quinta-feira, fevereiro 28, 2013

Que se lixe a troika? Não sei (e explico porquê). Mas que queremos as nossas vidas de volta, isso eu sei. E, por isso, no dia 2 de Março lá estarei. O povo é quem mais ordena! e é bom que ninguém se esqueça disso.








Já quando foi a manifestação do 15 de Setembro hesitei: que se lixe a troika?! Fui mas não fui por isso, pela troika em si, fui por indignação geral contra esta estúpida austeridade em tempos de regressão económica, contra a subordinação dos interesses do desenvolvimento humano e social aos interesses difusos da especulação financeira, contra a incompetência, contra a ignorância e a larvar submissão deste governo perante funcionários administrativos.

Ou seja, não me manifestei para pedir a expulsão da troika mas, sim, para que o Pais dissesse ao FMI, ao BCE, à EU, ao Presidente da República, à Assembleia da República e ao Governo que não somos um rebanho de submissas ovelhas que possam ser usadas e abusadas por quem quer que seja. Para dizer que neste país há um povo que tem orgulho na sua autonomia e não se verga aos primeiros badamecos que atentem contra o seu orgulho e determinação.

É que é, para mim, muito claro que, no imediato, ainda precisamos do apoio da troika. Mas, alto lá!, não temos que nos pôr na humilhante posição de mendigo que, de mão esticada, tudo aceita. Não somos mendigos. E, todos juntos, de pé, de peito feito, temos força mais do que suficiente para nos afirmarmos como povo autónomo, capaz, livre.

Por isso, para ajudar a afirmar isso, lá estarei também este sábado. Por estes dias, as ruas são do povo e nossos são todos os anseios e todos os caminhos.


Em termos práticos o que é que eu penso que deveria ser e resultar desta manifestação?


De forma ligeira e, claro...!, sem pretensão a ser exaustiva, isto é o que, em traços largos, penso:


1. A manifestação deveria ser um mar de gente, gente de todas os extractos sociais, de todas as idades, de todas as profissões, desempregados, pensionistas, estudantes. Uma multidão francamente representativa de toda a população.


2. O governo deveria ter a inteligência e a dignidade suficientes para retirar conclusões desse facto.

Contudo, dado que já mostrou à saciedade que isso são conceitos que lhes são estranhos, presumo que vá limitar-se à vitimização do costume.

Face a isso, acho que o Presidente da República deveria ver-se forçado a agir. Deveria demitir este bando de incompetentes e formar novo governo, ou no quadro dos resultados das anteriores eleições mas sem incluir os actuais protagonistas (estou em crer que, perante isso, Passos Coelho se demitiria abrindo lugar a outra gente mais capaz), ou, se não conseguisse formar um governo capaz, deveria convocar eleições antecipadas. Qualquer coisa será preferível a deixar o país entregue a esta gente que é muito perigosa.


3. Um novo governo deveria negociar um outro programa de entendimento com a troika (que passaria forçosamente pela redução das taxas de juro e do tempo de amortização da dívida) e isso deveria ser uma das componentes do seu programa de governo, uma mas não a única!, um programa que deveria ter como pressupostos e objectivos os seguintes:

  • o mais importante de tudo são as pessoas; 
  • pessoas honestas não deverão ser obrigadas a empobrecer ou a emigrar; 
  • um país é viável se tiver pessoas felizes e motivadas; 
  • para tal as pessoas devem ser chamadas a participar no crescimento do seu país; 
  • um crescimento sustentado é o que assenta no conhecimento e na inovação; 
  • para isso é vital a dignificação do ensino; 
  • etc. 


E, assim sendo, o programa do futuro governo deveria ser:

   a) um programa que contemple as reformas estruturais necessárias (grande parte das que constavam do memorando inicial eram boas reformas) mas a serem executadas num prazo mais longo e com as pessoas (não contra as pessoas);

  b) um programa que contemple um conjunto de medidas de desenvolvimento, nomeadamente o lançamento de contratos programa de investimento para relançamento imediato mas sustentado da economia e que abranja todo o território (reabilitação urbana de pontes e viadutos,de  edifícios públicos, da malha urbana, etc; construção, equipamento e colocação em funcionamento de residências assistidas para a terceira idade ou para doentes em recuperação, centros de dia, creches, espaços para tempos livres; forte dinamização cultural como fonte de criação de emprego e atracção de turismo externo e interno; forte dinamização do turismo em geral; forte aposta na investigação ligada a sectores estratégicos – medicina, mar, novos materiais; reindustrialização em sectores viáveis, de preferência numa lógica de cluster, mesmo que não em sectores tradicionais; etc; etc, etc)

   c) um programa que contemple a captação de investimento incluindo investimento estrangeiro e fundos estruturais

   d) um programa que contemple a dinamização da análise do sistema político (dado que o actual, nos presentes moldes, notoriamente deixou de ser representativo)

   e) um programa que contemple o reajustamento do sistema fiscal por forma a torná-lo justo e equitativo

   f) um programa (prioritário!!!!!!) que contemple medidas de rápida inversão da tendência demográfica

   g)  ....


Parece simples demais? Não é: parece mas não é. É um conjunto de ideias honestas, exequíveis, articuladas e que, de certeza, desde que bem planeadas e coordenadas entre si, conduziriam a um futuro viável e digno para todos.

Daria muito trabalho? Ah, claro que daria mas, motivados, convencidos, determinados, seríamos capazes de levantar o País das trevas para onde o querem atirar.


Como agora estamos é que não. Recordo um pequeno poema de Carlos de Oliveira:

Terra
sem uma gota
de céu

Assim está Portugal agora.

E, por isso, no próximo sábado, dia 2 de Março, estarei na rua, tentando juntar a minha voz a todas as que, como eu, acharem que há limites para tudo e que, com este governo, esses limites há muito foram ultrapassados.

Portugal tem que ser dono do seu destino, tem que garantir que os portugueses têm uma palavra a dizer e que o futuro do País passa pelo futuro dos Portugueses.

Enquanto puder, lutarei para que o meu país seja uma terra abençoada pelos céus.





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Sobre o coelho enforcado é descer um pouco mais, por favor. Um coelho enforcado besuntado pelas 'espumas dos dias' é o que podemos esperar do fantástico PPC. Não é grande coisa, convenhamos.

*

As duas músicas, escusava de o dizer, são duas canções e interpretações de José Afonso (gosto dele desde sempre, não é de agora, aliás, cá em casa, gostamos os dois; o meu marido, que tem uma memória de elefante, deve saber todas as suas canções de cor; e lembro-me tão bem de ver o Zeca, furtivo, a espreitar à porta de uma certa sala).

*
E, se quiserem vir comigo até ao meu espaço zen, o Ginjal e Lisboa, eu ficaria muito contente. Hoje as minhas palavras metem as mãos por baixo das pernas gulosas de um touro arrogante e malvado, seguindo o guião de Carlos de Oliveira. A música é mais uma grande interpretação: desta vez Rostropovich junta-se a Martha Argerish e tocam uma música imprevista.

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E tenham, meus Caros Leitores, uma bela quinta feira!


Passos Coelho foi a Direito falar sobre o futuro tal como ele o vê, com pés e cabeça, diz ele (pés de barro e cabeça de burro, digo eu), e fez um discurso (vazio) contra 'as espumas dos dias' (e contra as espumas de barbear, não?). Sobrou um coelho enforcado, tamanha a confusão naquela cabeça



Passos Coelho, fala, fala, fala e não diz nada
(ou, se diz, mais valia que não dissesse)


Um primeiro ministro sem ideias, com una conversa oca (oca e mal alinhavada; o tom de voz pode ser agradável mas o conteúdo é nulo, nulo e desagradável), social e politicamente uma situação insustentável, um país que desaderiu dos seus governantes, um desapego absoluto da população face a um primeiro ministro que traíu quem o elegeu e que vende o país sem consideração ou respeito pelo seu povo, um país que perdeu o total respeito pelo seu governo. Um caso muito nítido de divórcio entre governados e governantes.

