Vale a pena refletir por que motivo as CPI passaram, num curto espaço de tempo, de instrumento de dignificação do Parlamento e relevantes para avaliações políticas de casos da justiça para paradigma da vulgaridade política e da erosão moral, com práticas desrespeitosas de direitos, liberdades e garantias. E por que motivo praticamente não passa uma semana sem que algum partido proponha mais uma CPI.
(...)
Depois, uma vez aprovada a CPI, ninguém quer deixar de revelar o seu vigor inquisitório. É indisfarçável o entusiasmo com que alguns deputados representam para as televisões.
Ora este é um aspeto fundamental. Portugal é hoje, provavelmente, a democracia ocidental com o rácio mais elevado de canais noticiosos por habitante. Tornou-se difícil contabilizar o número de canais a emitir notícias 24 horas por dia, sem que se perceba a racionalidade económica, o propósito para o posicionamento das marcas e em que é que se pode diferenciar a oferta. Enquanto os operadores televisivos se envolvem numa luta fratricida, uma CPI por dia oferece horas de televisão gratuitas, que ocupam tempo de antena e alimentam uma mistura explosiva de ressentimento e voyeurismo social. Quem ganha com isto? Não é certamente a justiça, nem a dignidade das instituições políticas e, muito menos, um espaço público decente.
“Acho que a transformação destas inquirições em noites de inquirição sem paragem, em saber se falou ao telefone às 10 ou 10:05, em que os deputados são uma espécie de procuradores do cinema americano de série B da década de 80, e que depois tudo isto se transforma e é prolongado numa telenovela ou naquele género de comentário, como se comenta os ‘reality shows’ nos canais noticiosos à noite, se isso não contribui igualmente para a degradação da imagem das instituições e da democracia”, disse.
O ministro criticou ainda políticos, comentadores, jornalistas, dizendo que “não percebem o mal que fazem ao por um lado alimentar o discurso apocalíptico sobre o funcionamento das instituições” e por terem “uma leitura da realidade política como se houvesse sempre um ciclo de apocalipse de 24 horas, que depois é substituído por outro ciclo de apocalipse nas 24 horas seguintes”.
Chega de se ser politicamente correcto enquanto os populistas de esquerda e direita avançam. Já lá dizia o outro que por delicadeza nos deixamos morrer...
Para não ofendermos estes ou aqueles, para não sermos mal interpretados, vamos ficando em silêncio perante o avacalhamento que uns quantos andam a trazer para a política.
Portanto, melhor faria Lacerda Sales se reunisse com os deputados que integraram a CPI e fizessem uma análise à forma como se comportaram e, humildemente, fizessem um mea culpa. Envergonharam a política que deve ser uma activade nobre e não um exercício de arruaça destinado a 'dar canal' e a gerar mais comentários.
Portanto, totalmente a favor de Pedro Adão e Silva. E lamento que o simpático Lacerda Sales não tenha percebido que deveria encarar as palavras do ministro como uma oportunidade para reflectir.
E seria bom que a Comunicação Social, por uma vez, caísse na real e pusesse a mão na consciência em vez de andar colada aos mais rasteiros populismos.
Já adormeci duas vezes. Numa delas, o computador caiu ao chão com algum estrondo. De noite dormi pouco e não deu para descansar durante o dia.
Dia bom, a família junta. Dois dos meninos não estiveram pois estiveram numa festa. Os demais e respectivos pais estiveram. E estive também com a minha mãe. Aliás, entre o meio dia e a uma e meia fui às compras com ela. Andava a dizer-lhe que deveria sair da sua zona de conforto a nível de toilettes: devia ter túnicas coloridas, leves, vestidos frescos de verão. Como dizia que sozinha não se habilitava a uma tirada desse género receando que o tiro saísse ao lado, combinei ir com ela. Detestou ver-se com túnicas ou vestidos largos e não lhe neguei a razão. Está uns centímetros mais baixa do que antes e levemente encurvada e, por isso, algumas coisas não a favorecem especialmente. Trouxe umas calças fininhas, em branco com florzinhas verde claro, uma blusa de manga curta, linhas direitas, em alinhado cru, e uma túnica muito bonita, solta, com um colorido muito bonito. Claro que a túnica não é para usar com as calças às florzinhas. Usá-la-á com calças brancas ou jeans. Veio contente.
