar e eu abri a tampa do computador mas mais por vício do que por inspiração.

À vinda para casa, conversei com os dois rapazinhos da minha filha e, à despedida, o mais novo, o que fez sete, perguntou como se chamava a quinta filha daquela família que só tinha meninas, a Pata, a Peta, a Pita e a Pota. Pelo inesperado, ri e disse que não podia responder, que ele me estava a sair um belo malandro. E ele: 'Porquê? A menina chamava-se Maria'.

Ainda me estava a rir quando liguei à minha mãe.

Depois fui ver a menina que ontem passou por uma cirurgia com anestesia geral. Hoje estava fresca, como se nada se tivesse passado. Tem que ficar uma semana em casa e tem que fazer dieta mas, quem não saiba jamais desconfiará. Em contrapartida, o mano bebé estava cheio de febre, embora mal o ben-u-ron tenha começado a fazer efeito, tivesse também ficado fino como um alho. Depois chegou o mano do meio, que vinha do judo com o pai. Radiantes e brincalhões, todos.

Ontem toda a gente deu cromos à menina (todos menos eu...) e ela esteve a mostrar-me a caderneta e os que tem repetidos. É a colecção das Lol, umas meninas gaiteiras, cheias de brilhantes à volta. Depois perguntou se eu gostava que ela me colasse um na carteira do telemóvel. Aí desarmou-me. Sou furiosamente anti-piroseiras mas senti que desvalorizaria a sua ideia se recusasse. Como tendo muito a deixar cair telemóveis e dei cabo de alguns, agora tenho o actual dentro de uma espécie de capa que supostamente o protege. Infelizmente, sempre que precisei que o fizesse, não resultou lá muito, mas enfim. Mas é uma capa preta do mais discreto que há. Então, face à generosidade da minha menina, disse que sim, na parte de dentro. Perguntou qual a boneca de que eu mais gostava. Disse que ela pusesse a de que gostava menos. Disse que gostava de todas e que eu escolhesse a mais bonita. E assim fiz. Ficou toda contente. Depois disse que eu podia escolher outra para pôr na parte de fora. E eu, perdida por cem, perdida por mil, escolhi. Uma coisa que, em condições normais, não lembraria ao diabo. Nem imagino como vou andar de telemóvel na mão com meninas Lol auto-colantes e auto-brilhantes. Um vexame. Mas como a minha condição é a de devota dos meus amores, abro mão de todos os pruridos e faço o que os faz felizes a eles e ponto final.


Mas ando cansada e agora que acordei estou já a pensar nos dias que aí vêm. Dias loucos até às férias e, na verdade, até ao fim do ano. É a economia a abrir à força toda -- investimentos, internacionalizações, modernizações -- e tudo o que se conteve durante os últimos anos, irrompe agora com sentido de urgência.

Julia Roberts
Claro que, no meio das reuniões contínuas, mil coisas a resolver, vários projectos a decorrer, tanta coisa séria para tratar, há os momentos de pura desbunda, de anedotas, de Brunosdecarvalhadas, de piadolas de toda a espécie e feitio, picardias a torto e a direito. E nesses momentos sai-nos o peso de cima, saem-nos os anos de cima, esquecemo-nos do que temos entre mãos, esquecemo-nos do que temos pela frente. Duram minutos estes intervalos loucos. Outras vezes, duram mais, apetece-nos que seja sexta-feira, apetece-nos que as responsabilidades sejam peso para outros e não para nós.

Mas enfim, é fim de semana e não quero pensar em nada disto. Quero é dormir, passear, ler. Claro que não tendo máquina fotográfica de jeito, o entusiasmo esfria um bocado. A nano máquina não me enche as mãos, quanto mais as medidas. Mas, não tarda, faço anos pelo que pode ser que alguma alma caridosa se apiede de mim.

E pronto, fico-me por aqui porque tenho mesmo que ir dormir. Continuo com mails (pessoais) importantes  para responder (importantes para mim, sobretudo), continuo faltista em relação a tantas coisas, a telefonemas para amigos, a palavras de afecto para quem o espera. Mas o meu tempo não estica mais. Nem alguns dos blogs que gosto de seguir diariamente tenho conseguido ver.