Passos Coelho e os seus ministros já só podem andar rodeados de seguranças - uma imagem patética. Vê-los cercados por insultos, apupados, desprezados, já dá dó. Dó. 

Não souberam sair a tempo. Sairão de uma forma que não dignificará a história da sua passagem pelo Governo de Portugal. Será uma página negra da história do País.

Temos pena.


quarta-feira, fevereiro 27, 2013

As minhas longas e inocentes tardes com aquele que agora é um homem muito triste


Música, por favor



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O avô dele tinha feito no fundo do quintal, depois da horta, uma pequena cabana. Penso que seria feita de madeira, tábuas. Não tenho ideia que pudesse ser de troncos mas não garanto. Sei que tinha, lá dentro, de cada um dos lados, uma tábua corrida a fazer de banco e era aí que nos sentávamos, ao lado um do outro. A parede do fundo tinha várias tábuas a fazer de prateleiras e aí havia vasos pequenos com flores. Se calhar a ideia do avô era que aquilo fosse uma estufa e nós é que a transformámos na nossa casa. Não sei. 




Havia uma flor de que eu gostava muito, sempre muito viçosa, muito verde, com umas pontas que descaíam. Ele, então, cortava umas pontas para eu levar para dispor no jardim de minha casa. Durante muitos anos essa flor reproduziu-se de vaso em vaso, de canteiro em canteiro. Não sei  como se chama, era uma flor de folhas miúdas, carnudas, e não dava flor, reproduzia-se por propagação. Era conhecida na minha casa como a flor do Tó Manuel. Não sei se ainda existe no jardim da minha mãe, hei-de ver. Há muitos anos levei de casa da minha mãe para a dispor in heaven mas não resistiu lá, as amplitudes térmicas são elevadas, o solo é pedregoso, não era planta para estar ali.

Penso que já uma vez aqui falei destes tempos. Depois da escola e depois de almoçar em casa da minha avó (que era perto da casa dele), eu ia a correr para essa pequena cabana e ele também. Mas ele não ia a correr, ia a andar porque era muito calmo. Sempre foi.

Tinha mais um ano que eu. Era bonito, pele clara e cabelo muito escuro, liso. Era alto, sóbrio, a tender para o tímido. Ou talvez nem fosse muito tímido, se calhar era sobretudo discreto, reservado. Também não me lembro de o ver a rir à gargalhada, acho que apenas sorria.

Eu era o oposto dele, muito faladora, muito alegre, ria muito, facilmente chorava a rir (e, no que se refere a rir, ainda sou assim). Provocava-o muito, desafiava-o. Mas ele nunca se aborrecia comigo. Quanto muito, eu notava que ele ficava sentido.




Andávamos em salas diferentes mas o recreio era conjunto. Se no recreio havia jogos que envolviam quase todos os alunos, como o jardim da celeste, e era chegada a minha vez de escolher um rapaz, eu olhava para ele, olhava, olhava, fazia de conta que o ia escolher e depois, à última hora, escolhia sempre outro.  E via que ele ficava triste, notava que às vezes até corava. Depois, quando íamos para casa, ele ia andando devagarinho e ia olhando para trás a ver se eu vinha, mas não me chamava, não me perguntava se eu ia, nada, apenas ia andando cada vez mais devagar, e eu, de propósito, ficava na conversa, ou parava a apanhar flores ou fazia qualquer outra coisa para me atrasar, fazia-o sofrer, e ele andando cada vez mais devagarinho. Por fim, já a meio caminho, eu dava uma corrida e apanhava-o e zangava-me com ele por não ter esperado por mim, fazia-me de amuada por ele ir andando, deixando-me para trás, sozinha. E ele desculpava-se, envergonhado, queria zangar-se comigo mas não tinha coragem. E íamos naquilo, eu a fazer de conta que estava zangada, ele sentido pela minha injustiça.




Mas depois, quando nos sentávamos tardes inteiras na pequena cabana, todos esses meus jogos desapareciam porque era só ele que ali estava, só eu e ele, e o momento era especial, eu tinha a percepção de que não fazia sentido estragar aqueles instantes tão perfeitos. E ele também não tocava no assunto, sabia que eu era assim, volúvel, provocadora, coquette. Aí conversávamos muito, de tudo.

Eu tinha sempre muitas dúvidas, muita curiosidade, e ele respondia-me como sabia, raciocinávamos ambos em voz alta. Às vezes a minha avó aparecia lá com um prato grande com duas sandes e dois copos de leite. Outras vezes era o avô dele que nos ia levar fruta. A minha avó perguntava ao avô dele, Mas que é que estas almas tanto têm para conversar…?! Horas e horas de conversa…! E riam-se.

Depois do lanche eu tinha que voltar à escola para ir com a professora e os outros meninos apanhar o autocarro. Os meus pais estavam na paragem à minha espera, depois do percurso. Geralmente, para ficar com ele o máximo tempo possível, atrasava-me e tinha que ir a correr, aflita, com medo de não chegar a tempo. A professora zangava-se ‘qual será o dia em que ficas em terra?’ e eu pensava que um dia isso podia mesmo acontecer porque, todos os dias, eu queria estar com ele até ao último instante.




Nunca falávamos nada sobre a escola, a minha curiosidade situava-se sempre para lá dos assuntos que tratávamos na escola. Mas muitas vezes ele sabia mais do que eu ou, quando arbitrava respostas às minhas questões eu sentia que o conhecimento dele estava para lá do meu. Como era mais velho que eu um ano, andava um ano mais adiantado e isso fazia toda a diferença. Eu confiava totalmente no seu saber, nunca senti que ele estivesse a inventar para me impressionar. Quando não sabia, dizia que não sabia mas, passado alguns dias, aparecia já com alguns conhecimentos sobre ao assunto. Talvez perguntasse aos pais ou ao avô ou lesse, não sei. Eu ficava a admirá-lo ainda mais.




Ele tinha um irmão mais pequeno, talvez tivessem uns seis anos de diferença e ambos gostávamos muito dele mas, nessas nossas tardes, o irmão não tinha lugar. Lembro-me de uma vez, num fim de semana, eu estar com os meus pais ao pé dos pais dele, eram amigos desde crianças. E ele vinha ao longe com o irmão pela mão, ele muito alto, muito responsável. E a mãe disse para a minha ‘parece um homenzinho, posso descansar que ele toma muito bem conta do irmão, olhem lá, um homenzinho’. E eu, ao ouvir isso e ao vê-lo, senti muito orgulho nele. 

O meu pai e o dele eram colegas de emprego. A minha mãe era professora e a mãe dele estava em casa. Quando a minha mãe ia a casa da minha avó, ia geralmente visitá-la e sentavam-se as duas à conversa numa espécie de marquise cheia de sol, mulheres jovens e bonitas,  a minha mãe muito loura, cabelo pelo ombro, em ondas largas, com vestidos claros, saia rodada, corpo justo, sempre alegre, e a mãe dele com cabelo escuro, levemente ondulado, pouco abaixo da nuca, menos vistosa que a minha, mais silenciosa e discreta. 