Também queria um saco em ráfia para levar para a praia mas não encontrou nada que lhe agradasse. Mas vimos alguns em lojas na baixa que estavam fechadas. Penso que irá visitá-las esta segunda-feira. Gosta agora de se vestir com vestuário actual, coisa que antes não privilegiava. Antes lembro-me de a ouvir sempre dizer querer coisas boas, de boa qualidade, bom corte, boas marcas. Vestia-se de forma clássica. Queria roupa que se mantivesse com bom ar, roupa intemporal e duradoura e, sobretudo, que não desse minimamente nas vistas. Temia que pudessem achá-la 'gaiteira'. Por isso, agora que está quase com noventa anos e começou a aceitar sair das suas zonas de conforto, é mais jovem do que quando tinha metade da idade.
A mim até já os meninos me perguntam quando deixo de trabalhar. No outro dia, um dos meninos tentava convencer-me: 'Mas já trabalhaste muito, agora tens direito a não trabalhar'. Penso nisso, sim. Preciso de tempo para fazer o que me apetece e para coisas que não são críticas nem urgentes mas que deveriam ser feitas. Por exemplo, ainda há uns quatro ou cinco sacos por arrumar e já nos mudámos daqui a nada fará dois anos. Não tenho tempo. Parece impossível mas é verdade. São coisas que não fazem muita falta e que tenho que pensar onde vou arrumar. Mas a questão é que durante a semana nunca tenho tempo e os fins de semana passam a correr, sem um mínimo de tempo para tarefas desse género.
Há pouco, enquanto lutava para não adormecer, ouvi falar do que me parece ser uma certa barracada com a visita do Marcelo ao Brasil. Não poderei pronunciar-me pois desconheço o objectivo da viagem presidencial, não sei se foi com o objectivo de ir à Bienal de São Paulo, se foi com o objectivo de ir lançar a campanha do Valtinho para ver se é desta que arranja uma mulher que queira ser a mãe do filho que ainda está por conceber ou se o objectivo era mesmo visitar o Bolsonaro e o Lula e demais ex. Como não sei, não consigo ajuizar se a parvoíce está na agenda da visita ou na descortesia do bronco do Bolsonaro. Mas, para dizer a verdade, tanto se me dá. São temas que, como dizia o outro, não me assistem. A única coisa que me chamou a atenção foi ver o Pedro Adão e Silva metido naqueles achados. Antes comentava na televisão, na rádio e no jornal. Agora tem que assistir a tudo de bico calado. E isso, para mim, tem graça.
Como estou mais a dormir que acordada, acho que, de cada vez que desperto, começo a falar de uma coisa que não tem nada a ver com as anteriores.
Só tenho mais a dizer que, há pouco, antes de ter adormecido e ter deixado cair o computador, estava a ver vídeos de culinária, receitas simples. Já marquei o respectivo canal para ver com mais atenção quando tiver tempo e a cabeça fresca. Parece-me isto tema importante: cozinhar bem, diversificada e rapidamente. São vídeos silenciosos e fáceis de perceber. Hei-de experimentar uma receita a ver se é boa. Se gostar, logo digo qual é. É o tipo de informação útil que penso que toda a gente aprecia.
Também uma observação. No outro dia, creio que ontem ou antes de ontem (os dias foram tão cheio que parece que isto foi há mais tempo mas, tentando reconstruir, concluo que foi há muito pouco tempo), ao caminharmos por aqui ao fim do dia, numa casa longe da nossa, no jardim estavam dois homens que me pareceram bonitos e jeitosos, em frente um do outro: estavam a fazer o que me pareceu ser Tai Chi. Pareciam o espelho um do outro. Em silêncio moviam-se de forma lenta e elegante. Pensei que se calhar eram um casal pois estavam tão sincronizados e cúmplices que parece que se moviam em uníssono. Disse ao meu marido que um dia poderíamos tentar fazer uma coisa assim. Ele disse que sim. Mas eu, ao dizê-lo, pensei que ele, se quiser, faz sem hesitação ou falha. E eu não farei ou desatarei a rir ou não terei paciência. Não sei como poderei aprender a ser disciplinada mas acredito que isso seria bom para mim. No entanto, duvido que alguma vez na vida, mesmo com disciplina aos potes, consiga estar frente a frente ao meu marido a fazermos gestos vagarosos e sincronizados, eu sem me rir, ao longo de uma hora. Parece-me completamente impossível.
