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sábado, fevereiro 16, 2019

Crónica de um dia com um momento especial.
[E, para eu entrar melhor no fim de semana, voa, Sergei, voa e fly me to the moon.]





Nem vale a pena contar sobre as horas a que cheguei a casa. Sem lamúria que quem corre por gosto não se cansa. Nem vale a pena contar que logo adormeci e que arrefeci. Acordei agora, bem depois da meia-noite, e tive que me embrulhar numa mantinha. Agora já estou a ficar quentinha. Mas continuo com a cabeça adormecida.

Tinha coisas para falar: a ilicitude da greve dos enfermeiros, por exemplo. Coisa que estava na cara. Atentar contra a vida humana não é lícita em nenhuma parte do mundo civilizado. Resta saber o que vai acontecer a quem publicamente praticou ilicitudes. Mas, estando já dentro do sábado, acho que mereço descanso, especialmente descanso mental.


Ademais já tenho a cartilha lida: dado que o fim de semana promete ser de arrebimba, o meu marido já avisou que não me abalance a dormir até a manhã ir avançada. Até tremo. Já estou mesmo a ver que, estando eu ainda no primeiro sono, vou começar a ouvir as movimentações que precedem o conhecido: vá, acorda, já é tarde. Ninguém merece.

Quase não tenho pegado no tapete. Tenho tanta coisa para fazer e tão pouco tempo e tão pouca disposição. Volta e meia ocorre-me alguma coisa que deveria ter feito e não fiz. Agora, por exemplo, estou a lembrar-me que deveria ter enviado um mail pois deveria ter uma resposta antes de segunda-feira. Mas não vou enviar um mail profissional a esta hora. Gaita. Com toda esta sobre-ocupação nem tenho lido. De manhã estava numa reunião, vi um mail a dizer que era o último dia para enviar umas tretas. Pensei que deveria era mandar bugiar quem assim me estava a maçar. Pensei que, de tarde, se estivesse para aí virada, logo veria se me apetecia fazer aquilo. Mas de tarde tive mais que fazer. Agora estou aqui a pensar que vou ter que fazê-lo na segunda-feira e, com o que me espera, não sei como vou conseguir. Não há pachorra. Já me falta a paciência para frioleiras que podem ser muito importantes para alguns mas que, na minha opinião, são meras inutilidades. Ainda há muita improdutividade nas empresas portuguesas. Não que não se trabalhe. Trabalha-se, trabalha-se até demais. Mas faz-se é muita treta inútil.


E sinto-me uma chata, a escrever sobre coisas chatas. Até a mim me chateio. tenho que me libertar disto. Chegar a estas horas (passa bem da uma da manhã) e pôr-me a falar de canseiras e maçadas é coisa que não se deseja a ninguém. Vou parar com isto.


Vinha com ideia de falar numa coisa. Para mim a atracção física está associada ao agrado físico, a olhar e agradar-me. Acho que não poderia sentir-me atraída por alguém feio, mal jeitoso, fisicamente desagradável. Mas vi à hora de almoço um casal tão feio, tão disparatadamente mal jeitosos os dois, tão bizarros no despropósito do aspecto físico e, ao mesmo tempo, tão enamorados, tão declaradamente in love, que me senti intrigada e enternecida. O que viam eles um no outro que os deixava assim? A minha maneira de ser e a minha racionalidade não me deixaram perceber de onde vinha aquele notório amor: olhavam-se e sorriam, de mãos dados, como se nunca tivessem visto nada tão lindo, tão amoroso. Senti-me limitada na minha capacidade de compreensão, como se faltasse alguma faculdade que, faltando, me impedia de ver a raiz das coisas.