Mas isto para dizer que, com vossa permissão, me vou retirar e, como tem sido apanágio dos últimos tempos, não consigo dizer nada. Vou ver se sonho com o Brad Pitt que isso seria uma bela preparação para um fds em grande. Aleluia.


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Fotografias do Velvet Code, um espaço onde se divulgam imagens pouco conhecidas de figuras públicas bem conhecidas.

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quinta-feira, setembro 01, 2016

O cinema e o topless
- ou quando o cinema (e a sociedade) não era moralista e os seios das mulheres não eram maldição a evitar


 Brigitte Bardot e Jane Birkin no filme Don Juan 73 ou si Don Juan était une femme, 1973





Se já soube que havia um Dia do Topless esqueci-me. Pois se nem o dia da mãe eu tenho de memória quando é, fará isto, o dia do topless. Mas parece que há e que já foi.


Leio um artigo e gosto do que leio: por estética, transgressão ou desinibição as mulheres descobrem os seios, em especial no cinema.

Sofia Loren em La Traite des Blanches, 1952
(naõ sei o nome original ou, se passou cá, qual a tradução)

Mas cada vez se vê menos pois as redes sociais parece que vieram para estimular o lado mais populista e primário dos seus aderentes que, sendo aos milhões, se tornam efectivamente numa imensa mole, informe, de moralismo e força de pressão.

Aqui no Algarve, por onde ando, é raro ver alguma mulher em topless, muito menos a fazer nudismo. Circulo por estes dias entre gente que notoriamente não tem nada a ver com os alternativos de Sagres ou o com o de tudo um pouco de Lagos. Aí o topless não é raridade e, em alguns recantos de algumas praias mais solitárias, também se podem ver, com toda a naturalidade, pessoas nuas. Parece-me ser tão normal que uma mulher desnude os seios que aqui me espanto com a sua ausência.

Charlotte Rampling no filme Portier de Nuit, 1974.

Nas televisões - e ainda no outro dia mostrei como a estupidez americana já vai ao ponto de desfocar ou tapar a imagem de seios em obras de arte, mesmo em obras abstractas - já é raro vê-los de forma natural. Por outro lado, por cá - em alguns canais de cabo - passam filmes que são pura pornografia. 

Pois bem, é quase com alívio que, circulando por uma revista online dou com uma homenagem a alguns chamados filmes de culto no qual as mulheres mostraram, orgulhosas, os seus seios.

O dia do topless já foi no dia 28 de Agosto mas penso que os meus Leitores relevarão o meu atraso já que isto das férias me traz alguma indolência suplementar.

Poderão ver toda a escolha aqui mas, para que conste, cá estão cinco magníficas portadoras de cinéfilos seios. A preto e branco, que sempre têm mais patine,

Monica Bellucci no filme Malena, 2000.
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Algum de vocês, meus Caros Leitores, se sente chocado com estas imagens?

Se se sente, lamento (que se sinta).

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quinta-feira, fevereiro 11, 2016

Dolce Rosa Excelsa



Não sou muito dada a fragrâncias Dolce & Gabanna. Parece que a minha pele não os assimila bem. Ao princípio agradam-me mas, com o decorrer do dia, acabam por ficar adocicadas e, a mim, os perfumes doces tendem a incomodar-me, parece que se tornam demasiado óbvios. Os perfumes, para mim, têm que ser florais com um toque de frescura que não sei se vem de alguma componente cítrica. Um toque de pinheiro também cai bem. Sobretudo têm que ser leves para que se mantenhas florais, frescos e discretos ao longo do dia.

Mas o novo, Dolce Rosa Excelsa, é todo ele rosas, uma combinação de rosas maduras com botões de rosa e, do li, usando pela primeira vez a exótica rosa-canina (African Dog Rose) e a ultra feminina Turkish Rose Absolute. E, portanto, estou curiosa. Gosto do perfume das rosas embora receie que só rosas também fique excessivo. Mas, enfim, o aroma da dog-rose talvez lhe traga algum toque de inesperado. 