E, pronto, tenho que ir dormir. Já não atino, adormeço de minuto a minuto. Sorry.
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Pinturas de António Carneiro na companhia de Four Women: Lisa Simone, Dianne Reeves, Lizz Wright, Angélique Kidjo
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Desejo-vos uma boa semana a começar já nesta segunda-feira
No outro dia, íamos de carro e, ao fazer zapping radiofónico, o Pedro Mexia. Falava do roubo de Tancos e opinava em tom convicto dizendo coisas que, com aquele seu ar de rapaz culto e sensato, quase pareciam fazer sentido. Mas tive dúvidas que fizessem. Eram basicamente lugares comuns enroupados pelo seu tom conservador e moralista a que, o tempo excessivo como opinador, já dá um sabor a ranço populista. Logo o meu marido deitou a mão à rádio e mudou de canal, vociferando: 'Mas o que é que este gajo sabe de segurança, pá...? O que é que ele sabe de guardar uma instalação militar?! Falam sobre tudo e acabam a só dizer m..'.
Dei-lhe razão. Muito sinceramente já não consigo ouvir aquelas três araras, semana após semana, a disfarçar a sua ignorância ou futilidade com ironia bacoca, com um humor já usado e relho, com tiradas que tentam arremedar alguma cultura mas que mais parecem coisa de pipoca metida a besta. João Miguel Tavares, Pedro Mexia ou Ricardo Araújo Pereira não passam hoje, para mim, de três papagaios que repetem as mesmas larachas seja qual for o tema.
Outro que eu até gostava de ouvir, o Pedro Adão e Silva, tanto se desunha a opinar -- na televisão a toda a hora sobre actualidade, mas também sobre futebol, sobre música, e também na rádio, nos jornais -- que já enchi. Já chega. Uma picareta falante que, mal lhe dão o mote, desata a produzir opiniões como uma juke box. Não dá. Ou o Pedro Marques Lopes. Outro que tal: repetitivo, banal, saco de vento.
Não costumo ouvir o Miguel Sousa Tavares. Se calhar fala antes de nós, cá em casa, ligarmos a televisão. Como também não compro o Expresso, não o leio. Portanto, não faço ideia do que é que ele anda por aí a dizer.
Mas hoje, na SIC, vi Vasco Lourenço com o Pedro Mourinho e a sua partenaire de quem não sei o nome. E gostei de ver o eterno Capitão de Abril. Nem sempre gosto mas, desta vez, falando de temas que conhece, acho que Vasco Lourenço falou bem.
Disse ele aquilo que a mim me parece óbvio: dificilmente tanto material se rouba num único dia sem que ninguém dê por nada. Um roubo destes não é compaginável com a cena infantil do buraco na vedação, um larápio a fugir com uma granada em cada bolso e uns cartuchos nas mãos. Diz ele que, dada a quantidade do material em falta e não havendo arrombamentos ou violência, não se poderá falar em roubo ou assalto. Melhor chamar-lhe desaparecimento.
E diz Vasco Lourenço que, para ele, ou aquilo foi material roubado ao longo dos tempos e pelo qual ninguém deu (ou fechou os olhos) ou é material usado em treinos ou coisa assim e de que nunca ninguém deu baixa. Diz ele que seria interessante saber se não iria acontecer alguma passagem de testemunho no comando e que tivessem que ser passados os inventários. Diz ele que admite como possível que, estando o inventário de tal forma errado, algum furto teve que ser simulado para disfarçar a gravidade de tamanha incúria. É uma hipótese, diz ele. Outra, mais na linha da teoria da conspiração, é que tivessem engendrado esta macacada para ver se deitam abaixo o governo. Esta, a mim, parece-me um bocado too much. Mas, enfim, há malucos para tudo. Mas, está ele convicto, alguma coisa nesta base foi -- roubo é que não.
E que os responsáveis por isto foram os militares. Frisou: os militares.