Quando miúdas, ambas tinham aprendido costura nas férias com a vizinha modista de quem um dia já aqui falei. Como estava em casa, ela mandava vir revistas, a Burda talvez, e viam os modelos,  e lembro-me que algumas vezes ela fez vestidos para mim e para a minha mãe. Quando eram as provas íamos lá para cima, para a zona dos quartos. Ela tinha o andar de cima sempre na penumbra, as portadas de madeira pintadas de azul muito claro sempre fechadas. Abria-as para nos vermos ao espelho. Nessas alturas eu separava-me do Tó Manuel. Ele não era autorizado a subir e, como era obediente, não subia. Se fosse ao contrário eu questionaria a ordem, regatearia, tentaria desobedecer, treparia pelo lado de fora, qualquer coisa. Ele não. Ficava sossegado cá em baixo à espera que eu me despachasse. Se calhar ficava a tomar conta do irmão.




Quando eu entrei para o liceu, separámo-nos pois, nessa altura, deixei de ir para casa da minha avó. Ele andava um ano à minha frente e, nessa altura, o liceu tinha edifícios separados para rapazes e para raparigas. Nunca o via. Nessa altura caí de amores por um outro rapaz, um que era filho de uns colegas da minha mãe.

Quando cheguei ao segundo ano, os meus pais receberam um convite para irem comigo receber uns prémios e diplomas. Eu tinha sido a melhor aluna (rapariga) do 1º ano (actual 5º) e também a melhor aluna em termos gerais e não sei se também do 1º ciclo (como se chamava ao conjunto dos dois primeiros anos, actuais 5º e 6º). Não me lembro bem pois aquilo foi muito inesperado para mim, não tinha nada a ideia de que fosse uma aluna por aí além. No entanto, até concluir o liceu, viria a receber vários outros prémios.




Alguns dias depois, a minha mãe veio dar-me uma notícia que, essa sim, me encheu de alegria. O Tó Manuel tinha recebido o prémio Sagres, o prémio para o melhor aluno a nível nacional. E nunca me tinha dito nada, eu nunca tinha percebido que ele fosse tão bom aluno. Nem ele também tinha percebido que eu também fosse boa aluna. Mas ele, pelos vistos, era melhor aluno que eu e isso encheu-me de um orgulho muito grande.

Encontrei-o um dia, num fim de semana, logo a seguir. Falei-lhe nisso, toda contente e toda zangada por ele nunca ter sido capaz de me dizer o que quer que fosse. Ficou corado, que também não sabia antes de receber, que não era nada demais. E eu quis saber pormenores sobre as notas, sobre o que os professores tinham dito mas ele não quis dizer nada, dizia que não havia mais nada para dizer. Sempre reservado e humilde.

Foi sempre bom aluno. Teve notas muito altas até ao fim. Mas nunca teve qualquer ambição a nível profissional, parece que lhe faltava um estímulo, não sei. Foi gerente de um banco numa grande agência quando podia ter sido muito, muito mais. Casou tarde. A mãe dele dizia à minha avó que aquela de quem ele gostava não queria saber dele.

Conheci há tempo a mulher dele. Fiquei muito admirada pois pareceu-me uma mulher de meia idade, ar pesado. (Eu também devo poder ser considerada de meia idade mas parece que não encaixo nisso, sinto-me sempre nova, se calhar é porque não tenho noção da realidade). 




Quando me conheceu, a senhora disse-me ‘Até que enfim que a conheço, sempre ouvi falar muito de si’. Fiquei sem saber o que dizer porque ele, ao lado, tímido, parecia-me um homem com muita idade, parecia o pai dele, parecia que o rapazinho inteligente e carinhoso tinha desaparecido, que apenas tinham sobrado os olhos tímidos.

Disse-me a minha mãe no outro dia que tem estado de baixa, com uma depressão, que se calhar se vai reformar. Fez-me muita impressão isso. 

Só espero é que ele se lembre também ainda das nossas tardes de imensas horas, onde éramos inocentes, curiosos, e em que o tempo corria devagar, feliz. 


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As fotografias foram feitas no fim de semana in heaven com excepção da fotografia dos pássaros na beira de um rio, que foi feita pelo caminho.

A música do início é "You Are The Shepherd" que é cantada por crianças Nkomazi.

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Se ainda vos apetecer continuar um pouco mais na minha companhia, convido-vos a que me visitem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras passam por corredores que parecem labirintos, descem a poços cheios de sustos, sobrem quase até ao céu, e tudo para esperar aquele que o meu coração ama. Quem me inspirou foi Catarina Nunes de Almeida. A música continua nas mãos de Rostropovich, hoje tocando Camille Saint- Saëns.

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E quero ainda desejar-vos, meus Caros leitores, uma quarta feira muito feliz!

terça-feira, fevereiro 26, 2013

E com os Óscares ainda frescos, os prémios para os piores comentadores, cronistas, jornalistas e paineleiros da comunicação social portuguesa vão para... Camilo Lourenço, Henrique Raposo, José Gomes Ferreira, Marques mendes, Francisco Assis, Teresa Caeiro e, numa categoria secundária, José Miguel Tavares. E, para não darem a visita por perdida, uma coisa que vale muito a pena: Gabriela Montero, A Divina, improvisa sobre as Variações Goldberg de Bach


Hoje já é praticamente consensual que a receita do Governo Passos Coelho é desastrosa, tão errada, tão errada, tão estupidamente errada, que ou se lhe põe cobro urgentemente ou não restará pedra sobre pedra e nem tão cedo o país se conseguirá reerguer.

Mas há ano e picos uma parte significativa da população ainda andava entretida a diabolizar Sócrates, a auto-flagelar-se por ter comido mais bifes do que devia e a incensar estes ignorantes que nos (des)governam. Ora, em grande parte, atribuo isto, muito claramente, à má qualidade de uma parte da comunicação social que contrata como fazedores de opinião gente que, querendo opinar, se deveria restringir à casa dos pais, das tias velhas e de amigos embriagados.

Como não costumo dizer coisas etéreas (excepto quando me dá para escritas voadoras - e, sobre isso, veja-se o que se passa comigo no meu espaço zen, o Ginjal e Lisboa), passo de seguida a chamar os bois pelos nomes (sem ofensa para os bois nem para os seguidamente citados).

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Há, pois, como dizia, criaturas enervantes. Tendem a colar-se ao poder, tendem a dizer banalidades travestidas de verdades científicas, gostam de se armar em enfants terribles. De facto, o que acontece é que falam com a mesma convicção do que sabem e do que não sabem, são inconsistentes, gostam de se armar em engraçadinhos e sabichões, mudam de opinião mais depressa do que mudam de cuecas e sempre com a ligeireza de quem, não sabendo do que fala, nem se apercebe que está a entrar em contradição consigo próprio.

Não é que mudar de opinião ou calibrá-a seja uma falta grave. Só os burros é que não mudam de opinião e, ao falar de burros, não me refiro aos de 4 patas.

Mas uma coisa é, face a dados novos, reformular um raciocínio e outra, bem diferente é, face aos mesmos dados, apenas porque a opinião pública muda, fazer de conta que no pasa nada e, todos lampeiros, aparecerem a cavalgar a onda como se continuassem a destilar sapiência. E dá a ideia que nem se apercebem que, ao defenderem o contrário do que antes defendiam, estão automaticamente a assumir que antes estavam errados. Mas, claro, a memória colectiva é curta e já ninguém se lembra disso, nem eles próprios.

Mas talvez ainda mais enervante do que essas criaturas é quem as contrata. É que, ao serem contratados, esses seres tornam-se profissionais da opinião quando a inteligência, a prudência e o bom senso aconselhariam a que fossem mantidos longe de microfones, jornais ou revistas. E é vê-los por aí, papagaios sempre de serviço, dizendo uma coisa e o seu contrário, com a ligeireza própria dos ignorantes de curta consciência, poluindo e manipulando a opinião pública, 

Exemplos?