Nos perfumes florais de uma só nota, prefiro o de violetas, gosto imenso do perfume das violetas.

Mas se trago aqui o assunto não é pelo perfume, que nem sequer conheço, mas pelo vídeo promocional. Estes fulanos das grandes marcas jogam forte nos meios promocionais e os filmes são sempre marcantes.

Muito do prestígio da marca joga-se no marketing e na qualidade dos suportes que são escolhidos: desde logo a embalagem mas também os cartazes que serão espalhados pelas ruas, usados em anúncios em revistas, e, cada vez mais, os vídeos que são passados nas televisões, cinemas e, crescentemente, na internet.

Com este novo perfume, uma vez mais a Dolce & Gabanna subiu a fasquia: Giuseppe Tornatore realizou o vídeo que contou com a participação de Sofia Loren e com a música de Ennio Morricone. Um prazer para os olhos. Quanto ao olfacto, logo vos conto (porque hei-de ir experimentá-lo).

Se me permitem, reparem também nos belos vestidos floridos. Gosto muito de vestidos assim. Comprei em Paris, há vários anos, um vestido preto com umas belas rosas encarnadas com as suas folhas verdes. É traçado em cima, ficando com um decote em bico solto e com uma saia rodada. Ainda no outro dia o provei para ver se ainda dá para o vestir. Resolvi que o usarei apenas ao fim de semana já que me está um bocado justo e me realça demais as formas (que estão agora bem mais generosas do que quando o comprei).

Também tenho outro, que não visto há uns anos, que é branco com rosas encarnadas e algumas em rosa forte com os elegantes caules em verde. Este é abotoado de alto abaixo mas também cortado na cintura e de saia rodada. Usava-o com os botões de baixo desabotoados e punha um cinto largo, encarnado, na cintura. Gostava muito de me ver com ele. Usava-o geralmente com sapatos de salto bem alto, igualmente encarnados. Este agora já não deve abotoar -- ou melhor, já não abotoa de certeza.

Mas fico contente que a moda dos vestidos floridos esteja de volta. Love, love, love it.

Dolce & Gabanna - Dolce Rosa Excelsea, o filme



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira.

Enjoy.

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domingo, novembro 09, 2014

Toda a nudez será perdoada


Há coisas para as quais é preciso coragem. Uma delas é uma pessoa vestir-se com roupa que quase sugere a nudez.

Nunca me vesti assim, não sou suficientemente corajosa. Saber a gente que, mal chega a um sítio, toda a gente vai ficar de olhos postos em nós deve ser altamente inibidor.

Se vejo alguém a olhar-me para o decote ou para qualquer outro ponto, mesmo que inocente, fico logo com vontade de me deslocar até um sítio onde haja um espelho para ver se está tudo como deve ser.

Quando era jovem vestia-me como gostava, ignorando o efeito. Vestia shorts e blusas justinhas, vestidos curtos e colados ao corpo, o que me apetecia. A primeira vez que o meu marido reparou em mim e me trespassou com um olhar de tipo rx tinha eu um vestido verde-relva-viçosa de um tecido que devia ter viscose, parecia seda mas com pouco brilho e era macio, e era justinho e curto e sem mangas e um decote grande atrás e à frente e eu usava-o sem soutien para não correr o risco de se verem as alças. Durante muito tempo, ele lembrava-se deste vestido e perguntava porque não o continuava a usar. Mas eu já tinha perdido a inocência, já sabia o efeito que ele podia provocar, e, além disso, já me ficava justo para além da conta pois uma coisa é ter-se 18 ou 19 anos e outra é ter vinte e poucos mas já ter tido crianças, amamentado, etc.