O Pedro Mourinho e, ainda mais, a sua comadre de balcão, nem ouviam, só queiram saber se a culpa era do governo. Vasco Lourenço lá fez o enquadramento e lá referiu a responsabilidade política pelas linhas estratégicas do papel das Forças Armadas mas deixando claro o inegável: a responsabilidade por assegurar a segurança das instalações militares é dos militares. Ponto.
Só mais para o fim é que aqueles dois aéreos, fixados que estavam em arrancar a Vasco Lourenço que a culpa era do ministro, lá conseguiram captar o que ele dizia. E ele continuava dizendo que grande parte da responsabilidade na baderna que se armou, enchendo os canais de gente que não sabe nada do que fala, era da comunicação social, de vocês, dizia ele. E referiu o caso de Miguel Sousa Tavares que, segundo o próprio terá dito, nem cá estava e que nada sabe de Forças Armadas mas que, nem por isso, deixou de opinar, só dizendo disparates. Acredito. Miguel Sousa Tavares é outro dos que opina sobre futebol, sobre política, sobre fiscalidade, sobre touradas, sobre incêndios e, de passagem, sobre caça, sobre sentinelas e quartéis.
E isto degrada a opinião, degrada a inteligência. É como a pornografia que, ao que dizem, queima os neurónios de quem a consome. Esta alarvidade de comentários a eito, dando a palavra a toda a espécie de catatuas, pseudos qualquer-coisa e marionetas para todos os gostos, mina a presciência colectiva. Não se aguenta, digo-vos eu. É que não há quem saiba tudo sobre tudo, por muito oleada que seja a prosa, por muito bem colocada que seja a voz, por muito telegénica que seja a sua presença.
E é isto. Repito-me, sei, mas entendam como um desabafo: não suporto que a toda a hora, sobre qualquer assunto, ad nauseam, as televisões (e as rádios e os jornais) estejam sempre cheias de caga-lumes, de palermas, de papagaios, de gente que vive de opinar, não tendo qualquer rebuço em falar sobre qualquer tema que lhes seja colocado à frente da boca mesmo que não faça a mínima sobre o assunto.
O meu marido fez tropa durante dois anos e tal. Oficial de Marinha. Numa altura em que já ninguém fazia tropa, recrutaram-no a ele. Não é entendido na matéria mas tem mais experiência das regras nas instalações militares do que meio mundinho de pimpões que por aí anda a falar, sem um mínimo de conhecimentos e sem dois dedos de testa. E, ainda assim, e apesar de ser culto, experiente, de ser sensato e inteligente, de ter uma voz agradável e de ter uma presença bastante simpática, não se sentiria apto a ser opinador a granel. Mas qualquer puto, qualquer descarado, qualquer vendedor de banha-da-cobra, qualquer parvo aceita ser convidado para falar sobre qualquer tema a qualquer hora.
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Uma palavra agora para falar de um senhor que penso ser o chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), Artur Pina Monteiro. Na conferência de imprensa com António Costa e com o ministro Azeredo Lopes e outros senhores, disse o General Artur que o material roubado (ou parte do material) pouco mais é que obsoleto e que o seu valor não passa de 34.000 euros. Estando eu de fora, diria que também ele está a dizer meia-verdade, a verdade conveniente. Cá para mim, e nada mais é que um feeling, aquele será o valor líquido daquele material. Sendo material adquirido há vários anos, por valor bem superior a isso, já estará quase totalmente amortizado e, portanto, terá uma valor remanescente baixo. Contudo, esse estará longe de ser o valor da reposição. Digo eu. Mas, enfim, quando se fala para o grande público, sabendo-se o quão relapsa é a comunicação social e quão débeis são as mentalidades de grande parte dos opinadores e avençados, qualquer coisa se pode dizer que ninguém questionará. De qualquer maneira, o que parece é que o fantástico aparato bélico que pareceu estar associado ao material roubado está longe de corresponder à verdade e, mais uma vez, o empolamento ficar-se-á a dever a um fenómeno frequente no micro-clima português: tudo se exponencia quando os pafiosos se juntam, nas suas motivações, aos jornalistas.