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Um dos que mais me incomoda: Camilo Lourenço. 


Camilo Lourenço,  o mestre da insustentável leviandade do ser


Quando vai à televisão e, no meio de cada frase, enxerta o nome de quem o entrevista para se dar ar de íntimo, fico logo com alergia. E depois a alergia vai-se agravando à medida que as banalidades, as imprecisões, os alhos misturados com bugalhos disfarçados de erudição económica, a falta de seriedade, a arrogância pacóvia, sei lá que mais de intragável, tudo vai sendo desfiado com se se tratasse de doutos pareceres. Nunca consigo vê-lo até ao fim, incomoda-me.

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De outra criaturinha enervante já aqui falei algumas vezes: Henrique Raposo. 


Henrique Raposo: haverá alguém que ache graça às graçolas deste rapazola?


Deve achar que ser inconveniente o torna engraçado. É desrespeitador, é superficial, arma-se em criançola. Dou de caras com ele no Expresso e geralmente só os títulos já me incomodam. Outras vezes espreito em diagonal apressada e só vejo disparates. Não consigo suportar.


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Outro que tende facilmente para o populismo, para a demagogia mais primária e tudo disfarçado de grande frontalidade: José Gomes Ferreira. 


José Gomes Ferreira: a demagogia na informação


Claro que às vezes acerta mas é só às vezes porque a prática corrente é cavalgar o óbvio no que o óbvio tem de mais superficial. É a capa de isenção (mas só a capa) e é a garantia de audiência por parte da opinião pública menos informada. Por vezes, ao ouvi-lo, eu achava que, naquela conversa opinativa, havia muita coisa que não batia certo. No outro dia percebi: não tem formação em economia ou em qualquer outro curso ligado a números, tem o curso de comunicação social. Estamos entendidos. Não tenho paciência para o aturar a menos que o entrevistado seja mesmo muito bom e aí tento abstrair-me dele para prestar atenção apenas ao entrevistado.


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Depois há os políticos paineleiros. Eu disse paineleiros. Com dois iis. Os que participam em painéis de debate. Ou os comentadores.

Desses, há também uns quantos que não aquecem nem arrefecem. Os que fazem de conta que são isentos ou os que gostam de dizer grandes verdades muito politicamente correctas. Destaco dois homens e uma mulher.

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Do lado do PSD, o Marques Mendes. 


Marques Mendes, o aparente mestre da inside information
- a mais recente aquisição da SIC


Não percebo bem que papel é o dele. Pretende passar-se por imparcial, dá uns aparentes pontapés nas canelas do governo, dá umas informações avant la lettre dando a entender que domina os meandros mas, de facto, bem espremidas as coisas, é um manipulador de primeira. Matreirinhos assim topo-os eu à légua.

'''''''

Do lado do PS, o Francisco Assis. 


Francisco Assis: mal penteado, mal barbeado, conversa a mais


Fala bem. É convincente na argumentação, esgrime com elegância intelectual os seus raciocínios revelando uma cultura política pouco comum. Mas não passa disso. Acho que era pessoa para estar um dia inteiro a aparar bolas, atiram-lhe uma questão e ele disserta, disserta, atiram-lhe outra e aí está ele a dissertar. Uma máquina falante. Sempre à tona de água, não dá um mergulho, não dá um salto, não se arrisca. Só conversa, conversa, conversa. Se alguém se prepara para a acção, aí está ele a avaliar os riscos e a aconselhar a prudência. Um saco. Um chato. 


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Do lado do CDS uma pessoa que foge ao que acima referi mas que também não aquece nem arrefece, uma pobre coitada com uma dificuldade tremenda em saber a quantas anda: Teresa Caeiro, a Teggy, a mais recente Senhora de Miguel Sousa Tavares. 


Teresa Caeiro, alguém que ainda não percebeu que chão há-de pisar
(mas podia  ficar de boca calada até perceber)


Sempre muito impreparada para números, com uma grande dificuldade em manter-se à tona quando a conversa deriva para aspectos económicos, patina em seco que dá dó e depois, para disfarçar, desata numa enxurrada verbal que custa ouvir, uma coisa insuportável. Percebe-se a inconsistência da sua conversa: entre a lealdade partidária e a lealdade conjugal o coração deve balançar. Por um lado, o marido deve fazer-lhe lavagens ao cérebro e, por outro, o Paulinho (ou outros por ele) devem fazer o mesmo. Resumindo: deve andar sempre com a cabeça feita em água e, por isso (digo eu), nunca diz nada que se aproveite. No entanto, uma coisa posso eu testemunhar: é menos anafada, mais elegante e bonitinha ao vivo do que através da televisão. E, não sei porquê, acho que até nem deve ser má moça - escusava era de se armar em fazedora de opinião já que ela própria não consegue formar uma opinião com pés e cabeça.

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Dos programas de debate da televisão, dos poucos que consigo ver com agrado, destaco a Quadratura do Círculo e o Eixo do Mal. Gente inteligente, acima da mediania corrente. 



José Miguel Tavares, uma criatura irritante
 e não é por transformar os r's em g's:
é porque não diz nada que se aproveite, é de uma enervante inconsistência


Também gosto do Governo Sombra que por vezes ouço no carro, outras vejo a desoras na televisão - mas daí tenho que retirar uma criatura que destoa pela fraca qualidade, um tal José Miguel Tavares que é um outro Henrique Raposo, campeões da conversa pretensamente engraçadinha e sem ponta por onde se lhe pegue, dizendo coisas que são de uma pessoa ficar perplexa com a vacuidade, a imprecisão, a inadequabilidade, a falta de rigor. Nitidamente está desenquadrado em absoluto dos colegas Carlos Vaz Marques, Ricardo Araújo Pereira e Pedro Mexia.



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É capaz de haver mais gente a precisar de um prémio destes mas agora não me apetece puxar mais pela cabeça que isto já está quilométrico. Mas, seja como for, uma coisa vos digo: com a comunicação social limpa destes fala-baratos (fala-baratos? é assim o plural de fala-barato, não é?) talvez a opinião pública não fosse tão manipulada.


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Uma sugestão

Se alguém faz questão de contratar pessoas que gostam de se ouvir e que, para opinarem, não precisam de saber sobre o que opinam, nem têm pruridos, nem sentem que precisam de rigor, nem coerência, nem consistência, ou que estão ali para levarem a água ao seu moinho, então porque não os juntam todos num mesmo programa? 

Poderiam chamar-lhe O Caos na Caldeirada e ter como paineleiros os acima referidos Camilo Lourenço, José Gomes Ferreira, Henrique Raposo, José Miguel Tavares, Marques Mendes, Francisco Assis e Teresa Caeiro. Para moderar o debate e introduzir ainda mais algum picante eu punha a Ana Gomes. Gosto dela, tem piada, mas grita de uma maneira que faz inveja à Júlia Pinheiro, sua irmã gémea. Havia de ser giro, a Ana Gomes a distribuir jogo pelos outros artistas. A distribuir jogo ou a distribuir tabefes que eu não sei se, com uma turminha destas pela frente, os seus ímpetos revolucionários de antigamente não viriam ao de cima.


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E, finalmente, o momento de introduzir alguém especial


Não gosto de só dizer mal pelo que não me sentiria bem se me despedisse agora aqui. Por isso, para introduzir aqui alguma coisa que valha a pena, deixo-vos com a extraordinária Gabriela Montero aqui improvisando em cima das Variações Goldberg de Bach. Não é à toa que a chamam de A Divina. Se, tal como eu, não puderam ir vê-la à Gulbenkian, não deixem de a ver aqui que é qualquer coisa de especial.