E também tinha vontade de falar de outra coisa. Durante um pouco fiquei sozinha no gabinete. Entrou-me, então, uma menina que trabalha lá há pouco tempo. Há umas semanas eu tinha interferido por ela de forma até bastante veemente pois parecia-me injusto que não reparassem no seu valor. Agora o seu valor foi reconhecido e ela veio agradecer-me. E, ao fazê-lo, sorria timidamente mas olhava-me nos olhos. Estava um pouco comovida mas sorria, olhando-me de frente. Foi tão inesperado que me senti, por dentro, bastante comovida. Pensei que há momentos na vida da gente que valem mais do que mil sucessos da treta. Tive vontade de me levantar e dar-lhe um abraço. E tive vontade de dizer-lhe que, dentro de algum tempo, talvez esteja ela a lutar pela justiça em relação a alguém que mereça atenção e reconhecimento. Mas não disse, não quis armar-me em moralista. Ou receei que a voz se me fragilizasse.


E pronto. Daqui a nada são duas. Vou encerrar o expediente. As árvores que aqui coloquei são candidatas à Árvore Europeia do Ano. A segunda é nossa, é um carvalho em Mértola. Gostava que ganhasse. Mas qualquer árvore que ganhe vai merecê-lo. Numa outra encarnação fui uma árvore e espero que, numa futura, volte a sê-lo.

Mas, antes de me ir, deixem que partilhe convosco mais um voo de Sergei, aqui ao som de Like a Prayer. Um prazer vê-lo. Oremos.



Um bom fim de semana.

domingo, setembro 25, 2016

Soulmates: meet someone worth meeting


Depois de um dia preenchido de a a z, chego aqui e hesito: ou passo as fotografias para o computador e mostro por onde andei ou me deixo estar aqui meio estendida, o computador no colo, a ler as últimas. Como a preguiça nestes dias impera, opto por não me mexer do sofá até porque a máquina fotográfica está a carregar ali muito longe, para aí a uns dois ou três metros, e isso, neste momento, para mim é como ir aos himalaias. Ponho-me, então, a ver se os marcianos deram as caras ou se as sereias saíram do fundo do mar, a cavalo em neptunos cabeludos, ou qualquer coisa que valha a pena. Claro está que, alienada como a esta hora gosto de me sentir, fecho os olhos ao que se passa na Síria, em Calais ou em todos os lugares onde o inferno se abateu sobre a terra. 

Bem. Como sempre acontece, por cá, a oeste, nada de novo (até porque aquilo de o ex-José Manuel Barroso ser, de há muito, farinha do saco da Goldman Sachs não é novo, please... ) e, portanto, parto para além-fronteiras.




Estava pois eu, aqui remansamente a ver o The Guardian de alto a baixo, parando aqui e ali, até que, mesmo cá em baixo, dou com uma coisa em que nunca tinha reparado. Provavelmente sempre lá esteve, às tantas é daquelas coisas como eu ficar espantada com alguém que nos cumprimenta na rua e a quem o meu marido retribui com naturalidade e, perante a minha admiração, me informa que mora no prédio e, se eu pergunto se é gente nova, encolhe os ombros e diz que cá vive há anos.

Portanto, vejo as fotografias de duas mulheres com a legenda Search for Women e a de dois homens e Search for Men. Pensei, na minha santa parvoíce, que era coisa de famílias que procuram alguém que se perdeu no mundo, amigos que querem descobrir amigos tresmalhados, coisa assim. Achei uma ideia engraçada.

Tenho uma prima que era muito bonita (e ainda deve ser). Só a vi até ser adolescente. Uma vez, anos depois, visitou os meus pais numa altura em que eu já estava casada, não a vi. Vinha o pai dela que é primo direito do meu, a nova mulher, francesa, e ela, que é filha da primeira mulher dele que era também muito bonita, que eu conheci e que morreu nova, causando um desgosto brutal nele e levando-o a largar o país e ir para Paris (a minha avó tinha uma fotografia deles na festa de noivado e essa primeira mulher era belíssima). Vinha com eles já outra menina, filha da nova mulher. A minha mãe contou-me que essa primeira filha, dois ou três anos mais nova que eu, estava linda e que já estava naturalizada francesa, que falava português mas com sotaque francesíssimo. Perdi-lhes o rasto. Nem me lembro do nome dela.