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Conclusão: concordo com Vasco Lourenço quando ele diz que esta é uma história mal contada. Provavelmente uma encenação. E digo: se anda o País inteiro enrolado e preocupado com uma história macaca que não passa de uma encenação para limpar culpas de alguém ainda mais sinistro é todo este mundinho mediático em que tudo se exponencia de forma descabelada. Tal como referi quando há uns dias aqui escrevi, penso que há que saber se o que desapareceu saíu na altura em que houve a divulgação do caso ou se aquilo lá é tipo bar aberto e dá para ir tirando aos bocadinhos, ou se, em vez disso, vão usando nos treinos e depois deixa para lá, podes levar para casa, mano, é um recuerdo que pode valer bom dinheiro. Tal como haverá que saber se aquilo saíu em camiões conduzidos por ladrões ou foi saindo às pinguinhas em porta-bagagens (ou mesmo em camiões da tropa...?). Ou o quê. Mas é coisa séria, para investigar a sério. Não é lume mediático para audiências. Não pode ser. Senão acabamos todos consumidos no fogo da estupidez.
E ainda mais desconfortável fico quando se vai sabendo que roubos de armamento, cá pelo burgo, é coisa frequente e que ninguém liga muito para isso. Nem os jornalistas. Até porque os jornalistas só salivam com o osso acabado de atirar: a demissão deste, a demissão daquele, a ministra que chorou e a gente não quer cá gente com sentimentos (por exemplo, os nervos que as lágrimas da ministra Constança Urbano de Sousa causaram à misógina Clara Ferreira Alves...).
Finalmente: no calor da notícia pedi a demissão do ministro. O meu marido não concordou. A responsabilidade é de toda a linha de comando ligada à guarda do paiol e do quartel, dizia ele. O que é que esses gajos lá estão a fazer? Não é a guardar aquilo...? Se não é, então é o quê?Achas que é o ministro que sabe de quantas em quantas horas fazem rondas ou se há um buraco na vedação? - perguntava ele, irritado.
Seja. Contudo, para mim, tudo isto tem uma responsabilidade política e esta, num caso destes, deve ser assumida. Aliás Azeredo Lopes já a assumiu. É que não pode ficar a ideia que isto é uma rebaldaria, em que desaparece material que dá para encher dois camiões TIR e ninguém dá por nada. Seja um roubo one time shot ou um desaparecimento às pinguinhas, sejam mísseis de última geração ou sejam granadas de há dez anos, tanto faz. Material de guerra tem que estar guardado, à prova de bala. Não é responsabilidade do ministro andar a contar cartuxos mas tem que saber se há inventário permanente e auditorias, se há vigilância e alarmística, se os guardas estão guardados. Etc.
[E espera-se isso sobre os militares a propósito deste filme do roubo de material de Tancos, tal como se espera que alguém se sinta politicamente responsável por zelar por que não haja esquadras pejadas por polícias racistas e torturadores, ou por zelar que os tribunais não estejam infestados por juízes laxistas e abusadores, ou por zelar que a Procuradoria não esteja minada por gente que não se sente responsável por respeitar os cidadãos ou por ser lesta a agir em defesa dos interesses superiores do país. Espera-se isso, mesmo. Eu, pelo menos, espero]
Pois. Escusam de me atirar à cara com a futilidade do tema que escolhi para hoje quando o país parece que está a cair de podre.
Eu sei, eu sei. Deveria centrar-me no tema mais mediático do momento até porque não é apenas um tema mediático, é mais a ilustração dos claustrofóbicos tempos que correm.
Sócrates mais uma noite preso. Amanhã conhecer-se-á o que decide o omnisciente Carlos Alexandre. Os jornalistas estão ávidos: quais as medidas de coacção que vão ser aplicadas? Terão já na box, prontos para entrar em estúdio, comentadores de todas as cores e feitios para as interpretar: Prisão preventiva? Menos que isso? Mais do que isso (decapitação sumária, por exemplo)?
Ouvi Pedro Adão e Silva e Pedro Marques Lopes comentarem que, depois de um aparato destes, já não há reversibilidade possível. Mesmo que se provasse que tudo não teria passado de um monte de equívocos e falsas suposições, o que ia a Procuradoria Geral da República dizer? Que se tinham enganado...? Não, não o fariam. Se o fizessem, seria o descrédito total da Justiça. Seria uma vergonha. A coisa ganhou tal repercussão mediática, aqui e no estrangeiro, que já não é possível senão ir em frente mesmo que não haja razão válida para isso.