*

Convido-vos ainda a virem comigo. No meu Ginjal e Lisboa caço um caçador que queria caçar uma mulher disfarçada de nuvem e quem me deu a ideia foi José Gomes Ferreira, um outro José Gomes Ferreira. A música continua ainda a cargo de um grande intérprete, Rostropovich, desta vez tocando Beethoven.

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E agora nada mais. Tenham, meus caros leitores, uma terça feira muito feliz.


segunda-feira, fevereiro 25, 2013

George Sand, de facto Armandine, baronesa de Dudevant, uma mulher que ousou viver como quis. Não há dúvida: 'mulheres que escrevem vivem perigosamente'


Armandine Lucie Urore Dupin
(George Sand)


George Sand (1804-1876) é o pseudónimo literário de Armandine Lucie Urore Dupin, baronesa de Dudevant.  Educada pela avó em pleno ambiente rural, Sand vê-se de repente confinada a um convento em Paris, onde passa muitos meses de desespero e solidão, acolitando uma revolta que a levaria mais tarde a abandonar Nohant (aonde regressara pouco antes para se casar) e o marido.

Novamente em Paris, assume um comportamento que, se para a maioria é apenas escândalo e agravo - especialmente porque insiste na sua condição de 'sem classe', adoptando inclusivamente nome e trajes masculinos, e em múltiplas aventuras amorosas - traslada tão-só a superfície de uma demanda sôfrega e desassossegada.

Em 1832, publica o romance Indiana que lhe granjeou reconhecimento literário.

Seguiram-se textos como Valentine e Lélia, impregnados de um lirismo romântico cuja labareda era a própria vida amorosa de Sand, com os seus denominados excessos e desvarios, sempre combatendo o fogo brando dos preconceitos, enfim, a vida no seu esplendor e fertilidade, prerrogativa de todos os seres: o amor.




Persistindo nesta divisa, envolve-se com Sandeau (que lhe daria o pseudónimo), Musset, Bourges (seu advogado), Pagello (poeta e médico de Musset), entre outros, até chegar a Chopin.





Entretanto, Sand dirige a sua inquietação também para a política, travando conhecimento com democratas e utopistas sociais, e considerando-se descendente espeiritual de Rousseau.

Compõe então obras como Horace e Consuelo, oferece vários artigos ao Bulletin de la République, publica panfletos políticos e cartas abertas, lança e redige três números de La Cause du Peuple, e colabora no jornal La Vraie République, juntando-se aos insurrectos de 1848.




Porém, depressa se afasta, desejando retornar à sua utopia romântica original.

Novamente em Nohant, faz amizade com, por exemplo, Michellet, Gautier, Dumas Filho e Flaubert, dedicando-se-lhes com generosidade, ao mesmo tempo que continua a escrever artigos, peças de teatro, romances e mesmo uma extensa autobiografia.



No Diário Íntimo, ao qual George Sand se entrega fervorosamente página após página, abordando todos estes temas - a política, as relações e ainda o envelhecimento - temas que acabaram por destacar Sand enquanto personagem e, por conseguinte, ofuscar o interesse do público pela sua obra, é possível observar como esta mulher foi afinal pioneira em fazer beber a sua produção literária na experiência vivencial - feminina, portanto, e humana.


Este texto é da autoria de Carla Silva Pereira que também é a tradutora do livro Diário Íntimo de George Sand, da editora Antígona. Hoje estive a lê-lo.


George Sand e Alfred Musset


Transcrevo, ao acaso, uma pequena passagem:


Esta manhã apresentei-me em casa de Delacroix. Estive à conversa com ele enquanto fumava cigarros de palha deliciosos. Foi ele quem mos deu. Se eu tos pudesse enviar, meu querido, distrair-te-ias por instantes. Mas não ousarei. 

Delacroix mostrou-me a colecção de Goya. Falou-me de Alfred a propósito disso, e disse-me que ele poderia ter sido um grande pintor, caso o tivesse desejado. Acredito.

Ele próprio, Delacroix, gostaria de copiar os pequenos esboços de Alfred.

Quanto a mim, vou divertir-me - divertir-me? -, dedicar-me a copiar humildemente algumas daquelas mulheres de Goya. Enviá-las-ei ao meu anjinho, antes de me ir embora. Talvez ele não as recuse. Eu sei que ele gosta dessas mulheres. Se ao menos eu pudesse encarnar a figura de uma dessas pequenas imagens e procurá-lo na noite! Ele seria incapaz de reconhecer a infeliz George, e amar-me-ia - nem que fosse por uma hora apenas.





[O filme Les Enfants du Siècle é de Diane Kury, de 1999, e trata justamente da paixão entre George Sand e Musset. As interpretações estão a cargo de Juliette Binoche e de Benoît Magimel, que, na sequência deste filme, tiveram uma filha, Hannah - o que, vendo estas imagens, não me admira...].

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Continuo a transcrever do diário, agora as últimas palavras ali escritas (em Setembro de 1868, com 64 anos).




Fui-lhes útil nos últimos anos? Sim, parece-me que sim. Quis muito sê-lo. Afinal, enganei-me ao pensar existirem  momentos na vida em que nos podemos simplesmente exonerar sem magoar ninguém, pois reparem: ainda sou útil, apesar da idade avançada. O meu cérebro não perdeu o vigor. Sinto que absorveu muito e que nunca esteve tão bem alimentado.

É errado pensar que a velhice é um declive por onde vamos caindo: muito pelo contrário, subimos, e a passos largos, surpreendentes. O trabalho intelectual faz-se tão rapidamente como nas crianças o trabalho físico. Não é que não nos aproximemos do fim da vida, mas fazemo-lo como se fosse um objectivo, e não o derradeiro e fatal baixio onde encalharemos para sempre.


+.+.+

1. Muito gostaria de poder contar com a vossa companhia ainda mais um pouco. Convido-vos, pois, a virem comigo até ao meu Ginjal e Lisboa onde as minhas palavras hoje deixam transparecer uma grande solidão. O mote quem mo deu foi José Alexandre Caldas Ribeiro. Na música, entra um novo grande intérprete e é, nem mais nem menos, o grande Rostropovich. Continuamos, pois, no violoncelo. Toca Haydn. Uma maravilha.


2. De qualquer forma, e não querendo abusar da vossa santa paciência, informo que, já aqui abaixo, poderão ver o que poderia ser o agente especial do governo de Passos Coelho (ou deveria dizer do governo de sua Majestade, a Bela Adormecida de Belém?).


+.+.+


E nada mais. 
Apenas desejar-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira!


domingo, fevereiro 24, 2013

Sérgio Monteiro, um 007 que agora poderia organizar a Operação Segurança contra os Grândolos (*) que por aí andam a fazer esperas aos ministros. Passos Coelho anda a desperdiçar o único fulano talentoso que lá tem. Que pena.


Há uma pessoa neste governo que tem carisma. Tem carisma e tem uma certa pinta. Pinta de 007. Fala de peito feito, dá 10-0 a toda a outra gente que por ali anda, por aquele governo de nabos e totós.

Não sei se ele é bom, se é mau. Mas que tem punch, lá isso tem.

Acabo de o ouvir a 'mandar vir' com os sindicalistas numa sessão 2.ªs Jornadas Consolidação, Crescimento e Coesão, organizadas pelo PSD, no auditório do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ) em Faro e ali estava ele, com aquela voz meio rouca, aquele killing instintc, a perorar contra quem organiza plenários, participa em manifestações e o escambau. Que pinta. Vestido de forma casual, arrojado, parecia um príncipe ao pé do mal jeitoso Mendes Bota.

Eu, se formasse governo, ia querer tê-lo ao meu lado, claro que ia, talvez até como guarda costas.