Um outro primo do meu pai, irmão do que foi para Paris, foi, quando era quase adolescente, para o Canadá. Por lá ficou.

Quando vejo fotografias desses primos fico sempre admirada pois são mesmos bonitos, parecem modelos, e têm um ar estranhamente moderno. É como uma fotografia que tenho numa moldura com os meus pais: o meu pai com ar moderníssimo, a minha mãe com um vestido claro, rodado, de verão, cinto largo na cinturinha de vespa, saltos altos, o seu cabelo muito louro pelos ombros, ambos de óculos muito escuros, ambos de boné claro com uma pála grande, ambos com ar moderníssimo. Um casal elegante que parece saído da capa da Vogue.

E do lado do meu pai há montes de primos (quase todos homens) e todos com pinta, modernos.


Aquelas fotografias são um espanto, grandes grupos de irmãos, primos, namoradas e mulheres (porque se iam casando e as namoradas passando a mulheres). Iam passear, faziam pic-nics. O meu pai fazia fotografias com a sua kodac, fotografias a preto e branco, claro, que hoje se podem ver ainda com boa qualidade.

Como é tudo gente que parece que não liga patavina a raízes, apenas mantenho contacto regular com um pequeno grupo. Dos outros não faço ideia de nada. Do lado da minha mãe a mesma coisa mas não eram famílias tão grandes e tresmalharam-se em novos, tenho ideia de que manteve contacto mais estreito apenas com umas quatro ou cinco primas, e aí todas mulheres.

Por isso, pensei que um grande meio de comunicação como o The Guardian fazia bem em arranjar um espaço para as pessoas se procurarem pelo mundo.

Entrei para ver como funciona.

Pois. Engano. Nada disso. É para outra coisa: é para quem quer arranjar uma 'alma gémea'.

Mas que não se pense que bato em retirada logo às primeiras. Não senhor. Resolvi fazer a minha pesquisa.

Mulher procura homem. Ao escolher o intervalo de idades do homem, curiosamente dei comigo a escrever uma idade uma meia dúzia de anos a menos que a minha e depois lá dei uma tolerância: até mais dois que eu. Depois disse que os queria em Portugal e, vá lá, uma tolerância de umas milhas. Azar. Só me apareceu um e com nome e cara de inglês. Diz que vive em Lagos. Não sei o que se seguiria. Se calhar tinha que me filiar naquilo para poder aceder ao mail do senhor e mandar-lhe um Hi, my name is UJM and... patati-patata. Não sei. Parei ali.

Depois fiquei a pensar que ainda bem que há isto porque para pessoas a viverem em lugarejos, vilas ou aldeias onde todos se conhecem, onde não há ninguém disponível para um novo relacionamento ou onde a censura social assentaria olhares de reprovação ou de mesquinha cusquice se vissem uma mulher a sair e a flirtar com um um homem, isto abre uma oportunidade para descobrir pontes entre pessoas que se desconhecem. E, quem sabe?, se não virão um dia a ser grandes amigos ou apaixonados...

Resumindo: se calhar fiz uma pesquisa demasiado restritiva e, por isso, só 'pesquei' um bife. Mas, a quem se sinta solitário e queira ver se tem mais sorte que eu, ali em cima ficam os links. Ousem. A solidão é uma coisa terrível.

E depois... quem sabe...?

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Volto aqui depois de ter andado a ver mails atrasados ao som de músicas várias. E agora, em vez de, disciplinadamente, me pôr a responder um a um, resolvo partilhar convosco a voz quente de Leonard Cohen dizendo o seu A thousand kisses deep para, a seguir, ir cair nos braços de morfeu que o dia foi longo e o corpo me pede descanso.

Ouçam, por favor. Ouçam.



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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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