Se havia razões de suspeição, que averiguassem com discrição, com reserva. Se se viesse a confirmar que havia razões, então avançaria o processo. Se não houvesse, também não teria havido aparato, ninguém perdia a face. Agora assim? Carros de polícia a apitar pela cidade, interrogatórios de dias inteiros, um ex- primeiro ministro já 3 noites a dormir nos calabouços do Comando Metropolitano da PSP (calabouços como fazem os jornalistas questão de frisar, reforçando o dramatismo da situação)... Como arrepiar caminho? Também não vejo que seja possível.
Venho escrevendo isto desta sexta feira: este assunto incomoda-me muito, de forma quase visceral. Tudo nisto muito incomoda, a começar pelo forma como decorre. Não sei porque é que Sócrates não pode dormir em casa e apresentar-se na segunda feira para responder a mais questões (mas a sua mãe deu-lhe dinheiro porquê? Porque é que a sua mãe não espera para morrer para você só ter o dinheiro através de herança? ...etc). E também não sei o que leva as estações de televisão e os jornais a colocarem no meio da rua, à noite e ao frio, os jornalistas de microfone na mão à espera que passe o carro com Sócrates lá dentro. Nem sei como arranja ele vontade de rir para as câmaras que aguardam ansiosamente a visão de uma lágrima, nem sei como encontra ele força anímica para sobreviver a tanto embate da vida. De resto, também não sei como é que os comentadores profissionais encontram conversa para tanta opinião, a toda a hora, sobre todos os assuntos. Sempre os mesmos, uma seca, sempre, a toda a hora.
Os mesmos não, que apareceu agora um advogado que tenho ouvido com agrado, o advogado Manuel Magalhães e Silva. Claro, directo, desalinhado, parece saber do que fala ao contrário dos papagaios que lhe têm posto pela frente. De forma fundamentada e isenta (diz que nem tem simpatia pessoal ou política por Sócrates), tem referido que a prepotência e arrogância da actual Justiça são preocupantes.
Depois há outra coisa que é de nos deixar a todos de pé atrás: o advento para a ribalta de gente que se arroga o direito de opinar como se fosse muito douta mas que revela ser superficial, leviana, medíocre. Aparecem, põem-se de bicos de pés, dão-lhes ouvidos, dão-lhes poder e, aos poucos, vão ganhando influência. Com esta escumalha miúda se vem fazendo a história em Portugal. É esta gente que vem ocupando, aos poucos, os partidos, os meios de comunicação social, a gestão das empresas, os órgãos de decisão de tudo o que é coisa.
Portugal vai-se afundando, empobrecendo, esvaziando. Enquanto isso, gente como Duarte Marques, Nuno Garoupa, Felícia Cabrita, e tantos outros vão fazendo o seu caminho, as alas vão-se-lhes abrindo.
Muitas vezes me interrogo como é tal possível e chego sempre à mesma conclusão (e nem estou a referir-me agora aos citados em particular): é, geralmente, gente sem pruridos, que não tem pejo nem pudor.
Pelo contrário, com frequência pessoas que têm outro nível intelectual e moral têm uma humildade intrínseca, não se vangloriam, perante ataques desleais aquietam-se, desmoralizam, desistem. Por delicadeza deixam-se vencer, por delicadeza deixam-se morrer.
Acabam por ser os porcos a reinar, a ditar regras. Prepotentes, estúpidos, indelicados, os porcos gostam de se fazer passar por gente a sério mas são e sempre serão porcos. Mas porcos que mandam nas pessoas, nas pessoas que, aos poucos, se foram deixando vencer.
Mas, enfim, apetece-me arejar a cabeça, falar de outra coisa qualquer.
Por isso, agulha mental: vou desviar-me para um caminho lateral a ver se começo a semana com boa disposição.
Chris Hemsworth foi eleito pela revista People o Sexiest Man Alive em 2014.
Todos os anos a revista People elege o homem mais sexy do mundo. Costumo conhecê-los. Mas este ano tenho que ser honesta: nunca tinha ouvido falar em tal pessoa. Fui ver as imagens: nunca o tinha visto mais gordo, deve andar por filmes ou séries que não vejo. Mas pronto, não é feio de todo. Bonitinho, musculado, ar saudável.