Refiro-me a Sérgio Monteiro, Secretário de Estado dos Transportes. O Álvaro ao pé deste rambo parece um pequeno e inofensivo pudim. 


Sérgio Monteiro, o Secretário de Estado com pinta de 007


Ora vejam lá se o nosso Sérgio não poderia suceder ao Daniel Graig? Eu, se fosse ao Passos Coelho, agora que anda a mobilizar os polícias todos para fazerem a segurança aos sitiados membros do Governo, pegava no Sérgio e punha-o a fazer números que impressionassem os grândolos que por aí andam na cantoria. Onde houvesse um grupo deles à espera de um ministro, quando menos eles esperassem, pregava-lhes um susto que os ia deixar a cantar fininho... Por exemplo, podia descer de helicóptero, num salto aparatoso, com um aparelho que disparasse feixes de luz azul, silvos, todo destemido, botas, blusão, cabelo quase rapado.

O ex-Doce é que não tem jeito nenhum para gerir o pessoal, não sabe tirar partido do que ali tem. 





(*) A expressão Grândolos vem daqui.

^

A ver se ainda cá volto.

Notas de amor (ao som de Take this Waltz)


Depois de um dia preenchido como um ovo, e estando o dia de amanhã também já todo cheio de programas, resolvemos, esta noite, ir ao cinema. As opções de qualidade são razoáveis (O Mentor, o Lincoln, o Argo, etc) mas eis que me apeteceu, antes, ir ver uma coisa simples, pouco estrelada pela crítica. Notas de Amor que, no original é, Take This Waltz.

Quando ando mais cansada, gosto de ver comédias românticas ou coisas assim nessa base. 

Transcrevo a sinopse do Cartaz de cinema do Sapo: 

Quando Margot (Michelle Williams) conhece Daniel (Luke Kirby) surge de imediato entre eles uma química intensa. Mas Margot reprime esta atração repentina, já que tem um casamento feliz com Lou, um escritor de livros de culinária. Quando Margot descobre que Daniel vive do outro lado da rua, começa a pôr em causa as certezas que tinha sobre a sua vida. Ela e Daniel vão estando juntos durante todo esse quente verão de Toronto, mantendo uma amizade cujo erotismo é exacerbado pela contenção que ambos mantêm.

Não quero desvendar o resto do filme mas vou já avisando que a partir de certo ponto a contenção desaparece.

E, para os devidos efeitos, aqui também declaro que fiquei encantada com a interpretação, o registo contido e o aspecto físico de Luke Kirby.



O giríssimo Luke Kirby,
aqui numa cena em que se demonstra bem o potente efeito erótico das palavras






O nome do filme reporta-se à canção que serve de fundo a um dos momentos mais fantásticos do filme: Take this waltz de Leonard Cohen, canção de que muito gosto e que sempre me dá vontade de ser levada nos braços, voando pela sala, abraçada, amada. Nunca tenho essa sorte porque, aqui por estas minhas bandas, não há bailarinos. Posso ser abraçada, amada, mas voar só em pensamento. 





Esta música é linda e a voz de Leonard Cohen é qualquer coisa...

Quanto ao filme, não é extraordinário nem eu ia à espera que fosse. Mas vê-se bem, é agradável e aborda o tema da atracção fora do casamento de uma forma muito realista e com uma sensibilidade serena, digamos assim. 

E tem momentos divertidos e tem momentos românticos - e isso é mil vezes preferível a violência, a crises existenciais, a um negrume depressivo.

*

E tenham, meus Caros Leitores, um belo domingo!

sábado, fevereiro 23, 2013

'Quem é a autora do blogue Um Jeito Manso?', perguntam frequentemente os leitores. Aqui vos deixo a resposta possível






A música e a dança.

Gostava de ser capaz de tocar piano ou violino ou violoncelo mas nunca me deu para isso, acho que não seria capaz. Mas não vivo sem música.
Também gosto muito de dançar mas ballet só dancei até aos 9 ou 10 anos. Gosto muito de ver corpos em movimento.

Aqui temos uma composição de Arvo Part, compositor que me foi dado a conhecer por um Leitor a quem muito agradeço, Spiegel im Spiegel. Coreografia de Andrew Simmons


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É raro o dia em que, na estatísticas do blogue, não aparece nas pesquisas que conduzem as pessoas até aqui, a seguinte pergunta: 'Quem é a autora do blogue Um Jeito Manso?'.

Sempre que vejo esta pergunta sorrio.

Quem sou eu? Como definir-me?

Gostava de poder responder mas não sei por que ponta pegar. Devo falar em primeiro lugar de quê? Do meu aspecto físico? Da minha ocupação? Da minha situação familiar? Dos meus hobbies?

Não sei mesmo.

No entanto, apesar da dificuldade, para satisfazer a curiosidade dos que vão aos motores de busca tentar perceber quem sou eu, vou dizer algumas coisas, mas vou dizer de forma aleatória pois não sei qual seria a ordem correcta.

Vou intercalar algumas fotografias para tentar transmitir uma ideia do que gosto. Tirei-as agora mesmo.



Não me mostro a mim mas mostro parte do que hoje vesti:
 Blusinha fininha em cinzento rosado com a parte de cima em crepon quase transparente (9.9€ na H&M),
casaco de malha macia em cinzento, assimétrico,  sem botões, solto (Presente da minha mãe, Lanidor),
écharpe macia em cinzento e rosa adquirida depois da Leitora 'Era uma Vez' ter descrito como me imaginava incluindo uma écharpe destas cores (Accessorize, talvez uns 12€, não me lembro bem)
fio com uma medalha muito bonita que se abre (saldos da lanidor, 5.1€)
pulseira de metal branco com pedrinhas em tons de cinza claro (não me lembro onde a comprei mas é bijuteria)
anel com pedras brancas e cinza muito claro (Parfois, talvez uns 4 ou 5€)

Gosto de me arranjar, gosto de conjugar peças, mas cada vez gosto mais de usar roupa barata e, em vez de jóias, bijuteria. Acho um desperdício gastar fortunas em peças caras.



Sou uma pessoa gregária. Gosto de sentir a presença daqueles de quem gosto e preciso de perceber se estão bem. Desde criança que gostava de estar com os meus amigos, com os meus primos, com a minha família, com os meus namorados. Era pequenina e já tinha namorados e vivia também muito em função deles. Como não vivo na mesma cidade que os meus pais, não os vejo todos os dias, apenas ao fim de semana, todas as semanas, mas ligo-lhes três vezes por dia para ter a certeza que estão bem. Falo com os meus filhos todos os dias. Nos dias em que não estou com eles, falamos por telefone. Todos os dias. Se não os vejo, preciso de ouvir a voz deles para sentir que estão bem. O meu filho é menos conversador mas, com a minha filha, falo imenso tempo ao telefone. Falo e trocamos mensagens. Dou-me muito bem com eles. Admiro-os como pessoas e, claro, são e sempre serão os meus meninos queridos, e vou querer protegê-los até aos últimos dias da minha vida (como se eles precisassem da minha protecção...).

Casei muito nova. Era uma paixão tão forte que não era compatível com termos que nos separar à noite. Na altura não me ocorreu irmos viver juntos sem nos casarmos mas o casamento também nunca atrapalhou nada. Estávamos os dois a estudar e a dar aulas. Quando acabei o curso, deixei o ensino e fui trabalhar para uma grande empresa. Entrei por anúncio. Uns meses depois nasceu a minha filha. O meu filho nasceu pouco depois. 