Sophia Loren explica que estava a olhar
para o decote de Jayne Mansfield
porque teve medo que tudo naquele vestido explodisse
- BOOM! - para cima da mesa

Acontece-me às vezes estar junto a uma mulher que está excessivamente provocante e tenho que me esforçar para não me pôr a olhar, não vá alguém pensar que estou a passar-me para o outro lado. No outro dia, estive perto de uma jovem que se apresentava em ambiente profissional como se, a seguir, fosse atacar na esquina. Tudo ali era despropositado. Dei por mim a olhar e logo de seguida me arrependi pois quem me visse ainda poderia pensar que me estava a deleitar, mas a questão é que queria observar a extensão do disparate: estava de shorts de renda preta, estava de blusa decotada de forma quase escandalosa, saltos ridiculamente altos. Mas depois ocorreu-me que uma pessoa que sai assim de casa para ir trabalhar só pode estar à espera de chamar a atenção pelo que não seria de espantar que eu estivesse estupefacta.

Há tempos houve, no grupo onde trabalho, um curso sobre dress code. As mais jovens ou as que cultivam curvas mais sinuosas ainda se moderaram durante uns tempos mas o dá ideia que despique entre elas leva-as a excederem-se na criatividade. Há dias, na altura dos calores, quando entrei no elevador, estavam duas mulheres e dois homens que, de tão perfeitos, pareciam descontextualizados. parecia-me que estava a entrar dentro de um anúncio Dolce & Gabanna. Altíssimos, perfumados, vestidos como se fossem desfilar, elas impecavelmente maquilhadas, vestidas com saias curtas, pernas torneadas e bronzeadas, muito bem penteadas, uma coisa do além, eles identicamente produzidos como se fossem participar num filme. Nunca antes os tinha visto, nem sei se trabalhariam lá, na volta eram consultores ou advogados (também pode ser que tivessem ido lá rodar um anúncio).

Também no outro dia, estive numa reunião alargada em que participou uma advogada de um dos grandes escritórios da capital. Deveria medir metro e oitenta ou mais mas depois tinha uns saltos de uns 13 cm e ainda ficava mais crescida, e toda ela elegantérrima, cabelos muito compridos, um fato de seda em branco e preto. Por baixo do blaser, uma blusa branca quase transparente, quase inexistente. Quando ela entrou na sala, toda a gente ficou quase em estado de choque. Um colega meu segredou-me 'Yves Saint Laurent...? Deve ser. No mínimo...' e sorriu, malicioso. Ao longo de toda a reunião os meus colegas não tiraram os olhos da exuberância dela e todos eles sorriam por tudo o que era poro.

Mas, enfim, cada um anda como lhe apetece e é de louvar as pessoas que não receiam concitar sobre o seu corpo os olhares alheios.

A Harper’s BAZAAR dedica um espaço à evolução do vestido nu e tem graça ver como a vontade de mostrar o corpo através do vestuário não é de hoje.



Marilyn Monroe (a foto da esquerda mostra-a em 1962 na Casa Branca quando foi cantar os Parabéns a Você ao Presidente, seu ex-amante),
conhecida por usar vestidos que levava os outros a pensar: 'Estarei a ver qualquer coisa que não era suposto ver?'




À esquerda, Toni Braxton em 2001, 

ao centro Kate Mosse e Naomi Campbell em 1993

e Rihanna em 2014, num vestido reluzente que deu que falar (ou terá sido o corpo dela que deu que falar?)



- ou a arte de tapar o corpo mostrando-o - 
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E, por falar em corpos que parecem pedir a nudez, 

Charlize Theron: Dior - J'adore


(na Galeria dos Espelhos do Palácio de Versailles, França)




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E, por falar em corpos que são belos (nus, pintados, ou vestidos) e se movem com extrema beleza,

Grupo Corpo - Sem mim




Coreografia: Rodrigo Pederneiras
Música: Carlos Núñez e José Miguel Wisnik (sobre canções de Martín Codax)

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom domingo.

E não se deixem influenciar: agasalhem-se que parece que vai continuar friozito.

(Já os meus Leitores brasileiros bem devem poder descascar-se à vontade que o tempo aí deve estar a ir para o bom, não é?)

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