Contudo, em minha opinião (e, pelos vistos, ando fora de moda), para um homem ser sexy deverá perceber-se nele alguma sabedoria, alguma malandragem subtilmente destilada, e deve ser evidente alguma patine. Ora este Chris parece que só tem saúde, carinha laroca e corpinho bem feito. Pode ser que daqui por uns anos esteja lá, mas, por enquanto, diria eu que ainda tem que deixar a vida passar um pouco mais sobre ele.
Vídeo em que Chris Hemsworth explica como é que ele e a mulher reagiram à notícia de que tinha sido eleito o homem mais sexy do mundo em 2014 e, vá lá, onde ele mostra um pouco da sua gracinha.
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Não sei se este Chris encaixa na categoria dos metrossexuais de que o Cristiano Ronaldo é um dos mais badalados ex libris mas, embora eu não seja especialista na matéria, parece-me que sim. Os metrossexuais são aqueles homens que prezam muito a sua imagem, que se depilam, se enchem de cremes, que cultivam o corpo, que gostam de ter músculos bem desenhados. Geralmente dedicam a sua atenção ao cultivo do corpo, esquecendo o cultivo da mente.
Mas leio que agora surgiu um novo tipo, que é o que agora está a dar. Os lumbersexuals. Barbudos, aspecto de lenhadores, camisa de flanela aos quadrados, gorros mal escondendo cabelos descuidados, e nada de depilações, todos bem peludos.
Olho para as imagens e, no entanto, e desculpem se estou enganada, o que me parece ver são bichas de tipo muito macho. Não me tomem por preconceituosa. Não sou. Mas há coisas que não enganam. Homem que não é bicha não se encaixa nestas modas muito moderninhas: nem é aparadinho, depiladinho, mariquinhas, nem é urso, ornamentado com pelos, gorros, botas e outros maneirismos.
Na sexta à noite jantei naquele cantonês magnífico ali em frente da Portugália da Almirante Reis. Ao nosso lado estava um casal de bichas. Barbudos, à primeira vista muito straights. Mas depois, para escolher, estiveram mais de meia hora, hesitações, risinhos, escolhe tu, não, tu, vá lá, diz lá e olhavam-se nos olhos, riam, todos dengosos. Pela conversa percebi que trabalhavam em revistas, ou designers gráficos ou jornalistas. Uma converseta gay todo o santo jantar. Mas, lá está, barbudos, pretensamente muito fashion, muito machões. Não tem nada de mal, claro que não, cada um é como é e que um casal de gays sinta afecto e o demonstre ou que tenha os seus flirts parece-me coisa completamente normal.
Agora o que não posso deixar de achar graça é a estas modas. Aparecem-nos como um novo tipo estético e a gente vai ver e parece coisa apenas para gays.
Com as mulheres isso não acontece, acho eu. Quando há modas que pegam, as mulheres aderem, sejam hetero sejam homo. Agora estão na moda as capas, os ponchos e, se a gente vê imagens, não nos passa pela cabeça dizer: olha, cá está, moda para lésbicas. Não: quando a moda é para mulheres e é das boas, todas aderem.
da Harper's Bazaar
Já agora. Este é o tipo de moda que me agrada: capas, écharpes largas. A minha mãe já me fez um poncho em castanho e creme, já fez um em cinza claro esverdeado com barra branca para a minha filha, agora está a fazer um azul e branco para a minha nora. São super confortáveis, quentinhos sem abafar.
Mas, enfim, esta conversa também não leva a lado nenhum. Estou para aqui a divagar apenas para fugir ao que me preocupa.
Por isso, vou mas é ficar por aqui. Mas, antes, vou ouvir um pouco de música para ir mais confortada. Se me permitem, partilho convosco. Uma maravilha.
Daniel Müller-Schott interpreta o Concerto para Violoncelo de Dvořák com a Berliner Philharmoniker dirigida por Alan Gilbert
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E por hoje é isto. Desculpem-me por este post que não é carne nem é peixe, é mais o pot pourri possível numa noite em que a cabeça quer ir para um lado e eu, por outro, quero aligeirar (até para não vos maçar muito mais já que, como poderão ver pelos posts abaixo, ando, desde sexta feira, a falar neste tema que tanto me tem incomodado).
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda feira.
E a ver se o céu não cai de vez em cima das nossas cabeças.