Como eles felizmente não aderiram à prática corrente de ter filhos tardios, já vou nos quatro netos. Adoro crianças. Se eu tivesse tido apoio familiar em vez de dois filhos teria tido uns cinco ou seis. Se os meus filhos tiverem mais filhos, será uma festa para mim. Gosto imenso dos meus netos e acho que eles também gostam de mim. São uma ternura, uns amores muito queridos, e uma realização muito grande por ver como os meus filhos se realizam como pais.

Trabalho num grande grupo privado. O ambiente económico em contexto de concorrência, a dependência de compras e de vendas em contexto internacional com grande volatilidade dos factores de custo é matéria que me é familiar, a gestão com base em orçamentos é o normal (e mal de nós se falhássemos todas as metas ou se andássemos a fazer orçamentos rectificativos de 2 em 2 meses!). Durante muito tempo eu era a única mulher da equipa de gestão. Agora felizmente já somos duas. Quando mensalmente fazemos as reuniões alargadas com toda a equipa de gestão somos 2 mulheres num grupo de cerca de 20 pessoas. Na minha equipa as mulheres são 40%. No entanto, nunca tive qualquer problema em lidar essencialmente com homens, nunca tive que me esforçar para me afirmar. Não tenho qualquer complexo por ser mulher num ambiente essencialmente masculino nem nunca me senti prejudicada ou menos considerada.

Sempre consegui conciliar a minha vida profissional com a minha vida familiar. A minha família, nomeadamente os meus filhos, sempre estiverem antes e à frente de tudo mas isso nunca foi impedimento do que quer que fosse a nível profissional (embora muitas vezes me obrigasse a uma grande ginástica).

Nunca coloquei a minha actividade profissional - de que gosto bastante - como o único ou o principal objectivo de vida. Também nunca achei que ser mãe fosse algo que tivesse que me absorver a ponto de anular a minha personalidade.

Sou muito afirmativa. Quando faço testes de personalidade (fazemo-los, por vezes, quer em ambiente de formação, quer em assessments - desculpem o jargão e o anglicanismo mas é assim que são conhecidos - para avaliar se o perfil se adequa à função) essa é uma das características que mais sobressai. E tenho um lado muito pragmático, sou muito directa, muito determinada, optimista e tranquila. Tenho também um lado criativo forte. O meu lado esquerdo do cérebro convive muito bem com o lado direito. Acho que nunca cortei relações com ninguém nem ninguém comigo. Mantenho amizades de longa data.

Mas não sou nenhuma santa. A minha sinceridade e frontalidade por vezes significam que pareço bruta. Se calhar, por vezes sou mesmo muito bruta. Não as poupo. Não é por mal: é porque nem me ocorre não dizer o que penso. Também não tenho paciência para gente parva. Quando vejo que dali não sai nada que se aproveite, não perco tempo. É como se as pessoas que são parvas nem existissem, esqueço-me delas. Também não é por mal. É involuntário. E não dou tréguas a gente mal intencionada, estúpida. Não é que lhes queira mal, não: não quero é que façam mal.

Sempre tive muitos interesses. Os livros sempre foram um dos grandes pontos de interesse.



Sou viciada em livros, consumo-os como uma 'agarrada'.
Não sei quando vou conseguir ler tudo mas, ainda assim, não resisto.
Mesmo que apenas consiga tempo para folhear, para ler algumas páginas, para os sentir nas minhas mãos, sentir a pele deles, as capas macias, a paginação interior, ler excertos, tê-los aqui ao pé de mim, uma companhia suave.

Aqui os últimos:

Um estranho em Goa, José Eduardo Agualusa, Biblioteca editores Independentes
Diário Íntimo, George Sand, Antígona
A Polaquinha, Dalton Trevisan, Relógio D'Água
Novelas nada Exemplares, Dalton Trevisan, Relógio D'Água
Nada a Dizer, Elvira Vigna, Quetzal
José, Rubem Fonseca, Sextante Editora


Tenho muitos livros, gosto muito de ler, gosto de ter livros, gosto de estar no meio de livros. Gosto de arrumar livros (embora possa não parecer pois andam sempre livros pela casa fora, em todo o lado). Gosto de falar de livros. Gosto de falar sobre como arrumar os livros.

Gosto cada vez mais de ler diários, entrevistas, biografias e auto biografias, cartas, crónicas, ensaio. E poesia. Sempre, todos os dias. Sem método, sem sequência. Abro e leio, hoje um poeta, amanhã outro. Tenho uma estante só com poesia e é a estante de que mais gosto. Mas uma parte significativa dos livros de poesia está sempre fora da estante, porque preciso de os ter ao meu lado. Também gosto de conto e romance mas cada vez estou mais selectiva. E gosto de ler sobre física, em especial sobre física da matéria, ou sobre neurologia ou, por vezes, sobre psicologia. E gosto de ler o pensamento de alguns sobre a actualidade. E gosto de ler revistas sobre livros ou sobre escritores. E devo estar a esquecer-me de dizer outros géneros de que gosto porque, de facto, gosto de quase tudo. Não gosto de ler livros de economia ou coisas do género escritos pelos gurus pois são muito básicos, parecem escritos para atrasados mentais.

Gosto de fotografia. Faço fotografia quase desde sempre. Não consigo imaginar quantos milhares de fotografias já terei feito. Durante muito tempo, o meu marido gostava de revelar e imprimir fotografias em casa, e estou a situar-me na era analógica. Numa divisão sem luz, ele revelava a película, depois ampliávamos e passávamo-la para papel que mergulhávamos em líquido revelador e depois em líquido fixador. A imagem aparecia como por magia no papel. Depois secávamos as fotografias. Estávamos noite fora a fazer isto, quando os miúdos já dormiam. Ainda me lembro do cheiro dos líquidos e da emoção que sentia.

Gosto de fazer trabalhos manuais: bordei, fiz tricot, crochet e, em grande quantidade, tapetes de Arraiolos. Noite adentro eu dava milhares e milhares de pontos. Tenho muitas carpetes feitas por mim. Conheci uma senhora que em tempos teve uma oficina e que agora já não trabalha senão para gente conhecida, transpõe para papel quadriculado desenhos originais de tapetes do século XVII (a maior parte dos tapetes clássicos é desta época), muitos dos quais se encontram em museus. É desses tapetes de desenhos complexos que eu gosto. Depois comecei a fazer carpetes à mão livre, mantendo o ponto e o preceito mas fazendo como se pintasse e é um prazer enorme.



Duas telas de que gosto bastante, infelizmente não pintadas  por mim
Eu, quando pinto, involuntariamente uso cores intensas, vivas, a cor jorra de dentro de mim.
Talvez por isso, por ser algo que não consigo fazer, aprecie tanto cores suaves, imagens de que apenas nos apercebemos quando nos detemos


Como gosto muito de pintura, de museus e de livros de pintura, o meu filho ofereceu-me uma vez pelo Natal, um cavalete, tintas, pincéis, telas. Foi o início de um outro grande prazer. Comecei a pintar e não parava. Fiz dezenas e dezenas de quadros, um prazer enorme, uma liberdade como não imaginava ser possível. 

Todas estas actividades se interromperam com uma nova actividade: a de escrever aqui. Comecei com este blogue; depois criei também o Ginjal e Lisboa, a love affair, o meu espaço zen, onde solto a mão, a mente, onde voo sem regras nem limites; depois um para os miúdos, o Historinhas da Tá (que pouco actualizo porque não consigo ter tempo); depois um outro sobre Fotografia de Rua que retirei do ar porque ainda não percebi se é legal publicar fotografias a pessoas em que estas fiquem bem visíveis.

Escrever aqui absorve-me imenso pois começo a escrever e escrevo ao ritmo que penso, sem mediar o pensamento, sem filtros (e sem rede). Escrevo demais. Sei que, na internet, o tempo de atenção dos leitores é curto, não faz sentido escrever tanto como eu escrevo. Mas é assim que a escrita me sai, e não tenho tempo para rever, cortar, emendar. Também gosto muito de interagir com os meus leitores e, por isso, gosto de responder aos comentários e aos mails que recebo. Se tivesse mais tempo, tinha um blogue meu e dos leitores, arranjava maneira de ser feito a várias mãos.

E, como isto já está outra vez de um tamanho absurdo, um texto longo, longo, longo, fico-me por aqui. Espero que aqueles que se interrogam sobre quem é a autora do blogue Um Jeito Manso já estejam um pouco mais elucidados. Esqueci-me de dizer que gosto de boa comida, boa bebida e de cozinhar, e que gosto muito de caminhar, especialmente junto ao rio e que gosto muito de Lisboa e que gosto muito de museus e que gosto muito dos perfumes Chanel e que adoro rir, adoro, adoro, sou de gargalhada fácil, adoro que me façam rir. E, já agora, digo-vos também que, ao fim de tantos anos, continuo apaixonada pelo meu marido. Os amores à primeira vista, os verdadeiros coup de foudre, às vezes são assim.


!!!!!!

Tenham, meus Caros Leitores, um belo fim de semana!

sexta-feira, fevereiro 22, 2013

'Homossexualidade de Bispo D. Carlos Azevedo era conhecida, diz Carreira das Neves'. 'Lóbi homossexual poderá ter levado Bento XVI a resignar: um relatório com cerca de 300 páginas sobre o escândalo de divulgação de informações do Vaticano, baptizado de VatiLeaks, foi um dos motivos para a renúncia do Papa Bento XVI, segundo o jornal italiano La Reppublica'. 'Promiscuidade, chantagem', são palavras que se ouvem ligadas ao que se passa no Vaticano. Pergunto: Mas isto está tudo doido ou quê? Até a Igreja está de pernas para o ar?





Pergunto: há mais gays padres do que gays de outras profissões?

  • Vão para padres porque são gays? E se é isso, de que vão à procura? É porque lá há muito homem? Ou é para ver se a Igreja os cura?

  • Ou tornam-se gays depois de serem padres? Em caso afirmativo, porquê? Porque andar de saias dá nisto?

Não sei. Pergunto.

Não me faz impressão que sejam gays nem que sejam padres. O que me faz impressão é que a conversa não bate certa com os actos. O que me faz ainda mais impressão, mas aí faz-me mesmo muita impressão, é quando, em vez de andarem a brincar uns com os outros, fazem pela calada e abusam de crianças ou deficientes. 

O que me faz muita impressão é que escândalos destes parece que estão sempre a saltar (e não saltam mais porque são abafados - e é melhor eu não me alargar muito na conversa porque a língua portuguesa é traiçoeira e há muitas palavras com sentidos dúbios).

Estas últimas notícias sobre o ex-potencial candidato a Cardeal de Lisboa, que agora está no Vaticano, o D. Carlos Azevedo, deixam-me  estupefacta.

(E veja-se bem para onde levam os que são suspeitos de práticas indevidas segundo os cânones da Igreja; e eu a pensar que para o Vaticano só ia a crème de la crème, o que de melhor a Igreja tinha; afinal parece que o Vaticano é uma casa de correcção; oh valham-me todos os santos!)

Mas ainda me deixa mais estupefacta as notícias que vieram à baila e que abaixo transcrevo: mas que bela moral tem aquela gente para pregar...? E repito: não é por serem homossexuais que isso cada um é como cada qual. É pela devassidão, pela desfaçatez, pela duplicidade, pela hipocrisia.




O texto, entregue ao pontífice em Dezembro do ano passado, foi elaborado por três cardeais de confiança do papa e continha investigações que iam além do caso envolvendo o seu mordomo. Eles interrogaram diversas pessoas dentro e fora da Cúria.

O conteúdo é sigiloso, mas, ainda conforme o jornal, especula-se que os religiosos não mediram palavras para revelar casos de mau uso de dinheiro, disputas de poder, relações homossexuais e até um plano para revelar a homossexualidade do editor de uma publicação católica, tudo isto dentro da Cúria.

De acordo com o jornal, o relatório será entregue ao próximo papa, alguém que deverá ser mais «jovem, forte e santo para dar conta do trabalho que o espera».

O jornal italiano remete ainda para um escândalo ocorrido em 2010, quando um assessor do papa Bento XVI foi afastado por causa de um escândalo sexual envolvendo prostituição que abalou o Vaticano.

Ângelo Balducci, um dos Cavalheiros de Sua Santidade, uma espécie de assistente de elite para o papa quando recebe visitas importantes, foi apanhado pela polícia a dar instruções a um interlocutor sobre detalhes físicos de homens que gostaria que fossem levados a ele.

Segundo a imprensa italiana, o interlocutor era Thomas Ehiem, 29, do famoso coral do Vaticano, que também foi afastado.

A polícia italiana havia colocado escutas no telefone de Balducci durante uma investigação de corrupção separada e não relacionada com o Vaticano.

Numa das transcrições que chegaram aos media, Ehiem descreve um homem como tendo «dois metros, 97 quilos, 33 anos e diz que é completamente activo». Noutra, Balducci pergunta a Ehiem se ele já «falou com o seminarista», ao que ele responde «ele provavelmente está na missa, ou algo assim».

Os encontros sexuais, segundo o La Repubblica, citando a investigação judicial, ocorriam numa vila fora de Roma, numa sauna, num centro estético, no próprio Vaticano e numa residência universitária.


Transcrevo do Expresso:


"Eu já tinha ouvido coisas, rumores. Já sabia que havia em relação ao D. Carlos alguns problemas complicados", revela o padre Carreira das Neves em declarações recolhidas pela SIC em reação ao caso de assédio sexual de que é acusado D. Carlos Azevedo, antigo bispo auxiliar de Lisboa, ontem noticiado pela revista Visão.


E mais não digo que isto até faz impressão.

*

Bom. Passemos agora para a paródia. Os filmes não estão legendados mas são divertidos. 

Um caso real: um padre, numa sessão de esclarecimento, digamos assim, (e mais não digo para não estragar a graça), que teve que arrancar o computador a partir de uma pen e que, ooopssss...!, tinha hot stuff, pornografia gayno computador. Saíu de fininho, claro, conforme se pode ouvir aqui abaixo.

E, a seguir, uma paródia, 'Gay priests'. 






(A comedy take on John Stossel from 20/20 doing a piece on gay priests. Made by Eric Trainor and Eric Francque from Trainwreck Pictures)


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As fotografias foram obtidas na internet, através do google. Não conheço a fonte e presumo que aqueles amores sejam ficcionados mas também não sei se presumo bem ou mal.


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Abaixo, no post seguinte, poderão encontrar mais um desabafo meu - fico passada - depois de saber que a dívida pública, com a porcaria de medidas levadas a cabo pelo Governo de Passos Coelho, já vai nos 122%: um pavor.

Poderão também encontrar mais uma versão de Grândola, Vila Morena, agora creio que cantada por um Coro Feminino Esloveno. Igualmente emocionante e a não perder (digo eu).


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Hoje as minhas palavras no Ginjal e Lisboa, a love affair vestem a pele de luar e o que se passa naquela cama não posso dizer aqui, que isto é um blogue de família. Mas poderão saciar a vossa curiosidade indo até lá. 

A música é improvável lá por aquelas bandas. Desta vez Yo-Yo Ma interpreta o Libertango de Piazzolla (e esta, hem...?)

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E, por hoje, nada mais. Apenas desejar-vos uma bela sexta feira. Estamos quase no fim de semana. O tempo passa a correr, é o que é.